Circuitos oscilantes e corrente alternada (CA) Os circuitos que veremos a seguir serão compostos dos seguintes elementos: Resistores: Nos resistores R a tensão VR aplicada sobre ele e a corrente I que o atravessa estão relacionadas pela Lei de Ohm VR=R.I. Quando em um circuito, pela convenção de sinais para a aplicação da Lei de Kirchhoff, ao ser atravessado na mesma direção que a corrente, a variação no potencial é negativa, e positiva se atravessado no sentido oposto da corrente. Quando atravessado por esta corrente o resistor dissipa energia com potência dada pela relação P=R.I. Capacitores: Nos capacitores, a constante de proporcionalidade entre a carga acumulada Q e a tensão VC sobre ele é a capacitância C, ou seja, Q=C.VC. Quando em um circuito, pela convenção de sinais para a aplicação da Lei de Kirchhoff, ao ser atravessado na mesma direção que a corrente, a variação no potencial é negativa, e positiva se atravessado no sentido oposto da corrente. A corrente I que o “atravessa” é dada pela taxa de variação temporal da carga, I=dQ/dt. Indutores: Indutores quando atravessados por uma corrente elétrica I reagem à sua passagem gerando uma tensão VL proporcional à variação temporal da corrente, e a constante de proporcionalidade é a indutância L, VL= -L.dI/dt. Quando em um circuito, pela convenção de sinais para a aplicação da Lei de Kirchhoff, ao ser atravessado na mesma direção que a corrente, a variação no potencial é negativa, e positiva se atravessado no sentido oposto da corrente e a queda de potencial é VL= L.dI/dt. Fonte de tensão alternada: Fornece uma tensão que varia no tempo de maneira regular (periódica). Em nossos circuitos esta variação será harmônica, da forma ε= ε0.cos(ωt+δ). ε0 é a amplitude da tensão oscilante, ω é a frequência angular, relacionada com a frequência f pela relação ω=2πf e δ é o ângulo de fase, determinado pelas condições iniciais. Quando em um circuito, pela convenção de sinais para a aplicação da Lei de Kirchhoff, ao ser atravessada na direção do polo positivo para o negativo, a variação no potencial é negativa, e positiva se atravessada no sentido do polo negativo para o positivo, independente da direção da corrente. Circuito LC O circuito LC consiste de um capacitor C e um indutor L ligados em paralelo. Como não possui uma fonte externa de alimentação, se quisermos estudar a evolução temporal das tensões e correntes no circuito alguma energia deve ser introduzida previamente como, por exemplo, conectando ao circuito um capacitor previamente carregado com carga Q0. 1 Nestas condições a carga no capacitor fluirá para o indutor num circuito de malha única. Assim, a tensão sobre o capacitor (VC) e a tensão sobre o indutor (VL) serão as mesmas, assim como a corrente que os atravessa. Aplicando a Lei das Malhas ao circuito temos: = =− + 1 =0 1 + =0 A solução desta equação diferencial é a corrente que circula no circuito. Podemos resolver esta equação de maneira simples procurando uma expressão geral para a corrente que satisfaça a equação, substituí-la na equação e determinar as constantes. Se observarmos com cuidado vemos que a função que representa a corrente tem que apresentar a propriedade de ter a sua derivada segunda proporcional ao negativo dela mesma para satisfazer a equação. Funções senoidais têm essa propriedade. Uma solução possível seria: ( )= ( ) Aqui cabe um questionamento: Porque o ângulo de fase é nulo? Porque seno e não cosseno? Qualquer valor para ao ângulo de fase irá satisfazer a equação (teste adiante), inclusive 90° que é a diferença de fase entre uma função seno e cosseno. Como iniciamos nosso circuito com a carga no capacitor, a corrente será inicialmente nula e crescente num primeiro momento fazendo com que a função seno com ângulo de fase nulo seja a escolha mais conveniente. Continuando temos =− cos( =− ) sen( ) que substituído na equação diferencial nos dá: − )+ sen( 1 sen( )=0 e para termos a equação satisfeita para quaisquer valores de t = = √ 1 e = √ 2 e ainda, como na descarga, I=-dQ/dt # ( ) − Q = −" ( ) ( )= = −" cos( # ( ) = )−Q +Q = = ( ) ( )= ) − 1 = √LC cos( cos( cos( )= cos( ) ( & + ) 2 )= cos( ) − √LC √ = = ( )=− = − (− 1 )) = cos( √ cos( ) Podemos agora visualizar algumas características importantes do circuito LC: O circuito é um oscilador harmônico elétrico, com frequência natural de oscilação ω0=(LC)½. A corrente no circuito está defasada (adiantada) de 90°em relação à tensão. Energia no circuito LC. Podemos facilmente calcular a energia potencial acumulada no capacitor e no indutor ao longo do tempo. A energia no capacitor se acumula no campo elétrico e será: *+ = 1 2 = 1 2 = 1 2 ,- ( ) e no indutor *. = 1 2 = 1 2 ( )= 1 2 ( ) A energia total no circuito será *=/ 1 2 ,- ( 1 )0 + 1 2 ( )2 = 1 2 Que é a energia inicial do circuito. Desta forma vemos que nenhum dos elementos do circuito dissipam energia e assim a oscilação se mantém indefinidamente. 3 Circuito RLC Se agora introduzimos um resistor no nosso circuito oscilante termos o chamado circuito RLC e soma das quedas de potencial ao longo do circuito dá: = = + 3 + 4 , = − + 4 + 1 =0 Agora temos uma equação diferencial de segunda ordem e se quisermos usar o método de propor uma solução geral para resolvermos a equação devemos ter um pouco mais de cuidado. Como no circuito LC a energia oscilará entre os dois componentes (se temos novamente uma carga inicial no capacitor). Com a introdução do resistor temos agora um elemento dissipador de energia. Desta forma, a amplitude da corrente deve decrescer ao longo do tempo. Proporemos então uma solução da forma ( )=( 67# ) ( ) com t=0 no início da descarga do capacitor. Vejamos se esta corrente será solução da equação diferencial do circuito. Temos então que =( = −( 67# ) sen( 67# ) )−( 8 ) −( 8 cos( 67# ) cos( 67# ) −( 8 ) ( 67# ) ) ,- ( ) +( 8 67# ) ( ) Substituindo estas expressões na equação diferencial temos −( − 67# ) sen( sen( ) − ( 8 67# ) cos( ) − ( 8 4 + 9( 67# ) cos( ) − ( 8 67# ) ) − 8 cos( ) − 8 ,- ( 1 ( )=0 + ;8 − − 48 + 1 < ( ) +8 67# ) ( ( ,- ( ): + )+ ) + ;−8 − 8 + 4 4 1 ) +( 8 ( cos( < cos( 67# ) ) − 67# ) ( 48 ( )=0 ( ) ) )=0 Para que esta equação seja válida para qualquer tempo t, os coeficientes devem ser nulos: 4 =− 48 48 4 28 1 4 2 α 1 8 4 4 > 8 ?1 > 8 Com solução possível (ω ( real) e não singular quando 1/LC>R2/4L2 ou R<2(L/C)½. Esta é a condição de amortecimento fraco (pouca resistência). Nestas condições temos então circulando no circuito uma corrente oscilante com amplitude decaindo exponencialmente. Com a solução proposta 67# > a tensão no capacitor será então: ( )= = 1 " 1 1 67# > 8 > 67# ( 67# 67# ( 8 ( 8 > 8 > > > ( 8 > > > > > cos cos > cos cos ) > > ) ) > cos > ) e a razão α/ωd é a medida do amortecimento. Menores valores de α/ωd significam mais oscilações enquanto a tensão decresce. A figura ao lado mostra o comportamento da corrente num circuito RLC fracamente amortecido. Obviamente, o circuito pode ser construído com valores de R, L e C tais que 1/LC≤R2/4L2. Para estas combinações de valores uma solução oscilante com decaimento exponencial proposta não deve ser solução, e de fato não é. 5 Se R>2(L/C)½, temos a condição de amortecimento forte. Nesta condição a corrente no circuito decai monotônicamente, sem oscilação e, portanto, uma diferente solução deve ser tentada (vide tabela abaixo). A figura ao lado mostra o comportamento da corrente num circuito ito RLC fortemente amortecido. Se R=2(L/C)½, temos a condição de amortecimento crítico. Também nesta condição a corrente no circuito decai monotônicamente, sem oscilação, mas de forma mais intensa do que no caso do amortecimento forte. O amortecimento crítico é a condição em que a energia é dissipada de maneira mais eficiente. Novamente, uma nova solução deve ser tentada. A figura ao lado mostra o comportamento da corrente num circuito RLC criticamente amortecido. As soluções que satisfazem a equação equação diferencial nestas diferentes condições são as seguintes: 4@ 4= 4B √ > √ > √ =A ( )=( −8 ( )=( =A A8 − ( )=D - 67# ) EF # 67# ) 67# ( G > C( ) > ) Amorteciment o fraco Amorteciment o forte Amorteciment o crítico Um ponto deve ser destacado neste momento. Se existem outras soluções possíveis para a equação diferencial resolvida, e neste caso de fato existem, a solução geral para o problema é a soma destas soluções. Métodos mais avançados para ra solução de equações diferenciais permitem encontrar a solução mais geral, mas fogem do escopo deste texto e não serão aqui utilizados. Quando aplicados nos dão as soluções: Para o amortecimento fraco: ( )=H 67# cos > H > 6 que pela aplicação de relações trigonométricas pode ser reescrita como ( ) = HI 67# ( > + J) Para o amortecimento crítico: ( )=K 67# +K 67# 6(7MA6NO P )# +L 6(76A6NO P )# E para o amortecimento forte: ( )=L Exercícios: 1) Mostre que as três soluções apresentadas logo acima são soluções da equação diferencial que descreve o circuito RCL série. 2) Encontre a expressão para a corrente em cada um dos elementos de um circuito RCL paralelo. 7