Reflexões sobre a problemática urbana e a violência: esboços de uma análise crítica a partir da Geografia Urbana Renata Alves Sampaio Departamento de Geografia - FFLCH – Universidade de São Paulo 1. Objetivos Analisar os conteúdos do termo violência urbana, para além da noção de criminalidade ou do ato violento que se manifesta na cidade – entendida apenas como sítio, localização geográfica, “palco” das relações sociais. Essa análise pretende estender o entendimento da violência a uma reflexão teórica (e prática) que incorpora uma compreensão da cidade, do urbano e da vida cotidiana. 2. Métodos A análise da violência urbana proposta parte da Geografia, enquanto disciplina parcelar, mas busca superar a fragmentação através do estudo de um tema que coloca problemas universais, que ultrapassam sua escala meramente particular. Trata-se, portanto, de entender a violência na sua relação com a totalidade, neste caso, trata-se de pensar os significados da violência urbana no mundo contemporâneo como um elemento (e mais um elemento) da reprodução crítica e contraditória do capital que se reproduz produzindo um espaço e uma “urbanização crítica” (cf. DAMIANI, s/d.). A análise fundamenta-se numa Geografia Urbana “Crítica e Radical” que tem como base teórico-metodológica o pensamento de Karl Marx e Henri Lefebvre. 3. Resultados e Discussões Afinal, o que é violência urbana? A partir das leituras dos trabalhos claramente definidos como reflexões sobre violência urbana, no que ela tem de ligação formal com os problemas da cidade, desenvolvemos a hipótese de que o termo violência urbana ainda não se delimitou enquanto conceito. Essa consideração aponta para a necessidade de pensar no processo de elaboração do conceito (aberto), no movimento de um pensamento vivo. Para isso, partimos não do conceito, mas da realidade concreta, da vida cotidiana, para tentar entender o problema posto em questão. A extensão do mundo da mercadoria para todos os momentos da vida coloca precisamente o que LEFEBVRE (1999) denominou como a cotidianidade. Ela – que se realiza no seio do urbano - é a expressão da programação (para o consumo), da repetição dos atos; é a vida cotidiana que se realiza através da norma, dos interditos, das coações, dos constrangimentos, da violência. Esses constrangimentos se colocam como imposições, como forças que tentam se colocar como ordenamento, como lógica, como planejamento. Não são forças aleatórias. Têm uma intencionalidade; provocam danos. São forças que emanam do econômico e do político (e de suas relações, imbricações) através de suas instituições. É força que se realiza como produção lógica do espaço – do espaço pensado como forma pura, esvaziada de conteúdo (e que incorpora a lógica da mercadoria) -; como processo de fragmentação e segregação; como planejamento urbano que tenta anular contradições, chegando na vida cotidiana com potencial esmagador. 4. Conclusões Essas forças “chegam” na vida cotidiana através de inúmeros constrangimentos, definidos pela interdição ao uso irrestrito do espaço urbano (fragmentado pelo processo de segregação e pela instauração da lógica da propriedade privada); pela impossibilidade de realização do urbano para todos; pela cotidianidade. A violência se expressa, assim, no medo (do crime) como insegurança e também como constrangimentos! Queremos, com isso, desenvolver a idéia de que para pensar a violência urbana é preciso levar em consideração a experiência do vivido, pela sobreposição de vários constrangimentos. 5. Referências Bibliográficas DAMIANI, Amélia Luisa. Urbanização Crítica: Periferias Urbanas. Mimeo (s/d). LEFEBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: Ed: UFMG, 1999.