Mensagens Curtas 5 Para Meditação Diária Silvio Dutra Set/2016 A474 Alves, Silvio Dutra Mensagens curtas 5./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 204.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Graça 3. Fé. I. Título. CDD 230 2 Sumário O Motivo Real Para se Gloriar....................... 9 A Glória do Evangelho...................................... 11 O Prazer Espiritual dos Que Servem a Deus............................................................................ 14 O Principal Objetivo em Nossa Vida.......... 15 A Prosperidade do Espírito............................. 18 Horrorizai-vos ó Céus! ..................................... 21 A Boa Vontade Perfeita de Deus.................. 23 Se Não Perder Não Ganhará.......................... 26 Para a Glória de Deus em Cristo Jesus..... 29 O Culto Racional a Deus.................................. 32 Ninguém se Sinta Excluído............................ 35 A Melhor Escolha................................................ 36 Preservando a Ternura de Coração........... 41 O Grande Milagre............................................... 43 3 O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas Nossas Aflições............................................ 45 O Trabalho do Grande Agricultor............... 48 As Imperfeições da Igreja aqui neste Mundo....................................................................... 50 O Mal e o Perigo de Ofensas.......................... 54 “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3) ..................................... 59 Andando Humildemente com Deus......... 61 A Fé Que nos Vem de Deus............................ 63 Como podemos Preparar Nossos Corações Para Suportar Reprovações..... 66 O Valor da Vida Está no Amor....................... 72 Quem Será o Próximo a Chorar? ................ 75 O Que é Servir a Deus? ..................................... 76 Jesus é o Único Mediador entre Deus e o Homem (I Timóteo 2.5) ................................... 79 Apascentar.............................................................. A Importância do Exercício Espiritual Contínuo.................................................................. 4 81 83 Espírito de Sabedoria e de Revelação no Exercício da Fé...................................................... 85 Nossa Alegria Está em Deus e Não no que Temos............................................................... 88 Deus se Agrada do Nosso Sofrimento?.... 90 Não Há Serviço Aceitável Sem Consagração........................................................... 92 Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela Provação? ..................................................... 93 Maravilhosa Experiência................................. 96 Os Escravos da “Liberdade”........................... 97 Depois da Morte Há o Juízo............................ 101 Não Errando o Alvo Proposto........................ 102 Algo Para Ser Pensado e Refletido.............. 104 Cada Um Levará Seu Próprio Fardo........... 106 Por que é Difícil a Entrada dos Ricos no Reino de Deus? .................................................... 108 Aptidão para Ver e Apreciar.......................... 110 Perdão Comprovado.......................................... 112 5 Alerta para Permanecer no Amor e na Verdade.................................................................... 113 Loucos que São Amados.................................. 116 Como se Detecta o Espírito? ......................... 118 O Que é Não Negar o Senhor?....................... 120 A Fé é uma Caminhada Constante............. 122 Como Todo o Israel Será Salvo?................... 124 O Valor Precioso da Promessa...................... 127 A Espiritualidade Provada na Materialidade........................................................ 128 Criado para Ser Espiritual e não Carnal.. 129 Por Que se Alegrar em Deus se um Dia Vamos Morrer? ................................................... 131 Não Adorando e Servindo Coisas Vãs....... 132 O Fundamento e a Coluna da Verdade..... 135 Aprende-se a Amar por Osmose................. 140 “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6:46).... 141 6 “Eles não Sabem o que Fazem”.................... 142 O Conselheiro Ineficaz para o Propósito de Deus..................................................................... 143 É Preciso Mais do Que Boas Intenções..... 145 Não Há Amor a Deus Sem Obediência..... 149 Por Que Deus Simplesmente não Deixa Pra Lá? ...................................................................... 151 Um Ganho que é Uma Grande Perda........ 153 Salvo Pela Perfeita Obediência de Jesus.. 155 Nossa Principal Missão Neste Mundo..... 158 Se Compadece de Nossa Miséria Espiritual................................................................. 160 Vida que Gera Vida............................................. 163 Copo Limpo no Interior e no Exterior...... 166 Nada Poderá nos Separar do Amor de Deus............................................................................ 170 Não de Modo Mecânico mas Amoroso e Vital............................................................................. 173 7 Todo Ser Humano Necessita de Libertação.............................................................. Tendo Bom Ânimo num Mundo de Aflições..................................................................... Se Está Muito Fácil É Porque Está Errado........................................................................ 175 177 180 A Paz de Jesus e a de Barrabás....................... 182 A Falsa Paz de Uma Liberdade Falsa.......... 183 Salvos na Esperança da Perfeição............... 186 Somente quem Procura Acha....................... 188 Viver sem Ilusões............................................... 189 Os Fariseus Redivivos........................................ 191 Por Causa da Fé e não por Crença.............. 193 É Mesmo na Base do Toma Lá Dá Cá?....... 195 Pode Parecer Verdade mas Não é Verdade.................................................................... 196 Aprendendo do Exemplo de Charles Simeon...................................................................... 198 Peregrinando......................................................... 204 8 O Motivo Real Para se Gloriar “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.” (Jeremias 9.23,24) Estas palavras do Senhor através do profeta foram pronunciadas em meio a grandes repreensões contra o pecado e prática da iniquidade na Terra. Em que teriam então os homens em que se gloriarem quando o estado de suas almas é ruim e se encontra de forma latente em inimizade contra o Criador? De fato, todos os que andam sob o temor do Senhor e em verdadeira comunhão com ele, terão por diversas vezes as suas mentes em suspenso, como que atordoados pelo fato de perceberem quão fracos são e inapropriados para cumprirem os propósitos de Deus. Um sentimento de desolação e de inutilidade lhes invade o coração de tal forma que nada pode lhes arrancar disso, senão apenas a manifestação da graça de Deus, dando-lhes força para cumprirem o seu ministério, e quando são assim visitados pelo poder do alto, eles se gloriam não em si mesmos, mas no fato de terem sido alegrados grandemente por 9 Aquele que se tornou para eles a sua própria vida. O apóstolo Paulo, melhor do que ninguém experimentou em profundidade este sentimento, e daí ter se expressado nos seguintes termos: Rom 15:17 Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus. 2Co 11:30 Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza. Gál 6:14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. 10 A Glória do Evangelho O que se costuma pensar quando se ouve a palavra evangelho? Amar o próximo, cuidar dos necessitados, professar a religião cristã, ter comunhão na igreja, etc. O evangelho pode englobar tudo isto e muito mais pensamentos do mesmo tipo, todavia não é nisto que reside a sua grande glória; pois aqui se fala de algumas consequências do efeito produzido pelo evangelho em nós, mas não aquilo que ele é em essência. O simples significado etimológico da palavra evangelho não é de muita ajuda para definir a glória a ele inerente, porque o anúncio de boas notícias, ou boas novas, como se traduz esta palavra grega não expressa ainda que notícias são estas, e qual é a sua extensão, profundidade e significado. Em que consiste então a glória do evangelho? Primeiro e antes de tudo na própria pessoa de Jesus Cristo em sua relação com a obra de salvação dos pecadores, conforme anunciado pelo anjo aos pastores de Belém que lhes disse que trazia a “boa-nova de grande alegria” (evangelho), e que esta boa-nova se referia ao nascimento do Salvador recém-chegado ao mundo. Deus tudo criou para a sua glória, mas que glória pode receber de uma criação que se corrompeu pelo pecado e que foi amaldiçoada? Então, é por 11 meio de Cristo que todas as coisas estão sendo restauradas, de modo que o propósito de Deus relativo à criação seja cumprido. E como isto é feito por meio do evangelho, então pode ser dito que ele é também glorioso; todavia esta glória do evangelho é a glória do Deus bendito, e de Cristo, que são os autores e os consumadores do evangelho. Por isso o apóstolo se expressou nos seguintes termos: “segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado.” (I Tim 1.11). “nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” (2 Cor 4.4). “o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória;”(Col 1.26,27). Assim a glória do evangelho é a do próprio Cristo; porque a glória de Cristo pode ser conhecida somente através do evangelho, e não por qualquer outro meio. Os cristãos são chamados pelo evangelho a conhecerem a glória que há em Cristo, a quem pertence toda a plenitude da glória, quer em sua pessoa, quer em todos os seus atos relativos à criação. 12 “para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.” (II Tes 2.14). Assim, as riquezas da glória que Deus quis dar a conhecer aos seus santos são reveladas no evangelho, e por ele aprendemos que toda esta riqueza se encontra na pessoa de Cristo. Daí se dizer que é Cristo em nós a esperança da glória. 13 O Prazer Espiritual dos Que Servem a Deus Que nenhum homem construa sua esperança de ir para o céu em cima de desobediências a Deus. Isto é construir sobre a areia, e a areia não é um bom alicerce. Caso alguém construa sobre um tal alicerce, quando vier a inundação, ou seja, a perseguição, a força disto fará com que a casa caia. O sábio construtor faz da prática da Palavra de Deus o alicerce para a edificação da sua alma, e assim ele tem o seu prazer na lei do Senhor, e na Sua lei medita de dia e de noite. O verdadeiro santo não tem prazer na lei de Deus por intuição, mas por inspiração do Espírito Santo, que faz com que tenha todo o seu deleite na vontade de Deus expressada na Sua Palavra. Embora um filho de Deus, não possa servi-lo com perfeição, todavia ele serve de bom grado, pois sabe que a prática persistente da Palavra o tornará sábio para a salvação que está em Cristo Jesus e que é por meio da fé nele. Este prazer santo surge da predominância da graça no coração, quando esta o enche, por contemplarmos a Jesus e nos dispormos a obedecer os seus mandamentos. Assim, o cristão não olha para o serviço que presta ao Senhor como um mero dever, mas como um prazer e um privilégio, porque é assim que o Espírito Santo, em testificação com o seu espírito, faz com que ele se sinta. 14 O Principal Objetivo em Nossa Vida “Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem; mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.” (I Cor 7.29-31) O apóstolo Paulo chama a nossa atenção para o que é principal: “Irmãos, o tempo é curto", e, portanto, se ocupem com estas coisas como se vocês não as tivessem porque a aparência deste mundo passa. Esta é a razão pela qual ninguém, senão um verdadeiro cristão pode relacionar-se moderadamente com as coisas deste mundo. Por quê? Porque ninguém, senão um cristão fiel tem um objetivo principal que permeia toda a sua vida; ele busca o céu e a felicidade, porque isto estará com ele mais tarde e para toda a eternidade. Por isso a sua fé permeia todos os assuntos: o casamento, compras, o mundo. E não deve se importar com se entristecer ou se alegrar, porque há um grande e principal objetivo em vista. Ele não será negligente na execução dos seus deveres, relativos ao casamento, ao uso do dinheiro, às suas funções neste mundo, 15 procurando sempre, em tudo, fazer o melhor com a ajuda e a direção do Espírito Santo, todavia, sempre terá este sentimento de que o Reino de Deus e a sua justiça, sempre deve ocupar o lugar principal em sua mente, coração e ações. Assim, não concentrará o principal de seus esforços em objetivos terrenos e passageiros, mas naqueles que se referem a Deus e às coisas espirituais e eternas, porque é isto o que lhe ordena o seu Senhor. Ele sabe que o tempo é curto, e portanto, deve ser moderado em todas as coisas deste mundo. O envolver-se em demasia com tudo o que respeita à vida que temos aqui embaixo conquista totalmente as nossas afeições por estas coisas, e não poderemos ter e manter o nosso amor a Deus acima de tudo e de todos, conforme é ordenado por Ele. Se temos um afeto desmedido por qualquer coisa desta vida, faremos todo o empenho para não perdê-la, e ficaremos fatalmente imobilizados e desmotivados caso aconteça a perda, o que é de se supor, que aconteça mais cedo ou mais tarde. Daí nosso Senhor ter afirmado tão categórica e expressamente: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14.33); “Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preserva-la-á para a vida eterna.” (João 12.25); “Quem ama seu pai ou sua 16 mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; (Mat 10.37). Deus não consentirá que nosso afeto por Ele esteja em competição com qualquer outra coisa ou pessoa deste mundo. Nada e ninguém deve ser motivo para que Ele não seja servido em primeiro lugar por nós. Nem bens terrenos, ou cônjuges, ou filhos, ou carreira, nem nossas tristezas, nem nossas alegrias, enfim, nada é nada. De tudo cuidaremos com zelo e amor, mas não deixaremos de tributar a honra, o culto, o serviço que são devidos ao Senhor, antes de tudo o mais. Sem este sentimento e prática de renúncia jamais poderemos servi-lo e amá-lo do modo pelo qual importa fazê-lo. E há uma urgência no uso que fazemos de nossa vida aqui embaixo porque a vida é curta, e o tempo do nosso encontro com o Senhor é certo, e ele julgará todas as nossas obras. E o que tivermos deixado de fazer para o Senhor não poderá ser recuperado, porque não poderemos voltar atrás e começar tudo de novo. 17 A Prosperidade do Espírito “Atos 8:1 E Saulo consentia na sua morte. Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria. Atos 8:2 Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grande pranto sobre ele. Atos 8:3 Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere. Atos 8:4 Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra.” Permitisse o Senhor que acontecesse agora no Brasil – que o Senhor não o permita - o que sucedeu nos primeiros dias Igreja, quando era pura e sem mancha, sob a instrução dos apóstolos, conforme se vê no relato da perseguição que explodiu contra os cristãos logo depois do martírio de Estevão, continuaríamos sustentando a chamada doutrina da prosperidade material, conforme é ensinada e afirmada pela grande maioria das igrejas em nossos dias? Expatriados, sem bens, aprisionados, martirizados, permaneceram os crentes primitivos pregando a fé em Jesus Cristo para a salvação e santificação de vidas. Já haviam antes confirmado que estavam desmamados dos prazeres deste mundo quando 18 tiveram por motivo de grande alegria serem espoliados de seus bens e sofrido por causa do nome do seu Senhor. Havia neles abundante graça e não havia necessitados entre eles porque repartiam os seus bens a todos quantos tinham necessidades (Atos 4.32-34). “Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável.” (Heb 10.34) Fosse a bênção de Deus ter muitas coisas deste mundo, os ímpios seriam os mais abençoados, porque é notório que se acha entre eles os que são mais ricos e poderosos segundo o mundo. Fosse a mera contribuição financeira para alguma igreja ou obra missionária, sem o acompanhamento de um crescimento pessoal na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, o suficiente para nos darmos por satisfeitos com Cristo e ele conosco, estaríamos incorrendo em grosseiro autoengano. Fosse a acumulação de bens terrenos o sinal do agrado de Deus para conosco, dissociado de um viver segundo o que nos é ordenado na Palavra, onde estaria a verdadeira igreja de Cristo agora? Certamente de braços dados com o mundo, porque é o mundo que busca o que é terreno e não o que é celestial, divino e espiritual. 19 “Mat 6:31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Mat 6:32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; Mat 6:33 buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Por que o Senhor repreende a Igreja de Laodiceia e a todos os cristãos que se identificam com os seus hábitos? Não é porventura por conta da falta desta verdadeira piedade e santificação no viver cotidiano, pela negação do ego, pelo carregar da cruz e seguir os mesmos passos de Jesus? 20 Horrorizai-vos ó Céus! “1Pe 2:9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 1Pe 2:10 vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.” “Atos 3:11 Apegando-se ele a Pedro e a João, todo o povo correu atônito para junto deles no pórtico chamado de Salomão. Atos 3:12 À vista disto, Pedro se dirigiu ao povo, dizendo: Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” Isto sempre existiu, mas o que está ocorrendo agora é estarrecedor! Os céus se recolhem em indignação pela ignomínia contra o santo e elevado nome de Jesus Cristo. Os anjos desviam a sua face para não verem a grande desonra que é feita ao Deus Altíssimo. Pessoas que se levantam em nome de Cristo para proclamarem a si mesmas e não as virtudes daquele que as chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. 21 Desfilam diante dos incautos a exibição dos seus supostos e próprios poder e piedade, e se gloriam ante a admiração e louvores que recebem sem terem pregado o genuíno evangelho, diferentemente do apóstolo Pedro, que o havia aprendido diretamente de Cristo e pela genuína instrução do Espírito Santo. Furtam de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo a glória que é devida exclusivamente a eles. Gostam de desfilar como estrelas da mídia, anunciando a si mesmos, e usando o nome de Jesus por pretexto. Esquecidos da pedra de onde foram cortados, porque antes nem sequer eram povo de Deus, mas foram alcançados pela exclusiva e muita misericórdia de Deus para com eles, em razão dos seus muitos pecados e a condição de pecadores que ainda carregamos conosco até que sejamos livrados completamente disto pelo nosso encontro com o Senhor no céu. Falta-lhes a humildade que havia em Pedro, e o seu reconhecimento que deveria rejeitar com toda a ênfase o louvor que as pessoas queriam devotar a ele e a João, por conta de terem sido os instrumentos de Jesus para que o coxo de nascença fosse curado à porta do templo. Horrorizai-vos ó céus, porque os dias trabalhosos são chegados a nós na sua maior intensidade! 22 A Boa Vontade Perfeita de Deus Somos incentivados a sermos sinceros suplicantes decididos a receber as graças do Espírito de Deus, porque temos a certeza de que ele está disposto a concedê-las. Nosso Salvador nos encoraja a fazê-lo, quando usou a ilustração de um pai, que não pode ir contra a natureza e se livrar de suas afeições para negar atender às necessidades de seu filho, e não lhe dará para a sua subsistência uma pedra em lugar de pão, ou uma serpente no lugar de peixe. Assim, se o homem que possui uma natureza terrena má, decaída no pecado, se apressa a atender de boa vontade às necessidades de seu filho, quanto mais Deus, que é o Pai perfeitamente amoroso, que possui uma natureza santa e bondosa, jamais deixará de dar o Espírito Santo e as graças do Espírito, àqueles que o desejarem como uma necessidade essencial a ser atendida em suas vidas. Ainda que por vezes, Deus coloque a nossa busca do Espírito Santo, à prova, parecendo não estar disposto a não concedê-lo a nós, devemos agir como a mulher da parábola do Juiz Iníquo, que insistente e importunamente continuou lhe clamando que julgasse a sua causa com justiça. E a conclusão que nosso Senhor apresenta para esta parábola é a de que, se um juiz ímpio, que não age de bom grado, não deixou de atender àquela mulher pelo motivo de não continuar 23 sendo importunado, diferentemente dele, Deus que tem prazer e boa vontade em nos atender, quando recorremos ao seu Trono de Graça, à busca da justiça eterna para as nossas vidas, justiça pela qual podemos ser transformados à imagem e semelhança de Jesus, jamais deixará de conceder isto àqueles que o buscarem com um coração realmente desejoso de obtê-lo, o que poderão demonstrar pela insistência em pedi-lo até que o tenham recebido. Não devemos portanto, conceber ou atribuir a Deus qualquer inclinação para ser indiferente a nós, ou então para agir de má vontade para conosco. A Sua inclinação é sempre para fazer o bem, assim como uma mãe se aplica com cuidado e carinho para alimentar os seus filhos, e para satisfazer todas as suas necessidades, para que sejam saudáveis em tudo. O Senhor colocou esta inclinação nos pais para que possamos entender por quais sentimentos ele é dirigido na sua relação com os seus filhos. E assim como os pais terrenos negam a seus filhos aquilo que possa ser prejudicial à sua saúde ou desenvolvimento pessoal, de igual modo nosso Pai celestial agirá em relação a nós, nos negando aquelas coisas que possam enfraquecer ou prejudicar o desenvolvimento do homem interior, que recebemos no novo nascimento (regeneração) do Espírito Santo. Portanto tudo o que lhe pedirmos com as pirraças do velho homem, não pode estar contemplado na promessa, e seremos por Ele 24 disciplinados, assim como os pais terrenos fazem com seus filhos pirracentos. Busquemos as coisas do Espírito Santo, o reino de Deus e a sua justiça, e todas as nossas demais necessidades serão atendidas por Deus, na forma de acréscimo àquelas coisas espirituais que devemos buscar em primeiro lugar. 25 Se Não Perder Não Ganhará “João 12:24 Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:25 Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna.” Se formos interpretar de modo literal a verdade proferida nas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo - de que quem ama a vida a perde, e de que quem a odeia a preserva para a vida eterna – poderemos pensar que está sendo afirmado algum tipo de absurdo, e na verdade o seria caso o sentido destas palavras fosse interpretado segundo a razão natural e comum do mundo; todavia elas expressam de forma resumida o grande segredo de se alcançar a vida eterna não somente para este mundo quanto para o vindouro. Porque importa que sejam interpretadas em seu significado espiritual, com a ajuda da iluminação do Espírito Santo, que é o único que pode nos tornar capazes de discernir espiritualmente as realidades que são espirituais. Primeiro, Jesus aplicou este ensino do céu ao seu próprio caso, pois não viveu para fazer a sua própria vontade, senão a de Deus Pai que o enviou para morrer no nosso lugar. Ele se esvaziou completamente e tomou a forma humana e de servo, não sendo dirigido pelo seu 26 próprio ego, mas pelo Espírito Santo que o guiava em tudo. Jesus não é somente a vida eterna, a sua fonte, como também o caminho e a verdade que nos conduzem também à vida eterna, pelo mesmo caminho que ele seguiu. O morrer para o eu, para se viver pela vontade e poder de Deus é o grande segredo disto, que Jesus veio revelar em si mesmo. Por isso ele venceu a morte, e não pôde a sua vida ser retida pelo sepulcro, e se encontra agora assentado em glória à destra do Pai no céu, intercedendo continuamente por nós, para que alcancemos a vida eterna e que a vivamos do modo digno pelo qual importa ser vivida. Agora, em relação a nós, quão indispostos somos a fazer morrer o modo de viver pelo nosso ego, quão apegados somos à nossa vontade e ao mundo, e então necessitamos diferentemente do Senhor Jesus que não tinha qualquer pecado – de mortificar a nossa natureza terrena pecaminosa, para que tendo a nossa mente renovada, possamos conhecer de modo experimental a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, pela qual somos santificados. Perdas de entes queridos e coisas que amamos nos causam grande sofrimento, e por isso tememos abandonar esta coisa que é a primeira em ordem a amarmos mais do que tudo, a saber, o nosso modo de viver neste mundo, ao qual nosso Senhor se refere como algo que devemos aprender a odiar, porque está cheio de hábitos e 27 desejos que são contrários à justiça e santidade de Deus. Então, se não odiarmos esta vida pecaminosa mundana, a nossa condição espiritual permanece sendo de morte, que por fim virá a ser morte eterna, e não vida eterna, conforme é prometido àqueles que a odiarem, por amarem o modo de vida celestial, espiritual e divino. Em muitos outros textos da Bíblia vemos esta verdade de João 12.24,25, sendo reafirmada, e para nossa apreciação, estamos destacando alguns deles a seguir: Mateus 16:25 Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Mateus 10:39 Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á. Lucas 14:26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Lucas 17:33 Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará. 28 Para a Glória de Deus em Cristo Jesus “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (I Pe 4.11) Para ser glorificado, Deus determinou em seu conselho eterno que na dispensação do evangelho somente lhe será aceitável aquilo que fizermos por meio de Jesus Cristo, porque tem designado ao seu Filho Unigênito a glória e o domínio eterno. Adorar a Deus em espírito e em verdade, conforme nosso Senhor ensinou que importa fazê-lo, somente poderá ser uma adoração verdadeira quando estiver baseada na própria pessoa e poder de Jesus Cristo, e em tudo o que ele nos ensinou quanto ao que devemos ser e fazer, em todo o procedimento santo, segundo a verdade que ele definiu como sendo a Palavra de Deus em Jo 17.17. A adoração verdadeira não consiste portanto somente em louvor ou em palavras que afirmemos relativas à mesma, mas aquilo que tem sido implantado por Cristo em nossas vidas e obras. 1Co 10.31: Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 29 Se não for Deus quem ocupe o lugar mais elevado em nossos pensamentos, que glória ele poderá receber da nossa parte? Não pode haver verdadeiro culto de adoração a Deus quando ele ultrapassa os limites daquilo que foi instituído e revelado pelo próprio Deus em sua Palavra para tal propósito. Não foi sem motivo que a Moisés foi ordenado que tudo fizesse segundo o modelo do tabernáculo que Deus lhe havia mostrado no Monte Sinai. Êxo 25:9 Segundo tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis. Êxo 25:40 Vê, pois, que tudo faças segundo o modelo que te foi mostrado no monte. Heb 8:5 os quais ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como foi Moisés divinamente instruído, quando estava para construir o tabernáculo; pois diz ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte. Por tudo isso entendemos que na igreja tudo deve estar de acordo com o padrão prescrito na Palavra de Deus, para que possamos render-lhe um culto e serviço de adoração que lhe sejam aceitáveis e agradáveis. Neste padrão prescrito na Palavra temos a ordenança de tudo fazer com fervor, por amor 30 ao Senhor, com toda a nossa força, alma e coração. Adoramos a Deus nos esforçando para conhecer o melhor modo de desempenharmos a função designada a nós por ele para servirmos ao corpo de Cristo, com todo empenho e diligência. Onde todas estas coisas referidas estiverem faltando poder-se-á afirmar que há ali um verdadeiro culto de adoração a Deus? Devemos refletir muito sobre tudo isto para que não nos enganemos a nós mesmos ou para que não permitamos ser enganados por outros quanto ao significado da verdadeira adoração e glorificação do nome de Deus. O culto a Deus não é um show, uma representação teatral, mas vidas santificadas que se apresentam como sacrifícios vivos no altar do tabernáculo celestial, e uma das melhores formas de se evidenciar se temos de fato feito isto, é por suportarmos com paciência, pelo poder da graça de Cristo, todas as tribulações pelas quais passemos neste mundo, por motivo de fidelidade a Deus e ao evangelho. Afinal, isto pode ser feito somente quando estamos debaixo do poder de Jesus Cristo por estarmos em comunhão com ele, e é nisto que o Pai é glorificado, porque houve o louvor da glória da sua graça que nos foi dada em Cristo, a qual nos assistiu em todas as nossas provações, fortalecendo-nos e dando paz e alegria aos nossos corações. 31 O Culto Racional a Deus Não podemos servir a Deus corretamente e de modo aceitável, a menos que nós o adoremos regularmente, e como podemos fazer isso, se formos ignorantes dos fundamentos da fé que são radicados na Sua Palavra? Estaremos longe de oferecer um "culto racional" a Deus, Rom 12.1, se não entendermos os fundamentos da fé cristã. Como o culto pode ser racional quando falta isto? Os fundamentos da nossa fé enriquecem a mente: é uma lâmpada para os nossos pés, que nos dirige em todo o curso do Cristianismo, como o olho dirige o corpo. O conhecimento dos fundamentos é a chave de ouro que abre os principais mistérios da fé. Daí ser tão enfatizada a necessidade de revelação para o conhecimento da vontade de Deus, como o apóstolo o expressa na sequência de Rom 12.1, pela apresentação de nossos corpos como sacrifícios vivos a Deus, pela renovação da nossa mente pela Palavra pelo seu Espírito, de modo que não conformados ao mundo, ou seja, estando santificados, possamos conhecer qual seja a Sua boa, perfeita e agradável vontade em relação a tudo o que revelou nas Escrituras, para que possamos cultuá-lo da forma correta e aceitável, que o apóstolo chama de “culto racional”, ou seja, não baseado em sentimentos, emoções, imaginações, e pensamentos oriundos do próprio homem, e não na verdade, como ela se encontra em Cristo Jesus, e revelada 32 na sua Palavra. Muito deste culto racional se refere à nossa transformação à imagem de Cristo, pela mortificação do pecado e revestimento das virtudes do Senhor (humildade, mansidão, ternura, bondade, amor, alegria, longanimidade, justiça, misericórdia etc). Há muito fogo estranho sendo oferecido no templo do Espírito que é o nosso próprio corpo. Quanto o Espírito é agravado e entristecido com isto, e somente não somos consumidos como foram os dois filhos de Arão no passado, porque estamos numa dispensação onde Deus tem sido completamente longânimo para com as nossas negligências e ignorância. Mas permaneceremos no erro, tendo uma vez sido iluminados em nosso entendimento que há um modo correto de se viver para Deus e cultuá-lo? Nosso Senhor afirmou a necessidade de estarmos firmemente fundados com nossa casa espiritual sobre a rocha do conhecimento e prática da Palavra. Para isto é necessário cavar profundamente nas Escrituras para chegarmos ao fundamento (Cristo) para que sejamos edificados pelo Espírito mediante a Palavra exata do evangelho. Pelo que e como interceder se não sabemos o que é e o que não é aprovado por Deus? Como disciplinar e exortar se não tivermos a régua do conhecimento celestial e divino, pela qual as ações devem ser medidas com amor, misericórdia e longanimidade? Se a semente da graça da nova criatura que foi implantada em nós não estiver devidamente 33 arraigada na Palavra, a planta da nova vida não crescerá e dará frutos, por falta de raízes fortes e firmes. Quando não se possui a plenitude da Palavra, que é a única coisa que pode satisfazer à alma, esta buscará o seu contentamento em novidades vãs, e formas de culto sensual, que jamais poderão mantê-la naquela paz e vida que Cristo veio nos dar. Se não houvesse a necessidade do devido aprendizado da Palavra, por que então Deus levantaria, pastores e mestres, entre outros ministérios, com o propósito de fazê-lo? 34 Ninguém se Sinta Excluído Deus demanda de nós a santidade, mas ao mesmo tempo fez a promessa de ser misericordioso para com todos os nossos pecados e iniquidades, e que não se lembrará deles e não os colocará em nossa conta para condenação, desde que nos voltemos para Ele por meio da fé em Jesus Cristo. Desta forma, quando falamos sobre vida santificada, sobre a necessidade do crescimento espiritual em santificação, ninguém, por maior pecador que seja, deve se sentir excluído da possibilidade de ter todos os seus pecados perdoados e ser reconciliado com Deus para sempre, porque isto é obtido pelo simples arrependimento e fé em Jesus Cristo. Porque foi para este propósito mesmo que ele veio a este mundo, para morrer em nosso lugar, de modo a satisfazer a exigência da justiça perfeita de Deus, de que não pode haver qualquer culpa naqueles que viverão em comunhão com ele para sempre. Tendo Jesus removido a nossa culpa na sua morte na cruz, pela fé nele, somos considerados inculpáveis por Deus, que nos dá o selo desta promessa fazendo habitar em nós Espírito Santo para operar a nossa transformação e santificação. 35 A Melhor Escolha “Lucas 10:38 Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Lucas 10:39 Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Lucas 10:40 Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.” Essa história é completa em si mesma. Cristo tinha feito o bem por todos os lugares que passava, sendo isto todo o seu objetivo e ofício. E agora a providência e o santo amor divino o direcionaram a estas duas mulheres, que lhe haviam recebido antes em seus corações, e agora em sua casa; e ele lhes preparou um banquete mais gracioso do que elas poderiam lhe dar. Maria sentou-se aos pés de Jesus, sabendo que como de costume dos seus lábios sempre gotejava mirra preciosa em suas palavras graciosas, Cantares 5.13, e, portanto, ela se esqueceu de todas as demais coisas. A partir da ida de Cristo a essas mulheres observe que onde Deus tem começado um trabalho da graça, ele não irá interrompê-lo, 36 mas o aperfeiçoará até o dia do Senhor; e enviará os seus servos, os profetas, para efetuá-lo. Isto deve nos encorajar a nos esforçarmos para crescer na comunhão uns com os outros, se professamos ser guiados pelo mesmo Espírito pelo qual Cristo foi guiado. Os lábios do justo são agradáveis, e suas línguas são prata refinada. Às vezes, o pecado do homem faz com que a instrução seja inoportuna, e é lamentável lançar pérolas aos suínos, Mat 7.6. Assim, para não priorizarmos outros interesses em relação à instrução que devemos buscar em Cristo, devemos aprender a escolher esta melhor parte, assim como Maria fizera no passado. Para tanto, devemos lamentar a nossa apatia e pedir a Deus a influência espiritual, que pode nos tornar dispostos. Não devemos impedir que os nossos afazeres cotidianos nos impeçam de ouvir a Cristo, tal como Marta fizera naquela ocasião. Ela estava preocupado em servir, mas não estava disposta a dar atenção a Cristo, porque considerou mais importante continuar preparando a refeição. "E Jesus, respondendo, disse-lhe: “Marta, Marta". Estas e as palavras que se seguiram contêm uma reprovação a Marta. O Senhor a chamou gentilmente pelo seu próprio nome. Cristo viu nela uma mistura do bem com o mal, e portanto, repetiu o nome dela, antes de lhe dizer: “Andas 37 inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Luc 10.41,42). É provável que Marta tenha se sobrecarregado com um peso maior do que ela poderia suportar. Ninguém lhe havia imposto aquele fardo, e muito menos Deus o faria, mas ela o tomou por sua própria escolha. Então movida pelo orgulho teve a ousadia de repreender o próprio Senhor por julgá-lo como indiferente à sua aflição e não ter, segundo ela, sido sensível o bastante para repreender sua irmã Maria por estar Lhe ouvindo, para que ela o deixasse e fosse ajudá-la nos afazeres domésticos. Ainda hoje, quantos irmãos em Cristo, especialmente irmãs, são tentados a se queixarem de Cristo por não terem tempo de ouvi-lo por causa de suas muitas tarefas domésticas e outros tipos de afazeres? É preciso estar vigilante contra isto, porque Cristo não nos impede de darmos conta de nossas ocupações, ao contrário nos ordena isto, e nos fortalece e capacita para a sua realização, mas a Sua lei jamais mudará de que Deus e o Seu reino devem vir em primeiro lugar, em relação a tudo o mais. A ansiedade apaga a fé, e sem fé é impossível agradar a Deus. Por isso nosso Senhor primeiro repreendeu Marta para que pudesse depois instruí-la, 38 dizendo-lhe que ela deveria como sua irmã Maria se esforçar para estar a Seus pés, porque somente uma coisa é necessária para agradarmos a Deus, que é esta de estarmos sempre ao seu dispor, amando-o acima de todas as demais coisas. Se fizermos tudo neste mundo e se viermos a faltar nisto que é vital, somos a mais miserável de todas as criaturas, porque somente o ser humano tem uma alma para ganhar ou perder. O que dará o homem em troca da sua alma? De que vale ganhar o mundo inteiro e vir por fim a perder a alma? Por isso nosso Senhor mostrou a Marta qual era a sua doença e por amor lhe ministrou o remédio adequado. Antes de escrever este texto, ainda ontem eu meditava sobre o imenso valor que há em se ter o privilégio de se estar debaixo da instrução de ministros fiéis que pregam o verdadeiro evangelho de Jesus e que mantêm permanente comunhão com Deus. Eles são os portadores da riqueza de inestimável valor que é a Palavra pela qual somos gerados novas criaturas. Eles nos dão acesso de graça e pela graça à maior graça que pode e deve ser alcançada para se ter vida eterna. É portanto uma bem-aventurança poder frequentar as reuniões de oração e adoração onde Cristo é realmente exaltado, porque se tem ao alcance da mão o maior tesouro de todo o universo, o único capaz de enriquecer para 39 sempre o nosso espírito, ressuscitando-o de entre os mortos para provar da vida do próprio Deus. E enquanto Maria estava debaixo desta experiência, Marta estava ainda sem experimentá-la ou então se afastando da mesma por conta de sua visão que era carnal naquela ocasião. Lembremos que todas as coisas pertencentes a este mundo e à vida que temos em nossa relação com ele, nos serão tiradas um dia, mas todas as coisas que temos recebido por meio da nossa fé em Jesus Cristo jamais poderão ser tiradas de nós, seja até mesmo pela morte, ou por poderes do inferno, ou por tribulações, angústias ou pelo que for, conforme nos ensina Paulo em Romanos 8. “Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10.42) 40 Preservando a Ternura de Coração Para preservar a ternura de coração é necessário tomar cuidado com o mínimo pecado contra a consciência, porque o mínimo pecado deste tipo abre caminho para a dureza de coração. Pecados que são cometidos contra a consciência fazem obscurecer o entendimento, matam a afeição, e sugam a vida da nova criatura, de modo que ela não tenha força para resistir à menor tentação. E desses que pecam contra a consciência Deus tira o seu Espírito, e é nisto que consiste o apagar ou entristecer o Espírito que a Palavra tanto recomenda que tenhamos o cuidado de não fazer. O pecado contra a consciência nos levará de um grau de dureza de coração para outro maior, e isto fará então com que sejamos insensíveis, inflexíveis e não moldáveis, porque ficamos alijados das operações da graça de Deus. O coração dantes sensível ao peso do menor pecado, agora, estando endurecido suportará em graus sucessivos o peso de pecados abomináveis sem sentir qualquer tristeza ou arrependimento por isto. O coração sensível não suporta o peso de qualquer pecado, por menor que ele seja. Assim, deveríamos examinar nossos corações diariamente por meio deste critério de verificação, para que nos voltemos para Deus 41 pedindo-lhe humildemente que nos perdoe e restaure ao primeiro amor. Pecados contra a consciência a cauterizam de tal forma que ela fica insensível até mesmo às ameaças dos juízos de Deus constantes da Sua Palavra. 1Tm 1:5 Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. 1Tm 1:19 mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. 1Tm 3:9 conservando o mistério da fé com a consciência limpa. 1Tm 4:2 pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, Heb 10:22 aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. 1Pe 3:21 a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo; 42 O Grande Milagre O testemunho que dou a seguir, que poderia chamar de o grande milagre ou a vitória da fé, se refere às circunstâncias que acompanharam primeiro, um infarto do miocárdio que tive em 2006, e depois, um câncer de intestino em 2010. Quando digo vitória da fé, não me refiro à capacidade de crer que seria curado, mas vitória da fé que é mediante a nossa comunhão com o Senhor Jesus Cristo. A fé que professamos nEle e em Sua Palavra. A fé que nos transformou em novas criaturas. Muito bem, o grande milagre não foi a cura propriamente dita, mas a grande paciência, paz e alegria sobrenaturais que me foram concedidas pelo poder da graça, que pude experimentar com a presença do Senhor durante todo o longo período de ambas enfermidades. Em nenhum dos casos fui impedido de ministrar e de continuar dando testemunho do grande amor e bondade do Senhor, porque era capacitado para isto pela graça de Jesus, e por vezes me surpreendia, quando nos cultos de adoração, me achava mais entregue ao louvor e adoração do Senhor, do que todos os demais membros da congregação que não padeciam de qualquer enfermidade. Ainda que não tivesse qualquer mérito para isto, senão por contar exclusivamente com a grande misericórdia e bondade de Deus. 43 Então o testemunho do grande milagre é este: Apesar de sermos pecadores limitados e imperfeitos, Deus é fiel em cumprir tudo o que nos tem prometido em sua palavra, de jamais nos desamparar ou abandonar, e de jamais nos deixar órfãos, pois estará conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.” (Hebreus 13.5) “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros.” (João 14.18) “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mt 28.20) 44 O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas Nossas Aflições “Acaso, é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador nem sempre o está debulhando,”. (Isa 28:28a) A debulha da aflição não tem por propósito causar qualquer dano ao homem interior do cristão, porque o grão será mantido íntegro na debulha, e dele nada se perderá, senão somente a sua casca e palha. O trabalho do lavrador não é somente o de debulhar, mas também de preparar a terra, cultivá-la, plantar a semente e cuidar da plantação até que chegue o tempo da colheita. Ora, assim também procede em relação aos cristãos o Grande Agricultor que é Deus. As aflições dos homens ímpios torna-lhes mais orgulhosos, mas aquelas aflições que nos levam a orar mais e que nos levam para mais perto de Deus, tornando-nos mais semelhantes a Cristo, estas são aflições abençoadas. Por isso Davi disse: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos." (Sl 119.71) Todas as aflições dos cristãos estão debaixo do controle de Deus, porque ele não permitirá que a pressão sobre o grão não exceda a medida adequada, de modo a não prejudicá-lo. Como dissemos antes, o seu objetivo é apenas o de remover o que não serve, a saber, a casaca do pecado, a palha dos maus hábitos e tudo aquilo 45 que impede o crescimento da graça que foi plantada por ele nos nossos corações. “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.” (I Cor 10.13) Temos um amplo testemunho nas vidas de muitos cristãos que saíram muito melhorados espiritualmente de suas aflições. É no nosso aperfeiçoamento espiritual até à plena semelhança com Cristo que Deus está interessado, porque foi para este propósito que ele nos criou. Quando usamos a fé que professamos para outros fins, estaremos certamente mercadejando a Palavra de Deus para objetivos interesseiros egoístas pecaminosos que afastarão os nossos ouvintes para muito além deste alvo proposto pelo Senhor para aqueles que desejam se aproximar dele. Assim, a paciência é recomendada na Bíblia para todas as aflições que experimentarmos porque é para este propósito que as provações nos são enviadas por Deus. “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tiago 1.3,4) 46 Se não nos armarmos do pensamento que devemos ser pacientes na tribulação e depositar toda a nossa confiança no Senhor, para sermos fortalecidos pela sua graça, certamente interromperemos a ação da nossa perseverança que deve ser completa, para que sejamos aprovados em nossas tribulações. Devemos também nos encorajar com o pensamento verdadeiro de que estas aflições são designadas para durarem uma temporada, caso necessário, com vistas ao refinamento da nossa fé, I Pedro 1.6. Assim, devemos nos consolar com a certeza de que Deus proverá o escape, como ele tem sido fiel em fazê-lo com todos os seus servos ao longo de toda a história da Igreja. 47 O Trabalho do Grande Agricultor Até mesmo os eleitos de Deus são tolos, mundanos, avarentos, cheios de inveja, concupiscências, paixões, fraquezas, ignorância, e assim por diante. O arado de Deus trilhando seus corações lhes ajuda a terem uma terra melhor e mais fértil para as sementes da graça, e lhes dá força ao germinarem para fixarem bem suas raízes de forma a não serem prejudicadas pelas ervas daninhas, senão de outra forma, seriam destruídas. Assim, não devemos invejar aqueles que são poupados de aflições, e admirarmos o tipo de alegria carnal que eles possuem, porque diante de Deus são um campo estéril. O propósito de Deus nas aflições é o de remover o orgulho carnal dos nossos corações e vontades. Mas muitos dos filhos de Deus ainda clamam em seu sofrimento: “Oh quando haverá um final disto?” Neste caso, eu digo, veja até que ponto você tem se aplicado em observar à Palavra, veja em qual medida ela está enxertada no seu coração. Quando podemos ouvir a palavra com alegria, e os nossos esforços se aplicam desta forma, então estamos perto do fim da nossa aflição; quando o solo do coração estiver pronto para o crescimento da graça que foi plantada em nós pelo Espírito, então é chegada a hora. 48 E o fim da aflição não significará em muitos casos, necessariamente a solução do problema que nos afligia, mas a remoção do nosso abatimento, tristeza, quando o coração já não mais estará turbado com o problema, em razão do poder que nos é concedido por Deus para suportá-lo com alegria, paz e paciência. Temos visto isto em muitos casos de graves enfermidades experimentadas por servos do Senhor. Nisto conhecemos as aflições que nos vêm do amor de Deus, quando nos fazem ter amor à Sua Palavra, e nos apegarmos a ela. A Palavra de Deus é a semente da vida eterna que foi plantada em nós na nossa conversão, e que é poderosa para nos salvar. Jesus afirma expressamente na Parábola do Semeador que o solo é o nosso coração e que a semente é a Palavra. Assim, é nosso dever permitirmos o trabalho do grande Agricultor nas aflições que sofremos, para que esta semente germine, cresça e frutifique em abundância o fruto do Espírito que consiste em todas as virtudes conforme elas se encontram na pessoa de Cristo. 49 As Imperfeições da Igreja aqui neste Mundo “Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou. Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence, não a guardei.” (Cantares 1.5,6) O melhor dos santos de Deus, por mais alvo que esteja aqui embaixo, encontra-se num estado imperfeito; mas, apesar do estado de imperfeição dos cristãos, eles não devem ficar desanimados. Há uma glória e excelência nos santos de Deus, no meio de todas as suas imperfeições e decaimentos. Nos primeiros versículos do 5º capítulo de Cantares, a igreja tendo mostrado seu fervoroso amor e afeição por Cristo e anseio por uma comunhão mais próxima com ele, tendo também confessado e professado sua própria fraqueza e incapacidade de chegar até ele, por cuja causa ela diz, "Leva-me após ti, apressemonos.", ela apresenta uma queixa contra aqueles que tentam desacreditá-la, aos quais chama de “filhas de Jerusalém”. Estas filhas às quais a igreja se dirige são como quem não possui a graça santificante ainda 50 nelas, ou que ao menos esta seja muito pequena). Ela (a igreja) se rendeu ao que foi dito: "Eu sou morena por que o sol me queimou”, isto é, minha condição aqui é imperfeita, sujeita ao pecado, à aflição; não bela, portanto, aos olhos e julgamentos carnais. Ela, nega o argumento, de ser portanto, desprezada pelos homens e rejeitada por Cristo como alguém que não tinha nada nele, ou melhor, os que se encontram extremamente queimados pelo sol podem ser belos e atraentes, e por isso ela diz no início do versículo que se via assim, interiormente rica e encantadora, como as tendas de Quedar e as cortinas de Salomão, e sabendo que podia estar sendo julgada de forma incorreta, se apressou em dizer: “não olheis para o eu estar morena”, ou seja, não me julguem de modo precipitado pelo que veem em mim. Temos então aqui a confissão da igreja que apesar de sua riqueza interior pela habitação que possui do Espírito de Deus, todavia ainda há imperfeições no homem exterior, no velho homem, em contraposição à perfeição da nova criatura em Cristo Jesus. Paulo revela em 1 Coríntios 13.9 esta condição de não existir uma perfeição completa da igreja enquanto neste mundo. Pois a promessa da sua plena perfeição será cumprida somente na volta daquele que é perfeito, a saber, Jesus, o Cabeça da igreja. 51 O apóstolo João também o confirma em I João 1.8, onde é dito que "se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.” Então, até que chegue o dia da sua ressurreição, a igreja está com a pele ressecada pelo sol ardente do pecado e das aflições, e apresenta diversas imperfeições no seu exterior que leva muitos a criticá-la, até mesmo alguns que dela participam por desconhecerem a sua própria imperfeição e a verdade de que esta nos acompanhará todos até o dia da nossa morte. Os santos estão sujeitos a dores, vergonhas, seus corpos são vis, corruptíveis; em suas almas há muitos conflitos, corrupções em sua velha natureza, tentações, temores, tristezas; há falhas nos seus serviços, no seu arrependimento, fé, oração, etc. A igreja sabe então que é imperfeita, mas sabe também que Cristo a ama embora seja aqui imperfeita, porque há de completar a obra da qual tem se encarregado de apresentá-la a si mesmo no dia das bodas do Cordeiro no céu, sem mancha, ruga ou coisa semelhante. Então devemos olhar nossos pecados e falhas com tristeza, mas não devemos ser desencorajados por isto, deixando de prosseguir na busca da perfeição que nos está prometida e proposta por Deus. Temos um grande e poderoso libertador que ama seus filhos em meio a todas as suas deformidades. 52 Na continuidade do versículo 6 a igreja diz: “Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas”; eles a injuriaram, e procuraram levá-la a cuidar dos interesses deles, de suas vinhas, de modo que ela diz que não pôde cuidar da sua própria vinha, ou seja, aquela que lhe fora designada pelo Senhor Jesus: “a vinha, porém, que me pertence, não a guardei.” Estes seus irmãos, filhos de sua mãe, têm o nome de irmãos, porque se passam por tais, mas são falsos, hipócritas, mestres orgulhosos do erro que se apoderam do rebanho de Cristo para desviar o coração de suas ovelhas da comunhão com Ele. Mas eles não logram êxito por muito tempo em seu intento, porque não é possível enganar os escolhidos do Senhor. Eles o conhecem e são por ele conhecidos, e ouvem a sua voz e o seguem, e não aos estranhos. Então, a igreja se expressa no versículo 7 afirmando o seu amor e cuidado pelos interesses do seu Senhor: “Dize-me, ó amado de minha alma: onde apascentas o teu rebanho, onde o fazes repousar pelo meio-dia, para que não ande eu vagando junto ao rebanho dos teus companheiros.” 53 O Mal e o Perigo de Ofensas "Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!" (Mt 18.7) É muito evidente que nosso Senhor Jesus Cristo põe um peso muito grande sobre esta matéria relativa a ofensas, ele as representa como uma espada de dois gumes: 1) "Ai do mundo por causa dos escândalos!” – O mundo que se escandaliza sem motivo, com Cristo e com o evangelho, e com o bom testemunho dos seus servos, e que por esta rejeição permanece debaixo de condenação. 2) “Ai daquele por quem vem o escândalo!" – Aqueles que provocam escândalos, por carregarem o nome de Cristo, e que por não terem um procedimento condizente com a fé que professam ter, servem de motivo de tropeço para muitos que não vêm a Cristo ou que dele se afastam, por pensarem que ele tenha algo a ver com o comportamento desses insubordinados. John Owen assim se expressou quanto a isto: “Assim, nosso Senhor apresenta essas duas coisas juntamente. É necessário que haja ofensas; Deus as designou, e deve ser assim. Devemos portanto considerar para nós mesmos o tempo em que podemos estar certos que os escândalos serão abundantes, para que sejamos cautelosos quanto a isto. 54 Primeiro, é um tempo de perseguição. As ofensas serão abundantes em tempos de perseguição. Em segundo lugar, um tempo de grandes pecados é um momento de grandes escândalos, tanto contra um testemunho exemplar do evangelho, quanto em relação ao oposto disto. Isto, o Espírito Santo diz expressamente, que "nos últimos dias haverá tempos difíceis." Todos os perigos surgem de ofensas. E por quê? As concupiscências dos homens serão abundantes. Quando há uma abundância de concupiscências (cobiças), haverá uma abundância de delitos, que fazem com que os tempos sejam perigosos. Em terceiro lugar, quando há uma decadência das igrejas, quando crescem frias, é a hora dos escândalos abundarem: "por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará." Este é um tempo em que as ofensas abundarão; como todas as igrejas de Cristo parecem estar neste dia. Todas as virgens, sábias e tolas, estão dormindo. É o que eu lhes disse muitas vezes, e eu gostaria de poder dizer que eu lhes disse com choro, que estamos sob um decaimento lamentável, - caindo de nossa primeira fé, amor e obras. Agora, se todos estes tempos devem vir sobre nós - um tempo de perseguição, como ocorre agora em todo o mundo, diz o apóstolo: "Amados, não estranheis a ardente prova... certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade 55 espalhada pelo mundo”, um tempo de abundância de grandes pecados nos homens; e um tempo de grandes decaimentos em todas as igrejas, - se é assim conosco, com certeza é muito bom para nós atentarmos para a advertência de nosso Salvador: "Acautelai-vos dos escândalos". Deus designou Cristo para ser a maior ofensa no mundo, Isaías 8.14. Ele foi designado para ser uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo, - uma ofensa insuperável. A pobreza de Cristo no mundo e sua cruz seriam rocha de escândalo, na qual os judeus e os gentios tropeçaram e caíram, e se arruinaram por toda a eternidade.” Jesus nunca ofendeu a ninguém mas foi tomado indevidamente por muitos como sendo uma ofensa, um escândalo. E assim também seus discípulos têm da parte de Deus apenas esta única concessão de serem motivo de escândalo para alguns do mundo, por causa do bom testemunho que eles dão, na sua identificação com o Seu Salvador e Senhor. Agora, devemos ter cuidado quanto a todas as demais formas de escândalos (ofensas) que são causadas, especialmente contra as consciências de irmãos ainda fracos na fé. Mesmo que estas ofensas sejam causadas por uma má aplicação da verdade. “Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.” Rom 14.1. 56 “Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus. Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão.” (Rom 14.10-13) O apóstolo falou do tribunal de Deus para o julgamento de todos os escândalos e ofensas que tivermos feito, especialmente aqueles que servem de tropeço a pessoas que ofendemos com o nosso procedimento e que por conta disto ficaram impedidas de virem a Cristo ou de se firmarem na fé, pelo que viram ou receberam de nós e que não condiz com a nossa condição de servos de Deus. “E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo.” (I Cor 8.13) Se daremos contas do escândalo produzido quando estamos empenhados em defender o que nos parece verdadeiro e justo, o que se dirá então do escândalo produzido por um mau procedimento, seja ele intencional ou não? “não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado.” (2 Cor 6.3) 57 “Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus,” (I Cor 10.13) 58 “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3) O alvo de Deus na criação do homem é o de que este tenha comunhão amorosa com Ele. Agora, como é possível haver comunhão de espíritos onde Deus quer uma coisa e o homem outra, em relação ao mesmo assunto? O argumento liberalista aponta a importância de a vontade do homem ser respeitada por Deus, ainda que vá na contramão da Sua vontade divina. Não é necessário muito esforço para entendermos que é justamente nisto que reside o pecado. Não foi isto que Satanás e os anjos caídos fizeram e que foi a causa da sua queda? Não foi isto que Adão e Eva fizeram no Éden, e que trouxe a maldição de Deus a toda a criação? Pode haver paz na casa quando os seus habitantes andam em desacordo? E é importante lembrar que dependemos inteiramente da graça de Deus para ter harmonia em nossos lares, porque podemos ficar à mercê do ataque de demônios que podem causar terríveis ruídos em nossas comunicações e indisposições em nossos corações para com aqueles aos quais amamos. Ai de nós se não fossem repreendidos pelo poder de Cristo! Se não fosse por isto poderíamos estar permanentemente com nossos corações turbados e magoados. 59 Então importa estarmos em paz com Deus e sujeitos à Sua vontade, Palavra e poder, de modo que possamos contar não apenas com os Seus livramentos, mas sobretudo com o deleite da comunhão com Ele, que se estenderá a todos os Seus filhos. Nunca devemos esquecer que temos um estado latente ruim em nossa alma, decaída no pecado, o velho homem do qual devemos nos despojar continuamente pela mortificação do pecado. E como faremos isto sem o poder da graça de Cristo? Sem o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo? Deus não deve estar apenas em nossa casa espiritual, a saber, no nosso corpo, que é templo do Espírito, mas deve deter o pleno governo sobre a mesma. Este é o único modo de vivermos para a Sua exclusiva glória, e para o louvor da glória da Sua graça (Ef 1.6). Importa caminhar com Deus, especialmente pela razão exposta pelo apóstolo em Gálatas 5.17: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gál 5.17) 60 Andando Humildemente com Deus "E andes humildemente com o teu Deus." (Miqueias 6.8) Nos dias desta exortação do profeta o povo de Israel estava tentando apaziguar-se com Deus meramente pela apresentação de sacrifícios no templo. Com isto, pensavam que ele poderia fazer vistas grossas para os seus pecados. Eles julgavam que pelo simples fato de serem descendentes de Abraão, e de ter Deus feito uma aliança com eles, que isto era suficiente para se sentirem seguros quanto ao favor de Deus em relação a eles, que lhes garantiria um viver em vitória neste mundo. O mesmo sucede com a Igreja de Cristo, quando os cristãos se sentem seguros pelo fato de terem sido justificados e regenerados quando se converteram, e não se ocupam mais com o assunto da santificação de suas vidas, por uma sincera prática da Palavra de Deus. Faríamos bem em deixar sempre soar em nossos ouvidos a indagação do profeta que foi dirigida aos israelitas: “O que o Senhor pede de ti?”, e a conclusão da resposta encontra-se no título do nosso texto. Esta mesma inquirição foi dirigida por Moisés a eles em seus dias: “Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti?” (Deut 10.12). O que o Senhor requer dos cristãos? 61 Devemos responder com sinceridade a esta pergunta para nós mesmos. Deus requer a fé, a justiça a misericórdia, o amor, porque é por cumprir os seus mandamentos que provamos que o amamos de fato. Vãs serão todas as obras que fizermos em seu nome, caso não sejam acompanhadas por este esvaziamento do nosso ego, que comprova que andamos em humildade perante ele, para que possamos ser guiados à prática da sua Palavra pela instrução, direção e poder do Espírito Santo. 62 A Fé Que nos Vem de Deus A fé não consiste apenas no assentimento da mente para com a verdade das promessas de Deus. Sem isto, não há fé. Mas isto por si só não é a fé da qual a Bíblia fala. Esta fé de mero assentimento é a fé que Satanás e os demônios possuem, porque eles sabem e creem que Deus é fiel em cumprir tudo o que tem prometido. E isto lhes causa dor porque não podem deixar de acreditar nisto. A verdadeira fé além de demandar o assentimento da mente, também exige o consentimento da vontade com toda a palavra revelada de Deus. O tipo de confiança em Cristo que a fé verdadeira possui é confiança em qualquer circunstância, tendo ou não tendo, sendo honrado ou humilhado, na saúde ou na enfermidade, nas perseguições sofridas por causa da prática ao evangelho e obediência à vontade de Deus. A fé verdadeira habitando na alma não gera obediência mecânica a Deus, mas por amor a Ele e à sua Palavra, no poder do Espírito Santo. A fé que nos vem como dom de Deus é purificada e aumentada nas experiências que 63 temos com a fidelidade, amor e poder de Deus em nós, nas tribulações e tentações que sofremos. Esta fé ilumina a nossa mente e espírito para entendermos a Palavra de Deus. A fé genuína nos leva a conhecermos a nossa pecaminosidade e a nossa necessidade da aceitação de Cristo para ser a nossa justiça, que é o único meio de sermos livrados da maldição, da condenação eterna e da ira de Deus. Por tudo o que foi afirmado até este ponto, podemos concluir que a fé não pode ser produzida pela vontade do homem, e por isso é necessário recebê-la como um dom de Deus, que não somente dá a fé, como também a mantém, aumenta e prova para que seja refinada. Esta fé que é dom de Deus é a única que nos habilita a recebermos a Cristo da forma pela qual convém ser recebido por nós, em todos os aspectos relacionados à nossa justificação, regeneração, santificação, comunhão e tudo o mais que temos por estarmos unidos a Ele pela fé. Todavia, ainda que uma pequena fé nos habilite a receber a justificação e a regeneração, somente pelo aumento da fé em graus podemos 64 fazer progresso na santificação e no aumento da nossa comunhão com Deus. Este aumento da fé em graus se refere ao seu fortalecimento, e isto não é obtido por meio de esforço mental para crer na fidelidade de Deus em suas promessas, especialmente em circunstâncias difíceis, mas no fechamento com a vontade Deus, sem recuar ou praticar o que seja do Seu desagrado em toda e qualquer circunstância, por ter sido aperfeiçoado no conhecimento íntimo e pessoal com Jesus Cristo, experimentando de Sua presença fortificadora e consoladora em todas as situações da vida. Assim, o crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Cristo depende de nossas experiências com a Palavra de Deus, sendo aplicada em nossas vidas pelo Espírito Santo, no decurso de nossa jornada terrena. Portanto, a firmeza nas tentações será tanto maior quanto maior for a nossa fé. Uma fé fraca nos levará a cair até mesmo em pequenas tentações. 65 Como podemos Preparar Nossos Corações Para Suportar Reprovações “Fira-me o justo, será isso uma gentileza; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo. Continuarei a orar enquanto os perversos praticam maldade." (Sl 141.5) Para que possamos receber reprovações de uma forma devida, três coisas devem ser consideradas: 1. A qualificação geral do reprovador, 2. A natureza da reprovação, e, 3. O assunto relativo à mesma. O salmista deseja que seu reprovador seja uma pessoa justa : "Que o justo me fira", "repreendame." Dar e receber repreensões, é um ditame da lei da natureza, através do qual cada homem é obrigado a procurar o bem dos outros, e para promovê-lo de acordo com sua capacidade e oportunidade. A primeira coisa a ser considerada é dirigida por aquele amor que é devido aos outros; e a segunda, por aquilo que é devido para nós mesmos: estas são as duas grandes regras, e a medida para os deveres de todas as sociedades, seja civil ou espiritual. É desejável que aquele que reprova seja uma pessoa justa, porque deve ter um senso do mal a ser reprovado. 66 E se a repreensão for feita sem sabedoria e humildade, todos os seus benefícios serão perdidos. Por isso nosso Senhor nos diz que devemos primeiro tirar a trave de nossos olhos antes que tiremos o argueiro dos olhos do nosso irmão (Mat 7.3-5). 2. A natureza de uma reprovação deve também ser considerada. Assim cada repreensão pode ser: 1. Autoritária, (da parte de quem possui autoridade) 2. Fraterna 3. Simplesmente amigável e ocasional Há uma autoridade especial que acompanha as reprovações ministeriais na Igreja. Está em foco a reprovação pessoal privada, realizada por aqueles que detêm autoridade ministerial, porque é ordenado por Deus que os ministros exortem, repreendam, admoestem, e reprovem, conforme a ocasião exigir. Não cumprir isto significa desprezar a autoridade de Jesus Cristo que assim o determina. Ele repreende a todos quantos ama (Apo 3.19). Assim, toda autoridade para a reprovação ministerial emana dele. A repreensão autoritária dos pais é um dos principais deveres dos pais para com seus filhos. A negligência deste dever produzirá os Hofnis, Finéias e Absalões. 67 A repreensão autoritária civil é a exercida por governantes e chefes. Esta é também ordenada por Deus para o bem da sociedade civil. A repreensão fraternal é a que é comum entre os membros da mesma igreja, em virtude de suas obrigações para com Cristo e uns com os outros. (Mat 18.15; Lev 19.17; Rom 15.14; 1 Tes 5.14; Heb 3.12,13; 12.15,16). Por último, as repreensões são amigáveis ou ocasionais, quando administradas por qualquer pessoa, conforme as razões e oportunidades o exijam. Se o assunto da reprovação for verdadeiro, então deve ser devidamente considerado. Se for um assunto privado, então deve ser tratado apenas com o próprio faltoso, conforme nosso Senhor nos instrui a fazer em Mateus 18. Em se tratando de pecado público ou que seja ofensa que dê ocasião a escândalo, não precisa ser reprovado em particular. Todos os males da humanidade, seja de pessoas ou de nações, concebidos ou perpetrados, são efeitos da nossa prevaricação fatal da lei de nossa criação. Caim foi o primeiro transgressor violento e aberto das regras e limites da sociedade humana. Como de um só homem, Deus trouxe todos os demais à existência, é um dever tanto da lei de Deus quanto da própria natureza, cuidar e preservar a continuidade deste mesmo DNA comum, que nos identifica como seres 68 humanos e não como qualquer outra criatura. Daí, não furtarás, não adulterarás, não darás falso testemunho, não matarás etc. Portanto, se interpõem as reprovações e repreensões no intuito de prevenir tais transgressões e violações e para manter o bem comum e a paz e continuidade da vida em sociedade em qualquer dimensão de relacionamento considerada. Por exemplo desprezar as repreensões que sejam necessárias para a manutenção do amor fraternal é abrir uma porta para o ódio e antipatia mútuos, que, aos olhos de Deus, equivalem ao homicídio (Lev 19.17; I João 3.15). Por isso demonstramos falta de amor e respeito para com Deus e suas leis quando desprezamos as repreensões das quais nos tornamos dignos de receber, e que visam à correção do nosso procedimento, com vistas à manutenção do amor fraternal. Em princípio todos necessitamos destas repreensões porque o pecado trouxe à alma humana um estado ruim de inimizade contra Deus e contra o próximo. Quantos não foram despertados de suas apostasias em razão das repreensões que receberam? Quantos não foram despertados do sono espiritual no pecado em que se encontravam? Quantas armadilhas e tentações não foram evitadas? Daí Davi afirmar: 69 “Fira-me o justo, será isso uma gentileza; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo.” Devemos portanto encarar cada reprovação que nos é dada como uma forma de dever. Isso vai remover o senso de ofensa que poderíamos ter contra o reprovador. E se estivermos convencidos de que é dever do outro nos reprovar, não podemos deixar de estar convencidos de que é nosso dever ouvi-lo e dar a devida consideração àquilo que devemos consertar. A Bíblia está repleta de exemplos quanto àqueles que se recusaram a dar ouvidos à repreensão que receberam e que caíram em ruína diante de Deus. Assim, devemos cuidar de sermos curados pela graça de Deus, de nossas disposições mentais, emocionais, iracundas, exaltadas, orgulhosas, presunçosas, preconceituosas, que nos levam a rejeitar reprovações e repreensões. “O que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso a si mesmo se injuria. Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará.” (Prov 9.7,8). “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura.” (Prov 29.1). A norma bíblica para a repreensão é que seja feita com longanimidade (sendo tardio em se 70 irar contra o mal) e com doutrina (segundo os preceitos da Palavra de Deus), (II Tim 4.2). A melhor maneira de manter as nossas almas numa prontidão correta para receber reprovações, que possam nos ser dadas por qualquer pessoa, é manter e preservar as nossas almas e espíritos, num temor constante de reverência às repreensões de Deus, que estão registradas na sua Palavra. Foi por causa da negligência ou desprezo dessas reprovações, que Deus derramou a sua ira sobre a humanidade no dilúvio e em várias ocasiões na história de Israel, no Velho Testamento, como forma de advertência para nós a quem o fim dos tempos tem chegado. 71 O Valor da Vida Está no Amor É do Espírito Santo que o verdadeiro amor cristão surge, tanto para Deus, quanto em relação aos homens. O Espírito de Deus é um Espírito de amor, e quando entra no nosso espírito, o amor também entra com Ele. Deus é amor, e aquele que tem Deus habitando nele pelo seu Espírito, terá o amor também habitando nele. A natureza do Espírito Santo é amor; e é a própria natureza dEle que comunica aos santos, de modo que o amor é derramado abundantemente em seus corações pelo fato do Espírito Santo estar habitando neles. Nisto entendemos porque o apóstolo diz nos três primeiros versos do 13º capítulo de I Coríntios, que caso não se tenha este amor, nada aproveita ter dons, talentos, fazer doações e sacrifícios. E assim, em qualquer ação boa que possa haver de um homem para com o seu próximo, a razão ensina que será tudo inaceitável e em vão, se ao mesmo tempo não houver nenhum respeito real no coração para com aquele próximo, se a conduta externa não for motivada pelo amor interior, iniciado e motivado pelo Espírito Santo. Por exemplo, nenhum pai ama naturalmente a seus filhos por motivo de glorificar o nome de Deus, ou para educá-lo nos seus santos caminhos. Assim, esse amor natural, apesar de 72 ser importante, não possui nele, a marca, o selo, do amor espiritual divino. Daí se ordenar na Palavra de Deus que todos os nossos atos sejam feitos com amor, ou seja, o amor deve estar presente em nós, para acompanhar as nossas obras feitas em Deus, para que sejam aceitáveis, e para que não sejam em vão. Como vemos em Apocalipse 2.2-5 Jesus sempre requererá o primeiro amor, ainda que nossas boas obras estejam aumentando cada vez mais. Toda verdadeira virtude e graça cristãs podem ser resumidas no amor. A Bíblia nos ensina que o amor é a soma de tudo aquilo que está contido na lei de Deus, e de todos os deveres requeridos na Sua Palavra. Agora, a menos que o amor fosse de fato a soma do que a lei exige, a lei não poderia ser cumprida completamente; porque uma lei somente é cumprida através da obediência à soma total do que ela contém e ordena. Paulo afirma em Rom 13.9 e em Gál 5.14 que aquele que ama o próximo tem cumprido toda a lei. E o mesmo parece ser declarado em Tiago 2.8, onde chama o amor ao próximo de a lei régia das Escrituras. O apóstolo nos ensina em Gál 5.6 que “a fé atua pelo amor”. Uma verdadeira fé cristã é a que produz boas obras, mas as boas obras que produz são por amor. 73 O verdadeiro amor é um componente da verdadeira e viva fé. O amor não é nenhum componente em uma fé meramente especulativa, mas é a vida e alma de uma fé prática. Uma fé verdadeiramente prática ou salvadora, está portanto cheia de fervor, luz e amor. Uma fé especulativa somente consiste no aumento da compreensão; mas numa fé salvadora há também o consentimento do coração; e aquela fé que somente é do tipo anterior, não é nada melhor que a fé dos demônios, porque têm uma fé que pode existir sem amor, enquanto creem e tremem, mas tal tipo de fé de nada lhes aproveita diante de Deus. É o tipo de fé de conhecimento de coisas que se referem a Deus, mas que não produz o amor no coração. O amor é a vida mesma e o espírito de uma verdadeira fé, e está especialmente evidente nesta declaração do apóstolo de que a "fé trabalha por amor", e o último verso do segundo capítulo da epístola de Tiago declara que “assim como o corpo sem o espírito está morto, de igual modo a fé sem obras também está morta”. Devemos portanto nos examinar, e ver se temos colocado como centro de nossa vida cristã o amor a Deus e ao próximo, porque é neles que se cumpre toda a vontade de Deus para conosco, e sem os quais, tudo o que fizermos será vão, já que o cumprimento de todos os mandamentos depende destes dois grandes mandamentos. 74 Quem Será o Próximo a Chorar? Não sabemos quem será o próximo a chorar e a lamentar por causa de seus pecados. Mas uma coisa sabemos com plena certeza, a saber, que todo aquele que chora será consolado pelo Espírito Santo com a concretização da promessa de ser perdoado e salvo. Afinal, Jesus não tem dito: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”? Deus fez esta promessa de curar, guiar e consolar a todos os que chorarem entre os pecadores, por saberem o quanto o pecado entristece o coração do Senhor. “Isa 57:18 - Tenho visto os seus caminhos e o sararei; também o guiarei e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram.” Se você ler todo o capitulo de Isaías 57, você verá que esta promessa maravilhosa foi feita a qualquer tipo de pecador, pois até mesmo aqueles que estavam oferecendo seus filhos em sacrifício ao falso deus Moloque, achariam graça e misericórdia diante de Deus caso viessem a se arrepender com profunda tristeza do pecado horrendo que haviam praticado. Esta promessa se refere portanto ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual toda e qualquer transgressão tem sido perdoada aos homens que se arrependem. Assim, portanto, quem será o próximo a chorar e a lamentar a sua triste condição pecaminosa, para que ache o perdão e a salvação em Jesus? 75 O Que é Servir a Deus? Servir a Deus é servir a Cristo, notadamente no que se refere às ordenanças do Evangelho. “João 12:26 - Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará.” “Col 3:24 - cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo;” Muito deste serviço está direcionado a tudo o que se refere à salvação dos homens (conversão, santificação, edificação). Daí a necessidade do preparo dos cristãos para o seu desempenho no corpo de Cristo, conforme o caráter da vocação de cada uma deles por Deus. “Ef 4:12 - com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,” A par do seu caráter espiritual este serviço é materializado especialmente nos assuntos comuns da vida cotidiana, como a prática da hospitalidade, da generosidade, do socorro aos necessitados e de tudo o que demonstre um verdadeiro amor ao próximo. 76 “Tito 3:14 - Agora, quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos.” Não basta servir, há também o modo de fazê-lo: como por exemplo, com humildade e fervor de espírito: “Mar 10:43 - Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; Mar 10:44 e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Mar 10:45 Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” “Rom 12:11 No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor;” Quanto ao tempo de duração deste serviço: durante toda a vida, a tempo e fora de tempo. O serviço de Deus deve ser o primeiro em nossas vidas e deve permear tudo o que fizermos. É uma verdadeira lástima que muitos que professam crer em Cristo não reservem sequer míseros dez minutos diários para a oração e para a meditação da Palavra de Deus, e para tudo o mais que o Senhor requer deles, em prova inconteste do amor que afirmam ter por Ele. 77 “Gál 6:9 - E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.” Gál 6:10 Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.” “QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR NÃO SERVE PARA VIVER” 78 Jesus é o Único Mediador entre Deus e o Homem (I Timóteo 2.5) Quão grande prejuízo, possivelmente até eterno, poderemos estar causando à nossa própria alma, por entregarmos a questão da nossa salvação nas mãos de terceiros. Se formos instruídos por alguém que conheça de fato a verdade revelada por Deus nas Escrituras, tudo bem... mas, e se cairmos nas mãos de alguém que esteja iludido quanto à verdade que professa conhecer, ou mesmo utilizando-a de má fé, por não ser de fato alguém piedoso? Não vale portanto, a pena, correr o risco, e devemos examinar as Escrituras, pedindo a Deus que abra o nosso entendimento para que possamos conhecer nelas o que é necessário à nossa salvação. Não tenhamos medo de fazer este exame porque a maior parte de tudo o que está escrito na Bíblia está registrado de forma muito clara, enfática, direta, especialmente quanto à necessidade do nosso arrependimento em relação ao pecado, e da disponibilidade de graça que há em Cristo para perdoar o pecado e nos purificar de toda injustiça. E mesmo quando formos dirigidos por Deus a seguir a instrução das pessoas que Ele levantar para ministrar o ensino da verdade, devemos confrontar o ensino recebido com o que a Bíblia fala a respeito do está sendo ensinado, porque 79 nem mesmo estas pessoas, sendo fiéis, estão livres de erro não intencional. Este estudo direto da Bíblia nunca foi proibido por Deus a qualquer pessoa, ao contrário, na própria Bíblia, ele o incentiva de modo direto e enfático. Se não entregamos nossos melhores bens aos cuidados de qualquer pessoa, quanto mais não deveríamos entregar esta joia de inestimável valor – a da nossa salvação eterna! 80 Apascentar “Procura conhecer o estado das tuas ovelhas e cuida dos teus rebanhos,” (Pv 27.23) “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros.” (João 21.15) Uma das principais funções do pastor é a de usar o seu cajado para afastar o ataque dos lobos sobre o seu rebanho. Muitas vezes, estes lobos não vêm de fora, mas atuam no próprio rebanho, ou individualmente no próprio interior de cada ovelha, em forma de endurecimento e rejeição à recepção do alimento necessário para que esteja saudável, a saber, a Palavra de Deus, que é o alimento do espírito. Sempre há uma resistência natural e persistente do lobo representado na nossa natureza decaída no pecado, no fascínio pelo mundo, nas investidas dos espíritos imundos, que furtam o nosso alimento. Desta forma, importa que os pastores não somente forneçam o alimento das ovelhas (Palavra), em face desta possibilidade sempre presente de um furto fácil. Elas devem ser ensinadas a preservar o seu alimento com toda a diligência, e nisto coopera 81 tanto a oração dos pastores em seu favor, quanto a oração das próprias ovelhas, para que sejam livradas do mal. Uma boa ação preventiva é a de manter as ovelhas empenhadas com a obra de Deus, especialmente no cuidado relativo à santificação de suas vidas para tal propósito, não apenas na participação de atos devocionais, como também na prática efetiva do amor e das boas obras. A inércia e a indolência produzirão enfermidade e morte espiritual no rebanho. “Atos 20:28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Atos 20:29 Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. Atos 20:30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles.” “Saúda-vos Epafras, que é dentre vós, servo de Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus.” (Col 4.12) 82 A Importância do Exercício Espiritual Contínuo “Mat 12:43 Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Mat 12:44 Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Mat 12:45 Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa.” Se fosse dado às pessoas de um modo geral, verem o seu estado espiritual sob a escravidão de Satanás, que opera em seus corações segundo o pecado, certamente a condição da humanidade em sua grande maioria seria de desespero total, e de grande alarme diante da constatação do quadro horrendo relativo à atuação das potestades e principados do mal sobre suas vidas. Todavia Deus, em geral, não o permite (a constatação) para que a vida siga o seu rumo na Terra. As palavras de Jesus no texto de Mateus 12.43-45 indicam a condição daqueles que tendo sido agraciados pela ação do Seu poder na expulsão de demônios, que se encontravam sob o domínio de suas vidas, não se entregam em sequência à prática dos exercícios espirituais ordenados na Palavra de Deus, e assim o seu 83 estado posterior vem a ser pior do que o primeiro, antes da libertação momentânea que experimentaram. É importante destacar que estas possessões ou opressões de espíritos imundos nem sempre são observáveis ao olho natural, e nem mesmo o daqueles que estão debaixo das mesmas, porque o diabo se transfigura em anjo de luz, e aprisiona a alma, assim como o morcego que anestesia o local da picada para sugar o sangue de sua vítima, sem que ela o perceba. Os espíritos imundos aos quais nosso Senhor se refere podem se transfigurar em anjos de luz, mas são na verdade espíritos das trevas e de horrendas trevas, cheios completamente de toda a maldade, impureza, e de tudo o que é asqueroso para Deus e para o próprio homem que não alinha voluntária e conscientemente ao lado do mal. Todavia mesmo para a alma que assim se posicione... não importa, não poderá se livrar da dominação das trevas, enquanto não permanecer debaixo da dominação de Jesus. Vemos assim, a completa importância da dedicação contínua à prática da oração, da vigilância espiritual, da meditação e prática da Palavra de Deus, na comunhão dos santos, para que sejamos livrados do mal. Esta é uma regra do mundo espiritual que não pode ser alterada por qualquer poder humano ou qualquer outro deste mundo. Se não permanecermos debaixo do poder de Deus, ficaremos à mercê do poder de Satanás. 84 Espírito de Sabedoria e de Revelação no Exercício da Fé Sem o exercício espiritual diário, especialmente da oração, da vigilância, da meditação na Palavra, as graças que temos estão prontas para morrer. Muito deste exercício deve ser incentivado e administrado pelos líderes do rebanho de Cristo, esforçando-se para manterem as ovelhas debaixo do seu cuidado, não somente bem alimentadas com a palavra do evangelho verdadeiro, como também pelo estímulo à consagração constante à prática do amor e às boas obras. Sem isto, não se pode esperar que se tenha um rebanho espiritualmente saudável, em crescimento contínuo, rumo à maturidade em Cristo. Há na Palavra de Deus pontos difíceis de serem entendidos, e diríamos até, impossíveis de serem conhecidos na prática cotidiana, a menos que recebamos iluminação e revelação do Espírito Santo para isto. O apóstolo Tiago, ao discorrer no início da sua epístola, sobre a necessidade da confirmação da fé, especialmente pela paciência nas tribulações, sabia ao mesmo tempo que muitos dos cristãos aos quais estava se dirigindo somente poderiam cumpri-lo caso tivessem a sabedoria necessária para tanto, que sempre 85 será recebida de Deus, caso a busquemos nele, sobretudo pela oração. “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus , que a todos dá liberalmente e não censura, e lhe será dado” (Tg 1.5) Foi com o mesmo objetivo em vista que Paulo havia escrito aos efésios o seguinte: “Ef 1:16 não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, Ef 1:17 para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, Ef 1:18 iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos Ef 1:19 e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder;” A graça que recebemos na conversão deve ser continuamente exercitada para fortalecimento e crescimento. E todo este exercício deve ser realizado na presença de Deus. Se não somos dirigidos pelo Espírito Santo, e se não é ele quem move o nosso coração, senão apenas nossa própria vontade, não poderá ser achado qualquer progresso espiritual efetivo em nós. Todavia, se não desejarmos isto, se não o buscarmos com todo o coração e diligência, não o teremos. 86 Lembremos sempre que é uma grande lei do reino de Deus para nós, pedir, buscar e bater à porta. 87 Nossa Alegria Está em Deus e Não no que Temos O nosso prazer é no Senhor e não propriamente nas aflições, nas angústias, nas necessidades, nas perseguições injustas e tudo o mais a que o apóstolo Paulo cita em II Coríntios 12. É a alegria no Senhor, tanto a que temos nele, quanto a que ele tem por nós, o que nos fortalece, tanto no corpo, quanto na alma e no espírito. Era a isto que Paulo estava se referindo em II Cor 12 e não propriamente ao espinho que tinha na carne, que a propósito era um mensageiro de Satanás, enviado para esbofeteá-lo. E seria sequer sensato imaginar que Paulo tivesse prazer num mensageiro do diabo? O que lhe agradava é que apesar de aquela experiência lhe ser extremamente dolorosa, chegou a reconhecer que aquele seria o único modo de ser preservado do orgulho de ter sido arrebatado ao terceiro céu. E nosso Senhor em Sua sabedoria, lhe concedeu graça não somente para suportar a aflição, como também para conhecer o Seu santo propósito no que estava permitindo que sucedesse ao apóstolo. Com isto veio a afirmar que se gloriava na sua fraqueza, porque era a sua condição de necessitado e totalmente dependente do poder de Jesus, que dava ocasião para aquelas manifestações consoladoras e do poder da graça na sua vida. 88 Daí dizer: “quando sou fraco então é que sou forte”. Uma coisa é resistirmos ao mal pela nossa própria força e capacidade, e outra muito diferente, e melhor e infinitamente superior, fazê-lo pelo poder que Jesus supre. 89 Deus se Agrada do Nosso Sofrimento? Os males são melhor suportados se os sofremos quando nos encontramos em comunhão com o Senhor, ou seja, quando eles nos atingem sem que tenhamos dado causa aos mesmos, por algum pecado específico que tenhamos praticado ou que esteja ligado à nossa natureza, estando oculto aos nossos olhos espirituais. Perdemos o conforto nos nossos sofrimentos, somente quando há culpa neles. E não seria adequado, neste caso, esperarmos consolações da parte de Deus enquanto não confessarmos a nossa culpa e não nos arrependermos com uma fé não fingida. Em todo caso, as aflições dos santos não são juízos de destruição, mas correções ou disciplina provindas ou permitidas por Deus para mortificar o pecado, para implantação das virtudes de Cristo em nós, como o amor, a paciência, a constância etc. Os sofrimentos provam a nossa fé e o grau da nossa confirmação na graça de Jesus. Nunca devemos esquecer a diferença que há entre punição e provação. O fruto da punição é desespero e murmuração; e o da provação é paciência, experiência e esperança cristã, ou seja, o fruto que é segundo a capacitação da graça de Jesus. Por isto se vê que ausência de aflições na vida não é necessariamente um sinal de se estar sendo abençoado por Deus, assim como por 90 outro lado, estar atribulado não é uma evidência do Seu desagrado. Como se lê em Isaías 53 foi do agrado de Deus que Jesus sofresse em nosso lugar na cruz. Isto não significa que o sofrimento em si mesmo de seu amado Filho Unigênito, que ele receberia da sua própria mão paterna fosse algo que lhe tivesse dado prazer e alegria, mas que, por aquele meio a Sua justiça seria satisfeita, sua santidade vindicada e o Seu eterno propósito de ter muitos filhos semelhantes a Cristo poderia enfim, ser cumprido. Foi isto que foi do seu agrado. De igual modo, quando sofremos, Deus se agrada pelos bons resultados que daí advirão, especialmente aqueles que se relacionam à sua vontade, mas ele se compadece de nós e nos consola, fortifica, fundamenta e confirma, para a nossa própria alegria e a dele, quando o fruto precioso da santidade for achado em nós. 91 Não Há Serviço Aceitável Sem Consagração Marque isto: “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra.” (2Tim 2.21) Somos purificados, santificados pelo Senhor, nem tanto para o nosso próprio aprazimento pessoal, mas para podermos ser usados por ele, para nos dedicarmos a fazer a sua vontade e obra. Para isto é fundamental que se esteja confirmado na Palavra do Senhor, por se obter e manter um coração puro, manso, longânimo, paciente, amoroso, alegre, sóbrio, com domínio próprio, benigno, bondoso, e cheio de fé, segundo o crescimento na graça e no conhecimento íntimo de nosso Senhor Jesus Cristo. Este foi o segredo do sucesso de John Wesley, Moody, Spurgeon, e tantos outros. Eles levaram muito a sério esta questão da santificação de suas vidas, pela Palavra e poder do Espírito Santo, e se consagraram inteiramente a Deus. E isto nunca mudou através dos séculos, e jamais mudará, porque o Senhor é Santo e demanda a santidade de todos os seus filhos. 92 Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela Provação? “Meus irmãos , tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações”. (Tiago 1.2) Passardes - (do verbo grego peripésete, 2ª pessoa do plural (vós) do 2º aoristo ativo do modo subjuntivo de Peripitw, que significa cair no meio de; ficar cercado de; dar em ou ir ter a um lugar acidentalmente; encontrar-se em. Temos então para o texto: “que vós passásseis ou que vós tivésseis passado”). Não teríamos então no texto uma exortação à busca de novas provações, mas ter por motivo de alegria o ter passado por várias delas que contribuirão para o amadurecimento espiritual. Certamente isto não exclui as que ainda poderão vir, e que certamente virão, mas tornamos a afirmar que não temos aqui um estímulo para que se busque provações ou tentações, até mesmo porque nosso Senhor nos ensina a orar ao Pai, para que não nos deixe cair nelas, ou seja, ser conduzidos a elas. Várias – (do grego poikílois, que significa, variadas, diversas – a palavra poikílos é feminina no grego, e se encontra no caso locativo plural, conforme indicado pela desinência “ois” – assim temos “em variadas”. Provações – do grego peirasmois, que significa tentações ou provações – a palavra peirasmós é masculina no grego, e se encontra também no 93 caso locativo plural – assim temos “em provações” ou “em tentações”) Como o que está em foco no argumento do apóstolo é a provação da fé, então temos uma melhor tradução com a própria palavra provação, conforme a achamos na versão atualizada da SBB, porque a par de toda tentação ser uma provação, nem toda provação da fé é uma tentação, como, por exemplo, a que Deus submeteu a Abraão em relação a seu filho Isaque, quando lhe pediu que o oferecesse em sacrifício. Deus a ninguém tenta, conforme o próprio Tiago vai afirmar mais adiante nesta sua epístola. Então as tentações são produzidas por outros agentes, especialmente o diabo, e também por nossas próprias cobiças. O apóstolo diz que estas variadas provações são para motivo de alegria, não que sejam uma fonte de alegria em si mesmas, mas no bom resultado para o qual contribuirão posteriormente, como por exemplo o refinamento e confirmação da nossa fé. Thomas Manton disse com propriedade: “O cristão vive acima do mundo, porque ele não julga de acordo com o mundo. O desprezo do apóstolo Paulo por todos os acidentes deste mundo é decorrente do seu julgamento espiritual a respeito deles: Rom 8.18 “Tenho por certo que as aflições deste mundo presente não 94 podem ser comparadas com a glória a ser revelada em nós”. E ainda: “As aflições para o povo de Deus não somente são uma ocasião para ministrar a paciência, mas muita alegria. O mundo não tem razão para pensar sobre a religião de Cristo de um modo negro e sombrio: como diz o apóstolo, “A fraqueza de Cristo é mais forte que a força dos homens”, 1 Coríntios 1.25, o pior modo da graça é melhor do que o melhor do mundo; “toda a alegria, quando em diversas provações”. Um cristão é uma ave que pode cantar no inverno, bem como na primavera, ele pode viver no fogo como na sarça de Moisés, que ardia, e não ser consumido. O conselho do texto não é um paradoxo, criado apenas para noção e discurso, ou alguma fantasia, mas uma observação, construída em cima de uma experiência comum e conhecida: este é o modo de os crentes se alegrarem por suas provações. Certamente um espírito abatido vive muito abaixo da altura dos privilégios e princípios cristãos. Paulo, em sua pior condição sentiu uma exuberância de alegria: “Estou me regozijando”; e também, em outro lugar ele foi mais longe ainda ao dizer: Rom 5.3: “nos gloriamos nas tribulações” que denota uma maior alegria. 2 Cor 6.10 é o lema de Paulo “contristados, mas sempre alegres”, e este pode ser o lema de todo cristão.” 95 Maravilhosa Experiência Bendito e exaltado seja para sempre nosso Senhor Jesus Cristo que veio para nos revelar a luz do evangelho, tornando-nos participantes dela, ao ter removido de nossos olhos espirituais o véu da ignorância que nos teria impedido para sempre de conhecer e experimentar a sua graça e verdade, caso este véu não tivesse sido removido pelo poder do sangue da Sua cruz, pela operação do Espírito Santo em nossos corações. Quão maravilhoso é conhecer, receber e conceder o perdão que é segundo a sua pessoa, justiça e vontade, e não segundo os nossos critérios, emanados de uma justiça própria falha e imperfeita, que em nada é semelhante à justiça de Deus. Quão bom é experimentar e compartilhar a sua misericórdia e longanimidade para com outros. Quão maravilhoso, conhecer, viver e sermos promotores da sua paz, que não é como a paz que o mundo dá. E acima de tudo sermos participantes e divulgadores da sua verdade e do seu amor. Tudo isto temos pelo seu poder, segundo a palavra do evangelho. 96 Os Escravos da “Liberdade” “2Pe 2:7 e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados 2Pe 2:8 ( porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles ), 2Pe 2:9 é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo, 2Pe 2:10 especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, 2Pe 2:11 ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra elas juízo infamante na presença do Senhor.” “2Pe 2:17 Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas; 2Pe 2:18 porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro, 2Pe 2:19 prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor. 97 2Pe 2:20 Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. 2Pe 2:21 Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. 2Pe 2:22 Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.” São por demais vigorosas e contundentes estas palavras proferidas pelo apóstolo Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, contra aqueles que passando-se por cristãos, não se submetem na verdade a qualquer governo do Senhor Jesus, acolhendo com mansidão os Seus mandamentos, para serem praticados com temor e reverência. O que está em foco não são líderes formais, dirigentes de congregações, mas qualquer pessoa que se levante fazendo as vezes de mestre e pastor do rebanho do Senhor, sem que tenha recebido qualquer chamada da parte dEle para tanto, ou até mesmo por não se tratar de um autêntico cristão – alguém que não nasceu de novo do Espírito Santo. 98 As palavras do apóstolo não têm o intuito de incitar um combate contra tais pessoas, mas para que aqueles que amam de fato a Cristo e à Sua vontade, não se deixem influenciar por estes insubordinados, que tentam fascinar os incautos com a promessa de uma falsa liberdade que consiste na rejeição de qualquer tipo de governo espiritual, especialmente o que passa pelas pessoas daqueles que são chamados por Deus para pastorearem o rebanho de Cristo (Atos 20.28). Quando não nos sujeitamos ao governo do Senhor, conforme o dizer do apóstolo, nos tornamos escravos da corrupção (2.19) da nossa natureza terrena pecaminosa, uma vez que não fomos de fato libertados pelo poder de Jesus. Por isso nosso Senhor afirma que os mansos são bem-aventurados, ou seja aqueles que são submissos à Sua Pessoa e Palavra. A estes Ele se revelará e guiará mansa e continuamente ao conhecimento e prática da verdade, na comunhão em amor do Espírito Santo e uns com os outros, sob o temor de Deus. Somente aos que são pela verdade é dado ouvir a voz do Supremo Pastor. As ovelhas de Cristo conhecem e ouvem a Sua voz e não seguirão aos estranhos. E estas sabem que “é na paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.” (Tg 3.18) “Atos 20:28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu 99 bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Atos 20:29 Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. Atos 20:30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Atos 20:31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um. Atos 20:32 Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados.” 100 Depois da Morte Há o Juízo Se não houvesse um juízo condenatório iminente e eterno pairando sobre as nossas cabeças, o evangelho talvez não fosse considerado por muitos como sendo uma boa nova de grande alegria. Se não houvesse qualquer juízo depois da nossa morte, e se tudo fosse bem conosco, sem qualquer sombra de ameaça de sofrimento, alguns poderiam até mesmo negligenciar o convite de salvação feito pelo evangelho. Mas, mesmo neste caso hipotético considerado, não poderiam estar satisfeitos de modo algum aqueles que sonham com a perfeição moral absoluta, a felicidade plena e a satisfação real do desejo de amar e ser amado eternamente, porque isto pode ser conseguido somente pela fé em Cristo. 101 Não Errando o Alvo Proposto Jesus Cristo não veio a este mundo para morrer no nosso lugar, e continuar intercedendo por nós, e nos concedendo a sua graça, amor e poder, apenas para resolver os nossos problemas cotidianos. Recorrer a Ele somente nas horas de necessidades decorrentes especialmente de enfermidades, perigos de mortes e dificuldades financeiras ou de qualquer outra natureza temporal, não responde ao propósito de Deus ao nos ter dado um Salvador e Senhor. Ele veio para dar vida eterna a mortos espirituais. Veio para nos libertar de nossos pecados e nos tornar participantes da natureza celestial de Deus, que é de santidade. Se não formos socorridos por Ele quanto a isto, não terá sido então de grande proveito para nós, tudo o mais, porque não estaremos vivendo no centro do propósito divino em relação a nós, quanto à nossa união com Jesus Cristo. Se lermos a Bíblia sem preconceitos, especialmente as passagens do Novo Testamento que se referem à pessoa e obra de nosso Senhor Jesus Cristo, poderemos constatar por nós mesmos, o que importa buscarmos antes de tudo o mais. 102 Mat 6:31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Mat 6:32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; Mat 6:33 buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. 103 Algo Para Ser Pensado e Refletido A questão da vida eterna é muitas vezes respondida pelo sentido de alarme de grande perigo que se corre com o estilo de vida assumido. Paradoxalmente, o que aparenta ser uma enorme vantagem para a salvação da alma, para a maior parte da humanidade, que vive de forma honesta e ordeira, pode vir a ser um terrível impedimento para tal propósito, quando se faz da justiça própria o meio para alcançá-lo. Há de se viver de tal forma, mas não colocando nisto a nossa confiança para sermos salvos, porque é aí onde reside o perigo. Por isso Jesus disse que meretrizes e ladrões precediam os escribas e fariseus no reino de Deus, porque haviam crido no evangelho; enquanto eles não se arrependeram e nem creram quando ouviram a pregação da verdade. (Mateus 21.31,32) O que Jesus quis ensinar é que o modo de vida pecaminoso das meretrizes e dos ladrões era uma evidência marcante para eles, da necessidade de arrependimento e conversão. 104 Por isso se achavam, potencialmente, em relação aos escribas e fariseus, em melhores condições de entrarem no reino de Deus. Eis então denunciado pelo Senhor o grande perigo da justiça própria e da acomodação ao estilo de vida que é aparentemente justo, mas que não possui a única Justiça que pode satisfazer à exigência de Deus, que passa pela nossa conversão a Cristo. 105 Cada Um Levará Seu Próprio Fardo Seria de se supor que no grande dia do juízo final de Deus, que aqueles judeus aos quais Jesus se referiu chorando, que muitas vezes havia tentado abrigá-los debaixo de suas asas com a sua paz, mas eles lho haviam rejeitado... que exigissem agora, neste dia terrível, uma espécie de retratação ou justificativa da parte do Senhor, pelo fato de não ter impedido que eles fossem condenados eternamente? Poder-se-ia atribuir falta de bondade da parte de Jesus para com eles? De falta de desejo de livrar-lhes da condenação eterna? De igual modo, ninguém poderá apresentar diante de Deus argumentos que sejam válidos, contra a falta de boa vontade da parte dos Seus servos para com eles, neste mundo, uma vez que eles próprios fizeram a opção por uma vida atormentada, e não por uma vida de paz. Em suas próprias famílias, rejeitaram a companhia dos justos, e escolheram a companhia dos ímpios. Rejeitaram o caminho de justiça, e andaram nos vales da iniquidade. O justo seria então culpado por terem desejado o modo de vida injusto? Deus o proíba! E a justiça do céu se levanta contra este horrendo pensamento. Por isso se afirma na Palavra da verdade: 106 “Rom 14:10 Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Rom 14:11 Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Rom 14:12 Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.” 107 Por que é Difícil a Entrada dos Ricos no Reino de Deus? “Lucas 18:24 E Jesus, vendo-o assim triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Lucas 18:25 Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” Nosso Senhor Jesus Cristo se referiu à riqueza de bens deste mundo como um fator não impeditivo, mas gerador de grande dificuldade para a conversão que garante a entrada dos pecadores no reino de Deus. Percebemos que suas palavras não se referem à dificuldade de permanência dos ricos no reino, mas à própria admissão deles. E por que é difícil para eles tal ingresso, conforme pode ser constatado na experiência real de suas vidas ao longo destes dois mil anos de Cristianismo? Deus não ama aos ricos tanto quanto aos pobres de bens mundanos? Deus fez uma prioridade pelos pobres, de modo a excluir a grande maioria dos ricos? De modo nenhum! O bom senso não o permita! A dificuldade não está em Deus e nem sequer em sua boa vontade para salvar a qualquer que vier a Cristo, mas nos próprios ricos. 108 A conversão requer arrependimento, humildade de espírito, confiança total em Cristo e dependência total de Sua graça salvífica. Reconhecimento da condição de miséria da nossa natureza terrena, que está morta em delitos e em pecados, e que está naturalmente indisposta contra Deus, e em real estado de inimizade contra Ele. Confessar a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida, e suplicar-lhe humildemente que lhe salve da condenação eterna. Entristecer-se pelos pecados e buscar um viver santificado no Espírito Santo para a purificação da consciência e do coração, pela entrega total de si mesmo à prática da justiça e das boas obras. E uma vez convertido pelo Espírito, negar-se a si mesmo, carregar a cruz cotidianamente e dispor-se como uma criança a obedecer fielmente todos os mandamentos de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme se encontram registrados na Bíblia. É nisto tudo, basicamente, que reside a dificuldade dos que são ricos para serem salvos, e nem tanto pelo fato propriamente dito de serem detentores de grandes riquezas. 109 Aptidão para Ver e Apreciar Nenhuma pessoa com deficiência visual ou auditiva está impedida de ter um relacionamento íntimo e pessoal com Cristo. A grande prova patente desta verdade se encontra no fato de haver cristãos portadores destas deficiências ao longo de toda história de dois mil anos da Igreja. Cristo que se manifesta presentemente em espírito, tem suas excelências observadas e adoradas pelo homem que foi criado por Deus para este principal propósito. Por isso pode também ser adorado em espírito pelas pessoas portadoras de deficiências físicas. Assim como um pintor produz os seus quadros para serem admirados, e um músico compõe canções para o mesmo propósito, Deus quer ser conhecido em Jesus Cristo, em todos os Seus maravilhosos atributos. E toda esta pintura e música espiritual podem ser discernidas por qualquer pessoa que creia em Cristo, seja ela portadora ou não de deficiências. Todos desejam ter as suas obras reconhecidas. E com Deus, não há nenhuma diferença quanto ao referido desejo. A propósito, isto existe nEle em muito maior proporção do que em suas criaturas. Ninguém está apto para tal reconhecimento senão apenas a humanidade, e nesta, aqueles que têm suas naturezas renovadas por Cristo. 110 Sendo homens espirituais e não meramente naturais ou carnais. Animais de toda sorte, que não têm o espírito, senão apenas corpo e alma, não estão aptos para reconhecerem tais excelências espirituais. Nem tampouco vegetais e muito menos minerais e toda sorte de seres inanimados. Quando céu e terra passarem e apenas os espíritos entrarem na eternidade afora, ter-se-á cumprido o propósito fixado por Deus antes da fundação do mundo, de ter Sua pessoa e obras, louvadas e adoradas por todos que foram feitos por Ele, espiritualmente, semelhantes a Jesus. 111 Perdão Comprovado Pode perdoar os piores pecados e os maiores pecadores, e dar a estes uma entrada garantida no Seu reino de glória eterna. Provou isto em seu ministério terreno perdoando, e salvando o ladrão na cruz, a prostituta na casa do fariseu Simão, o endemoninhado gadareno, o astuto Zaqueu, o perseguidor Paulo, a mulher adúltera que os judeus queriam apedrejar, e nos faltaria espaço para enumerar todos os grandes pecadores que Jesus salvou perfeitamente e para sempre. Não há portanto, motivo para duvidar da sua fidelidade, amor, poder e perdão. Não há porque não confiar totalmente nEle e adorá-lo e consagrar toda a nossa vida para servi-lo com amor voluntário e fervoroso. Deleitemo-nos no Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e também na sua grande salvação, que nos livrou para todo o sempre da condenação eterna. Entoemos louvores ao Seu grande Nome. 112 Alerta para Permanecer no Amor e na Verdade Desde que Deus criou o primeiro homem, séculos e séculos se passaram. Quão diferentes foram as gerações em sua própria época quanto às artes, à tecnologia; aos processos de produção, etc. Todavia, a necessidade essencial básica do ser humano, perante Deus, tem permanecido inalterada. Muito desta necessidade se refere a afetos, intenções, e ao tipo de caráter que o homem deve possuir. Mais do que capacidade operativa, trabalho, serviços, obras, espera-se o amor ao Senhor, o qual se traduz muito mais nos pontos destacados anteriormente, do que em qualquer outra coisa. Esta verdade está claramente declarada na palavra de repreensão dirigida por Jesus Cristo à Igreja de Éfeso, em Apocalipse 2.4,5. Ele também definiu o amor como sendo o guardar os Seus mandamentos. Note que a grande maioria destes mandamentos pouco tem a ver com ações, e por isso, apesar de terem sido numerosas as obras de Éfeso, Jesus mostrou que eram dignos de repreensão porque falhavam justamente no essencial. Em outra passagem das Escrituras Jesus apontou o valor do viver pela fé, quando disse aos judeus que a obra que se esperava deles era que cressem nEle. 113 E que somente aqueles que permanecessem na Sua Palavra seriam identificados como Seus discípulos. Jesus nos foi enviado pelo Pai para nos ensinar e aplicar em nossas vidas a fé, o arrependimento, a adoração, a oração, o louvor, a paciência, a longanimidade, a alegria, a misericórdia, a paz, o perdão, a justiça, a mansidão, o amor..., coisas estas que têm muito mais a ver com a necessidade da nossa transformação individual, do que com as nossas ações e obras, as quais a par de serem importantes, nenhum valor terão diante de Deus, se não forem acompanhadas por estas virtudes citadas, que são possíveis de serem obtidas somente pela graça, mediante a fé e santificação do Espírito Santo. Obras, conhecimento, política, investigação científica e filosófica, tecnologia, e tudo o mais que se relacione a este mundo e ao plano temporal, e mesmo concílios religiosos, debates apologéticos, processos para crescimento numérico de igrejas, e outros assuntos correlatos, por si só, em nada contribuem para o propósito de formar o homem interior que é segundo o coração de Deus, pois isto só é possível por meio da santificação na verdade, a antiga verdade revelada na Bíblia conforme o próprio Jesus afirmou em João 17.17: “Santificaos na verdade; a tua palavra é a verdade.” Fujamos portanto, da tentação de desprezar a meditação e prática bíblica em prol de contextualizações modernas que nos afastam 114 dos princípios e mandamentos imutáveis da Palavra de Deus, a bem de nossas próprias almas. Examinemos tudo e retenhamos o que é bom, porque afinal somente uma coisa é necessária, e de nada aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e por fim perder a sua alma. “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.” (Hebreus 2.1) 115 Loucos que São Amados “Ele é maluco!” “Pobrezinho!” “Não tem jeito para ele!” Sua mãe estava grandemente preocupada com ele e pediu a duas pessoas que lhe prometessem que nunca o abandonariam, porque sabia, em razão do modo dele de ser instável emocionalmente, que todos o abandonariam e ele não suportaria ser encontrado em tal condição. Verdade. Ele sofria de complexo de inferioridade e isto era agravado pela sua enorme dificuldade em se relacionar com outras pessoas e sustentar, por pequeno tempo que fosse, algum tipo de assunto. Ele sofria com isto mas se sentia incapaz e inabilitado. Todos os seus esforços para melhorar davam em nada. Até que um dia, Deus teve misericórdia dele e o salvou por meio da fé em Jesus Cristo. Desde então passou a se gloriar somente no Senhor Jesus e na sua cruz, porque sabia que ninguém mais poderia amá-lo e aceitá-lo, sendo a pessoa tão complicada que ele era. Assim como ele, há vários contingentes de pessoas em igual estado às quais Jesus tem amado incondicionalmente. Se compadece deles porque são enfermos sociais. Foram mal nascidos. Mal orientados. 116 Sofreram os mais diversos tipos de traumas na infância, e muitas vezes, desde o ventre. Mas não são pobres coitados. Quem disse: “Pobrezinho!” estava errado. Como poderia ser pobre tendo sido feito filho do Rei e Deus de todo o universo? Que lhe perdoou todos os seus pecados e o isentou de toda culpa. Que o recebeu em seus braços e que lhe tem ajudado a conviver consigo mesmo apesar de tudo o que pensam a seu respeito. 117 Como se Detecta o Espírito? Tudo o que pertence ao reino natural pode ser desvendado e detectado pelo homem. Mesmo as coisas invisíveis do citado reino, como as ondas eletromagnéticas, os gases, as células, os átomos. Mas não lhe é dado desvendar o reino espiritual por processos naturais. Já se ouviu falar em detector de espíritos? O espírito pertence a uma outra dimensão que não é pertencente ao universo material e físico. Espírito não ocupa espaço e não está sujeito ao tempo. Lembram que havia centenas de demônios habitando a um só tempo no corpo do endemoninhado gadareno? Assim, há somente um meio de se discernir os espíritos. E este meio é o próprio espírito, porque aqueles que têm a habitação do Espírito Santo podem manter comunhão espiritual com outros que tenham também o Espírito. Podem perceber também a presença de espíritos malignos opressores tentando lhes furtar a referida comunhão. Deus é puro espírito. Não possui corpo físico. Não tem olhos e nem ouvidos de carne, mas tudo vê e tudo sabe. Ele é o espírito de onde todos os demais procedem. 118 Somente na comunhão com ele os espíritos criados podem ter vida plena e possuírem as faculdades que pertencem ao espírito divino. Por conseguinte, fora da união com ele os espíritos são cegos quanto às realidades espirituais celestiais porque estão em profundas trevas que são definidas pela expressão morte espiritual; pois lhes falta esta capacidade de discernimento do reino espiritual divino e celestial. CONCLUSÃO: PERGUNTA: Quando o mundo espiritual será desvendado pela ciência natural? RESPOSTA: Nunca. É impossível, conforme foi demonstrado. 119 O Que é Não Negar o Senhor? O testemunho do evangelho é a fé irrestrita no Cristo crucificado e ressuscitado para a nossa justificação. Jesus é a Pedra de Esquina do edifício espiritual que Deus está erigindo com pedras vivas (os que creem), pelo poder do Espírito Santo. O que fica aquém disso é negar o Nome do Senhor e a Sua Palavra. Dizer que cremos na Bíblia, que cremos em Deus, e no final das contas afirmarmos que temos dúvidas quanto ao fato de que Jesus seja o único e suficiente Salvador, nos leva a errar totalmente o alvo quanto ao fundamento da nossa salvação que foi colocado por Deus Pai inteiramente ao cuidado do Seu Filho Unigênito. A eleição se confirma não por mero procedimento religioso, mas por nossa ligação real ao Salvador. Sem Cristo não há reconciliação com Deus. Não há perdão de pecados. Não há o recebimento do Espírito Santo como um dom de Deus a nós. Não afirmar em nosso testemunho de modo aberto e com todas as letras que Jesus é o Senhor e o Salvador, e o Único Mediador entre nós e Deus, equivale a nos envergonharmos do Seu nome. Por isso Ele mesmo diz na Bíblia: Mateus 10:32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o 120 confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; Mateus 10:33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. Marcos 8:38 Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos. Apo 3:8 Conheço as tuas obras—eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar—que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome. Apo 3:9 Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei. Apo 3:10 Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. 121 A Fé é uma Caminhada Constante Dizer simplesmente que se crê ou não em Deus não é algo muito significativo. Somente crer que Deus existe e não conhecê-lo, em nada muda a minha condição perante ele, e esta é igual às do que afirmam não crerem nele. Por que isto? A fé que salva não é mera crença intelectual mas o poderoso dom de Deus que nos converte a ele de todo o nosso coração, e que nos conduz ao seu conhecimento e ao desejo de viver para fazer a sua vontade conforme está revelada na Bíblia. Sem esta fé salvadora é impossível ter prazer nas coisas divinas, porque elas combatem as paixões da nossa alma e nos conduzem ao processo da santificação operada pelo Espírito Santo. Por outro lado, a expressão “crer em Deus” ou “crer em Jesus Cristo” foi banalizada e restringida em seu significado, podendo ser aplicada a vários usos generalizados de culto e de adoração. De modo que uma fórmula mais específica seria a da confissão: “creio no Deus e Jesus da Bíblia”. A fé no Deus da Bíblia demanda inclusivamente a fé em Cristo, porque ele afirma na mesma Bíblia que: João 5:22 E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento, 122 João 5:23 a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. João 14:6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Concluímos assim que a genuína fé em Deus e em Cristo consiste em caminhar pelo único Caminho que conduz à vida eterna, que é o próprio Cristo, e saberemos que estamos no Caminho quando virmos sendo aplicadas pelo Espírito Santo às nossas vidas o procedimento santo que está revelado nas Escrituras. 123 Como Todo o Israel Será Salvo? “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades.” (Rom 11.26) Esta declaração do apóstolo Paulo deve ser entendida não apenas em seu contexto imediato, como também, à luz de textos como os seguintes: Gál 6.16 E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus. Rom 9.6: E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; Rom 9.7 nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Rom 9.8 Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa. De fato, somente na volta de Jesus que será completado o número dos que foram salvos, e que ocorrerá portanto, o seu triunfo final sobre o pecado do Israel de Deus, designado em Rom 11.26 como sendo Jacó, porque foi ele que teve o 124 seu nome mudado para Israel, que significa Príncipe de Deus. Há assim uma nação eleita além daquela que foi eleita na descendência natural de Jacó. E esta é o Israel formado pela Igreja invisível de Cristo, composta por todos os que foram lavados e remidos no Seu sangue. Charles Haddon Spurgeon foi muito feliz ao ter discorrido sobre este tema, comparando a salvação do Israel espiritual, com o de descendência natural nos dias de Moisés, no seguinte texto que escreveu: Todo o Israel será salvo - Rom 11:26 Quando Moisés cantou no Mar Vermelho, foi de alegria por saber que todo o Israel estava a salvo. Nenhuma gota respingou daquela muralha até que o último filho de Israel tivesse colocado o pé em segurança do outro lado do mar. Isso feito, imediatamente as águas se derramaram novamente sobre seu leito, mas não até então. Uma parte daquela canção dizia: "Com a tua beneficência guiaste o povo que salvaste". Quando, pela última vez, os eleitos entoarem a canção de Moisés, o servo de Deus e do Cordeiro, a glória de Jesus será: "Não perdi nenhum dos que me deste." No céu, não haverá trono vazio. Pois toda a nação escolhida Se reunirá ao redor do trono 125 Bendirá a ação da Sua graça E tornará Sua glória conhecida. Todo aquele a quem Deus escolheu, todo aquele a quem Cristo redimiu, todo aquele a quem o Espírito chamou, todo aquele que crê em Jesus, irá cruzar em segurança o mar dividido. No entanto, não teremos todos chegado a salvo em terra firme enquanto Parte da multidão tiver cruzado as águas E parte ainda estiver cruzando. A vanguarda do exército já alcançou a costa. Nós, porém, ainda marchamos pelas profundezas; estamos seguindo firmemente o nosso Líder no meio do mar. Tenhamos bom ânimo: a retaguarda em breve estará onde a vanguarda já está; o último dos escolhidos logo terá atravessado o mar, e então será ouvida a canção de triunfo, quando todos estiverem seguros. Oh, mas se faltasse alguém - oh! se uma única pessoa da família escolhida naufragasse haveria eterna dissonância no cântico dos redimidos, e as cordas das harpas do paraíso se romperiam de tal forma que nunca mais poderiam emitir qualquer som. 126 O Valor Precioso da Promessa Agrada tanto a Deus que se dê crédito à sua palavra, que todas as suas bênçãos para nós são alcançadas por crermos em suas promessas. A promessa é portanto o meio pelo qual o impossível se torna possível para nós, e o que é passageiro se transforma em eterno. A promessa de Deus é como um gancho de amor que nos eleva à eternidade. É como um homem que é alçado para colocar o pé sobre o sol e ali ficar sem ser queimado. Mas não é sobre o sol que Deus prometeu colocar os nossos pés, mas no céu de glória, na sua morada eterna. Creiamos portanto nas promessas e não apenas alegraremos o coração de Deus, como também faremos um grande bem às nossas almas. 127 A Espiritualidade Provada na Materialidade O conceito de espiritualidade não é antagônico ao de materialidade. Ao contrário, Deus, em sua sabedoria, nos dotou de um corpo físico e de todo um aparato material destinado à nossa sobrevivência, justamente com o fim de nos provar em nossa espiritualidade. É pelo modo de usar as coisas materiais que comprovamos o quanto somos conduzidos pela carne, ou pelo espírito. Um viver espiritual chama à generosidade, à pureza, à sobriedade, ao amor, à moderação, e à rejeição de tudo o que se refira ao abuso de todas as coisas que Deus dispôs na criação para o nosso aprazimento. Além disso, nos chama a priorizarmos a adoração e o serviço a Deus em relação a tudo o mais, pela renúncia voluntária e prazerosa operada pelo governo do Espírito Santo em nossos corações. Quem é espiritual não ama a fama, a cobiça, o dinheiro, porque está plenamente satisfeito em Deus, em toda e qualquer circunstância. Deus é o todo da sua vida, e tudo faz para a sua exclusiva glória. Em todas as coisas procura ter uma boa consciência para com Deus e para com todos os homens, segundo os preceitos contidos nas Sagradas Escrituras. 128 Criado para Ser Espiritual e não Carnal Está declarada de modo muito claro e direto na Bíblia, desde o seu primeiro livro de Gênesis, a verdade relativa à condição natural de todo ser humano de se inclinar para a sua natureza terrena carnal pecaminosa, e por ela ser dirigido, em vez de se inclinar para a natureza celestial e espiritual divina, para a qual fora criado, para viver por meio dela eternamente. O próprio Deus expôs esta verdade no motivo declarado do dilúvio que traria sobre toda a Terra: “Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis 6.3) Veja a comprovação desta verdade, porque no meio de toda uma geração que se inclinava e se movia apenas pelo que era carnal, somente um homem (Noé) havia se voltado para Deus, pela fé, e obtido pela justificação, a coparticipação da natureza divina, pela qual recebeu o testemunho de ser homem justo, temente a Deus e que se desviava do mal. Viver na carne, segundo a lição que nos foi deixada no dilúvio, opera a morte e a destruição. E deste viver todos compartilham, em razão da natureza que possuímos, até que sejamos libertados e justificados pela fé em Cristo, para 129 recebermos uma nova natureza, na qual se cumpre o propósito eterno de Deus na nossa criação. Afinal, Deus é espírito, e importa que também o sejamos para termos comunhão com Ele e participação da sua vida divina. 130 Por Que se Alegrar em Deus se um Dia Vamos Morrer? Este é o pensamento de quem anda sem esperança neste mundo. Mas todo o que tem a esperança cristã da vida eterna, terá justamente na morte a abertura da porta de entrada para a plenitude da alegria perfeita, sem choro e dor, que jamais terminará. Temos portanto um grande motivo para nos alegrarmos em Deus e vivermos para fazer a sua vontade, porque sabemos que ele é inteiramente fiel em cumprir tudo o que nos tem prometido. Ele nos fez a promessa da vida eterna, assim como prometeu nos salvar em Cristo, nos dando um novo coração já a partir deste mundo. Porventura não somos tão diferentes do que éramos antes de nos convertermos a Cristo? Foi ele que plantou não somente a esperança da eternidade no nosso coração, como a certeza da nossa completa transformação à sua semelhança, porque afinal, ele fez habitar em nós o Espírito Santo como o penhor da vida perfeita que teremos no céu. Se nos tem abençoado no aqui e agora, certamente também o fará no porvir. 131 Não Adorando e Servindo Coisas Vãs As quais não podem gerar em nós a vida eterna do céu. Tais como: o discurso da mera moralidade em favor dos bons costumes como se fosse a mesma a mensagem central do evangelho; uma falsa piedade baseada em práticas ascéticas; filosofias humanistas e tudo o mais que não esteja centrado no Cristo crucificado. “Apo 3:8 Conheço as tuas obras—eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar—que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.” “Apo 3:10 Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.” A nenhum outro grupo foi confiada e afiançada por Deus a palavra do evangelho, senão somente aos apóstolos do Senhor Jesus Cristo. Por isso são reputados como sendo o fundamento da sua Igreja, ou seja, o alicerce sobre o qual o edifício da Igreja está sendo erigido com o cimento do amor do Espírito Santo, e com as pedras vivas deste edifício que 132 são os cristãos que foram lavados e remidos no sangue de Jesus. Comprova-se portanto o amor ao Senhor Jesus pela honra dada ao seu nome, por não negá-lo, e isto se faz mediante o cumprimento da sua Palavra revelada na Bíblia, especialmente no Novo Testamento. Mormente por nos guardarmos daquelas coisas que são condenadas por ela, e por praticarmos as que são aprovadas e ordenadas. Entre as ordenanças principais do evangelho de Cristo se encontra a clara exposição da necessidade de justificação pela graça, mediante a fé; e a regeneração e santificação que são operadas pelo poder do Espírito Santo. Esta é a primeira e principal boa obra a que todos os cristãos devem se dedicar. “João 6:28 Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? João 6:29 Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.” Se alguém se levanta em nome de Jesus e diz estar pregando o evangelho, e no entanto, omite estas coisas essenciais, na verdade não estão pregando evangelho algum. Jesus enfatiza a necessidade da autonegação, pelo carregar diário da cruz, para que possamos segui-lo e sermos de fato seus discípulos. 133 Sem isto, toda a suposta religiosidade que tivermos, será vã, e não será portanto alvo do seu elogio e recompensa, conforme o expressou nas palavras que dirigiu à Igreja fiel de Filadélfia, que destacamos em nosso texto. 134 O Fundamento e a Coluna da Verdade Jesus é a pedra angular do edifício da Igreja. A pedra principal que sustenta toda a edificação. Os apóstolos e os profetas são o fundamento, o alicerce, tanto da Igreja quanto da verdade. Eles foram capacitados de modo especial por Deus para transmitirem e defenderem a verdade no início da Igreja. E somente o ensino deles conforme o temos na Bíblia é o fundamento da Igreja verdadeira, em todas as épocas. Daí nosso Senhor ter mudado o nome de Cefas (caniço no hebraico) para Pedro (Petros no grego que significa pedra). Ele pensava no fundamento ao lhe dar este nome, porque não se faz um alicerce com caniços. Todavia, não somente Pedro é o fundamento, como também todos os demais apóstolos e profetas. Não se falou em sucessão apostólica, até mesmo porque o fundamento já foi colocado de uma vez para sempre pelos apóstolos do Senhor. Tendo eles morrido, foi concluído o alicerce sobre o qual estão sendo erigidas as colunas da Igreja e da verdade, a saber, todos os demais cristãos, tanto os dos dias dos apóstolos, como os das demais épocas. Quando nosso Senhor deu a Cefas o nome de Petros ele pensava apenas no fundamento e não em chefia geral da Igreja, tanto que nos dias do próprio Pedro, coube ao apóstolo Paulo e não a ele, supervisionar o maior segmento da Igreja, a saber, os gentios, enquanto Pedro era 135 encarregado para supervisionar a Igreja da circuncisão, a saber, os judeus. Cabe destacar que o líder da Igreja de Jerusalém não foi sequer Pedro, mas Tiago, um dos irmãos segundo a carne do Senhor Jesus, que juntamente com Judas, eram também filhos de Maria e de José. Vejamos alguns dos textos bíblicos nos quais respaldamos nossas afirmações: Mat 21:42 Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Mat 21:43 Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. Mat 21:44 Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. Efs 2:20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; Efs 2:21 no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, Efs 2:22 no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito. 136 Mat 16:18 Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 1Tm 3:15 para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade. 1Co 3:9 Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós. 1Co 3:10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. 1Co 3:11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. 1Co 3:12 Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 1Co 3:13 manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. 1Co 3:14 Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; 1Co 3:15 se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo. 137 Gál 2:7 antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me fora confiado, como a Pedro o da circuncisão Gál 2:8 ( pois aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão também operou eficazmente em mim para com os gentios ) Gál 2:9 e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão; 1Pe 2:4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, 1Pe 2:5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. 1Pe 2:6 Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. 1Pe 2:7 Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular 1Pe 2:8 e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo 138 desobedientes, para o que também foram postos. 1Pe 2:9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 139 Aprende-se a Amar por Osmose A essencialidade da nossa comunhão com Deus é demandada pela necessidade de sermos transformados à sua imagem amorosa e benigna. Não podemos aprender a viver o amor, ganhando todas as suas características de paciência, longanimidade, misericórdia, fé, santidade, pureza, perseverança, alegria na justiça e na verdade, e outras virtudes que o compõem, conforme alinhadas na Bíblia, sem que estejamos intimamente ligados à sua fonte, que é o próprio Deus, porque Ele é amor em sua natureza e essência. Juntemos algo a um corpo aquecido, e este algo também ficará aquecido. Mergulhemos na vida espiritual de Deus, e a sua vida nos será comunicada, como que por osmose. Não podemos, portanto, aprender a viver no amor, a menos que estejamos em comunhão com a fonte do amor. Assim, vivemos porque o Senhor vive. Amamos porque Ele ama. E nenhum de seus filhos pode permanecer experimentando a vida eterna e o amor, caso esteja desligado da Videira Verdadeira de onde tudo isto procede. Enquanto permanecemos nele, ele permanece em nós, e nos comunica os frutos espirituais abençoados desta união. 140 “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6:46) Inegavelmente, é impossível contemplar a Jesus Cristo e ver os seus ensinamentos e obras, conforme registrados na Bíblia ou então expostos no poder do Espírito Santo pelos seus servos, e não ficarmos impressionados ou então não o admirarmos em sua majestade e beleza. Todavia, somente admirá-lo e elogiá-lo não nos transforma e melhora como pessoas, quanto a atendermos aos propósitos de Deus na nossa criação, para que fôssemos semelhantes a ele. Jesus veio a este mundo para destruir as obras do diabo e nos libertar dos nossos pecados, pela nossa conversão a ele, e isto se comprova por uma obediência real, de coração, aos seus mandamentos. Ele afirmou isto de modo muito claro e direto em passagens bíblicas, como as que destacamos em nosso título e nas citações abaixo: Mateus 7:21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Mateus 7:22 Muitos, naquele dia, hão de dizerme: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? João 15:14 Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. 141 “Eles não Sabem o que Fazem” Jesus orou na cruz em favor dos seus próprios algozes. Daqueles que zombavam dele em seus sofrimentos. Ele pediu a Deus Pai que lhes perdoasse porque eram ignorantes da natureza amorosa e santa de Deus, e por isso agiam daquela maneira. Não foi para justificar-lhes os atos e intenções malignas de seus corações, mas para dar cumprimento ao que viera fazer neste mundo, a saber, perdoar pecadores. Jesus se encontra agora entronizado na presença dos anjos, arcanjos, querubins, serafins e dos santos desencarnados, no céu, mas continua ainda apresentando súplicas em favor dos homens culpados, clamando: “Pai, perdoa-lhes”. Este clamor em nosso favor se origina em sua própria natureza que é inteiramente misericordiosa e longânima. Graças ao Senhor pelo seu grande amor! 142 O Conselheiro Ineficaz para o Propósito de Deus O humanismo pode conduzir seus adeptos a ações otimistas e que se destinam a promover autoestima. Mas quando pastores pregam o humanismo em vez da mensagem do evangelho da cruz, eles estão totalmente distanciados do seu ofício, porque não se promove a salvação e a santificação de almas com a mensagem do humanismo, ainda que não sejam adeptos integrais da filosofia humanista, que teve origem no século XVI, que coloca o homem como centro de todas as coisas, e que nega ser Deus este centro. Consideremos sobretudo que a psicologia humanista que começou em meados do século XX tem como pressuposto básico o potencial humano para a autorrealização, e tem influenciado enormemente com o citado conceito quase todos os segmentos da sociedade, especialmente a do mundo Ocidental. Ora, quando colocamos de lado a centralidade em Cristo para a salvação e para a nossa realização pessoal, sobretudo a espiritual, como poderemos atingir o supremo alvo do Evangelho? Dizer simplesmente às pessoas que elas devem se esforçar como atletas, e que devem perseverar para atingirem suas metas e seus sonhos, independentemente de exortá-las a 143 buscarem respostas em Deus e o auxílio da sua graça, que proveito real para os interesses do Reino de Cristo estará sendo promovido com isto? Afinal, quais são as metas, os sonhos dos que são assim aconselhados? Eles estariam buscando fazer o que é reto perante o Senhor? Ou seus alvos são interesseiros e egoístas? Enfim, poderíamos estar contribuindo assim, para corroborar um comportamento desaprovado por Deus com nossas palavras de incentivo. Concluímos portanto que simples palavras de estímulo não configuram necessariamente uma ajuda eficaz e aprovada para aqueles aos quais são dirigidas. 144 É Preciso Mais do Que Boas Intenções Apenas formular intenções para praticar o que for bom e aprovado por Deus não é o suficiente para atingir o alvo pretendido, e demonstraremos a razão disto a seguir. Se não estivermos cheios do Espírito Santo, e por conseguinte, se não formos dirigidos por ele, o pecado que opera na carne (nossa velha natureza) sempre prevalecerá, independentemente de nossas melhores intenções e esforços. Isso sucede porque após a conversão passamos a ser um campo de batalha no qual sempre estarão em conflito duas naturezas, e sempre sairá vencedora aquela para a qual fizermos provisão. Se para o Espírito, prevalece a nova que é celestial, divina e sem defeito, e que é o único poder capaz de sobrepujar a lei do pecado que opera na carne. Se para a natureza terrena, o que prevalecerá será o pecado. A conversão a Cristo não dá nova vida apenas ao espírito, como também à nossa mente, que entram automaticamente num processo de renovação progressiva, em aumento em graus, à medida que nos consagramos ao Senhor e à Sua vontade. A habitação do Espírito Santo no cristão é o que configura o que o apóstolo Paulo chama de homem interior (Rom 7.22). Em outras 145 passagens bíblicas é também designado por novo homem, nova criatura ou nova natureza. É somente esta nova natureza celestial e divina, que recebemos na conversão, que tem prazer na comunhão com Deus e na sua Lei. Para tanto, necessitamos ser exercitados continuamente nos deveres espirituais estabelecidos pelo Senhor na Sua Palavra (oração, vigilância, boas obras etc), de modo que a nova natureza prevaleça sobre a antiga, produzindo em nós um viver realmente piedoso, em atitude permanente de culto e adoração a Deus. Então temos aqui o cristão com sua mente e espírito, inclinando-se para Deus e para a sua Lei, enquanto a velha natureza que ainda nele remanesce, procura oportunidade continuamente de puxá-lo para fora desta comunhão e deste deleite espiritual. E geralmente o faz pela via do despertar de desejos e paixões que são em sua natureza contrários a tudo o que há em Deus, os quais devem ser continuamente mortificados, por nos sujeitarmos ao poder do Espírito Santo e pela fuga das fontes de tentação. Se somos novas criaturas, as coisas do velho homem, juntamente com o pecado que está a ele associado, passam a ser moradores intrusos que já receberam a sentença de morte na cruz, quando morremos juntamente com Cristo, e dos quais devemos portanto nos despojar continuamente. 146 Por isso o apóstolo Paulo identifica o pecado que em nós opera como sendo um agente estranho, um inimigo que deve ser derrotado pelo poder do Espírito, a ponto de dizer “...não sou eu, mas o pecado que habita em mim” (Rom 7.17). Esta verdade se comprova de modo prático em nosso viver diário quando, não raro, somos impulsionados a desejar e a fazer coisas que a nossa mente rejeita e reprova e que constrangem o nosso espírito renovado. Quem, senão o intruso chamado pecado é o autor disto, procurando retornar ao domínio total que tinha sobre nós antes da nossa conversão? Não o desejamos de falto. Não o aprovamos. Não consideramos que seja correto. Isto prova o quanto o repelimos em nosso homem interior (nova natureza). Então se sou vencido, não foi porque desejasse de fato ser derrotado e desapontar a Deus, mas porque não se vence o pecado com deliberações do velho homem, mas somente com o poder do Espírito Santo, quando buscamos a Deus, e clamamos a ele por socorro, para que não nos deixe cair na tentação e para que nos livre do mal. O apóstolo vê esta condição como sendo a competição de duas leis, que lutam entre si para obter o domínio total dos nossos pensamentos, desejos e ações, a saber, a do pecado, e a lei do Espírito Santo que opera. Especialmente, na nova natureza, no homem interior. 147 Temos então, como cristãos, uma mente que ama a Deus e os seus mandamentos, mas, como demonstrado, isto não é suficiente para nos dar um viver espiritual vitorioso. Como vimos, necessitamos do poder do Espírito Santo operando em nossa nova natureza, e o teremos somente quando o buscarmos, na prática de uma vida piedosa, conforme revelada na Bíblia. 148 Não Há Amor a Deus Sem Obediência A verdade relativa ao que Deus é em pessoa, e o que Ele opera na humanidade, não é boa e agradável somente ao próprio Deus como também a nós. Na realidade, não podemos estar em comunhão amorosa com Deus sem estarmos santificados na citada verdade, à qual Jesus se referiu em sua oração em favor daqueles que nele cressem, pedindo ao Pai que lhes santificasse na verdade da Sua Palavra divina (João 17.17). Por isso Ele define o amor não como mero sentimento, mas sobretudo como prática dos seus mandamentos (João 14.15,21; 15.10), conforme se encontram registrados na Bíblia, porque são eles, e somente eles, que definem a natureza celestial que nos convém obter, e o padrão de comportamento que dela decorre. Antes de conhecer ao Senhor Jesus Cristo, pelas Escrituras Sagradas, eu cria e havia criado um Jesus a quem eu pensava amar, apesar de agir contrariamente a tudo o que Ele nos tem ordenado. Hoje, eu sei que estava enganado, porque Ele é o mesmo para todos os que nele creem do modo pelo qual convém crermos, e que somente podemos chegar a este conhecimento por meio da conversão, pelo arrependimento e pela fé nEle, e segundo a instrução que recebemos do Espírito Santo, não somente para conhecermos 149 a sua vontade, como também para ter o poder espiritual necessário para cumpri-la, porque isto é possível somente pela operação da sua graça que nos é concedida. 150 Por Que Deus Simplesmente não Deixa Pra Lá? À maior parte da humanidade soa agradável o pensamento de que Deus não se intrometesse nos assuntos da Terra. Para que julgar o homem ou castigá-lo? Não seria melhor deixar cada um escolher a própria sorte sem atribuir qualquer juízo moral sobre os que andam de modo errado? Não foi Ele mesmo quem criou o homem com livre arbítrio? Seria então importante saber o motivo que o leva a agir como Juiz de todas as pessoas. Todavia, é mister dizer, antes, que Ele não é apenas o vingador do mal, como também é o recompensador do bem. Podemos entender o modo da ação moral de Deus, pelo nosso próprio modo de agir. Porventura não somos inclinados naturalmente a recompensar o bem e a punir o mal? Onde isto sucede de modo oposto é em razão de uma perversão que leva a alguns a agirem contra a própria natureza, feita à imagem e semelhança de Deus. Como o seu sistema de valores é pervertido então se inclinam a aprovar o mal e a reprovar o bem. Afinal, quem gosta de ser roubado, traído, violentado? Mesmo aqueles que se inclinam para a prática do mal, não o aprovam, quando este se volta contra os seus próprios interesses, conforme o 151 padrão de comportamento que citamos no parágrafo anterior. Se nos homens, por conta de sua imperfeição e fraqueza inerentes, não há uma medida perfeita de valores aprovados, no entanto, ela é santa, justa e perfeita na natureza de Deus. E é esta natureza perfeita, especialmente em amor verdade e justiça, que o leva a julgar todos os nossos atos, ações, imaginações, intenções e omissões. Nada escapa ao seu justo juízo divino, de modo que todos teremos que lhe prestar contas naquele Dia do Juízo vindouro, quanto ao bem ou o mal que fizemos enquanto neste mundo. Agora, sendo também parte da Sua natureza, a misericórdia e a longanimidade, Ele perdoa a todo aquele que se arrepende e busca vencer o mal pela prática do bem. Ele nos criou para o propósito de vivermos para sempre em perfeita harmonia e unidade em amor com Ele e com todos os demais seres morais que vivem de acordo com o padrão de valores da sua natureza divina. Este propósito não poderá ser desfeito por nenhum poder contrário que se lhe oponha. Daí a razão de sujeitar a um juízo de separação eterna desta comunhão, a todos os que buscarem viver de modo contrário ao propósito para o qual foram criados. 152 Um Ganho que é Uma Grande Perda Se alguém indagasse a um pastor fiel ao seu ofício de anunciar a Cristo, se não seria melhor apresentar uma doutrina mais ajustada ao gosto das pessoas, de maneira a ter congregações mais concorridas, certamente ele responderia com sabedoria: “Está correto. Fazendo isto teríamos as igrejas sempre lotadas de pessoas, mas, a grande questão é a seguinte: Não estaríamos com isto fundando mais uma congregação da grande Igreja Laodiceia, que será a Igreja predominante nos últimos dias?” Vale a pena ler as palavras que nosso Senhor Jesus Cristo dirigiu aos cristãos da referida Igreja: “Apo 3:14 Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Apo 3:15 Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Apo 3:16 Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; Apo 3:17 pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Apo 3:18 Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que 153 não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. Apo 3:19 Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” 154 Salvo Pela Perfeita Obediência de Jesus “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” (Romanos 5.19) Deus sujeitou toda a humanidade à condenação por causa da transgressão de Adão. A Bíblia diz que todos foram encerrados debaixo do pecado por causa da transgressão de Adão. A morte entrou no mundo por causa do pecado de Adão, porque Deus lhe disse que caso comesse do fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele morreria, e com ele, toda a sua descendência. E esta morte ocorreu simultaneamente ao ato da desobediência. A morte do espírito, que ficou separado da comunhão com Deus. Assim, debaixo da cabeça desobediente que é Adão todos morrem, mas os que estiverem debaixo da cabeça obediente e justa de Cristo viverão eternamente. Pela ofensa de Adão à justiça de Deus todos morreram, mas por meio da graça de Jesus muitos são justificados para a vida eterna no espírito, porque os efeitos do dom da graça foram concedidos por Deus de maneira muito mais abundante do que a sentença de morte por causa da transgressão de Adão. Porque a condenação veio por causa de uma só ofensa, a saber, a de Adão no Éden. 155 Mas a justificação é imputada individualmente a cada pessoa que se converte, perdoando-lhe todas as suas muitas ofensas, como Paulo afirma em Rom 5.15,16. De maneira que quando somos perdoados por Deus o que está sendo perdoado não é o pecado que Adão cometeu no Éden, mas os nossos próprios pecados. Então se a morte reinou por causa da ofensa de um só homem, a saber, Adão, Deus proveu um meio para que a graça e o dom da justiça seja muito mais abundante, porque por meio de Cristo está perdoando muitas transgressões de muitos pecadores, como se lê em Rom 5.17. Mas a base da justificação está relacionada a uma só ofensa, a saber, a de Adão no Éden; e a um só ato de justiça, a saber, Cristo guardando toda a Lei e morrendo por nós na cruz. E especificamente este um só ato de justiça significa que a justificação é atribuída de uma única vez para sempre; do mesmo modo que a imputação do pecado e da morte que lhe é consequente, foram imputados de uma vez para sempre desde a transgressão de Adão. Então se a desobediência de Adão fez com que todos se tornassem pecadores, e estes não são poucos, porque são muitos, uma vez que diz respeito a toda a humanidade, de igual modo, a obediência de Jesus é a causa da justificação de muitos, a saber de todos os que estão unidos a Ele pela fé (Rom 5.19). 156 Então na justificação há uma diferença em relação à condenação quanto ao modo de imputação, porque se todos os homens são herdeiros de Adão, e estão ligados a Ele por descendência, nem todos estão ligados a Cristo, porque a união com Cristo não é natural, mas espiritual, e demanda a necessidade de conversão para que possamos nos tornar coherdeiros com Ele. Daí ser ordenado por Deus que se pregue o evangelho a todos, de modo que tenham a oportunidade de alcançarem a vida eterna que está em Cristo Jesus. Um dos propósitos da lei foi para que a ofensa ficasse bem patente aos olhos dos pecadores; revelando que há abundância de pecado no mundo. Mas pelo Seu plano de salvação Deus tem feito com que a graça seja mais abundante que este pecado abundante, porque em Cristo todas as transgressões são apagadas e esquecidas por causa da justificação. Isto porque como o pecado reina na morte, Deus estabeleceu o grande contraste fazendo com que a graça que se opõe ao pecado reine também por meio da justificação, para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo. 157 Nossa Principal Missão Neste Mundo “Mar 16:14 Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Mar 16:16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” Depois de sua ressurreição nosso Senhor Jesus Cristo disse aos onze apóstolos (Judas já havia se suicidado) que a missão deles e daqueles que haveriam de crer através do seu testemunho era a de pregarem o evangelho em todo o mundo. Este verbo “pregai” do texto é vertido da palavra “kerussô” do original grego, que significa anunciar, proclamar, divulgar. Ainda que Deus separe pessoas para este propósito, de modo especial, todavia esta é a principal missão de todos os que creem em Cristo, a saber, a de tornar o evangelho conhecido de todas as pessoas, em todo o mundo. Não é para propósitos políticos, triunfalistas ou mesmo de expansão religiosa que tal ordenança nos foi dada pelo Senhor. É para que a sua própria justiça decorrente da sua morte em nosso lugar na cruz (para a nossa justificação e salvação) seja ofertada, e assim, 158 possa ser aceita e recebida pela mão da fé, ou então rejeitada pela incredulidade. Evidentemente, o Seu desejo é o de que todos fossem salvos pela recepção da Sua graça, simplesmente por meio da fé nEle. Todavia, Ele sabe desde toda a eternidade que não são poucos os que o rejeitarão pelos mais variados motivos e justificativas. Enquanto durar a dispensação da graça, até que Ele volte, o convite do Evangelho permanecerá, dando oportunidade inclusive aos muitos que têm resistido ao convite por anos a fio. O Senhor é fiel em cumprir a sua promessa de salvação feita a todo o que crer, mesmo para estes que o fizerem tardiamente, ainda que em idade avançada. Assim sucede para que se comprove que de fato não somos salvos por nosso méritos, mas por sua exclusiva graça, bondade, longanimidade e misericórdia. 159 Se Compadece de Nossa Miséria Espiritual “Rom 7:14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Rom 7:15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Rom 7:16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Rom 7:17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Rom 7:18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Rom 7:19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.” Nestas palavras do apóstolo Paulo está descrita de modo sucinto e verdadeiro qual é a condição de todo o gênero humano. O quadro apresentado diante de nós é de total impotência para praticar somente aquilo que é bom, e a facilidade e capacidade para praticar o que é mau. Como esta condição é natural e nos acompanha desde o nascimento até o dia da nossa morte, sem se tratar de algo dependente de escolha pessoal através do exercício de nossa vontade, Deus se compadece de nós e preparou uma via 160 de escape da condenação e maldição que paira sobre nossas cabeças em decorrência deste fato. De modo que a permanência na condenação não é ditada por causa de nossa impotência para o bem e facilidade para a prática do mal, mas pela rejeição da oferta graciosa de libertação e remissão que Ele preparou para nós no sacrifício de Jesus Cristo. A natureza pecaminosa que herdamos do primeiro homem criado por Deus somente pode ser subjugada pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, e através do trabalho do Espírito Santo. Ainda que não a vejamos inteiramente subjugada enquanto estivermos neste mundo, podemos constatar, enquanto em Cristo, que ela é cada vez mais enfraquecida, enquanto a nova natureza recebida pela graça se torna proporcionalmente mais forte. Todavia temos a promessa do perdão, da longanimidade e da misericórdia de Deus para os nossos pecados presentes, por causa da nossa união com Jesus Cristo, e da perfeição em santidade quando formos recebidos por Ele na glória. De modo que podemos dizer juntamente com o apóstolo Paulo: “Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Rom 7:25a Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.” Se dependemos inteiramente de nosso Senhor para ter a vitória, então o exercício da nossa 161 vontade para a prática do bem e para a rejeição do mal deve consistir basicamente em recorrer ao auxílio da Sua graça divina para tal propósito. É somente pela lei do Espírito da vida em Cristo Jesus, pela operação da Sua graça e virtude, que podemos obter a vitória sobre a lei do pecado e da morte. 162 Vida que Gera Vida O que tiveram em comum os apóstolos Paulo, Pedro, João, e depois deles Lutero, Richard Baxter, John Woen, Jonathan Edwards, John Wesley, Geoge Whitefield, Charles Haddon Spurgeon, entre outros, que conduziram a muitos a Cristo, com uma conversão genuína, comprovada por frutos dignos de arrependimento, que permaneceram neles por décadas, até o dia da sua morte? Enquanto muitos outros pastores e pregadores do evangelho, ainda que arrastem a multidões consigo, não geram ovelhas verdadeiras para Cristo, senão, quando muito, pessoas impressionadas e apenas despertadas quanto às verdades do evangelho? E sabemos que muitos destes são sinceros no exercício dos seus ministérios. Onde reside portanto a diferença? Esta consiste em que assim como o ferro é afiado com ferro, o espírito é somente nascido do Espírito Santo. E Ele faz isto através de canais que estejam realmente sujeitos à sua direção, poder, e especialmente disciplina, no cumprimento e exercício dos deveres espirituais que nos são ordenados na Bíblia. Podemos ver por exemplo o apóstolo Pedro ordenando em sua segunda epístola que os cristãos se aplicassem com diligência no exercício das virtudes cristãs, porque este seria o único modo de confirmarem para si mesmos a 163 sua eleição, e também terem amplamente suprida a entrada deles no Reino de Deus. Ora! Ele ordenaria aquilo que não estivesse praticando? Estas ordenanças são encontradas nas epístolas de Paulo, de João e nos escritos de todos os homens de Deus que citamos em nosso primeiro parágrafo. Eles não haviam pregado somente acerca da santificação, mas estavam de fato santificados. Não recomendavam apenas a longanimidade, o amor, a misericórdia, a bondade, a pureza, a virtude, a fé, a paz, a disciplina, o procedimento justo e santo, a oração, a adoração e o louvor, mas se exercitavam continuamente nisto, de modo que podia ser visto em suas vidas, e era isto o que impactava outros e lhes inspirava a serem seus imitadores. Deus honra somente a este testemunho verdadeiro de vida, gerando conversões a partir do mesmo, para que a fé dos novos convertidos seja fundamentada na verdade que está ligada à vida daqueles que a proclamam. Podemos dizer, que em certa medida, e guardadas as devidas proporções, que eles encarnaram a verdade em suas vidas assim como ela se encontrava perfeitamente encarnada no Seu Mestre, Salvador e Senhor, na Fonte da própria Vida Eterna deles, a saber, no Senhor Jesus Cristo. 164 Mortos não geram vivos. Somente os que estão vivos no Espírito podem gerar outras vidas semelhantes. Vida natural gera vida natural. Mas a vida espiritual e celestial somente pode ser gerada por vida sobrenatural, espiritual, celestial e divina. 165 Copo Limpo no Interior e no Exterior “Mateus 23:26: Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo!” “1Tes 5:23: O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” Nestes dois textos podemos ver uma alusão à unidade implícita que há entre o corpo, a alma e o espírito. Na metáfora do copo limpo nosso Senhor Jesus Cristo compara todo o nosso ser a um copo que possui tanto uma parte interior quanto uma exterior. Por esse motivo, as pessoas são citadas, em várias partes das Escrituras Sagradas, como sendo copos (vasos) para honra ou para desonra. Todos sabemos que em sentido religioso, somos copos de barro criados por Deus para serem enchidos com o Espírito Santo. Sabemos também que a ninguém apetece usar um copo que esteja sujo, quer em sua parte interior, ou exterior. Os fariseus ocupavam-se somente em limpar o exterior do copo, ou seja, usando práticas cerimoniais e ascéticas relativas ao corpo e à alma (homem exterior). 166 Todavia, nosso Senhor afirmou que nem mesmo o exterior deles estava limpo aos olhos de Deus, porque o interior (espírito, homem interior) estava sujo. O que daí podemos aprender é que quando não buscamos ter um espírito santificado, purificado pela Palavra do Senhor, lavado no sangue de Jesus, apto à prática da fé, do amor, da justiça, da paz, da justiça, da longanimidade, da misericórdia, da comunhão com Deus, e de todas as demais faculdades relativas ao espírito, de nada adiantarão nossos esforços para combater as paixões lascivas, a glutonaria, o uso de drogas e de tudo o que seja nocivo ao corpo físico; como também o que se refere às faculdades da alma (sentimentos, emoções, pensamentos, imaginação etc). A razão disso reside no fato de que há esta unidade latente entre o nosso espírito e corpo, e nossa alma. O que sucede a uma dessas três partes repercute nas demais. Por isso o mau uso da alma em pensamentos depressivos pode produzir no corpo consequências danosas como falta de apetite, dores de cabeça, de estômago e outros sintomas desconfortáveis. Sentimentos ruins como ira, ódio e mágoa produzem também igual efeito em nosso corpo físico. 167 Pensamentos, emoções, imaginações e sentimentos impuros, conduzem via de regra à prática pornográfica e lasciva. As consequências relativas ao nosso espírito são ainda mais danosas porque, por tudo isto que se faz no corpo e na alma, impossibilitamos ou interrompemos a comunhão com o Espírito Santo de Deus, e assim, em vez de paz, teremos em nosso espírito temor e tormenta; em vez de fé, incredulidade; no lugar da longanimidade e da misericórdia teremos impaciência, irritação, ira, ódio e indisposição para o perdão. Evidentemente, muitas outras consequências poderiam ser citadas, mas não é nosso propósito o de esgotá-las nesta breve reflexão, senão simplesmente enfocar a sua realidade. No texto de I Tessalonicenses 5.23 o apóstolo Paulo apresenta portanto, a necessidade de que sejamos santificados por Deus em todas estas partes do nosso ser (espírito, alma e corpo), porque se o exterior não for limpo o interior também não será, sendo a recíproca verdadeira. Por conseguinte nos é ordenado que ocupemos o nosso pensamento somente com o que for santo, puro, justo e agradável (alma). Que não nos entreguemos à prostituição, à pornografia, à glutonaria, à violência (corpo). E acima de tudo, que não descuidemos jamais da prática da fé, da oração, do louvor, do amor, da justiça, da paz, da longanimidade, e da misericórdia, com vistas especialmente à comunhão com Deus (espírito). 168 Porque, se falharmos num aspecto falharemos nos demais. Daí se dizer que: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis...” 169 Nada Poderá nos Separar do Amor de Deus Satanás trabalha para que o cristão não saiba ou duvide que se encontra firme para sempre nas mãos de Deus, como se afirma em Romanos 5.2 e em muitas outras passagens bíblicas. É impressionante como ele consegue cegar o cristão para as afirmações feitas pelo próprio Jesus, como esta que encontramos em Jo 10.2729: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.”. Ah, como isso fere ao diabo, saber que Ele não poderá ter no inferno a nenhum dos que Jesus genuinamente justificou e regenerou. Por isso ele trabalha para infundir a dúvida no cristão, de que pertence realmente a Deus para sempre, e que Deus o aceita completamente como filho, apesar de suas imperfeições e limitações. O diabo deseja que você creia que de alguma forma, você pode perder sua redenção e ele soprará sobre você para que se sinta inseguro e intimidado. Por isso você deve colocar o capacete da esperança da salvação. Esta esperança significa que você pode aguardála como coisa segura e certa, porque Deus é fiel para cumprir a promessa de salvá-lo 170 eternamente e de que ninguém tirará você das mãos de Jesus e das mãos do Pai, como se lê em João 10.27-29 e Romanos 8.32-39: “João 10:27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. João 10:28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. João 10:29 Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.” “Rom 8:31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Rom 8:32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Rom 8:33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Rom 8:34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Rom 8:35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Rom 8:36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. 171 Rom 8:37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Rom 8:38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, Rom 8:39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separarnos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” 172 Não de Modo Mecânico mas Amoroso e Vital A base da nossa salvação da condenação e morte espiritual eterna é a mesma para todas as pessoas, a saber, pela graça mediante a fé em Jesus Cristo. Todavia, o modo desta salvação é personalizado, ou seja, Deus usa de meios os mais diversos para atrair cada indivíduo a Cristo para a entrega a Ele do seu coração. Se formos entrevistar cada pessoa salva a respeito do modo como chegou à conversão, teremos a oportunidade de constatar que suas estórias são diferentes em vários aspectos. Isto revela em primeiro lugar que Deus não precisa dos nossos argumentos persuasivos ou métodos humanos e religiosos para alcançar os perdidos. Ele opera segundo a Sua própria sabedoria e pela força operante do Seu poder, de maneira que, quando determina salvar a alguém, Ele o faz sem que ninguém Lhe possa impedir, nem mesmo aquele que será salvo. Quando Cristo é revelado em espírito e em verdade a nós, Ele é tão desejável e irresistível que é impossível àquele que passa a conhecê-lo não se entregar inteiramente ao Seu cuidado e amor. Esta atração é espiritual e sobrenatural mas podemos compará-la no reino natural à atração da gravidade que nos mantém presos ao nosso planeta; ao rio que corre para o mar; à abelha 173 que é atraída pelo néctar das flores; à fome que nos leva a busca de alimento. De modo que a alma que se liga a Cristo já não pode mais viver separadamente dEle. 174 Todo Ser Humano Necessita de Libertação “Atos 26:15 Então, eu perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Atos 26:16 Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, Atos 26:17 livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, Atos 26:18 para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim.” Por essas palavras dirigidas ao apóstolo Paulo nosso Senhor Jesus Cristo deu o testemunho direto de que todos nós, seres humanos, nos encontramos, por causa das trevas do pecado, debaixo da autoridade de Satanás. E que somente por meio da fé nEle (Cristo) podemos ter os nossos olhos abertos e nos convertermos das trevas para a luz e do poder de Satanás para o de Deus, em razão da remissão dos pecados e da herança eterna e da santificação que recebemos dEle. Agora, reflitamos por um pouco acerca de um estratagema que o diabo utiliza frequentemente para manter as pessoas em cegueira espiritual e 175 enganadas quanto à sua real condição espiritual. Satanás é astuto e ardiloso e sabe muito bem que a grande maioria das pessoas, em são juízo, jamais pensariam em fazer qualquer tipo de pacto diretamente com ele ou com os demônios que estão debaixo do seu governo. Então, ele finge manter em escravidão apenas aqueles que fazem um pacto voluntário com ele. E insinua que este pacto não pode ser desfeito de nenhum modo, mesmo quando se pretende fazer um pacto com Deus por meio da fé em Jesus. A grande verdade é que com pacto ou sem pacto com o Inimigo de nossas almas e de nosso bem eterno, a condição de perdição eterna permanece enquanto não formos livrados dessa terrível escravidão por meio do poder de Jesus Cristo. E foi Ele mesmo que nos ensinou o caminho para tal libertação: fé, arrependimento, conversão e santificação. Ninguém está impedido de ser verdadeiramente livre da escravidão ao pecado e ao diabo. Jesus veio ao mundo justamente para este propósito conforme Ele declarou na porção das Escrituras de Atos 26.15-18. Somente Ele pode destruir todas as obras do diabo quando confiamos inteiramente as nossas vidas em Suas divinas mãos. 176 Tendo Bom Ânimo num Mundo de Aflições Vida sem sofrimento, de perfeita e plena saúde, felicidade, alegria, paz, pureza, amor, harmonia, há somente no céu. A falta desta perfeição aqui na Terra é devida às consequências do pecado que há em toda a humanidade. É de tal ordem e tão extensa a tragédia desta condição que até mesmo os demais seres vivos (vegetais e animais) dela compartilham pelas coisas que sofrem juntamente com a humanidade, e que fazem com que toda a criação esteja gemendo até agora, aguardando por aquele dia venturoso no qual será libertada desta condição de miséria latente. Estas palavras não são de pessimismo, mas da mais pura expressão da verdade e realidade quanto ao nosso estado presente, e trazem também a esperança otimista da única forma de se libertar deste quadro terrível, que é por meio da fé em Jesus Cristo. Mas, enquanto aqui estivermos, mesmo em Cristo, sempre teremos nossas alegrias misturadas com tristezas. Nem sempre em decorrência do que haja em nós, mas pelo que compartilhamos dos sofrimentos de nossos semelhantes e de toda a criação. Todavia é segura e certa a concretização da promessa que Ele nos fez de alcançarmos a perfeição em glória quando da Sua segunda vinda para restaurar todas as coisas àquela 177 condição original planejada por Deus para as Suas criaturas. Vemos assim que não é desvantajoso sofrer e chorar enquanto aqui estivermos, e sentirmos profundamente nossas limitações e misérias, porque isto pode ser um fator contribuinte para nos conduzir à busca de socorro em Cristo, e por conseguinte à conversão. Daí Ele ter dito que são bem-aventurados os que choram e os que sofrem por serem perseguidos por seu amor à justiça. Deus se compadece profundamente não somente por estes que choram, como também por aqueles que são ignorantes quanto à sua real condição e que continuam buscando achar nesta vida motivos que lhes tornem felizes e alegres. Não são poucos os que, neste segundo grupo, são conduzidos por Deus, por amor e misericórdia, através das vicissitudes que experimentam, a entenderem por fim que não é aqui o nosso lugar de paz e descanso. Que há uma grande luta a ser travada, por meio da fé, para vencer o pecado e todos os inimigos espirituais que operam neste mundo de trevas. Não fosse pela infinita bondade, longanimidade e misericórdia de Deus, jamais seríamos objeto deste Seu trabalho de restauração paciente e progressiva do qual todos somos necessitados. Deus está trabalhando para o nosso bem, enquanto sofremos. 178 Daí a exortação que nos é dirigida em Sua Palavra: Heb 12:12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; Heb 12:13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado. 179 Se Está muito Fácil É Porque Está Errado Em nossos dias são tantos e tão contraditórios os ensinos relativos a Jesus Cristo e ao seu evangelho que se faz mister mais do que nunca dantes, um retorno ao registro das Escrituras Sagradas, para que não sejamos iludidos, enganados, pelos muitos atalhos que não conduzem à verdade, e por conseguinte à salvação de nossas almas. Por princípio básico deveríamos aplicar, por similaridade, a seguinte máxima usada por colegiais: “se achou o exercício de matemática muito fácil, é porque você errou”. A salvação é somente pela graça e mediante a fé, mas não é fácil de ser obtida, porque demanda arrependimento, iluminação, conversão, transformação. O reino de Deus é tomado por esforço, por diligência. É possível verificar isto quando lemos a Bíblia , e especialmente os ensinos de Jesus e dos apóstolos, porque há várias condicionais que nos são apresentadas para termos a certeza de um viver que seja segundo a vontade de Deus. Todavia não há nada complicado, supersticioso ou capcioso na mensagem do evangelho genuinamente bíblico. Não há em Cristo qualquer intenção de colocar percalços à obtenção da fé que salva. Devemos tão somente ser cuidadosos para não tomarmos gato por lebre. 180 Em não ser crédulos em qualquer fórmula rápida e fácil de suposta salvação que não demande de nós a necessária atestação de que fomos de fato transformados pelo poder da graça de Jesus, em novas criaturas, renascidos do Espírito Santo. 181 A Paz de Jesus e a de Barrabás O povo gritava para que Barrabás fosse libertado e não Jesus, porque Barrabás era o líder da sedição, juntamente com os demais sicários, que buscava a libertação dos israelitas do jugo do Império Romano. Já a libertação que era e que continua sendo proposta por Jesus é a da nossa escravidão ao pecado. A de Barrabás nada exige de nós senão gritarmos e lutarmos por aquilo que consideramos nossos direitos civis, deixandonos livres e à vontade quanto aos pecados que praticamos. A paz de Jesus, contudo, demanda a mortificação do pecado para que ela possa existir em nosso coração. É fácil portanto entender porque a maior parte das pessoas prefere a paz de Barrabás, ainda que seja imposta pela força das armas, tal como ele e seus seguidores agiam no passado. 182 A Falsa Paz de Uma Liberdade Falsa “Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” (Jeremias 8:11) “1 Mas, irmãos, acerca dos tempos e das épocas não necessitais de que se vos escreva: 2 porque vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor virá como vem o ladrão de noite; 3 pois quando estiverem dizendo: Paz e segurança! então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão.” (I Tessalonicenses 5) Os falsos profetas dos dias de Jeremias anunciavam uma paz que seria decorrente da liberdade do povo das exigências dos mandamentos de Deus. Especialmente aqueles relativos ao respeito aos mais velhos, às autoridades, em obediência às tradições recebidas desde os antepassados quanto ao temor devido ao Senhor como único Deus digno de ser adorado e servido. Eles profetizavam a liberdade da nação em escolher os seus próprios deuses e costumes, e que fizessem alianças com nações pagãs para prevalecerem em paz e segurança, em sua própria terra. E o que fez o Senhor? 183 Expulsou os israelitas pelas mãos dos assírios e dos babilônios. Hoje, a história se repete no contexto de todas as nações do mundo. O jugo da submissão à autoridade paterna foi sacudido e lançado para longe. A estrutura da família foi demolida. O amor, os bons costumes, a gentileza, a verdade, estão desaparecendo da terra. A luta pela paz e segurança, que é segundo o homem, e não segundo Deus... que busca a qualquer custo a libertação dos princípios morais e espirituais revelados na Bíblia, será por fim conquistada, quase em plenitude, ainda que por breve tempo, debaixo do governo do Anticristo, que atenderá às exigências de libertação de tudo aquilo que é exigido por Deus, porque ele será dirigido e inspirado com o poder do próprio Satanás, que completará aquilo que havia iniciado no princípio no jardim do Éden, com a mesma oferta de liberdade do governo divino, que fizera ao primeiro casal. Todavia, o que se diz a respeito de tudo Isto? Por ocasião da volta de Cristo, lhes sobrevirá repentina destruição da falsa paz e segurança que haviam construído ao longo das eras, porque não há verdadeira paz e segurança, fora da comunhão com o único Príncipe da Paz. Lembremos sempre que Jesus não nos dá a Sua paz conforme o mundo a dá. A do mundo não leva em conta o que há no coração do homem. 184 A de Jesus decorre da transformação do nosso coração. Não costuremos então, como cooperadores do Anticristo, a sua falsa paz. 185 Salvos na Esperança da Perfeição A ideia de que houve pessoas que viveram na terra em tão elevado grau de santidade, que chegaram à perfeição, não corresponde à verdade e nem mesmo à realidade. Somente Jesus Cristo e mais ninguém foi completamente santo. Isto nos conduz a concluir que enquanto aqui estivermos, não haverá um único de nós que não mais esteja sendo trabalhado pelas mãos do Grande Oleiro para ser transformado em vaso de honra sem qualquer mancha ou mácula. Não dizemos estas coisas à guisa de desencorajar ou desestimular a busca de uma santificação cada vez maior, porque é esta a vontade de Deus para todos os seus filhos. Todavia, é necessário considerarmos a verdade com toda a humildade, e dizermos juntamente com Paulo, que foi um grande santo enquanto aqui viveu, que era o principal dos pecadores, não dizia que o havia sido simplesmente no passado, porque assim se considerava até o dia em que partiu para a glória do céu. Então onde jaz a diferença entre as pessoas santas e não santas? Evidentemente, não no fato de serem pecadoras ou não, porque todos somos pecadores, mas em que os que são santos permitem e buscam serem lavados de seus pecados e serem transformados e restaurados por Deus. 186 O Senhor trabalha com toda a Sua infinita longanimidade e misericórdia para trazer de volta à vida os que estavam mortos espiritualmente, para trazer de volta para si o que estavam perdidos, e faz isto num trabalho paciente de restauração progressiva em santificação, até completá-la no dia em que nos receberá na glória. É nisto que consiste a nossa salvação. Somos salvos por Deus na esperança daquilo que haveremos de ser, e que Ele realizará pela Sua própria graça e poder. 187 Somente quem Procura Acha Quanto ao conhecimento pessoal e real de Jesus sucede o mesmo quanto ao conhecimento de um lugar ou outras pessoas. Caso não nos disponhamos a ir até eles, jamais os conheceremos. Ainda que saibamos que dependemos que o Senhor nos atraia a Ele, porque é espírito invisível, e por conseguinte ficamos necessitados de que se revele a nós, todavia, se não nos permitirmos ser despertados ou até mesmo caso permaneçamos não interessados em relação ao conhecimento dos assuntos espirituais relativos a Deus, será impossível que venhamos a ter um real conhecimento pessoal de Jesus. Ele mesmo nos advertiu que o reino de Deus é tomado por esforço da nossa parte... que devemos bater à porta do céu; que devemos buscar o Seu reino invisível e que não é deste mundo; e pedir-Lhe que nos salve e santifique. Devemos fazer tudo isto por meio da fé, da oração e da meditação e prática da Palavra de Deus revelada na Bíblia. 188 Viver sem Ilusões A justiça do Reino de Deus é Cristo e este crucificado para a justificação de todo aquele que crê. O único meio de se promover esta justiça é a verdade do evangelho de Jesus. Política, justiça social, religião, ou qualquer outro meio deste mundo, jamais poderão nos trazer a justiça do Reino de Deus. Esta justiça nos veio e continua nos vindo sempre dos altos céus. Ela procede do trono de Deus, e é operada exclusivamente pela Sua graça e poder. Nos assuntos relativos a Cristo, os cristãos são chamados a proclamarem esta justiça, quando falam em nome de Deus e do Seu propósito eterno de fazer convergir todas as coisas em Seu Filho Amado, nosso Senhor Jesus Cristo. Os apóstolos não tentaram reformar o modo de governo das nações. Não criticaram os meios e os processos do Império Romano, que era o poder dominante de então. Não se desviaram do alvo da sua missão, que continua sendo a mesma de todos os cristãos, em todas as épocas da história do mundo. Eles se dedicaram a pregar a justiça de Cristo para nos libertar da escravidão ao pecado. Trabalharam visando à conversão dos corações. Sabiam que isto agiria como fermento melhorando em muito o padrão de comportamento das pessoas em todo o mundo, 189 mas sabiam também que muitos permaneceriam apegados ao pecado e voluntariamente a ele escravizados, ainda que sustentassem hipocritamente argumentos em prol de um mundo melhor e de uma sociedade mais justa. Sejamos bons cidadãos, honremos a todos os que se encontram em posição de autoridade, mas não nos iludamos pensando que poderemos um dia transformar o mundo inteiro em um lugar de paz e justiça perfeitas. Isto ocorrerá somente quando o próprio Jesus para aqui retornar em Sua segunda vinda, e quando estabelecer pelo Seu exclusivo poder novos céus e nova terra nos quais a justiça e a paz habitem para sempre. 190 Os Fariseus Redivivos Atos 15:1 “Alguns indivíduos que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos.” Atos 15:5 “Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés.” A ameaça legalista sempre procurou arruinar a graça do evangelho de Jesus Cristo. Seus maiores representantes nos dias apostólicos foram os fariseus, como podemos verificar na passagem que destacamos do livro de Atos, na qual vemos alguns fariseus que haviam supostamente se convertido a Cristo, afirmando que sem a circuncisão e sem o cumprimento de toda a lei cerimonial de Moisés não poderia haver salvação. Eles pensavam que Deus havia instituído a circuncisão e toda a lei cerimonial, especialmente a referente ao sacrifício de animais e todo o sistema de ofertas e dízimos, como o meio de salvação do pecador perdido. No entanto, nem mesmo no Velho Testamento encontramos tal ensino de que a Lei havia sido promulgada com o propósito de salvar os pecadores. 191 Como podiam pensar que prepúcios e sangue de bodes e de touros poderiam nos purificar de todos os nossos pecados? Não havia nenhum problema em que alguém se circuncidasse ou continuasse cumprindo determinadas cerimônias previstas na Lei de Moisés, mas sim em afirmar que eram necessários à salvação. Os fariseus redivivos de nossos dias não falam mais em circuncisão ou em lei cerimonial, mas tentam substituir a graça e a fé em Jesus Cristo (únicos meios de salvação revelados na Bíblia) mas afirmam, tal como os fariseus do passado, as obras, as ofertas e os dízimos, citados na Bíblia, ao lado de outras práticas criadas pela sua imaginação como forma de obtenção da salvação da alma. E quando se usa o argumento da prosperidade material como sendo a finalidade da fé, dizemos que o problema não se encontra na prosperidade propriamente dita, mas no amor ao dinheiro que é a raiz de todos os males, e também, que a prosperidade não é nenhum sinal seguro para a certeza da nossa salvação. A fé nos foi dada para a salvação da alma, e não para ser usada para nos tornarmos prósperos. 1 Pe 1:9 ”obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.” 192 Por Causa da Fé e não por Crença Quando caminhava dirigi o olhar para o horizonte e contemplei o lindo cair daquela tarde de outono. A lua minguante acima da estrela da alva, tendo por fundo um belo céu azul esverdeado e brilhante pelo sol que já havia se retirado ao seu abrigo, mas deixado o seu imprimatur de raios luminosos no céu, como forma de lembrança da sua existência e poder. Imediatamente fui levado a glorificar a Deus como o grande Criador do universo e de tudo o que ele contém, e por ter disposto todas as coisas com grande sabedoria para o seu e o nosso aprazimento. E por que agi deste modo tão instantâneo? Por causa da fé. Do dom da fé recebido de Deus para poder não apenas conhecê-lo em pessoa, e ter revelações, visões e êxtases espirituais pela manifestação da sua presença em nós, como também para reconhecer todos os seus atos na própria criação visível. Por isso a fé não é mera crença. Não se trata de pensar que aceitamos a existência de Deus e que Ele seja o Criador. Somente isto não nos conduziria a experimentar de modo real a pessoa do próprio Deus e todas as suas ações em nossas vidas. 193 Esta é razão porque necessitamos de uma experiência de conhecimento real e pessoal de Jesus Cristo. E se não recebermos da parte de Deus o dom da fé para tal propósito, será simplesmente impossível conhecer de fato e de verdade tudo o que concerne ao Reino de Deus e a Cristo. Sejamos portanto humildes, e peçamos ao Senhor que nos conceda a fé necessária para podermos desfrutar deste conhecimento tão maravilhoso que nos transforma, e faz de nós pessoas sensíveis, mansas, amáveis, que se submetem de coração ao Seu Criador e Senhor, e que têm nEle todo o seu prazer de viver. 194 É Mesmo na Base do Toma Lá Dá Cá? Alguns afirmam, e na verdade não são poucos, que a base do nosso relacionamento com Deus é a do “toma lá, dá cá”. Ou seja: se pretendemos receber alguma bênção de Deus é preciso primeiro dar-lhe algo. Dar-lhe o melhor de tudo o que temos. Afirmam: “Primeiro, é preciso sacrificar, e então receberemos as bênçãos de Deus”. A Bíblia afirma expressamente, em especial no Novo Testamento que é tudo de graça. É tudo pela graça de Jesus Cristo. E deve ser pela graça para que seja segundo a fé, e vice-versa, e para que exclua todo o mérito humano. Na verdade, não poderíamos ofertar a Deus nada aceitável de nós mesmos, até mesmo o nosso coração, porque tudo foi estragado, corrompido pelo pecado. O coração que consagramos a Deus não é um coração puro, mas impuro, no qual Ele opera pelo Espírito Santo a regeneração com vistas à santificação. Toda a honra, glória, mérito e poder devem ser tributados exclusivamente ao Senhor Jesus Cristo, que se tornou da parte de Deus para nós, a nossa justiça, sabedoria, redenção e santificação (I Cor 1.30). 195 Pode Parecer Verdade mas Não é Verdade É preciso ter muito cuidado com argumentos que parecem muito convincentes, quando não submetidos ao todo da revelação bíblica. Os profetas da chamada teologia da prosperidade material, visando auferir vantagens financeiras pessoais, à custa dos seus seguidores, apelam para o argumento que o pecador somente pode agradar a Deus se apresentar ofertas e dízimos, porque não há outro modo de agradá-lo desde que o pecado entrou no mundo. Como se Deus necessitasse dos nossos bens materiais e financeiros! Pouco ou nada mais se requer segundo a maioria destes que falam supostamente em nome de Cristo. Tal discurso agrada também à maioria dos seus seguidores, porque lhes deixa muito à vontade para continuarem tocando a vida como bem lhes agrade. Porquanto não tocam no ponto central da verdadeira religião bíblica, celestial, divina, que é o nosso coração e não o nosso bolso. O que adianta ao homem dar todos os bens de sua casa se não permite que o Espírito Santo faça uma transformação real e permanente em seu coração? Por isso Deus nos pede o nosso coração para que possa trabalhar nele, transformando-o de coração carnal em coração espiritual. 196 Certamente, um coração assim transformado haverá de dispor de tudo o que tem para poder servir à causa do evangelho, mas não por constrangimento ou obrigação religiosa determinada por alguém, mas por amor, com alegria e segundo a direção do Espírito Santo, conforme as suas reais posses. 2Co 8:11 Completai, agora, a obra começada, para que, assim como revelastes prontidão no querer, assim a leveis a termo, segundo as vossas posses. 2Co 8:12 Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem. 2Co 9:7 Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. 197 Aprendendo do Exemplo de Charles Simeon Nos seus primeiros anos de ministério, o pastor da Igreja Anglicana, Charles Simeon (24 de setembro de 1759 - 13 de novembro de 1836) era um homem rude e agressivo. Certo dia, foi visitar um pastor amigo numa povoação próxima da sua casa. Após a visita, as filhas do amigo queixaram-se ao pai sobre o comportamento de Simeon. O pai, então levou as suas filhas para o quintal, e disse-lhes: “Apanhai um daqueles pêssegos para mim.” Era o início do verão e os pêssegos estavam verdes. As meninas perguntaram-lhe por que é ele queria fruta verde, que ainda não estava madura. Ele respondeu-lhes: “Bem, minhas queridas, agora ele está verde e nós precisamos esperar; um pouco mais de Sol, um pouco mais de chuva e o pêssego estará maduro e doce. É assim com o Senhor Simeon.” Charles Simeon no tempo devido realmente mudou. O calor do amor de Deus, as “chuvas” dos mal-entendidos e as decepções foram os meios pelos quais ele se tornou num homem gentil e humilde. Charles Simeon foi pastor da Igreja Anglicana, na Trinity Church, em Cambridge, na Inglaterra de 1782 a 1836. Ele foi nomeado para lá por um dos bispos da Igreja Anglicana, contra a vontade dos seus paroquianos, que se opuseram a ele, 198 não por que ele fosse mau pregador ou exercesse mal o seu “húmus partoral”, mas porque Charles Simeon era “evangélico.” Isto é, Charles Simeon cria na Bíblia como a Palavra de Deus e regra de fé, desafiava as pessoas para a necessidade da conversão ao Novo Nascimento espiritual, e aos crentes nascidos de novo desafiava-os para a santidade pessoal e apelava às “Igrejas” e aos crentes individualmente para o desafio da evangelização do mundo e a terem amor pelas almas dos não convertidos ao SENHOR Jesus. Durante 12 anos os seus paroquianos não permitiram que ele pregasse o sermão de domingo, à tarde. E, durante todo esse tempo, também eles boicotaram o culto dominical matinal e bloquearam os bancos da Igreja para que ninguém pudesse se sentar neles. Deste modo Charles Simeon viu-se obrigado a pregar ao seu rebanho durante 12 anos nos corredores do templo! «Nesse estado das coisas, eu não vi outro remédio, a não ser ter fé e paciência. O trecho das Escrituras que dominava e controlava a minha mente era este: “Ao servo do Senhor não convém contender.” (2 Tim 2:24) Era doloroso ver o templo da igreja, com exceção dos corredores, quase abandonado; porém, eu pensava que se apenas Deus concedesse uma bênção dobrada à Congregação que ali estava, 199 no todo haveria tanto bem como se a congregação fosse o dobro e a bênção limitada apenas à metade dessa porção. Isso confortoume muitas e muitas vezes, quando, sem essa reflexão eu teria sucumbido sob o meu pesado fardo.» De onde obteve Charles Simeon a garantia, de que seguindo o caminho da paciência ele o conduziria à bênção sobre o seu trabalho, que compensaria a frustração de ter todos os bancos da “Igreja” bloqueados? Ele a obteve de versículos da Bíblia que prometiam a graça futura, do versículo da Palavra de Deus: “Como são felizes todos os que nEle esperam!” (Isa 30:18). A Palavra de Deus venceu a incredulidade e a fé na Graça futura venceu a impaciência. Cinquenta e quatro anos depois destes tristes acontecimentos, Charles Simeon estava às Portas da Eternidade. As semanas se arrastavam, como tem ocorrido com muitos santos moribundos. Aprendemos, ao lado de muitos crentes às portas da morte, que a batalha contra a impaciência pode ser muito intensa no leito de morte. Em 21 de outubro de 1836, os crentes e familiares que estavam ao lado da sua cama, ouviram-no dizer as seguintes palavras, muito lentamente e com longas pausas: 200 “A infinita sabedoria dispôs tudo com infinito amor; e o infinito poder capacita-me a descansar nesse amor. Estou nas mãos do Pai amado, tudo está seguro. Quando olho para Ele, não vejo nada a não ser fidelidade, e imutabilidade, e verdade; e tenho a paz mais doce, não posso ter mais paz do que a que tenho!» A razão para Simeon morrer assim foi a disciplina que exerceu durante 54 anos indo amiúde às Escrituras e nelas se apropriando das promessas da graça futura e de usá-las para vencer a incredulidade da impaciência. Ele aprendeu a usar a espada do Espírito para batalhar o combate da fé na graça futura. Pela fé, na graça futura, aprendeu a esperar com Deus no lugar não planeado da obediência, e a andar com Deus no passo não planeado da obediência. Com o salmista, Charles Simeon disse: “Espero no Senhor com todo o meu ser, e na sua palavra ponho a minha esperança.” (Slm 130:5) Tanto na vida como na morte, Charles Simeon tornou clara e com impacto a promessa: “O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam.” (Lam 3:25) Qual o segredo espiritual de Charles Simeon, que suportou imensas dificuldades no seu poderoso pastorado de cinquenta e quatro anos, 201 na “Trinity Church”, em Cambridge, na Inglaterra? A profunda influência espiritual para o bem dos pecadores e para a glória de Deus procede de homens e mulheres que se dedicam à oração e à meditação. R. Housman, um dos amigos de Charles Simeon, que viveu com ele na mesma casa durante alguns meses diz alguma coisa sobre a sua devoção, sobre o seu grande fervor de piedade, sobre o seu grande zelo e amor. “Invariavelmente, Charles Simeon levantava-se cada manhã, mesmo no Inverno, às quatro horas da madrugada. E depois de acender o fogo, dedicava as primeiras quatro horas do dia à oração particular e ao estudo devocional das Escrituras.” Este era o segredo da sua grande graça e do seu vigor espiritual. Ao receber instrução dessa fonte e ao procurá-la com diligência, Charles Simeon era confortado em todas as suas provações e obtinha preparação para todos os seus deveres. Isto é verdade tanto para os crentes individualmente como para as “Igrejas”. Sem oração persistente não temos qualquer ofensiva na batalha contra o mal. Tanto individualmente 202 e como “Igrejas” estamos destinados a invadir e a despojar as fortalezas de Satanás. Que o exemplo de Charles Simeon nos impulsione tanto individualmente como “Igrejas” não somente às orações ocasionais, mas a uma vida de oração, como disse Housman, com “consistência e à realidade da devoção.” 203 Peregrinando O vento da provação tem batido com muita força e continuamente em nós, mas pela fé em Cristo temos permanecido de pé. Isto é maravilhoso aos nossos olhos e procede somente do Senhor o fornecer forças para prosseguirmos na carreira que nos foi proposta, de segui-lo independentemente das circunstâncias. Tudo o que importa é que sejamos achados fiéis em nossa jornada, trabalhando em prol da causa do evangelho, que é a causa da vida eterna e do bem, não somente para o interesse de nossas almas, como também e sobretudo, para o do nosso próximo. Nossos apetrechos são apenas a oração, a vigilância, a oração e a prática da Palavra de Deus, confiando em Jesus, e apenas nele, para todo o bom propósito espiritual e eterno. 204