ID: 40981646 28-03-2012 Tiragem: 41286 Pág: 27 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 15,87 x 29,90 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 A memória das cidades e de quem as habita num espectáculo errante JOÃO TUNA Teatro João Eduardo Martins Esta É a Minha Cidade e Eu Quero Viver Nela é a primeira co-produção do Teatro do Vestido com o Teatro Nacional São João É um jogo constante entre a memória subjectiva e a memória gravada nos lugares. Até sexta-feira, pelas ruas do Porto e no Mosteiro de São Bento da Vitória, a peça Esta É a Minha Cidade e Eu Quero Viver Nela, a primeira co-produção entre o Teatro do Vestido e o Teatro Nacional São João, propõe como espectáculo o resultado de um projecto de intervenção e questionamento da cidade. Construída em sete quadros, a peça percorre espaços como o Jardim da Cordoaria ou a Rua das Taipas, até terminar, num último quadro, nos claustros do Mosteiro de São Bento da Vitória. Durante duas semanas, os criadores do Teatro do Vestido mudaram-se para a Invicta. Quiseram vivê-la por dentro, calcorrear as ruas da cidade, entrever as histórias que se revelam a cada esquina e desvelar as paisagens humanas que se escondem no granito. Foi um trabalho de aproximação passo a passo às geografias poéticas do Porto. Para os ajudar a descobrir uma cidade que lhes é, de certa forma, estrangeira, convidaram Victor Hugo Pontes (coreógrafo) e Sofia Dinger (actriz), que vivem no Porto. A peça vive do cruzamento das experiências e memórias dos membros da companhia e destes colaboradores convidados, eixo fundamental na metodologia de criação da companhia. “Queremos questionar a cidade a partir de uma ideia qualquer que nos inquieta ou sobre a qual queremos falar, que pode ser um espaço ou uma memória. O Teatro do Vestido é sobre mapas, memórias, é sobre respigar coisas”, diz Joana Craveiro, directora artística da companhia. Esse esforço de convocar memórias e criar a partir da intersubjectividade desencadeia a “reinvenção” da realidade proposta neste espectáculo. Para Joana Craveiro, os lugares são feitos de “camadas, que vão desde a história, a geografia e o urbanismo até à afectividade”. É o que constitui a memória dos espaços. “Mesmo que não tenhamos me- O Teatro do Vestido quis chegar às geografias poéticas do Porto mória de um sítio, muitas vezes ele faz-nos lembrar outros sítios, e é por isso que este espectáculo não é todo sobre a cidade do Porto, é sobre nós, aqui, hoje, na cidade do Porto.” Zonas cinzentas Ao Teatro do Vestido interessam, sobretudo, as zonas cinzentas de um processo lúdico em que a realidade, como construção, apenas pode ser transmitida através de histórias contadas por personagens e em que estas se confundem com as pessoas reais que estiveram na sua origem. O espectáculo termina nos claustros do Mosteiro de São Bento da Vitória, com uma instalação que mapeia os locais percorridos e onde as personagens se despojam dos seus figurinos. “O culminar do espectáculo é esse encontro com a realidade, não apenas através do que nós contamos mas também da realidade que é, de certa forma, encenada ao vivo”, sublinha Joana Craveiro. Um encontro que também ganha forma na descoberta de um fascínio pela cidade do Porto: “Esta não é a nossa cidade mas nós até gostávamos de viver nela.” S. João junta clássicos e contemporâneos No próximo trimestre, o teatro nacional encena Shakespeare e Saramago U m ciclo dedicado ao dramaturgo irlandês Enda Walsh, o regresso a Shakespeare com Medida por Medida, a revisita aos anos do salazarismo do ponto de vista de um resistente em Diz-lhes Que não Falarei nem Que me Matem e a encenação do romance As Intermitências da Morte, de Saramago, são alguns dos pontos altos da programação do Teatro Nacional São João (TNSJ) para o próximo trimestre, anunciada ontem no Porto. Cruzando os clássicos e a contemporaneidade, destaca- -se a estreia nacional de Penélope, uma peça de Enda Walsh produzida pelos Artistas Unidos, no Teatro Carlos Alberto (11 a 13 de Maio) e, no mesmo palco, (12 e 22 de Abril), a peça de Marta Freitas Diz-lhes Que não Falarei..., um monólogo sobre o combate permanente por um ideal e pela liberdade. No Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, no TeCA (30 e 31 de Maio), estará As Intermitências da Morte, colaboração do encenador brasileiro José Caldas com o italiano Gianni Bissaca. J.E.M.