6 2 SALVADOR TERÇA-FEIRA 31/3/2015 Sony Music / Divulgação CD Releituras de standards confere aura de originalidade a Shadows in The Night BOB DYLAN Bob Dylan canta Frank Sinatra longe da voz de The Voice EDUARDO BASTOS Era pouco provável, mas um dia poderia acontecer. Afinal, ele nunca escondeu a admiração pela música norte-americana tradicional. O fato é que, ao avançar pela casa dos 70 anos, o cantor e compositor Bob Dylan – notório por assumir atitudes inesperadas – resolveu homenagear ninguém menos que o maior mito da canção americana. Felizmente, Shadows in the Night (Sombras na Noite), o álbum em que ele revisita velhas canções de dores de amor de Frank Sinatra (o que no Brasil equivaleria a algo tão improvável quanto Marcelo Nova gravando canções de Cauby Peixoto),estálongedeseruma expressão de conservadorismo yankee ou de ufanismo tardio. Antes, é um sussurro melancólico decuplicado – a estetização do suplício mítico do romance naufragado, com cores notívagas e sombrias. E Dylan o faz de tal forma – despojando as canções da solenidade dos arranjos originais e transportando-as para uma ambiência de cabaré do submundo – que retira delas qualquer ranço de anacronismo. Gravou-as de um fôlego só, ao vivo noestúdio,sob aprodução de Jack Frost – não a perso- SHADOWS IN THE NIGHT / SONY MUSIC / R$ 25 / WWW.SONYMUSIC.COM.BR sibilidade, uma reinvenção que, por força da própria disparidade, acaba soando como obra original. As baladas foram pinçadas de uma fase mais romântica de Sinatra, entre os anos 50 e 60 Dylan substitui a solenidade dos arranjos originais por um acompanhamento mais enxuto nificação da geada e do frio na mitologia nórdica, mas o próprio Bob, sob pseudônimo. Arranjos enxutos Ao longo de dez faixas, Bob Dylan desencadeia uma lamúria só, em tom menor, a voz recolhida aos acentos médio-graves.Oinstrumental,nolimiteda secura, é praticamente uma Dor em estado crônico Dylan recriou em estúdio dez canções do repertório de um dos maiores mitos norte-americanos pontuação rítmica, na contramão das opulentas orquestras de Sinatra: um baixo acústico escorando no centro, uma pedal steel guitar lamentando o tempo todo, violão, guitarra, percussão e, apenas em três faixas, discretíssimo naipe de metais. As baladas foram pinçadas de uma fase mais romântica de Frank Sinatra, entre o final dos anos 1950 e o início dos 1960, quando o cantor de olhos azuis embalava os corações despedaçados com músicas como I'm a Fool To Want You, The Night Called It a Day, Autumm Leaves e Fool Moon and Empty Arms. Fosse em tempos “musicalmente corretos” (no mínimo, uma era pré-rock’n’roll), beiraria o sacrilégio um cantor fa- moso pela não-voz interpretar músicas de um ícone reverenciado como The Voice. Hoje, é pura e simplesmente arte. E é justamente a voz de Dylan que faz a diferença, com seus registros fora dos padrões para uma obra do cânone norte-americano. Ele desestabiliza um universo de correção para contrapor uma nova pos- Paradoxal é que o canto de Dylan não denota o sentimentalismo agregado em canções de amor fracassado. Não há tristeza nele, embora também não haja vida. Antes, é como um narrador em terceira pessoa, imparcial. Ou um homem calejado, tornado insensível pelas agruras da existência. A dor, se existe nestas interpretações dylanescas, talvez tenha sido sublimada e transportada para o estado crônico. Tampouco existe esperança e absolvição. Aliás, este é o espírito do Dylan dos novos tempos: o conformismo e a abnegação diante de uma realidade que já se faz impossível de reverter. É o fim de todas as ilusões e de todos os sonhos – o romântico idealista foi apunhalado pela donzela e se refugia nos braços da última meretriz da noite (na contracapa do CD, há uma foto de Dylan com uma concubina mascarada em um nightclub). Enfim, é a redenção final diante da absoluta falta de fé no ser humano, as sombras da noite que já nos envolvem em uma asfixiante escuridão. Orquestra Reggae de Cachoeira põe Sine Calmon e Pixinguinha na filarmônica Augusto Bortolini / Divulgação também”, afirma Flávio. Facilidade com crianças Coletânea Chico Castro Jr. Jornalista e repórter do Caderno 2+ Joia do Recôncavo, a cidade de Cachoeira é um celeiro de talentos da música. Centro da cena do reggae baiano, ela já nos legou nomes importantes como Edson Gomes, Sine Calmon e Nengo Vieira, entre outros. É nessa tradição que vem de lá agora outra bela surpresa: a Orquestra Reggae de Cachoeira, uma iniciativa do maestro local Flávio Santos. Criada em 2012, a ORC une a riqueza da música reggae em belos arranjos orquestrais com ação social, pois seus músicos são jovens da cidade que aprendem a tocar seus instrumentos com o maestro. E pensar que até 2012 Flávio sequer lia partituras. Ex-músico de Sine Calmon em sua banda Morrão Fumegante, Flávio já atuava na centenária Flávio descobriu que a divisão 4X4 das marchas de filarmônica é a mesma batida do reggae Após muito ensaiar, a ORC tem feito concertos no Recôncavo. Breve, vem a Salvador Orquestra Sinfônica Lyra Ceciliana. “Mas sempre sonhei em ter um grupo instrumental e atuar como maestro”, conta. “Eu era só um trompetista que malmente lia a partitura. Foi por meio do incentivo do Secretário de Cultura de Cachoeira, José Luis Bernardo, que comecei a estudar”, diz. Através de uma bolsa da Funarte, Flávio estudou Técnicas de Bocais em Mariana (MG). De lá foi para o Rio, onde cursou Regência na UFRJ. E do Rio partiu para Aracaju, onde estudou Composição e Arranjo. “Quando voltei, comecei a ensinar as crianças e jovens da cidade – e a aprender com elas Entre a ideia e realização, coisa de três anos se passaram. “Realmente, tudo aconteceu muito rápido. Mas tive também uma boa orientação da (produtora) Débora Bittencourt ao trabalhar com as crianças”, conta. “De início, eu só queria trabalhar com músicos profissionais, mas Débora teve essa ideia porque viu que eu tinha facilidade de ensinar às crianças. Agora temos alunos até com mais de 40 anos de idade”, revela Flávio. No momento, a ORC já conta com 25 músicas no repertório, ensaiado todas segundas e sextas-feiras no Espaço Cultural Hansen Bahia (Quarteirão Leite Alves), às 19 horas. Vai lá, que é aberto – e lindo. No site do ORC já tem quatro músicas gravadas para quem quiser ouvir, de Sine Calmon a Pixinguinha, passando por Bob Marley e Gregory Isaacs. Uma beleza, recomendo. Kisser Clan@Groove Liderado pelo guitarrista Andreas Kisser, a banda Kisser Clan aporta em Salvador para apresentação única no Groove Bar. Projeto paralelo do membro do Sepultura, o KC conta com seu filho Yohan dividindo os solos. No repertório, clássicos do metal. Dia 10 (sextafeira), pague R$ 40 até hoje. Amanhã vira para R$ 50. Fridha e A Célula O Quanto Vale o Show? de hoje traz as bandas Fridha e A Célula. Dubliner’s, 18 horas, pague o quanto puder. Eflúvios psicodélicos OUÇA: ORQUESTRAREGGAE.COM.BR A noite de sábado no Rio Vermelho será tomada pelos eflúvios psicodélicos sessentistas das bandas locais Van Der Vous e A Flauta Vértebra. Pinta lá, vai ser um barato, bicho. Dubliner’s, 22 horas, R$ 10. MUMUZINHO ORQUESTRA SINFÔNICA SIMÓN BOLÍVAR RENATO TEIXEIRA E SÉRGIO REIS FALL OUT BOY VÁRIOS ARTISTAS FIFTH HARMONY Com um disco de pagodes animados, cantor marca seu nome dentro do estilo e conta com a participação de Zeca Pagodinho na música Fala Meu Nome Aí. E ainda inclui o sucesso Desejo de Amar com a atriz Carolina Dieckman. FALA MEU NOME AÍ / O maestro Gustavo Dudamel celebra o aniversário de 40 anos do programa de educação musical de seu país, o Sistema Nacional de Orquestras para Jovens e Crianças da Venezuela, nesse trabalho primoroso. EL SISTEMA O Fall Out Boy representa o que há de pior no rock americano da “geração Y”: trilha sonora pobre para os excessos de spring break de uma juventude mimada, interessada em nada além de egocentrismo e ostentação. Um lixo. AMERICAN BEAUTY / Temas de sucesso como De Volta Para o Meu Aconchego, de Elba Ramalho, garantem uma viagem no tempo para quem gosta de novela. A seleção de músicas é precisa, com clássicos que emocionam e boas interpretações TELETEMA / SOM Pop e eletrônico marcam o álbum de estreia do quinteto. O destaque vai para a faixa Bo$$, primeiro single do grupo, mas as canções seguem a velha fórmula do pop americano, em ritmo e composição. 40, A CELEBRATION / UNIVERSAL MUSIC / O segundo volume segue a homenagem à amizade de mais de 50 anos dos dois cantores e aos grandes compositores e intérpretes da música sertaneja. Belo show de viola e canções de raiz do estilo, que também originou um DVD. AMIZADE SINCERA II / SOM UNIVERSAL / R$ 21,90 GISLENE RAMOS R$ 33,90 ÉRICA FERNANDES LIVRE / R$ 24,90 ÉRICA FERNANDES UNIVERSAL MUSIC / R$ 27,90 CCJR. LIVRE / R$ 19,90 DEBORA REZENDE DEBORA REZENDE REFLECTION / SONY MUSIC / R$ 17,96