ÍNDICE 1. APRESENTAÇÃO 3 2. INTRODUÇÃO 4 3. SALVADOR CIDADE D’ OXUM 6 4. MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS E AS RELAÇÕES DE GÊNERO 10 5. AS MULHERES DA CIDADE D' OXUM 12 6. BIBLIOGRAFIA 15 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA RESUMO Este projeto tem suas raízes nos estudos iniciados na graduação, quando realizamos, como pré - requisito para a conclusão do curso de bacharel em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FFCH/UFBA. Nosso interesse neste trabalho foi compreender a participação das mulheres de Salvador como dirigentes das associações de moradores, sobretudo na década de 80, fenômeno inteiramente diverso daquele da década de 70 quando o movimento de bairro era dirigido por homens. No mestrado em Geografia, coloco como desafio contribuir modestamente com a reflexão sobre as mulheres e a ocupação do espaço segregado da periferia de Salvador estudando as principais dimensões da dominação: a de gênero, a de classe e a de raça expressos no cotidiano das mulheres nos espaços da casa, da rua, do bairro e da cidade. Pretende - se com isso, compreender as modalidades e experiências de tempo e espaço partilhadas por homens e mulheres nas múltiplas dimensões da vida social contemporânea, estudando as múltiplas formas de apropriação do espaço da casa, da rua, do bairro e da cidade pelas mulheres e homens lideranças e não lideranças da periferia de Salvador, suas possíveis identidades territoriais, fazendo uma leitura do espaço construído a partir dos sujeitos individuais e coletivos, analisando as imbricações de gênero, raça e classe e a segregação existente. Entender, também, em que medida a condição de gênero associada a condição de raça e classe expressa a apropriação e uso diferenciado do espaço da periferia de Salvador em diferentes gerações. Palavras-chaves: Movimentos Sociais, gênero, raça e classe 2 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA AS MULHERES DA CIDADE d’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO É D’ OXUM Nesta cidade todo mundo é D’Oxum; Homem menino, menina mulher; Toda essa gente irradia magia; Presente na água doce; Presente na água salgada E toda cidade brilha; Seja tenente ou filho de pescador - lê! Ou importante desembargador; Se der presente é tudo uma coisa só A força que mora n’água;Não tem distinção de cor;E toda cidade é D’Oxum ( Vevé Calasans e Gerônimo ) 1. APRESENTAÇÃO Este estudo tem suas raízes nos estudos iniciados na graduação, quando realizamos, como pré - requisito para a conclusão do curso de bacharel em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FFCH/UFBA, no projeto de Pesquisa “Participação da Mulher da Periferia de Salvador nas Associações de Moradores. Resultou deste trabalho um relatório de pesquisa e um artigo publicado na Revista SODEPAZ, Cuadernos África e América Latina - Madrid: “ROMPIENDO LAS AMARRAS: el movimiento de mujeres en la periferia de Salvador”. Nosso interesse neste trabalho foi compreender a participação das mulheres de Salvador como dirigentes das associações de moradores, sobretudo na década de 80, fenômeno inteiramente diverso daquele da década de 70 quando o movimento de bairro era dirigido por homens. A outra razão e talvez a mais importante é o fato da autora ser militante do Movimento de Bairro e de Mulheres há muitos anos. Esta é, portanto, uma tentativa de teorização da prática, compreendendo a importância do necessário distanciamento no sentido de abstrair –se do seu enorme envolvimento para trazer a público os problemas e possibilidades destes movimentos e as relações de gênero no seu interior. Ao optar pelo mestrado em Geografia, coloco como desafio contribuir modestamente com a reflexão sobre as mulheres e a ocupação do espaço segregado da periferia de Salvador estudando as principais dimensões da dominação :a de gênero, a de classe e a de raça, expressos no cotidiano das mulheres nos espaços da casa, da rua, do bairro e da cidade. Pretende - se com isso, compreender as modalidades e experiências de tempo e espaço partilhada por homens e mulheres nas múltiplas dimensões da vida social contemporânea. Considerando- se que este projeto pretende dar continuidade ao anterior, buscar se- á também compreender a participação feminina nos movimentos coletivos urbanos de Salvador e o grau de participação deste segmento, comparando militantes e não militantes em três gerações. Este estudo procura também compreender a crise que afeta hoje a sociedade civil brasileira, em particular os movimentos de bairros de Salvador, seus erros , acertos e suas contradições, apesar de não ser objetivo central do projeto, é importante para entender o quanto ela tem ou não afetado a participação das mulheres. 3 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA 2. INTRODUÇÃO Este ensaio está baseado no referencial teórico - metodológico do projeto de dissertação " As Mulheres da Cidade d' Oxum e Movimento de Bairro " que tenta compreender as diferentes formas de apropriação do espaço urbano pelas mulheres das classes populares da periferia de Salvador numa abordagem multidisciplinar, como propõe SANTOS(1996: 17), que afirma “ com a globalização do mundo, as possibilidades de um trabalho interdisciplinar tornam-se maiores e mais eficazes. O mundo é um só. Ele é visto através de um dado prisma, por uma dada disciplina". Neste sentido, tento compreender, de forma preliminar, a questão urbana a partir da evolução do pensamento urbanístico, sociológico e geográfico na América Latina, assim como as teorias feministas que buscam a desconstrução do androcentrismo nas diversas ciências. Procuro também compreender as discussões sobre os movimentos sociais urbanos que se iniciam a partir de trabalhos desenvolvidos pelos teóricos da marginalidade, cuja ênfase fundamental se coloca em torno da falta de integração de extensos setores da população em face dos problemas do desemprego urbano e da habitação subnormal, características do capitalismo nos países periféricos, com sua forma perversa de exploração da força de trabalho. É nos anos 70 e parte dos anos 80, que a forte influência das teorias marxistas na sociologia urbana de CASTELLS, na geografia de HARVEY , na filosofia de LEFEBVRE e outros, que se busca explicar os novos movimentos sociais urbanos que emergiram naquelas décadas. E nestes anos multiplicaram-se estudos sobre estes movimentos e duas questões muito relevantes foram colocadas: de um lado, os paradigmas tradicionais procuram explicar os novos movimentos sociais urbanos como resultantes das contradições urbanas inerentes ao capitalismo monopolista, atribuindo-lhes um grande potencial transformador, e, de outro, a busca de novos paradigmas procuraram explicar a pluralidade do social. A insuficiência dos macros sistemas explicativos das realidades latino - americanas e seus automatismos levam a se buscar a superação da dicotomia economicismo x culturalismo, passando a trabalhar a indeterminação histórica, o campo amplo das mediações. Essa busca de uma teoria do sujeito que supere os limites da teoria marxista clássica que define a posição dos indivíduos na luta política a partir das suas posições de classe, foram fundamentais para a compreensão das outras dimensões da vida social como a de gênero e de raça. Neste sentido é que adotei Oxum, símbolo de Salvador, especialmente para a cultura negra, onde este campo amplo das mediações se realizam. Como Deusa das águas doces (rios, fontes e lagos), Oxum não é mais só dos adeptos do candomblé.” Toda cidade é d’ Oxum” diz a música. Ela também é deusa do ouro, da fecundidade, do jogo de búzios e do amor. De personalidade maternal e tranqüila Oxum representa a vida com todas as suas contradições. Me associo, portanto, a HARVEY (1993) quando analisando a crise do materialismo histórico, aponta para a necessidade de uma concepção dinâmica da teoria e do materialismo histórico para apreender o significado das mudanças que já vinham ocorrendo na economia política, na natureza das funções do Estado, nas práticas culturais e na dimensão do tempo-espaço em que as relações sociais tinham de ser avaliadas. Nesse sentido aponta quatro questões da maior relevância: 1. O tratamento da diferença e da “alteridade” não como uma coisa a ser acrescentada a categorias marxistas mais fundamentais (como classe e forças 4 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA produtivas), mas como algo que deveria estar onipresente desde o início em toda tentativa de apreensão da dialética da mudança social. A importância da recuperação de aspectos da organização social como raça, gênero, religião no âmbito do quadro geral da investigação materialista histórica ( com sua ênfase no poder do dinheiro e na circulação do capital) e da política de classes (com sua ênfase na unidade da luta emancipatória) não pode ser superestimada. 2. Um reconhecimento de que a produção de imagens e de discursos é uma faceta importante de atividades que tem de ser analisada como parte integrante da reprodução e transformação de toda ordem simbólica. As práticas estéticas e culturais devem ser levadas em conta merecendo as condições de sua produção cuidadosa atenção. 3. Um reconhecimento de que as dimensões do espaço e do tempo são relevantes, e de que há geografias reais da ação social, territórios e espaços de poder reais e metafóricos que se tornam vitais como forças organizadoras na geopolítica do capitalismo, ao mesmo tempo em que são sede de inúmeras diferenças e alteridades que tem de ser compreendidas tanto por si mesmas como no âmbito da lógica global do desenvolvimento capitalista. Assim o materialismo histórico finalmente começa a levar a sério a sua geografia. 4. O materialismo histórico - geográfico é um modo de pesquisa aberto e dialético, em vez de um corpo fixo e fechado de compreensões. A metateoria não é uma afirmação da verdade total, e sim uma tentativa de chegar a um acordo com as verdades históricas e geográficas que caracterizam o capitalismo tanto em geral como em sua fase presente. À luz do pensamento marxista geográfico associado a geografia de gênero é que procuro compreender os territórios feminino e masculino, no estudo de 108 lideranças e não lideranças distribuídas em 27 bairros de Salvador nos espaços da casa, da rua, do bairro e da cidade e no interior dos movimentos urbanos, nas suas relações contraditórias com o Estado brasileiro, um dos espaços mais privados, entre os tipos de Estados nação existentes, trabalhando também com o conceito de hegemonia de GRAMSCI e de espaço SANTOS ( 1985). Este afirma que o espaço deve ser analisado a partir das categorias de estrutura, processo, função e forma, que devem ser consideradas em suas relações dialéticas, sendo que forma é um aspecto visível, exterior de um objeto, seja visto isoladamente, seja considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos, formando um padrão espacial. Uma casa, um bairro, uma cidade e uma rede urbana são formas espaciais em diferentes escalas. Essa noção de função implica uma tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto criado, a forma. Habitar, vivenciar o cotidiano e suas múltiplas dimensões – trabalho, compras, lazer, etc. – são algumas das funções associadas àcasa, ao bairro, àcidade e àrede urbana, como aponta , ( SANTOS,1985). Para estudar a ocupação dos espaços, sentimento de pertencimento e território real e simbólico, em relação às escalas propostas neste projeto, busco também, os elementos básicos constituintes do território. Buscando as teorias que desconstróem o androcentrismo das várias ciências, especialmente da Geografia tão bem representado por afirmação como o “espaço geográfico, a morada do Homem, é reflexo e condição social, experenciado de diversos modos, rico em simbolismos e campos de lutas” é o desafio que procuro enfrentar com o desejo de que haja o reconhecimento da igualdade na diversidade, que as especificidades de gênero, raça e classe, sejam consideradas como estratégicas para compreender nossa sociedade. Nesse estudo tento, portanto, enfrentar o princípio androcêntrico, predominante em todas as ciências, e, 5 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA em particular, no pensamento científico geográfico. Desta forma, tentando que a multidimensionalidade do espaço, seja entendida como morada de homens e mulheres, trabalho a perspectiva de gênero, classe e raça/etnia imbricadas nas práticas sociais da sociedade baiana . Com esta proposta, ouso uma análise na perspectiva das correntes marxistas do feminismo, da geografia, da sociologia e outras disciplinas que contribuam na compreensão de como os problemas individuais se constituíram em ação coletiva, formação das identidades espaciais, sociais, culturais, políticas e religiosas das mulheres das classes populares de Salvador dentro e fora dos movimentos populares urbanos: trajetórias de um poder subterrâneo que rompe as amarras? 3. SALVADOR CIDADE d’ OXUM Salvador, a cidade d ‘ Oxum, fundada em 1549, pelos portugueses e construída pelos negros e índios, sob o perverso sistema escravocrata. Aqui, os negros reinventaram identidades e construíram uma cidade fortemente marcada pela dor e sofrimento, mas também pela cultura das diferentes etnias que aqui vieram da África e dos índios que aqui já viviam. Salvador completou 450 anos em 1999 sendo a terceira maior cidade brasileira com quase 3 milhões de habitantes e população predominantemente negra (Jornal A Tarde, 1996). Ao longo da história, baiana e brasileira, o povo negro tem sido excluído de uma efetiva participação nas decisões do país e dos benefícios do desenvolvimento, do qual ele foi fundamental, mas vítima principal do processo histórico de exclusão social. Durante metade de sua existência, Salvador foi o maior centro político, cultural e econômico da América Latina. Depois entrou em declínio, ficando estagnada desde o início do século 20 até por volta de 1950, com a instalação da Petrobrás, o Centro Industrial de Aratu na década de 60, e na década de 70 com o Polo Petroquímico a economia da RMS tomou outro rumo. Esse processo industrial tardio, contudo, não reduziu as desigualdades históricas da cidade, demonstradas em estudos recentes que colocam Salvador no ranking por capital em sétimo lugar em relação à elite (15%), com 40% de excluídos e 21% de remediados ( Datafolha, 1997). Mas esta cidade que nasce sob a dor da escravidão, torna-se a cidade mais negra fora da África, não só na cor da pele, mas na força da sua cultura. A formação histórica de Salvador não pode, portanto,ser entendida sem o Recôncavo dos engenhos, o tráfico e a escravidão negra, como afirma REIS(1999). Mas também sem os índios, suas aldeias e o genocídio perpetrado pelos colonizadores. A base histórica dessa sociedade desigual que vivemos está bem interpretada na afirmação IANNI ( 1987): " A história do povo revela que há diversidades raciais que são criadas e recriadas no interior das desigualdades sociais. Aliás, as características raciais são produzidas socialmente nas relações entre etnias. Nesse sentido é que a raça, o preconceito racial e o racismo são produtos das relações entre membros de grupos que se consideram e agem como diferentes, como desiguais", que nos ajuda a melhor compreender a formação do povo brasileiro nas suas diversidades raciais". Contribuir para a desconstrução da chamada “democracia racial brasileira" que dominou por muito tempo o pensamento intelectual brasileiro e ajudou a mascarar os 6 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA graves problemas do racismo de nossa sociedade e que ainda persistem, na medida que entre outras coisas omite sua existência, é muito importante. Nesta perspectiva estudos mais recentes, como, de duas autoras brasilianistas, NOBLES (2000) que mostra como o censo tem ajudado a " embranquecer" o Brasil e a historiadora BUTLER(1998) que estudou os primeiros 50 anos de alforria vividos pelos negros, comparando Salvador e S. Paulo. O debate sobre raça, espaço , poder e estratégias de trabalho de mulheres pobres estão sendo muito úteis na compreensão dos pilares da discriminação contra o negro e a negra no Brasil. Mas , em particular é fundamental compreender que a dominação contra a mulher brasileira baseia-se no patriarcado, no racismo e no capitalismo. Por esta razão precisamos enfrentar o conjunto destes sistemas, incluindo os sistemas cultural e simbólico, visando a construção de uma nova sociedade. Ao estudar as principais dimensões da opressão que atinge as mulheres das classes populares: a de classe, a de raça/etnia e a de gênero, a partir de trabalhos que apontam, por exemplo, a existência de um sistema social de classificação que tem como gradiente de diferenciação da cor da pele um dos elementos centrais àprodução das desigualdades sociais, que são racializadas (BARRETO e CASTRO, 1992), tentamos entender a construção cotidiana deste processo. As diferenças e relações de gênero, imbricando - se com a classe social e, de outro, analisando-se a transformação das mulheres das classes populares em sujeitos sociais e políticos, reconstituindo suas trajetórias nas lutas populares por melhores condições de vida e seu sentimento de pertencimento em relação à casa, à rua, ao bairro e à cidade, o espaço real e simbólico, a construção das suas identidades nestas escalas, é parte importante neste estudo. Compreender estas múltiplas temporalidades e usos do espaço demarcado e segregado da mulher na casa, na rua e na cidade em diferentes gerações, é fundamental para entender a formação histórica de Salvador, sem o que, uma parte importante dela não será entendida, apesar do estudo antropológico de LANDES ( 1949 ) que a chamou “ Cidade das Mulheres” ou FERREIRA FILHO (1994) a chamou de " Salvador das Mulheres “, pela força que certamente elas tem mesmo tendo que enfrentar enormes desigualdades existentes, sobretudo quando mulher negra. A sociedade não é um conjunto homogêneo, assexuado, e, portanto, Salvador só será uma cidade d ‘Oxum, cidade também das mulheres se seus habitantes compreenderem a sua diversidade racial, de gênero e de classe, tendo como conseqüência a superação e/ou erradicação dessas desigualdades. E as desigualdades da cidade d’ Oxum também estão presentes no predomínio do desemprego, que atinge negros e mulheres conforme a PED97. É a cidade da informalidade de baixa renda que reflete a precariedade das relações de trabalho e da baixa escolaridade. Para BARRETO (1994: 14) este mercado informal inclui de modo muito particular os diferentes segmentos raciais: compõe-se por 48% de pretos,40% de pardos e 12% de brancos. No caso dos pretos sua participação no informal é sensivelmente superior ao seu peso, tanto em relação a População Economicamente Ativa- PEA (43%) quanto aos ocupados (42,6%); o contrário se verifica com os brancos (16% da PEA e 16,6% dos Ocupados); já os pardos mantêm no informal uma participação próxima àquela que apresentam na PEA (41%) , e nos ocupados (40,8%). Os negros são 84% dos desempregados da RMS e entre os que ocupam um lugar no mercados de trabalho apenas 8,5 % estão na indústria e 11,5% fazem trabalho doméstico. A pesquisa ainda revela um outro dado preocupante considerando-se as 7 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA novas exigências de um mercado de trabalho de tecnologia de ponta na era da globalização. A população de empregados que não tem primeiro grau completo corresponde a 46% do total. Pesquisas anteriores revelam que 2/3 da população ocupada não tem registro em carteira e/ou integra o mercado informal de trabalho(Jornal Tribuna da Bahia, 6.08.97). Permanecem, portanto as desigualdades de cor mais expressivas na ocupação, devido a maior presença dos negros no trabalho manual e dos brancos no trabalho técnico Quanto a composição setorial do emprego, observa-se uma forte concentração na prestação de serviços (administração pública e setor de serviços) que respondiam no final de 1980 por 60% das vagas existentes. O desemprego tem crescido em todos os setores e no PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego abril/97 ele chegou a 28% na RMS. Um forte exemplo desta situação é do Polo Petroquímico de Camaçari que na década de 70 empregava cerca de 25 mil trabalhadores e hoje apenas 5 mil. Esta tendência se mantém em 1999, quando o desemprego atinge mais de 27,9% da população ativa ( 403 mil pessoas) e a cara do desemprego da RMS é feminina e negra. As mulheres representam 53% da população de Salvador e da RMS, e representam 54% da população economicamente ativa e os negros 80%. Esta é uma tendência que revela o esforço da mulher baiana em superar a desigualdade em todos os campos, mas também é revelador do desemprego que atinge seus maridos, renda familiar mais baixa, e também uma maior sobrecarga de trabalho, já que o homem em casa não assume as tarefas domésticas e muitas vezes cai no alcoolismo. Mas a presença crescente das mulheres no mercado de trabalho é uma tendência latino-americana. De fato, nos últimos 15 anos, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho latino-americano quase dobrou e hoje se aproxima dos 50%. Segundo TEIXEIRA (1998) esse fenômeno é particularmente significativo no Brasil, onde as taxas de crescimento do emprego relativo a homens e mulheres apontam para a absoluta superioridade do segmento feminino. Entre 1979 e 1996, por exemplo, enquanto a taxa de avanço do emprego total crescia 3,87% e a dos homens apenas 3,15%, , a taxa relativa às mulheres chegava a 5,1%. Vale lembrar que apesar deste importante avanço, a exclusão de gênero também se expressa na maciça presença feminina nas posições mais mal remuneradas do mercado de trabalho. A desigualdade racial e de gênero se reflete , também na situação média dos salários. Para o brancos, a média é de 6,2 salários mínimos ( R$136,00 – cento e trinta e seis reais que eqüivalem a $70,00 ( setenta dólares), já entre os negros cai para 2,9 salários. Entre as mulheres, a média é de 3,6 salários para as brancas e de 1,7 salário para as negras ( A Tarde, 01/05/99). Nas últimas décadas, na RMS, porém, a incorporação das mulheres ao mercado de trabalho não significou grandes avanços, pois, segundo BARRETO(1992), ele é muito restrito em relação às ocupações( 10 perfazem 71% do total, enquanto 44 diferentes ocupações representam 73 % das ocupações dos homens. Além disso, existe a predominância de ocupações exercidas basicamente na residência, ou no máximo para a residência, e não nas empresas. Também é significativo que o emprego doméstico(18%) e de vendas(16%) sejam as atividades que mais absorvem as mulheres da RMS. No mercado formal, o emprego maciço de mulheres e crianças em jornadas iguais a de homens adultos contra salários mais baixos, era e continua sendo uma forma de acumulação capitalista que tem conseqüências até hoje na vida da nossa cidade, pois não podemos desconhecer que o mercado de trabalho e a distribuição de renda estão na 8 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA raiz dos problemas urbanos brasileiros. Vale dizer, também que a população é bastante jovem e está concentrada nas faixas etárias de 0-14 (39,4 %), 15-24 (21,10%) totalizando nestas faixas etárias 60,53%. A última PED abril/97 revela que 6,5% dos trabalhadores da RMS estão na faixa de 10 a 17 anos. Voltando ao passado, no caso baiano, SANTOS(1992), afirma que em 1920, em Salvador dentre os trabalhadores da indústria, 42% eram mulheres. Tinham pequena participação em todos os ramos, mas eram maioria esmagadora no setor de “vestuário e toucador”(72%) e no têxtil (63%).E assim diz : “Sendo a indústria têxtil o ramo fabril por excelência em Salvador, pode-se afirmar que as mulheres tinham participação fundamental na classe operária” Paradoxalmente, as mulheres operárias da antiga Fábrica São Braz, estudadas por SARDENBERG (1997) não se envolveram com o movimento operário da época. De acordo com ela : "Surpreendentemente, a memória social de Plataforma sobre esses movimentos é consideravelmente vaga e fragmentada, sobretudo no que tange às operárias”. O modelo de desenvolvimento econômico e social do capitalismo dependente do nosso país é profundamente marcado pela excessiva e perversa concentração de renda e riqueza, resultando em péssima qualidade de vida para a maioria da população. Em Salvador, 70% da população vive em péssimas condições de vida, e o crescimento da cidade bastante acelerado nas últimas décadas, não foi acompanhado de infra-estrutura correspondente. Segundo GORDILHO (1991), mais da metade das habitações em Salvador são edificadas em terrenos arrendados, aforados ou de posse irregular constituído pelos grandes e antigos bairros populares, loteamento clandestino e “invasões”. Decorrente deste e outros fatores a questão habitacional é um entre muitos dos problemas urbanos que caracterizam a crise brasileira, gerada também pela grande concentração de terras nas mãos de poucos. Com esta concentração, houve crescente migração para as cidades, especialmente para os grandes centros urbanos resultando em “inchação“, grande déficit habitacional e péssima qualidade de vida em geral. Na origem deste problema está a forma como Portugal, para povoar o Brasil, distribuiu as terras na forma de Capitanias Hereditárias, formadas por grandes extensões de terra, doando-as a pessoas que tivessem condições de grandes empreendimentos, dando origem ao latifúndio. Em 1850, criou-se a Lei de Terras e, a partir dela, a aquisição dela deixava de ser por doação para ser por compra. Essa atitude da elite, foi uma das formas de impedir o acesso a terra aos negros, pois no mesmo ano que criou a lei foi decretado a proibição do tráfico negreiro. Desta forma, a burguesia brasileira impediu o negro do acesso à terra, já que os movimentos pela libertação dos escravos crescia. Salvador, como a primeira cidade brasileira, é bem marcada por esta forma de ocupação do espaço. Ela ainda convive com os tradicionais latifundiários urbanos, cujos donos mantém formas arcaicas de cobrança de aluguel das terras, de um lado e de outro a distribuição das terras pelo Estado ao capital imobiliário que controla o desenvolvimento da cidade subordinando os interesses coletivos, aos seus e dos grupos políticos que controlam o aparelho do Estado. De acordo com PINHO(1993) o capital imobiliário 9 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA mantém estritas relações com o Estado e o capital financeiro e estas relações são marcadamente de subserviência e bajulação, mesmo havendo uma identidade ideológica, especialmente no período do regime militar. As péssimas condições habitacionais, o encarecimento do preço da moradia, a segregação de gênero, das raças, das classes e camadas sociais no espaço, são as principais características da urbanização brasileira. Na Bahia e em Salvador, esse processo não é diferente, onde aliás os conflitos de terras são acirrados com o latifúndio muito presente na estrutura fundiária do estado e da cidade. Segundo estimativas de vários movimentos que atuam na cidade, no caso de Salvador, de um lado estão os privilegiados que ocupam as chamadas áreas nobres e do outro, 70% da população que ocupa encostas e baixadas, sem infra-estrutura suficiente ou inexistente onde ocorrem constantes tragédias em período de chuvas ou epidemias como dengue, cólera, leptospirose, etc. Os movimentos sociais da cidade tem lutado por uma Reforma Urbana que garanta a democratização das relações sociais, econômicas, raciais e de gênero, que socialize o direito à cidade, mas a estrutura política e fundiária dominantes tem se mantido . 4.MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS E AS RELAÇÕES DE GÊNERO Nos movimentos sociais de modo geral, a passagem do reconhecimento da carência para a formulação de reivindicações é mediada por vários fatores entre eles a afirmação de direitos. Os habitantes da periferia afirmam os seus direitos à saúde, saneamento básico, transporte, educação, moradia, etc. As mulheres, além desses direitos, lutam por igualdade entre os sexos, por creches, por saúde da mulher, etc. .A transformação de necessidades e carências em direitos, que ocorre dentro dos movimentos sociais, pode ser vista como um amplo processo de revisão e de redefinição do espaço de cidadania, o que está de acordo com o pensamento de FOUCAULT (1998) afirma não ser o Estado o único espaço de poder, ou seja, ele compreende que o poder está em todo o sistema social, e neste trabalho procuro mostrar o importante papel desempenhado pelas mulheres que participam do movimento de bairro de Salvador. Vale ressaltar que os movimentos sociais urbanos no Brasil só passaram a ser objeto de pesquisa em meados da década de 70 ( KOWARICK, 1988) e a primeira pesquisa sobre associações de moradores de Salvador, ocorre na década de 90 (ESPIÑEIRA, 1991). Os poucos estudos sobre mulher e espaço no Brasil, também parece indicar a pouca relevância dada pela Geografia na articulação de categorias como gênero e espaço, o que nos leva a considerar que o estudo que estamos realizando pode dar uma contribuição à compreensão deste importante aspecto da vida social da nossa cidade, mesmo que modestamente. Para muitos autores, o desenvolvimento da pesquisa urbana no Brasil ocorreu amparada na ampliação da intervenção do Estado na área de planejamento urbano. Tais pesquisas buscam rupturas epistemológicas, novos paradigmas que expliquem a pluralidade do social, tentando melhor compreender o papel dos movimentos sociais na construção de identidades territoriais e sociais. Contudo, são ainda pequenos os avanços em várias áreas das ciências onde essas rupturas tem sido insuficientes, como é o caso da Geografia, ao ponto de reconhecer o lado feminino da sociedade e por essa razão propõe MARTINEZ : 10 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA " ...incitar a una reinterpretación de la Geografia desde una perspectiva de Género; en sentido podemos afirmar que el enfoque de género intenta ilevar a cabo una "deconstrución" de la Geografia, en la aceptación postomodernista del concepto. La idea directiz radica en que el espacio no es neutro desde, el punto de vista de género, lo cual implica la necesidad de incorporar las diferencias sociales entre hombres y mujeres y las diferencias territoriales en las relaciones de género; " las implicaciones de género en el estudio de la geografia son por lo menos tan importantes como como las implicaciones de cualquier outro factor social o económico que transforme la sociedad y el espacio". Há alguns avanços nesta perspectiva em relação a países da Europa e nos Estados Unidos, mas infelizmente, no Brasil são poucos os trabalhos em geografia seguindo este caminho. Aqui os estudiosos, planejadores e engenheiros freqüentemente não são capazes de ver os papeis ativos desempenhados pelas mulheres na comunidade e nos movimentos populares e projetam as cidades , desconhecendo a sua base demográfica, racial e cultural, como no caso de Salvador, onde a população feminina é maioria e a população negra e mestiça representam 80%( VERACIDADE, Salvador set/92). Analisando o fordismo no seu apogeu nos países de capitalismo avançado Harvey (1993), afirma: “ As desigualdades resultantes produziram sérias tensões sociais e fortes movimentos sociais por parte dos excluídos - movimentos que giravam em torno da maneira pela qual a raça, o gênero e a origem étnica costumavam determinar quem tinha ou não o acesso ao emprego privilegiado”. No Brasil e, em particular, na Bahia nos anos 90, os movimentos sociais principalmente o de bairro, refluíram bastante, não conseguindo durante a última década reinterpretar a novas conjunturas internacional e nacional elaborando respostas a avalanche de perda de direitos e ampliação das desigualdades impostas pela direita hegemônica que, no caso de Salvador é massacrante, controla todos os aparelhos do Estado ( legislativo,executivo, judiciário), mídia e grande parte da sociedade civil e religiosa. A resistência dos setores organizados tem sido insuficiente para impedir o avanço dessa direita no país. A situação de Salvador coloca novos e velhos desafios para os movimentos populares que tentam seu projeto contra-hegemônico, na luta contra as desigualdades sociais (concentração de renda, arrocho salarial,desemprego em massa,recessão, violência), sobretudo aquelas que atingem o negro, a mulher, maiores vítimas das desigualdades sociais e rumo a construção de um projeto de sociedade igualitária, humana e solidária, como defendem. É neste espaço urbano capitalista fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas, como define CORRÊA ( 1989), que podemos entender os movimentos sociais com suas possibilidades e seus limites e suas contradições. Para LACLAU ( 1986 ) a chave teórica para compreender a peculiaridade dos novos movimentos sociais seria buscar a característica central deles: um conjunto de posições de sujeito ( local de residência, aparatos institucionais, várias formas de subordinação cultural, racial e sexual ) tornam - se pontos de conflito e mobilização política. A proliferação destas novas formas de luta resulta da crescente autonomização das esferas sociais nas sociedades contemporâneas, autonomização essa, sobre a qual somente se pode obter uma noção teórica de todas as suas implicações, se partirmos da noção do sujeito como agente descentralizado e destotalizado. 11 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA Seguindo a linha de reflexão proposta por LACLAU (1986) a categoria de sujeito deixa de ser uma “unidade racional e transparente ”as práticas masculinas ou femininas moldam e são moldadas nas formas dos movimentos. Em conseqüência, os estudiosos dos movimentos sociais passam a ver o sujeito social a partir do qual se elaboram as representações - as múltiplas dimensões dos sujeitos sociais na fase atual do capitalismo, onde as relações de trabalho e relações sociais e espaciais têm mudado muito. Compreendo, também que os movimentos sociais que precederam a conquista da liberdade no Estado brasileiro, na derrubada da ditadura militar e os que se mantém ainda hoje na cena política brasileira, ou se constituíram mais recentemente, são formas de reunião, de expressão, de experiências que podem ser transformadoras e inovadoras desde que criem uma consciência de gênero, de classe e de raça, disputando na sociedade com os projetos hegemônicos. Este estudo pretende , buscar na teoria sociológica a compreensão sobre as formas históricas de relações entre a política e o urbanismo, entre a cidade e a sociedade, além dos movimentos sociais urbanos que se desenvolveram quantitativa e qualitativamente na maioria dos países da Europa ocidental , da América do Norte e América Latina, sua abrangência social e diferentes tendências políticas. Pretendo também resgatar uma outra característica fundamental destes movimentos não visto pela maioria dos autores, que é a forte participação feminina nestes movimentos além das variáveis espaciais onde a maior parte do marco teórico feminista, também tem sido pouco esclarecedor. 5. AS MULHERES DA CIDADE D' OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO Na sociedade patriarcal são as mulheres as mais responsáveis pelo cuidado da casa, da alimentação, da saúde dos membros da família e são, portanto, as mulheres dos bairros pobres que sofrem no seu cotidiano, os efeitos mais diretos da moradia precária. Com a separação espacial das atividades de trabalho remunerado, o homem se afasta do domicílio e a mulher é responsável socialmente pela totalidade das tarefas domésticas, mesmo quando trabalham fora, têm as funções piores e mais mal remuneradas e assumem dupla jornada. A discriminação contra a mulher no Brasil baseia-se no patriarcado, no racismo e no capitalismo, portanto, é o conjunto destes três sistemas que precisa ser enfrentado, visando a construção de uma nova sociedade. A questão da mulher, começou ganhar mais espaço social e institucional no Brasil, no final da década de 70 e começo dos anos 80, associando-se a outras questões de reivindicação social de influência das mobilizações populares, que tiveram lugar não só no Brasil mas em toda América Latina. Além dos debates sobre o machismo na família e na sociedade, a sexualidade feminina, a questão do aborto, a violência contra a mulher, elas reivindicam também uma política econômica favorável à classe trabalhadora. Podemos dizer que nas últimas décadas as mulheres de Salvador e da Bahia em geral se mobilizaram na mesma direção, guardadas as devidas proporções e as diferenças culturais, políticas e econômicas, espaciais e específicas de cada região. Conforme ESPIÑEIRA (1991), em Salvador há uma predominância das mulheres da periferia como dirigentes das associações de moradores, sobretudo do início da década de 80 até agora, fenômeno inteiramente diverso da década de 70, quando o movimento comunitário era dirigido quase sempre por homens. Ainda conforme ESPIÑEIRA (1991), 12 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA em Salvador esta situação chega a 44, 0% e 54, % na FABS - Federação das Associações de Bairros de Salvador. Entre os motivos mais imediatos que as lideranças comunitárias de Salvador declaram para de engajarem no movimento popular estão as carências de bens e serviços de consumo coletivo(saúde, educação, moradia) nos quais as políticas públicas tem sido mais omissas, ineficazes e ineficientes em todo Brasil, e particularmente em Salvador, cidade crescentemente empobrecida e afetada pelos problemas citados pelas lideranças. Destes problemas os mais indicados foram: saúde e saneamento (37%) moradia (27%) e educação (17%) (GARCIA, PACHECO e SANTOS, 1992). Isto confirma o que diz PERROT( 1979): “as mulheres se afirmam por outras palavras, outros gestos. Na cidade ou mesmo na fábrica possuem outras práticas quotidianas, formas concretas de resistência que demonstram a racionalidade do poder que tem raízes no uso do tempo e do espaço que lhe são próprios.”( PERROT, 1979). Não podemos desconhecer os avanços ocorridos nas últimas décadas, mas apesar de disso, infelizmente, estudiosos, planejadores e engenheiros e outros profissionais, freqüentemente não são capazes de ver os papeis ativos desempenhados pelas mulheres na comunidade e nos movimentos populares e projetam as cidades, desconhecendo a sua base demográfica, racial e cultural, particularmente no caso de Salvador, onde a população feminina é maioria e a população negra e mestiça representam 80%( VERACIDADE, set/92). Sabemos que as mulheres são maioria na base das Associações de Moradores e são elas que em geral mantém as escolas e creches comunitárias e os movimentos reivindicatórios por saúde, educação, moradia, etc., quase como extensão das tarefas domésticas. Nos anos 70, poucas mulheres dirigiam as Associações de Moradores. Nos anos 80, sob a influência da FABS e movimentos de mulheres, elas passaram a ser quase maioria - 44% em Salvador e nas associações filiadas à FABS - 54%.( Espñeira, 1991) Ao longo da história humana ocorrem rebeliões femininas contra a desigualdade de gênero que atinge mulheres de todas as classes sociais e a luta pela libertação feminina tem demarcado em alguns períodos históricos o não conformismo delas, com a opressão milenar, que antecede a dominação capitalista. A consciência da situação de inferioridade dará origem ao surgimento de um movimento feminista em fins do século XVIII, que toma corpo na maioria dos países europeus e nos Estados Unidos no século XIX. No Brasil os movimento feministas de caráter burguês e revolucionário, desenvolveram-se, constituindo vários grupos e entidades. Nos últimos 30 anos, juntamente com o ressurgimento dos movimentos sociais que agitaram o país, lutando pela derrubada da ditadura militar, eles tem construído a luta pela igualdade entre homens e mulheres em todos os campos da vida social. Os primeiros movimentos feministas tiveram realizaram como primeiros passos para vencer as barreiras à ascensão social da mulher campanhas pela educação e pelo direito do voto feminino, que cresceram no século 19, especialmente na Grã-Bretanha. Esse movimento cresceu em alguns países, tendo os EUA conquistado o direito ao voto em 1920, Inglaterra em 1928 e o Brasil somente em 1933. A partir daí mais 33 países 13 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA adotaram o sufrágio feminino. Mas, apesar desse movimento em vários países, inclusive do chamado capitalismo central ou desenvolvido, somente em 1952 a Assembléia Geral da ONU aprovou a Convenção sobre Direitos Políticos da Mulher. Nas décadas de 40 e 50 o movimento feminista buscou despertar a consciência das mulheres para a conquista dos mesmos direitos assegurados ao homem na área social e da sexualidade. Nos anos 60 e 70 ganha maior força, assim como outros movimentos sociais. Neste período questiona-se a idéia mitificada de mãe e luta-se por igualdade em todos os aspectos da vida social. Direitos iguais no lar, na profissão, na sexualidade. Os anos 90, por sua vez, caracterizam- se, por uma grande participação feminina no mercado de trabalho e por uma avaliação de toda a trajetória do movimento. A revolução sexual e a liberação das mulheres ressurge nas utopias do anos 60. De acordo com COSTA ( 1997 ) esse ressurgimento nos anos 60, transformando a problemática feminina também numa questão intelectual, implicou na constatação de que a ciência, como um fenômeno social, refletiu e ao mesmo tempo reproduziu em suas práticas e representações as assimetrias de gênero observadas no plano social, apresentando um corte androcêntrico. Esse corte manifesta-se também no cotidiano das práticas científicas e acadêmicas. Embora o feminismo tenha enfrentado e continue enfrentando tantas barreiras os estudos realizados até agora, permitiram o avanço para o conceito de gênero, que remete à idéia da construção cultural - ideológica, social e econômica do que é ser mulher ou ser homem. COSTA(1997) analisa a trajetória e perspectiva do feminismo no mundo e no Brasil mostrando suas dificuldades históricas e a crise dos últimos anos. Entretanto, vê como importante as conquistas legais, as conquistas das últimas conferências mundiais sobre a mulher, particularmente a IV Conferência Mundial sobre a Mulher realizada em Beijing (Pequim/China ) em 1995, que garantiu as conquistas de conferências anteriores e ressalta os avanços na questão da igualdade de gênero, no reconhecimento do gênero, da raça e da etnia como fatores da desigualdade social. Em relação às perspectivas para o próximo milênio, considera que as políticas compensatórias, mesmo insuficientes devem ser uma das estratégias para estabelecimento da igualdade de oportunidades. Entretanto, alijadas historicamente do espaço público as mulheres tem revelado maiores dificuldades na ocupação dos espaços políticos – partidários.A campanha “ As Mulheres Sem Medo do Poder“ foi uma iniciativa importante da bancada feminina no Congresso Nacional ,que pretendia levar 100 mil mulheres a se candidatarem nas eleições de 1996. Conseguiu – se 60mil o que sem dúvida já é uma vitória, considerando-se a grande desigualdade de gênero existente no Brasil, principalmente na política. Infelizmente ,porém, não aumentou muito o número de mulheres eleitas conforme dados de algumas capitais. Em S Paulo, as mulheres ficaram apenas com 10% das cadeiras de vereadores e no Rio de Janeiro 12%. Em Salvador há duas legislaturas a presença de mulheres reduziu-se em relação a 1982 quando Salvador elegeu 5 mulheres. Em 1992 , 84 mulheres se candidataram e só foi eleita uma. Com a Lei Eleitoral 9.100/1995 - proposta pela bancada feminina no Congresso, que reserva no mínimo 20% de vagas para candidaturas femininas, buscando- se reduzir a desigualdade de gênero e o caráter das candidaturas femininas. São conhecidas as dificuldades das mulheres na participação política e por conseqüência a pequena participação partidária ., nas legendas demonstra essa situação: PT 6,1%, PFL 1,7%, PDS 1,7%,9,2% PDT, 6,6% PSDB ( Folha de São Paulo, 1996. Essa desigualdade de gênero na política brasileira 14 AS MULHERES DA CIDADE D’OXUM E O MOVIMENTO DE BAIRRO MESTRADO EM GEOGRAFIA / IGEO/UFBA ANTONIA DOS SANTOS GARCIA está bem demonstrada nos números das eleições municipais de 1996 quando se elegeram vereadores e prefeitos de 5.505 municípios, excluídos o Distrito Federal e Fernando de Noronha. Os vereadores eleitos para o período 1997-2000, por sexo segundo as grandes regiões, mostram que dos 58.704 vereadores eleitos, 51.787 são homens contra apenas 6.536 mulheres. Em relação ao poder executivo a situação é ainda pior. Dos prefeitos eleitos, considerando- se a distribuição por sexo, apesar de ter dobrado o número de prefeitas no de período de 1993 – 1996/1997-2000 quando a proporção era de 97% de prefeitos para 3% de prefeitas e se chegou no período de 1997-2000 a 94% para os homens e 6% para as mulheres.( IBAM, 1997). O fraco desempenho das mulheres do Brasil e em particular de Salvador, nas eleições de 1996, uma das que teve o maior número de candidatas na história política do país, reflete o caráter elitista, autoritário e racista da nossa sociedade e o caráter patriarcal da nossa cultura Não podemos esquecer que ao tempo do Império o voto só era permitido aos homens e homens proprietários. Assalariados, pobres e mulheres não podiam participar. Na Velha República ,as mulheres estavam excluídas do direito de votar. O capitalismo brasileiro com suas raízes no regime colonial, escravocrata, patriarcal, tem garantido a reprodução do poder das elites nestes quase 500 anos de formação da Nação com muito poucas alterações, especialmente quando se refere a participação no poder político pelas mulheres e principalmente mulheres negras. Infelizmente constatase neste final de século, que o progresso das comunicações tem ampliado o poder das elites brasileiras que praticam o chamado coronelismo eletrônico associado as suas velhas formas. É, portanto, da maior relevância compreender a transformação das mulheres das classes populares em sujeitos sociais e políticos, numa conexão entre a casa, o trabalho, o bairro e a cidade ( construção do espaço público e privado), a construção de suas identidades, dentro e fora dos movimentos sociais, especialmente a partir do movimento de bairro, do movimento pela moradia, pela qualidade de vida, compreendendo seus múltiplos significados. Compreendendo a prática desigual de uso do espaço urbano entre homens e mulheres, fazendo uma releitura sobre a cidade e as relações de gênero, ralações raciais e relações de classe que ocorre na cidade possibilitará a reelaboração de práticas sociais, práticas de planejamento, práticas de pesquisa que tornem a cidade mais humana mais igualitária, mais cidade - cidadã, construindo políticas públicas que contemplem a perspectiva de gênero, de raça e de classe. 8. BIBLIOGRAFIA BARRETO, Vanda Sá & CASTRO, N. RMS e singularidades do mercado de trabalho .In Planejamento Municipal, Salvador, 1992. BELTRÃO, Jane. Organizadas para sobreviver. In: mulheres - da domesticidade cidadania. ANPOCS, Água de São Pedro, 1987. BENEVOLO, Leonardo. As origens da urbanística moderna. Lisboa: Presença, 1987 BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Educação e Realidade. Porto Alegre: jul/dez 1995, Vol.20, n.2 _______________ A economia das trocas simbólicas. Prespectiva. BRAGA, Rosalina B. 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