UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais OS SABERES ETNOFARMACOBOTÂNICOS NA COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ - MATO GROSSO KARINA GONDOLO GONÇALVES CUIABÁ, MT 2016 0 KARINA GONDOLO GONÇALVES OS SABERES ETNOFARMACOBOTÂNICOS NA COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ - MATO GROSSO Orientadora: Profa Dra Maria Corette Pasa Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte das exigências do Curso de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, para obtenção do título de mestre. CUIABÁ, MT 2016 1 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Título: OS SABERES ETNOFARMACOBOTÂNICOS NA COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ - MATO GROSSO Autora: Karina Gondolo Gonçalves Orientadora: Profa Dra Maria Corette Pasa Aprovada em 26 defevereiro de 2016 Comissão Examinadora: ______________________________ _________________________ Prof Dr Antonio de A. Tsukamoto Filho Examinador Interno - UFMT Profa Dra Carla M. A. Valentini Examinadora Externa - IFMT ___________________________ Profa Dra Maria Corette Pasa Orientadora – FENF/UFMT iii 3 EPÍGRAFE Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Deita-me em verdes pastos e guia-me mansamente em águas tranquilas. Refrigera a minha alma, guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo, a Tua vara e o Teu cajado me consolam. Prepara-me uma mesa perante os meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida e habitarei na casa do SENHOR por longos dias. (Salmo 22) 4 iv DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a VOCÊ que sempre esteve ao meu lado me amparando e me fortalecendo nos dias de dificuldades, que sempre acreditou na minha capacidade de superar limites, que sempre me apoiou mesmo estando longe, enfim que sempre me amou apesar de conhecer meus defeitos. A VOCÊ meu companheiro de todas as horas Luiz Augusto. A VOCÊ minha rainha, Beatriz, que sempre foi e será um exemplo de mãe, mulher e amiga. A VOCÊ minha querida irmã, Lizian, que está me dando o privilégio de me tornar tia e madrinha do nosso rei Davi. A VOCÊ minha inspiradora orientadora Professora Dra Maria Corette Pasa pelos seus ensinamentos e dedicação para com seus orientados. 5 v AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus pelo dom da vida e por se fazer presente em todos os momentos da minha vida. A minha família que eu tanto amo, principalmente, ao meu companheiro e eterno namorado pelo seu carinho, apoio e paciência. A minha mãe pelo incentivo e compreensão pelos momentos de ausência. Ao meu pai, Messias, que me concedeu a vida. A minha irmã pela sua amizade verdadeira. Ao Davi, meu sobrinho, que veio para nos unir ainda mais. Em especial a minha querida orientadora, que foi a grande mentora deste trabalho, pois esteve sempre ao meu lado dividindo o seu conhecimento e incentivando-me tanto no meu crescimento profissional como no pessoal. Ao Programa de Pós - Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da Universidade de Mato Grosso (PPGCFA/UFMT) pela oportunidade de realizar o sonho de ser Mestre, em especial aos professores do programa que contribuíram de forma significativa nesta conquista. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -CAPES pela concessão da bolsa de incentivo cedida entre o período de março de 2014 a fevereiro de 2016. Aos funcionários do Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso pela valiosa colaboração com a identificação das espécies e confecção das exsicatas. Aos informantes da Comunidade Sucuri, em especial a Dona Eliza, que não mediram esforços em contribuir com a ciência e com a pesquisa, participando ativamente neste trabalho dividindo vossos conhecimentos. Deixo aqui expresso minha eterna gratidão! vi6 SUMÁRIO Página RESUMO...................................................................................................xiii ABSTRACT................................................................................................xv 1. INTRODUÇÃO......................................................................................17 1.1. OBJETIVOS........................................................................................19 1.1.1. Objetivo Geral.................................................................................19 1.1.2. Objetivos Específicos.....................................................................19 2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................20 2.1. AS PLANTAS MEDICINAIS................................................................20 2.2. O CONHECIMENTO TRADICIONAL E O SABER LOCAL................21 2.3. A TRAJETÓRIA DA ETNOFARMACOBOTÂNICA NO MUNDO ATUAL.................................................................................................23 2.4. UNIDADES DE PAISAGEM................................................................25 2.4.1. Cerrado...........................................................................................25 2.4.2. Matas Ripárias................................................................................27 2.4.3. Quintais...........................................................................................28 3. MATERIAL E MÉTODOS...................................................................30 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO..................................30 3.2. SUJEITO DA PESQUISA.................................................................31 3.3. TIPO DA PESQUISA........................................................................31 3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA..............................................................31 3.4.1. Bola de Neve (Snowball)................................................................31 3.4.2. Entrevista Semiestruturada............................................................32 3.4.3. História Oral...................................................................................33 3.4.4. Diário de Campo.............................................................................33 3.4.5. Turnê Guiada..................................................................................34 3.5. COLETA DE DADOS......................................................................34 3.6. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO.............................................35 3.7. LEVANTAMENTO ETNOFARMACOBOTÂNICO...........................35 3.8. ANÁLISE DOS DADOS..................................................................36 4. RESULTADOS E DICUSSÃO............................................................38 4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO........................................................38 4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIANTAL DA COMUNIDADE...............43 4.2.1. Aspectos Históricos e Culturais......................................................43 4.2.2. Aspectos Ambientais......................................................................49 4.2.2.1. Quintais......................................................................................49 4.2.2.2. Os quintais e os animais............................................................53 4.3. DADOS ETNOBOTÂNICOS..........................................................55 4.3.1. A Etnobotânica e a Diversidade Vegetal........................................55 4.3.2. A Etnobotânica e Plantas Medicinais.............................................76 4.4. DADOS ETNOFARMACOBOTÂNICOS.........................................91 4.4.1. Plectranthus barbatus Andrews (boldo).........................................91 7 vii 4.4.2. 4.4.3. 4.4.4. 4.4.5. Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. (quina)…………………………96 Hymenaea courbaril L. (jatobá)....................................................99 Matricaria recutita L. (camomila)..................................................103 Phyllanthus niruri L. (quebra-pedra)............................................105 5. CONCLUSÃO....................................................................................108 6. REFERÊNCIAS..................................................................................110 APÊNDICE..............................................................................................122 ANEXO...................................................................................................126 8 xviii LISTA DE TABELAS Página TABELA 1 - PLANTAS USADAS PELOS INFORMANTES DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014...........................................................................................................57 TABELA 2 - ESPÉCIES DE USOS MEDICINAIS CITADAS PELOS ENTREVISTADOS DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014...........................................................................................................78 ix9 LISTA DE FIGURAS Página FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO AREA DE ESTUDO. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ, MATO GROSSO. FONTE: EMBRAPA. AUTOR: FERREIRA, A. L. S., 2015........................................................................30 FIGURA 2 – PREPARAÇÃO DA LÂMINA TIPO A FRESCO COM SECÇÃO TRANSVERSAL. LABORATÓRIO DE ANATOMIA VEGETAL. IB – UFMT. CUIABÁ – MT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................36 FIGURA 3 – FAIXA ETÁRIA DE IDADE EM RELAÇÃO AO SEXO DOS INFORMANTES DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT, 2014..................................................................................39 FIGURA 4 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE EM RELAÇÃO AO SEXO DOS INFORMANTES DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT, 2014..................................................................................40 FIGURA 5 – TEMPO DE RESIDÊNCIA DOS INFORMANTES NA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT, 2014..........................................................................................................41 FIGURA 6 – ESTADO DE SAÚDE DOS DEPOENTES DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT, 2014...........................................................................................................42 FIGURA 7 – VISTA PARCIAL DO RIO CUIABÁ. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2015..................................................................................44 FIGURA 8 – A – ESCOLA MUNICIPAL HILDA CAETANO DE OLIVEIRA LEITE; B – CENTRO COMUNITÁRIO SUCURI; C – CENTRO DE SAÚDE DISTRITO SUCURI; D – RUA DAS FLORES. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................45 FIGURA 9 – A – FACHADA DA ACRIFE; B – QUADROS PINTADOS PELAS CRIANÇAS PARTICIPANTES DA OFICINA DE ARTES; C SALA DE INFORMÁTICA; D – CONSULTÓRIO DENTÁRIO; E – CONSULTÓRIO MÉDICO; F – ACERVO DE LIVROS. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014..................................................................46 FIGURA 10 – A – PROCISSÃO NA RUA DAS FLORES; B – CELEBRAÇÃODA MISSA; C – DISTRIBUIÇÃO DO TCHÁ COM BOLO; D – PESQUISADORA COM A EQUIPE DA COZINHA. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................47 10 x FIGURA 11 – A – ÚLTIMOS PREPARATIVOS; HORA DO TCHÁ COM BOLO; B – CELEBRAÇÃO REALIZADA PELO MINISTRO DA COMUNIDADE; C – BENÇÃO DAS CRIANÇAS; D – MORADOR PREPARANDO O ALMOÇO; E – ATRAÇÃO DO ROBOCOP PARA AS CRIANÇAS; F – CRIANÇAS BRINCANDO NO PULA-PULA. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................48 FIGURA 12 – A – VISTA PARCIAL DO QUINTAL LATERAL E FUNDO DE UM MORADOR; B – VISTA PARCIAL DE UM QUINTAL LOCALIZADO NA FRENTE DA CASA DE UM MORADOR. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................49 FIGURA 13 – A – VISTA PARCIAL DO QUINTAL DE UM MORADOR QUE FAZ DIVISA COM A MATA RIPÁRIA; B – VISTA PARCIAL DE UMA RESIDÊNCIA COM QUINTAL CERCADO POR MUROS. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................50 FIGURA 14 – VISTA PARCIAL DE UM TERRENO COMPARTILHADO ENTRE PAIS E FILHOS. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA ................................................50 FIGURA 15 – NÚMERO DE ESPÉCIES ENCONTRADAS POR QUINTAL VISITADO. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT, 2014..........................................................................................................51 FIGURA 16 – QUANTIDADE TOTAL DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DA COMUNIDADE SUCURI SEPARADOS POR ESPÉCIES. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014.........................................54 FIGURA 17 – ETNOCATEGORIAS DE USOS DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014..................................................................74 FIGURA 18 – INDICACAÇÕES TERAPÊUTAS REFERIDAS PELOS ENTREVISTADOS DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014..................................................................77 FIGURA 19 – Plectranthus barbatus Andrews (BOLDO). COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................92 FIGURAS 20 E 21 – Plectranthus barbatus Andrews. SECÇÃO TRANSVERSAL DE LIMBO FOLIAR. VISUALIZAÇÃO DOS TRICOMAS GLANDULARES E TECTORES. LABORATÓRIO DE ANATOMIA VEGETAL. IB – UFMT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................93 xi 11 FIGURA 22 – Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. (QUINA). COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA......................................................................................97 FIGURA 23 – Hymenaea courbaril L. (JATOBÁ). COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA....................................................................................100 FIGURA 24 – FRUTO DO JATOBÁ: A – FRUTO COM CASCA PRESERVADA; B – FRUTO SEM CASCA COM POLPA E SEMENTE APARENTE. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA....................................................................................101 FIGURA 25 – Matricaria recutita L. (CAMOMILA). COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA....................................................................................104 FIGURA 26 – Phyllanthus niruri L. (QUEBRA-PEDRA). COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA....................................................................................106 xii 12 RESUMO GONÇALVES, Karina Gondolo. Os Saberes Etnofarmacobotânicos na Comunidade Sucuri, Cuiabá - Mato Grosso. 2016. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais) – Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá – MT. Orientadora Profa Dra Maria Corette Pasa. A Etnobotânica é um campo interdisciplinar que compreende o estudo e a interpretação do conhecimento, significação cultural, manejo e usos tradicionais dos elementos da flora. Já Etnofarmacobotânica procura viabilizar o uso das plantas medicinais que possuem atividades farmacológicas que estão envolvidas em diferentes situações da vida do homem e seu grupo social. Objetivou-se com esta pesquisa investigar e analisar sistematicamente o conhecimento empírico da comunidade Sucuri em Cuiabá – MT sobre a utilização da flora local com enfoque para as plantas medicinais, ressaltando as suas finalidades de usos, as formas de usos e as indicações terapêuticas, bem como realizar um levantamento etnofarmacobotânico das espécies pertencentes à etnocategoria medicinal mais expressiva para esta comunidade e que atingiram 50% ou mais no cálculo de importância relativa de concordância de usos principais (Pcup). A vertente metodológica para os dados etnobotânicos abordaou tratamentos qualitativo e quantitativo. O qualitativo utilizou a técnica snowball com aplicação do pré-teste, entrevistas semiestruturadas e abertas, turnê guiada e registro fotográfico. No quantitativo foi utilizado o Consenso Informante, que avaliou o Nível de Fidelidade (NF), Fator de Correção (FC) e a importância relativa de concordância de uso (Pcup) entre os informantes usuários das plantas medicinais. Foram entrevistados 44 moradores de 36 residências visitadas, sendo a maioria do sexo feminino. A idade variou entre 25 a 84 anos. Quanto à origem 85% são do estado de Mato Grosso e o restante dos estados de Paraíba, Paraná e Mato Grosso do Sul. Em relação ao tempo que residem na comunidade quase a metade dos depoentes está há mais de 30 anos e o intervalo de tempo entre todos os entrevistados variou entre dois meses até 76 anos de permanência na Sucuri. O grau de instrução variou de não alfabetizado até nível superior com ênfase para ensino fundamental completo com aproximadamente 30% e ensino médio completo com 25%. No total foram citadas 214 espécies vegetais pertencentes a 74 famílias botânicas, com 1134 citações, sendo que 120 dessas espécies foram citadas pelos depoentes para etnocategoria medicinal que estão distribuídas em 48 famílias botânicas, com 426 citações. As espécies medicinais mais expressivas foram: Plectranthus barbatus Andrews (boldo) citado por 18 depoentes apresentando um Pcup de 89%, Hymenaea courbaril L. (jatobá) com 17 citações e 61% de Pcup, em seguida Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. (quina) com 14 citações e Pcup de 66%, na sequência Matricaria recutita L. (camomila), 14 citações e 55% (Pcup), e por fim Phyllanthus niruri L. (quebra-pedra), 10 citações e 55% (Pcup). O uso empírico do boldo apontado pelos informantes para tratar as moléstias do aparelho digestório pode estar relacionado com a ocorrência de cariofileno como principal componente 13 xiii do seu óleo essencial presentes nos tricomas glandulares e tectores. O jatobá que foi empiricamente indicado para as doenças do sistema respiratório está vinculado às propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes contidos nesta planta. Os alcalóides presentes na entrecasca da quina apresenta atividade antimicrobiana justificando o seu uso popular como vermífugo. A camomila que é utilizada pelos entrevistados, principalmente, como calmante, esta respaldada quimicamente pela existência dos bioativos como o camazuleno e alfabisabolol. Estudos também já comprovaram o efeito diurético, analgésico e redutor de cálculos renais do extrato aquoso feito com as folhas, partes aéreas ou planta inteira de quebra-pedra. Pode-se afirmar que a população em estudo conhece a diversidade vegetal local, o manejo, a origem, as partes usadas, as formas de uso e as doenças tratadas com a utilização das plantas medicinais. Foi possível também registrar a situação atual e alertar sobre a importância do uso racional da flora envolvendo o processo de sustentabilidade ambiental referente às comunidades vegetais, como fonte permanente de uso. Palavras-chave: Etnobotânica; Saber local; Plantas medicinais. xiv 14 ABSTRACT GONÇALVES, Karina Gondolo. The Knowledge Ethnopharmacobotany the Community Sucuri, Cuiabá - Mato Grosso. 2016. Dissertation (Masters in Forestry and Environmental Sciences) – Federal University of Mato Grosso, Cuiabá – MT. Advisor Profa. Dra. Maria Corette Pasa. The Ethnobotany is an interdisciplinary field that includes the study and interpretation of knowledge, cultural significance, management and traditional uses of flora elements. Already Ethnopharmacobotany seeks to allow the use of medicinal plants which have pharmacological activities that are involved in different situations of life of man and his social group. The objective of this research investigating and analyzing the empirical knowledge of the Sucuri community in Cuiaba - MT on the use of local flora with a focus on medicinal plants, highlighting their use of purposes, forms of uses and therapeutic indications and how to perform Ethnopharmacobotany survey of species of the most significant medical ethnocategory for this community and have reached 50% or more in the calculation of the relative importance of the main uses of agreement (Pcup). The methodological aspect to the ethnobotanical data abordaou qualitative and quantitative treatments. The qualitative used the snowball technique with application of the pretest, semi-structured and open interviews, guided tour and photographic record. Quantitatively it was used Informant Consensus, which evaluated the loyalty level (NF) Correction Factor (FC) and the relative importance of use agreement (Pcup) between informants users of medicinal plants. They interviewed 44 residents of 36 households visited, mostly female. The age ranged from 25 to 84 years. As for the origin 85% are in the state of Mato Grosso and the rest of the Paraíba state, Parana and Mato Grosso do Sul. In respect to time residing in the community almost half of the interviewees are more than 30 years and the time among all respondents ranged from two months to 76 years of stay in Sucuri. The level of education ranged from illiterate to higher level with emphasis on complete elementary school with approximately 30% and finished high school with 25%. In total they were cited 214 plant species belonging to 74 botanical families, with 1134 citations, and 120 of these species were cited by interviewees for medical ethnocategory that are distributed in 48 botanical families, with 426 citations. The most significant medicinal species were: Plectranthus barbatus Andrews (boldo) cited by 18 interviewees representing an Pcup 89%, Hymenaea courbaril L. (Jatobá) with 17 citations and 61% of Pcup then Strychnos pseudoquina A. St.-Hil . (quina) with 14 citations and Pcup 66%, following Matricaria recutita L. (camomila), 14 quotes and 55% (Pcup), and finally Phyllanthus niruri L. (quebra-pedra), 10 quotes and 55% (Pcup). The empirical use of boldo appointed by the informants to treat diseases of the digestive system may be related to the occurrence of caryophyllene as a major component of its essential oil present in the glandular and non-glandular trichomes. The jatobá which was empirically indicated for diseases of the respiratory system is linked to the anti-inflammatory and antioxidant 15 xv properties contained in this plant. The alkaloids present in the bark of the quina has antimicrobial activity justifying its popular use as a dewormer. Camomila is used by the interviewees, mainly as soothing, this chemically supported by the existence of bioactive as chamazulene and alphabisabolol. Studies also have demonstrated the diuretic, analgesic and kidney stones reducer aqueous extract made from the leaves, aerial parts or whole quebra-pedra break. It can be said that the study population knows the local plant diversity, the management, the origin, the parties used the forms of use and the diseases treated with the use of medicinal plants. It could also record the current situation and warn of the importance of rational use of flora surrounding the process of environmental sustainability related to plant communities as a permanent source of use. Key-words: Ethnobotany; Local knowledge; Medicinal plants. xvi 16 1. INTRODUÇÃO O uso tradicional de plantas medicinais, ferramenta principal dos estudos etnobotânicos, é considerado uma arte que acompanha o ser humano desde os primórdios da civilização, que se baseia no acúmulo de informações repassadas oralmente de geração para geração (FRANCO e BARROS, 2006). O termo Etnobotânica foi empregado pela primeira vez em 1895, pelo ameriano Jhon Harshberger e foi designada para estudar o conhecimento e as conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal, englobando tanto a maneira como o grupo social classifica as plantas, como os usos que dá as mesmas (POSEY, 1981). Nessa percepção, a Etnobotânica passa a configurar um campo interdisciplinar que compreende o estudo e a interpretação do conhecimento, significação cultural, manejo e usos tradicionais dos elementos da flora (CABALLERO, 1979). As plantas utilizadas para fins medicinais representaram a única fonte de tratamento de doenças para o ser humano durante um longo período de tempo. Entretanto, através do desenvolvimento da química farmacêutica, no começo do século XXI, as mesmas passaram a constituir a principal matéria-prima para o desenvolvimento de medicamentos (CARVALHO, 2010). Um fator preponderante para este avanço que revolucionou o mercado de produção de fármacos se deve aos estudos etnofarmacológicos, que em sua prática aliam os saberes empíricos de uma determinada população a respeito à utilização dos recursos vegetais em favor a saúde adquiridos na experiência diária com estudos científicos que buscam comprovar os efeitos farmacológicos existentes nos mesmos. Por este fato, a Etnofarmacologia é considerada uma estratégia na investigação de plantas medicinais, que consiste em 17 combinar informações adquiridas junto aos usuários da flora medicinal, comunidades e especialistas tradicionais, com estudos químicos e farmacológicos (ELIZABETSKY, 2003). Entretanto, ainda nos dias atuais há uma procura significativa por tratamentos não convencionais, entre eles o uso de plantas medicinais. Esta prática mostra que além da ação terapêutica que vem sendo comprovada em muitos estudos científicos, representa uma parte importante da cultura dos povos e necessita ser resgatada, valorizada e divulgada nas comunidades científica e em geral. Nesta perpectiva, um termo bastante atual e pertinente vem sendo utilizado com intuito de revitalizar os conhecimentos empíricos e fundamentar as pesquisas voltadas para o descobrimento de novos fitoterápicos e fármacos. A etnofarmacobotânica, segundo Camargo (2008), é uma ciência voltada para o uso de remédios simples e compostos produzidos a partir de vegetais, direcionados à cura de problemas tanto de ordem física, como mental ou espiritual. Outro ponto a ser observado é a grande evasão da população jovem pertencente às comunidades tradicionais ou de saberes locais para os grandes centros. A razão consiste na busca de melhores oportunidades de estudo ou de trabalhos fazendo com que a perpetuação da cultura, dos costumes e saberes locais caminhem para a extinção. É possível que em alguns anos só ouvir-se-á falar de certas culturas em livros e registros. 18 1.1. OBJETIVOS 1.1.1. Objetivo Geral Investigar e analisar sistematicamente o conhecimento empírico da comunidade Sucuri em Cuiabá – MT sobre a utilização da flora local com enfoque para as plantas medicinais, ressaltando as suas finalidades, formas de usos e as indicações terapêuticas. Bem como realizar um levantamento etnofarmacológico das espécies pertencentes à etnocategoria de uso medicinal mais expressiva para esta comunidade que apresentarem um índice de importância relativa de concordância de usos principais (Pcup) maior ou igual a 50%. 1.1.2. Objetivos Específicos Resgatar o conhecimento empírico sobre o universo vegetal, enfatizando as diferentes etnocategorias de usos locais; Coletar e catalogar as plantas usadas pelos moradores da comunidade Sucuri em Cuiabá – MT; Quantificar o consenso informante dos usuários locais quanto ao uso das plantas medicinais, ressaltando formas de usos, partes utilizadas e indicações terapêuticas; Agrupar as patologias citadas pelos moradores da Comunidade Sucuri em Cuiabá – MT de acordo com a classificação CID-10; Realizar um estudo etnofarmacobotânico das espécies de uso medicinal mais expressiva que obtiveram um Pcup maior ou igual a 50%; 19 2. REFERÊNCIAL TEÓRICO 2.1. AS PLANTAS MEDICINAIS As plantas representaram a única fonte de tratamento de doenças para o ser humano durante muito tempo. Entretanto, através do desenvolvimento da indústria farmacêutica, no início do século XXI, as plantas passaram a constituir a principal matéria-prima para o desenvolvimento de medicamentos (CARVALHO, 2010), que hoje, mesmo com o grande desenvolvimento das drogas alopáticas, passaram representar aproximadamente 25% dos princípios ativos dos fármacos comercializados nos países industrializados (HOSTETTMANN et al., 2003). A Organização Mundial de Saúde (OMS) conceitua plantas medicinais como todo e qualquer vegetal que contêm em um ou mais de seus órgãos substâncias que possam ser usadas com propósitos terapêuticos ou que sejam precursoras de síntese de fármacos (WHO, 1979). A OMS menciona ainda que as plantas medicinais podem ser utilizadas como recurso terapêutico, in natura, para prevenir, aliviar, curar ou modificar um processo fisiológico normal ou patológico, ou como uma fonte de fármaco e de seus percursores (OMS, IUCN, WWF, 1993; WHO, 2000, 2001, 2002). Segundo a mesma organização, cerca de 80% da população mundial utiliza os vegetais na busca da cura para diversas enfermidades, ainda que sem indicação clínica. Assim, pesquisas nessa área podem contribuir na elucidação de dúvidas quanto ao uso, mecanismo de ação e possível ação tóxica dessas drogas, além de propiciar o desenvolvimento de medicamentos com custo e tempo menores, tornando-os mais acessíveis à população (OMS, IUCN, WWF, 1993). O interesse pelas plantas medicinais demonstra uma preocupação do agitado mundo atual para uma volta às suas raízes 20 naturais, livres de agentes perniciosos que afetam a sua qualidade de vida e mesmo encontrando alguns trabalhos já publicados na área, estes ainda são insuficientes (PASA, 2011). O Brasil é um país que apresenta uma enorme biodiversidade e uma rica diversidade étnica e cultural com tradição ao uso de plantas, no entanto possui um vasto potencial para o desenvolvimento de pesquisas resultando em tecnologias e terapêuticas apropriadas. Entre os elementos que constituem a biodiversidade, as plantas são a matériaprima para a fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos convencionais. Também são utilizadas como remédios caseiros em práticas populares. O interesse da população por plantas medicinais como elementos preventivos, coadjuvantes e de cura vem crescendo expressivamente, ligado a novas descobertas na flora medicinal brasileira, que se apresenta como uma das mais ricas e diversas do planeta. 2.2. O CONHECIMENTO TRADICIONAL E O SABER LOCAL De acordo com Moreira (2007) a forma mais antiga de produzir ciência mediante a elaboração de teorias, experiências, regras e conceitos é por meio do conhecimento tradicional. Sabe-se que o homem tem gerado e transmitido conhecimento por milhões de anos, de maneira espontânea e tradicional, de geração em geração com intuito de perpetuar os saberes adquiridos ao longo da vida por uma determinada pessoa ou população. O conhecimento tradicional é um conjunto de saberes de uma comunidade que tem vivido em contato com a natureza ao longo das gerações. Tais saberes incluem um sistema de classificação, uma série de observações empíricas do meio ambiente local, um sistema autônomo organizacional com fortes raízes no passado, um conhecimento ecológico acumulativo e dinâmico o qual é construído sob a experiência de antepassados, mas adaptado às atuais mudanças tecnológicas e socioeconômicas (JOHNSON, 1992). 21 No Brasil, o decreto n.º 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, refere-se ao termo populações tradicionais como povos ou comunidades tradicionais, os quais são definidos pelo Artigo 3 como: “Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007). Diante do exposto pode-se afirmar que Ciência e Saber Local são fontes de conhecimento, no entanto, trazem destaques e pontos de vista distintos. A ciência apresenta uma visão global do conhecimento e o saber local uma visão particular. O trabalho em conjunto destas diferentes visões tem alcançado resultados mais produtivos do que quando realizados em separado. Tal fato é de extrema importância no que se refere à complexa problemática do uso e conservação dos recursos biológicos (AMOROZO, 2002). Doravante, fica claro que as populações tradicionais produzem um conhecimento valioso que está sendo visto nas últimas décadas sob uma nova perspectiva pelos cientistas, pelo poder público, pelo mercado e pela sociedade em geral (CUNHA, 1999; TERRA e DORSA, 2012). Por fim, cabe ressaltar que o saber local sobre o tratamento de diferentes males que perturbam/afetam o ser humano é geralmente demonstrado em conversas com as pessoas mais idosas (inserindo aí os raizeiros, benzedeiras, donas-de-casa etc.) que por um motivo ou outro, carregam consigo essas valiosas informações, recebidas dos antepassados (GUARIM NETO, 2006). E a partir dessas informações que se utilizam os remédios naturais para ocasionalmente, os medicamentos sintéticos. 22 tratamentos substituindo, 2.3. A TRAJETORIA ETNOFARMACOBOTÂNICA NO MUNDO ATUAL Pode-se afirmar que a etnobotânica é antiga em sua prática, mas jovem em sua teoria, já que ela não é tão recente quanto se acredita, pois diferentes estudos demonstram que sua história reformulou as relações entre os seres humanos e as plantas, e aos domínios da botânica aplicada e da etnografia botânica (BALICK e COX 1996; HAMILTON et al., 2003). Pode-se observar, nas últimas décadas, uma evolução no conceito de Etnobotânica e o seu surgimento como uma nova alternativa metodológica representando uma ferramenta ligada ao desenvolvimento dos grupos sociais, dos processos de conservação e melhoramento dos recursos vegetais (DIAGO, 2011). A Etnobotânica, como seu próprio nome expressa, origina-se de duas macro vertentes, a antropologia de um lado e a botânica de outro, porém atualmente outras disciplinas naturais, tecnológicas e sociais tais como a Ecologia, Geografia, Genética, Agronomia, Medicina, Farmacologia, Fitoquímica, Desenvolvimento rural, Arqueologia, Linguística, Psicologia, Economia têm sido cada vez mais usadas como ferramenta (PRANCE, 1991; MORALES, 2002; SLIKKERVEER, 2005). Segundo Steenbock (2006) a etnobotânica contemporânea procura agregar conhecimentos nas áreas de uso e manejo de plantas, agroflorestas domesticação e de manejo plantas, das paisagens, interpretações antropologia cognitiva, iconográficas, aspectos simbólicos de preparações psicoativas, etc.; exigindo uma interação interdisciplinar e o uso de metodologias adequadas. Um fator que merece destaque desta ciência é sua dedicação à recuperação e estudo do conhecimento que as diversas sociedades e culturas de todo o mundo expressam sobre as propriedades das plantas e sua utilização em todos os âmbitos da vida, seja ela moderna ou tradicional. Isso constitui um grande marco para o estudo das complexas relações humanidade-planta em suas dimensões simultaneamente antropológicas, botânicas e ecológicas. 23 As pesquisas etnobotânicas, segundo Araújo (2009), são hoje importantes ferramentas de registro e documentação dos usos empíricos de plantas, principalmente da etnocategoria medicinal, em comunidades tradicionais ou desenvolvimento de de saber novos local, gerando medicamentos, conhecimento à útil ao conservação da biodiversidade, a valorização do saber e da cultura local. É importante ressaltar que o período entre as décadas de 1950 a 1980 foi a época em que os estudos etnobotânicos resultaram em grandes contribuições para o conhecimento científico na área de farmacologia e sociedade em geral. A indústria farmacêutica utiliza matérias-primas de origem vegetal que foram descobertas nestes estudos, cujas informações foram obtidas a partir de curandeiros, xamãs e bruxas. Tais indivíduos indicavam plantas cujos princípios ativos são hoje utilizados para a elaboração de fármacos (CARVALHO, 2006). Neste contexto, a etnofarmacologia, considerada uma vertente da etnobiologia, trata da relação entre homens e vegetais na busca de cura para determinada enfermidade e está definida por Bruhn e Holmstedt (1982) como: “[...] a exploração científica interdisciplinar dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem”. De acordo com Alburquerque (2002) um dos objetivos da etnofarmacologia é investigar e estudar o uso de plantas com finalidades medicinais com o firme propósito de oferecer elementos práticos para outros investigadores nas áreas de fitoquímica e farmacologia, favorecendo a descoberta de novos fármacos. Entretanto, um termo ainda mais atual vem sendo utilizado para contemplar os estudos voltados as plantas medicinais, agrupando as duas macro áreas da ciência interdisciplinar esclarecidas acima, a Etnofarmacobotânica. Esta vertente procura viabilizar o uso das plantas medicinais que possuem atividades farmacológicas que estão envolvidas em diferentes situações da vida do homem e seu grupo social (CAMARGO, 2008). 24 A Etnofamacobotânica vem oferecendo grandes contribuições ao meio científico, sendo as principais: a) descoberta de substâncias de origem vegetal com aplicações na medicina e indústrias, devido ao crescente interesse pelos compostos químicos naturais; b) busca do conhecimento e preservação de drogas vegetais e seu efeito no comportamento individual e coletivo dos usuários, frente a determinados estímulos culturais ou ambientais; c) busca do reconhecimento e preservação de plantas potencialmente importantes em seus respectivos ecossistemas; d) à documentação do conhecimento tradicional e dos complexos sistemas de manejo e conservação dos recursos naturais dos povos tradicionais (ALBUQUERQUE, 2002). Portanto, essas disciplinas, entre outros aspectos, vem corroborando com a ciência da saúde por permite o resgate da importância cultural do uso das plantas para fins terapêuticos de determinado grupo populacional, bem como entender a história e a relação do homem com essas plantas (ALBUQUERQUE, 2005; ALBUQUERQUE e HANAZAKI, 2006). 2.4. UNIDADES DE PAISAGENS 2.4.1. Cerrado O Cerrado que representa cerca de 23% da extensão territorial do Brasil, compreende tipos vegetacionais e espécies de fauna e flora endêmicas e caracteriza-se por apresentar três grandes tipos de fitofisionomias: Formações Florestais (predominância de espécies arbóreas, com formação de um dossel contínuo ou descontínuo), Formações Savânicas (árvores e arbustos espalhados sobre o estrato graminoso, sem a formação de dossel contínuo) e Formações Campestres (áreas com predomínio de espécies herbáceas e algumas arbustivas, faltando árvores na paisagem), que apresentam vários subtipos (RIBEIRO e WALTER, 1998). 25 Pode-se afirmar ainda que o cerrado compreende um complexo de formações oreádicas (cobertura vegetal campestre que não seja propriamente uma floresta), que vão desde o campo limpo até o cerradão, concebendo suas formas savânicas (campo sujo, campo cerrado e cerrado sensu stricto) verdadeiros ecótonos de vegetação entre a forma florestal, representada pelo cerradão, e a campestre, constituída pelo campo limpo (COUTINHO, 1978). Embora o termo Cerrado seja internacionalmente considerado com uma savana, ele também pode aceitar dois conceitos: o primeiro baseia-se em sua composição fitofisionômica e o segundo indica um grande tipo de ecossistema com uma vegetação particular (COUTINHO, 2006) sendo assim, o mesmo autor afirma que o Cerrado não é um bioma único, mas um conjunto de biomas resultando em um mosaico de comunidades ecologicamente interligadas, desde campo limpo a cerradão. Neste sentido, mais recentemente, Batalha (2011) discute o emprego correto da palavra “cerrado” q u e p o s s u i três sentidos: “ i) Cerrado, com a inicial maiúscula, quando estivermos nos referindo ao domínio fitogeográfico do Cerrado, incluindo não só o cerrado sensu lato, mas também os outros tipos vegetacionais que ali se encontram; ii) cerrado sensu lato ou simplesmente cerrado, quando estivermos nos referindo ao cerrado enquanto tipo vegetacional, isto é, do campo limpo ao cerradão – aqui há um complexo de biomas, bioma dos campos tropicais, das savanas e das florestas estacionais; e iii) cerrado sensu stricto, quando estivermos nos referindo a uma das fisionomias savânicas do cerrado sensu lato.” Esta vegetação abrange cerca de dois milhões de quilometros quadrados e engloba os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, São Paulo e o Distrito Federal, e parte dos Estados do Pará, Roraima e Amapá (FERREIRA, 2009). Com relação a sua hidrografia, o Cerrado encontra-se recortado pelas bacias do Amazonas, Tocantins, Paraná, 26 Paraguai, São Francisco e Parnaíba. Encontram-se ainda as nascentes das bacias Platina, Amazônica e Franciscana (DIAS, 1992). Pode-se assegurar que a biodiversidade do Cerrado é elevada devida existência de uma grande diversidade de habitats e alternância de espécies. Quarenta e quatro por cento da sua flora é endêmica, tornando o Cerrado na mais diversificada savana tropical do mundo (KLINK e MACHADO, 2005). O cerrado é bastante rico em espécies utilizadas na medicina popular, em função de características morfológicas, como xilopódios e cascas, que acumulam reservas e, com frequência, possuem substâncias farmacologicamente ativas. Além disso, este bioma apresenta grande diversidade em ordem, famílias e gêneros e quanto maior for a diversidade taxonômica em níveis superiores, maior é o distanciamento filogenético entre as espécies e maior é a diferença e diversidade química entre elas, demonstrando assim, sua importância para pesquisas com plantas medicinais (FARNSWORTH, 1988). 2.4.2. Matas Ripárias As formações ripárias são entendidas como os diversos tipos de vegetação arbórea vinculada às margens de cursos d’água (AB’SÁBER, 2001). As zonas ripárias representam a interface entre ecossistemas terrestres e aquáticos, interação existente em qualquer ambiente preservado de floresta, com presença de nascentes, córregos ou rios. As mesmas estendem-se horizontalmente até o limite onde a inundação alcança e, verticalmente, até o topo da copa da vegetação (LIMA, 2002). As matas ripárias que também são conhecidas por matas de galeria ou matas ciliares possuem uma sutil diferença quando recebem essas denominações. Nas matas de galeria, a vegetação se conecta sobre o curso d’àgua, regiões próximas as nascentes, formando um túnel; enquanto, nas matas ciliares, o dossel não se conecta, formando corredores cortados pelo rio (RIBEIRO e WALTER, 2001). 27 Cabe ressaltar que as matas de galeria ou ciliares possuem peculiaridades fisionômicas e florísticas que permitem separá-las em dois subtipos: não inundável, quando em solos bem drenados e inundável, em solos mal drenados (GUARINO e WALTER, 2005). Essas formações florestais apresentam um ambiente muito heterogêneo, com elevado número de espécies, refletindo assim o índice de diversidade maior do que o encontrado em outras formações florestais do Cerrado (RIBEIRO e SCHIAVINI, 1998). Felfilli et al. (2001) avaliaram que as matas ribeirinhas englobam cerca de 89% das famílias botânicas, 62% dos gêneros e 33% das espécies de espermatófitas para todas as formações do Cerrado, mesmo correspondendo um total de 5% dessa formação constituindo um ecossistema de alta complexidade e com uma vasta diversidade biológica. O ecossistema ripário desempenha um dos mais importantes serviços ambientais como mantenedor dos recursos hídricos, em termos de vazão e qualidade da água (LIMA, 2003). O mesmo pode ser considerado um sistema de drenagem de uma bacia hidrográfica por regular o fluxo de água, de sedimentos e de nutrientes entre os terrenos mais altos da bacia e o ecossistema aquático (GONÇALVES et al., 2005). Em sua função ecológica de manutenção da biodiversidade pode-se destacar que o ecossistema ripário reside como corredores ecológicos de extrema importância para o fluxo da fauna, assim como para a dispersão vegetal (LIMA e ZAKIA, 2000; CAMPOS, 2006). 2.4.3. Quintais Os quintais são uma das formas mais antigas de manejo da terra (AMARAL e GUARIM NETO, 2008) que persiste até os dias atuais, instituindo uma tradição que vem sendo passada de geração em geração. Esses espaços geralmente estão situados ao redor de residências, casas, moradias que devido às limitações do seu tamanho recebem e 28 estabelecem inúmeras funções acerca de seu uso e aplicabilidade (MOREIRA e GUARIM NETO, 2015). Uma das mais importantes unidades de paisagem utilizadas nos estudos etnobotânicos são os quintais, tanto rurais como urbanos, por serem locais ricos em diversidade vegetal e de conservação da biodiversidade. O quintal, de uma forma geral, pode ser compreendido como um espaço de usos múltiplos que fica próximo à residência do grupo familiar (AMOROZO, 2008). Segundo Garrote (2004), os quintais são considerados importantes sistemas de produção complementar às outras formas de uso da terra (a roça e a floresta), que compreende inclusive as funções correspondentes aos valores estéticos, de lazer e aos aspetos emocionais ligados às tradições de um determinado povo ou região. Costantin e Vieira (2004) citam como características gerais dos quintais sejam eles urbanos ou rurais: a) produção de alimentos para o consumo familiar; b) criação de pequenos animais; c) local para adaptação de variedades ou espécies novas de plantas; d) a produção de matéria prima para o artesanato; e) produção de plantas medicinais e ornamentais; f) local de beneficiamento de produtos agrícolas produzidos em outras áreas da propriedade; g) espaço de convivência agradável e recreação. De acordo com Pasa (2004) a produção nos quintais conserva não só os recursos vegetais como também a riqueza cultural, fundamentada no saber e na cultura dos moradores locais. 29 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O estudo foi realizado na Comunidade Sucuri, considerada politicamente como Distrito do município de Cuiabá, circunscrita nas coordenadas geográficas latitude 15º 32’ 50” Sul e longitude 56º 09’ 30” Oeste. A comunidade está localizada na porção Centro-Sul do Estado de Mato Grosso, distante 10 km da Capital do Estado sentido à antiga estrada da Guia na MT 140, estabelecido à margem esquerda do Rio Cuiabá, conforme a Figura 1. Altitude média é de 125 metros. Possui clima tropical semiúmido, apresentando duas estações bem definidas: uma seca (outono-inverno) e outra chuvosa (primavera-verão), predominando altas temperaturas, com médias de 24 a 34°C de acordo com a classificação Aw Köppen (IBGE, 2010). 30 3.2. SUJEITO DA PESQUISA Os sujeitos participantes da pesquisa foram os moradores da Comunidade Sucuri que atenderam os seguintes critérios de inclusão: ambos os sexos, maiores de 18 anos de idade e que após a explicação do objetivo do estudo aceitaram de livre e espontânea vontade participar do mesmo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (ANEXO). 3.3. TIPO DE PESQUISA A metodologia da pesquisa abordará tratamentos qualitativo e quantitativo, quais sejam: Segundo Minayo (2007) para análise qualitativa deve-se levar em consideração os níveis mais profundos das relações sociais, operacionalizando-os através dos aspectos subjetivos, visando compreender a lógica interna de grupos, instituições e atores quanto aos valores culturais e representações sobre sua história. Para a análise quantitativa será utilizado o Nível de Fidelidade (NF), Fator de Correção (FC) e o Pcup (%). Esses cálculos expressam o consenso informante e permite avaliar a importância relativa de cada planta segundo Friedman (1986); Amorozo e Gelly (1988); Albuquerque e Andrade (2002); Pasa, (2007; 2011); Pasa et al. (2013). 3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA 3.4.1. Bola de Neve (Snowball) A técnica Bola de Neve, também conhecida por Snowball, foi introduzida por Coleman (1958) como sendo um método que não se utiliza de um sistema de referências, mas sim de uma rede de amizades dos membros existentes na amostra. Este tipo de método baseado na 31 indicação de indivíduos é também conhecido como método de cadeias de referências. Esta técnica é conhecida como uma forma de amostra não probabilística bastante utilizada em pesquisas Etnobôtanicas onde os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que por sua vez indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o “ponto de saturação”. O “ponto de saturação” é atingido quando os novos entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, sem acrescentar novas informações relevantes à pesquisa (WHA, 1994). A Amostra Não Probabilista é obtida a partir do estabelecimento de algum critério de inclusão, e nem todos os elementos da população alvo têm a mesma oportunidade de serem selecionados para participar da Amostra. Este procedimento torna os resultados passíveis de não generalização (BICKMAN e ROG, 1997). Para esta pesquisa, primeiramente foi feito o contato com um dos moradores mais antigos da comunidade que apresentou o presidente de bairro e por meio destes dois representantes os outros informantes foram sendo indicados. A pergunta norteadora da pesquisa foi: Você conhece alguém para me indicar para que eu possa realizar esta mesma entrevista? 3.4.2. Entrevista Semiestruturada A entrevista semiestruturada é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do entrevistado. Este, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. É útil esclarecer que essas perguntas fundamentais que constituem, 32 em parte, a entrevista semiestruturada, são resultado não só da teoria que alimenta a ação do investigador, mas também de toda a informação que ele já recolheu sobre o fenômeno que interessa (MINAYO,1994). Para esta pesquisa o roteiro de questões finais da entrevista semiestruturada (APÊNDICE) foi elaborado após a aplicação do pré-teste, cujo foco principal foram os objetivos do estudo, mas deixando o informante à vontade para expressar seus conhecimentos (AMOROZO e VIERTLER, 2010). As questões foram divididas em abertas (open-ended) e fechadas (closed-ended) (ALBUQUERQUE et al., 2010b). 3.4.3. História Oral A história oral esclarece experiências, acontecimentos e relações concretas vivenciadas pelo depoente em sua trajetória de vida, neste caso o informante é soberano para manifestar ou ocultar os fatos (MEIHY, 1996). Esta técnica não foi utilizada em todas as entrevistas, mas sim nos casos pertinentes em que o pesquisador sentiu a necessidade em esclarer os fatos, acontecimentos e circunstâncias vivenciadas ou presenciadas por estes informantes. 3.4.4. Diário de Campo O diário de campo tem por finalidade registrar as informações e acontecimentos pertinentes à pesquisa, sendo uma importante ferramenta usada durante a coleta de dados. Foram registrados no final do dia os acontecimentos, informações pessoais e pertinentes às emoções, sentimentos e percepções da relação do pesquisador com as pessoas e cotidiano no campo (AMOROZO e VIERTLER, 2010). Também se utilizou uma máquina fotográfica digital para armazenar imagens que envolvem o manejo das plantas, bem como dos diferentes equipamentos e materiais in loco. 33 3.4.5. Turnê Guiada Para fundamentar e validar os nomes das plantas citadas nas entrevistas (PHILLIPS e GENTRY, 1993a; FONSECA-KRUEL e PEIXOTO, 2004; ALBUQUERQUE et al., 2010b) foi realizada a turnê guiada por meio de trilhas percorridas nos locais onde se encontra a vegetação. Estes percursos foram realizados em todas as entrevistas com cada um dos informantes nas diferentes Unidades de Paisagem encontradas no local. Esta técnica também forneceu subsídios para coleta de material botânico para identificação científica. As espécies citadas e usadas pelos informantes, que ocorrem na região, foram coletadas, identificadas por especialistas e MOBOT, Missouri Botical Garden, NY, herborizadas e incorporadas no Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá. 3.5. COLETA DE DADOS As visitas ocorreram entre os meses de março a dezembro de 2014, no período entre 8h às 11 horas e das 13h às 17 horas, com dias variando de segunda a sábado. As entrevistas iniciavam-se normalmente com as pessoas sentadas na área da casa ou até mesmo no quintal e finalizava com a turnê guiada pelo entrevistado por meio da vegetação com intuito de reconhecer as espécies no local. As perguntas que nortearam a entrevista sobre os dados socioeconômicos foram: Idade, sexo, religião, atividade profissional, escolaridade, renda familiar, estado civil, cor, número de pessoas na família, entre outras. Foram abordadas ainda questões referentes ao estado e hábitos de saúde, sobre o imóvel e quintal e por fim os dados etnobotânicos, que resgatam a relação do ser humano com as plantas nas diferentes unidades de paisagens locais e as diversas etnocategorias de usos pela população em estudo. 34 3.6. LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO Com intuito de auxiliar o levantamento etnobotânico foi utilizado o registro fotográfico para obtenção de dados relacionados à vegetação citada pelo informante, nas diferentes unidades de paisagem. De mesmo modo, foram anotados nas entrevistas aspectos estritamente relativos às informações dos participantes sobre as espécies vegetais e seus dados referentes ao(s) nome(s) popular(es), parte(s) utilizada(s), forma de uso(s) popular(es), modo(s) de administração e indicação(ões) de uso(s). Algumas plantas usadas pelos informantes foram identificadas no local da entrevista de acordo com o conhecimento do autor. De outras foram coletadas amostras vegetais, especialmente as estruturas reprodutiva e vegetativa, para montagem de exsicatas e posterior identificação botânica com auxílio dos técnicos por comparações com amostras do Herbário do Central herbário da e Universidade Federal de Mato Grosso. Após a identificação, as exsicatas foram incorporadas ao Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Os nomes científicos e suas respectivas famílias botânicas foram classificados de acordo com o sistema de taxonomia vegetal APG III (Angiosperm Phylogeny Group, 2009). 3.7. LEVANTAMENTO ETNOFAMACOBOTÂNICO Para o estudo etnofarmacobotânico foi realizado um levantamento bibliográfico com intuito de verificar os metabólitos secundários e os princípios ativos das espécies citadas como medicinais que foram mais expressivas entre os depoentes da Comunidade Sucuri que atingiram 50% ou mais de importância relativa de concordância de usos principais (Pcup). Realizou-se também a identificação das estruturas anatômicas do Plectranthus barbatus Andrews no Laboratório de Anatomia Vegetal do Instituto de Biociências – IB/UFMT campus Cuiabá – MT, com auxílio do microscópio óptico. Para o mesmo foi utilizada a técnica de lâmina a 35 fresco de secção transversal segundo Raven et al. (2011) com material coletado in loco no quintal de um dos moradores da Comunidade Sucuri, conforme esquematizado na Figura 2. 3.8. ANÁLISE DOS DADOS As informações obtidas por meio das entrevistas foram organizadas em um banco de dados no Excel. Os dados socioeconômicos foram analisados qualitativamente utilizando estatística descritiva. As plantas citadas nas entrevistas foram agrupadas em cinco etnocategorias de uso: Alimentar, Medicinal, Ornamental, Múltiplos usos e Outros usos. Para a análise quantitativa foi utilizado o Nível de Fidelidade (NF), Fator de Correção (FC) e a importância relativa de concordância de uso – Pcup (%). Esses cálculos expressam o consenso informante e permite avaliar a importância relativa de cada planta segundo Friedman 36 (1986); Amorozo e Gelly (1988); Albuquerque e Andrade (2002); Pasa, (2007; 2011); Pasa et al. (2013) através das fórmulas: NF = Fid x 100 Fsp Nível de Fidelidade (NF) consiste na razão entre o número de informantes que sugeriram o uso de uma espécie para uma finalidade maior (Fid) pelo número total de informantes que mencionaram a planta para algum uso (Fsp), multiplicado por 100. FC = Fsp / uso mais citado O Fator de Correção (FC) é dado pela razão entre o número total de informantes que mencionaram determinada planta para algum uso (Fsp) pelo número da finalidade de uso mais citada. Pcup (%) = NF x FC Pcup (%) que tem por finalidade apresentar a frequência relativa do uso de cada espécie citada e é operacionalizado pelo produto do Nível de Fidelidade (NF) com o Fator de Correção (FC). 37 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO Foram entrevistados 44 indivíduos, moradores das 36 residências visitadas, sendo a maioria do sexo feminino (77%) e com um total de 10 depoentes representando o universo masculino. Siveiro et al. (2014), em sua pesquisa realizada em três bairros da cidade de Rio Branco no Acre, também mencionou que maioria dos informantes foi do gênero feminino e que as mesmas eram casadas. Estes dados são semelhantes também para muitas pesquisas etnobotânicas realizadas no Mato Grosso (PASA, 2007; BIESKI, 2010, 2015; De DAVID e PASA, 2015; MOREIRA e GUARIM NETO, 2015). Esta ocorrência se deve porque, geralmente, as mulheres se ocupam com as tarefas do lar e os cuidados com os filhos por isso, passam mais tempo em casa e apresentam maior disponibilidade para participar de estudos deste gênero. As tonalidades de cor da pele variaram de negros à brancos com predominância para negros que revela a origem dos moradores da comunidade local como sendo afrodescendentes e indígenas. A idade entre os informantes variou de 25 a 84 anos, tendo como representante da idade mais avançada o sexo masculino. No estudo de Almeida et al. (2014) realizado nas Comunidades Tradicionais da região de Barão de Melgaço, Estado de Mato Grosso obteve resultados semelhantes tendo como faixa etária dos informantes a variação entre 33 e 85 anos de idade. A faixa etária predominante entre os depoentes foi entre os 45 a 69 anos de idade para as mulheres e maior que 69 anos para os homens (Figura 3). 38 A religião católica obteve 57%, seguida da evangélica com aproximadamente 30%, na sequência a espírita com quase 10% e ainda dois homens relataram não possuírem religião. Bieski (2015) em seu estudo no Vale do Juruena, Estado do Mato Grosso, também destacou que a maioria dos informantes é católica. Em relação ao estado civil dos depoentes houve um destaque para os casados totalizando 23 indivíduos, quatro informantes referiram morar juntos, porém não oficializaram a união, constituindo assim a categoria dos amasiados. Os viúvos são representados por sete pessoas, cinco referiram serem viúvos do primeiro casamento, porém hoje vivem amasiados com outro conjuguê, três mencionaram serem solteiros e dois são divorciados. O grau de instrução variou de não escolarizado até nível superior com ênfase para ensino fundamental completo aproximadamente 30% e ensino médio completo com 25% (Figura 4). 39 com O Estado de Mato Grosso foi o estado de origem que mais sobressaiu entre os moradores com um percentual de 86,5%, sendo que muitos citaram ter nascido no próprio Distrito Sucuri e já constitui a terceira geração da àrvore geonealógica da família. Dentre os outros Estados de origem que foram mencionados estão Mato Grosso do Sul, Paraná e Paraíba. Coraborando com os achados acima Oliveira (2013) estudando a Comunidade de Santo Antônio do Caramujo, em Cáceres – MT, encontrou dados bastante semelhantes, pois a maioria dos moradores é oriunda do estado de Mato Grosso (9) e entre outos estados também foi citado Mato Grosso do Sul (5) e Paraná (5). O tempo de residência dos depoentes no Distrito Sucuri teve uma variação de dois meses até 76 anos. De acordo com os dados expressos na Figura 5 pode-se perceber que quase a metade dos entrevistados reside a mais de 30 anos na Comunidade Sucuri. Este dado é de extrema importância por revelar a tradicionalidade cultural de um determinado povo. 40 A atividade exercida atualmente por esta população foi maior representada pela classe dos aposentados com 34%, do lar com 14% e classificados como outros estão: comerciantes, cabeleireira, costureira, pescador, merendeira, entre outros. O estudo realizado no Acre por Siveiro et al. (2104) também apontou os ‘aposentados’ e as ‘donas de casa’ como as principais categorias de ocupação. A renda familiar que mais se destacou foram os que recebem entre um a três salários mínimos com um percentual de 68%, seguida dos que recebem mais que três salários com 23% e os que se mantém com até um salário são representados por 9%. Referindo-se ao estado de saúde destes informantes e seus hábitos pode-se identificar, através das informações emitidas pelos depoentes, que 57% dos mesmos possuem algum tipo de doença crônica, como diabetes, hipertensão arterial, hipotireoidismo entre outras. Três informantes do sexo feminino relataram não possuir nenhuma patologia no momento, porém disseram que já fizeram tratamento para câncer. E 36% dos depoentes que sofrem de alguma das patologias citadas referiram estar acometidos por mais de uma das enfermidades, como por exemplo, Diabetes Mellitus associado com Hipertensão Arterial, destes sete são do sexo feminino e dois do sexo masculino (Figura 6). 41 Do total de entrevistados 80% não praticam nenhuma atividade física e relatam não fazer uso de cigarros. Quanto à assistência à saúde 61% dos depoentes possui plano de saúde e entre estes o mais citado foi a Pax Nacional Prever que não tem cobertura total, mas sim um auxílio em consultas e exames. A maioria das residências é de alvenaria e o imóvel próprio, sendo que alguns disseram adquiri-los como herança de família. Um informante relatou morar de favor na casa de uma irmã e outro mencionou residir na casa dos pais e por fim um citou ter alugado a casa onde reside atualmente. A quantidade de peças variou entre três a dez cômodos. A energia elétrica e a água encanada estão presentes em 100% das residências e o Distrito Sucuri como um todo não possui rede de esgoto e sim sistema de fossa séptica. 42 4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIENTAL DA COMUNIDADE 4.2.1. Aspectos Históricos e Culturais A comunidade Sucuri, hoje considerada politicamente como distrito do município de Cuiabá, iniciou há décadas com a migração, principalmente, das pessoas que moravam em terras do lado de cima do rio Cuiabá. Essas pessoas se apossaram das terras que eram recobertas por vegetação nativa, sendo o cerrado e as matas ripárias as mais expressivas, e construíram suas casas e formaram seus quintais conservando assim alguns elementos da flora. A origem do nome Sucuri é revelada nas falas dos moradores conforme o relatado a seguir: “O povo conta que na época que as muié lavava as ropas na barranca do rio uma delas enquanto tava esfregando a roupa numa pedra, deixou o cesto de ropa descançá na pedra du lado achando que era uma pedra, mas na verdade era uma sucuri enrolada, por isso que viro Sucuri o nome daqui.” (A., 73 anos. Sucuri, 2014). “Os mais veio contava que tinha muita sucuri aqui...vivia sumindo mamote, galinha e outros bichinho...ainda tem sucuri, mas não tanto igual antigamente.” (T. M. O., 63 anos. Sucuri, 2015). Os primeiros moradores viviam com pouca infraestrutura, pois não havia asfalto, energia elétrica, água encanada, muito menos coleta de lixo e transporte público. O acesso à educação e à saúde era exclusivamente ofertado na cidade de Cuiabá fortalecendo a prática do uso das plantas medicinais e dos remédios caseiros entre os moradores do local. Outro marco importante, recordado por muitos informantes, é que naquela época as mulheres lavavam suas roupas nas margens do rio Cuiabá e enquanto esfregavam suas roupas nas enormes pedras que ali se encontram até nos dias de hoje (Figura 7) conversavam por horas e 43 trocavam seus conhecimentos sobre as diversas formas de usos e preparos utilizando a flora para fins terapêuticos. Hoje se percebe traços da modernidade transformando esta comunidade. A Sucuri atualmente possui ruas principais asfaltadas, rede de água e luz elétrica em cem por cento das residências. Possui serviço de coleta de lixo semanal. Linha de transporte público com vários pontos de ônibus. Conforme ilustrado na Figura 8, há presença também de uma escola municipal, uma creche, um centro comunitário, um centro de saúde com algumas especialidades médicas, uma igreja católica, um centro espírita, algumas igrejas evangélicas e alguns comércios como bares, lanchonetes e mercearias. Muitos outros elementos da evolução como, por exemplo, uso de aparelhos celulares e internet são comuns de serem observados. Todos esses fatores facilitam muito a vida das pessoas, 44 porém podem dificultar a perpetuação dos costumes e da cultura de uma determinada população. Segundo Valentini et al. (2008) essa transformação também pode ser observada na comunidade de Bom Sucesso, em Varzea Grande – MT que mesmo mantendo muitos dos seus costumes, também se caracteriza por uma situação sócio-econômica em transformação. Ainda se faz presente e atuante uma associação sem fins lucrativos com oficinas de recreação e atividades educativas direcionadas para as crianças moradoras dessa comunidade e região, conforme informações colhidas, a Associação Criança Feliz (ACRIFE) está localizada na estrada Velha da Guia, 09 Km, Distrito Sucuri, Cuiabá – MT. Seu horário de funcionamento atualmente é aos sábados das 7h às 11h e das 13h às 17h. A Figura 9 ilustra algumas das atividades e dependências desta associação. 45 As festas que expressam a tradicionalidade cultural da Comunidade Sucuri são principalmente de caráter religioso, sendo as mais citadas: festa de São Benedito e Sant’ana que acontece na igreja católica de São Benedito normalmente no mês de outubro, desde quando a mesma foi inaugurada. A festa de Nossa Senhora Aparecida juntamente em comemoração ao dia das crianças é sempre realizada no dia 12 de outubro na casa de uma das moradoras mais antigas da comunidade Sucuri. Foi mencionada também a Festa de Nossa Senhora da Guia que é comemorada em agosto na residência de um morador que traz esta 46 tradição de família e por fim a Festa de Cosme e Damião que é organizada pelos irmãos de uma família tradicional que estende o convite para familiares e amigos que queiram comemorar com eles em sua residência. A Figura 10 ilustra a festa de São Benedito e Sant’ana que ocorreu no dia 15 de novembro de 2014, pois devido à eleição para Presidência da República neste ano não foi realizada no mês de outubro como de costume. As comemorações iniciaram às 7 horas da manhã com a procissão saindo e retornando à igreja São Benedito, logo após teve a missa, em seguida no salão paroquial serviram o tradicional “tchá com bolo”, e em torno do meio dia foi servido o almoço para aqueles que compraram o ingresso no valor de 15,00 reais. No período da tarde a animação foi com uma banda de música e muita dança. O dinheiro arrecadado é destinado para a melhoria e ampliação da igreja. 47 A festa de Nossa Senhora Aparecida, como de costume, ocorreu no dia 12 de outubro de 2014 no quintal de uma das mais queridas, conhecidas e tradicionais moradoras do Distrito Sucuri. A festa teve inicio às 8 horas da manhã com o tradicional “tchá com bolo”, após teve a celebração com a benção das crianças, no almoço foi servido o tradicional prato cuiabano Maria Isabel a todos os presentes. No período da tarde teve atrações e lembrancinha para as crianças. Esta festa é realizada com a colaboração de toda a comunidade, sendo por meio de doações ou prestação de serviço. A Figura 11 retrata os momentos mais importantes da festa. 48 4.2.2. Aspectos Ambientais 4.2.2.1. Quintais Pode-se observar que os quintais do Distrito Sucuri são bastante variados tanto em tamanho, formas, quantidade e variedade de espécies vegetais como nas diversas funções acerca de seu uso. Os mesmos não foram mensurados, porém pode-se perceber a existência de quintais de todos os tipos desde os que ocupam somente uma das partes do terreno residencial até os que circunvizinham toda casa (frente, lateral e fundo) (Figura 12). Existem quintais limitados por muros e cercas e também aqueles que o limite é a própria vegetação nativa (Figura 13). Encontram-se ainda terrenos compartilhados, onde antigamente era uma chácara que após herdarem dos pais foi repartido entre os irmãos ou os filhos que casaram e construíram suas casas próximas dos pais e assim dividindo espaço no mesmo lote (Figura 14). 49 A quantidade de espécies vegetais presentes em todos os quintais visitados (36) variou entre 8 a 55 espécimes, com uma média de aproximadamente 23 espécies vegetais por quintal, conforme a Figura 15. Quanto aos cuidados dispensados ao manejo dos quintais a maioria é do 50 sexo feminino, pois tem como status social a situação de aposentadas e do lar e desta forma a frequência dos trabalhos dispensados varia de uma a três vezes ao dia, dependendo da estação do ano. Além das espéceis cultivadas nos quintais os moradores citaram que utilizam este espaço para diversos outros fins, como por exemplo: se reunir com os amigos e familiares; lavar e estender suas roupas; cerimônias religiosas e comemorativas; criação de animais entre outras utilidades. Para De David (2015) os quintais urbanos de Várzea Grande também são bastante versáteis e desempenham inúmeras funções, pois é nos quintais que se encontra a caixa d’água, a lavanderia, a cozinha, o jirau, o forno e o pilão, bem como acontecem as rodas de conversas, rezas, festas e danças. Em relação à importância que o quintal representa para os participantes da pesquisa pode-se dizer que 100% deles demostraram certa “estima”, que conforme Tuan (1980) destaca o termo Topofilia como 51 “...um neologismo, útil quando pode ser definida em sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiental, significando sentimentos com o lugar, o locus onde foram adquiridos conhecimento e sabedoria do seu trabalho e do seu lazer”. Muitos ainda revelaram que não se viam morando em casas sem quintal muito menos em apartamento, pois para eles esta unidade de paisagem é peça integrante da casa. São os laços, pelos quais áreas espaciais geográficas como os quintais ganham o status de lugar, por ser dotado de valor ou significado humano. Ao se abordar sobre os aspectos topofílicos um morador relatou: “Eu nasci no mato...moro aqui muitos anos...adoro meu quintal...passo mais tempo sentado aqui debaixo desse pé de manga do que dentro de casa...me sinto livre...nem posso imaginar eu preso dentro dum apartamento lá na cidade”. (J.K.L, 73 Anos. Sucuri, 2014). Os depoentes também mencionaram que para manter o quintal limpo, bonito e organizado precisam de tempo e disposição. A seca foi à época do ano que os entrevistados relataram como sendo a mais trabalhosa para cuidar dos quintais, com 61% do total dos informantes. Praticamente a metade dos informantes respondeu que despende cuidados com o quintal todos os dias, normalmente pela manhã, tarde ou ao entardecer e 73% não compram insumos, usam apenas métodos e produtos naturais, como terra preta e esterco de animais. A maioria informou que o principal destino das folhas e capinas vão para fazer a compostagem, que serve de adubo para as plantas. Alguns informantes referiram amontoar as folhas e depois que estiver em fase de decomposição as utilizam e outros fazem buracos e as enterram usando esta terra para plantar. 52 4.2.2.2. Os Quintais e os Animais Não são somente as plantas que ocupam os quintais, os animais também são referidos como parte integrante desse cenário. Os mesmos variam bastante em quantidade, espécie e função desempenhada. Em 80% dos quintais visitados apresentaram alguma espécie de animal, entre as principais estão: cachorro (Canis familiaris), gato (Felis catus), periquito (Brotogeris tirica), galinha (Gallus gallus), galo (Gallus gallus), pato (Anas platyrhynchos), garnizé (Gallus gallus), porco (Sus domesticus), canarinho (Sicalis flaveola), nandaia (Aratinga auricapillus). As funções desempenhadas por eles são bem diversificadas variando de estimação, segurança, até consumo e comercialização. Muitos informantes se referiram aos animais de estimação como cachorro, gato, periquito, anandaia e canário demonstrando sentimento de muito carinho, ternura, amor e zelo. O cachorro além de ser amigo e companheiro também foi mencionado muitas vezes como uma forma de proteção para a casa e a família. Já o gato ajuda a manter a casa longe dos ratos e os pássaros vivem em galiolas, porém algumas espécies são soltas em determinado período do dia. Seus donos relataram ainda que adoram acordar com o canto de seus bichinhos e se comunicar com eles. As galinhas e os porcos são criados tanto cercados em galinheiros e chiqueiros, respectivamente, como soltos nos quintais. Os mesmos foram citados principalmente para fins alimentícios, sendo para o consumo próprio ou para comercialização, servindo como renda extra para o auxilio das despesas da família. Os galos e os garnizés também vivem cercados e soltos dependendo da residência e servem mais para reprodução. Os patos são animais que conferem beleza para seus proprietários que criam os mesmos livres pelos quintais. A alimentação dos animais é basicamente ração e comida (cães e gatos); milho, ração e restos de comida (galinhas, galo, pato e galizé); frutas e alpiste (periquitos, nandaias e canarinhos); e restos de comida (porco). 53 A quantidade de animais por quintal variou de nenhum chegando ao máximo de 85, com média de 10 animais por quintal. Para os quintais que apresentaram pelo menos algum tipo de animal a quantidade de espécie variou entre uma a seis tipos diferentes. A Figura 16 ilustra a quantidade total de animais encontrados nos quintais da comunidade Sucuri classificados por espécie. Semelhantes aos achados expostos na Figura 16 pode-se destacar o estudo de Costa (2015) que ao realizar sua pesquisa na Comunidade Rural Rio dos Couros, em Cuabá-MT, também encontrou no quesito estimação, o cachorro como o animal mais citado e em relação ao consumo e venda a principal referência foram as aves (galinha). Além das espécies já mencionadas alguns informantes relataram ser comum enxergar animais silvestres, como: cotia (Dasyprocta aguti), macaco-prego (Cebus apella), capivara (Hydrochoerus hydrochoeris), entre uma infinidade de pássaros perambulando pelos quintais de suas residências. Este fato se deve a localização de seus lotes que ficam próximos das matas ripárias sem barreira física para 54 dividi-los. Os peixes também desempenham um papel muito importante para estes moradores, pois além de pescadores profissionais que vivem da venda do pescado, vários informantes relataram que gostam de pescar nos fins de semana e feriados e que muitas vezes o peixe é a única fonte de proteína animal em suas mesas. Mencionaram ainda que o rio Cuiabá já foi bom para peixe e que hoje, principalmente, na época da seca, quando o nível de água está baixo e a água está muito fria e limpa, a dificuldade de se pegar um peixe aumenta. As espécies mais comuns são: pintado (Pseudoplatystoma sp), cachara (Pseudoplathystoma fasciatum), pacu (Piaractus mesopotamicus) e piratupanga (Brycon microlepis). 4.3. DADOS ETNOBOTÂNICOS 4.3.1. A Etnobotânica e a Diversidade Vegetal Por meio do levantamento etnobotânico foi possível registrar um total de 214 espécies vegetais pertencentes de 74 famílias botânicas, com 1134 citações. Essas espécies vegetais estão distribuídas em diferentes unidades de paisagens do cerrado mato-grossense, desde formação campestre até matas ripárias. Também a unidade de paisagem quintal abriga muitas espécies, principalmente, as cultivadas, que geralmente foram trazidas de outros lugares ou que receberam de presente de parentes e amigos. Albuquerque et al. (2005) afirmam que é comum observar a presença de espécies nativas nos quintais agroflorestais das regiões tropicais úmidas e áridas, porém em todos há um domínio de plantas exóticas. Conforme os dados apresentados na Tabela 1 pode-se observar que as espécies mais expressivas foram: Mangifera indica L. (Manga); Citrus limonum Risso. (Limão); Cocos nucifera L. (Coco); Psidium guayava L. (Goiaba); Malpighia glabra L. (Acerola); Allium fistulosum L. (Cebolinha); Carica papaya L. (Mamão); Anacardium 55 occidentale L. (Caju) e Musa sp. (Banana). As demais apresentam menos de 20 citações por espécie. As famílias botânicas de maior representatividade foram: Fabaceae (17 espécies), Lamiaceae (14 espécies), Asteraceae (12 espécies), Anacardiaceae (10 espécies), Rutaceae (8 espécies), Solanaceae (7 espécies), Amaranthaceae, Cucurbitaceae e Malvaceae (com 6 espécies cada), Arecaceae, Euphorbiaceae, Myrtaceae, Moraceae e Rubiaceae (com 5 espécies cada). Nos quintais da Comunidade Santo Antônio do Caramujo, em Cáceres-MT, Oliveira (2013) também destacou as famílias com maior representatividade, sendo: Lamiaceae (19 espécies), Asteraceae (16 espécies), Cucurbitaceae, Solanaceae e Fabaceae (9 espécies cada). 56 Rutaceae, TABELA 1 – PLANTAS USADAS PELOS INFORMANTES DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014. Etno Família L NC Nome Popular Nome Científico categoria de Uso Mangifera indica L. Manga Anacardiaceae A, M Q 40 Limão Citrus limonum Osb. Rutaceae A, M Q 31 Coco-da-bahia Cocos nucifera L. Arecaceae A, M Q 28 Goiaba Psidium guajava L. Myrtaceae A, M Q 28 Acerola Malpighia glabra L. Malpighiaceae A, M Q 27 Cebolinha Allium fistulosum L. Amaryllidaceae A Q 25 Mamão Carica papaya L. Caricaceae A, M Q 24 Caju Anacardium occidentale L. Anacardiaceae A Q 23 Banana Musa paradisíaca L. Musaceae A, M Q 20 Jatobá Hymenaea courbaril L. Fabaceae A, M VR,Q 19 Boldo Plectranthus barbatus Andrews Lamiaceae M Q 18 Laranja Citrus sinensis (L.) Osbeck Rutaceae A Q 18 Orquídea Orchis sp. Orchidaceae O Q 18 57 “TABELA 1, Cont.” Samambaia Nephrolepis biserrata (SW) Schott Davalliaceae O Q 18 Mandioca Manihot esculenta Crantz. Euphorbiaceae A Q 17 Capim-cidreira ou Capim-santo Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Poaceae M Q 16 Coentro Coriandrum sativum L. Apiaceae A Q 14 Camomila Matricaria reticulita L. Asteraceae M Q 14 Quina Strychnos pseudoquina A. St. Hil Loganiaceae M VR,Q 14 Jabuticaba Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg Myrtaceae A Q 13 Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae M, Ot Q 13 Jucá Caesalpinia ferrea Mart. Fabaceae M VR,Q 12 Ata ou Fruta-doconde Annona squamosa L. Annonaceae A Q 11 Caja-manga Spondias sp. Anacardiaceae A Q 11 Jaca Artocarpus heterophyllus Lam. Moraceae A Q 11 58 “TABELA 1, Cont.” Seriguela ou Jacote Spondias purpurea L. Anacardiaceae A Q 11 Abacate Persea americana Mill. Lauraceae A, M Q 11 Bocaiuva Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex mart. Arecaceae A, M VR,Q 11 Romã Punica granatum L. Lythraceae A, M Q 11 Babosa Aloe Vera (L.) Burm. F. Xanthorrhoeaceae M Q 11 Hortelã Mentha sp. Lamiaceae M Q 11 Espada-de-sãojorge Sansevieria trifasciata Prain Asparagaceae O, Ot Q 11 Abacaxi Ananas comosus (L.) Merr Bromeliaceae A Q 10 Pimenta Capsicum sp. Solanaceae A Q 10 Aroeira Myracrodruon urundeuva FR.All. Anacardiaceae M VR,Q 10 Caninha-do-brejo Costus spicatus (Jacq.) Sw. Costaceae M VR,Q 10 Quebra-pedra Phyllanthus niruri L. Phyllanthaceae M VR,Q 10 Algodão-do-cerrado Cochlospermum regium (Schrank) Pilg. Bixaceae M VR 10 59 “TABELA 1, Cont.” Pitomba Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk Sapindaceae A Q 9 Noni Morinda citrifolia L. Rubiaceae M Q 9 Erva-cidreira ou Melissa Lippia alba L. Verbenaceae M Q 9 Cambará Vochysia divergens Pohl Vochysiaceae M VR,Q 8 Cana Saccharum officinarum L. Poaceae A Q 8 Erva-de-bicho Polygonum persicaria var. persicaria Polygonaceae M VR,Q 8 Cacto Nopalea cochenillifera (L) Salm-Dyck. Cactaceae O Q 8 Gervão Stachytarpheta cayennensis ( Rich.)Vahl. Verbenaceae M VR,Q 7 Melão-de-sãocaetano Momordica charantia L. Cucurbitaceae M VR,Q 7 Poejo Mentha pulegium L. Lamiaceae M Q 7 Antúrio Anthurium andraeanum Linden. Araceae O Q 7 60 “TABELA 1, Cont.” Comigo-ninguémpode Dieffenbachia picta Schott. Araceae O, Ot Q 7 Hortência Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. Hydrangeaceae O Q 7 Tangerina ou Poncã Citrus reticulata Blanco Rutaceae A Q 7 Abóbora Cucurbita pepo L. Cucurbitaceae A Q 6 Batata-doce Ipomoea batatas (L.) Lam. Convolvulaceae A Q 6 Salsa Petroselinum sativum Hoffm. Apiaceae A Q 6 Tamarindo Tamarindus indica L. Fabaceae A, M Q 6 Amescla Protium heptaphyllum (Aubl.) March. Burseraceae M VR,Q 6 Erva-de-santa-maria Chenopodium ambrosioides L. Amaranthaceae M VR,Q 6 Guaco Mikania glomerata Spreng. Asteraceae M Q 6 Hortelã-do-campo Hyptis cana Pohl ex Benth. Lamiaceae M VR 6 Tapera-velha Hyptis suaveolens (L.) Poit. Lamiaceae M VR,Q 6 Beijinho Impatiens walleriana Hook. f. Balsaminaceae O Q 6 61 “TABELA 1, Cont.” Rosa Rosa sp. Rosaceae O Q 6 Espada-de-ogum Sansevieria stuckyi God.-Leb Asparagaceae O, Ot Q 6 Carambola Averrhoa carambola L. Oxalidaceae A Q 5 Pitanga Eugenia uniflora L. Myrtaceae A Q 5 Jurubeba Solanum paniculatum L. Solanaceae A, M Q 5 Maracujá Passiflora alata Curtis. Passifloraceae A, M Q 5 Algodão Gossypium hirsutum L. Malvaceae M Q 5 Anador Justicia pectoralis Jacq. Acanthaceae M Q 5 Espinheira-santa Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Celastraceae M Q 5 Lixeira Curatella americana L. Dilleniaceae M VR,Q 5 Para-tudo-do-mato Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore Bignoniaceae M VR 5 Sangra-d'água Croton urucurana Baill. Euphorbiaceae M VR,Q 5 Tarumã Vitex cymosa Bertero ex Spreng. Lamiaceae M, Ot VR 5 62 “TABELA 1, Cont.” Dama-da-noite Epiphyllum oxypetalum (DC.) Haw. Cactaceae O Q 5 Mexerica Citrus nobilis Lour. Rutaceae A Q 4 Pimentão Capsicum annuum L. Solanaceae A Q 4 Amora Morus nigra L. Moraceae A, M VR,Q 4 Lima Citrus sp. Rutaceae A, M Q 4 Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae M Q 4 Caferana Vernonia polyanthes (Spreng.) Less. Asteraceae M, Ot Q 4 Erva-molar Rudgea viburnoides (Cham.) Benth. Rubiaceae M VR,Q 4 Fedegoso Senna occidentalis (L.) Link. Fabaceae M VR,Q 4 Gengibre Zingiber officinale Roscoe Zingiberaceae M Q 4 Mamona Ricinus communis L. Euphorbiaceae M Q 4 Mangava-brava ou Piúna Lafoensia pacari A. St. Hil Lythraceae M VR,Q 4 Negramina Siparuna guianensis Aublet. Siparunaceae M VR 4 63 “TABELA 1, Cont.” Picão Bidens pilosa L. Asteraceae M VR,Q 4 Urucum Bixa orellana L. Bixaceae M Q 4 Vick Mentha arvensis L. Lamiaceae M Q 4 Embaúba ou Embaúva Cecropia pachystachya Trèc. Urticaceae M, Ot VR,Q 4 Cabaça Lagenaria vulgaris Ser. Cucurbitaceae O Q 4 Papoula Papaver rhoeas L. Papaveraceae O Q 4 Santa-rita ou Primavera ou Buganvília Bougainvillea glabra Choisy Nyctaginaceae O Q 4 Jenipapo Genipa americana L. Rubiaceae A Q 4 Jequitibá Cariniana legalis (Mart.) Kuntze. Lecythidaceae M VR 4 Cumbarú ou Cambaru Dipteryx alata Vog. Fabaceae M, Ot VR, Q 4 Nó-de-cachorro Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. Malpighiaceae M VR 4 Uva Vitis L. Vitaceae A Q 3 64 “TABELA 1, Cont.” Quiabo Abelmoschus esculentus (L.) Moench. Malvaceae A Q 3 Alfavaca Ocimum basilicum L. Lamiaceae M Q 3 Angico Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Fabaceae M VR 3 Assa-peixe Vernonia ferruginea Less. Asteraceae M VR,Q 3 Barbatimão Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Fabaceae M VR 3 Chifre-de-veado Platycerium bifurcatum (Cav.) C. Chr. Polypodiaceae O Q 3 Cajazinho Spondias mombin L. Anacardiaceae M VR 3 Gonçaleiro Astronium fraxinifolium Schott Anacardiaceae M VR,Q 3 Manjerona ou Orégano Origanum majorana L. Lamiaceae M VR 3 Nor-vônica ou Losna Artemisia absinthium L. Asteraceae M Q 3 Pata-de-vaca Bauhinia nitida Benth. Fabaceae M Q 3 65 “TABELA 1, Cont.” Vassourinha Scoparia dulcis L. Plantaginaceae M VR,Q 3 Jatobá-mirim Hymenaea courbaril var. stilbocarpa (Hayne) Y.T. Lee & Langenh. Fabaceae M, A VR 3 Azaleia Rhododendron simsii Planch. Ericaceae O Q 3 Lírio Lilium sp Liliaceae O Q 3 Castela (tipo de coentro) S.I. S.I. A Q 3 Alface Lactuca sativa L. Asteraceae A Q 2 Cajá Spondias mombin L. Anacardiaceae A Q 2 Feijão-andú Cajanus cajan (L) Huth. Fabaceae A Q 2 Figo Ficus carica L. Moraceae A Q 2 Graviola Annona muricata L. Annonaceae A Q 2 Ingá Inga laurina (Sw.) Willd. Fabaceae A Q 2 Manjericão Ocimum sp. Lamiaceae A Q 2 Maxixe Cucumis anguria L. Cucurbitaceae A Q 2 66 “TABELA 1, Cont.” Pepino Cucumis sativus L. Cucurbitaceae A Q 2 Pimenta-vermelha Capsicum baccatum L. Solanaceae A Q 2 Radite Cichorium intybus L. Asteraceae A Q 2 Tomate Lycopersicon esculentum Mill. Solanaceae A Q 2 Carrapicho Acanthospermum sp. Asteraceae M Q 2 Carvão-branco Callisthene fasciculata Mart. Vochysiaceae M Q 2 Crista-de-galo Celosia cristata L. Amaranthaceae M VR 2 Espinheiro Crataegus Oxyacantha L. Rosaceae M VR 2 Eucalipto Eucalyptus globulus Labill. Myrtaceae M Q 2 Mamica-de-porca Zanthoxylum rhoifolium L. Rutaceae M Q 2 Pequi Caryocar brasiliense Camb. Caryocaraceae M VR 2 Pinhão-roxo Jatropha gossypiifolia L. Euphorbiaceae M Q 2 Terramicina Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze. Amaranthaceae M Q 2 Angélica Himatanthus obovatus (Müll. Arg.) Woodson Apocynaceae O Q 2 67 “TABELA 1, Cont.” Babaçu Orbignya oleifera Burret. Arecaceae O Q 2 Ipê-amarelo Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) Standl Bignoniaceae O Q 2 Genciana ou Cincofolhas Gentiana lutea L. Gentianaceae M VR 2 Violeta Viola sp. Violaceae O Q 2 Malva Malva sylvestris L. Malvaceae M Q 2 Oiti Licania tomentosa (Benth.) Fritsch Chrysobalanaceae Ot Q 2 Saúde-da-mulher Casselia mansoi Schau Verbenaceae M VR 2 Coroinha S.I. S.I. O Q 2 Palmeira S.I. S.I. O Q 2 Conta-de-leite S.I. S.I. M Q 2 Marmelada-deespinho S.I. S.I. Ot Q 2 Acuri Scheelea phalerata (Mart. ex Spreng.) Burret Arecaceae A Q 1 68 “TABELA 1, Cont.” Boldo-chinês Plectranthus ornatus Codd Lamiaceae M Q 1 Cacau Theobroma cacao L. Malvaceae A Q 1 Couve Brassica oleracea L. Brassicaceae A Q 1 Ingá-de-metro Inga laurina (Sw.) Willd. Fabaceae A Q 1 Jambo Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry Myrtaceae A Q 1 Jasmim Jasminum officinale L. Oleaceae A Q 1 Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai Cucurbitaceae A Q 1 Milho Zea mays L. Poaceae A Q 1 Pimenta-do-reino Piper nigrum L. Piperaceae A Q 1 Rúcula Eruca sativa Mill. Brassicaceae A Q 1 Tomate-cereja Lycopersicum sp. Solanaceae A Q 1 Açoita-cavalo Luehea divaricata Mart. Malvaceae M Q 1 Alecrim-do-mato Baccharis caprariifolia DC. Asteraceae M VR 1 Artemísia Artemisia annua L. Asteraceae M Q 1 69 “TABELA 1, Cont.” Picão-branco Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass Asteraceae M VR 1 Ampicilina-roxa Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Amaranthaceae M Q 1 Caiapiá Dorstenia Multiformis Miq. Moraceae M VR 1 Cainca Chiococca anguifuga Mart. Rubiaceae M Q 1 Caju-amarelo Anacardium occidentale L. Anacardiaceae M VR 1 Cajuzinho-docampo Anacardium humile A. St.-Hil Anacardiaceae M VR 1 Calunga Simaba ferruginea A. St.-Hil. Simaroubaceae M VR 1 Cânfora Cinnamomum camphora (L.) J. Presl Lauraceae M Q 1 Caruru-de-porco Amaranthus viridis L. Amaranthaceae M Q 1 Japecanga ou Coroa-de-cristo Euphorbia milii Des Moul. Euphorbiaceae M Q 1 Costela-de-adão Monstera deliciosa Liebm. Araceae M Q 1 Dorme-dorme Mimosa Pudica L. Fabaceae M VR 1 70 “TABELA 1, Cont.” Elixir-paregórico Piper callosum Ruiz &Pav. Piperaceae M Q 1 Erva-doce Pimpinella anisum L. Apiaceae M Q 1 Fortuna Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Crassulaceae M Q 1 Ipê-roxo Tabebuia impetiginosa (Mart.ex DC.) Standl. Bignoniaceae M VR 1 Laranja-para-doce Citrus medica L. Rutaceae M Q 1 Levante Mentha spicata L. Lamiaceae M Q 1 Mastruz Chenopodium ambrosioides L. Amaranthaceae M VR 1 Nim Azadirachta indica A. Juss. Meliaceae M Q 1 Sabugueiro Sambucus nigra L. Adoxaceae M Q 1 Bromélia Alcantarea imperialis (Carrière) Harms Bromeliaceae O Q 1 Cereja Prunus serrulata Lindl. Rosaceae O Q 1 Ecsória Ixora coccinea L. Rubiaceae O Q 1 Espirradeira Nerium oleander L. Apocynaceae O Q 1 71 “TABELA 1, Cont.” Jacinto Hyacinthus sp Asparagaceae O Q 1 Onze-horas Portulaca grandiflora Hook. Portulacaceae O Q 1 Patchulin Pogostemon cablin (Blanco) Benth. Lamiaceae O Q 1 Pingo-de-ouro Duranta repens L. Verbenaceae O Q 1 Rabo-de-raposa Arrojadoa rhodantha (Gürke) Britton & Rose Cactaceae O Q 1 Rosa-branca Rosa alba L. Rosaceae O Q 1 Rosa-do-deserto Adenium obesum (Forssk.) Roem. & Schult. Apocynaceae O Q 1 Amburana Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm. Fabaceae Ot Q 1 Beladona Atropa belladonna L. Solanaceae Ot Q 1 Ximbuva Enterolobium timbouva Mart. Fabaceae Ot Q 1 Figueira Ficus sp Moraceae Ot Q 1 Garirobinha Syagrus oleracea (Mart.) Becc. Arecaceae Ot Q 1 Pau-de-bicho Terminalia argentea Mart. Combretaceae Ot Q 1 72 “TABELA 1, Cont.” Jurema Chloroleucon acacioides (Ducke) Barneby & J.W.Grimes Fabaceae Ot Q 1 Pau-brasil Caesalpinia echinata Lam. Fabaceae Ot Q 1 Rosquinha Helicteres sacarolha A. St. – Hil. Malvaceae M Q 1 Atrativa S.I. S.I. Ot Q 1 Espinho-de-touro S.I. S.I. M Q 1 Jaquicendi S.I. S.I. M Q 1 Laião S.I. S.I. M Q 1 Aspirina-do-campo S.I. S.I. M VR 1 Cinco-palma S.I. S.I. O Q 1 Rosamélia S.I. S.I. O, M Q 1 Chagueira S.I. S.I. Ot Q 1 Chama-dinheiro S.I. S.I. Ot Q 1 L: Local; NC: Número de Citações; S.I.: Sem Identificação; A: Alimentar; M: Medicinal; O: Ornamental; Ot: Outros; Q: Quintal; VR: Vegetação Regional. 73 Conforme demonstrado na Figura 17 as espécies mencionadas pelos depoentes foram classificadas de acordo com suas etnocategorias de uso, sendo elas: medicinal, alimentar, ornamental, outros usos que inclui sombra, lenha, construção, mística, etc. e as referidas como múltiplos usos, ou seja, as que apresentam mais de uma etnocategoria. Guarim Neto e Amaral (2010) através de um levantamento realizado no município de Rosário Oeste em Mato Grosso encontraram 266 espécies de plantas distribuídas em 85 famílias botânicas, destacando a etnocategoria medicinal (103) como a mais representativa, seguida da alimentar (97) e ornamental (79). Dentro da etnocategoria múltiplos usos pode-se ressaltar que a de uso medicinal e alimentar se destacaram tendo 17 espécies como representante, sendo elas: Mangifera indica L. (Manga), Citrus limonum Risso. (Limão), Cocos nucifera L. (Coco-da-Bahia), Psidium guayava L. (Goiaba), Malpighia glabra L. (Acerola), Carica papaya L. (Mamão), Anacardium occidentale L. (Caju), Musa sp (Banana) entre outras. A classe medicinal e outros usos possuem cinco espécies: Ruta graveolens L. (Arruda), Vitex cymosa Bertero ex Spreng (Tarumã), Vernonia 74 polyanthes (Spreng.) Less. (Caferana), Cecropia pachystachya Trèc. (Embaúba ou Embaúva), Dipteryx alata Vog. (Cambarú ou Cambará). As espécies Sansevieria trifasciata var. laurentii (Dewild.) N. E. Br. (Espadade-São-Jorge), Dieffenbachia picta Schott. (Comigo-Ninguém-Pode) e Sansevieria stuckyi God.-Leb (Espada-de-Ogum) foram mencionadas pelos informantes como ornamentais e místicas, logo, pode-se afirmar que além de embelezar os quintais as mesmas possuem um papel de proteção, pois afastam o mau olhado. Por fim a espécie com nome popular de Rosamélia foi citada para os fins ornamental e medicinal (Tabela 1). Ainda conforme a Tabela 1 pode-se afirmar que a unidade de paisagem quintal abriga o maior número de plantas usadas pelos depoentes, principalmente as exóticas, sendo os principais representantes: Mangifera indica L. (Manga); Citrus limonum Risso. (Limão); Cocos nucifera L. (Coco); Psidium guayava L. (Goiaba); Malpighia glabra L. (Acerola); Allium fistulosum L. (Cebolinha); Carica papaya L. (Mamão); Anacardium occidentale L. (Caju) e Musa sp. (Banana) entre outras. A vegetação regional predominante que circunvizinha à comunidade Sucuri é o cerrado com suas fitofisionomias que abriga espécies largamente usadas na medicina popular local, sendo as mais expressivas: Cochlospermum regium (Schrank) Pilg. (Algodãozinho do Cerrado), Hyptis cana Pohl ex Benth. (Hortelãzinho do Campo), Vitex cymosa Bertero ex Spreng. (Tarumã), Siparuna guianensis Aublet. (Negramina), Cariniana legalis (Mart.) Kuntze. (Jequitibá), Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. (Nó-de-Cachorro), entre outros. Também foram encontradas espécies presentes em ambas unidades de paisagens, sendo elas: Hymenaea courbaril L. (Jatobá), Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. (Quina), Caesalpinia ferrea Mart. (Jucá), Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex mart. (Bocaiuva), Myracrodruon urundeuva FR.All. (Aroeira), Costus spicatus (Jacq.) Sw. (Caninha-do-brejo), Phyllanthus niruri L. (Quebra-pedra) entre outros. 75 4.3.2. A Etnobotânica e Plantas Medicinais Em relação às plantas citadas na etnocategoria medicinal foram identificadas 120 espécies distribuídas em 48 famílias botânicas e apresentando 426 citações. As espécies mais expressivas foram: Plectranthus barbatus Andrews. (boldo), Hymenaea courbaril L. (jatobá), Matricaria recutita L. (camomila), Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. (quina) e Phyllanthus niruri L. (quebra-pedra). As famílias botânicas que apresentaram o maior número de citações foram: Lamiaceae, Fabaceae, Asteraceae, Anacardiaceae e Rutaceae. Conforme os dados apresentados na Tabela 2 a folha foi a parte da planta mais utilizada totalizando um percentual de 52% seguido da casca com 20%. Ao se referir quanto às formas de usos dessas plantas destaca-se o chá com um total de 41% outra forma de uso que recebeu evidência foi o xarope apresentando 13%. No estudo de De David e Pasa (2015) contemplando quatro bairros do município de Várzea Grande-MT também aponta as folhas como sendo a parte mais utilizada com 48% e refere o chá (68%) como sendo a forma de uso mais expressiva. A Figura 18 consta as indicações terapêuticas referidas pelos informantes, sendo as patologias do Sistema Respiratório as mais expressivas com um total de 110 citações, representadas, principalmente, pelas seguintes doenças: tosse, gripe, bronquite e pneumonia. O sistema gastrointestinal alcançou um resultado de 92 citações ficando em segundo lugar no ranking, sendo as principais doenças: distúrbios estomacais, doenças no fígado e desconfortos abdominais. Os problemas do sistema geniturinário também foram bastante expressivos (79 citações), com destaque para as enfermidades renais e uterinas. Corroborando com estes achados pode-se destacar o trabalho de Bieski (2015) que verificou que a população do Vale do Juruena - MT utiliza plantas medicinais mais frequentemente para o sistema respiratório (13%), digestivo (8,7%) e geniturinário, 7,6%. Outro estudo relevante é o de De David e Pasa (2015) que também encontraram como principais 76 indicações de uso os mesmos problemas de saúde sendo os mais expressivos: genitourinários com 22%, seguido de respiratórios com 20% e digestórios com 18%. A categoria Outros agrupou indicações para câncer, febre, dor de cabeça, apetite, limpa o organismo, criança dormir melhor, torsão, dor na coluna, emagrecer, reumatismo entre outras com 166 das 585 citações totais. As indicações seguem a classificação de doença segundo a OMS CID-10 (2000). 77 TABELA 2 – ESPÉCIES DE USOS MEDICINAIS CITADAS PELOS ENTREVISTADOS DA COMUNIDADE SUCURI. COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ – MT. 2014. Nome Parte Formas de Doenças Pcup Nome Científico NU Fsp Fid NF FC Popular Usada Uso Mais Citadas (%) Chá/ Estômago, Plectranthus Maceração/ Ressaca, Boldo barbatus 8 Folhas 18 16 89 1 89% Batido com Enxaqueca e Andrews água/Infusão Fígado Xarope/Chá/ Torrada/ Strychnos Casca e Serenada/ Vermífugo e Quina pseudoquina 9 14 12 86 0,77 66% Folhas Queimada/ Estômago A. St.-Hil. Descansa na Água/Banho Batido com leite/Xarope/ Hymenaea Casca e Tosse e Jatobá 10 Curtido no 17 11 65 0,94 61% courbaril L. Fruto Bronquite Vinho Branco/chá Chá/Infusão/ Calmante e Matricaria Folhas e Camomila 9 de molho na Dor de 14 10 71 0,77 55% recutita L. Flores água Barriga Folhas, QuebraPhyllanthus Raiz e Chá/ 1 Rins 10 10 100 0,55 55% pedra niruri L. Planta Infusão Inteira Aroeira Myracrodruon urundeuva FR.All. 5 Casca, Folhas e Resina Emplasto/ Chá/ Xarope/ Melaço 78 Fratura 9 7 78 0,5 39% “TABELA 2, Cont.” 5 Folhas, Caule e Raiz Infusão/Chá Rins e Antiinflamatório 9 7 78 0,5 39% 4 Folhas Chá Calmante 9 7 78 0,5 39% 2 Casca e Folhas Xarope Tosse 8 7 87 0,44 38% Colônia Alpinia zerumbet (Pers.) B.L. Burtt & R.M. Sm. 6 Folhas e Flores Pressão Alta e Calmante 8 7 87 0,44 38% Erva-desanta-maria Chenopodium ambrosioides L. 2 Folhas Vermífugo 6 6 100 0,33 33% Erva-cidreira ou Melissa Lippia alba L. 2 Folhas Calmante 6 6 100 0,33 33% Gervão Stachytarpheta cayennensis (Rich.)Vahl. 5 Raiz Estômago e Dor de Cabeça 6 5 83 0,33 28% 6 Vagem, Fruto, Semente e Casca Antiinflamatório e Cicatrizante 9 5 55 0,50 28% Cana-dobrejo Cidreira ou Capim-santo Cambará Jucá Costus spicatus (Jacq.) Sw. Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Vochysia divergens Pohl Caesalpinia ferrea Mart. Chá/Banho/ Curtido no Álcool/ Infusão Chá/Macerad o no Leite/ Xarope Chá/ infusão Chá/Xarope/ Infusão/ Macera e aquece com pouco de água e umedece o algodão Curtido no vinho, batido e macerado na água, Banho e Chá 79 “TABELA 2, Cont.” 5 Raiz, Planta Inteira e Folhas Chá/Xarope/ Infusão/ Macera e aquece com água umedece o algodão Estômago 6 5 83 0,33 27% 3 Casca Xarope Tosse 5 5 100 0,27 27% 4 Folhas Chá/Banho/ Xarope Bronquite e Gripe 8 5 62 0,44 27% Arruda Ruta graveolens L. 7 Folhas e Planta Inteira Dor de Barriga e Prisão de Ventre 9 4 44 0,5 22% Melão-desão-caetano Momordica charantia L. 7 Folhas e Cipó Dengue 6 4 67 0,33 22% Poejo Mentha pulegium L. 4 Folhas Infusão/Chá Gripe 5 4 80 0,27 22% Folhas, Gosma, Sumo e Baba Emplasto/ Batido com Mel/Toma com água/Curtido com Mel e Vodka Cabelo, Queimadura e Cicatrizante 9 3 33 0,5 16% Tapera-velha Amescla Erva-debicho Babosa Hyptis suaveolens (L.) Poit. Protium heptaphyllum (Aubl.) March. Polygonum persicaria var. persicaria Aloe Vera (L.) Burm. F. 7 Infusão/ Garrafada/ Curtido no Álcool/Chá/ Queimada Chá/Banho/ Macerado na Água/Xarope 80 “TABELA 2, Cont.” Guaco Para-tudodo-mato Mikania glomerata Spreng. Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore 3 Folhas Infusão/Chá Gripe e Tosse 6 3 50 0,33 16% 2 Casca Xarope/ Fervido com Leite Anemia e Vermífugo 5 3 60 0,27 16% Vermífugo e Estômago 8 3 37 0,44 16% Câncer 5 3 60 0,27 16% Amarelão (Icterícia) 4 3 75 0,22 16% Estômago 4 3 75 0,22 16% Antiinflamatório 4 3 75 0,22 16% Diabetes 3 3 100 0,16 16% Hortelã Mentha sp. 5 Folhas Noni Morinda citrifolia L. 9 Fruto e Folhas Picão Bidens pilosa L. 2 Raiz e Planta Inteira Fedegoso Senna occidentalis (L.) Link. 2 Folhas e Raiz Nó-decachorro Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. 5 Raiz Cajazinho Spondias mombin L. 1 Casca Maceração/ Chá/ Banho/ Xarope Curtido no Suco de Uva ou no Vinho/Batido com Água/Chá Infusão/ Banho Maceração/ Chá/ Curtido na Pinga Macerado e Curtido na água/ Garrafada Macerado na Água 81 “TABELA 2, Cont.” Assa-peixe Vernonia ferruginea Less. 1 Casca Amora Morus nigra L. 1 Folhas 1 Romã Gengibre Punica granatum L. Zingiber officinale Roscoe. Xarope Tosse Casca do Fruto Infusão/ Chá Gargarejo/ Chá 1 Raiz Chá Infusão/Chá Reposição Hormonal Infecção de Garganta Infecção de Garganta Dor de Cabeça, Dor e Febre Anador Justicia pectoralis Jacq. 3 Folhas Espinheirasanta Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek 7 Folhas Sangra-d`àgua Croton urucurana Baill. 5 Sangue ou Leite (SEIVA), Casca e Folhas Hortelã-docampo Hyptis cana Pohl ex Benth. 6 Folhas e Casca Jequitibá Cariniana legalis (Mart.) Kuntze. 6 Casca Tamarindo Tamarindus indica L. 4 Folhas e Fruto Banho/Chá/ Garrafada Passa no Ferimento/ Descansa no Leite/Curtido no Vinho Branco/1 Gota de Seiva para um Copo de Água Chá/Torrada/ Xarope Banho/Banho de Assento/ Garrafada Chá/Suco/ Banho 82 3 3 100 0,16 16% 3 3 100 0,16 16% 3 3 100 0,16 16% 3 3 100 0,16 16% 5 2 40 0,27 11% Cicatrizante 5 2 40 0,27 11% Cicatrizante, Câncer e Dores nos Ossos 5 2 40 0,27 11% Vermífugo e Estômago 5 2 40 0,27 11% Infecção de Útero 4 2 50 0,22 11% Fonte de Vitamina C 4 2 50 0,22 11% “TABELA 2, Cont.” Algodão Gossypium hirsutum L. 8 Folhas Chá/Banho/ Batido com Água/ Macerado com Sal e Álcool Antiinflamatório Inflamação do Útero, Afinar o Sangue e Engravidar Ansiedade e Calmante Problemas Estomacais e Cicatrização 5 2 20 0,27 11% 6 2 33 0,33 11% 4 2 50 0,22 11% 4 2 50 0,22 11% Algodão-docerrado Cochlospermum regium (Schrank) pilg. 5 Raiz, Folhas e Broto Chá/Batido com Água e Sal/ Garrafada Alecrim Rosmarinus officinalis L. 4 Folhas Infusão/Chá Mangavabrava ou Piúna Lafoensia pacari A.St. Hil 2 Casca Descansa na Água/Chá 5 Folhas Chá/Banho Gripe 4 2 50 0,22 11% 2 Folhas Banho/ Xarope Gripe e Febre 3 2 67 0,16 11% 3 Folhas e Broto Chá/Xarope Gripe e Tosse 3 2 67 0,16 11% Estômago 3 2 67 0,16 11% Diarreia 3 2 67 0,16 11% Negramina Manga Embaúba ou Embaúva Siparuna guianensis Aublet . Mangifera indica L. Cecropia pachystachya Trèc. Nor - vônica ou Losna Artemisia absinthium L. 2 Folhas Cumbaru ou Cambaru Dipteryx alata Vog. 2 Casca Macerado com Água/Chá Chá/ Deixar de Molho na Água 83 “TABELA 2, Cont.” Anadenanthera Angico falcata (Benth.) Speg. Curatella Lixeira americana L. Barbatimão Manjerona ou Orégano Abacate Vassourinha Tarumã Erva-molar Urucum Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Origanum majorana L. Persea americana Mill. Scoparia dulcis L. Vitex cymosa Bertero ex Spreng. Rudgea viburnoides (Cham.) Benth. Bixa orellana L. 3 Casca Xarope Tosse 3 2 67 0,16 11% 2 Folhas Chá Emagrecer 3 2 67 0,16 11% Inflamação do Útero 3 2 67 0,16 11% Coração 3 2 67 0,16 11% Descansar na água/Chá/ Banho/ Banho de Assento Infusão/Chá/ Queimada 3 Casca 3 Folhas 2 Folhas Chá Rins 3 2 67 0,16 11% 3 Planta Inteira Chá/ Compressa/ Macerado com sal, vinagre e trigo (faz um gesso) Torsão 3 2 67 0,16 11% 2 Folhas e Casca Chá Dor de Barriga 3 2 67 0,16 11% 3 Folhas Chá/ Garrafada Infecção de Urina e Rins 3 2 67 0,16 11% 1 Folhas e Semente Chá/ Descansa no Leite Colesterol Alto 2 2 100 0,11 11% 84 “TABELA 2, Cont.” Acanthospermum Carrapicho sp. Hymenaea courbaril var. Jatobástilbocarpa mirim (Hayne) Y.T. Lee & Langenh. Caryocar Pequi brasiliense Camb. Ricinus Mamona communis L. Banana Musa sp. Mamica-deporca Mentha arvensis L. Eucalyptus globulus Labill. Crataegus Oxyacantha L. Citrus aurantium L. Zanthoxylum rhoifolium L. Saúde-daMulher Casselia mansoi Schau Vick Eucalipto Espinheiro Laranja Conta-deleite S.I. 1 Raiz Chá Rins 2 2 100 0,11 11% 1 Casca Xarope Tosse 2 2 100 0,11 11% 2 Folhas Infusão/Chá Rins 2 2 100 0,11 11% 1 Óleo do Fruto Pneumonia 2 2 100 0,11 11% 2 Umbigo Fervido com Água Xarope/ Serenada Bronquite 2 2 100 0,11 11% 1 Folhas Chá Gripe 2 2 100 0,11 11% 1 Folhas Chá Gripe 2 2 100 0,11 11% 1 Casca Xarope Tosse 2 2 100 0,11 11% 1 Folhas Infusão/Chá Febre 2 2 100 0,11 11% 1 Casca Chá Hemorroida 2 2 100 0,11 11% 2 Batata (Raiz) Garrafada Infecção de Útero e Engravidar 2 2 100 0,11 11% Fruto Torra e Macera com Água Rins 2 2 100 0,11 11% 1 85 “TABELA 2, Cont.” Crista-deCelosia cristata L. galo CarvãoCallisthene branco fasciculata Mart. 4 Folhas Pó da Folha/Chá 1 Casca Chá Dor na Coluna Manchas na Pele Desidratação, Cólica Menstrual, Regula Menstruação e Colesterol Vitamina C, Gripe, Bronquite, Febre e Tosse 2 2 100 0,11 11% 2 2 100 0,11 11% 3 1 33 0,16 6% 3 1 33 0,16 6% Coco-dabahia Cocos nucifera L. 4 Água e Casca do Fruto In Natura/Chá/ Suco Acerola Malpighia glabra L. 5 Fruto e Folhas Suco/Chá/ Xarope 1 Folhas Chá Antibiótico 2 1 50 0,11 6% 2 Casca e Folhas Chá/Xarope Bronquite e Dores Reumáticas 2 1 50 0,11 6% 2 Fruto Batido com Leite Cicatrização e Anemia 2 1 50 0,11 6% 2 1 50 0,11 6% 2 1 50 0,11 6% Terramicina Gonçaleiro Bocaiuva Alternanthera brasiliana (L.) kuntze. Stronium fraxinifolium Schott Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. Ex mart. Pata-de-vaca Bauhinia nitida Benth 4 Raiz e Folhas Chá/Descans a na Água Alfavaca Ocimum basilicum L. 2 Folhas Chá 86 Alívio da Dor, Rins, Afina o Sangue e Diabetes Resfriado e Tosse “TABELA 2, Cont.” Pinhão-roxo Jatropha gossypiifolia L. Genciana ou Gentiana Lutea L. Cinco-folhas Malva Mastruz Ampicilinaroxa Malva sylvestris L. Chenopodium ambrosioides L. Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Caruru-deporco Amaranthus viridis L. Cajuamarelo Anacardium occidentale L. Anacardium humile A. St.-Hil Cajuzinhodo-campo Sabugueiro Sambucus nigra L. 2 Folhas, Fruto e leite (Seiva) Banho/ Batido com Água/ Passa na Machucadura Cicatrização Dor de Cabeça, Menstruação, Engravidar e Corrimento Engravidar, Limpa o Útero e Antiinflamatório 2 1 50 0,11 6% 2 1 50 0,11 6% 2 1 50 0,11 6% 4 Raiz e Folhas Queimada/ Garrafada 3 Folhas Garrafada/ Chá 1 Folhas Descansa no Leite Vermífugo 1 1 100 0,05 5% 1 Folhas e Talo Banho/ Chá Antibiótico 1 1 100 0,05 5% 1 Planta Inteira Chá Anemia 1 1 100 0,05 5% 1 Fruto Comer Diabetes 1 1 100 0,05 5% 1 Raiz Garrafada Reumatismo 1 1 100 0,05 5% 3 Folhas Infusão Sarampo, Bexiguinha e Catapora 1 1 100 0,05 5% 87 “TABELA 2, Cont.” Costela-deMonstera adão deliciosa Liebm. Alecrim-domato Picãobranco Artemisia Ipê-roxo Erva-doce Baccharis caprariifolia DC. Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass Artemisia annua L. Tabebuia impetiginosa (Mart.ex DC.) Standl. Pimpinella anisum L. 1 Folhas Leite Verrugas 1 1 100 0,05 5% 2 Folhas Garrafada Limpa o Útero e Engravidar 1 1 100 0,05 5% 1 Raiz Infusão Hepatite 1 1 100 0,05 5% 2 Folhas Infusão Labirintite e Vômito 1 1 100 0,05 5% 1 1 100 0,05 5% 2 Casca Chá Limpa por dentro e Apetite 1 Semente Chá Gases 1 1 100 0,05 5% Mamão Carica papaya L. 1 Leite (Seiva) Serenada Vermífugo 1 1 100 0,05 5% Caferana Vernonia polyanthes (Spreng.) Less. 1 Folhas Macerado com Água Estômago 1 1 100 0,05 5% Dor de Ouvido 1 1 100 0,05 5% Bom para Criança Dormir 1 1 100 0,05 5% Fortuna Bryophyllum pinnatum (Lam.) Koen 1 Folhas Queima retira o Sumo umedece um algodão e coloca no ouvido Dormedorme Mimosa pudica L. 1 Folhas Banho 88 “TABELA 2, Cont.” BoldoPlectranthus chinês ornatus Codd. Levante Goiaba Patchouli Cânfora Açoitacavalo Japecanga ou Coroade-cristo Caiapiá Goiabeira Maracujá 1 100 0,05 5% 1 1 100 0,05 5% Disenteria 1 1 100 0,05 5% Chá Calmante 1 1 100 0,05 5% Folhas Solução Alcoólica Dores 1 1 100 0,05 5% 1 Casca Descansa na Água Rins 1 1 100 0,05 5% Euphorbia milii Des Moul. 1 Folhas Chá Hormônio 1 1 100 0,05 5% Dorstenia multiformis Miq. 2 Batata (Raiz) Garrafada Limpa o Útero e Engravidar 1 1 100 0,05 5% 1 Broto Chá Diarreia 1 1 100 0,05 5% 1 Fruto Suco Calmante 1 1 100 0,05 5% 1 1 100 0,05 5% 1 1 100 0,05 5% Psidium guajava L. Pogostemon cablin (Blanco) Benth. Cinnamomum camphora (L.) J. Presl Luehea divaricata Mart. Psidium guayava L. Passiflora alata Curtis. Folhas Maceração 3 Folhas Infusão 1 Broto Chá 1 Folhas 1 Fígado e Estômago Tosse, Resfriado e Febre 1 Mentha spicata L. 2 ElixirParegórico Piper callosum Ruiz &Pav. 2 Folhas Infusão Digestão e Prisão de Ventre Jurubeba Solanum paniculatum L. 1 Fruto Conserva Fígado 89 “TABELA 2, Cont.” Laranjapara-doce Citrus medica L. 3 Folhas Chá Diabetes, Pressão Alta e Diurético 1 1 100 0,05 5% Lima-dapersia Citrus sp. 1 Folhas e Casca do Fruto Banho Dor de Cabeça 1 1 100 0,05 5% Calunga Simaba ferruginea A. St.Hil. 1 Raiz Curtido com Água Gordura no Fígado 1 1 100 0,05 5% Cainca Chiococca anguicida Mart. 1 Folhas Sinusite 1 1 100 0,05 5% Nim Azadirachta indica A. Juss. 3 Folhas Ressaca, Estômago e Diabetes 1 1 100 0,05 5% Rosquinha Helicteres sacarolha A. St. – Hil. 1 Raiz Queimada Limpa as Impurezas 1 1 100 0,05 5% Espinho-detouro S.I. 1 Broto Chá Formigamento 1 1 100 0,05 5% Jaquicendi S.I. 1 Planta Inteira Chá Rins 1 1 100 0,05 5% Laião Aspirina-docampo S.I. 1 1 1 100 0,05 5% S.I. 1 1 1 100 0,05 5% Raíz Inalação/ Lava a Cabeça Batido no liquidificador com água Chá Febre Refogado na Fígado 1 1 100 0,05 5% Comida NU: Número de Utilizações; Fsp: Frequência Absoluta; Fid: número de informantes que sugeriram o uso de uma espécie para uma finalidade maior; NF: Nível de Fidelidade; FC: Fator de Correção; Pcup (%): Importância relativa de concordância de usos principais; S.I.: Sem Identificação. Rosamélia S.I. 1 Broto 90 4.4. DADOS ETNOFARMACOBOTÂNICOS O estudo Etnofarmacobotânico para esta pesquisa foi conduzido e ordenado por meio dos seguintes critérios: primeiramente, foram sistematizadas as espécies da etnocategoria medicinal que apresentaram maior expressividade quanto à frequência relativa de usos entre os informantes da comunidade Sucuri. Posteriormente, conforme exposto na Tabela 2, as espécies foram sequenciadas de acordo com a sua importância relativa de usos principais (Pcup), apresentando a seguinte ordem: Plectranthus barbatus Andrews – boldo (18 citações, Pcup 89%); Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. – quina (14 citações, Pcup 66%); Hymenaea courbaril L. – jatobá (17 citações, Pcup 61%), Matricaria recutita L. – camomila (14 citações, Pcup 55%) e Phyllanthus niruri L. quebra-pedra (10 citações, Pcup 55%). 4.4.1. Plectranthus barbatus Andrews (boldo). A família Lamiaceae é originária principalmente de países do Mediterrâneo e Oriente, consiste cerca de 200 gêneros e 3.200 espécies. Dentre os gêneros, destacam-se o Plectranthus, que inclui diversos representantes na utilização terapêutica (DUARTE e LOPES, 2005), podendo ser considerado um dos mais ricos em óleos essenciais, tendo como principais constituintes os mono e sesquiterpenos (ABDEL-MOGIB et al., 2002). Os boldos, como são conhecidos, pertencem a um grupo de espécies de plantas com propriedades colagogas. Os mesmos são usados popularmente para o tratamento de insuficiência hepática e dispepsia (DUARTE e LOPES, 2007). São ricos em diterpenos e muito utilizados na medicina alternativa em várias partes do mundo (ALBUQUERQUE et al., 2003). Dentre as espécies do gênero Plectranthus, podemos destacar Plectranthus barbatus Andrews (Figura 18) que é muito utilizado na medicina não convencional por possuir propriedades farmacêuticas já 91 estudadas. O mesmo é conhecido pelo nome vulgar de falso-boldo e é muito semelhante morfologicamente com a espécie P. grandis (Cramer) R.H. Willemse e, por isso, são bastante confundidas, sendo ambas utilizadas para os mesmos fins na medicina popular (LORENZI e MATOS, 2002). De acordo com Carriconde et al., (1996) a espécie P. barbatus Andrews, objeto desse estudo, é amplamente cultivada em todo o Brasil e utilizada tanto na medicina popular como na forma de medicamentos fitoterápicos, pelas propriedades analgésica e anti-dispéptica a ela atribuídas constituindo uma das plantas mais citadas em levantamentos etnobotânicos de plantas medicinais do Brasil. Esta espécie trata-se de um arbusto aromático perene de ramos eretos e sublenhosos, que atingem de 1,0 a 1,5 m de altura. Folhas ovado-oblongas, pilosas e grossas com bordos denteados. Flores de coloração azulada crescem em racemos (espigas) que surgem na 92 estação chuvosa. Também são conhecidos pelo nome popular de boldonacional, boldo-do-brasil, malva-santa, sete-dores (ALBUQUERQUE, 2000). Matos (2002) afirma que a espécie P. grandis (Cramer) R.H. Willemse também é utilizada popularmente para combater problemas gastrintestinais, porém não existem dados na literatura científica sobre efeitos farmacológicos dessa planta diferentemente da espécie P. barbatus Andrews, cujos extratos são extensivamente estudados no sistema gastrintestinal. Existe também o P. neochilus Schltr. vulgarmente conhecido, como boldo pequeno, boldo rasteiro ou boldo gambá. Este diferentemente da espécie em questão possui folhas pequenas, quase triangulares, dispostas compactamente, levemente amargas e de odor forte, principalmente quando está florida (LORENZI e MATOS, 2002). No presente estudo foi realizada a identificação das estruturas anatômicas utilizando o limbo foliar da espécie Plectranthus barbatus Andrews, em corte transversal, o qual é largamente usado pelos depoentes da comunidade Sucuri (Figuras 20 e 21). FIGURAS 20 e 21. Plectranthus barbatus Andrews. SECÇÃO TRANSVERSAL DE LIMBO FOLIAR. VISUALIZAÇÃO DOS TRICOMAS GLANDULARES E TECTORES. LABORATÓRIO DE ANATOMIA VEGETAL. IB. UFMT. 2015. FONTE: ACERVO DA PESQUISADORA. De acordo com a técnica utilizada no laboratório de anatomia vegetal para a obtenção das Figuras 20 e 21 é possível visualizar os 93 tricomas tectores e glandulares, estruturas anatômicas que estocam óleos essenciais que são usados popularmente como medicinais na comunidade local. Para Navarro e El Oualidi (2000), os tricomas glandulares representam uma importante característica taxonômica para as espécies de Lamiaceae, por serem de fácil observação e análise, também representam uma ferramenta para a caracterização farmacognóstica de vegetais. Os constituintes do óleo essencial são biossintetizados em tricomas glandulares principalmente de folhas e cálices florais (LAWRENCE, 1992). De acordo com Ascensão et al. (1998), o β-cariofileno é um dos principais constituintes químicos encontrados em diferentes espécies do gênero Plectranthus (P. rugosus, P. fruticosus, P. coleoides, P. tenuiflorus, P. incanus e P. defoliatus). O cariofileno é um sesquiterpeno sintetizado pelas plantas na rota metabólica dos terpenos, sendo também importante constituinte encontrado no óleo essencial dos boldos e de outras espécies medicinais. O óleo essencial rico em cariofileno, segundo Haslam (1996), pode ser empregado na medicina tradicional como remédio, para o tratamento de diversas moléstias orgânicas. A ocorrência de cariofileno como principal componente do óleo essencial pode estar relacionada ao uso tradicional destas espécies vegetais contra as dores estomacais (BOCARDI, 2008). Na comunidade local o Plectranthus barbatus é largamente utilizado para alívio dos desconfortos relacionados com o aparelho digestório. As formas de uso expressadas pelos informantes foram o chá, a infusão, batido no liquidificador com água e a maceração. A parte da planta utilizada por eles para a realização dos preparos são as folhas. A afirmação acima pode ser comprovada nas falas de alguns depoentes: “Sabe minha fia meu marido tem muita dor no estômago então eu acabo fazendo muita água gelada com bordo pra ele bebe...eu pego treis foinha de bordo 94 machuco bem elas e depois coloco água fria em cima e dou pra ele bebe...não tem remédio mior.” (E. O. de M., 62 anos. Sucuri, 2014). “Eu e minha muié nos criamo morando na roça e sempre nos tratamo com pranta...quando alguém aqui de casa fica mar do estromo nois já pega umas foinha ali do quintal a maceta elas, coloca água e bebe...pronto a dor vai embora.” (L. C., 65 anos. Sucuri, 2014). “Quando eu exagero na comida ou quando alguma comida me faz mal que eu fico empachada eu faço logo um chá de boldo...alivia na hora.” (D. A. de O., 54 anos. Sucuri, 2014). “Eu costumo fervê a água primeiro, depois coloco de duas a três folhas de boldo na xícara, despejo água bem quente em cima e deixo abafar por uns cinco minutinhos...está pronto...é muito bom pra dor no estômago.”(J. B. C., 75 anos. Sucuri, 2014). “Nunca deixo faltá boldo aqui em casa... pra digestão e ressaca não tem coisa melhor...eu gosto de batê as folhas no liquidificador com água bem gelada ai é só côa e bebe.” (M. V. O., 65 anos. Sucuri, 2014). Na primeira fala a senhora quando diz “...machuco as foias do boldo...” quer dizer que ela macera as folhas pilosas das partes abaxial e adaxial da planta para o rompimento físico dos tricomas glandulares presentes e consequentemente, a liberação dos óleos essenciais, contidos nos mesmos e usado vastamente pelas pessoas da comunidade local. A fitoterapia com óleos essenciais obtidos das estruturas anatômicas das folhas de boldo são relevantes na medicina popular para vários tratamentos de saúde, mas com expressividade para patologias do aparelho digestório e órgãos acessórios, principalmente o fígado. Na presente comunidade o boldo é usado para o tratamento das seguintes afecções: dispepsia, congestão, azia, indigestão, vômito e mal estar em geral. 95 4.4.2. Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. (quina) Loganiaceae é uma família extremamente heterogênea que compreende aproximadamente 30 gêneros e 600 espécies, de ampla distribuição, principalmente, nas regiões tropicais e subtropicais (MABBERLEY, 1997; THONGPHASUK et al., 2003; NURIT et al., 2005). O gênero Strychnos, um dos maiores para esta família, é constituído por cerca de 150 a 200 espécies, que ocorrem praticamente em todo planeta, mas especialmente nas Amérias do Sul e Central, na África, na Ásia e na Austrália (AIMI et al., 1989). São espécies encontradas predominantemente na forma de cipós ou arbustos de pequeno porte (LORENZI, 1998). O Brasil é considerado um dos centros de diversidade do gênero Strychnos, onde são encontradas cerca de 62 espécies das 71 catalogadas para as Américas (KRUKOFF e BARNEBY , 1969a). S. pseudoquina (quina-do-cerrado ou quina), conforme ilutrada na Figura 22, é uma espécie nativa da América do Sul, pertencente à família Loganiaceae, única árvore do gênero Strychnos de porte médio com tamanho entre 3 a 6 metros de altura (SILVA et al., 2005). Também pode ser considerada uma planta nativa do cerrado brasileiro, sendo amplamente encontrada nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins (ALMEIDA et al., 1998). 96 Lorenzi (1998) descreve esta espécie como sendo uma planta arbórea com copa frondosa, caule e galhos tortuosos, casca espessa e mole; folhas opostas, flores pequenas, brancas ou branco-esverdeadas, perfumadas. Os frutos são comestíveis e consistem em pequenas bagas globosas, lisas, escuras quando maduras; contêm polpa amarela envolvendo as sementes. O chá das folhas ou casca do caule da S. pseudoquina é utilizado na medicina popular como estimulante, tônico, regulador digestivo, antipirético e antimalárico (ANGENOT et al., 1990; FREDERICH et al., 2000). A quina é empregada na medicina popular local com várias finalidades de uso, com destaque maior para os problemas estomacais e verminoses. A casca foi a parte da planta mais utilizada nos diversos preparos de remédios caseiros citados pelos informantes da comunidade local, sendo os mais comuns: de molho na água, queimada e serenada. 97 Os depoimentos abaixo revelam alguns conhecimentos sobre a espécie citada: “Eu uso casca de quina pra fazê chá pro estromo...é muito amargo...parece um fel na boca, mais é muito bom...quando alguém recrama de dor no estromo perto de mim eu já falo da quina.” (D. de C., 73 anos. Sucuri, 2014). “No mínimo uma vez por ano todos aqui de casa toma um xarope que eu faço que é muito bom pra matá os verme, principalmente as crianças...eu pego a casca de quina, folha de hortelã do mato, folha de erva de santa maria e casca de para-tudo-do-mato coloca tudo numa panela com água deixa ferve bastante, depois de coado põe um pouquinho de açúcar mascavo e deixa engrossar...todo dia toma uma colher de sopa de manha em jejum por uma semana...a criança até passa ficar mais corada.” (E., 76 Anos. Sucuri, 2014). Eu gosto de fazê serenada ou torrada de quina...é bem fácil...a torrada você coloca a casca da quina em uma panela sem água e deixa torrar por alguns minutos depois coloca água natural em cima e ta pronto...a serenada você coloca a casca em uma vasilha com água e deixa posar de um dia pro outro no sereno e já pode bebê...mata tudo os vermi e a criança fica mais animada.” (J. A., 55 Anos. Sucuri, 20014). Estudos fitoquímicos sobre essa espécie tem demonstrado a presença de flavonóides e alcalóides como potenciais princípios farmacológicos exibindo atividades antimicrobiana, antitumoral, antiplasmodial (SANTOS et al., 2006) e a atividade antiulcerogênica que comprovada no estudo realizado com extrato metanólico de suas folhas (SILVA et al., 2005). Esta planta vem sendo fortemente utilizada na medicina tradicional de diversas regiões do país por apresentar propriedades afrodisíacas, tônicas, antipiréticas e também é indicada em caso de problemas do fígado, doenças do estômago e anemia (ALMEIDA et al., 1998; SILVA et al., 2005). Justificando assim seu uso empírico pelos moradores locais. 98 4.4.3. Hymenaea courbaril L. (jatobá) Siqueira et al. (1995) enquadram o jatobá como sendo uma leguminosa arbórea de classificação sucessional clímax, não-nodulífera e, quanto à adaptação ambiental, como nativa de solos ácidos. O mesmo pode ser encontrado em todo o continente americano, em áreas de mata, lavouras e margens de rios, principalmente no Estado do Amazonas e no Centro-Oeste brasileiro (SOUSA et al., 2012). Neste estudo foram encontrados espécimes tanto nas matas ripárias da região como nos quintais dos moradores, principalmente nos quintais que não são delimitados com cercas e que fazem divisa com as matas, sendo considerado um elemento de conservação. A H. courbaril L. (Figura 23), pertencente à família Fabaceae, popularmente conhecida como jatobá, é uma árvore semidecídua de grande porte que chega ultrapassar 30 metros de altura, possui tronco cilíndrico de até 2 metros de diâmetro (LEE e LANGENHEIM, 1975). Apresenta copa espalhada; casca lisa, dura e cinzenta; folhas alternas, pecioladas e bifoliadas, flores em panículas terminais indeiscentes (CLAY et al., 2000). 99 e frutos Conforme a Figura 24 pode-se observar que o fruto do jatobá é um legume seco monospérmico ou polispérmico podendo medir de 8 a 20 cm de comprimento, sua textura é rugosa e sua cor varia de marrom-claro a marrom-escuro. Em cada fruto ocorre de uma a seis sementes. A polpa é fibroso-farinácea, com sabor doce e cheiro característico (CARVALHO, 2007). 100 A floração acontece de outubro a abril e sua frutificação de julho a novembro. Seu fruto possui alto teor de glicídios indicando grande quantidade de amido em sua constituição (MARTINS, 2006). Do jatobá são aproveitadas todas as partes (resina, casca, raízes, polpa dos frutos e seiva), seu principal uso é medicinal, sendo utilizado contra afecções pulmonares de modo geral, dores e cólicas estomacais, como vermífugo e antidiarreico, antioxidante, diurético, expectorante, hepatoprotetor, estimulante e energético (CORRÊA, 1984; VIEIRA, 1991). Conforme as informações expostas na Tabela 2 pode-se perceber que o jatobá foi mencionado para o tratamento de 10 tipos de afecções na comunidade local, principalmente para as moléstias do sistema respiratório, sendo as mais citadas à tosse e a bronquite. Os depoentes informaram que usam principalmente a casca e o fruto desta planta para fazer xarope e batido com leite, respectivamente, com intuito de combater os sintomas desagradáveis causados por essas doenças. 101 Em se tratando de etnofarmacologia no estudo de Bieski (2015) realizado com os moradores do Vale do Juruena – MT, a planta, popularmente denomidada jatobá do gênero Hymeneae também é largamente usado como medicinal para as patologias do sistema respiratório, principalmente para bronquite e tosse. Relatos de moradores da Sucuri ensinando preparos feitos com jatobá comprovam estes usos comuns: “Eu pego a casca do jatobá coloco em uma panela com cinco litros de água com um pouco de melado ou mel e deixo ferve até virar um litro ai eu guardo na geladeira e vou tomando não tem remédio melhor pra curá a tosse e bronquite. Minha mãe que me ensinou esta receita, ela sempre fazia quando a gente era criança e hoje eu faço pros meus filhos e netos.” (E. F. B., 53 anos. Sucuri, 2014). “Quando alguém aqui de casa tá com catarro no pulmão ou muita tosse eu já faço um xarope com casca de jatobá, aroeira e angico que é tiro e queda.” (B. L. G., 69 anos. Sucuri, 2014). “Eu tenho um pé de jatobá aqui no quintal, já fiz muito remédio com ele...jatobá é um santo remédio...serve pra muitas coisa...eu gosto de bater o fruto dele com leite pra tomar...é gostoso e serve como expectorante.” (C. C. O., 63 anos. Sucuri, 2014). Estudos fitoquímicos detectaram a presença de diterpenos na resina exsudada pelo tronco e em extratos da casca de H. courbaril (NOGUEIRA et al., 2001). Foi encontrado também a presença de compostos fenólicos (flavonóides, procianidinas e taninos), óleos essenciais e terpenos em extratos da casca, folhas, frutos, resina e seiva (Miyake et al., 2008; Aguiar, 2009) que agem como antimicrobianos, antifúngicos e moluscocidas, sendo estas atividades comprovados em vários estudos, o que valida sua longa história de uso medicinal (LORENZI e MATOS, 2002). Recentemente Bezerra (2013) demonstrou em um estudo farmacoquímico de maneira inédita, que extrato, frações e astilbina, 102 substância química isolada dessa espécie vegetal, apresentaram efeito interessante sobre a musculatura lisa traqueal de ratos, comprovando suas ações miorrelaxantes e antiespasmódicas. Pode confirmar também a sua capacidade de inibir a hiperreatividade em tecidos submetidos ao desafio antigênico, bem como atribuir importantes propriedades antiinflamatórias e antioxidantes a esta planta, sendo o primeiro estudo que relata os efeitosde H. courbaril no trato respiratório, corroborando com as evidências demonstradas em diversos estudos etnofamacológicos e justificando o uso dessa espécie na medicina popular. 4.4.4. Matricaria recutita L. (camomila) A espécie Matricaria recutita L. (Figura 25) pertencente à família das Asteraceae, é uma planta herbácea, anual, aromática que pode atingir 50 cm de altura. Nativa dos campos da Europa e foi aclimatada em algumas regiões da Àsia e nos países latinos. No Brasil é popularmente conhecida por camomila, maçanilha, camomila comum, camomila-romana, camomila-dos-alemães, camomila vulgar entre outros (LORENZI e MATOS, 2002). 103 Suas folhas são alternas, bi a tripinatissectas, com os segmentos lineares, agudos, verdeclaros, lisos na face superior. Suas flores são reunidas em capítulos com flores centrais amarelas e as marginais de corola ligulada e tubulosa branca (CORREA JÚNOR et al., 1991). A camomila é uma das plantas medicinais mais cultivadas no mundo e no Brasil. É uma espécie aromática de interesse farmacológico, alimentício e cosmético devido à existencia de óleos essenciais e flavonóides em seus capítulos florais. Na medicina popular ela é muito utilizada pelas suas propriedades carminativas, antiinflamatórias, analgésicas, antiespasmódicas, cicatrizante, emenagogo e calmante (AMARAL et al., 2003; MAPELI et al., 2005). Esta espécie apresenta grande expressividade entre os entrevistados da Sucuri que referiram usar a planta principalmente como calmante e em dores abdominais como podemos constatar nas falas de alguns moradores. 104 “A camomila é boa prum monte de coisa, mas eu costumo fazer o chá dela quando eu estou nervosa, ansiosa com alguma coisa e não consigo dormir...é só tomar o chazinho e já me acalmo e logo durmo.” (M. D. de A., 43 anos. Sucuri, 2014). “Quando eu ou meu marido tamu com dor di barriga eu corro fazer um chá das foias da camomila e quando tem frozinha eu coloco também, mas quando não tem vai só as foias mesmo...aí a gente bebe aquele chá e miora, não precisa nem ir no postinho de saúde.” (D. do N. C., 67 Anos. Sucuri, 2014). Além dos usos mencionados acima pode-se perceber que existem outros menos habituais, como exemplificado no relato abaixo: “Eu usei muito chá de camomila quando eu tinha meus filhos pequenos...na fase quando os dentes está pra nasce e depois fiz também para meus netos...alivia muito a dor e deixa eles bem calminhos.” (E. S. O., 63 Anos. Sucuri, 2014). Como justificativa para seu uso empírico estudos já comprovaram a identificação de mais de 120 constituintes químicos presentes nesta planta. Seus capítulos florais apresentam em sua composição: camazuleno, matricina, alfa-bisabolol, flavonóides, colina, cumarina, ácido málico, proteína, açúcares, lipídios e elementos minerais (POVH, 2000). As atividades antiinflamatórias da camomila estão relacionadas aos principais constituintes encontrados no seu óleo essencial (sesquiterpenos, derivados do bisabolol) e lactonas guaianolídicas (procamazuleno), e o efeito espasmolítico aos flavonóides (ROBBERS et al., 1996). 4.4.5. Phyllanthus niruri L. (quebra-pedra) Quebra-pedra é o nome comum dado à espécie Phyllanthus niruri L. (Figura 26). Esta erva monoica é uma Euphorbiaceae com caule cilíndrico liso, ramos muito finos, decíduos, e avermelhados. Ao invés de folhas, possuem catafilos espiralados no eixo caulinar com 2-3 mm de 105 comprimentos, finos e densos. Nos ramos, as folhas são simples, alternadas e pecioladas, encontrando-se em lados opostos (GILBERTE et al., 2005). Na medicina popular brasileira esta planta é muito utilizada por pacientes com urolitíase, por causa da sua ação efetiva em eliminar cálculos renais (FREITAS et al., 2002). A eliminação desses cálculos através da utilização do infuso de folhas de quebra-pedra deve-se a uma ação antiespasmódica possivelmente atribuídos à presença de compostos flavonoídicos, como quercetina, e alcalóides do tipo norsecurinina (MARQUES, 2010). Barros et al. (2006) costataram em seus experimentos que o extrato aquoso de P. niruri também é eficaz na inibição de formação de cálculos renais. Além dos compostos citados acima Nascimento (2008) ao realizar uma investigação nas partes aéreas desta planta encontrou as seguintes substâncias: antraquinonas, flavonóides, taninos e terpenóides. 106 Estes estudos comprovam que as propriedades farmacológicas presentes nesta planta não provém apenas de crença popular, mas que realmente provocam o relaxamento dos ureteres, promovendo ação analgésica, facilitando a expulsão dos cálculos, normalmente sem dor nem sangramento, aumentando a filtração glomerular e a excreção de ácido úrico (LORENZI e MATOS, 2002). Todos os informantes da comunidade Sucuri que referiram utilizar a planta quebra-pedra indicaram para problemas renais. Pode-se confirmar esta afirmação nas seguintes falas: “Eu tenho muito problema nus rins e tenho pressão alta pra ajudá...então eu não fico sem meus chá...as vezes eu tomo chá de quebra pedra, outras veiz de cana do brejo, mas quando meus rins ataca ai eu faço um chá que é um antibiótico natural...eu frevo jaquicendi, quebra pedra e cana do brejo com 2 litros de água até soltá e formá uma cinta na água ai tá pronto pra bebe.” (R. F. L., 53 anos. Sucuri, 2014). Quando começa aquela dorzinha chata nas minhas costas já faço ligeiro um chá das folhas de quebrapedra...é muito bom pra quem tem crise de rins. (E. S., 62 Anos. Suicuri, 2014). 107 5. CONCLUSÃO Percebe-se com o desenvolver desta pesquisa o quanto é importante os estudos etnobotânicos realizados em comunidades, sejam elas tradicionais ou de saber local, pois os mesmos nos permite aproximar da realidade destas populações resgatando o que elas possuem de melhor que é o conhecimento de vida adquirido por décadas de experiências empíricas com a natureza. A Comunidade Sucuri vive hoje um processo de transformação nos aspectos sócio-econômicos. Porém, a tradicionalidade de muitos dos seus hábitos e costumes estão preservados. Percebe-se ainda que os moradores possuem e mantém os conhecimentos sobre as plantas, tanto dos quintais como dos recursos que a flora local os fornece. As pessoas locais praticam a conservação da biodiversidade mantendo assim a sustentabilidade ambiental referente às comunidades vegetais, como fonte permanente de uso diário para as diferentes etnocategorias botânicas. A etnofarmacobotânica, empregada como estratégia na investigação das plantas medicinais, auxilia no crescimento da fitoterapia e no desenvolvimento dos fármacos por agregar o conhecimento científico ao saber empírico. A junção dessas ciências fundamenta muitas pesquisas do ramo da química e na elaboração de novos fármacos que ao longo de sua trajetória acabam testando e confirmando o que esses povos vêm utilizando na prática por décadas. P. barbatus (boldo), S. pseudoquina (quina), H. courbaril (jatobá), M. recutita (camomila) e P. niruri (quebra-pedra) são espécies medicinais que tem seu uso tradicional em longa escala tanto pelos moradores da comunidade Sucuri como por outros brasileiros de várias regiões do país. O estudo etnofarmacobotânico realizado nesta pesquisa fundamentou o uso popular das espécies citatas acima reunindo trabalhos científicos que comprovam os efeitos famacológicos existentes nas mesmas. O boldo que foi apontado para as moléstias do aparelho 108 digestório pode estar relacionado com a ocorrência de cariofileno como principal componente presente no seu óleo essencial. O jatobá para as doenças do sistema respiratório está vinculado às propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes contidos nesta planta. Os alcalóides presentes na entrecasca da quina apresentam atividades antimicrobiana e antitumoral justificando o seu uso popular como vermífugo. Já a camomila que é utilizada pelos entrevistados, principalmente, como calmante, função esta que pode ser explicada pela existência dos bioativos camazuleno e alfa-bisabolol. Por fim, os efeitos diurético, analgésico e redutor de cálculos renais do extrato aquoso feito com as folhas, partes aéreas ou planta inteira de quebra-pedra também já foram comprovados por meio de experimentos. 109 6. REFERÊNCIAS AB’SÁBER, A. N. O suporte geoecológico das florestas beiradeiras (ciliares). In: RODRIGUES, R. R.; LEITÃO, H. F. F. 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Acesso em: 04 de junho de 2014. 121 APÊNDICE UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL – FENF Programa de Pós-Graguação em Ciências Florestais e Ambientais PPGCFA ENTREVISTA NOME:_____________________________________________________ SEXO: ( ) Feminino ( ) Masculino IDADE:_______________ COR DA PELE: ( ) Negro ( ) Pardo ( ) Branco ( ) Outros RELIGIÃO: ( ) Católico ( ) Evangélico ( ) EspÍrita ( ) Outros ESTADO CIVIL: ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Divorciado ( ) Viúvo Amasiado ( ) GRAU DE INSTRUÇÃO: ( ) Sem Instrução ( ) E.F. Incompleto ( ) E.F. Completo ( ) E.M. Incompleto ( ) E.M. Completo ( ) E. Superior ESTADO DE ORIGEM:________________________________________ QUANTO TEMPO RESIDE NA COMUNIDADE? ( ) Menos de 30 anos ( ) 30 anos ou mais NÚMERO DE PESSOAS DA FAMÍLIA: ___________________________ NÚMERO DE PESSOAS QUE RESIDEM NA CASA:_________________ QUE ATIVIDADE EXERCE ATUALMENTE?________________________ RENDA MENSAL DA FAMÍLIA: ( ) Até 1 salário mínimo ( ) de 1 a 3 salários mínimos ( ) mais de 3 salários mínimos POSSUI DOENÇA CRÔNICA: ( ) H.A. ( ) Câncer ( ) Outras PRATICA ATIVIDADE FÍSICA: ( ) Sim É FUMANTE: ( ) Sim ( ) Diabetes ( ) Cardiopatias ( ) Não ( ) Não POSSUI PLANO DE SAÚDE: ( ) Sim ( ) Não POSSUI FESTAS CULTURAIS? QUAIS? QUANDO? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 122 DADOS DO IMÓVEL ENDEREÇO: ___________________________________________________________ FORMA DE APROPRIAÇÃO DO IMÓVEL: ( ) Próprio ( ) Alugado ( ) Outros TIPO DO IMÓVEL: ( ) Alvenaria ( ) Madeira ( ) Outros QUANTAS PEÇAS POSSUI:____________________________________ POSSUI ENERGIA ELÉTRICA: ( ) Sim POSSUI ÁGUA ENCANADA: ( ) Sim ( ) Não ( ) Não POSSUI REDE DE ESGOTO: ( ) Sim ( ) Não LOCALIZAÇÃO DO QUINTAL: ( ) Fundos PLANTA NO QUINTAL? ( ) Sim ( ) Lateral ( ) Frente ( ) Não QUAIS ESPÉCIES PLANTADAS NO QUINTAL QUE VOCÊ UTILIZA? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ TEM PLANTAS QUE CURAM? NOME ( ) Sim PARTE UTILIZADA ( ) Não FORMA DE USO PARA QUE SERVE 123 ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ QUEM CUIDA DO QUINTAL? ( ) Próprio ( ) Cônjuge ( ) Outro ___________________________________________________________ QUANTOS VEZES POR SEMANA CUIDA DO QUINTAL? ( ) 1X ( ) 3X ( ) Todos os Dias ( ) 2X QUANTO TEMPO GASTA PARA CUIDAR DO QUINTAL? ___________________________________________________________ QUAL ÉPOCA DO ANO TEM MAIS TRABALHO COM O QUINTAL? ( ) Seca ( ) Águas TEM COSTUME DE REUNIR NO QUINTAL? ( ) Sim ( ) Não PARA QUE? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ OUTRAS ATIVIDADES NO QUINTAL (POR QUE?):_____________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 124 QUAL A IMPORTÂNCIA DO QUINTAL PARA O SR.(a)?_____________________________________________________ ___________________________________________________________ COMO PLANTA? (CONHECIMENTO EMPREGADO):______________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ COM QUEM APRENDEU A PLANTAR?__________________________________________________ O QUE FAZ COM AS FOLHAS E RESTOS DE CAPINAS DO QUINTAL? ( ) Queima ( ) Outro ( ) Joga no Lixo ( ) Faz Adubo (Composto) CASO FAÇA COMPOSTO, EXPLIQUE COMO?____________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ COMPRA ALGUM INSUMO PARA USAR NO QUINTAL?( ) Sim ( ) Não QUAIS?____________________________________________________ CRIA ANIMAIS NA RESIDÊNCIA? ( ) Sim ( ) Não QUAIS AS ESPÉCIES? ___________________________________________________________ QUANTIDADE_______________________________________________ INSTALAÇÕES: ( ) Cercado ALIMENTAÇÃO: ( ) Ração ( ) Solto ( ) Resto de Comida Qual é a importância dos animais na vida do SR(a)?_____________________________________________________ __________________________________________________________ USA OS RESÍDUOS: ( ) Como Adubo ( ) Vende VOCÊ JÁ TIROU/TIRA PLANTAS DA MATA? ( ) Sim ( ) Não Usa ( ) Não QUAIS? PARA QUE SERVEM? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 125 ANEXO TERMO DE ACEITE DE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA Eu___________________________________portador(a) da Carteira de Identidade no__________________________e do CPF________________________venho por meio do presente documento oficializar o termo de aceitação para participar de livre e espontânea vontade como integrante da Pesquisa: A ETNOBOTÂNICA E A ETNOFARMACOLOGIA NA COMUNIDADE SUCURI, CUIABÁ, MATO GROSSO, coordenada pela Profª. Dra. Maria Corette Pasa do Departamento de Botânica e Ecologia/IB da Universidade Federal de Mato Grosso e desenv olv ida pela Mestranda K a r i n a G o n d o l o G o n ç a l v e s do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da UFMT. __________________________________________ Assinatura da(o) participante Cuiabá - MT, ____ de _________________ de 2014. 126