EM BUSCA DE UMA CONSCIENTIZAÇÃO PARA ALÉM DO USO DO PRESERVATIVO Thaís Santos Souza1 Resumo2 Este estudo tem por objetivo analisar a vida sexual de mulheres portadoras do vírus HIV no município de Goiânia, no sentido de conhecer a respeito dos métodos contraceptivos que estas utilizam, assim como ter acesso às informações que recebem sobre a doença nos serviços de saúde a que estão submetidas. Por se tratar de mulheres soropositivas, optou-se por uma abordagem qualitativa, que prioriza o contexto onde o fenômeno ocorre visando alcançar os objetivos propostos; buscando um aprofundamento das questões bem como a sua essência. As informações foram obtidas por meio de entrevistas semi-estruturadas, e a análise privilegiará conceitos como: sexualidade, confiança e representações sociais. Palavras-chave: mulheres com HIV, métodos contraceptivos, sexualidade, Goiânia. A partir de 1985, nos primeiros anos da epidemia da AIDS3 que ocorreu principalmente entre os homens e sua transmissão se dava por meio de drogas injetáveis, relações sexuais, sobretudo as homossexuais, entre outros meios. Com o passar dos anos surgiu uma nova categoria de transmissão, as relações heterossexuais essa nova categoria contribuiu para que aumentasse a contaminação de mulheres pelo vírus do HIV/AIDS. 1 Graduanda em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, [email protected]. 2 Trabalho desenvolvido sob orientação da Profª. Dra. Marta Rovery de Souza. 3 AIDS, do inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome, é a sigla para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Para maiores informações < http://www.sistemas.aids.gov.br/forumprevencao_final/index.php?q=o-que-significa-aids>. 1 Desde o surgimento da doença no país, os homens estão na liderança de adquirirem e transmitirem o vírus, no entanto, essa realidade vem sendo modificada; eles agora compartilham este cenário com as mulheres. O aumento proporcional do número de casos entre mulheres pode ser observado considerando o gênero (números de casos em homens divididos pelos números de casos em mulheres). Em 1989 as estatísticas apontavam seis casos de AIDS do gênero masculino para um caso do gênero feminino. Em 2009 essa relação passou de 1,6 casos de homens para cada 1 caso em mulheres4 . Para definir o enfrentamento da epidemia de HIV/AIDS, no Brasil houve uma análise da trajetória da doença que pode ser observado em com quatro fases. A primeira corresponde ao ano de 1985, onde ocorreu o contato e a notificação oficial dos primeiros casos no Brasil, especificamente em São Paulo. Foi nesse período que ocorreu a mobilização para a criação de um programa com a finalidade de coordenação das atividades de diagnóstico, controle, orientação e tratamento dos casos de Aids no Brasil (Teixeira, 1997). Nesse período também começam a surgir no Brasil às primeiras organizações não governamentais dedicadas a AIDS denominadas Grupo de Apoio e Prevenção de AIDS (GAPA) e no Rio de Janeiro a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA). A segunda fase compreendeu de 1986 a 1990, o foco principal desta foi o grande volume e velocidade dos casos registrados em todo o pais, ainda neste momento existia uma preocupação maior na implementação e na divulgação das políticas que atendessem as ações para controlar e prevenir a AIDS. Foi em meados dos anos 90 que a sociedade civil se envolveu de forma mais direta, a maioria eram pessoas soro positivas, ganhando espaço no cenário nacional e internacional, buscando o que a constituição de 88 garantia: o direito a saúde. Diferentes das duas primeiras fases a terceira teve a duração de apenas um ano, foi marcada por uma crise política na esfera federal, isso contribuiu para que os programas já implementados ficassem estagnados, o único avanço nesse sentido foi à 4 Brasil. Ministério da Saúde. Disponível em: HTTP:// portal.saude.gov.br/portal/saúde/default.cfm. 2 decisão de adquirir e distribuir gratuitamente os medicamentos especiais para os pacientes de AIDS de todo o país (AZT, Grancidoviu, Pentamidina). Por fim na quarta fase de 1993 a 1994 ocorreu à reorganização do programa nacional de AIDS, efetivando o envolvimento de pessoas sendo elas na maioria soro positivas, esse envolvimento girava em torno da busca de investimentos para ações e programas referentes ao enfretamento á AIDS e melhorias para suas necessidades. Segundo dados do Ministério da Saúde a forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade se dá através do sexo, nas mulheres 94% dos casos notificados no ano de 2009 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Essa realidade entre os homens é de 42,9%. O Brasil foi um dos primeiros países a aderir às políticas de saúde significativas para interromper a transmissão do vírus e melhorar o atendimento aos portadores do HIV. A efetivação de umas dessas políticas é a distribuição recorde de mais de 465 milhões de preservativos em todo o país em 2009 e a disponibilização gratuita dos medicamentos usados no tratamento pelos portadores, essa admissão se da através do Sistema Único de Saúde (SUS)5 . Embora o país seja um dos lideres em assistência aos portadores do HIV, ainda encontra-se grandes desafios a serem enfrentados, o diagnostico precoce é um deles. Segundo o Ministério da Saúde estima-se que 630 mil pessoas vivam com o vírus, dentre estas pelo menos 255 mil não sabem ou então nunca fizeram o teste do HIV. Uma das políticas bem conhecidas para tentar amenizar essa situação é o “Fique Sabendo”, sendo que entre os anos 2005-2009 o período onde este programa alcançou destaque. O objeto do presente estudo foram mulheres soropositivas que residem no município de Goiânia. Buscou-se conhecer a realidade destas mulheres quanto às informações que recebem sobre a doença, e observou-se o cotidiano destas em relação aos métodos contraceptivos e de prevenção que conhecem, ou vieram a 5 Brasil. Ministério da Saúde Disponivel em HTTP://www.aids.gov.pagina/compra-e-distribuição-de medicamento-e-insumos-de-prevenção. 3 conhecer em decorrência da doença. A pesquisa qualitativa é a que melhor se enquadra com o objeto de estudo - mulheres soropositivas, como método utilizou-se as entrevistas semi-estruturadas, que possibilitaram uma flexibilidade e adaptabilidade maior na obtenção dos dados. A metodologia usada foi adequada para se enquadrar na realidade estudada, pois, possibilita verificar: 1) a realidade social é vista como construção e atribuição social de significados; 2) a ênfase no caráter processual e na reflexão; 3) as condições “objetivas” de vida tornarem-se relevantes por meio de significados subjetivos. Esta metodologia ainda permite a analise por meio da sua historicidade, concretizando a aceitação explicita da influência que os valores e as crenças exercem sobre a teoria. O roteiro de entrevista foi submetido ao Comitê de Ética da UFG, e para o desenvolvimento da entrevistas as mulheres assinaram o termo de consentimento. Estabeleceu-se contato com essas mulheres das seguintes formas: 1) através de uma ginecologista que atende em um serviço público, 2) em um grupo de apoio a pessoas com HIV/AIDS. Neste caso a aproximação foi estabelecida de forma gradual, levou-se entorno aproximadamente um mês e meio para se obter contato direto com as mulheres soropositivas, esse vinculo foi criado através de reuniões que se realizavam semanalmente e mensalmente na casa de apoio. Depois deste tempo é que foi possível dar inicio as entrevistas. A estrutura das entrevistas possuía cinco eixos norteadores que auxiliavam na condução da entrevista a saber: 1) Identificação pessoal; 2) Diagnóstico da doença; 3) Conhecimento quanto aos métodos contraceptivos e informações recebidas; 4) Dificuldades pessoais e no tratamento; 5) Momentos de tentativas e/ou superação da doença. Foram realizadas oitos entrevistas. O processo de análise e interpretação dos dados apóia-se em três conceitos centrais. O conceito de confiança de Giddens, o de Sexualidade de Foucault e o de Representações Sociais de Moscovici. Este estudo mostrou que todas as entrevistadas revelaram maior conhecimento a respeito da AIDS do que em relação as DST, ainda 4 que básico, sendo assim elas buscaram maiores informações após o diagnóstico da doença. Sendo que inicialmente a fonte de informações era obtida nos serviços de saúde onde estas realizavam o tratamento e posteriormente outros meios variando de cada uma, por exemplo: nos jornais (impressos ou então em telejornais), revistas, internet e a ONG que freqüentam que também se tornou uma fonte de informação por parte do universo dessas mulheres. Referências FLICK, Uwe. Entrevistas semi-estruturadas. As narrativas como dados. Entrevistas e discussões tipo grupo de foco. Dados verbais: uma visão geral. In – op. Cit., 2004, p. 89143. FOUCAULT, M. História da sexualidade I: A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro. Edições Graal, 1998. GIDDENS, A. As conseqüências da Modernidade. Tradução Raul Fiker. São Paulo: Editora UNESP, 1991. (Biblioteca básica). GRIMBERG M. Gênero Y VIH/SIDA. Um análisis de los diferenciales de gênero em La esperiencia de vivir com VIH. Cuad Med Soc 2000; 78; 41-54. GUNTHER, H. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Pesquisa Qualitativa versus Pesquisa Quantitativa: Esta é a questão. Maio - Ago 2006, Vol. 22 n.2, p. 201 – 210. MOSCOVICI, S. Representações Sociais. Traduzido do inglês por Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes , 2003. PEREIRA MLD. A re(invenção) da sexualidade feminina após a infecção pelo HIV. São Paulo: Escola de Enfermagem da USP; 2001. 5