karma Agosto.2014 1 ...Apegados ao arcaico e nada metafísico conceito de prêmio e castigo, todos os ocidentais, que pesquisaram sobre o Karma, levaram em seu subconsciente as ameaças e as recompensas do Jeová bíblico. Obviamente entenderam mal esse conceito. Para o Oriente o Karma não se esgota com o tempo, esgota-se, despertando. Poder-se-á objetar que a consciência desperta é produto do tempo, ao que respondemos que é produto do esforço “Por Ver”, não da inércia de se deixar levar por anos, séculos e milênios. Este esforço “Por Ver” não está guarnecido por nenhum calendário e não dorme sob as rodas das horas. Esse esforço “Por Ver” existe em cada um de nós, pertence à nossa Natureza Divina e está à espera de seus velhos buscadores, os seres humanos. Agosto.2014 2 Por outro lado se entendêssemos com maior profundidade o que significa Karma Sanchita perceberíamos que, se bem que em Prarabda extraímos uma fração sua para vive-la no presente, esse Sanchita está sendo alimentado pelo Karma Agami nesta atual encarnação de modo que, pela simples lei de ação e reação, seria quase impossível seu esgotamento. No Bhagavad Gita, esta concepção é claramente expressa: “Como a energia do fogo reduz a cinzas os maiores bosques, da mesma forma, Arjuna, a Sabedoria, pode destruir na sua totalidade os Karmas” (IV-37). Karma Sanchita – Karma acumulado ou latente, que é constituído pela multidão de causas que vamos acumulando no decorrer de nossa vida e que não podem ter realização imediata. Prarabda Karma – Karma ativo ou começado, aquele que constitui o que chamamos de nosso caráter, as múltiplas circunstâncias que nos cercam na vida presente (para o corpo físico e a mente, pois, é com eles que permanecemos identificados). Karma Agami – Karma futuro, o karma que será engendrado por nossos atos em nossa vida presente. Agosto.2014 3 Para muitos ocidentais a visão de Karma não é mais do que a ideia de pecado, prêmio e castigo, levemente cobertos de filosofia indiana e sutilmente dissimulados em roupagens exóticas. Os maiores metafísicos europeus dificilmente conseguem, ao estudar a Índia, evadirse de sua própria cultura; de algum modo, a interpretação dos textos sagrados, por exemplo, do Bhagavad Gita, é feita sob os cânones já assinalados de pecado, prêmio e castigo. Carrega-se um Deus que condena ou galardeia, alguém que conforme a velha lei de Talião –não superada pelos “superados”- recebe olho por olho, dente por dente, vida por vida. Dizem, ninguém pode fugir do Karma, ele deve ser extinguido. Se semeio dez, colho dez... se peco dez castigam-me dez... dez serão os meus prêmios por dez boas ações... Isto não é filosofia atemporal, é farisaísmo subconsciente, é o homem troglodita montado sobre o homem contemporâneo que se acredita livre para pensar e, no entanto, é fiel à sua aritmética de mercador. Agosto.2014 4 “Quando a aguda lança da Sabedoria destruir a ignorância em teu coração, achar-te-ás, ó Arjuna, firmado na altíssima ciência do Yoga” (Bhagavad Gita, IV-42). Não há nem angustiante espera sob um Karma inexorável, nem um Deus que intima a viver fechado no cárcere da ignorância. Concluindo, temos que o Karma é neutro: assim como um fio de alta tensão, segura quem o toca e não a quem o evita. O Bhagavad Gita é um grito indicando esta última opção tal que veremos oportunamente. Agosto.2014 (Texto do livro “Filosofia Final” (Vedanta) de Ada Albrecht – Ed. Nova Acrópole do Brasil, pág. 74, 3º parágrafo. As imagens são ilustrativas, não pertencem ao livro.) 5