Educação ao Contato - Frater Espaço Biocêntrico

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Educação ao Contato
Através da pele se aprende o amor
Por
Sandra Salmaso
O Contato e a carícia são necessidades primárias do ser humano. Segundo Asley Montagu: “é
através da pele que nos tornamos seres capazes de amar”.
Copyright © Sandra Salmaso. Não pode ser reproduzido sem autorização expressa.
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As pesquisas sobre a formação da vida no período intrauterino tem demonstrado a
necessidade emotiva que temos de contato desde os primeiros dias de vida fetal. O sistema
nervoso e a pele se formam do mesmo folheto embrionário: a ectoderme. Esta origem comum
faz com que os dois sistemas, nervoso e cutâneo, tenham uma estreita relação, fazendo com
que o feto apresente uma enorme sensibilidade à estimulação tátil. Segundo o antropólogo
Ashley Montagu, com oito meses um embrião de apenas três centímetros estimulado com um
instrumento especial que lhe tocava o lábio superior ou o nariz era capaz de mover a cabeça e
o tronco para fugir do estímulo. Desta forma demonstrou que existe uma relação estreita
entre a pele, o tato e as primeiras formações em nível embrionário, sendo a primeira ponte de
conexão entre o novo ser e o mundo externo.
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Em geral, quando se pensa nas necessidades primárias do ser humano, nos esquecemos do
principal, a necessidade de contato.
Segundo os principio da embriologia a importância de uma função vital é relativa à
precocidade em que se desenvolve. A pele, enquanto órgão, e o sentido do tato são dos
primeiros a se formar. Desta forma podemos compreender também do ponto de vista
neurofisiológico, a função do contato seja uma necessidade primária no ser humano.
Efeitos fisiológicos da carícia
A pele tem duas funções principais: uma de proteger, delimitando as fronteiras do eu corpóreo
e a outra de “sentir a fusão” com o outro, quando, por exemplo, ficamos abraçados e nos
sentimos uma unidade com o outro. A transformação do limite corporal é uma das funções da
carícia. Explica o antropólogo e psicólogo chileno Rolando Toro, criador do sistema Biodanza:
“Somente transformando nosso limite corporal em algo plástico, capaz de transparência, de
proteção e de expandir nossa identidade, podemos nos vincular autenticamente com outras
pessoas e com o universo. A sensibilidade tátil e erógena da pele e da musculatura tem
importância vital para uma identidade saudável.”
Sandra Salmaso estará na Frater
Espaço Biocêntrico nos meses de
julho e agosto, desenvolvendo
cursos, palestras, formação e
atendimento individual. Fique
atento a nossa agenda!
Desta forma, sensibilizar a pele tocando-a de uma
forma adequada significa sensibilizar nossa identidade.
Além do nível existencial, a carícia induz também a
modificações em nível orgânico: dar e receber carícias
pode ter efeitos similares a alguns fármacos, por que
ativa a produção de endorfinas e de outros hormônios.
“É um toque mágico” que cura.
A primeira experiência
A primeira experiência de contato é
com a mãe. Os gestos afetivos que
permitem o recém-nascido crescer
saudável e seguro, sentindo-se
amado e forte. São os primeiros e
mais antigos gestos de cuidado como
ninar, abraçar, acariciar, beijar, estar
próximo, olhar.
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É graças ao contato com a mãe que o
bebê aprende, em seus primeiros
dias, que pode confiar que sempre
haverá alguém disposto a cuidá-lo e a
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A satisfação desta necessidade básica
é fundamental para conquistar
segurança e ter a certeza de ser
amado e desejado, condições
fundamentais desenvolver no adulto
a capacidade de estabelecer relações
interpessoais.
atender às suas necessidades. Desta forma o recém-nascido aprende, como relação
fundamental, que pode confiar nas pessoas. Confiança original como chama Erik Erickson,
base para uma personalidade saudável.
Nós provamos isto em infinitas situações cotidianas, quando confiamos no motorista de um
transporte público ou pedimos uma informação a um estranho. Se originariamente
conhecemos a confiança estendemos esta relação ao mundo.
A confiança original é a premissa de cada aproximação positiva a outras pessoas, condição
para formação de uma identificação com grupos e comunidades determinando as relações
sociais. Antes de tudo, esta confiança é a base da capacidade de amar.
O amor se aprende a partir da pele. Uma boa relação com a mãe (ou com sua substituta)
estabelece uma trama de reciprocidade. O prazer do contato corporal gratifica seja o bebê
como a mãe. Um bom contato entre os pais e o filho traz segurança e estabilidade.
Amor e desenvolvimento
Uma condição ambiental que assegura
reciprocidade e sinceridade afetiva
permite a expressão e o desenvolvimento
de comportamentos espontâneos, como o
contato natural, o prazer corporal e o
acolhimento.
Nestas
condições
a
comunicação pode chegar a um grau de
integração muito elevado que se
manifesta e pela aproximação afetiva do
contato. Mas o que acontece quando as
condições ambientais não permitem tal
integração?
As crianças com este tipo de carência de afeto retardam o crescimento o que pode causar
danos irreversíveis em nível motor, afetivo, da linguagem e desenvolvimento intelectual.
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Quando a criança não desenvolve uma “boa” relação com a mãe ou adulto significativo, existe
uma propensão muito elevada de distúrbios evolutivos que podem chegar a uma síndrome de
abandono.
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Rene Spitz, renomado neuropsiquiatra
infantil,
estudou
os
efeitos
neurofisiológicos da falta de contato e da
carícia em crianças institucionalizadas em hospitais e orfanatos. A sua pesquisa representou
uma revolução na pediatria. Elas evidenciaram que a caricia e a sensação de segurança que o
bebê recebe quando é embalado nos braços, são fatores essenciais para o desenvolvimento.
Os seus estudos demonstraram que, em crianças privadas de contato afetivo genuíno nos
primeiros meses de vida, não se estabelece a integração adequada entre o córtex cerebral e o
diencéfalo, condição fundamental para experimentar as relações entre o mundo externo e o
interno, emocional e visceral.
No seu “Estudo Psicanalítico sobre a criança” Spitz estudou o fenômeno do marasmo infantil e
a morte por depressão, descrevendo o efeito da institucionalização prolongada de crianças
com menos de um ano de vida. Esta pesquisa evidenciou que a ausência de amor e afeto,
mesmo as crianças com boas condições de higiene, bem alimentadas e com cuidados clínicos,
causava a morte de 60% dos bebês nos primeiros dois anos de vida.
Da vida pré-natal à vida após o nascimento
Segundo Frederick Leboyer, inovador da pediatria reconhecido em todo o mundo, “para a
criança pequena ser levada nos braços, embalada, acariciada, massageada, equivalem tanto ou
mais, em termos de nutrição às vitaminas, sais minerais e proteínas. Se é privada dos cheiros,
do calor e da voz conhecida da mãe, a criança, mesmo satisfeita de leite, morrera de fome.”
A afirmação de Leboyer foi demonstrada por Harry Harlow com um grupo de macaquinhos na
fase de aleitamento que afastados da mãe biológica e recebendo como opção duas bonecas se
apegavam a boneca que irradiava calor e era de pelúcia que a outra de metal, mas que
continha uma mamadeira cheia de leite. Resultados semelhantes foram demonstrados por
muitos outros pesquisadores.
Entre os estudos mais conhecidos
estão os de Levine com dois
grupos
de
coelhos,
um
regularmente acariciado e outro
não. O estudo de Spitz que
demonstrou os efeitos negativos
da
carência
afetiva
na
recuperação
de
crianças
institucionalizadas,
e
ainda
Margareth Ribble, que evidenciou
três tipos de estimulação
sensorial essenciais para um
crescimento saudável: o contato
tátil, o movimento sinestésico e o
canto.
O bom contato entre pais e filhos
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“Através do contato das mãos”, escreve Leboyer, a criança capta tudo: o nervosismo ou a
tranquilidade, a incerteza ou segurança, o aconchego ou a violência. Sabe se as mãos o
desejam ou estão distraídas, ou pior se o rejeitam. Diante de mãos cheias de afeto a criança se
entrega, se abre. Diante de mãos hostis, violentas, ele se fecha, se esconde, se isola... Quais as
mãos que devem sustentar a criança? Mãos suaves, não autoritárias. Que não pedem nada.
Que estão simplesmente ali, suaves, mas cheias de afeto e silêncio.”
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Para que o bebê se desenvolva e se desenvolva harmonicamente, tornando-se uma criança e
depois um adulto saudável e equilibrado, é necessário vivenciar a experiência de calor afetivo,
contato e proteção desde o nascimento, dando uma espécie de continuidade da experiência
intrauterina.
Se não temos a experiência do bom contato não podemos comunicá-lo. Então, devemos
reencontrar com a carícia. Se não nos preenchemos de caricias abrimos espaço para o
“vitimismo” ou a violência dependendo de como respondemos a esta carência. Quando
recebemos os benefícios do contato durante a infância somos naturalmente capazes de
transmiti-la a nossos filhos. Se, ao contrario, crescemos com pouco colo e caricias, pode ser
difícil tocar um recém-nascido para fazer-lhe uma massagem, torna-se necessário reapropriarse desta capacidade através de um percurso de educação para o contato, onde se reaprende a
confiança na própria capacidade de transmitir afeto aos filhos.
É possível aprender simplesmente jogos táteis, aprender breves massagens sobre a barriga e
costas, ou mesmo caricias mais prolongadas nos ombros e nuca. Uma brincadeira é escrever
delicadamente uma palavra afetiva sobre a pele da criança. Depois destas brincadeiras as
crianças costumam dormir mais tranquilamente.
Existem muitas modalidades de massagem que podem ser praticadas desde os primeiros
meses de vida. Um aspecto fundamental deste toque comunicativo é que ele seja feito com
amor. A massagem representa para a criança uma medida de saúde para crescer “de bem com
a vida”. Para os pais uma possibilidade de dialogo e de vincular-se com a criança.
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O “bom contato” pode ser praticado com crianças e mesmo com adolescentes, por exemplo,
uma massagem na nuca e nos ombros depois de um dia intenso na escola.
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Educação ao contato
O percurso de reaproximação à capacidade de contato não é interessante apenas aos pais.
Entre colegas de trabalho, amigos e, sobretudo na relação de par a capacidade de um contato
físico apropriado é um elemento de comunicação e harmonia para se construir relações
saudáveis e satisfatórias. É importante compreender que o contato quando é feito de forma
mecânica, sem atenção e cuidado nunca é útil e muito menos eficaz. O contato deve ser
conseqüência de uma aproximação afetiva, um processo progressivo de comunicação e
empatia.
Para termos qualidade em nossas carícias é necessário estar sensível ao outro. É um gesto
pleno de atenção, capaz de escutar necessidades recíprocas em “feed back” com o outro. Não
se trata de se aproximar para um contato físico, de dar um tapinha nas costas, mas sim o
resultado de uma profunda percepção do outro que traz uma espécie de “conexão” cheia de
respeito a afeto pela sacralidade da vida que se manifesta naquele ser. Segundo Annalisa Risoli
“os progressos das neurociências no campo dos processos emotivos confirmam a possibilidade
de modificar, através da experiência, comportamentos e formas de pensar inclusive no adulto
inclusive no que se trata de comportamentos relativos ao contato.
Quem realiza percursos de crescimento pessoal como Biodanza e Educação ao Contato sabe
que é possível resgatar a capacidade de um bom contato. O ambiente criado por estes
sistemas influencia de forma positiva
o
desenvolvimento
neuronal,
inclusive na fase adulta.
A caricia: chave para um contato
harmônico
O contato das mãos, os abraços, as
caricias falam de uma linguagem
autentica, viva onde não há enganos
na descoberta recíproca. Quando a
palma da mão se apóia na pele e
acaricia
docemente
transmite
carinho. Envolve completamente o
que toca, como a água que adere
aos mais diversos formatos. Desta
forma comunica uma íntima
proximidade, uma espécie de fusão.
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“Além do prazer” escreve Gerard Leleu “é uma verdadeira linguagem.” Os seres se comunicam
com a voz e com o olhar, mas quando desejam aprofundar esta relação estes dois fatores não
são o suficiente. Somente através do contato existe uma prova tangível, palpitante da
proximidade, da comunicação: transmite a sensação de estar vivo e de ser desejado”
Copyright © Sandra Salmaso. Não pode ser reproduzido sem autorização expressa.
Através do contato e da caricia se produz uma auto-valorização, por que nos sentimos
desejados e apreciados. Acariciar e ser acariciado são um íntimo reconhecimento do nosso
valor como seres vivos únicos.
Bibliografia
1. Ashley Montagu – Il Linguagio della pele – Garanti
2. Erick Erikson – Infanzia e Societa – Armando editore
3. Irenaus Eibn-Eibesfeldt- Adelphi
4. Rene Spitz – Il ruolo dei fattori ambientali nello sviluppo emozionale nell infanzia.
5. Frederick Leboyer – Shantala –Sonzogno
6. Frederick Leboyer- Per una nasci5ta senza violenza - Bompiani
7. Harlow e Zimmerman – Affectional responses in the infant monkey
8. Levile – Esperieze infantile e resistenza allo stress fisiologico
9. M.Ribble – The rights of infants - Columbia University Press
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10. Gerard Leleu – Il trattato delle carezze – Red edizione
Copyright © Sandra Salmaso. Não pode ser reproduzido sem autorização expressa.
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