Em cenário de primavera, detentas mostram o que aprenderam de

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MINAS GERAIS TERÇA-FEIRA, 24 DE NOVEMBRO DE 2009 - 8
Defesa Social
LÚCIA SEBE
Em cenário de
primavera,
detentas
mostram o que
aprenderam de
dança, canto e
teatro na
unidade
ARTE NO PRESÍDIO
Um painel com o mapa mundi, mesas forradas
com toalhas brancas e enfeitadas com flores de papel,
balões coloridos e floristas distribuindo rosas compuseram o cenário do Festival da Primavera-Mulher, realizado no Presídio Feminino José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves. Cento e dezenove detentas participaram do evento, que teve como objetivo
valorizar a cultura, a arte e a feminilidade das
participantes. Foram apresentados números de dança,
teatro, recital de poesia e canto, com figurinos do Palácio das Artes e do grupo de teatro Galpão Cine Horto.
O ator de comédia, escritor e diretor Kinkas Costa foi
uma das atrações da festa, encenando trecho de sua
peça "O Espiritólogo".
Dezoito presas revelaram seus talentos para a
dança. Nove fizeram apresentação de jazz e três optaram pela dança do ventre. As seis detentas restantes
recorreram a valsas de André Rieu, violinista e regente
holandês. As aulas e os ensaios foram comandados por
professoras da própria escola da unidade, onde é oferecida a modalidade Educação para Jovens e Adultos
(EJA) nos ensinos Fundamental e Médio.
A poesia também teve vez. Seis presas recitaram
textos de autores nacionais renomados, como Vinícius
de Morais, Cecília Meireles e Gonçalves Dias, apresentando postura cênica e figurino à altura. As roupas, de
estilo medieval, foram alugadas do Palácio das Artes e
emprestadas pelo Grupo Galpão. Já o teatro, que abordou a questão religiosa, conforme escolha das próprias
internas, mesclou expressão corporal e música e não
utilizou falas. "A peça alerta para os males que os
vícios acarretam na pessoa e mostra como Deus pode
operar milagres na vida de quem n'Ele acredita", explicou Cristiane Veloso, professora da escola.
O festival teve também o canto coletivo como
atração. Treze presas cantaram músicas de temática
religiosa.
Maquiagem
A maquiagem das artistas detentas foi feita pelas
18 alunas do curso de Maquiagem Cênica, ministrado
pela professora Regina Mahia. Desde o início de
novembro, ela comparece na unidade para ensinar as
técnicas da profissão às presas. "Todas têm se saído
muito bem. Fico feliz em poder formar discípulas, já
que o mercado é tão carente de profissionais nesse
ramo", alega.
A diretora de Ensino e Profissionalização da
Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), Maria
Helena Nobre de Moura, destacou que a política de ressocialização procura firmar parcerias, de forma que os
presos consigam uma real colocação no mercado após
o cumprimento da pena. "Esse curso de maquiagem
veio a calhar. Ao saírem daqui elas poderão encontrar,
com mais facilidade, um trabalho no ramo", afirmou.
O ator, escritor e diretor Kinkas Costa encenou um
trecho da peça "O Espiritólogo", que faz crítica às religiões
de maneira inteligente e questionadora, e arrancou gargalhadas dos presentes. Ele revelou que nunca tinha entrado
em uma unidade prisional. "Fiquei muito surpreso e encantado com o que vi. Percebi que a esperança e o amor motivam os corações das internas", afirmou.
OPORTUNIDADES QUE NÃO
APARECERIAM “LÁ FORA”
Adenilza Teodoro de Oliveira, que cumpre pena na unidade de
Ribeirão das Neves, foi uma das cantoras do evento, interpretando a
canção evangélica "Com muito louvor" e foi acompanhada por todas as
detentas. "Não fiquei tímida, mesmo tendo tanta gente me assistindo. Pode
haver uma multidão na plateia, mas meu canto é para Deus", falou.
Outra presa que participou da festa, dançando jazz, foi Crisleine da
Costa, aluna do curso de Maquiagem Cênica. "Espero que, quando sair
daqui, consiga um emprego na área de maquiadora. Quando isso acontecer, vou alugar uma casa e voltar a viver com meus filhos, recuperando a
guarda deles", disse.
A diretora-geral do presídio, Raquel Alves de Paula, explicou o sentido da festa. "Procuramos incentivar as atividades culturais e de lazer, proporcionando oportunidades que elas não teriam lá fora", comentou.
A diretora de Atendimento e Ressocialização, Isabel Linhares, disse
que momentos como esse ajudam as detentas no resgate da autoestima.
"Elas ficam muito sensibilizadas. Tudo isso provoca reflexões importantes,
criando oportunidades para que elas possam repensar seus atos e encontrar uma outra forma de vida".
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