REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. PARASITISMO POR RANGELIA VITALLI EM CÃES ("NAMBIUVÚ", "PESTE DE SANGUE") - UMA REVISÃO CRÍTICA SOBRE O ASSUNTO A.P. Loretti1 & S.S. Barros2 Setor de Patologia Veterinária, Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), CP 15094, CEP 91540-000, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 1 RESUMO Rangelia vitalli é um protozoário do filo Apicomplexa, ordem Piroplasmorida, transmitido por carrapatos e que provoca uma doença em caninos conhecida como "peste de sangue" ou "nambiuvú". Usualmente, afeta cães jovens das zonas rurais e periurbanas nas épocas mais quentes do ano quando a quantidade de carrapatos no ambiente é grande, mas também pode ser observada ao longo do ano inclusive em cães adultos. Causa anemia, icterícia, febre, esplenomegalia, linfadenomegalia, hemorragias no trato gastrintestinal e sangramento persistente pelas bordas e face externa das orelhas, narinas e cavidade oral. O hemograma dos animais afetados é consistente com o de uma anemia hemolítica extra-vascular imunomediada. Histologicamente, R. vitalli tem sido observado no interior de vacúolos parasitóforos no citoplasma de células endoteliais dos capilares sangüíneos. Estudos em microscopia eletrônica revelam que esse parasito também pode ser encontrado livre no sangue circulante. O diagnóstico presuntivo dessa enfermidade é feito com base no histórico, quadro clínico, hemograma e resposta favorável à terapia. O diagnóstico definitivo da protozoose tem sido feito apenas por meio do exame microscópico de esfregaços de tecidos confeccionados durante a necropsia ou em cortes histológicos. Sugere-se que os carrapatos ixodídeos Amblyomma aureolatum e Rhipicephalus sanguineus sejam os vetores de R. Vitalli e que reservatórios silvestres (carnívoros selvagens e passeriformes) mantém esse protozoário no meio rural sem adoecer. PALAVRAS-CHAVE: Rangelia vitalli, nambiuvú, protozoários, Apicomplexa, carrapatos, caninos. ABSTRACT PARASITISM BY RANGELIA VITALLI IN DOGS ("NAMBIUVÚ", "PESTE DE SANGUE") - A CRITICAL REVIEW ON THE SUBJECT. Rangelia vitalli is a member of the protozoan phylum Apicomplexa, order Piroplasmorida, that causes a tick-borne disease referred to as "nambiuvú" (=blood dribbling down from the ear margins) or "peste de sangue" (=bleeding plague). This parasite usually affects young dogs from rural and periurban areas during the hot season when ticks abound but can also occur during the year in adult animals. The disease is characterized by anemia, icterus, fever, splenomegaly, generalized lymph node enlargement, hemorrhage along the gastrintestinal tract and persistent bleeding through the tips of the pinnae, external surface of the ears, nose and oral cavity. Hematologic findings suggest that R. vitalli causes an immunemediated extravascular hemolytic anemia. Microscopically, this protozoa has been found inside parasitophorous vacuoles in the cytoplasm of the endothelial cells of the blood capillary vessels. Ultrastructural studies have shown that R. vitalli can also be found free in circulating blood. Tentative clinical diagnosis of R. vitalli infection is based on the history, clinical picture, hemogram and favorable response to therapy. Definitive diagnosis has been accomplished through microscopical examination of smears from tissue samples collected during necropsies or histological sections. It is suggested that the ixodid ticks Amblyomma aureolatum and Rhipicephalus sanguineus serve as vectors of R. vitalli and that wild carnivores and birds that are resistant to the infection by this protozoa play a role as reservoirs of the pathogen in rural areas. KEY WORDS: Rangelia vitalli, "nambiuvú", protozoa, Apicomplexa, ticks, dogs. Departamento de Patologia Animal, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 101 102 A.P. Loretti & S.S. Barros Rangelia vitalli é um protozoário do filo Apicomplexa, ordem Piroplasmorida (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003) transmitido por carrapatos e que provoca uma doença em caninos conhecida popularmente como "peste de sangue", "nambiuvú" ou "febre amarela dos cães". Trata-se de uma enfermidade que, ao longo dos anos, tem sido descrita apenas no Brasil (CARINI, 1908; P ESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b; KNUTH & DU TOIT , 1921; W ENYON, 1926; D OFLEIN, 1929; BRAGA, 1935; C ARINI, 1948; R EZENDE, 1976; KRAUSPENHAR et al., 2003a; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Apesar de a primeira descrição do parasitismo por R. vitalli ter sido feita no início do século passado (CARINI, 1908), há poucos estudos a respeito desse protozoário em nosso país. Controvérsias a respeito do ciclo evolutivo e sobre a real identidade de R. vitalli povoaram o meio científico brasileiro durante muitos anos. Clinicamente, a infecção por R. vitalli tem sido confundida com outras doenças infecciosas de cães que causam anemia, icterícia, febre, esplenomegalia, linfadenomegalia e hemorragias. R. vitalli também tem sido confundido na histopatologia por pesquisadores brasileiros e estrangeiros com outros protozoários e riquétsias que causam enfermidade em cães e que ocorrem no sangue e em diversos órgãos e tecidos dos animais afetados. Todas essas questões polêmicas e equívocos sucessivos criaram uma situação de total descrédito no meio científico ao redor do tema R. vitalli de modo que esse tópico foi abandonado pela maioria dos pesquisadores de nosso país a partir da década de 50. Durante a década de 70, alguns estudos a esse respeito foram desenvolvidos, mas infelizmente não foi dada continuidade à pesquisa a respeito desse protozoário (REZENDE , 1976; MASSARD, Comunicação pessoal; R EZENDE, Comunicação pessoal). Recentemente, um grupo de pesquisadores divulgou o resultado de seus estudos a respeito de R. vitalli que incluíram casos que, durante as décadas de 80 e 90, foram diagnosticados como leishmaniose visceral (POCAI et al., 1998, KRAUSPENHAR et al., 2003b). Os autores dessa revisão também vêm desenvolvendo nos últimos anos (2002-2004), junto a profissionais de diferentes setores e instituições, estudos sobre os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos da infecção por R. vitalli empregando inclusive técnicas que, em tempos remotos, (1908-1950) não estavam prontamente disponíveis para os pesquisadores p.ex. microscopia eletrônica de transmissão e imuno-histoquímica mas que na atualidade são rotineiramente empregadas no estudo de diversos patógenos inclusive protozoários (CHEVILLE, 1994; DUBEY & HAMIR, 2000). Até o presente momento, R. vitalli ainda não foi reconhecido oficialmente pela comunidade científica internacional. Tentativas têm sido feitas para validar R. vitalli como um protozoário pertencente ao Filo Apicomplexa, ordem Piroplasmorida, baseado nos resultados de estudos ultra-estruturais (LORETTI et al., 2003). O objetivo do presente trabalho é o de fazer uma revisão de literatura completa a respeito de R. vitalli e sobre a enfermidade causada por esse protozoário. Por meio dessa compilação de dados, tenta-se desmistificar esse tópico polêmico e resgatar um assunto que desapareceu por completo dos livros e revistas científicas de medicína veterinária do Brasil apesar de diversas evidências apontarem para o fato de que esse patógeno é uma causa importante de doença clínica e morte em cães das zonas rurais e periurbanas no Estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil e provavelmente em outras regiões do país. EPIDEMIOLOGIA Rangelia vitalli afeta principalmente cães jovens (PESTANA, 1910a) e, menos freqüentemente, cães adultos das zonas rurais, ou seja, do interior, ou cães que têm acesso a esses locais periodicamente (PINTO, 1938; CARINI, 1948). A doença também tem sido observada em cães utilizados para a caça p.ex. nos cães lebreiros, em especial os de raça nos quais a enfermidade usualmente se manifesta após uma caçada, ocasião em que os animais têm acesso a áreas infestadas por carrapatos (CARINI & MACIEL, 1914a; CARINI & MACIEL, 1914b). Ocorre ainda em cães das zonas periurbanas (PESTANA, 1910a) e, pelo menos no Estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil, em cães que têm acesso a áreas com matas nativas, regiões com serras ou montanhas ou então locais próximos a mini-zôos. Também ocorre em cães de guarda e companhia mantidos em sítios afastados dos grandes centros urbanos ou nos pátios de casas situadas na periferia da cidade, em locais próximos a matos e morros (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Publicações veterinárias lançadas pelo Exército Brasileiro, força armada que movimenta em seus canis os"cães-de-guerra", também fazem menção ao parasitismo por R. vitalli (BRAGA, 1935; OLIVEIRA, 1990). A infecção por R. vitalli tem sido observada apenas em cães. Essa doença não tem sido observada em outras espécies de animais ou em aves. Estudos experimentais não conseguiram reproduzir essa enfermidade em animais de outras espécies (CARINI & MACIEL 1914b). A distribuição geográfica da doença está associada àqueles locais onde as espécies de carrapatos capazes de infestar o cão estão presentes. Sugere-se que, nas zonas rurais, R. vitalli seja mantido no ambiente por alguns hospedeiros desses carrapatos (animais silvestres e passeriformes) e que, nas zonas periurbanas, os carrapatos funcionariam tanto como Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. vetores como reservatórios do patógeno (LORETTI et al., 2003) da mesma maneira que ocorre em outras doenças infecciosas de cães transmitidas por carrapatos tais como a babesiose canina e a hemobartonelose canina (HARVEY, 1998; LOBETTI, 1998). Cães que se recuperam da infecção por R. vitalli se tornariam portadores assintomáticos do patógeno, condição essa que se manteria por vários meses mesmo após a cura da doença. Dessa forma, esses animais também poderiam funcionar como reservatórios desse protozoário (CARINI & MACIEL, 1914b). Descreve-se que um cão clinicamente curado da infecção por R. vitalli permanece como portador desse patógeno por muito tempo e que, uma vez levado para uma região indene, esse animal pode infectar os carrapatos daquela área criando um novo foco da protozoose (BRAGA, 1935). A esse respeito, deve ser mencionado que, de um modo geral, no caso das doenças transmitidas por carrapatos, quando um patógeno causa doença aguda em um determinado hospedeiro vertebrado e não há infecção persistente, o reservatório do agente causador da doença será o carrapato que perpetuará o patógeno em questão de geração à geração (transmissão transovarina). Por outro lado, quando um patógeno causa uma enfermidade crônica em um hospedeiro vertebrado e a infecção é prolongada, o reservatório do agente patogênico geralmente será o próprio animal infectado ( LABRUNA,Comunicaçãopessoal).Paraaquelas doenças de cães causadas por protozoários ou riquétsias do sangue e que são transmitidas por carrapatos, têm sido desenvolvidos ao longo dos anos numerosos estudos sobre o mecanismo de transmissão desses agentes patogênicos pelos carrapatos (transmissão transovariana e/ou transestadial), infectividade desses carrapatos em seus diferentes estágios evolutivos (larvas, ninfas e adultos), ocorrência de vetores mecânicos para esses agentes causadores de moléstias e existência de linhagens (cepas) vetorespecíficas desses patógenos em diferentes regiões geográficas (LEWIS et al., 1996). Não foram encontradas informações a esse respeito no caso de R. vitalli. O parasitismo por R. vitalli já foi descrito no interior do Estado de São Paulo (PESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b), no Estado do Rio de Janeiro, inclusive em cães pastores alemães capa preta da polícia militar empregados no patrulhamento de zonas rurais (REZENDE, 1976) e, no Estado do Rio Grande do Sul (KRAUSPENHAR et al., 2003a; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003), na zona rural, na região limítrofe entre a cidade e a zona rural (em sítios) e também na periferia da cidade, naquelas áreas em que os cães são mantidos em pátios fechados e onde as casas vizinhas também têm cães, ou então naqueles locais onde os cães têm acesso direto às á reas de mato e morros que circunvizinham as habitações humanas (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL etal., 103 2003). Essa enfermidade pode ser observada durante todo o ano, sendo, porém, mais freqüente na época mais quente (verão) (CARINI & MACIEL, 1914b). Na Região Sul do Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, um grande número de casos clínicos e de necropsia de infecção por R. vitalli tem sido observados durante os meses de novembro a março (KRAUSPENHAR et al., 2003a; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). A quantidade de carrapatos no ambiente é grande durante esse período em função da temperatura ambiental ser mais elevada o que estimula as fêmeas ingurgitadas a realizarem a oviposição. Nessa mesma região, casos dessa moléstia também têm sido diagnosticados durante os meses de maio a agosto embora menos freqüentemente (LORETTI, 2002; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Apesar dos relatos de casos dessa enfermidade publicados na literatura se concentrarem nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil, acredita-se que essa doença ocorra em todo o território nacional, nas mesmas condições observadas naquelas áreas de onde vêm os primeiros registros da enfermidade (PESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI &MACIEL, 1914b). No Estado de Santa Catarina, Região Sul do Brasil, há histórico de doença que ocorre em cães das zonas rurais e sítios e que tipicamente causa sangramento bilateral profuso através das orelhas e com frequência, a morte. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A BIOLOGIA DOS CARRAPATOS IXODÍDEOS EM CÃES NO BRASIL E A IMPORTÃNCIA DESSES ARTRÓPODES NA EPIDEMIOLOGIA DA INFECÇÃO POR RANGELIA VITALLI Amblyomma aureolatum (A. striatum), A. cajennense, A. ovale, A. tigrinum (A. maculatum) e Rhipicephalus sanguineus são os carrapatos ixodídeos que têm sido encontrados em caninos acometidos pela infecção por Rangelia vitalli (CARINI & MACIEL, 1914b; BRAGA, 1935; R EZENDE, 1976; L ORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Em estudos recentes sobre a epidemiologia dessa protozoose realizados na zona rural e periurbana do Estado do Rio Grande do Sul, foi feita a colheita e identificação dos carrapatos de cães domésticos daqueles estabelecimentos onde havia históricos da ocorrência da "peste de sangue", de pacientes afetados por R. vitalli atendidos no hospital veterinário universitário local (Hospital de Clínica Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - HCV-UFRGS, Porto Alegre, RS) ou então de carcaças dos animais acometidos por essa protozoose que eram encaminhadas para necropsia. Resultados preliminares desse levantamento (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003) sugerem que os principais artrópodes vetores envolvidos na transmissão de R. vitalli são os carrapatos ixodídeos de três hospedeiros Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 104 A.P. Loretti & S.S. Barros (trioxenos) A. aureolatum e R. sanguineus como já mencionavam os primeiros trabalhos sobre esse protozoário (CARINI & MACIEL, 1914b; BRAGA, 1935). A. aureolatum, o "carrapato amarelo do cão", tem o escudo dorsal, estrutura típica dos ixodídeos, amarelado ou acobreado e, no caso da fêmea, ornamentado, e tem o aparelho bucal longo (FLECHTMANN, 1990) enquanto R. sanguineus, o "carrapato vermelho (marrom) do cão", tem o escudo dorsal marrom-avermelhado e apresenta um aparelho bucal curto (FLECHTMANN, 1990; LABRUNA & P EREIRA, 2001). No Estado do Rio Grande do Sul, A. aureolatum tem sido encontrado naqueles casos de infecção por R. vitalli oriundos da zona rural ao passo que R. sanguineus tem sido observado em casos de infecção por R. vitalli vindos da periferia da cidade (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Nesse Estado, há históricos de que a "peste de sangue" é uma doença freqüente em cães da zona rural. Nessa área, foi constatada uma prevalência elevada de carrapatos adultos da espécie A. aureolatum em cães utilizados na caça a animais silvestres (especialmente o tatu e o veado) (MASSARD, 1979). Acredita-se que essa categoria de cão (cão de caça ou cão lebreiro) é uma das mais propensas ao desenvolvimento da infecção por R. vitalli pelo fato de estar mais exposta, durante as caçadas, a um ambiente onde a infestação por carrapatos, vetores do patógeno, é elevada. Carrapatos do gênero Amblyomma usualmente são encontrados na cabeça, orelhas e pescoço dos cães enquanto R . sanguineus ocorre principalmente na cabeça, pescoço, dorso, orelhas e espaços interdigitais desses animais (LABRUNA & P EREIRA, 2001). Epidemiologia semelhante a de R. vitalli também tem sido observada em outras enfermidades causadas por hemoparasitos que têm um ciclo de vida silvestre e que afetam cães das áreas rurais ou periurbanas de nosso país tal como a infecção por Hepatozoon canis nos Estados do Rio Grande do Sul (MASSARD, 1979), Rio de Janeiro (O'DWYER et al., 2001) e São Paulo (ALENCAR et al., 1997; GONDIM et al., 1998) em que os animais afetados estão infestados por A. aureolatum, A. cajennense, A. ovale e R. sanguineus. A. cajennense é apontado como o principal vetor do agente causador da hepatozoonose nas zonas rurais do Estado do Rio de Janeiro (O'DWYER et al., 2001). Alguns aspectos sobre a biologia das infestações por carrapatos que ocorrem em cães em nossa região merecem ser comentados para um melhor entendimento da epidemiologia da infecção por R. vitalli. A. aureolatum ocorre nos ambientes silvestres e tem particular afinidade por carnívoros das zonas rurais (LABRUNA & PEREIRA, 2001; GUGLIELMONE etal., 2003). Há poucas informações a respeito dos aspectos bionômicos de A. aureolatum (RODRIGUES et al., 2002). No Brasil, esse carrapato tem sido encontrado infestando animais silvestres tais como o graxaim-docampo e o graxaim-do-mato (cães selvagens que ocorrem na Região Sul do Brasil), o guaxinim (mãopelada), o veado, o gambá, a capivara, o quati e o rato silvestre. A. aureolatum também ocorre em animais domésticos p. ex. cães, gatos, porcos e cavalos e em pássaros (FONSECA, 1935; ARAGÃO, 1936; LUCAS et al., 1999; EVANS et al., 2000; RUAS et al., 2003). Sabe-se que os estágios de larva e ninfa de A. aureolatum geralmente são encontrados em passeriformes mas também podem infestar roedores e canídeos silvestres. A capacidade que as larvas e ninfas de A. aureolatum têm de alimentarem-se em diferentes tipos de hospedeiros aumenta as chances dessas formas imaturas atingirem a fase adulta (GUGLIELMONE et al., 2003). Formas adultas (machos e fêmeas) de A. aureolatum têm sido encontrados em caninos domésticos das zonas rurais e periurbanas do Estado do Rio Grande do Sul (RIBEIRO et al., 1997; EVANS et al., 2000), inclusive naquelas propriedades em que há casos de infecção por R. vitalli confirmados por meio da histopatologia (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). A prevalência de A. aureolatum em cães de rua da cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil, é baixa sendo que apenas carrapatos adultos dessa espécie são ocasionalmente observados nesses a nimais (RIBEIRO et al., 1997). Apesar de A. aureolatum ser um carrapato encontrado tipicamente nas zonas rurais e que infesta tanto animais selvagens como cães domésticos, deve ser ressaltado que esse artrópode pode ocorrer também em áreas urbanas pouco populosas ou áreas situadas nos limites destas com a zona rural (RIBEIRO et al., 1997). Sabe-se que a infecção por R. vitalli ocorre predominantemente nas zonas rurais e que A. aureolatum é o carrapato usualmente envolvido nesses casos sendo apontado como principal vetor desse patógeno nessas áreas (CARINI & MACIEL, 1914b; BRAGA, 1935; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Assim, paraR. vitalli se manter no meio rural, tem sido sugerido que esse patógeno teria um ciclo de vida em que houvesse a participação de um animal silvestre. Acredita-se que animais selvagens infestados por A. aureolatum funcionariam como reservatórios de R. vitalli no campo, que albergariam o protozoário em seu organismo sem adoecer ou desenvolveriam apenas a forma branda da enfermidade. Sugere-se que A. aureolatum se alimenta de sangue contaminado com R. vitalli no animal selvagem, que é resistente à ação desse parasito intra-celular e que carreia esse protozoário na circulação sangüínea, e que depois esse mesmo carrapato faz uma nova refeição de sangue (repasto sangüíneo) em um cão doméstico, sensível à ação nociva de R. vitalli, quando então esse patógeno é inoculado na corrente sangüínea desse cachorro comum, susceptí vel à ação desse agente patogênico, causando a doença (LORETTI et al., 2003). No Estado do Rio Grande do Sul, A. aureolatum tem sido encontrado infestando princi- Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. palmente canídeos silvestres - o graxaim ou sorro [o graxaim-do-mato ou "zorro de monte" - Cerdocyon (Dusicyon) thous - e o graxaim-do-campo ou "zorro de campo" - Pseudalopex (Dusicyon) gymnocercus] - e o guaxinim (mão-pelada, Procyon cancrivorus). Nos Estados Unidos, hipótese semelhante tem sido sugerida para a infecção por E. canis que teria a raposa, o coiote e o chacal como reservatórios em potencial dessa riquétsia em áreas rurais ou suburbanas cohabitadas por canídeos silvestres e cães domésticos que são infestados pela mesma espécie de carrapato (R. sanguineus) (AMYX & H UXSOLL, 1973; N EER, 1998). O mesmo tem sido sugerido para a babesiose canina (Babesia canis) que, no Estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste do Brasil, teria o cachorro-do-mato (graxaim-domato) C. thous como reservatório desse patógeno (MASSARD et al., 1981). É interessante mencionar que a epidemiologia de outras protozooses que ocorrem em animais domésticos também têm sido relacionadas à presença de canídeos silvestres no território gaúcho p.ex. abortos por Neospora caninum em bovinos (CORBELLINI et al., 2002; FRANCO et al., 2002) e a infecção por Toxoplasma gondii em animais e no homem (FRANCO et al., 2002). O parasitismo por Babesia sp. também já foi descrito no graxaim no Estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil (RUAS et al., 2003). Alguns autores afirmam que não há informações a respeito do potencial de A. aureolatum como vetor de patógenos para cães (EVANS et al., 2000). Outros pesquisadores já sugerem que esse carrapato tem um papel definido na epidemiologia do ciclo evolutivo silvestre de algumas doenças causadas por hemoparasitos tais como a hepatozoonose em cães (O'DWYER et al., 2001; RODRIGUES et al., 2002), a febre maculosa das Montanhas Rochosas em seres humanos, causada por Rickettsia ricketsii, patógeno que também é transmitido por outras espécies de Amblyomma p.ex. A. cajennense e A. ovale e por R. sanguineus (FLECHTMANN, 1990; ROZENTAL et al., 2002), e a piroplasmose (babesiose) canina (ARAGÃO, 1936; F LECHTMANN, 1990). A esse respeito, deve ser mencionado que A. ovale, A. tigrinum e A. maculatum são as outras espécies de carrapatos que têm sido descritas no Estado do Rio Grande do Sul infestando canídeos silvestres e domésticos (FREIRE et al., 1990; RIBEIRO et al., 1997; EVANS et al., 2000; GUGLIELMONE et al., 2003) e também devem ser considerados como vetores em potencial de R. vitalli como já foi sugerido em publicação anterior (BRAGA, 1935). A. cajennense, "o carrapato estrela (rodoleiro) do cavalo" e Boophilus microplus, o "carrapato sul-americano do boi", (A RAGÃO, 1936; FLECHTMANN, 1990) são encontrados ocasionalmente infestando cães domésticos da zona rural e também animais silvestres p. ex. veados e lebres (B. microplus) e capivaras (A. cajennense) mas são considerados como hospedeiros acidentais desses carrapatos (Evans et 105 al., 2000) e aparentemente não teriam importância alguma na epidemiologia da infecção por R. vitalli. Alguns pesquisadores também apontam R . sanguineus como vetor de R. vitalli (BRAGA, 1935; REZENDE, 1976). Estudos experimentais demonstraram que esse ixodídeo é capaz de transmitir a infecção por R. vitalli a caninos susceptíveis a esse patógeno (REZENDE, 1976; REZENDE, Comunicação pessoal). R. sanguineus é uma espécie de carrapato de três hospedeiros. Todos os estágios parasitários desse carrapato usualmente ocorrem no cão doméstico que é o único hospedeiro importante para a manutenção das populações desse ixodídeo no ambiente urbano. Descreve-se que R. sanguineus pode infestar uma única espécie animal ou um único indivíduo durante todo o seu ciclo de vida ou pode usar diferentes espécies durante os seus três estágios evolutivos (larva, ninfa e adulto). Assim, todas essas fases evolutivas podem ocorrer em um mesmo cão ou em cães diferentes (KRAJE, 2001). Durante a sua fase parasitária, as larvas e ninfas fixam-se no pescoço do animal ao passo que os adultos freqüentemente se localizam na parte interna do pavilhão auricular e entre os dedos (FLETCHMANN, 1990). R. sanguineus tem hábitos nidícolas. Durante a fase de vida livre, esse carrapato pode ser encontrado dentro de canis, no interior das residências e nos quintais das casas, escondendo-se em frestas e buscando abrigo em buracos das próprias instalações (LABRUNA & P EREIRA , 2001; P EREIRA, 2003). R. sanguineus também tem sido ocasionalmente observado junto a A. aureolatum no mesmo cão que vive nas zonas rurais. Nesses casos, esses são cães mantidos em áreas cercadas durante o dia (o que permite o estabelecimento de populações de R. sanguineus) que, à noite, são soltos tendo livre acesso às matas e outros ambientes habitados por animais silvestres quando então podem ser infestados pelos carrapatos que usualmente são parasitos de mamíferos silvestres da fauna brasileira (LABRUNA & PEREIRA, 2001) p. ex. A. aureolatum que ocorre originalmente nos graxains. No Estado do Rio Grande do Sul, R. sanguineus é apontado como vetor da babesiose canina e da ehrlichiose canina (EVANS et al., 2000; RUAS et al., 2003). A esse respeito, deve ser mencionado que não há evidências convincentes de que a infecção por B. canis e/ou Ehrlichia canis sejam causas importantes de doença clínica e morte em cães nessa região apesar dos diagnósticos laboratoriais freqüentes dessas enfermidades feitos a partir do exame microscópico de esfregaços de sangue. A relevância dessas moléstias nessa área do país (RS) é questionável uma vez que ambos patógenos não têm sido observados à necropsia, citologia post-mortem ou histopatologia durante as atividades de rotina desenvolvidas pelos principais laboratórios de diagnóstico em patologia veterinária da região (UFPel, Pelotas, UFRGS, Porto Alegre e UFSM, Santa Maria). Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 106 A.P. Loretti & S.S. Barros Na zona urbana, caninos usualmente são infestados por R. sanguineus. Em raras ocasiões, R. sanguineus e A. aureolatum podem ocorrer simultaneamente no mesmo cão vadio da cidade ( RIBEIRO et al., 1997). Sabe-se que, apesar de R. sanguineus ocorrer tipicamente em cães da cidade (cães da zona urbana, cães de rua) (REGENDANZ & MUNIZ, 1936), local onde a infecção por R. vitalli não tem sido observada, esse carrapato também ocorre em cães da zona periurbana (periferia das cidades) em locais próximos a matos e morros (RIBEIRO et al., 1997), onde a doença tem sido diagnosticada com freqüência (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). R. sanguineus é o carrapato usualmente observado na pelagem de cães afetados por R. vitalli que vem da zona periurbana e também tem sido encontrado no local onde esses animais são mantidos. Em um dos casos de parasitismo por R. vitalli oriundo da periferia da cidade de Porto Alegre, RS, foi observado uma grande quantidade de carrapatos da espécie R. sanguineus do lado de fora da casa do proprietário que tinha o seu cão doente devido a infecção por esse protozoário. Os carrapatos escalavam as paredes dessa habitação humana o que demonstra a alta infestação daquele local por esses ixodídeos. Havia uma região de mato imediatamente ao lado dessa moradia onde os cães adquiriam grande quantidade de carrapatos durante suas visitas periódicas àquela área. Deve ser frisado que a maior prevalência de R. sanguineus na população de cães estudada pode estar ligada ao fato de que a faculdade de veterinária da universidade local (FAVET-UFRGS) é de mais fácil acesso para aqueles proprietários que têm seus animais de guarda e companhia na zona periurbana comparado àqueles que têm seus animais na zona rural (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). CICLO EVOLUTIVO A questão do ciclo evolutivo de Rangelia vitalli é polêmica e cercada de muitas dúvidas, desconfianças e lacunas a serem preenchidas. Na literatura pertinente ao assunto, consta que R. vitalli tem um estágio de desenvolvimento eritrocitário, em que o protozoário se replica nas hemácias, e um estágio de desenvolvimento exo-eritrocitário no qual o parasito se multiplica no interior de um vacúolo parasitóforo situado no citoplasma das células endoteliais dos capilares sangüíneos (PESTANA, 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b; CARINI, 1948), à semelhança do que ocorre no ciclo de vida dos protozoários de aves Haemoproteus spp. e Plasmodium spp. (PARAENSE, 1944, SOULSBY, 1982). Publicações sobre R. vitalli descrevem a presença do parasito em esfregaços sangüíneos onde ele é visto no interior dos eritrócitos ou livre no sangue circulante (PESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI &MACIEL,1914b; REZENDE, 1976; MASSARD, 1979; MOURA et al., 2001). Relata-se que esse patógeno também ocorre em macrófagos (P ESTANA , 1910b; B RAGA , 1 9 3 5 ) e fibroblastos (CARINI & MACIEL, 1914b; BRUMPT , 1936). Todavia, há pesquisadores que não têm encontrado R. vitalli em esfregaços de sangue mas apenas em cortes histológicos onde esse protozoário está localizado no endotélio (LORETTI et al., 2003; KRAUSPENHAR et al., 2003b). Estudos ultra-estruturais confirmam que esse protozoário está de fato localizado no interior de vacúolos parasitóforos no citoplasma de células endoteliais e revelam que esse parasito também pode ser encontrado livre na circulação sanguínea (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Sugere-se que os vacúolos parasitóforos que albergam grande quantidade de parasitos em replicação rompem-se (BRAGA, 1935) e liberam os protozoários na corrente sangüínea que permanecem então livres no sangue circulante até penetrarem em uma célula endotelial intacta de um capilar sangüíneo iniciando uma nova multiplicação (LORETTI et al., 2003). Naqueles casos de infecção por R. vitalli estudados pelos autores dessa revisão de literatura, não foram encontrados exemplares de R. vitalli parasitando hemácias seja em esfregaços de sangue, esfregaços de tecidos (onde são recuperadas não apenas células epiteliais mas também eritrócitos), em cortes histológicos (onde é possível visualizar, além das células endoteliais, as hemácias preenchendo a luz dos vasos sangüíneos) ou na microscopia eletrônica de transmissão (LORETTI et al., 2003). Essa discrepância entre os achados microscópicos de diferentes estudiosos do assunto tem colocado em dúvida a ocorrência de R. vitalli no interior dos eritrócitos. Até o presente momento, não há evidências convincentes de que esse protozoário se replique no interior de hemácias, células fagocitárias e células conjuntivas como tem sido descrito por uma série de autores (PESTANA 1910a; PESTANA, 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b; BRAGA, 1935; REZENDE, 1976; MASSARD, 1979; MOURA et al., 2001). Relata-se que R. vitalli seria mais facilmente observado no interior de hemácias em amostras de sangue colhidas na fase inicial da infecção e que há mais chances de se recuperar o parasito e visualizá-lo em esfregaços sangüíneos dentro dos eritrócitos quando o sangue é colhido durante os picos febris da enfermidade. Alguns pesquisadores alegam que hemácias parasitadas por R. vitalli ou as formas livres desse protozoário na corrente sangüínea são achados raros em especial na forma crônica da doença. (PESTANA, 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b). Há autores que afirmam que as formas de R. vitalli visualizadas no interior de eritrócitos seriam, na verdade, exemplares de Babesia canis, ou seja, na opinião desses pesquisadores, no passado casos de babesiose canina foram diagnosticados erroneamente como casos de parasitismo por R. vitalli (WENYON, 1926; MOREIRA, Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. 1938; PARAENSE & VIANNA, 1948; MEJÍA, 1949; P ARAENSE, 1950). Deve ser frisado que os próprios pesquisadores que descreveram esse protozoário pela primeira vez no século passado, na década de 10 (PESTANA, 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b), ressaltam que, nos esfregaços sanguíneos, dentro das hemácias, R. vitalli e B. canis são morfologicamente semelhantes. No entanto, esses mesmos estudiosos afirmam categoricamente que R. vitalli é uma espécie distinta de protozoário e propõem a criação de uma nova espécie. Levando em conta a precariedade dos microscópios de luz no Brasil no início do século passado, em 1908, ano em que foi publicado o primeiro relato da ocorrência de R. vitalli em caninos em nosso país, essa colocação deve ser levada em consideração. Estudos em microscopia eletrônica de transmissão de casos espontâneos e de casos experimentais dessa enfermidade onde foi feita a inoculação de sangue infectante colhido de caninos com a doença espontânea e injeção de emulsão de orgãos parasitados colhidos à necropsia em cães jovens, susceptíveis à ação desse patógeno, corroboram a hipótese de que R. vitalli ocorre na corrente sangüínea (PESTANA, 1910a; PESTANA , 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b; REZENDE, 1976; KRAUSPENHAR et al., 2003a; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). A infecção por R. vitalli já foi confundida na clínica, necropsia e histopatologia com casos de babesiose (PARAENSE & VIANNA, 1948), ehrlichiose (SILVA et Al., 1985), hepatozoonose (mencionado por CARINI, 1948), leishmaniose visceral (calazar) (POCAI et al., 1998; FIGHERA, 2001), toxoplasmose (MOREIRA, 1938, P ARAENSE & VIANNA, 1948) e tripanossomose (COLODEL, Comunicação pessoal). Infecções mistas por R. vitalli e Hepatozoon canis ou por R. vitalli, H. canis e Ehrlichia canis já foram descritas em cães jovens em um estudo sobre a hepatozoonose canina (MASSARD, 1979). Durantes as décadas de 80 e 90, diversos pesquisadores brasileiros e estrangeiros que trabalhavam com protozoologia e microscopia eletrônica foram consultados na tentativa de elucidar o assunto R. vitalli.Não se chegou a uma conclusão após consulta a esses especialistas. Ao longo de todos esses anos, esses diagnósticos infundados e equívocos sucessivos na interpretação de R. vitalli em cortes histológicos foram sendo divulgados à comunidade científica brasileira através de revistas científicas e congressos criando mais confusões em relação a esse tópico. Assim, obras clássicas sobre doenças infecciosas e parasitárias da autoria de estudiosos do Brasil e do exterior passaram a tratar R. vitalli como sinônimo para B. canis, desconsiderando a proposta originalmente formulada por CARINI (1908, 1948), CARINI & MACIEL (1914b) e PESTANA (1910a, 1910b) da criação de uma espécie nova de protozoário que vinha sendo observada regularmente em cães apenas no Brasil (LINS , s/ano; 107 WENYON, 1926; P INTO, 1944; L EVINE , 1973; C ORRÊA, 1983; SILVA et al., 1985; CORRÊA & CORRÊA, 1992). Um livro consagrado sobre protozoologia traz as informações de que, na América do Sul, a babesiose canina era conhecida vulgarmente como "nambiuvú", que na linguagem guarani significava "orelhas sangrentas", e que B. canis (que, segundo a obra, tinha em nossa região o sinônimo de R. vitalli) provocava uma doença hemorrágica, como o próprio nome popular já s ugeria, caracterizada pelo sangramento pelas orelhas e focinho, afetava particularmente em cães jovens durante o verão e causava hemorragias internas (LEVINE , 1973). Uma outra obra estrangeira, também de reconhecimento e penetração mundiais, coloca que aquele parasito que havia sido observado no interior de células endoteliais e descrito inicialmente como uma nova espécie de protozoário (R. vitalli) (CARINI, 1908) correspondia, na verdade, ao protozoário Toxoplasma, e emprega o termo Babesia vitalli como sinônimo de R. vitalli (WENYON, 1926). Com relação à toxoplasmose, deve ser mencionado que, na doença espontânea, T. gondii usualmente ocorre no interior de macrófagos e de células alveolares pulmonares (G REENE & PRESTWOOD, 1984) e, na infecção experimental, em macrófagos, células da micróglia, fibroblastos, em todos tipos de células dos pulmões (com exceção dos eritrócitos que circulam nos vasos sanguíneos pulmonares) e raramente nas células endoteliais (PARKER et al., 1981; BJERKAS, 1990; D UBEY et al., 1996). Essa série de controvérsias, questões polêmicas e diagnósticos equivocados criaram uma situação de total descrença ao redor do assunto R. vitalli e o "nambiuvú". Tal condição também estimulou discursos inflamados de cientistas céticos que seguidamente promoviam, por meio de diversas publicações (WENYON, 1926; M OREIRA, 1938; PARAENSE &V IANNA, 1948; M EJÍA, 1949; P ARAENSE, 1950), ataques impetuosos contra aqueles pesquisadores que afirmavam de forma veemente que R. vitalli era uma espécie única de protozoário e que merecia atenção especial da comunidade científica brasileira (CARINI, 1948; R EZENDE, 1976). SINAIS CLÍNICOS Cães infectados por Rangelia vitalli podem apresentar os seguintes sinais clínicos: palidez das mucosas oral e conjuntival (anemia), amarelecimento das mucosas visíveis, da pele do abdome e da face interna dos pavilhões auriculares (icterícia), febre interminente (crises febris), apatia, anorexia, desidratação, fraqueza, emagrecimento progressivo, esplenomegalia, aumento generalizado dos linfonodos, hepatomegalia, paraplegia, edema dos membros posteriores, dispnéia após esforço físico leve e breve, taquipnéia, hemorragias puntiformes (petéquias) nas mucosas visíveis, hematemese, diar- Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 108 A.P. Loretti & S.S. Barros réia sanguinolenta e sangramento persistente pelas narinas, cavidade oral, locais de coleta de sangue (punção venosa), olhos, e bordas e face externa das orelhas (daí o termo popular "nambiuvú", palavra da língua tupi-guarani que significa “orelha que sangra” e que era empregada pelos indígenas da família tupi que habitavam a região tropical sul-americana para se referir a essa enfermidade). A face externa das orelhas de animais afetados por R. vitalli pode apresentar extensas áreas recobertas por sangue coagulado com a formação de crostas vermelho-escuras, ressequidas e que aglutinam os pêlos dessa região ("nambiuvú de orelha"). Há situações em que o sangue goteja ininterruptamente pelas margens das orelhas (CARINI, 1908; P ESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI & MACIEL; 1914a; CARINI & MACIEL, 1914b; BRAGA, 1935; CARINI, 1948; REZENDE , 1976; KRAUSPENHAR et al., 2003a; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). Alguns proprietários comentam que cães infectados por R. vitalli sangram através dos poros da pele. Essas dermatorragias espontâneas são descritas como hemorragias capilares que ocorrem através de orifícios cutâneos muito reduzidos de onde brota sangue (PESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI & MACIEL , 1914b; BRAGA, 1935). Relata-se que os caçadores , já conhecedores dessa enfermidade, confirmam a suspeita de que os seus cães estão atacados pelo "nambiuvú" por meio da palpação dos gânglios linfáticos do pescoço que mostram-se aumentados de volume. A linfadenomegalia é tida como um dos primeiros sinais clínicos observados na infecção por R. vitalli. A doença espontânea pode ter evolução clínica que varia de alguns dias até 3 meses dependendo da forma de apresentação da enfermidade. O quadro clínico dessa protozoose foi classificado, de acordo com a duração da doença e sinais clínicos mais evidentes, em (i) forma aguda ou ictérica, (ii) forma subaguda ou hemorrágica e (iii) forma crônica leve, benigna ou mitigada (PESTANA, 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b). O quadro clínico-patológico daqueles casos de infecção por R. vitalli estudados pelos autores do presente trabalho muitas vezes se sobrepunha e abrangia as três formas da doença p.ex. um mesmo animal apresentava marcada icterícia e hemorragias múltiplas em diferentes órgãos e tecidos além de sangramento pelas orelhas e diarréia sanguinolenta. Esses casos não se encaixam perfeitamente à classificação originalmente proposta pelos pesquisadores que descreveram essa doença no início do século passado (PESTANA, 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b). A sobreposição das formas clínicas inicialmente descritas no parasitismo por R. vitalli também tem sido observada por outros autores (KRAUSPENHAR et al., 2003b). Em geral, a infecção por R. vitalli culmina com a morte do animal se o paciente não for tratado a tempo e de forma adequada (PESTANA, 1910a). Estudos expe- rimentais mostram que o curso clínico dessa protozoose pode variar de 3 dias (forma aguda da doença) a 8-15 dias (forma subaguda) ou até 18-25 dias (forma crônica) (CARINI & MACIEL 1914b). Tem sido observado por meio de estudos da doença espontânea que aqueles animais que são acometidos pela "peste de sangue" e que se recuperam da enfermidade adquirem imunidade contra uma nova infecção por R. vitalli. Esse estado de imunidade frente à ação desse patógeno tem sido confirmada através de estudos experimentais em que cães adultos inoculados com sangue contaminado por R. vitalli não desenvolveram a enfermidade. Acredita-se que esses animais de idade um pouco mais avançada já teriam sido expostos a esse protozoário no ambiente através do repasto sangüíneo de um carrapato infectado, desenvolveram a forma benigna (branda) da doença, que passou despercebida, recuperaram-se espontaneamente e então adquiram resistência ao agente causador da moléstia. Descreve-se que R. vitalli permanece durante vários meses no sangue circulante daqueles cães tratados com medicamento anti-protozoário ou que tiveram recuperação espontânea da enfermidade (CARINI & MACIEL 1914b; CARINI, 1948). ACHADOS LABORATORIAIS O perfil hematológico apresentado por caninos infectados por Rangelia vitalli é consistente com o de uma anemia hemolítica extra-vascular imunomediada (auto-imune), ou seja, eritrólise imunomediada associada à ativação do sistema complemento e remoção de eritrócitos opsonizados ou antigenicamente alterados pelo sistema monócitofagócito. Tem sido sugerido que esse patógeno induz um distúrbio hemolítico mediado pelo sistema imune (hemólise imunomediada) (KRAUSPENHAR et al., 2003a, KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003, SPAGNOL et al., 2003). Alterações usualmente encontradas nos hemogramas desses animais incluem: (i) no eritrograma, anemia regenerativa macrocítica hipocrômica acentuada, esferocitose, eritrofagocitose, reticulocitose, policromasia (policromatofilia), anisocitose, poiquilocitose, metarrubricitemia e a presença de corpúsculos de Howell-Jolly e (ii) no leucograma, linfocitose (associada à estimulação antigênica) e monocitose. Os níveis de hemoglobina e a contagem de eritrócitos revela valores baixos e o Volume Corpuscular Médio (VCM) mostra-se normal ou levemente aumentado (PESTANA, 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). Raramente se observa trombocitopenia que pode estar associada à coagulopatia de consumo (CID). Um grande quantidade de macroplaquetas também tem sido vista em esfregaços sanguíneos de cães afetados por R. vitalli. Anemia regenerativa (com Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. reticulocitose e esferocitose) e eritrofagocitose são tidos como achados sugestivos (mas não diagnósticos ) de anemia hemolitica imunomediada (anemia hemolítica extra-vascular auto-imune) inclusive na infecção por R. vitalli. O plasma de cães afetados por esse protozoário usualmente está ictérico. A urina tem aspecto turvo e apresenta grande quantidade de pigmentos biliares (bilirrubinúria acentuada secundária à hemólise) em especial naqueles casos em que a icterícia é intensa (C ARINI & MACIEL , 1914b; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). ACHADOS DE NECROPSIA, CITOLOGIA, HISTOPATOLOGIA, IMUNOISTOQUÍMICA E ULTRA-ESTRUTURA Achados de necropsia na infecção por Rangelia vitalli incluem palidez (anemia) ou amarelecimento (icterícia) generalizado da carcaça, das mucosas visíveis, orgãos internos e pele p.ex. da face interna do pavilhão auricular e do abdome, sangue mais claro e aquoso (fino), aumento de volume do baço e dos linfonodos externos e internos (que ao corte mostram-s e avermelhados ou castanho-escuros e úmidos e podem apresentar extensas áreas esbranquiçadas que correspondem histologicamente à hiperplasia linforreticular) (esplenomegalia e linfadenomegalia), tonsilas avermelhadas e aumentadas de tamanho, presença de bastante sangue coagulado ou fluido na luz dos intestinos ("nambiuvú das tripas") e, em menor quantidade, na luz do estômago que também pode estar preenchida por muito muco, pêlos da região perianal sujos e aglutinados por fezes diarréicas e sanguinolentas, fígado pálido, aumentado de volume e com acentuação do padrão lobular (que microscopicamente corresponde à necrose centrolobular associada à hipóxia tecidual em função da anemia), difusamente amarelado (degeneração gordurosa) ou amarelo-alaranjado (retenção biliar - fragmentos de fígado assumem coloração esverdeada após serem colocados no formol a 10%), vesícula biliar repleta e com a bile espessa e grumosa, pulmões úmidos, pesados e não-colapsados (edema pulmonar com presença de espuma esbranquiçada na luz da traquéia e brônquios), hemorragias de diferentes tamanhos (petéquias, equimoses, sufusões) afetando diversos órgãos e tecidos e também as mucosas p.ex. oral e vaginal, medula óssea pastosa ou liquefeita e de coloração vermelha intensa indicando estimulação da hematopoiese (medula óssea ativada), edema subcutâneo gelatinoso, translúcido e amarelado nos membros pélvicos, presença de coágulos lardáceos (amarelados) ou mistos (parte amarelados, parte vermelhos) nas câmaras cardíacas e acúmulo de quantidade moderada de líquido citrino e amarelo (efusão) nas cavidades corporais p.ex. saco pericárdico e cavi- 109 dade abdominal (CARINI & MACIEL, 1914b; PESTANA 1910a, 1910b; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). Na citologia, os parasitos têm sido observados mais freqüentemente na medula óssea por meio da confecção de esfregaços e "imprints" desse tecido hematopoiético durante a necropsia. Esses organismos intracelulares são arredondados ou ovais, medem 2,0-2,5 µm, têm o citoplasma abundante que se cora fracamente na coloração de panóptico rápido assumindo um tom azul claro, têm 1-2 núcleos pequenos, arroxeados, redondos e excêntricos, e formam aglomerados de 20-30 parasitos no interior do citoplasma de células endoteliais . Aqueles protozoários que têm 2 núcleos correspondem àqueles que estão em divisão. Tentativas para recuperar exemplares de R. vitalli através de aspirados de medula óssea e linfonodos feitos em pacientes trazidos aos estabelecimentos veterinários locais ou em carcaças de animais recém-mortos têm sido infrutíferas (SPAGNOL et al., 2003). Exemplares de R. vitalli não têm sido encontrados em esfregaços de outros órgãos e tecidos confeccionados à necropsia (linfonodos, baço, fígado, rim, plexo coróide e sangue) (LORETTI et al., 2003; KRAUSPENHAR et al., 2003b). Histologicamente, o parasito é observado em vacúolos parasitóforos intra-citoplasmáticos em células endoteliais de capilares sangüíneos de diversos órgãos e tecidos. Esse protozoário intra-celular não tem sido observado no endotélio das arteríolas, artérias, veias e vênulas apesar de relato que descreve a presença de R. vitalli no interior das células endoteliais da aorta e jugular (REZENDE, 1976). Linfonodos, tonsilas, medula óssea, plexo coróide, rins, pulmões e região medular da glândula adrenal são os locais onde R. vitalli é mais freqüentemente encontrada em cortes histológicos (PESTANA, 1910b, CARINI & MACIEL, 1914b, CARINI, 1948, KRAUSPENHAR et al., 2003b, LORETTI et al., 2003, SPAGNOL et al., 2003). Um estudo experimental onde linfonodos externos (poplíteos) foram retirados cirurgicamente 17 dias após a inoculação endovenosa de 3 mL de sangue contendo R. vitalli demonstrou que, apesar desses gânglios linfáticos não apresentarem alterações macroscópicas (não havia alterações no tamanho e no aspecto desses linfonodos externamente e ao corte), foram encontrados na histologia miríades desses protozoários nas células endoteliais dos capilares sangüíneos (LORETTI et al., 2003). Na citologia e histologia, podem ser observados 20-30 exemplares de R. vitalli no interior de um único vacúolo parasitóforo no citoplasma das células endoteliais de capilares sanguíneos. Além da presença dos parasitos de localização intra-celular, outras lesões microscópicas observadas nessa protozoose incluem hiperplasia linforreticular, em especial dos linfonodos, Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 110 A.P. Loretti & S.S. Barros que também podem ter células gigantes multinucleadas, com localização preferencialmente perivascular, e macrófagos que preenchem os seios medulares e contêm hemácias em seu citoplasma (eritrofagocitose) ou hemossiderina resultante da degradação da hemoglobina dos eritrócitos fagocitados. Células gigantes multinucleadas também têm sido vistas no plexo coróide. Observa-se também infiltrados linfoplasmocitários intersticiais nos rins, de localização predominantemente periglomerular, e também no miocárdio e plexo coróide, células fagocitárias com hemossiderina na medula óssea, focos de hematopoiese extra-medular no fígado, medula óssea hipercelular com acentuada hiperplasia eritróide, necrose hepatocelular centrolobular devido à hipóxia causada pela anemia, bilestase canalicular, necrose fibrinóide dos folículos linfóides do baço e presença de trombos na luz de vasos sangüíneos de pequeno calibre (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). Nos animais tratados com medicamentos antiprotozoários, as lesões macro e microscópicas são semelhantes àquelas vistas nos animais não-tratados que morrem espontamente ou são eutanasiados em função do prognóstico reservado da enfermidade. No entanto, nesses animais submetidos a terapia protozoocida, usualmente não são observados exemplares de R. vitalli no endotélio de diferentes órgãos e tecidos e, quando esses parasitos são encontrados na histologia, estão em quantidade muito reduzida (LORETTI, 2002; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). Estudos por meio do microscópio eletrônico de transmissão revelam que a ultra-estrutura de R. vitalli é similar a de outros protozoários do filo Apicomplexa, ordem Piroplasmorida, e que o vacúolo parasitóforo onde esse parasito é encontrado é morfologicamente semelhante ao de outros membros do filo Apicomplexa. O exame ultra-estrutural de diversas amostras de diferentes órgãos de um cão inoculado experimentalmente com R. vitalli revelaram que há marcada variação na ultra-estrutura desse protozoário dependendo do tecido examinado e fase evolutiva do parasito. R. vitalli não se cora por meio da imuno-histoquímica para Leishmania donovani (KRAUSPENHAR et al., 2003b), Leishmania chagasi (LORETTI et al., 2003) e Toxoplasma gondii (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003), protozoários com os quais R. vitalli já foi confundido (MOREIRA, 1938; P ARAENSE & VIANNA , 1948; P ARAENSE, 1950; P OCAI etal., 1998; FIGHERA, 2001). A microscopia eletrônica de transmissão e a imunoistologia demonstram que R. vitalli é um protozoário distinto de todos os outros já conhecidos e descritos na literatura nacional e internacional. Isso mostra também que os pesquisadores que estudaram esse parasito no início do século passado (CARINI, 1908; PESTANA, 1910a; PESTANA, 1910b, CARINI & MACIEL, 1914b) acertaram ao conferir uma denominação única a esse patógeno que infelizmente caiu em total esquecimento no âmbito da comunidade científica brasileira e estrangeira a partir da década de 50. MECANISMOS PATOGENÉTICOS ENVOLVIDOS NO DESENVOLVIMENTO DE (I) ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA E (II) OCORRÊNCIA DAS HEMORRAGIAS NA INFECÇÃO POR R. VITALLI Não se conhecem os mecanismos patogenéticos responsáveis pelo desenvolvimento de anemia hemolítica imuno-mediada na infecção por R. vitalli em caninos. No entanto, sabe-se que nas anemias hemolíticas imuno-mediadas dos cães de um modo geral, associadas a diferentes etiologias ou aquelas de causa desconhecida, as hemácias ficam com a superfície de suas membranas parcialmente revestidas por imunoglobulinas e/ou proteínas do sistema complemento, ou seja, ocorre a produção de auto-anticorpos contra a membrana dos eritrócitos autólogos, promovendo a opsonização desses eritrócitos e a remoção dessas células da linhagem vermelha do sangue por células fagocitárias. Os eritrócitos são reconhecidos como estranhos pelo sistema fagocítico mononuclear e então retirados da circulação sangüínea em sítios extra-vasculares p. ex. o baço e os linfonodos o que justifica a ocorrência de esplenomegalia em casos de anemia hemolítica imunomediada (DA Y, 2003; MC CULLOUGH, 2003). Médicos veterinários clínicos de pequenos animais relatam que o emprego de corticóides em associação a uma droga protozoocida no tratamento da infecção por R. vitalli tem bons resultados o que fortalece a hipótese de que esse protozoário induz uma hemólise extra-vascular mediada pelo sistema imunológico. A terapia imunossupressora a base de corticosteróides tem sido utilizada no tratamento da anemia hemolítica imuno-mediada primária ou secundária (BÜCHELER & COTTER, 1995, MCCULLOUGH, 2003) ou secundária à babesiose (TA B O A D A , 1995). Os corticóides usualmente têm um efeito rápido e eficaz nos casos de hemólise extra-vascular imunomediada devido à marcada ação anti-inflamatória e imunossupressora, bloqueando a síntese de anticorpos contra as hemácias, além de estabilizar as membranas celulares dos eritrócitos e estimular a eritropoiese (S EARCY, 1976, BÜCHELER & COTTER, 1995). Nas anemias hemolíticas imuno-mediadas, um segmento das membranas das células sanguíneas vermelhas é opsonizado e então fagocitado por células do sistema fagocítico mononuclear (eritrofagocitose parcial) se tornando esferócitos (SCHALM, 1993). Os esferócitos, que são pequenos eritrócitos esféricos, Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. promovem a diminuição do VCM. A liberação de células jovens (imaturas) (reticulócitos ou policromatófilos) pela medula óssea (reticulocitose ou policromasia) em decorrência da hemólise extravascular aumenta o VCM. Desta forma, a diminuição no VCM promovido pela esferocitose é contra-balançado pelo aumento do VCM associado à reticulocitose. Assim, o que se tem na infecção por R. vitalli é um VCM normal ou levemente elevado mesmo com a intensa resposta regenerativa da medula óssea que ocorre nessa protozoose (anemia regenerativa com desvio à esquerda) (FIGHERA, 2001; KRAUSPENHAR et al., 2003b). A intensa regeneração medular pode ser confirmada na histologia da medula óssea que se apresenta hipercelular com um grande número de precursores eritróides. A grande quantidade de esferócitos e a eritrofagocitose observadas nesses pacientes são achados hematológicos bastante sugestivos de um distúrbio imunomediado. Células fagocitárias com hemácias em seu citoplasma têm sido observadas em cortes histológicos de linfonodos (macrófagos) e ocasionalmente em esfregaços sangüineos (monócitos). A presença de macroplaquetas na circulação sanguínea é um achado hematológico comum nessa doença e pode estar relacionada à estimulação inespecífica da medula óssea levando à exacerbação da trombocitopoiese. Trombocitose com a presença de grande quantidade de plaquetas no sangue também tem sido observado. Trombocitopenia é um achado raro nos hemogramas de cães afetados por R. vitalli e pode estar associada à coagulopatia de consumo (Coagulação Intravascular Disseminada - CID) (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). Trombocitopenia autoimune também tem sido apontada como possível mecanismo patogenético responsável pela redução moderada na quantidade de plaquetas vista em alguns casos de parasitismo por R. vitalli (KRAUSPENHAR et al., 2003b). Desconhece-se o mecanismo patogenético envolvido no desenvolvimento de hemorragias vistas no parasitismo por R. vitalli. A ocorrência de hemorragias em diferentes órgãos e tecidos e o sangramento através dos orifícios naturais e pele que recobre as orelhas são achados relativamente comuns no parasitismo por R. vitalli. A CID tem sido sugerida como o mecanismo patogenético envolvido na ocorrência dessas hemorragias. Uma evidência morfológica de CID na infecção por R. vitalli é a presença de microtrombos na luz de arteríolas, capilares e vênulas observados ao microscópio de luz e a ocorrência de depósitos de fibrina (fibrina polimerizada) no lúmen dos vasos sanguíneos visualizados através do microscópio eletrônico de transmissão (LORETTI et al., 2003). Achado histológico semelhante tem sido observado na CID associada a 111 outras etiologias (S LAPPENDEL , 1998). Essa coagulopatia de consumo seria desencadeada pela lesão endotelial causada pela replicação continuada desse parasito intra-celular em vacúolos parasitóforos promovendo a ruptura do endotélio dos capilares sangüíneos. Essa lesão vascular disseminada promoveria então a ativação da cascata de coagulação sangüínea. Além disso, a presença do patógeno no sangue circulante poderia induzir a formação de imunocomplexos que também ativariam diretamente a cascata de coagulação. Esses imunocomplexos circulantes causariam lesão endotelial estimulando a agregação plaquetária. A liberação massiva de antígenos durante a lise de parasitos induzida pelo tratamento a base de droga protozoocida favoreceria a ocorrência de CID. Mecanismos patogenéticos semelhantes têm sido sugeridos para explicar o desenvolvimento de CID em outras doenças parasitárias e infecciosas p.ex. malária, tripanossomose, leishmaniose, ehrlichiose e babesiose (REARDON & PIERCE , 1981; FONT et al., 1994; TABOADA, 1995; LOBETTI, 1998; FELDMAN, 2000). Testes laboratoriais tais como dosagem da concentração de fibrinogênio no plasma, tempo de tromboplastina parcial ativada (APTT), tempo de protrombina (PT), tempo de trombina (TT) e mensuração da quantidade de produtos de degradação da fibrina (FDP) podem ser feitos para confirmar a suspeita de CID (SLAPPENDEL, 1988). Esses testes laboratoriais não têm sido realizados em casos de infecção por R. vitalli. Deve ser ressaltado que, nessa protozoose, a trombocitopenia, raramente observada, em geral não é grave o bastante para induzir uma diátese hemorrágica capaz de promover sangramento acentuado pelas orelhas, nariz e fezes (KRAUSPENHAR et al. 2003b). Além disso, somente a CID, fenônemo cuja ocorrência ainda não foi confirmada na infecção por R. vitalli por meio de exames laboratoriais, e a trombocitopenia, achado raro nessa protozoose, ou ambos eventos não explicariam de forma convincente e irrefutável o sangramento persistente e profuso pelas orelhas que ocorre especificamente no "nambiuvú ". Sugere-se que essas hemorragias auriculares características da infecção por R. vitalli tenham uma etiologia multifatorial e ocorreriam a partir da combinação dos seguintes fatores: (i) CID, (ii) trombocitopenia, (iii) picada de moscas (p.ex. Stomoxys calcitrans) e (iv) o hábito dos cães de coçarem energicamente as orelhas quando mordidas por insetos hematófagos. DIAGNÓSTICO O diagnóstico presuntivo da infecção por Rangelia vitalli é feito com base no histórico, quadro clínico e resposta favorável à terapia. O diagnóstico definitivo Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 112 A.P. Loretti & S.S. Barros do parasitismo por R. vitalli é problemático uma vez que esse protozoário não tem sido observado nos esfregaços sangüineos de casos espontâneos e experimentais dessa enfermidade. Esse parasito intracelular tem sido encontrado na citologia e histologia em células endoteliais de capilares sangüíneos a partir de amostras colhidas à necropsia (KRAUSPENHAR et al., 2003; LORETTIet al., 2003). As observações de pesquisadores pioneiros que descreveram R vitalli no interior de eritrócitos (CARINI, 1908; PESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b) foram muito contestadas ao longo dos anos (MOREIRA, 1938; PARAENSE & VIANNA, 1948; PARAENSE, 1950) e até hoje não há evidências convincentes de que esse protozoário ocorra no interior das hemácias. A reprodução bem sucedida da infecção por R. vitalli através da inoculação, em cães experimentais, de sangue colhido de animais espontaneamente afetados pela doença e os estudos ultra-estruturais que revelam a presença do parasito livre no sangue circulante mostram que este protozoário de fato está no sangue circulante (PESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b; REZENDE , 1976; KRAUSPENHAR et al.,2003b; LORETTI et al., 2003). Levando em consideração que R. vitalli pode ocorrer livre na corrente sangüínea sem estar associado a qualquer tipo de célula sangüínea (BRAGA, 1935; REZENDE, 1976; LORETTI et al., 2003), sugere-se que as dimensões extremamente reduzidas desse protozoário (2,5 µm) tornaria a pesquisa desse patógeno em esfregaços sangüíneos uma tarefa laboriosa para o patologista clínico veterinário envolvido na rotina de um laboratório que presta serviços à comunidade veterinária local. O diagnóstico definitivo de uma anemia imunomediada consiste na realização do teste de Coombs (direto ou indireto) ou do teste de antiglobulina (direto) sendo que esse último revela a presença de fatores do complemento ou imunoglobulinas ligados à membrana dos eritrócitos (DAY, 2003). Recentemente (20002001), um teste de citometria de fluxo por imunofluorescência direta foi elaborado para confirmar o diagnóstico de anemias hemolíticas imuno-mediadas em cães (MCCULLOUGH, 2003). Infelizmente esses testes não têm sido feitos para os casos de infecção por R. vitalli uma vez que tais exames não estão prontamente disponíveis para fins diagnósticos (casos de rotina) nos laboratórios de patologia clínica veterinária de nosso país (FIGHERA, 2001). Alterações hematológicas consistentes com uma anemia regenerativa hemolítica extra-vascular imunomediada (esferocitose, eritrofagocitose, policromasia, metarrubricitose e a presença de corpúsculos de Howell-Jolly) também têm sido observadas em outras doenças infecciosas e parasitárias que ocorrem em diversas espécies domésticas tais como a anaplasmose bovina, a tripanossomose bovina (CONNOR, 1994), a anemia infecciosa felina [infecção por Haemobartonella felis (Mycoplasma haemofelis)] (HARVEY, 1998), a babesiose canina (TABOADA , 1998), a ehrlichiose canina (FELDMAN , 2000) e a leishmaniose visceral (KEENAN et al., 1984a, FIGHERA, 2001). Esforços de profissionais de diversas áreas devem ser concentrados na realização de estudos multidisciplinares adicionais a respeito da infecção por R. vitalli de modo a se conhecer melhor essa protozoose. Faz-se mister a padronização de um exame laboratorial complementar acurado que permita um diagnóstico ante-mortem definitivo da enfermidade (diagnóstico etiológico) de forma que o clínico veterinário possa proceder com mais segurança e embasamento científico no tratamento, controle e profilaxia dessa protozoose. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL No diagnóstico diferencial da infecção por Rangelia vitalli, devem ser incluídas aquelas doenças infecciosas e parasitárias que ocorrem em cães no Brasil e que cursam com anemia, icterícia, febre, esplenomegalia, linfadenopatia e hemorragias. Devem ser consideradas principalmente (i) a babesiose (piroplasmose), (ii) a ehrlichiose, (iii) a leishmaniose e (iv) a leptospirose que têm sido as enfermidades mais freqüentemente confundidas com a infecção por R. vitalli em nosso meio. Outras causas de anemia p.ex. doenças que cursam com perda de sangue através do tubo digestivo tais como as verminoses gastrintestinais e as úlceras gástricas e a anemia hemolítica imunomediada secundária associada a diferentes etiologias e a anemia hemolítica imunomediada primária (idiopática) também devem ser levadas em conta no diagnóstico diferencial do parasitismo por R. vitalli. Na babesiose, os seguintes sinais clínicos podem ser observados: febre, anorexia, apatia, vômito, mucosas pálidas (anemia) ou amareladas (icterícia), aumento de volume do baço e dos linfonodos, em parte dos casos urina escura (hemoglobinúria), ocasionalmente sinais nervosos e, em raras ocasiões, hemorragias (petéquias e equimoses, epistaxe). Na hematologia há anemia hemolítica – intra-vascular e extra-vascular (= hemólise imunomediada), inicialmente normocítica normocrômica que se torna, à medida que a doença evolui clinicamente, macrocítica hipocrômica e regenerativa, sendo caracterizada por reticulocitose, anisocitose, esferocitose e policromasia. Há também trombocitopenia, hemoglobinemia e bilirrubinemia (BRAGA, 1935; FELDMAN et al., 1982; ABDULLAH et al., 1990; TABOADA, 1995; LOBETTI et al., 1996; TABOADA, 1998; BOOZER & MACINTIRE , 2003). As alterações leucocitárias são inconsistentes e incluem leucopenia (neutropenia) nos estágios iniciais da doença e leucocitose neutrofílica na fase de recuperação Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. da moléstia além de linfocitose e eosinofilia (ABDULLAH et al., 1990; TABOADA, 1995; TABOADA, 1998). Ocasionalmente, uma resposta leucemóide semelhante àquela observada na anemia hemolítica imunomediada é observada (TABOADA, 1998). Há relatos esporádicos de infecção mista (simultânea) por B. canis e Leishmania infantum (DAY, 2003), Ehrlichia canis e B. canis (GREENE & HARVEY, 1984), e E. canis, B. canis e Hepatozoon canis (TABOADA , 1998). Há marcada eritrofagocitose naqueles casos em que a parasitemia é extrema de modo que monócitos contendo hemácias fagocitadas, parasitadas ou não por B. canis, podem ser observadas nos esfregaços sanguíneos (EWING , 1965). A urinálise revela hemoglobinúria, bilirrubinúria, proteinúria e a presença de cilindros granulares e células epiteliais tubulares renais (LOBETTI et al., 1996; LOBETTI, 1998; TABOADA, 1998). Há autores que afirmam que a ocorrência de icterícia e a hemoglobinúria são raras na babesiose canina ao passo que a trombocitopenia é um achado comum nessa protozoose (JAIN, 1993) mas, que em geral, não é grave o suficiente para causar hemorragias espontâneas (coagulopatia) (TABOADA, 1995; LOBETTI, 1998). Sabe-se que a ruptura das hemácias resultante da multiplicação de Babesia spp. no interior dos eritrócitos é a principal causa da anemia (anemia intra-vascular) (ABDULLAH, 1990). Hemólise auto-imune (anemia hemolítica imunomediada) também tem sido proposta como um dos mecanismos de produção da anemia na babesiose (WOZNIAK et al., 1997; BOOZER & MACINTIRE , 2003; DAY, 2003). Hemoglobinúria e e eritrofagocitose/ hemossiderose são achados que sugerem que na babesiose canina ocorre hemólise intravascular e hemólise extravascular (WOZNIAK et al., 1997; BOOZER & MACINTIRE , 2003). Todavia, um perfil hematológico típico de uma anemia imunomediada não tem sido consistentemente observado na infecção por B. canis e dessa forma não é considerado como um achado característico da babesiose canina (LOBETTI, 1998; TABOADA, 1998; DAY, 2003) como o é no caso da infecção por R. vitalli (KRAUSPENHAR et al., 2003a; KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTIet al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). As principais lesões macroscópicas observadas no parasitismo por B. canis incluem palidez ou amarelecimento da carcaça e dos órgãos, esplenomegalia, linfadenopatia generalizada, rins escurecidos devido à impregnação pela hemoglobina, hepatomegalia, bile grumosa e espessa, hemorragias multifocais em diferentes órgãos p.ex. fígado, pulmões, rins e musculatura estriada esquelética, enterorragia, infartos no baço, quemose, e vermelhidão e tumefação difusa do encéfalo (congestão) que, ao corte, apresenta lesões escurecidas de malácia e hemorragia aleatórias e que ocorrem na substância cinzenta subcortical, na base dos sulcos cerebrais, no núcleo caudato e corpo estriado (BASSON & PIENAAR, 113 1965; PARDINI, 2000). Histologicamente, podemos observar hiperplasia linforreticular dos linfonodos e do baço, hematopoiese extra-medular, necrose hepatocelular centrolobular (secundária à anemia), hiperplasia eritróide da medula óssea e, em parte dos casos, proteinose tubular, gotículas de hemoglobina no citoplasma das células do túbulos contorcidos renais, e células de Kupffer e macrófagos dos linfonodos contendo eritrócitos fagocitados em seu citoplasma (eritrofagocitose) ou então hemossiderina (DORNER, 1969; IRWIN & HUTCHINSON, 1991; WOSNIAK et al., 1997). Há empilhamento ("sludging") dos eritrócitos parasitados por B. canis com obstrução da luz dos capilares (IRWIN & H UTCHINSON, 1991), principalmente no encéfalo (BASSON & PIENAAR, 1965; TABOADA, 1998). Animais jovens são os indivíduos mais afetados (TABOADA, 1998; GUIMARÃES et al., 2002). Há histórico de infestação por carrapatos (R. sanguineus) que usualmente são encontrados em quantidades variáveis na pelagem do animal doente. O diagnóstico etiológico definitivo é feito a partir do exame de esfregaços de sangue ou de tecidos ou então em cortes histológicos onde se observa Babesia spp. no interior de eritrócitos (TABOADA, 1995; LOBETTI, 1998; TABOADA, 1998). É interessante mencionar que esses hematozoários usualmente não são encontrados na circulação sanguínea após 24-48 horas da instituição do tratamento a base de droga protozoocida (JACOBSON et al., 1996). A babesiose canina tem sido confundida clinicamente com a infecção por R. vitalli uma vez que ambas enfermidades apresentam alguns aspectos em comum tais como febre, anemia, icterícia, esplenomegalia e linfadenopatia e a presença de carrapatos da espécie R. sanguineus na pelagem do animal. Os achados de necropsia e histopatológicos de ambas as doenças também apresentam algumas similaridades p.ex. palidez ou amarelecimento generalizado da carcaça, aumento de volume do baço e dos linfonodos, hiperplasia linforreticular e eritrofagocitose. A morfologia e localização de B. canis e de R. vitalli é distinta. Nos esfregaços sanguíneos e em cortes histológicos, exemplares de B. canis usualmente aparecem sob a forma de estruturas piriformes, bilobadas, arroxeadas, dispostas em pares, situadas no interior dos eritrócitos. R. vitalli não tem sido observada em esfregaços sanguíneos (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003) e, na histologia, exemplares desse protozoário aparecem sob a forma de estruturas arredondadas basofílicas intracitoplasmáticas em células endoteliais dos capilares sangüíneos. No Estado do Rio de Janeiro, pesquisas sobre a infecção por R. vitalli desenvolvidas durante a década de 70 (REZENDE, 1976) mostraram que R. vitalli e B. canis podem ser encontrados simultaneamente em um mesmo animal criando problemas no diagnóstico e confusão na interpretação dos dados Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 114 A.P. Loretti & S.S. Barros sobre a doença espontânea e experimental (REZENDE, Comunicação pessoal). Hemoglobinúria não tem sido observada na infecção por R. vitalli uma vez que a lise de eritrócitos ocorre apenas em sítios extra-vasculares (anemia hemolítica extra-vascular imunomediada) ao contrário da babesiose canina onde a parasitemia usualmente provoca hemólise intra-vascular através da ação direta do parasito no eritrócito havendo então a liberação de hemoglobina no sangue (hemoglobinemia) e na urina que assume coloração vermelhoescura ou vinho (ABDULLAH, 1990; TABOADA, 1995). No Estado do Rio Grande do Sul, o local de origem do paciente e a espécie de carrapato que infesta o animal (cães da zona rural usualmente são infestados por Amblyomma aureolatum e cães da periferia da cidade em geral são parasitados por Rhipicephalus sanguineus) são informações que auxiliam no diagnóstico clínico presuntivo da infecção por R. vitalli (LORETTI et al., 2003; SPAGNOL et al., 2003). É interessante mencionar que apenas no Brasil o sangramento profuso pelas pontas, margens e face externa das orelhas tem sido considerado (de forma equivocada) como um sinal clínico típico da babesiose canina. Dados compilados da literatura brasileira (CORRÊA, 1983; SILVA et al., 1985; CORRÊA & CORRÊA; 1992, BRANDÃO & HAGIWARA, 2002) e de publicações estrangeiras que fazem referência a trabalhos de nosso país sobre B. canis (WENYON, 1926, LEVINE , 1973) são conflitantes quando se comparam as informações a respeito a babesiose canina do Brasil com aquelas sobre a mesma doença, causada pelo mesmo agente etiológico, que também afeta cães em outros países. Estranhamente, a eliminação de sangue através do pavilhão auricular, sinal tido como característico da babesiose canina em nosso país e que a fez merecer o nome popular "orelha que sangra" a partir da década de 40, não tem sido descrita nos outros países onde essa protozoose também ocorre o que nos faz pensar em um erro grave na interpretação da epidemiologia e quadro clínico-patológico da infecção por B. canisem nosso país. Esse erro vem se perpetuando desde tempos remotos, mais precisamente a partir de 1938 quando da publicação do trabalho de Moreira (MOREIRA, 1938), até os dias de hoje. Alguns autores brasileiros têm sugerido que a diminuição do número de plaquetas em cães infectados por B. canis poderia justificar a ocorrência de sangramento do pavilhão auricular, hemorragia essa desencadeada provavelmente pela picada de moscas hematófagas p. ex. Stomoxys calcitrans ou ácaros ou então devido à anemia e conseqüente fragilidade capilar (MOREIRA, 1938; SILVA et al., 1985; HAGIWARA & Y AMAGA, 1987; CORRÊA& CORRÊA, 1992). De acordo com MOREIRA (1938), essas hemorragias auriculares, tidas como patognômicas para a babesiose canina, cessariam após transferir os animais afetados para um local fechado onde o acesso de insetos hematófagos não é possível, protegendo esses pacientes contra as mordidas desses muscídeos nas margens das orelhas. A literatura estrangeira cita que, na babesiose canina, hemorragias clinicamente evidentes p.ex. epistaxe ocorrem em conseqüência de uma coagulopatia de consumo (DIC e trombocitopenia) mas que raramente são observadas (LOBETTI, 1998; TABOADA, 1998). Para as outras espécies de Babesia dos cães que ocorrem nos demais países - B. canis, B. gibsoni, B. rossi e B. vogeli (que até recentemente eram consideradas como cepas ou suptipos dentro da espécie B. canis) (LOBETTI, 1998; TABOADA, 1998), não se descreve em momento algum o sangramento pelas orelhas como um sinal clínico da doença, nem mesmo no caso de B. rossi que ocorre na África do Sul e que é considerada como a espécie de Babesia de maior patogenicidade para caninos (BOOZER & MACINTIRE , 2003). B. canis e B. gibsoni são as espécies de Babesia descritas no Brasil, tendo sido diagnosticadas pela primeira vez no Estado do Rio Grande do Sul através do exame de esfregaços sangüíneos (BRACCINI et al., 1992). A partir da década de 40 (PINTO, 1944), a babesiose canina passou a ser chamada de "nambiuvú" apesar de esse termo ter sido originalmente resgatado da cultura e linguagem indígenas do nosso país para referir-se à infecção por R. vitalli, quando a doença foi inicialmente descrita no ano de 1908 (CARINI, 1908). Trabalhos de revisão sobre a babesiose canina escritos por autores brasileiros e publicados em nosso país descrevem a ocorrência de hemorragias nas orelhas como um dos sinais clínicos típicos do parasitismo por B. canis mas referenciam unicamente trabalhos do Brasil para sustentar essa informação (HAGIWARA & YAMAGA, 1987; CORRÊA & CORRÊA, 1992; BRANDÃO & H AGIWARA, 2002). No Brasil, estudos retrospectivos sobre a babesiose canina de ocorrência espontânea (SILVA et al., 2000) e estudos experimentais onde cães foram inoculados com amostras de B. canis isoladas de algumas regiões do país não mencionam, em momento algum, a ocorrência de qualquer tipo de hemorragia (HAGIWARA & YAMAGA, 1990; BICALHO et al., 2002). No Brasil, a babesiose canina tem sido descrita principalmente em cães que vivem na cidade (DELL 'PORTO et al., 1990, GUIMARÃES et al., 2002) e R. sanguineus, um carrapato tipicamente observado na zona urbana, inclusive no Estado do Rio Grande do Sul (RIBEIRO et al., 1997), tem sido apontado como o vetor desse hematozoário. A. aureolatum, carrapato que ocorre em cães domésticos, animais silvestres e pássaros na zona rural (FONSECA, 1935; ARAGÃO, 1936), tem sido incriminado como transmissor da piroplasmose (babesiose) canina (FLECHTMANN, 1990; RIBEIRO et al., 1997) mas, pelo menos no Estado do Rio Grande do Sul, não há evidências convincentes do papel de que esse carrapato seja o vetor de B. canis. Ademais, nessa região não há regis- Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. tros anátomo-patológicos de casos de babesiose canina oriundos das zonas rurais, periurbanas ou urbanas. Casos de babesiose canina não têm sido diagnosticados à necropsia e histopatologia pelos principais laboratórios de diagnóstico em patologia veterinária das universidades federais do Estado do Rio Grande do Sul (UFPel, UFRGS e UFSM) durante os últimos 40 anos apesar dos diversos diagnósticos clínicos e laboratoriais de B. canis em nossa região (SILVA et al., 1985; BRACCINI et al., 1992; SEIBERT et al., 1996; HENNEMANN et al., 2002; OLICHESKI, 2003). Sugere-se uma revisão criteriosa de todos os casos de babesiose canina diagnosticados clinicamente ou através de esfregaços sangüíneos no Estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil (BRACCINI et al., 1992; SEIBERT, 1996; HENNEMANN et al., 2002; OLICHESKI, 2003). A ehrlichiose canina é uma doença que também deve ser incluída no diagnóstico diferencial da infecção por R. vitalli. No Estado do Rio Grande do Sul, essa riquetsiose tem sido muito confundida com a infecção por R. vitalli principalmente devido ao fato de que ambas enfermidades cursarem com hemorragias como um dos sinais clínicos mais marcantes apesar de as localizações desses sangramentos serem distintos para cada uma dessas moléstias. A infecção por E. canis pode manifestar-se sob as formas aguda, subaguda e crônica. Clinicamente, observa-se, dependendo da fase da enfermidade, prostração, letargia, perda de peso, esplenomegalia, linfadenopatia, febre, anorexia, palidez das mucosas, sangramentos, edema de um ou de ambos membros pélvicos e também do escroto, inflamação da úvea e retina, sinais neurológicos tais como ataxia, sinais de dor na região cervical e tóraco-lombar, dorso arqueado, convulsões (devido à meningite) e claudicação (devido à poliartrite). Infecções bacterianas secundárias oportunistas ocorrem na fase terminal da doença em função da pancitopenia que diminui a resistência do animal. As alterações hematológicas usualmente encontradas nessa riquetsiose incluem trombocitopenia (achado comum nessa enfermidade e que é responsável pela diátese hemorrágica), tempo de coagulação prolongado, leucopenia (linfopenia ou neutropenia), pancitopenia (que ocorre na fase crônica e mais grave da doença em função da depleção da medula óssea que mostra-se hipocelular) e anemia normocítica, normocrômica (em geral não-regenerativa) (HILDEBRANDT et al., 1973; GREENE & HARVEY, 1984; NEER, 1998; HARRUS et al., 2001; BEUGNET et al., 2002; GUIMARÃES et al., 2002; PREZIONI & COHN, 2002). A anemia usualmente é arregenerativa mas pode ser regenerativa naqueles casos em que há infecção simultânea por E. canis e B. canis (GREENE & HARVEY, 1984). Infecção simultânea por E. canis, B. canis e Hepatozoon canis também tem sido descrita (DU PLESSIS et al., 1990; TABOADA , 1998) inclusive no Brasil (MASSARD , 115 1979; GONDIM et al., 1998; O' DWYER et al., 2001; MOREIRA et a l., 2003). Anemia hemolítica imuno-mediada secundária também tem sido ocasionalmente observado na infecção por E. canis (BÜCHELER & COTTER, 1995). Síndrome hemofagocítica (anemia hemolítica imuno-mediada) associada à infecção por E. canis também tem sido descrita esporadicamente no Brasil (ALENCAR et al., 2000; SOUZA & MOTTA, 2000). Na urinálise, encontra-se proteinúria e hematúria. A principal alteração bioquímica é a hiperproteinemia (hipergamaglobulinemia que usualmente é policlonal) (NEER, 1998). Epistaxe é a forma de hemorragia mais freqüente na infecção por E. canis seguida de petéquias e equimoses na pele e nas mucosas, melena, hemorragias vaginais e penianas, hematoquezia, hematúria, hematese, hifema e sangramento prolongado em incisões cirúrgicas e locais de punção de veia (HARRUS et al., 1997). À necropsia, observam-se petéquias na gengiva e conjuntiva ocular, mau estado corporal, presença de coágulos sanguíneos exuberantes nas cavidades nasais, aumento de volume generalizado dos linfonodos, do baço e das tonsilas, petéquias nas serosas de diferentes órgãos e tecidos, presença de sangue fluido na luz intestinal e fígado pálido e com acentuação do padrão lobular (HILDENBRANDT et al., 1973). Histologicamente, observa-se infiltrado mononuclear perivascular localizado preferencialmente ao redor das veias de diversos órgãos e tecidos. Esses manguitos perivasculares são mais freqüentes na forma crônica da enfermidade e são mais comumente vistos no sistema nervoso central (em geral afetando as meninges), rins e pulmões. Outros achados microscópicos incluem pneumonia intersticial, hiperplasia (na fase aguda da doença) ou depleção (na fase crônica da enfermidade) do tecido linfóide (exaustão dos centros germinativos dos folículos linfóides) no baço, tonsilas e gânglios linfáticos acompanhada de eritrofagocitose, plasmocitose e histiocitose nesses linfonodos, hipercelularidade (hiperplasia) da medula óssea na fase aguda da doença ou depleção (hipocelularidade, hipoplasia) desse tecido hematopoiético na fase crônica da enfermidade, e necrose (isquêmica anóxica) hepatocelular centrolobular devido à anemia (HILDEBRANDT et al., 1973; REARDON & PIERCE , 1981). R. sanguineus é o artrópode vetor de E. canis. Esse carrapato pode ser encontrado na pelagem do animal doente ou então há histórico de contato com esse ixodídeo. A doença é mais grave em animais jovens. A raça Pastor Alemão é descrita como mais predisposta à infecção por essa riquétsia e, nessa raça, E. canis usualmente provoca uma síndrome hemorrágica grave (NEER, 1998). Deve ser mencionado que exemplares de E. canis dificilmente são observados em cortes histológicos fixados em formol a 10% ou em solução de Bouin. Em cortes histológicos corados pela hematoxilina e eosina (H.- Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 116 A.P. Loretti & S.S. Barros E.), dificilmente são encontradas mórulas de E. canis no interior de células mononucleares fagocitárias (NEER, 1998; PANCIERA, 2001) e raramente se encontra E. canis no interior do citoplasma de células endoteliais dos vasos sangüíneos pulmonares menos calibrosos (HILDENBRANDT et al., 1973). Há autores que sugerem que o diagnóstico da infecção por E. canis deve ser feito por meio do exame microscópico de "imprints" de fragmentos de pulmão confeccionados à necropsia (NEER, 1998). A visualização de E. canis nos leucócitos é mais fácil quando se fazem esfregaços a partir de "papa" leucocitária ("buffy coat") ou exame citológico de esfregaços de linfonodos (NEER, 1998; MYLONAKIS et al., 2003). Sangramento pela borda das orelhas tem sido considerado como um dos sinais clínicos típicos da ehrlichiose no Estado do Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil. Dados a respeito da epidemiologia da enfermidade nessa região revelam que a doença é observada em cães das zonas periurbanas infestados por R. sanguineus mantidos em casas que têm pátios (SEIBERT, 1996). O primeiro relato da infecção por E. canis nesse Estado (SILVA et al., 1985) traz um caso clínico de apresentação bastante incomum de acordo com o que consta na literatura a respeito dessa riquetsiose (NEER, 1998). O quadro clínico-patológico desse caso insólito de infecção por E. canis diagnosticado no Município de Santa Maria, RS, caracterizava-se por anorexia, icterícia, aumento de volume dos linfonodos poplíteos, sangramento pela borda da orelha, anemia macrocítica hipocrômica, policromasia, corpúsculos de Howell-Jolly, leucocitose, e a presença de mórulas de E. canis encontradas em monócitos a partir do exame de esfregaços sangüíneos. Na infecção por E. canis, pode haver epistaxe ao passo que na infecção por R. vitalli ocorre não apenas epistaxe mas também sangramento pelas orelhas. Hemorragias profusas através das margens auriculares não têm sido observado na ehrlichiose canina. Apesar de o hematoma auricular (oto-hematoma) ser descrito por alguns autores como um sinal clínico típico da infecção por Ehrlichia canis em áreas endêmicas (BEUGNET et al., 2002), esse oto-hematoma é distinto do sangramento profuso através da pele do pavilhão auricular observado no parasitismo por R. vitalli e que no Estado do Rio Grande do Sul tem sido incorretamente atribuído à infecção por E. canis. O perfil hematológico do primeiro registro de ehrlichiose canina no Rio Grande do Sul também não é consistente com àquele observado na infecção por E. canis (NEER, 1998). Estudos de casos espontâneos de ehrlichiose canina no Estado do Paraná, Região Sul do Brasil, revelaram que o desenvolvimento de sangramentos e trombocitopenia, tidos como achados comuns da ehrlichiose em outros países, não são freqüentes nos casos dessa riquetsiose vistos em nosso país e, quando observados, ocorrem apenas naqueles cães que são sororeagentes não apenas para E. canis mas também para B. canis. Sugere-se que o quadro clínico observado na ehrlichiose canina pode variar de acordo com a região geográfica em questão e que cepas brasileiras de E. canis não causam trombocitopenia e hemorragias tão freqüentemente como em outros países (DAGNONE et al., 2003). Nos chama a atenção o fato de não haver um único diagnóstico de necropsia irrefutável de ehrlichiosecanina em nossa região, RS, ao longo de todos esses anos. Adicionalmente, o sangramento continuado pelas margens e face externa das orelhas não têm sido observado em casos de ehrlichiose canina descritos em outros países (HARRUS et al., 1997; NEER, 1998) o que levanta ainda mais desconfiança com relação à real importância do parasitismo de E. canis como causa de doença clínica e morte nos cães do Estado do Rio Grande do Sul. Deve-se levar em consideração também a existência dos portadores assintomáticos de E. canis (infecção subclínica) que tipicamente são soropositivos para esse patógeno mas têm uma quantidade muito reduzida de riquétsias no sangue periférico o que torna a detecção desses agentes através do exame microscópico de esfregaços sanguíneos muito difícil ou inviável em termos práticos (DU PLESSIS et al., 1990; PREZIONSI & COHN, 2002; MYLONAKIS et al., 2003). A ocorrência desses portadores assintomáticos oferece riscos nos hospitais veterinários que mantêm bancos de sangue e um grupo de doadores. Exames de esfregaços sangüíneos e testes sorológicos para E. canis devem ser feitos em cães doadores de sangue para evitar a contaminação acidental de cães receptores susceptíveis (FRANÇOIS et al., 2002). Para evitar diagnósticos falso positivos de infecção por E. canis, as mórulas dessa riquétsia, encontradas no interior de leucócitos, não devem ser confundidas com grânulos azurófilos linfocíticos (que podem se assemelhar a corpos elementares de E. canis), material nuclear fagocitado por monócitos, corpos linfoglandulares (que devem ser diferenciados de mórulas de localização extra-celular) e plaquetas sobrepostas incidentalmente em monócitos. A observação cuidadosa de esfregaços sanguíneos por um profissional experiente no ramo da patologia clínica veterinária também é essencial para que não sejam dados diagnósticos falso positivos de ehrlichiose canina (MYLONAKIS et al., 2003). A ehrlichiose canina pode ser diferenciada do parasitismo por R. vitalli por meio do histórico, sinais clínicos, hemograma e achados histopatológicos. Icterícia é um sinal clínico raramente observado na infecção por E. canis (HARRUS et al., 1997) e, quando observada, usualmente está associada a uma infecção simultânea por B. canis (GREENE & HARVEY, 1984). Icterícia caracterizada por amarelecimento das Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. mucosas, da carcaça e dos órgãos e tecidos devido à bilirrubinemia e bilirrubinúria são relativamente comuns na infecção por R. vitalli (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). Na infecção por E. canis, usualmente há uma anemia normocítica normocrômica arregenerativa acompanhada de leucopenia e trombocitopenia (NEER, 1998) ao passo que na infecção por R. vitalli ocorre tipicamente uma anemia macrocítica hipocrômica regenerativa extravascular do tipo imuno-mediada associada à leucocitose e raramente trombocitopenia (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). A presença de infiltrados inflamatórios linfoplasmocitários perivenulares afetando as meninges é tido como uma lesão histológica comumente observada na ehrlichiose canina (HILDENBRANDT et al., 1973). Na infecção por R. vitalli, infiltrados mononucleares, quando observados, são vistos principalmente nos rins mas são de localização intersticial, não formam manguitos perivasculares e usualmente vêm acompanhados da presença do parasito intra-celular no endotélio (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003). Recentemente, no Estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste do Brasil, organismos semelhantes àEhrlichia ("Ehrlichia-like") foram observados em esfregaços de baço e fígado confeccionados à necropsia de um caso isolado de dermatite em um canino associada a um parasito não-identificado semelhante à Toxoplasma gondii ("Toxoplasma gondii-like"). Tratava-se de um cadela de 6 anos de idade da raça Dogue Alemão que clinicamente apresentava fraqueza, anemia, trombocitopenia, icterícia e nódulos ulcerados que sangravam. O curso clínico dessa enfermidade foi de 3 meses e culminou com a morte espontânea do animal. Na histopatologia, havia depleção dos centros germinativos dos folículos linfóides dos linfonodos com atrofia das zonas paracorticais ou aumento de volume dos linfonodos devido à plasmocitose nos cordões medulares além de hemorragia multifocal, histiocitose e eritrofagocitose. Havia também infiltrados inflamatórios plasmocitários nos linfonodos, rim, coração, baço, fígado, pâncreas e bexiga e necrose isquêmica hepatocelular periacinar acompanhada de infiltração por neutrófilos. Parasitos "Toxoplasma-like" de 2-3 µm foram encontrados em maior número na pele, formando aglomerados no interior do citoplasma de macrófagos, de células epiteliais que circundavam as glândulas sebáceas e de células não-identificadas, e estavam associados à acentuada dermatite piogranulomatosa com a formação de microabscessos. Alguns exemplares desse patógeno também foram encontrados no interior de hepatócitos. Estudos em imuno-histoquímica e microscopia eletrônica confirmaram a identidade dos parasitos da pele como sendo protozoários do filo Apicomplexa similares à Toxoplasma gondii. Os resul- 117 tados da imunoistologia dos organismos observados dentro dos hepatócitos foi inconclusiva (DUBEY et al., 2003). É interessante mencionar que, durante o período de 1995 a 2002, o parasitismo por R. vitalli foi erroneamente diagnosticado como infecção por E. canis pela equipe do Setor de Patologia Veterinária da UFRGS, Porto Alegre, RS. Este equívoco foi corrigido apenas recentemente (2002-2003) quando um estudo sobre os aspectos epidemiológicos e clínico-patológicos da infecção por R. vitalli (incluindo estudos ultra-estruturais que até então ainda não tinham sido feitos para esse protozoário) começou a ser desenvolvido nessa instituição de ensino e pesquisa com a colaboração de profissionais que atuam em diferentes áreas da medicina veterinária (patologia, patologia clínica, parasitologia) e em diferentes universidades e instituições de pesquisa do Brasil (UFPel, Pelotas, RS; UFSM, Santa Maria, RS; USP, São Paulo, SP; FEPAGRO, Eldorado do Sul, RS). Esse estudo incluiu também a revisão dos diagnósticos de ehrliquiose, leptospirose e babesiose em cães emitidos nos últimos anos por esse laboratório de diagnóstico e pesquisa em patologia veterinária. Sugere-se uma revisão sensata dos diagnósticos clínicos e laboratoriais (pesquisa de hematozoários e riquétsias que ocorrem em cães através do exame de esfregaços sangüíneos) de ehrlichiose canina feitos no Estado do Rio Grande do Sul (BRACCINI et al., 1992; SEIBERT, 1996; OLICHESKI, 2003). No Estado do Rio Grande do Sul, a leishmaniose visceral canina foi confundida durante cerca de 15 anos consecutivos (de 1985 até 2000) com a infecção por R. vitalli devido à interpretação equivocada de cortes histológicos (POCAI et al., 1998; BARROS, Comunicação pessoal; GRAÇA, Comunicação pessoal). Alguns autores alegam que R. vitalli e Leishmania spp. são morfologicamente semelhantes à microscopia de luz o que levou à interpretação errônea de R. vitalli na histologia ao longo de aproximadamente duas décadas (KRAUSPENHAR et al., 2003b). Deve ser frisado que a epidemiologia e o quadro clínico-patológico da infecção por R. vitalli e da leishmaniose visceral canina são distintos. A leishmaniose visceral geralmente causa emagrecimento progressivo acompanhado de atrofia muscular (apesar da polifagia), palidez das mucosas, febre intermitente, anorexia, polidipsia, lesões de pele (dermatite exfoliativa, seca, usualmente nãopruriginosa), aumento de volume de todos os linfonodos, do baço e do fígado, diarréia episódica, onicogripose (crescimento anormal, exagerado das unhas que ficam longas e encurvadas), onicorrexia (unhas quebradiças), conjuntivite e pode provocar apenas ocasionalmente epistaxe e melena e raramente icterícia (SLAPPENDEL, 1988; SLAPPENDEL & FERRER, 1998). Achados laboratoriais incluem anemia normocítica normocrômica, hiperproteinemia Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 118 A.P. Loretti & S.S. Barros (hiperglobulinemia), leucocitose (neutrofilia com desvio à esquerda), disproteinemia, hipoalbuminemia, trombocitopenia, trombopatia, tempo de trombina prolongado, aumento na quantidade dos produtos de degradação da fibrina, teste de Coombs positivo, níveis elevados de alanino aminotransferase, atividade da fosfatase alcalina sérica elevada e proteinúria (SLAPPENDEL & FE R R E R, 1998; FELDMAN, 2000). À necropsia, observa-se caquexia, lesões de pele descamativas e hiperqueratóticas distribuídas por toda a supefície tegumentar (mais freqüentemente observadas no nariz, ao redor dos olhos e nas orelhas), linfadenomegalia generalizada, espleno e hepatomegalia e medula óssea difusamente vermelha e abundante (apesar da eritropoiese ineficiente) e, raramente petéquias e equimoses sobre as serosas e mucosas (SLAPPENDEL, 1988; SLAPPENDEL & FERRER,1998). O exame citológico de aspirados de linfonodos e medula óssea revela a presença de formas amastigotas de Leishmania sp. livres ou no citoplasma de macrófagos. Leishmania spp. não tem sido observado em esfregaços de sangue periférico (KEENAN et al., 1984a). Na histopatologia, além da presença dos protozoários intra-celulares fagocitados por macrófagos em diferentes órgãos e tecidos p.ex. baço, linfonodos, medula óssea, há hiperplasia folicular (na fase aguda da doença) acompanhada de proliferação de macrófagos nos seios dos linfonodos (que podem conter ou não os parasitos) (histiocitose sinusal), atrofia dos folículos linfóides (na fase crônica da enfermidade) e, em parte dos casos, glomerulonefrite induzida pela deposição de imunocomplexos circulantes, nefrite intersticial e ocasionalmente amiloidose (KEENAN et al., 1984b; SLAPPENDEL & FERRER, 1998; COSTA et al., 2003). A leishmaniose visceral tem sido descrita mais freqüentemente em cães adultos (SLAPPENDEL, 1988). A demodicose (Demodex canis), a ehrlichiose canina (E. canis), a hepatozoonose e a neosporose têm sido descritas como doenças oportunistas que podem estar associadas à leishmaniose visceral (KEENAN, 1984b; CIARAMELLA et al., 1997; TARANTINO et al., 2001). Diversos casos de leishmaniose visceral em humanos (calazar) e em cães causadas por Leishmania (Leishmania) chagasi têm sido descritos no Brasil não apenas em zonas rurais mas também em áreas suburbanas e urbanas (RIBEIRO, 1997; SANTAROSA &O LIVEIRA, 1997; FEITOSA et al., 2000) mas não no Estado do Rio Grande do Sul com exceção dos casos de infecção por R. vitalli que inicialmente foram diagnosticados como infecção por Leishmania spp. (POCAI et al., 1998). Material referente a esses casos foi enviado para um laboratório de protozoologia no exterior com a suspeita de leishmaniose visceral (BARROS, Comunicação pessoal; GRAÇA, Comunicação pessoal). Nessa instituição internacional, esse material foi então revisado por especialistas mundialmente reconhecidos pela realização de diversos estudos sobre protozooses e aclamados pela publicação de numerosos trabalhos científicos a esse respeito. Nesse mesmo local também foi realizada a técnica de imunoistoquímica para Leishmania donovani para confirmar a suspeita de leishmaniose uma vez que naquela época (década de 80-90) essa técnica não estava prontamente disponível para fins diagnósticos nos laboratórios veterinários de nosso país. Estranhamente, o diagnóstico de leishmaniose visceral (infecção por L. donovani) foi confirmado através do exame de cortes histológicos e imunoistologia (P OCAI et al., 1998) apesar da disparidade entre a epidemiologia e quadro clínicopatológico desses casos suspeitos de leishmaniose visceral oriundos da Região Sul do Brasil, local onde até então a infecção por Leishmania spp. ainda não tinha sido diagnosticada, com aquilo que já havia sido publicado sobre leishmaniose em cães na literatura (SLAPPENDEL, 1988; SLAPPENDEL & FERRER, 1998). Recentemente, os dados sobre a epidemiologia e quadro clínico-patológico desses casos de leishmaniose visceral em cães do Rio Grande do Sul foram revisados (KRAUSPENHAR et al., 2003b). Constatou-se então que aqueles casos publicados anteriormente como infecção por L. donovani eram, na verdade, casos de infecção por R. vitalli. Uma série de equívocos foram constatados durante essa revisão prudente e oportuna a começar pela própria identificação morfológica errônea do patógeno em questão através da histopatologia e imuno-histoquímica. No primeiro trabalho publicado a esse respeito, onde casos de parasitismo por R. vitalli ("nambiuvú", "peste de sangue") foram descritos de forma equivocada como casos de infecção por Leishmania spp. (leishmaniose visceral, "calazar"), os resultados da imuno-histologia foram positivos para Leishmania donovani (POCAI et al., 1998). Em uma publicação posterior, onde esses mesmos casos foram revisitados, desta vez a imunohistoquímica foi negativa para L. donovani e o diagnóstico e a descrição da doença reformulados (KRAUSPENHAR et al., 2003). Infelizmente os autores não deixam claro a razão para os resultados contraditórios da imunoistologia apresentados em duas publicações diferentes sobre a mesma série de casos. Nos cinco casos descritos no primeiro trabalho (POCAI et al., 1998), a apresentação clínica da leishmaniose visceral era bastante atípica e caracterizava-se por icterícia, hematúria, ausência de lesões na pele e presença de formas amastigotas de L. donovani livres ou no interior de macrófagos e de células endoteliais, formas essas observadas ao microscópio de luz e que melhor evidenciadas através da técnica de imunoistoquímica. A esse respeito, deve ser mencionado que a presença de Leishmania spp. no interior de células endoteliais são achados raros na leishmaniose visceral canina Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. (SLAPPENDEL & FERRER, 1998; TARANTINO et al., 2001). A icterícia, sinal clínico descrito como freqüente nos casos de infecção por Leishmania spp. do Rio Grande do Sul (POCAI et al., 1998) também é tida como rara na leishmaniose visceral. Em um trabalho de revisão de 80 casos de leishmaniose canina diagnosticados durante um período de 15 anos em um hospital veterinário universitário em pacientes que ainda não tinham sido tratados, apenas dois animais (1,5%) apresentavam icterícia (SLAPPENDEL, 1988). Em um outro estudo retrospectivo onde 150 casos da infecção por L. infantum em cães foram analisados durante os anos de 1994 a 1996, não foi observado icterícia em um caso sequer (CIARAMELLA et al., 1997). A literatura pertinente ao assunto também não menciona hematúria como sinal clínico observado na infecção por Leishmania spp. em cães. Hematúria também não tem sido descrita na infecção por R. vitalli. Alterações cutâneas são observadas em aproximadamente 90% dos casos de leishmaniose visceral canina (SLAPPENDEL & FERRER, 1998). Em nenhum dos cinco casos da infecção por L. donovani em cães estudados no Estado do Rio Grande do Sul são descritas lesões de pele (POCAI et al., 1998). Alterações cutâneas na infecção por R. vitalli se restringem àquelas associada à doença sistêmica, ou seja, amarelecimento da pele acompanhado da presença de hemorragias através da superfície tegumentar (PESTANA 1910a; PESTANA 1910b; CARINI & MACIEL, 1914b). Sabe-se que os flebotomíneos são os vetores da leishmaniose em nosso país (SANTA ROSA & OLIVEIRA, 1997). Lutzomyia (Diptera: Phlebotominae) é um gênero de flebotomíneo descrito no Estado do Rio Grande do Sul e que, nesse Estado, tem sido apontado como vetor de Leishmania (Viannia) braziliensis, agente etiológico da leishmaniose tegumentar americana em seres humanos (SILVA & G RUNEWALD, 1999), e de Leishmania (Leishmania) enriettii, agente causador da leishmaniose mucocutânea em cobaios (FIGHERA et al., 2003). A infecção por L. (V.) braziliensis também tem sido descrita esporadicamente no Brasil em caninos (MADEIRA etal., 2003) e felinos (SCHUBACH et al., 2004) mas não no Estado do Rio Grande do Sul. Levantamento epidemiológico na região de Santa Maria e Itaara, RS, à procura do vetor flebótomo de Leishmania spp. ("mosquito palha", "birigui") na época em que os diagnósticos de leishmaniose visceral foram feitos (19851997) forneceu resultados negativos (POCAI et al., 1998). Casos de leishmaniose visceral em humanos e cães têm sido notificados em 19 estados do Brasil nas Região Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sudeste mas não na Região Sul do país (SANTA ROSA & OLIVEIRA, 1997). O perfil hematológico da infecção por R. vitalli (KRAUSPENHAR et al., 2003b; LORETTI et al., 2003) apresenta diferenças marcantes quando comparado ao da leishmaniose visceral (SLAPPENDEL, 1988; CIARAMELLA et al., 1997; SLAPPENDEL & FERRER, 1998). Deve ser men- 119 cionado que a leishmaniose visceral (calazar) é uma zooantroponose (doença de animais que também pode acometer o homem) e, portanto, tem grande importância em saúde pública (SANTA ROSA & OLIVEIRA, 1997; SLAPPENDEL, 1998). Até recentemente, essa doença era tida como uma enfermidade limitada ao meio rural e ambientes silvestres. Hoje se sabe que ela também pode ser contraída em zonas suburbanas e urbanas (SANTA ROSA & OLIVEIRA, 1997). A leptospirose, em sua forma aguda, causada por Leptospira interrogans sorovar icterohaemorrhagiae,tem sido confundida com a infecção por R. vitalli uma vez que ambas as doenças cursam tipicamente com icterícia. Na forma aguda da leptospirose, há febre, prostação, icterícia (devido à lesão hepática e/ou anemia hemolítica), hemorragias (petéquias) nas mucosas visíveis e na pele, descarga oculonasal, dor abdominal, vômitos (incluindo hematemese), melena e epistaxe. Na forma crônica da enfermidade, causada pelo sorovar canicola, ocorre um quadro de uremia renal cujo que consiste na presença de ulcerações na língua e na cavidade oral, hálito com odor amoniacal, oligúria e anúria. Achados hematológicos incluem anemia hemolítica principalmente extra-vascular. A anemia é do tipo macrocítica hipocrômica, regenerativa, onde se observa policromasia, anisocitose e metarrubricitemia. O distúrbio hemolítico ocorre em conseqüência da liberação de hemolisinas pela bactéria podendo haver ainda um componente imune envolvido. Alguns autores descrevem crise hemolítica acompanhada de hemoglobinúria na infecção pelo sorovar icterohaemorrhagiae em cães. Na experiência dos autores, hemoglobinúria não tem sido observada na leptospirose dos cães. Há leucopenia na fase de leptospiremia e, com a progressão da enfermidade, leucocitose (neutrofilia) com desvio à esquerda e trombocitopenia secundária à lesão endotelial, agregação plaquetária e CID. A ocorrência de CID está associada à liberação de linfocinas. Exames bioquímicos do sangue podem revelar insuficiência renal (aumento dos níveis séricos de uréia e creatinina, azotemia) dependendo do sorovar envolvido. No exame de urina, há bilirrubinúria, proteinose tubular e glicosúria além da presença de cilindros granulares e leucócitos. Na urina, as leptospiras são observadas apenas através de coloração especial ou técnica especial de microscopia (campo escuro). Na necropsia de animais que desenvolveram a forma aguda da leptospirose, observa-se amarelecimento generalizado da carcaça (icterícia), hemorragias em múltiplos órgãos e tecidos, na pele e nas membranas mucosas e serosas (múltiplas petéquias e equimoses são usualmente observadas nos pulmões e também nos rins), fígado aumentado de tamanho, friável e amarelo-alaranjado, rins tumefeitos e pálidos ou amarelo-alaranjados, mucosa e serosa gástricas com Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 120 A.P. Loretti & S.S. Barros avermelhamento focalmente extenso ou difuso (hemorragia), estômago preenchido por conteúdo fluido sanguinolento e baço pálido. Algumas obras relatam que ocasionalmente os linfonodos podem estar aumentados de tamanho, edematosos e hemorrágicos e que pode haver esplenomegalia e intussuscepção intestinal. Na forma crônica da enfermidade, as lesões são típicas de um quadro de insuficiência renal. Os rins estão manchados de branco (nefrite intersticial) e há estomatite, glossite e gastrite ulcerativas, calcificação dos tecidos moles p.ex. região subpleural da musculatura intercostal, endocárdio do átrio esquerdo e parênquima pulmonar, e os pulmões estão úmidos, pesados e não-colapsados (edema e mineralização). Há casos em que o animal apresenta simultaneamente icterícia marcada e insuficiência renal com lesões extra-renais de uremia. Microscopicamente, na forma aguda da doença, que cursa tipicamente com icterícia, há dissociação dos cordões de hepatócitos e, na forma crônica da enfermidade, em que usualmente ocorre insuficiênciarenal, observa-se nefrite intersticial crônica (infiltrados inflamatórios linfoplasmocitários localizados entre os túbulos renais) que pode estar acompanhada de lesões extra-renais de uremia p.ex. mineralização dos septos dos alvéolos pulmonares e da parede das arteríolas e vênulas do estômago e pulmões. Alguns autores descrevem marcada eritrofagocitose, depleção de linfócitos e aumento na quantidade de células reticulares dos capilares sinusóides do fígado (MAXIE & PRESCOTT, 1993). O quadro clínico-patológico da leptospirose é mais grave em animais jovens do que nos adultos. A taxa de mortalidade dessa moléstia bacteriana é elevada. A epidemiologia da doença envolve o contato dos animais com urina de ratos ou de outros animais infectados que eliminam as leptospiras pela urina inclusive cães que se recuperaram da doença clínica causada por essa espiroqueta. O diagnóstico da leptospirose está baseado no histórico, quadro clínicopatológico, exame sorológico e identificação do microrganismo em amostras de urina examinadas através da microscopia de campo escuro ou através da técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), imunofluorescência em "imprints" de tecidos (rim e fígado) ou em cortes histológicos corados com a prata ou imunoistoquímica (GREENE et al., 1998; MCDONOUGH, 2001). No Brasil, a doença tem sido observada tanto em cães da cidade como os da zona rural (CORRÊA & CORRÊA, 1992). A forma aguda da leptospirose causada pelo sorovar icterohaemorrhagie tem um curso clínico típico de uma doença septicêmica e provoca choque e morte após 2-3 dias do surgimento súbito dos primeiros sinais clínicos. A infecção por R. vitalli pode ser confundida com a lepstopirose fulminante em função da marcada icterícia, febre alta, hemorragias (epistaxe, melena e hematemese) e evolução clínica aguda semelhante. Aumento de volume dos linfonodos, esplenomegalia, achados de necropsia usualmente observados na infecção por R. vitalli, são lesões macroscópicas que não têm sido descritas pela maioria dos autores na leptospirose (GREENE et al., 1998). Sangramento através das orelhas, achados típicos do parasitismo por R. vitalli, não tem sido observado na leptospirose. Na leptospirose aguda, as hemorragias observadas à necropsia são muito mais extensas, freqüentes e numerosas comparadas àquelas observadas no parasitismo por R. vitalli em especial nos pulmões. O mesmo pode ser dito para a icterícia que em geral é muito mais intensa na lepstopirose aguda do que na infecção por R. vitalli. Insuficiência renal acompanhada ou não de lesões extra-renais de uremia e alterações bioquímicas do sangue ou na urinálise consistentes com doença renal não têm sido observadas na infecção por R. vitalli mas usualmente estão presentes na leptospirose em especial na forma crônica dessa doença bacteriana. Leucocitose moderada resultante de neutrofilia com desvio à esquerda, achado típico de uma reação inflamatória aguda, é um achado relativamente constante no hemograma de cães com leptospirose mas não tem sido visto na infecção por R. vitalli. As mordidas da mosca Stomoxys calcitrans (L.) (Diptera: Muscidae) (a "mosca dos estábulos") na ponta das orelhas provoca em cães uma dermatite auricular caracterizada pela presença de crostas escuras que se formam a partir do sangue e soro que exudam dessas lesões traumáticas. Sangramento intermitente através dessas lesões ocorre devido ao ato de os cães coçarem as orelhas freneticamente e chocalharem de forma compulsiva a cabeça na tentativa de aliviar o incômodo naquela região (ANGARANO, 1988). Essas lesões não devem ser confundidas com aquelas observadas nos casos de "nambiuvú" onde o sangramento através das orelhas é profuso, intenso e persistente e afeta não só as pontas mas também as bordas e face externa dos pavilhões auriculares. Além disso, a infecção por R. vitalli causa uma doença sistêmica ao passo que S. calcitrans provoca apenas dermatite nas orelhas além da irritação do animal. A ocorrência sazonal de ambas as condições (tanto a infecção por R. vitalli como a dermatite auricular causada pela "mosca dos estábulos" ocorrem tipicamente durante a época mais quente do ano) e o sangramento através dessas lesões auriculares causa confusões e interpretações equivocadas. A infecção por Mycoplasma haemocanis (Haemobartonella canis) em caninos tem sido descrita esporadicamente no Estado do Rio Grande do Sul (BRACCINI et al., 1992; SEIBERT, 1996; BORTOLINI et al., 2002) e pode ser confundida com a infecção por R. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. vitalli em função da anemia clinicamente evidente que ocorre em ambas enfermidades. A hemobartonelos e é transmitida pelo carrapato R. sanguineus. A doença clínica é rara em cães não-esplectomizados. A hemobartonelose usualmente é observada em cães experimentais que sofreram remoção cirúrgica do baço. Também tem sido observada em cães que apresentam imunossupressão devido a alguma doença viral, bacteriana, riquetsial (p.ex. a ehrlichiose), parasitária (babesiose), neoplasia ou corticoterapia. Clinicamente, o animal afetado pode apresentar letargia e palidez das mucosas visíveis. Não há febre na infecção por M. canis. Achados hematológicos na hemobartonelose incluem anemia (macrocítica hipocrômica) hemolítica extra-vascular que pode ter um componente imunomediado (anemia auto-imune) induzindo a formação de esferócitos (esferocitose). Essa anemia é positiva no teste de Coombs. A anemia usualmente é regenerativa havendo reticulose, policromasia, anisocitose e eritrócitos nucleados circulantes. Pode haver também trombocitopenia assim como bilirrubinemia e bilirrubinúria mas esses não são achados usualmente observados nessa doença. Achados de necropsia incluem palidez generalizada da carcaça, sangue aquoso e mais claro ("fino") e medula óssea vermelha e gelatinosa. Na histopatologia, há hiperplasia do sistema fagocítico mononuclear. O diagnóstico da hemobartonelose canina é baseado no histórico, quadro clínico, hemograma e presença do patógeno em esfregaços sangüíneos. M. haemocanis pode ser um achado incidental e em geral poucos desses micoplasmas hemotrópicos são encontrados no interior das hemácias (HARVEY, 1998; KRAJE, 2001). Apesar da hemobartonelose dos cães apresentar alguns pontos em comum com a infecção por R. vitalli, M. canis causa uma doença branda mesmo naqueles animais esplenectomizados ou imunossuprimidos. O quadro clínico da infecção por R. vitalli é bem mais grave Aparentemente a hemobartonelose não é uma doença importante para cães em nossa região. Recentemente, um microrganismo semelhante à riquétsia Neorickettsia helminthoeca, agente etiológico da "intoxicação por salmão" ("salmon poisoning disease"), enfermidade cuja ocorrência se restringe a algumas áreas da América do Norte (GORHAM &FOREYT, 1998), foi descrito em cães no Norte do Paraná, Região Sul do Brasil (HEADLEY et al., 2003). Atribuiu-se o termo "N. helminthoeca-like" a esse patógeno, até então inédito em nosso país, em função da semelhança morfológica entre o microrganismo observado em nessa região do país com aquele descrito no exterior. Pesquisadores estrangeiros envolvidos em diversos estudos sobre Neorickettsia, Anaplasma e Ehrlichia (microrganismos estes que fazem parte do grupo de bactérias intracelulares obrigatórias que residem no interior de 121 vacúolos situados no citoplasma de células eucarióticas) também participaram desse estudo. Achados de necropsia nos 10 casos dessa doença descritos nesse trabalho consistiam em acentuado aumento de volume dos linfonodos pré-escapulares, axilares e mesentéricos, que ao corte mostravam-se edematosos e com os folículos linfóides da região cortical mais evidentes, hipertrofia das placas de Peyer e do tecido linfóide intestinal, esplenomegalia, com a polpa branca do baço mais visível ao corte, e colite hemorrágica aguda. Na histologia, foi observada hiperplasia do tecido linfóide dos intestinos (placas de Peyer) e depleção dos folículos linfóides do baço e do córtex dos linfonodos mesentéricos. Pequenos microrganismos intracitoplasmáticos morfologicamente semelhantes à N. helminthoeca foram visualizados por meio da coloração de Giemsa no interior de macrófagos situados nas placas de Peyer, glândulas intestinais, centros germinativos dos folículos linfóides dos linfonodos mesentéricos e nos corpúsculos esplênicos. Em um desses casos, foi observado na histologia do intestino grosso trematódeos comparáveis àAscocotyle (Phagicola) arnaldoi. Achados em comum entre a infecção por "N. helminthoeca-like" e a infecção por R. vitalli incluem linfadenomegalia, esplenomegalia e marcada hemorragia intestinal. Nesse relato isolado, infelizmente não há informações sobre a epidemiologia e quadro clínico manifestado pelos cães acometidos o que nos impede de fazer mais comparações entre essas duas enfermidades. Na América do Norte, a "intoxicação por salmão" é causada por N.helminthoeca e tem um ciclo evolutivo que envolve o trematódeo Nanophyetus salmincola, o caramujo Oxytrema silicula e peixes, principalmente os salmonóides. A principal célula alvo de N. helminthoeca é o macrófago (GORHAM & FOREYT, 1998). Outras causas de anemia hemolítica imunomediada secundária em caninos que devem ser consideradas no diagnóstico diferencial do parasitismo por R. vitalli incluem as infecções (babesiose, ehrlichiose, leishmaniose, hemobartonelose, dirofilariose), neoplasias (linfossarcoma, hemangiossarcoma, distúrbios mieloproliferativos), processos inflamatórios crônicos (p.ex. colites), doenças granulomatosas, doenças hemolíticas hereditárias (deficiências de piruvato quinase ou de fosfofrutoquinase), exposição recente a drogas (p.ex. administração de sulfonamida-trimetropim em cães da raça Doberman Pinscher), toxinas (p.ex. picadas de abelhas) e vacinas (DAY, 2003). Anemia hemolítica imunomediada primária idiopática (anemia hemolítica auto-imune) também deve ser levada em consideração. Raças caninas mais predispostas ao desenvolvimento de anemia hemolítica imunomediada incluem a Cocker Spaniel, Old English Sheepdog, Poodle, Pastor Alemão, Doberman Pinscher Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 122 A.P. Loretti & S.S. Barros e Setter Irlandês. Alguns autores mencionam que a icterícia, esplenomegalia e linfadenomegalia, achados freqüentes na infecção por R. vitalli, nem sempre são observadas na anemia hemolítica imunomediada (BÜCHELER & COTTER, 1995; DAY, 2003; MC CULLOUGH, 2003). Trombocitopenia pode estar presente em casos de anemia hemolítica auto-imune e tem sido associada à ocorrência de uma coagulopatia de consumo (DIC). Hemoglobinemia e hemoglobinúria são observadas apenas naqueles casos em que a anemia hemolítica imunomediada é intra-vascular. Hemoglobinemia e hemoglobinúria não têm sido observadas no parasitismo por R. vitalli em caninos uma vez que a anemia hemolítica imunomediada é extra-vascular. Trombocitopenia também é rara na infecção por R. vitalli. A ocorrência de esferócitos é altamente sugestiva de anemia hemolítica auto-imune uma vez que são raras outras doenças que causam esferocitose em cães. Eritrofagocitose também é um forte indício de hemólise imunomediada. O diagnóstico definitivo de anemia hemolítica auto-imune é feito por meio de um resultado positivo no teste de auto-aglutinação, no teste de Coombs ou no método de citometria de fluxo por imunofluorescência direta (MCCULLOUGH, 2003). Deve ser frisado que o teste de Coombs não distingue a anemia hemolítica imunomediada primária (idiopática) da anemia hemolítica imunomediada secundária (DAY, 2003). Eritrofagocitose exacerbada usualmente está associada à destruição exagerada e acelerada de hemácias ou então diminuição do tempo de vida do eritrócito e tem sido observada não apenas nas anemias hemolíticas imunomediadas e em doenças causadas por parasitos de hemácias mas também em casos de transfusão sangüínea, neoplasias histiocitárias e histioctiose hemofagocítica (GRINDEM et al., 2002). Naqueles casos de anemia hemolítica imunomediada em que a poliartrite, lesões de pele e glomerulonefrite fazem parte do quadro clínico-patológico, lúpus eritematoso e outras doenças auto-imunes devem ser levadas em consideração no diagnóstico diferencial (DAY, 2003). Outras doenças que devem ser diferenciadas da infecção por R. vitalli incluem (i) a ancilostomose (parasitismo por Ancylostoma caninum e A. braziliensis), verminose que usualmente é observada em filhotes de cães, causa uma anemia do tipo ferropriva (FIGHERA, 2001) e provoca melena acompanhada do acúmulo de grande quantidade de conteúdo sanguinolento e viscoso na luz do intestino delgado; são observados quantidades variáveis de nematódeos do gênero Ancylostoma aderidos à mucosa do intestino delgado, se alimentando de sangue naqueles pontos onde se fixam à superfície mucosa por meio de dentes em forma de gancho localizados em sua cápsula bucal anterior (SOULSBY, 1982); parasitismo acentuado por Ancylostoma com a presença de conteúdo sanguino- lento na luz intestinal tem sido observado como um achado incidental de necropsia em casos de infecção por R. vitall; nesses casos onde R. vitalli e Ancylostoma spp. ocorrem simultaneamente no mesmo indivíduo, a presença dos vermes hematófagos pode dificultar a interpretação do hemograma e das lesões macroscópicas (hemorragias intestinais) observadas naqueles animais afetados pelo "nambiuvú das tripas"; (ii) endocardite bacteriana, doença septicêmica que ocorre tipicamente em raças caninas de grande porte p.ex. Pastor Alemão, Dogue Alemão, usualmente associada a feridas contaminadas que servem de porta da entrada para o patógeno; causa doença de curso clínico agudo, usualmente fatal, caracterizada por febre, epistaxe, hemoptise, hematúria e diarréia com sangue devido à coagulopatia (CID) (GREENE , 1998); casos de endocardite bacteriana têm sido observados com relativa frequência em cães atendidos no Hospital de Clínica Veterinária (HCV) e necropsiados no Setor de Patologia Veterinária da UFRGS, Porto Alegre, RS, e já foram confundidos com ehrlichiose canina, riquetsiose que aparentemente não ocorre nessa região; (iii) parvovirose que ocorre tipicamente em cães jovens e que provoca diarréia sanguinolenta profusa além de vômitos freqüentes com grande quantidade de muco, febre, anorexia e prostação ( GREENE , 1998). Todas essas três enfermidades apresentam alta taxa de mortalidade. Todas essas doenças apresentam lesões macroscópicas características à necropsia que permitem a diferenciação com a infecção por R. vitalli. TRATAMENTO, CONTROLE E PROFILAXIA Clínicos veterinários que têm diagnosticado a infecção por R. vitalli com base no histórico, quadro clínico e resultados do hemograma têm empregado a doxiciclina, o dipropionato de imidocarb ou o aceturato de diminazeno na terapia dessa protozoose. Tem se empregado a mesma posologia usada na terapia de outras protozooses e riquetsioses sangüíneas de caninos (p.ex. babesiose e a ehrlichiose) a base de drogas protozoocidas. Corticóides também têm sido empregados n o tratamento do parasitismo por R. vitalli seguindo a mesma indicação de doses recomendadas na terapia da anemia hemolítica imunomediada primária ou secundária (BÜCHELER & COTTER, 1995) R. vitalli tem se mostrado sensível a todas as drogas anti-protozoário acima enunciadas e o tratamento dessa doença tem sido bem sucedido com o uso desses medicamentos quando adequadamente utilizados. A corticoterapia também tem tido bons resultados no tratamento da anemia hemolítica imuno-mediada induzida por R. vitalli. Quando necessário, transfusão sangüínea e fluidoterapia também são incluídas no protocolo de tratamento dessa protozoose. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. No Estado do Rio Grande do Sul, o aceturato de diminazeno (diaceturato tetraidrato de 4,4'diamidinodiazoaminobenzeno) é uma diamidina aromática que vem sendo recomendada para o tratamento da "doença do carrapato dos cães" principalmente nas agropecuárias. Nesses estabelecimentos, os clientes têm livre acesso à compra dessa droga protozoocida. Quando seus cães de guarda, caça, trabalho no meio rural ou companhia são acometidos pela "peste de sangue" ("nambiuvú"), esses proprietários lançam mão do medicamento anti-protozoário aplicando-o a sua maneira nesses animais que estão doentes, tristes, fracos, febris, sem apetite e sangrando profusamente pelas orelhas. O aceturato de diminazeno é uma droga de baixo índice terapêutico, ou seja, a dose terapêutica desse medicamento é próxima da doença que intoxica, e tem efeito neurotóxico para caninos nas seguintes situações: (i) quando é administrada uma dose acima daquela recomendada pelo fabricante; (ii) quando doses terapêuticas repetidas da medicação são dadas em um intervalo de tempo inferior a 6 semanas; (iii) quando uma única dose terapêutica é administrada em cães afetados por doenças causadas por hematozoários ou (iv) quando utilizada de forma profilática em animais saudáveis na dose recomendada para a prevenção de enfermidades causadas por hematozoários. Susceptibilidades racial e individual para esse medicamento também têm sido descritas (GEHRING & NAIDOO, 2002). Em caninos, a intoxicação por aceturato de diminazeno provoca ataxia com incoordenação do trem posterior, fraqueza, incapacidade de permanecer em estação, sinais de dor manifestados pela emissão continuada de ganidos, rigidez extensora dos membros, nistagmo, convulsões, cegueira e coma. Cães intoxicados com essa diamidina podem morrer até sete dias após os primeiros sinais clínicos da toxicose. Em geral, o curso clínico dessa toxicose é mais rápido (48-72 horas) e, na maior parte dos casos, o animal intoxicado morre espontaneamente ou é eutanasiado devido ao prognóstico desfavorável da toxicose. A recuperação dessa intoxicação é rara. À necropsia, observa-se, na superfície de cortes seriados do encéfalo, encefalomalácia hemorrágica simétrica focal bilateral afetando o mesencéfalo, tálamo e cerebelo e poupando o córtex cerebral. Essas lesões são avermelhadas, deprimidas e bem circunscritas e podem, em alguns casos, ser muito evidentes a olho nu e afetar de forma extensa o tronco encefálico. Em outros casos, essas lesões podem ser discretas e diminutas ocorrendo apenas em uma região restrita da base do cérebro ou cerebelo (NAUDÉ et al., 1970). Em países como Estados Unidos, França e Alemanha, essa droga não está mais disponível no mercado devido ao grande risco que ela oferece à saúde dos cães. No entanto, aceturato de diminazeno ainda é comercializado legalmente na 123 África do Sul para ser usado em caninos visto que essa é a droga mais eficaz no tratamento da babesiose canina causada pela Babesia rossi. B. rossi é uma espécie extremamente patogênica de Babesia comparada a outras cepas de Babesia tais como B. canis (França) e B. vogeli (Norte da África) e pode causar uma doença muito grave e fulminante em cães. Naquele país, onde a babesiose canina corresponde a 10-20% da casuística dos médicos veterinários clínicos de pequenos animais (JACOBSON et al., 1996), essa diamidina aromática ainda é o medicamento mais empregado na terapia dessa protozoose (PARDINI, 2000). Casos de toxicose por aceturato de diminazeno em caninos, em geral fatais, têm sido descritos na literatura (NAUDÉ et al., 1970; GEHRING & NAIDOO, 2002), inclusive no Brasil (OLIVEIRA, 2000; CIT-RS, 2002; LORETTI, 2002; LORETTI, 2003; PESCADOR et al., 2003). Nos casos da intoxicação de cães por esse medicamento anti-protozoário diagnosticados no Estado do Rio Grande do Sul, a epidemiologia, quadro clínico e achados macro e microscópicos dos pacientes tratados com essa droga são consistentes com aqueles observados no parasitismo por R. vitalli à exceção da presença dos próprios parasitos no interior das células endoteliais dos capilares sangüíneos que, nesses casos tratados, não têm sido encontrados. Nesses casos, as lesões cerebrais típicas causadas pelo efeito tóxico das diamidinas no sistema nervoso central estão presentes. Tipicamente, os cães afetados são oriundos da zona rural ou periurbana ou são animais que participam periodicamente de caçadas, estão infestados pelos carrapatos ixodídeos Amblyomma cajennense ou Rhipicephalus sanguineus, têm sangramento persistente através das margens e face externa das orelhas e narinas, anemia, icterícia, prostração, emagrecimento progressivo, esplenomegalia, aumento de volume generalizado dos linfonodos e, na histologia, hiperplasia linforreticular e eritrofagocitose (LORETTI, 2002; PESCADOR et al., 2003). O tratamento desses animais com aceturato de diminazeno explicaria a ausência dos protozoários intra-celulares nos cortes histológicos. Não há dados publicados a respeito do período de tempo compreendido entre a administração de aceturato de diminazeno e o desaparecimento de exemplares de R. vitalli no endotélio. No caso de cães parasitados por B canis que são tratados com aceturato de diminazeno, descreve-se que esses hematozóarios desaparecem do sangue dos animais já nas primeiras 24 horas após a administração da droga (JACOBSON et al., 1996). Se extrapolarmos os dados disponíveis a respeito da terapia da infecção pelo hematozoário B. canis com aceturato de diminazeno e o curso clínico usual da toxicose por essa droga protozoocida que é de 2-3 dias, R. vitalli teoricamente não seria mais encontrado nos tecidos dos animais doentes após cerca de 24 horas da admi- Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 124 A.P. Loretti & S.S. Barros nistração da droga. Não há tratamento específico para intoxicação pelo aceturato de diminazeno de modo que o veterinário opta pela terapia de suporte, sintomática ou, após prévia consulta ao cliente ou a pedido do proprietário, faz a eutanásia do paciente em função do prognóstico reservado da toxicose (GEHRING & N AIDOO, 2002). Não se recomenda o emprego de uma diamidina aromática no tratamento do parasitismo por R. vitalli devido ao grande risco de intoxicação que essa droga oferece para os cães. Há outros medicamentos mais seguros, igualmente eficazes e aos quais R. vitalli é igualmente sensível (imidocarb ou doxiciclina) que podem ser usados alternativamente no tratamento dessa protozoose. No Brasil, laboratórios de medicamentos veterinários têm retirado de suas bulas a informação de que aceturato de diminazeno é indicado para a terapia de hematozoários que afetam caninos. Doxiciclina, antibiótico bacteriostático da classe das tetraciclinas, tem sido empregado no tratamento da ehrlichiose canina e também da infecção por B. canis (TABOADA, 1998). Essa droga tem sido amplamente utilizada no tratamento da R. vitalli. Relatos informais de veterinários locais nos trazem a informação de que essa droga tem se mostrado eficaz no tratamento dessa protozoose em especial quando associada à corticoterapia. Dipropionato de imidocarb é outra droga de ação protozoocida que tem sido usada no tratamento do parasitismo por R. vitalli (KRAUSPENHAR et al., 2003). Alguns veterinários têm associado imidocarb ao sulfato de atropina para evitar os efeitos colinérgicos colaterais desse medicamento. Reações adversas descritas para essa droga estão associadas à ação exacerbada da acetilcolina uma vez que o imidocarb tem atividade anticolinesterase. Pode ser observada sialorréia, diarréia profusa, vômito, dispnéia, taquicardia, lacrimejamento e fraqueza. Necrose hepática massiva já foi descrita em casos de superdosagem acidental (GREENE , 1998). Há uma publicação que relata que o azul de tripan (trypanbalu) também seria eficiente no tratamento do parasitismo por R. vitalli (CARINI & MACIEL, 1914a). Todavia, o emprego dessa droga antiprotozoária foi abandonado em função das diversas desvantagens envolvidas no uso desse medicamento. O azul de tripan deve ser empregado apenas por via endovenosa. Se houver, por acidente, extravasamento perivascular desse medicamento durante a administração, pode haver irritação e necrose tecidual locais. Trata-se de um corante que induz alterações na coloração das membranas mucosas e do plasma que ficam azulados após a administração, podendo interferir na avaliação de alguns parâmetros clínicos e laboratoriais. Além disso, o azul de tripan é eliminado através da urina que mancha com facilidade tecidos e é de difícil remoção após lavagem (JACOBSON et al., 1996). Não há informações sobre a disponibilidade do azul de tripan no grupo de medicamentos veterinários atualmente produzidos em nosso país. As práticas de magias para a cura dos animais acometidos por R. vitalli ou então para a prevenção dessa protozoose são comuns no Brasil. Uma das simpatias empregadas para curar "nambiuvú" de cachorro é a de passar azeite quente na orelha do animal doente durante 9 dias consecutivos (OFICINA ZOOTECNIA POPULAR:J ANGADA BRASIL , 2002). Outro tratamento empírico para a "peste de sangue" é a administração de querosene por via oral (DRIEMEIER, Comunicação pessoal). Naqueles cães que serão destinados à caça ao atingirem a fase adulta, faz-se cortes nas orelhas ainda quando filhotes como uma medida de profilaxia para a "peste de sangue". Esse procedimento provoca cicatrizes que deformam as orelhas desses animais (DRIEMEIER, Comunicação pessoal). Tais práticas populares correspondem a rituais que carecem de embasamento científico e que, aparentemente, não conferem cura ou proteção alguma contra o agente causador da moléstica conhecida como "nambiuvú" ou "peste de sangue", o protozoário Apicomplexa Piroplasmorida R. vitalli. CONTROLE E PROFILAXIA Doxiciclina (VERCAMMEN et al., 1996b), imidocarb (VERCAMMEN et al., 1996a) e aceturato de diminazeno (GEHRING & NAIDOO, 2002) são drogas que têm sido empregadas na profilaxia da babesiose canina. Doses profiláticas de tetraciclinas também têm sido administradas a cães para a prevenção da ehrlichiose canina (NEER, 1998). Não foram encontradas informações a respeito de procedimentos semelhantes para a prevenção medicamentosa da infecção por Rangelia vitalli. Uma vacina contra B. canis está disponível na Europa mas a sua eficácia é limitada (TABOADA, 1998). Não há informações sobre a existência de vacinas para R. vitalli. Uma medida profilática que tem sido empregada para a babesiose canina (TABOADA, 1998) e também para a ehrlichiose canina (NEER, 1998) e que teoricamente poderia ser utilizada para prevenção da infecção por R. vitalli é o controle do carrapato, vetor do patógeno, através da inspeção frequente da pele e pelagem dos cães à procura de desses artrópodes. Para Babesia canis, essa inspeção visual e tátil regular é importante já que é fato sabido que um carrapato ixodídeo leva de 2 a 3 dias no mínimo para transmitir esse patógeno para o cão através de seu repasto sangüíneo (TABOADA, 1998). Informações temporais semelhantes não estão disponíveis para R. vitalli. Para o tratamento e controle da infestação por Rhipicephalus sanguineus, um dos carrapatos apontados como vetor de R. vitalli na periferia das cidades, deve-se empregar carrapaticidas diretamente no Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 Parasitismo por Rangelia vitalli em cães ("nambiuvú", "peste de sangue") - uma revisão crítica sobre o assunto. ambiente (dedetização com produtos a base de piretróides). Esse procedimento é viável em canis, casinhas de cachorros, pequenos quintais, pátios ou interior de domicílios aonde os cães ficam confinados, e tem como objetivo eliminar os carrapatos desses locais. Devemos levar em consideração a existência de outras áreas infestadas por perto p.ex. casas vizinhas que também tem cães o que pode dificultar o controle desse carrapato no ambiente. Recomenda-se também o tratamento carrapaticida do próprio cão. Relata-se que a terapia tópica a base de fipronil, usado no controle de pulgas, também pode ser utilizado para o controle de carrapatos (TABOADA, 1998). Para Amblyomma aureolatum, carrapato que também é apontado como transmissor de R. vitalli, deve ser levado em conta que, apesar de esse ixodídeo infestar cães domésticos das zonas rurais, originalmente esse artrópode é parasita natural de várias espécies de animais silvestres, o que torna inviável o controle da população dessa espécie de carrapato no ambiente. Portanto, quando do interesse do proprietário, as medidas a serem recomendadas seriam: (i) aplicações de carrapaticidas de longa ação nos cães, visando uma prevenção do parasitismo quando os cães entrassem nas matas; (ii) aplicação de carrapaticidas de efeito imediato ("knock-down") visando um efeito curativo quando os cães retornassem das matas e (iii) impedir que os cães adentrassem as matas (LABRUNA & PEREIRA, 2001). Sugere-se que os pacientes acometidos por R.vitalli que se recuperam após instituição da terapia protozoocida ou que têm recuperação espontânea poderiam causar novas infecções em animais susceptíveis a R. vitalli caso fossem utilizados como cães doadores em transfusões sangüíneas. Situação semelhante tem sido descrita na babesiose canina em que os animais que se recuperam da doença ou então os cães portadores assintomáticos oferecem riscos a outros pacientes sensíveis a esse patógeno que podem receber de forma inadvertida sangue contaminado por Babesia canis (PENZHORN et al., 1995; WLOSNIEWSKI et al., 1997; LO B E T T I, 1998; STEGEMAN et al., 2003). No caso da babesiose, medidas preventivas para evitar esse problema incluem a realização de testes sorológicos p. ex. o teste de imunofluorescência indireta e o "western blot test" para a identificação de possíveis doadores infectados (LO B E T T I, 1998; TABOADA, 1998). Transmissão iatrogênica através da transfusão de sangue contaminado por patógenos também tem sido descrita na haemobartonelose canina [infecção por Mycoplasma haemocanis (Haemobartonella canis)] (HA R V E Y, 1998; KRAJE, 2001). No caso de R. vitalli, o monitoramento de cães doadores de sangue é problemático uma vez que esse protozoário não tem sido observado nos esfregaços sanguíneos e, além 125 disso, não há testes sorológicos disponíveis para a detecção de portadores assintomáticos desse patógeno. IMPORTÂNCIA EM MEDICINA VETERINÁRIA Na Região Sul do país, particularmente no Estado do Rio Grande do Sul, cães de pastoreio, mestiços ou de raça, estão intimamente associados ao trabalho do campo. Nas propriedades rurais, esses animais acompanham o peão durante suas atividades diárias, tendo papel auxiliar na condução do rebanho de bovinos e ovinos. Adicionalmente, esses cães desempenham função de guarda nas propriedades e companhia aos proprietários. Raças caninas rústicas tipicamente desenvolvidas na Região Sul do Brasil para o trabalho no campo incluem o ovelheiro gaúcho, o veadeiro brasileiro, o buldogue campeiro e as tradicionais raças de cães de pastoreio tais como o Border Collie e Collie (dos quais o ovelheiro gaúcho é descendente) (CBKC, 2002). A "peste de sangue" é uma doença já há muito conhecida nessa área por trabalhadores rurais, fazendeiros, e caçadores. O "nambiuvú" vêm causando, ao longo dos anos, doença clínica e morte em cães dessa região empregados no trabalho (lidas rurais) ou esporte [caça de banhado ou caça de campo das espécies cigenéticas determinadas pelo IBAMA (ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE CAÇA E CONSERVAÇÃO, 2003)]. CONSIDERAÇÕES FINAIS Alguns aspectos relacionados ao parasitismo por R. vitalli em caninos têm causado muitas confusões e diagnósticos equivocados ao longo dos anos no Brasil. Estes incluem: (i) a grande dificuldade de se encontrar R. vitalli em esfregaços sangüíneos e a dúvida que existe em relação à localização exata desse protozoário no sangue circulante, isto é, se esse parasito está livre na corrente sanguínea, se é encontrado no interior de hemácias, ou se pode ser observado em ambas localizações; (ii) a semelhança que existe entre o quadro clínico-patológico do parasitismo por R. vitalli com o de outras doenças causadas por protozoários e riquétsias que ocorrem no sangue de caninos, que são transmitidas por carrapatos e que são coletivamente referidas como "doença do carrapato" (CÃES , 2001); (iii) o fato de o tratamento da infecção por R. vitalli ser o mesmo daquele empregado na terapia de outras doenças parasitárias e infecciosas de cães que, de forma semelhante, provocam anemia, icterícia, febre, espleno e linfadenomegalia e hemorragias (coagulopatias); nesses casos, veterinários prescrevem um tratamento para "doença do carrapato" baseado no quadro clínico apenas sem investigar o agente etiológico específico daquela moléstia (p.ex. Babesia canis,Ehrlichia Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.71, n.1, p.101-131, jan./mar., 2004 126 A.P. Loretti & S.S. Barros canis e Rangelia vitalli); (iv) a consulta a especialistas no exterior que têm emitido diagnósticos equivocados ou pareceres inconclusivos após o exame de cortes histológicos de R. vitalli; as consultas a esses especialistas ao longo dos anos têm sido infrutíferas uma vez que esses estudiosos não conhecem R. vitalli uma vez que esse protozoário aparentemente ocorre apenas no Brasil e tem sido descrito quase que exclusivamente em publicações brasileiras muito antigas, escritas em português e de difícil acesso à comunidade científica internacional. Deve ser ressaltado que o termo rangeliose tem sido empregado para referir-se tanto à doença causada por R. vitalli (BRAGA, 1935; KRAUSPENHAR et al., 2003b) como também à infeccção por Trypanosoma rangeli (ARAQUE et al., 1996). Por essa razão, o termo rangeliose não foi empregado no presente texto de modo a evitar confusão. Urge a realização de um estudo retrospectivo que consista na revisão de todos diagnósticos clínicos, laboratoriais e de necropsia de babesiose canina, ehrlichiose canina e leishmaniose visceral realizados no Estado do Rio de Grande do Sul nas últimas décadas de modo a determinar a real prevalência e a verdadeira importância de cada uma dessas enfermidades em nossa região. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDULLAH , S.U.; M OHAMMED, A.A.; T RIMNELL, A.R.; A LAFIATAYO, R. Clinical and haematological findings in 70 naturally occurring cases of canine babesiosis. J. Small. Anim. Pract., v.31, p.145-147, 1990. ALENCAR, N.X.; K OHAYAGAWA, A.; S ANTARÉM, V.A. Hepatozoon canis infection of wild carnivores in Brazil. Vet. Parasitol., v.70, n.4, p.279-282, 1997. ALENCAR, N.X.; SANTOS, R.A.; TAKAHIRA, R.K.; SAKATE, M.; KOHJAYAGAWA, A. 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