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Apocalipse, capítulo 131
Versículo 1: Então vi subir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete
cabeças, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças
nomes de blasfêmia.
O capítulo 13 é resultado da ira do dragão descrita em 12.17. João vê
uma besta que emerge do mar. O mar, em todo o Apocalipse, simboliza a
esfera do mal. A besta, ao emergir, vai revelando, aos poucos, sua
configuração, semelhante à do dragão (capítulo 10): 10 chifres, 7 cabeças com
coroas, e sobre as cabeças nomes de blasfêmia.
1
Este estudo não é autoral. Consiste, em sua quase totalidade, na compilação de ideias dos
autores citados nas referências, ao final do capítulo.
Desde logo, fica claro que a besta é um poder que se opõe a Deus, em
razão das blasfêmias a que se refere o texto. Os chifres, como visto várias
vezes no livro, são símbolo de poder; e as cabeças, de líderes.
O capítulo 7 do livro de Daniel traz a descrição de vários seres que
guardam muita semelhança com a descrição da besta. Ao buscar o significado,
Daniel descobre que se trata de reis e poderes que se levantam para combater
Deus e seu povo. Os quatro animais, que, juntos, somam 7 cabeças,
equivaleriam à besta com suas 7 cabeças, e o pequeno chifre que surge logo
depois na visão de Daniel, seria o anticristo, que, no capítulo 13 de Apocalipse,
é a besta que emerge do mar. Aqui os estudiosos acreditam tratar-se da
mesma realidade, pois o capítulo 17 de Apocalipse trará o significado dos 10
chifres como 10 reis.
A besta está unida ao dragão, embora tenha um papel distinto. O dragão
é o rei do império do mal, e a besta, seu braço militar. Seus chifres são uma
paródia aos 7 chifres de Cristo. A besta que sobe do mar é o Anticristo e fará
oposição a Deus, tentando usurpar seu poder e autoridade. A obra do mal está
sempre querendo assemelhar-se à obra divina para enganar e buscar o que
sempre desejou: adoração. Suas blasfêmias e reivindicação para ser adorada
são o cerne de sua obra maligna.
É possível que João tivesse em mente o culto ao imperador, que, em
sua época, era o grande desafio enfrentado pelas igrejas na Ásia Menor, uma
vez que alguns dos chefes de Roma eram tratados como um deus antes
mesmo de sua morte. Se Deus se referiu a uma pessoa em sua profecia, por
cumprimento cruzado, caso a predição tenha tido um cumprimento também no
tempo do apóstolo, podemos entender que se trata de líderes, reinos e poderes
que resistirão a Deus e perseguirão os santos.
Versículo 2: E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como
os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder e o
seu trono e grande autoridade.
Semelhantemente aos quatro seres descritos por Daniel, a besta tem
características de leopardo, urso e leão (Dn 7.4-7), o que ilustra sua natureza
amedrontadora. A besta de Apocalipse seria, por conseguinte, a combinação
de todos os impérios ou bestas que se têm levantado contra Deus e seu povo.
Em Daniel, a referência é a quatro impérios consecutivos; em Apocalipse, a um
líder apenas.
A besta receberá diretamente do dragão (Satanás) poder, trono e grande
autoridade, mas agirá apenas porque Deus lhe dará permissão e, ainda assim,
por tempo determinado. O Anticristo será a soma dos impérios que surgiram
antes dele em oposição a tudo que é de Deus.
Versículo 3: Também vi uma de suas cabeças como se fora ferida de morte,
mas a sua ferida mortal foi curada. Toda a terra se maravilhou, seguindo a
besta,
O poder recebido do dragão permite à besta realizar sinais, como a cura
da ferida mortal que acometeu uma das cabeças da besta. Esse feito maravilha
as pessoas e as leva a seguir a besta. Apesar de tudo isso, a besta agirá por
tempo determinado, pois seu poder não se compara ao de Deus e de seus
anjos vingadores, que agirão para exterminar sua ação (Ap 14.18; 16.18), bem
como o poder do anjo com “grande autoridade”, que destrói Babilônia (Ap
18.1).
O termo “anticristo” é usado apenas no Novo Testamento e
explicitamente apenas por João (1 Jo 2.22; 4.3; 2 Jo 7). Sua elaboração data
do período intertestamentário, mas só foi plenamente desenvolvido na era
cristã. Embora apenas 2 Ts e Apocalipse 13 falem explicitamente do Anticristo,
o assunto foi relevante na vida diária da igreja primitiva. O Anticristo e a 2ª
besta liderarão o império chamado a “Grande Babilônia”.
Precedido por muitos falsos mestres, o Anticristo levará muitos ao
engano (Mt 24.10; 2 Ts 2.3). Em Mc 13.14, Jesus fala da abominação da
desolação (o Anticristo?), e Daniel 9.26,27 menciona um ato profano, possível
referência a Antíoco Epifânio (167 a.C.), de onde vem a ideia do Anticristo.
Antíoco Epifânio (Antíoco IV) foi o pequeno chifre de Daniel, o qual erigiu um
altar a Zeus sobre o altar do templo de Jerusalém.
Além dele, Nero e Gaio (Calígula) foram modelos de anticristos, pois se
opuseram de forma especialmente cruel contra o povo de Deus e, por
consequência, contra o próprio Deus.
A besta que sobe do mar mostrará todo tipo de milagres para iludir,
provar suas reivindicações e agir por meio de engano e será a soma de todos
essas figuras humanas tão amplamente usadas pelas forças do mal.
Versículo 4: e adoraram o dragão, porque deu à besta a sua autoridade; e
adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? quem poderá
batalhar contra ela?
O dragão é adorado porque deu autoridade à besta, a qual recebe tal
proeminência, que as pessoas a consideram incomparável e o mais poderoso
dos seres, esquecendo-se todos completamente dos feitos de Deus e deixando
de reconhecer nele a deidade.
A ferida mortal da besta é paródia da morte e ressurreição de Cristo.
Satanás está sempre tentando usurpar a realidade de Deus/Cristo, embora,
naturalmente, isso lhe seja impossível. Seu intuito é enganar e trazer para suas
fileiras aqueles que rejeitarem o convite divino. Esse milagre leva a que muitos
(toda a terra) sigam a besta e a adorem como também ao dragão, que lhe deu
autoridade. Daqui em diante, o tema da adoração à besta será recorrente e
Apocalipse distinguirá os adoradores de Deus falsos dos verdadeiros.
Versículo 5: Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias; e
deu-se-lhe autoridade para atuar por quarenta e dois meses.
Versículo 6: E abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu
nome e do seu tabernáculo e dos que habitam no céu.
Versículo 7: Também lhe foi permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e
deu-se-lhe autoridade sobre toda tribo, e povo, e língua e nação.
Versículo 8: E adora-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos
nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação
do mundo.
A expressão “foi dado(a)” e sinônimos aparecem inúmeras vezes no livro
de Apocalipse mostrando como tudo está estritamente debaixo da autoridade
de Deus. Nada acontece sem sua permissão e todas as coisas obedecerão a
um tempo determinado por ele. Nem Satanás nem a besta podem fazer o que
for sem sua autorização.
Por 42 meses (3 anos e meio ou 1.260 dias), a besta agirá proferindo
arrogâncias e blasfêmias contra Deus e seu povo (boca de leão), insultando
também o tabernáculo de Deus e os que habitam o céu. Assim como em 11.1,
o povo de Deus é associado ao tabernáculo, por não se tratar de um lugar, mas
dos discípulos que adoram a Deus (a igreja somos nós). As arrogâncias e
blasfêmias são referência aos abusos verbais e físicos causados aos santos
pelo Anticristo e seus seguidores.
A besta fará guerra aos santos, os vencerá e exercerá sua autoridade
sobre todos (tribo, povo, língua e nação). A adoração à besta será universal, o
que não aconteceu até hoje na história do povo de Deus. Nem na época de
João, com todo o poderio de Roma, o culto ao imperador foi universal.
Adorarão a besta aqueles que não têm seu nome escrito no livro da vida, termo
que aparece cinco vezes em Apocaliopse (3.5; 17.8; 20.12,15; 21.27). A
primeira vez que o livro da vida é mencionado é em Êx 32.32,33. A rejeição e a
rebelião dos moradores da terra impedem seu acesso ao céu. Eles são apenas
habitantes da terra.
A morte das duas testemunhas e a conversão de algumas pessoas dará
fim a esse período, e então virá o escaton, a volta de Cristo.
Versículo 9: Se alguém tem ouvidos, ouça.
Aqui temos uma interrupção na narrativa e é trazida uma advertência
aos crentes, nos moldes da advertência que feita a cada uma das sete igrejas
da Ásia Menor, destinatárias das cartas do Apocalipse. O chamado profético
alerta para a importância de se dar ouvidos à palavra de Deus.
Versículo 10: Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à
espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a perseverança e a
fé dos santos.
Essa primeira parte do capítulo é encerrada por dois dísticos, que
encontram precedentes no livro de Jeremias, cap. 15.2 e 43.11, embora em
contextos diferentes.
Os dísticos funcionam como ditados. No caso de Apocalipse, estão
dizendo que, se alguém estiver destinado ao cativeiro, para o cativeiro irá; se
alguém tiver de ser morto à espada, isso acontecerá, e nisso está a
perseverança e a fé dos santos, por não amarem a própria vida mais do que a
Deus. Os crentes ativamente rejeitarão a adoração à besta e passivamente
aceitarão o martírio. É Deus que vence pelo seu povo, pois derrotar a besta é
função divina, muito além das possibilidades humanas.
Somos chamados a participar da glória e da vitória do Cordeiro, mas
também de seus sofrimentos. Nos dias finais, de grande perseguição e
sofrimento, os crentes experimentarão essa faceta da vida cristã de forma
ainda mais dramática que hoje (Mt 24.9; 24.21).
Versículo 11: E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes
aos de um cordeiro; e falava como dragão.
Versículo 12: Também exercia toda a autoridade da primeira besta na sua
presença; e fazia que a terra e os que nela habitavam adorassem a primeira
besta, cuja ferida mortal fora curada.
Versículo 13: E operava grandes sinais, de maneira que fazia até descer fogo
do céu à terra, à vista dos homens;
A segunda parte do capítulo começa no verso 11 e fala de uma segunda
besta. No decorrer do capítulo, se verá que 1ª besta tem um papel mais político
(subjugar os santos e dominar o mundo), ficando para a 2ª as funções
religiosas (levar o mundo a adorar a 1ª besta, o Anticristo). Há quem associe
essas figuras ao Estado e a uma igreja estatal, embora o texto, por si só, não
deixe claro como essas duas figuras se organizarão para agir.
Diferentemente da 1ª besta, a 2ª tem apenas 2 chifres. Embora sejam os
chifres semelhantes aos do cordeiro, sua fala assemelha-se à de um dragão, o
que mostra sua malignidade.
A 2ª besta tem a mesma autoridade da 1ª besta e a exerce na sua
presença, o que mostra a ligação estreita entre um e outro ser. Apesar das
semelhanças, a 2ª besta trabalha em função da primeira, pois seu intuito é
levar todos a adorarem a besta que foi curada da ferida mortal.
O poder que tem lhe permite realizar diversos sinais, como fazer descer
fogo do céu à vista dos homens. Como sempre, age por imitação: Elias fez
fogo descer do céu; da boca das duas testemunhas saiu fogo e será com fogo
que Deus destruirá o exército de Satanás. A imitação é a pedra de toque do
movimento do mal.
Os estudiosos acreditam que essa 2ª besta seja um falso profeta, que,
juntamente com a 1ª besta e o dragão, formam a falsa trindade.
Provavelmente o papel da 2ª besta seja opor-se à igreja e levar as pessoas à
apostasia mencionada em 2 Ts 2.3. É, portanto, o falso profeta derradeiro.
No Antigo Testamento, um dos testes para se identificar um falso profeta
era observar se ele utilizava o poder profético para seu engrandecimento. Nos
tempos do fim, Deus permitirá que o falso profeta engane as nações, como é
dito em Rm 1.24,26, as quais ele entregará às próprias paixões desonrosas.
Deus as entrega ao engano que elas mesmas já haviam escolhido. Em certo
sentido, Deus as está entregando a Satanás. Todo esse poder de engano, no
entanto, não escapa ao controle divino e só ocorrerá, como já mencionado, até
quando Deus determine sua cessação.
Versículo 14: e, por meio dos sinais que lhe foi permitido fazer na presença da
besta, enganava os que habitavam sobre a terra e lhes dizia que fizessem uma
imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.
Os sinais de engano levarão as pessoas à idolatria. O Anticristo será o
8º rei (Ap 17.12), que desenvolverá as práticas idólatras romanas e as levará à
concretização final. O fato de a ferida mortal da besta ter sido curada é a razão
de as pessoas a adorarem. Há centenas de manifestações sobrenaturais de
Deus nas Escrituras, mas elas não levam as nações a adorá-lo, no entanto
basta um sinal para que o mundo siga a besta.
Versículo 15: Foi-lhe concedido também dar fôlego à imagem da besta, para
que a imagem da besta falasse e fizesse que fossem mortos todos os que não
adorassem a imagem da besta.
Mais uma vez, a expressão “foi-lhe dado/concedido” aparece e
demonstra que Deus mantém o controle das ações malignas, impedindo que
desbordem o limite preestabelecido por ele.
A estátua recebe vida e passa a falar, obtendo poder para matar aqueles
que não a adoram. Plínio, governador romano, escreve a Trajano, imperador
de Roma, contando que mandou executar cristãos que se recusaram a
oferecer vinho e incenso diante da estátua do imperador, práticas despóticas
que se repetirão no final dos tempos com as duas bestas.
Versículo 16: E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e
escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na fronte,
Versículo 17: para que ninguém pudesse comprar ou vender, senão aquele
que tivesse o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.
Versículo 18: Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o
número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é
seiscentos e sessenta e seis.
A 2ª besta manda que um sinal de fidelidade seja colocado em todos os
adoradores da 1ª besta, sem o qual ninguém poderá comprar ou vender.
Todos, sem exceção, devem se subordinar, sob pena de total alijamento da
sociedade. Como acontecia na época de João, a expulsão das guildas (tipo de
cooperativas agrícolas) impedia que o expulso vendesse seus produtos, e esse
desligamento era motivado, no caso dos cristãos, pelo fato de eles se
recusarem a participar das festas em que o imperador era adorado.
Este é um versículo altamente discutido na Bíblia e muitas teorias já se
formaram em torno dele. O texto diz que aqui há sabedoria e que o número é
número de homem e revela ser o 666. O número 6 é considerado o número da
imperfeição, mas a que exatamente se refere o texto não sabemos. O fato é
que o domínio da besta se estenderá a todas as nações com mão de ferro,
obrigando a todos a se subordinar às suas ordens. Os que se recusarem
estarão impedidos de ações de sobrevivência.
O selo indica propriedade; o abandono da lealdade a Deus e a aceitação
absoluta de uma nova lealdade. Nesse tempo, não haverá lugar para a
neutralidade, pois quem não confessar a Cristo naturalmente pertencerá à
besta. Será um tempo de comprometer-se, de tomar decisões que repercutirão
na eternidade.
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Perguntas para fixação do conteúdo
1) Qual é basicamente o papel de uma e outra besta?
2) Quem está por trás da ação das bestas?
3) O que significará o sinal imposto pela besta e que implicação terá?
4) Que postura Deus espera dos seus filhos nesse tempo de
perseguição?
Questões para reflexão
1) Não sabemos quanto tempo falta para que esses fatos relatados no
Apocalipse se concretizem diante dos nossos olhos. Sendo assim,
que posso fazer para, se for o caso, estar preparado(a) a responder,
até com a própria vida, às imposições das forças do mal?
2) Como posso estar alerta para identificar o cumprimento das profecias
presentes em Apocalipse?
Que lições você tirou do capítulo 13 de Apocalipse?
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REFERÊNCIAS
DUCK, Daymond R. Guia fácil para entender Apocalipse. Rio de Janeiro:
Thomas Nelson, 2014.
MIRANDA, Neemias Carvalho. Apocalipse – comentário versículo por
versículo. Curitiba/PR: A. D. Santos Editora, 2013.
OSBORNE, Grant R. Apocalipse. São Paulo: Vida Nova, 2014.
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