Fisiologia II Data: 22 de Abril de 2008 Docente: Prof. Alberto Escalda Desgravado por: Cátia Santos, Daniel Seabra e Tânia Araújo Tema: Potencial de Membrana; Potencial de Repouso Vamos continuar a falar da fisiologia da respiração. Relembrando alguns conceitos, lembram-se deste slide apresentado na última aula? A variação da pressão alveolar, da inspiração e da expiração... este slide tragovos para relembrar só que não é totalmente perfeito em relação ao outro que eu vos mostrei anteriormente. Reparem a duração da inspiração e da expiração é igual, o que não é verdade. Os valores de onde parte a pressão interpleural, cujo valor é -4,0 cmH2O, anda à volta dos 7.0cmH2O. Na proporção está sensivelmente verdadeiro excepto estes dois pequenos factores que referenciei. Chamo-vos à atenção que os livros de texto têm incorrecções por isso é que vos mostro este slide. Falamos também da elastância e da compliance. Voltamos a referir que o P/ V, ou seja, a variação da pressão em relação à variação de volume é a variação da pressão intrapulmonar necessária para fazer variar o volume uma unidade. Já ouvimos falar disto, a compliance é o inverso da elastância; equivale a 0,22 (é o seu valor). Significa que com o aumento de 1 cmH2O é insuflado no pulmão cerca de 0,22 litros de ar. Outras formas de abordar a inspiração e a expiração tem a ver com o trabalho realizado durante a respiração. A inspiração tem uma determinada variação de pressão em relação com o 1 volume. A inspiração é uma forma activa, a expiração de volume de ar corrente é passiva e o seu trabalho realizado durante um ciclo respiratório tem esta configuração, sensivelmente. Nem todo o ar que nós mobilizamos durante a inspiração vai entrar em contacto com os nossos alvéolos. Isto quer dizer que se nós no volume corrente, numa respiração normal e calma, mobilizamos cerca de meio litro de ar (500 mL), nem todos esses 500 mL vão chegar a estar em contacto com o espaço alveolar, com as trocas gasosas. Basta pensar para vermos que existe uma determinada quantidade de ar que está contido entre as fossas nasais e os alvéolos, que representa cerca de 1/3 do volume corrente, anda à volta dos 150 – 160 cm3; portanto é uma percentagem de ar que quando nós insuflamos o tal volume corrente de 500 mL, essa primeira parte a entrar em contacto com as trocas gasosas é o ar contido entre as fossas nasais, a traqueia e os brônquios terminais. Chama-se a este espaço, o espaço morto. Este, no nosso organismo tem duas componentes: pode ser anatómico ou fisiológico. Anatómico depende da anatomia de cada pessoa, logo, se esta tiver um tronco mais alto, mais alongado, terá um espaço muito maior enquanto o fisiológico vai aumentar com a idade da pessoa. Se se recordam, existe pequenos micro – embolismos que se vão desprendendo e vão entupindo, colapsando os capilares e portanto há alvéolos que deixam de estar insuflados ao longo da idade e deixam também de estar irrigados e, por conseguinte, vão aumentar gradualmente o espaço morto. Assim, num jovem o espaço morto anda à volta dos 150 mL. Numa pessoa com maior idade o espaço morto é maior, aumentando com a idade da pessoa. Reparem, então, que se isto for as vias aérias superiores e aqui o espaço alveolar, temos aqui um rectângulo branco que tem o volume correspondente ao espaço morto anatómico de um indivíduo. Quando se dá a troca gasosa, há um empurramento desta parte de ar que se encontrava nas fossas nasais e na traqueia que vai entrar em contacto com os alvéolos, ficando, posteriormente, preenchido; logo esta troca gasosa vai ser feita com duas partes do ar atmosférico e uma parte que já estava contida no espaço morto anatómico de cada pessoa, ou seja, no ínicio da inspiração e no final da expiração. 2 Então como se calcula o espaço morto? Existem formas matemáticas para o calcular. Esta é a fórmula de Bohr, VE = VD + VA, que idealizou que o volume expiratório seria igual ao volume do espaço morto final mais o volume de ar alveolar, o que está correcto. Então, com estas formas matemáticas que ele desenvolveu chegou à conclusão que é fácil, prático e barato determinar o volume de espaço morto e por isso é que se sabe que é cerca de 150 cm 3 (refere-se ao espaço morto anatómico). Claro que entre os rapazes e as raparigas existem diferenças. O rapaz tem maior espaço morto do que as raparigas, que têm menor altura. Já devem ter abordado isto nas aulas práticas ou então ainda abordarão. A parte pulmonar, também como a parte cardíaca, depende de quatro factores importantes. Em primeiro a inspecção. Como tudo na medicina, há que inspeccionar, há que ver e observar. A seguir à inspecção na parte cardíaca e na parte torácica, vem a palpação. Depois desta, vem a percursão e, por fim, a auscultação. Nas aulas práticas, quando auscultam os ruídos respiratórios, podem depreender que existem, em casos de normalidade, dois tipos de ruídos: um ruído laringo – traqueal, que é mais perceptível durante a inspiração e assemelha-se a um sopro rude , pela passagem do ar ao nível da glote; o outro ruído denomina-se murmúrio vesicular. É um sopro suave, ruído este que pode ser comparado à insuflação de um balão. Se tiverem um balão e a soprar para dentro dele, o barulho da distenção das paredes do balão e o barulho do ar ao passar ao nível da insuflação, ao dilatar e alargar o balão, é um barulho muito semelhante. É um sopro suave durante a inspiração e o começo da expiração e deve-se à passagem do ar nas últimas ramificações terminais dos brônquios e ao nível dos alvéolos. Portanto, fisiologicamente, existem dois ruídos: um laringo – traqueal (sopro mais rude) e um sopro mais suave que é o murmúrio vesicular. Claro que em casos de patologia, pode apresentar roncos, cibílios, sopros tubáricos, entre muitos outros que irão aprender em patologia. Mencionei-vos também as actividades metabólicas do pulmão, que além de precisar de lípidos, prótidos e glícidos para as suas transformações enzimáticas, é neste que é feita a passagem da angiotensina I e II. Referi, igualmente, as catcoleminas, noradrenalinas mas salientei o surfactante pulmonar. Este foi descoberto, assim como outras descobertas em medicina, em períodos de guerra ou pós – guerra. Foi descoberto em 1955, num período pós – guerra, por ingleses que haviam desenvolvido uma arma biológica, cujo efeito era mortal, e os animais em que foi testada secretavam uma substância líquida (espuma) de tom amarelado. Analisada a “espuma”, verificou-se que a sua 3 constituição era à base de derivados de lípidos, de prótidos e de glícidos, o que levantou suspeita. Após diversos estudos, chegou-se à conclusão de que os alvéolos eram forrados por uma substância que funcionava como uma membrana tensio – activa, a que os cientistas surfactante – surface active agent. Forrando os alvéolos, o surfactante mantém os alvéolos indeformáveis e diminui o trabalho durante a respiração, logo não há perigo dos alvéolos colapsarem. A sua formação ocorre ao nível dos pneumócitos tipo II. Começou, então, a ser relacionado com a morte de seres vivos prematuros sendo que por volta da 32ª semana é formada esta substância. Antes disso há perigo do prematuro vir a sofrer de síndrome de angústia respiratória, em que o prematuro nasce e vai morrer em apneia com falta de ar. Claro que hoje existem determinadas terapias para estas situações que se dá injectável para haver uma substância que vá formar os alvéolos. De 4 em 4 dias, o surfactante pulmonar é regenerado. A composição química contém dipalmitoilfosfatidilcolina, fosfatos com mais colina e outros fosfolípidos e hidratos de carbono que vão formar o surfactante, isto é, a membrana tensio – activa que se encontra ao nível dos alvéolos. Tem como função diminuir a tensão superficial, manter os alvéolos secos, tornar os pulmões mais distendidos, diminuir o trabalho para dilatar os pulmões para que não seja necessário tanta insuflação para dilatar os pulmões e, por fim, prevenir a transudação de líquidos para o espaço alveolar a partir dos capilares. Aqui entram os tais receptores J quando há o estravamento de algum transudado é captado e reabsorvido via capilar. Outra das funções metabólicas ao nível do pulmão, tirando o surfactante (“surface active agent”), através do pneumócitos II, é activar angiotensina I em angiotensina II, que é um potente vaso constritor bradiquinina, a prostaglandinas, e inactivar ceritonina, a a algumas noroeperinefrina(?),a noradrenalina e provavelemente a histamina. A noradrenalina, que é um α estimulante, vai promover enquanto o a vasoconstrição isoproterenol, β pumonar estimulante, promove a vasodilatação pulmonar. 4 Na figura onde nos é mostrado um alvéolo bem como o espaço alveolar podemos distinguir além destes o líquido de revestimento – o surfactante, o epitélio, a membrana epitelio-alveolar, que pode ser espessada por algumas patologias, causando dificuldade na hematose, ou seja, na passagem de oxigénio para os eritrócitos e também do CO2 para fora da membrana alveolar, para posteriormente ser expirada durante a nossa respiração. Estes transportes, como vos é ensinado em Bioquímica, devem-se normalmente às diferenças de pressão que facilita a difusão. O pO2 que se apresenta ao nível da membrana alveolar é inferior ao existente dentro do alvéolo, havendo por isso a facilitação da passagem de pO 2 do alvéolo para a hemoglobina. Por sua vez, com o pCO2 há a vantagem de passar do sangue, ou seja, da hemoglobina, para o espaço alveolar para posteriormente ser expirado na respiração. Ao nível celular também há um gradiente favorável à passagem de gás de um lado para o outro através das membranas alveolares intersticiais ao nível dos nossos tecidos. Existem, no entanto, factores que não podem deixar de ser levados em consideração. O CO 2 é 24x mais solúvel que o O2, e o CO tem 150x mais afinidade para a hemoglobina. Como todos sabem o CO é o gás que é libertado pelas chamas, através de um esquentador por exemplo, e no nosso país já existiram muitos desastres devido aos esquentadores instalados nas casas de banho, que se dá devido é libertação súbita deste gás que pode provocar a morte porque, como a afinidade de CO é maior que a do O2, a nível respiratório dá-se uma saturação dificultando a hipótese de salvamento numa situação deste tipo. A pessoa intoxicada com monóxido de carbono poderá ser tratada com oxigénio, o que é um contra-senso pois ao receber muito oxigénio, como acontece quando a pessoa chega com um problema destes ao hospital, com uma cor arroxeada, pois a pessoa acaba por morrer em paragem respiratória, só que com uma diferença… morre com uma cor mais rosada. Nos tratamentos há que ter em consideração que muitas vezes não se deve usar uma mistura muito pura, embora haja centros em que sejam feitos, como por exemplo nas câmaras hiperbáricas, nas quais as pessoas são sujeitas a um tipo de trocas gasosas de modo a poder remover rapidamente todo o CO (ou CO2) e substitui-lo rapidamente, por O2, aumentando grandemente o aporte de oxigénio. Mas nós não podemos saturar toda a hemoglobina, porque a partir daí todo o oxigénio fornecido vai ser dissolvido no plasma. O CO2 produzido é dissolvido em grande parte, outra parte combina-se com os eritrócitos, indo depois até aos alvéolos onde vai ser expirado. O O2 também vai haver uma certa percentagem 5 dissolvida no plasma, outra combinada com a hemoglobina (nas terapias hiperbáricas a quantidade de O2 dissolvido no plasma é grandemente aumentada em relação à dos eritrócitos, tornando mais efectivo o aporte de oxigénio aos sítios onde ele é necessário). Há outros factores que condicionam as trocas gasosas, tem de existir sempre uma relação entre ventilação e perfusão, pois se esta relação for deficiente, podemos estar a ventilar normalmente mas se a bomba cardíaca não estiver a funcionar essa relação nunca poderá ser boa, não sendo eficiente o transporte dos gases quer para as células quer das células para os nossos pulmões. Imaginemos um pulmão, em que normalmente ao nível do ar (claro que isto é utópico) temos uma determinada concentração de oxigénio, não sendo muito grande por causa da poluição atmosférica, ao nível dos alvéolos tem uma percentagem um pouco menor. Ter-se o CO2 atmosférico igual a zero era óptimo, era sinal que havia um ar muito pouco poluído, sendo quase uma situação utópica. Num ar muito pobre em CO2, ou sem CO2, o ar alveolar já tem determinada quantidade de CO2, que é resultado das trocas gasosas ao nível celular. Há sempre um factor favorável para que o CO2 passe para o alvéolo e o O2 passe do alvéolo para a parte sanguínea. Por vezes pode acontecer que exista um alvéolo que não é ventilado, o que quer dizer que vai haver um espaço que vai ter a mesma concentração quer de oxigénio quer de CO2, igual à do capilar por onde ele passa. A esta situação dá-se o nome de contaminação venosa. Por vezes há outras alvéolos que não têm irrigação, portanto a concentração alveolar de O 2 e de CO2 é igual à atmosférica, porque não há trocas gasosas ao nível desse espaço e sendo por isso denominado espaço morto, neste caso chamado de espaço morto fisiológico, que aumenta ao longo da idade. Falando de circulação, de trocas gasosas, transporte de substâncias gasosas… A circulação pulmonar é uma circulação importantíssima, tendo um alto débito, igual ao débito cardíaco. Se o débito sistémico é marcado pelo coração esquerdo, o débito pulmonar é marcado pelo coração direito. Não fazia sentido se o sangue que saísse do ventrículo esquerdo não fosse igual á que sai do ventrículo direito. Portanto o débito é 5,5L por minuto, que é um débito bastante grande. Além disso, na circulação pulmonar devido à grande capacitância que aqueles vasos vão ter, e àquelas ramificações, está lá contido 20% da totalidade do nosso sangue, enquanto a nível capilar, sendo estes tão finos, está unicamente contido cerca 70 mL de sangue. É por isso que esta circulação é tão especial, por ter alto débito, baixas pressões, e por conseguinte tem também baixas resistências. 6 Vejamos então, se no ventrículo esquerdo a pressão varia entre os 0 mm Hg e os 120 mm Hg, ao nível do ventrículo direito essa pressão está entre os 0 aos 25 mm Hg, resultando, a nível da artéria pulmonar a subida da diastólica e ao nível dos capilares alveolares vai ter uma pequena circulaçãoque tem uma baixa de pressão que se vai acentuar até chegar à aurícula esquerda, portanto tem alto débito, baixas pressões quando comparadas com a circulação sistémica, e uma baixa resistência. As funções do débito pulmonar são mobilizar o sangue para a barreira hematogasosa, filtrar o sangue, ou seja, reter os pequeno trombos (o sangue, ao nível pulmonar, apresenta enzimas fibrinolíticas, mastócitos carregados com heparina que vão tentar dissolver esses pequenos trombos que vão aparecendo, nem sempre eficientemente) retém leucócitos e é um grande reservatório de sangue. Quando nós dividimos o pulmão em três andares: terço superior, médio e inferior, há aqui um jogo importante de pressões e de distensões alveolares, ou seja, segundo West, ao nível do terço superior, a pressão alveolar é maior que a pressão arteriolar e que a pressão venular, ou seja, a pressão alveolar é maior que nas porções dos vasos, ou do vaso que para com ele concorrem ou que dele saem. Portanto, há durante uma grande parte da respiração uma dificuldade de haver relação ventilação-perfusão, porque esta pressão é maior que as outras duas. Ao nível do terço médio, temos que a pressão arteriolar é ligeiramente superior à alveolar e maior também que a pressão venosa, portanto há uma facilitação da relação ventilação-perfusão. Ao nível do terço inferior, a pressão alveolar é maior que a pressão venular portanto os alvéolos estão mais distendidos, existindo uma relação ventilação-perfusão perfeitamente estável e grande que permite que as trocas gasosas sejam mais acentuadas no terço inferior dos pulmões. Vocês nesta altura do vosso curso têm provavelmente a ideia de que as doenças pulmonares se localizam nos pulmões, as cardíacas no coração, mas a verdade é que, como vocês sabe, os 7 órgãos relacionam-se, por exemplo, uma doença predominantemente cardíaca pode ter influência na respiração. Um exemplo simples: uma estenose (aperto) mitral numa válvula aurículo-ventricular, esse aperto provoca uma dificuldade na passagem do sangue da aurícula para o ventrículo, havendo assim um aumento de pressão na aurícula, neste caso na aurícula esquerda, havendo consequentemente aumento de pressão nas veias pulmonares que por sua vez aumentam a pressão nos alvéolos pulmonares, ou seja, da circulação capilar pulmonar. Portanto um simples problema existente no coração vai ter repercussões ao nível do pulmão. Se este problema não for resolvido pode originar, inclusive, problemas no retorno venoso para o coração. Então agora vamos imaginar que temos um indivíduo que tem um aperto mitral. Há aqui aumento da pressão, aumento este que vai chegar às veias pulmonares. Nessa altura então, o doente vai-se queixar pura e simplesmente, e cada um de nós iria dizer: “o doente tem falta de ar”. Pois tem, ele vai começar a ter um transudado. Mas o que quer isto dizer? Quer dizer que houve aparecimento de líquido alveolar. O individuo queixa-se que tem falta de ar e basta às vezes o médico estar com atenção e perceber bem a história clínica, (que nós também iremos aprender a fazer), para determinar quase logo o diagnóstico. Depois vai-se confirmar. O indivíduo diz simplesmente ao médico: “eu tenho falta de ar, mas é uma falta de ar… Sabe, mas é esquisita esta falta de ar. Quando me deito, eu não consigo respirar, tenho mais falta de ar. Muitas vezes levanto-me e venho para a sala, sento-me no sofá e ai durmo bem. Vou para a cama, deito-me e não consigo pregar olho, tenho tosse, tenho falta de ar, uma coisa horrível. Já tentei pôr umas almofadinhas atrás e tal, e isto resolve.” Está feita a história. Este senhor/ esta senhora apresenta um derrame pleural, um derrame que vai tapar os alvéolos. Então como é que se explica que o individuo respire melhor sentado ou quando está em pé? Quando ele se deita, o derrame vai-se espalhar aos outros alvéolos. Quando ele se põe em pé ou quando se senta o liquido fica acumulado na parte inferior do espaço alveolar e por conseguinte liberta os outros alvéolos para poder respirar. Basta muitas vezes estarmos com atenção, para percebermos logo a patologia e depois tem de se estudar o que é que causou isto, o que é que não causou isto etc etc etc para actuarmos em conformidade. 8 Claro, que o aparecimento desse transudado, ou desse exsudado alveolar, só é devido à falência do trabalho dos receptores J (que vão detectar esse excesso de liquido ao nível do interstício alveolar). O exsudado é tanto, que os receptores que detectaram esse transudado começaram a drenalo para os linfáticos, fazendo aumentar a frequência respiratória e portanto provocaram hiperpneia, pois ao tentarem drenar o exsudado alveolar, falharam e ao falharem então vai-se formar esse transudado. Normalmente o aparecimento de um transudado já é um fenómeno tardio desta situação, portanto sinal de que os receptores J falharam e por conseguinte não puderam actuar. Claro que, durante a respiração vai haver, é lógico que haja variações de resistência. Reparem: à medida que aumenta a pressão venosa, a resistência vascular não aumenta em conformidade, antes pelo contrário, diminui, na tentativa de poder haver uma boa dinâmica de alto débito baixas pressões. Portanto se a pressão diminuir, a resistência vai aumentar, para equilibrar. O mesmo se passa com a pressão arterial. Reparem: com o aumento da pressão arterial, a resistência vai começar a diminuir. Portanto, o aumento da pressão, tanto arterial como venosa, vai condicionar uma ligeira diminuição da resistência pulmonar ao nível dos nossos pulmões para se poderem manter os altos débitos em questão. Mas todos nós percebemos que durante a insuflação, com o aumento do volume dos pulmões, um vaso (quando há grande aumento do volume) sofre um estiramento fazendo com que haja transitoriamente durante o fim da inspiração um aumento da resistência que depois vai diminuir, quando chega a altura da nossa expiração. Portanto, há uma variação sempre transitória da resistência vascular, isto é, o nosso esquema de West visto de outra maneira para percebermos a diferença de irrigação na zona 1 na zona 2 e na zona 3, isto é, no terço superior, no terço médio e no terço inferior. O fluxo sanguíneo vai sendo, consoante a zona, facilitado pela componente perfusão em relação também à componente de ventilação. 9 Vamos agora imaginar outra coisa. Um indivíduo tem um tumor pulmonar. Um tumor maciço, grande, e teve-se de retirar um pulmão ao doente. Portanto tinhamos 2 pulmões, e tinhamos também um débito , uma pressão , e uma resistência . Ao retirarmos um pulmão, os tais 5 litros e meio, que iam para os dois pulmões têm de ir para um só. Portanto, este pulmão vai ter que aguentar com o débito total que iria para os dois pulmões. E neste pulmão?! A resistência vai aumentar? Muito? O débito tem de se manter. A pressão vai aumentar assim tanto? O pulmão possui umas maneiras de se defender destes aumentos bruscos do débito. O pulmão apresenta normalmente vasos, por exemplo, este vaso A e este vaso B, estão colapsados, não estão a trabalhar, “estão de sentinela”, e se forem precisos vão ser chamados a intervir. E o caso de um desportista que aumenta o débito pulmonar durante uma maratona? Estes vasos vão ser chamados de certeza também a intervir. Além disso, a secção do vaso que normalmente é redonda/ é circular, vai passar a elíptica aumentando o seu conteúdo (o seu interior). Tudo isto para permitir que não haja aumento da resistência, nem grande aumento da pressão ao nível do território pulmonar. Portanto, há vasos que são recrutados, a secção dos vasos é alterada e passa de circular, a elíptica para conter num caso extremo mais sangue e por conseguinte defender-se do grande aporte sanguíneo que esta situação extrema pode ocasionar. Claro que existem alterações/ modificações do calibre dos vasos pulmonares, estudadas e referenciadas. Há muitas substâncias e muitas situações que levam à vasoconstrição arteriolar. A diminuição de oxigénio, aumento do CO2, a acidose respiratória, a norodrenalina, a adrenalina, seritonina são substâncias e são situações que podem levar à vasoconstrição arteriolar. Vasodilatação arteriolar temos acetilcolina e o isoproterenol. Na vasoconstrição em veias e vénulas, temos a seretonia, a histamina e a haloxana, e a vasodilatação em pulmões isolados, feitos normalmente em situações de experiencia claro, aminofilina, os nitritos e a papaverina. De todos estes, talvez o que a maior parte de nós mais conhece (além da acetilcolina, da adrenalida, e da seritonina) são os nitritos, que são vasodilatadores por excelência da circulação coronária. Todos nós conhecemos alguém, que tem uns comprimidinhos que quando têm uma dor(zinha) ao 10 nível do peito os colocam debaixo da língua. São comprimidos de nitrito que são vasodilatadores de acção rápida e são sublinguais porque, reparem, dissolvidos e absorvidos ao nível da língua estão rapidamente em contacto com o nosso coração. Falemos agora no papel da respiração no equilíbrio ácido-base. No equilíbrio ácido-base o pH normal varia entre 7,35 e 7,45 unidades, e é determinado por uma formúla que surge nesta figura. O pK do ácido carbónico é 6,1 mas eu só vos queria chamar à atenção para dois fenómenos: os dois grandes órgãos que vão tentar e vão conseguir na maior parte das vezes fazer um equilíbrio ácidobase são o pulmão e o rim. São os dois grandes órgãos do nosso organismo que vão desempenhar um papel importantíssimo no equilíbrio ácido-base. Aqui na figura temos duas situações: temos o numerador desta fracção e o denominador desta fracção e quero chamar-vos à atenção que quando existe aumento ao nível do numerador, temos uma situação de alcalose. Ora a alcalose, vai deprimir os centros respiratórios para não eliminar o CO2. Portanto, há uma diminuição do centro respiratório na tentativa de evitar a eliminação de CO2, porque este é fundamental para as valências ácidas, para combater a alcalose. Por sua vez, quando existe aumento do denominador, há uma acidose respiratória, e essa acidose respiratória vai aumentar/ estimular o centro respiratório para fazer hiperpneia, para uma tentativa de eliminar mais dióxido de carbono (porque ele de ácidos não precisa, ele precisa é de bases, e então há que eliminar rapidamente o CO2). Claro que, há outras situações, por exemplo, quando o indivíduo estiver em alcalose e portanto para não eliminar tantas valências de dióxido de carbono deve-se pôr o indivíduo a respirar para dentro de um saco, portanto está a respirar constantemente mais quantidade de CO2, portanto mais valências ácidas para combater a alcalose respiratória. Eu falo-vos, falo-vos e acho que esta é uma altura ideal para falar-vos do grito, da voz, do canto, dos movimentos respiratórios modificados para vos falar no que é que consiste a fonação. Na figura podemos observar as cordas vocais ampliadas, claro, mas normais. É através deste “furinho” que aqui está, que vai passar o ar, e fazer vibrar aquelas cordas vocais, que 11 posteriormente através do som produzido vai ser moldado pelos lábios, pela língua, pelo palato, pelo nariz, para nós podermos falar e portanto nos compreendermos no dia-a-dia. Claro que isto, tem vários movimentos de adução, movimentos de abdução , movimentos em que há aproximação, ou inclinação, há abertura maior ou menor deste espaço entre as cordas vocais… Por exemplo, quando há uma adução plena elas estão muito afastadas, numa adução moderada é quando nós sussurramos no exame “ diz-me ai a pergunta três” e só quando elas (cordas vocais) se aproximam é que há fonação completa e é aqui que há a vibração e portanto produção de som. Só para vos chamar à atenção: no Homem a intensidade da voz anda entre os 40 a 50 dB, mas pode ir aos 100 dB. A altura média é medida em Hz, no homem varia entre os 100 e os 200, e nas mulheres, que têm uma voz um bocadinho mais aguda, anda à volta dos 130 a 200. Já as crianças variam entre os 200 e 400 Hz (até fere o ouvido). 12