6-sexta-aula-do-curso-de-semantica-formal

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Sexta aula do curso de semântica
Alessandro Boechat de Medeiros – [email protected]
Tipos semânticos (continuação) e predicados não verbais
Como vimos na aula anterior, nomes próprios denotam entidades, e, portanto, sua
extensão pertence ao conjunto das entidades ou indivíduos, indicado por D e. Já as
extensões das sentenças pertencem ao conjunto Dt, dos valores-de-verdade. Verbos
intransitivos relacionam indivíduos (do conjunto De) a valores de verdade (do conjunto
Dt): suas extensões são funções que estabelecem essa relação, e tais funções pertencem
ao conjunto D<e,t>. Vimos que verbos transitivos têm como suas extensões funções
compostas, que relacionam indivíduos a funções que relacionam indivíduos com
valores-de-verdade. Tais extensões pertencem ao conjunto D<e,<e,t>>. E assim por
diante...
Ora, podemos definir todos os conjuntos que serão domínios semânticos da seguinte
maneira. Uma vez que (i) e e t são tipos semânticos, (ii) se  e  são tipos semânticos,
então <,> é um tipo semântico, e (iii) nada mais é um tipo semântico, então os
conjuntos que podem ser domínios de funções no sistema que estamos estudando são os
seguintes:
De: conjunto das entidades ou indivíduos;
Dt: conjunto dos valores-de-verdade: {0, 1};
D<,>: conjunto das funções de D em D.
A partir daí, podemos definir outros tipos de predicação: verbos bitransitivos, nomes
com complemento, preposições, adjetivos (com ou sem complemento), etc.
Tomemos o exemplo de um verbo bitransitivo na sentença: João levou Maria ao
Louvre. Uma maneira de representar essa estrutura é supor que (como em LARSON,
1988) o argumento indireto é irmão do verbo, e o objeto direto é o especificador de um
VP interno dominado pela projeção de outro V. Assim,
(1)
S
3
João
VP
3
V
VP
3
Maria
V’
3
V
ao Louvre
Levou
Vamos assumir que a preposição é vazia de significado aqui, e que na própria
especificação do verbo tenhamos a necessidade dos três argumentos expressa na função
que é sua extensão. Assim,
(2) [[levou]] := xe.ye.ze.z levou y a x
e:
(3)
[[S]] = 1 sse João levou Maria ao Louvre
3
João
[[VP]] = ze.z levou Maria ao Louvre
3
V
[[VP]] = ze.z levou Maria
ao Louvre
3
Maria = [[Maria]]
[[V’]] = ye.ze.z levou y ao Louvre
3
V
ao [[Louvre]] = Louvre
[[Levou]] =
xe.ye.ze.z levou y a x
Mas há outros tipos de predicação. Pensemos, por exemplo, em construções com
cópula. Temos pelo menos três tipos de complementos possíveis para uma cópula: um
complemento nominal, um adjetivo ou um sintagma preposicional, como nos exemplos
a seguir:
(4) Pedro é inteligente/está cansado.
(5) Mário é (um) bombeiro.
(6) Bernardo está em Jacarepaguá.
Nos três casos, as cópulas podem ser tratadas como semanticamente vácuas (a solução
de fato mais simples, considerando o que temos até o momento). O que realmente
seleciona argumento são os predicados que são complementos das cópulas. Tanto
adjetivos quanto nomes, no nosso sistema, definem conjuntos de indivíduos que
compartilham a propriedade ou propriedades a que o adjetivo ou nome se referem.
Assim, as extensões de ambos serão funções que relacionam entidades (membros do
conjunto De) e valores-de-verdade (membros do conjunto Dt). Ou seja, serão funções
que pertencem ao conjunto D<e,t>.
Definindo:
(7) [[inteligente]] := ze.z é inteligente.
(8) [[bombeiro]] := ze.z é bombeiro.
Já a preposição locativa em (6) pode ser tratada como uma função do mesmo tipo da dos
verbos transitivos, em que um indivíduo é relacionado a uma função que relaciona um
indivíduo a um valor-de-verdade. Ou:
(9) [[em]] := ye.ze.z está em y.
Algumas representações:
(10)
[[S]] = 1 sse Pedro é inteligente
3
Pedro
[[VP]] = ze.z é inteligente
3
V
é
(11)
[[AP]] = ze.z é inteligente
|
A
[[inteligente]] = ze.z é inteligente
[[S]] = 1 sse Bernardo está em Jacarepaguá
3
Bernardo
[[VP]] = ze.z está em Jacarepaguá
3
V
[[PP]] = ze.z está em
Jacarepaguá
3
[[em]] =
[[NP]] = Jacarepaguá
= ye.ze.z está em y
|
[[N]] = Jacarepaguá
|
[[Jacarepaguá]] = Jacarepaguá
está
Exercício
1) Calcule as condições de verdade das sentenças a seguir. Considere que as descrições
definidas (artigo definido mais nome comum) denotam entidades.
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
(g)
(h)
Maria deu o chapéu para Clara.
Alberto mora em Realengo.
Cláudio é amigo de Pedro.
Pedro está orgulhoso do filho.
O macaco gosta da Maria.
Vera leu “Crime e Castigo”.
Vanda canta a “Ave Maria”.
O vaso está embaixo da mesa.
2) Em algumas das sentenças acima, existem preposições vácuas e cópulas, que,
assume-se, não dão contribuição semântica à sentença. Entretanto, essas palavras são
nós terminais sintáticos dentro de uma estrutura. Assumindo que o cálculo semântico vê
todos os nós sintáticos, e que todos os itens (nós terminais) têm uma extensão, como
podemos incluir as preposições e cópulas semanticamente vazias no cálculo do
significado das sentenças em que ocorrem?
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