Metais pesados em peixes da família Loricariidae na bacia hidrográfica do alto Rio Uruguai Metas 2 Componente 3 - Jaqueline Klein, Gilza Maria de Souza Franco, Jacir Dal Magro INTRODUÇÃO A poluição dos ambientes aquáticos por metais pesados tornou-se um problema de nível mundial nas últimas décadas (Vutukuru, 2005), pois os sistemas naturais estão sendo constantemente contaminados por poluentes domésticos, industriais, mineração, atividades agrícolas e outras formas de contaminação através da ação humana (Vinodhini & Narayanan, 2008; Kalay e Canli, 2000). A contaminação por metais pesados ameaça o equilíbrio ecológico do ambiente receptor e na diversidade dos organismos aquáticos devido ao seu potencial tóxico e a capacidade de bioacumulação nos ecossistemas aquáticos (Öztürk et al., 2009). Estudos recentes na região do alto Rio Uruguai tem demonstrado que o modelo econômico baseado na exploração intensiva dos recursos naturais apontam a urbanização como a principal causa da degradação dos ecossistemas aquáticos da região (Ternus et al., 2011). O presente estudo teve como objetivo avaliar o risco de contaminação por metais pesados em peixes da família Loricariidae na bacia hidrográfica do Rio Uruguai. MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo Coleta e analise dos metais nos peixes O presente trabalho foi desenvolvido na bacia hidrográfica no alto Rio Uruguai no trecho compreendido entre a UHE Itá e o balneário de Ilha Redonda, Palmitos (SC), na área de influencia UHE Foz do Chapecó. As amostragens ocorreram em 13 pontos, sendo seis no canal principal e sete em tributários (Figura 1). B C A D Figura 1. Localização da área de estudo (A) e pontos amostrados (B – Chapecó, C – Balneário de Ilha Redonda e D – Porto de Caxambu). Foram realizadas 09 campanhas com periodicidade trimestral entre junho de 2007 e junho de 2009. O método de captura empregado consistiu de redes de espera, malhas 1,5; 2 e 3 cm entre nós, com 10, 20 e 50 m de comprimento de acordo com o tamanho do rio. As redes foram instaladas ao anoitecer e retiradas ao amanhecer, permanecendo expostas por período de 12 h. O procedimento para a extração química de metais pesados (Cádmio (Cd), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco (Zn), Chumbo (Pb) e Arsênio (As)) foi baseada na metodologia utilizada por Bonai (2009), sendo que para a determinação dos metais pesados, o material foi separado em três porções de 250 mg de cada amostra, e digeridas em Becker de teflon sobre chapa elétrica com 10 mL de HNO3 concentrado e 10 mL de HF (48%) e deixado reagir por 12 horas. Posteriormente, foi adicionado 3 mL de HCLO4 (70%) sob aquecimento numa temperatura máxima de 120ºC, até quase a secura. Depois, foi adicionado 1 mL de HNO3 na amostra, esperando que atinja quase a secura novamente. Este procedimento foi repetido mais de uma vez. Ao terminar a digestão, foi adicionado 2 mL de HNO3 10% e aproximadamente 10 mL de água deionizada, transferindo esta solução para um balão volumétrico e completando o volume para 25 mL e realizado leitura dos metais no espectrofotômetro de absorção atômica. O risco de contaminação por metais pesados da população local foi baseada em normas específicas como a estabelecida pela Câmara Técnica de Alimentos do Ministério da Saúde (Res. 685/1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO 1,2 100 p=0,40 11 1,0 80 60 Mn [mg.Kg -1] 0,4 0,2 0,0 - 0,2 Hypostomus roseopunctatus Cd (mg/Kg) 0,011 (0,027) 0,220 (0,115) 0,059 (0,097) Pb (mg/Kg) 0,253 (0,553) 2,067 (1,724) 0,774 (0,697) Zn (mg/Kg) 3,819 (2,167) 7,867 (2,474) 3,201 (5,245) Hg (mg/Kg) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) As (mg/Kg) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,017 (0,033) 0,006 (0,010) 0,019 (0,030) 0,172 (0,345) 1,760 (1,587) 8,843 (23,114) 0,260 (0,190) 4,874 (9,747) 6,057 (12,113) 49,099 (123,614) 1,455 (1,539) 0,114 (0,124) 0,092 (0,184) 0,170 (0,318) 0,041 (0,047) 0,234 (0,156) 0,500 (0,346) 1,093 (0,975) 0,924 (0,652) 4,295 (8,362) 6,792 (2,778) 4,663 (9,007) 1,050 (0,576) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) Hypostomus sp. Hypostomus commersoni Hypostomus ternetzi Hypostomus isbrueckeri Limite (mg/Kg Legislação 0,018 (0,080) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 19,781 (24,470) 0,000 (0,000) 26,167 (0,983) 36,647 (52,132) 0,270 (0,234) 0,000 (0,000) 0,108 (0,193) 0,004 (0,004) 0,060 (0,104) 0,894 (1,318) 0,243 (0,012) 0,000 (0,000) 5,965 (7,497) 0,031 (0,025) 6,933 (4,406) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 0,000 (0,000) 30,0 - - 1,0 2,0 - 0,5 1,0 Decreto 55871/65 - Portaria Portaria Nº 685/98 Nº 685/98 Portaria Portaria Nº 685/98 Nº 685/98 a -10 A UP URMD RBG RCH RIR RUCX URC ULH RLB RPF B -20 -30 RMA URME UP URMD RB G RCH RIR RUCX URC ULH RLB RP F RMA URME ULH RLB RPF RMA Pontos 160 0,4 p=0,37118 p=0,18382 140 0,3 120 100 0,2 80 60 40 20 0 0,1 0,0 -0,1 -20 C -60 -80 UP URMD RBG RCH RIR RUCX URC ULH RLB RPF RMA D -0,2 -0,3 URME UP URMD RBG RCH RIR RUCX URC URME Pontos Pontos 7 18 p=0,00000 6 16 d p=0,24876 14 5 12 4 10 3 2 1 ac a a a Zn [mg.Kg-1 ] Paraloricaria vetula ab a a a a a a a Pontos Pb [mg.Kg -1 ] Hypostomus uruguayensis ab ab 20 180 -40 Hemiancistrus sp 30 0 Cd [mg.Kg -1 ] Hypostomus luteus Fe (mg/Kg) 12,660 (17,251) 32,167 (13,166) 49,512 (85,205) 40 10 - 0,8 Fe [mg.Kg -1 ] Loricariidae NI Mn (mg/Kg) 2,439 (6,173) 0,000 (0,000) 11,299 (26,253) 50 - 0,4 Tabela 1. Níveis de metais pesados encontrados na população total de peixes amostrados, média em negrito e desvio padrão entre parênteses. Cu (mg/Kg) 0,004 (0,012) 0,000 (0,000) 0,258 (0,875) b 70 0,6 - 0,6 Táxons p=0,00057 90 0,8 C u [mg.Kg -1] Durante o período amostrado foram capturados 43 indivíduos, distribuídos em doze pontos amostrais, não sendo registrado apenas no ponto Lajeado São José. A maior ocorrência e abundancia foram registrados para os pontos Chapecó, Balneário de Pratas, Porto de Caxambu e Barragem Foz de Chapecó (barramento central). Em relação aos níveis de metais pesados encontrados na população total de espécies de peixes amostrados, a maior abundancia de concentração de metal pesado foi para o metal ferro (Figura 2), sendo que das dez espécies, oito tiveram a maior concentração quando comparada aos demais metais (Tabela 1). a a a ab ab a 6 4 2 0 0 E -1 -2 8 a UP URMD RB G RCH RIR RUCX URC Pontos ULH RLB RPF RMA URME -2 F -4 -6 UP URMD RB G RCH RIR RUCX URC ULH RLB RP F RMA URME Pontos Figura 2. Concentrações médias de metais nos tecidos de peixes da família Loricariidea capturados por ponto de coleta na área de influencia da UHE Foz do Chapecó no período de junho 2007 a junho de 2009 (A- Cobre, B- Manganês, CFerro, D- Cádmio, E- Chumbo e F- Zinco). Letras iguais nas diferentes colunas indicam que não há diferenças significativas entre os pontos pelo teste de Tukey (p<0,05). Considerações Finais Apesar de três pontos (Balneário de Ilha Redonda, Monte Alegre e Irani) apresentarem maiores concentrações de metais em relação aos demais pontos, a bacia hidrográfica do alto Rio Uruguai não apresentou condições de contaminação elevada por metais pesados nos pontos estudados. Os valores encontrados estão dentro dos limites de referencia preconizados pela legislação brasileira ANVISA para consumo humano. Porém cabe ressaltar que o metal chumbo apresentou o valor de referencia igual ao limite máximo de tolerância estabelecido pela ANVISA. Como as espécies apresentaram crescimento alométrico negativo podemos afirmar que existem condições desfavoráveis para o seu crescimento sendo que os metais pesados podem estar tendo grande influencia neste resultado. Os resultados obtidos neste estudo são preliminares, dessa forma, torna-se necessário ampliar o número de peixes estudados por espécie e incluir coletas ao longo de todos os meses do ano, de modo que o padrão de concentração observado para os metais pesados na bacia hidrográfica do alto Rio Uruguai seja confirmado. Ministério da Ciência e Tecnologia CTHidro