UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E COMUNICAÇÃO Luma Carla Pardelinha David Moreira CURA ESPONTÂNEA: MILAGRE OU AÇÃO DA MENTE? São José dos Campos, SP 2013 Luma Carla Pardelinha David Moreira GRANDE REPORTAGEM IMPRESSA: CURA ESPONTÂNEA: MILAGRE. OU AÇÃO DA MENTE? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação, da UNIVAP, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Jornalista. Orientador(a): Prof. e Jornalista Areta Rezende Braga Giglio Co-orientador(a): Prof. Veriano Takuji Miura São José dos Campos, 2013 2 Luma Carla Pardelinha David Moreira GRANDE REPORTAGEM IMPRESSA: CURA ESPONTÂNEA: MILAGRE. OU AÇÃO DA MENTE? Relatório Final apresentado como parte das exigências da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso à Banca Avaliadora da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação da Universidade do Vale do Paraíba. Orientador (a): Prof. e Jornalista Areta Rezende Braga Giglio Co-Orientador (a): Prof. Veriano Takuji Miura Nota: ___________________________________________________ Banca Examinadora: ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ São José dos Campos, _____ de ___________________ de 2013. 3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho para Deus, porque me acompanhou neste processo de formação acadêmica e transformação pessoal, me fazendo acreditar que era possível, quando eu mesma colocava em dúvida a minha capacidade. 4 AGRADECIMENTOS Registro o meu agradecimento para a minha orientadora, Areta Braga, por toda compreensão e direcionamento, que me fizeram enxergar uma mesma possibilidade de diversos ângulos. Agradeço também ao meu pai, por representar o real significado desta palavra na minha vida, estando sempre presente e me amparando em todos os momentos. Minha gratidão também se estende para todos aqueles que se mostraram disponíveis em colaborar com este trabalho, de forma enriquecedora, nas entrevistas, nas fotos, e na diagramação. 5 RESUMO Este trabalho visa à fundamentação de uma grande reportagem para revista, que irá apresentar os pontos de vista científico e religioso sobre a cura espontânea de pacientes com graves problemas de saúde. Essa reportagem entrevistará personalidades ligadas à ciência e à religião, no sentido de explorar ambas as visões. Foram elencados conceitos de saúde e doença para auxiliar a compreensão geral do assunto. A hipótese que será apresentada é que um paciente pode apresentar cura espontânea e se recuperar de uma doença com prognóstico desfavorável, sem efetivo tratamento. Para a ciência essa cura estaria condicionada a fatores fisiológicos e mentais. Já para a religião, isso seria caracterizado como milagre. Palavras-Chave: Cura, milagre, fé, ciência, mente, reportagem. 6 ABSTRACT This work aims at the foundation of a great story for the magazine, which will present the views of scientific and religious on the spontaneous healing of patients with serious health problems. This article interviewing personalities linked to science and religion, in order to explore both views. Were mentioned concepts of health and illness to assist the general understanding of the subject. The hypothesis to be presented is that a patient may have spontaneous cure and recover from a disease with poor prognosis, with no effective treatment. For science this cure would be subject to physiological and mental factors. As for religion, it would be characterized as a miracle. Keywords: healing, miracles, faith, science, mind, story.. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 CAPÍTULO 1 – Cura Espontânea.............................................................................. 13 1.1 Definições ........................................................................................................ 13 1.2 Discussão......................................................................................................... 13 1.3 Saúde x doença ............................................................................................... 17 CAPÍTULO 2 – O poder curativo da mente ............................................................... 21 2.1 Pensamento positivo ........................................................................................ 21 2.2 Efeito placebo e convencimento mental ........................................................... 22 CAPÍTULO 3 – O milagre .......................................................................................... 25 3.1 Definição de Milagre ........................................................................................ 25 3.2 Contexto histórico ............................................................................................ 26 3.3 Milagre x Prodígio ............................................................................................ 28 3.4 Santo Agostinho x Santo Tomás ...................................................................... 30 3.5 Santos antigos x Santos atuais ........................................................................ 31 3.6 Os milagres para o Vaticano ............................................................................ 33 CAPÍTULO 4 – Modalidade ....................................................................................... 35 4.1 A reportagem ................................................................................................... 36 4.2 Jornalismo de Revista ...................................................................................... 36 4.3 O texto de jornalismo de revista ....................................................................... 37 CAPÍTULO 5 – Metodologia ...................................................................................... 39 5.1 Definição da Temática ..................................................................................... 39 5.2 Pesquisa Bibliográfica ...................................................................................... 40 5.3 Pesquisa Exploratória ...................................................................................... 40 5.4 Pesquisa Documental ...................................................................................... 41 5.5 Personagens .................................................................................................... 41 8 5.6 Pauta ................................................................................................................ 42 5.7 Cronograma ..................................................................................................... 42 CAPÍTULO 6 – Histórico da Superinteressante......................................................... 43 6.1 Superinteressante ............................................................................................ 43 6.2 Prêmios ............................................................................................................ 46 6.3 Layout da Revista ............................................................................................ 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 50 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 51 APÊNDICE A................................................................................................................. ANEXOS ....................................................................................................................... 9 INTRODUÇÃO Este trabalho consiste em uma grande reportagem impressa cujo tema aborda as questões relacionadas à cura espontânea. A escolha se deu pela importância de que os dois lados de uma mesma história sejam conhecidos, afinal, antes de descartar alguma teoria é preciso que exista um conhecimento prévio do que ela aborda e quais as bases e critérios que ela utiliza. A partir daí as identificações pessoais que cada um traz, de sua vivência pessoal, irão ajudar a definir a verdade que é mais conveniente para cada um. E o objetivo deste trabalho é justamente esse, mostrar para o leitor o que é cura espontânea, e apresentar as explicações científicas e religiosas, não com o intuito de provar nenhuma das teorias, mas sim de explicar como funcionam, para que o próprio chegue a sua verdade. Primeiro teremos uma breve explicação do que é a cura espontânea e quais circunstâncias podem receber esta denominação. Como o próprio nome já sugere, para que um caso seja considerado cura espontânea é necessária que a cura ocorra de forma completa e sem que possa ser atribuída ao efeito de fármacos, ou seja, ainda que eles estejam sendo utilizados, não podem ser o agente causador da cura. O fato de um paciente ser curado por meios que não compreendem os métodos científicos, como o uso de medicamentos torna esta reversão do quadro clínico um campo desconhecido, abrindo margem para teorias que tentam explicar este fenômeno. Como dito anteriormente, este trabalho aborda duas vertentes que apresentam explicações e teorias para justificar este processo, a ação da mente e o milagre, que serão explicados mais adiante. Veremos que para a ciência, a mente do ser humano tem a capacidade de levar o individuo a desenvolver doenças, teoria que é defendida por Russel Norman Champlin, que é o autor de Enciclopédia de Bíblia, teoria e filosofia, segundo ele, as emoções podem contribuir para o aparecimento de doenças, de acordo com esta linha de pensamento, enfermidades físicas podem ter origem no campo psíquico, ou seja, os sentimentos negativos são fatores que contribuem 10 para o aparecimento de enfermidades, logo, este autor chega à conclusão que se o estado da alma for corrigido, a cura física será uma consequência. E Russel não é o único que defende esta teoria, Bernie S. Siegel, autor de Amor Medicina e Milagres, defende que o poder da mente se encontra sempre a disposição e seu espaço de manobra se mostra maior antes da ameaça, ou seja, em casos de doenças com um prognóstico desfavorável, a mente do ser humano tem uma capacidade maior de sobressair e ocasionar a cura espontânea. E Bernie deixa esta discussão ainda mais interessante ao afirmar que este processo curativo dispensa qualquer tipo de submissão a qualquer fé religiosa, colocando como ponto crucial e necessário para a cura, o fato de amar a vida e lutar por ela. O câncer é uma doença que permite um bom campo de observação para casos de cura espontânea, tendo em vista que muitos médicos já admitem que para o tratamento desta doença o pensamento positivo é um fator chave na recuperação. Dr. Deepak Chopra, autor do livro A Cura Quântica: O poder da mente e da consciência na busca da saúde integral faz parte desta classe de médicos que defende esta teoria. Ele conta que já atendeu diversos pacientes que tinham um estágio avançado de câncer e que sararam completamente depois de considerados incuráveis, com um prognóstico de poucos meses de vida. Um processo como o descrito no parágrafo anterior poderia facilmente ser admitido como milagre por boa parte da população, porém o Dr. Deepak, descarta completamente esta hipótese e defende que este processo é puramente mental. Podemos observar que a teoria da ciência acredita que o pensamento positivo e a vontade de viver fazem com que pacientes se recuperem completamente de doenças graves, e que esta cura na maioria dos casos acontece de dentro para fora, mas a possibilidade de uma intervenção divina é negada pelos cientistas que preferem defender a capacidade curativa do próprio corpo, através do convencimento mental, do pensamento positivo, ou até mesmo do efeito placebo. 11 Em contra partida a religião defende que este processo capaz de curar um indivíduo que havia sido desenganado, ou que havia recebido um prognóstico com pouquíssimas chances de cura, tem um fundamento muito além do poder psíquico, que seria a intervenção Divina, no qual uma divindade ajudaria na recuperação, ou seja, neste caso a cura viria por meio da fé e de uma força que está em um nível superior a nós. Diferente da ciência, a cura seria de fora para dentro. Porém como a diversidade religiosa é imensa, este trabalho irá abranger apenas duas denominações religiosas, a católica e a protestante, que embora sejam duas religiões que acreditem em milagres não atribuem qualquer processo de cura a um fator divino, antes os casos precisam ser investigados para distanciar as chances de o milagre ser confundido com um prodígio, que seria algo falso, mentiroso, um engano, fato ligado à magia e a superstição. Para que esta distinção seja feita, a igreja estabeleceu que para uma cura ser considerada milagrosa, é preciso estar de acordo com o caráter de Deus, ou a personalidade de Deus, que é o que veremos no capítulo que irá tratar do ponto de vista religioso. Um dos autores que irão defender esta teoria é o Dr. Miguel Chalub, que irá explicar que Deus não é um mágico, não faz maravilhas apenas para impressionar os homens, o milagre precisa ensinar a verdade. Chalub aponta que Jesus não realizava milagres para mostrar o que era capaz de fazer, ou para que outras pessoas o idolatrassem, mas para transmitir a verdade. Então segundo este pensamento, o milagre precisa ter um fundamento capaz de acrescentar benefícios que levem o individuo ao processo de salvação, segundo o cristianismo. A expectativa do trabalho é que nos próximos capítulos estas questões científicas e religiosas fiquem esclarecidas, possibilitando que o leitor forme uma opinião a partir destas informações. 12 CAPÍTULO 1 Cura espontânea 1.1– Definição Antes de iniciarmos a discussão dos dois pontos de vista, é importante que fique claro o conceito de cura espontânea, ou remissão espontânea, que compreende a capacidade de recuperação espontânea do organismo humano, ou seja, o desaparecimento das manifestações clínicas de qualquer enfermidade sem que o enfermo tenha sido tratado, ou nos casos em que o tratamento não surtiu efeito. 1.2– Discussão O que pode ilustrar bem este conceito de cura espontânea são os casos de câncer, quando o paciente é desenganado pelo médico, ou quando recebe um diagnóstico e antes mesmo de iniciar o tratamento é curado. Estes são casos raros, mas ainda assim existentes em todas as partes do mundo.1 Inclusive o câncer de mama invasivo, em algumas ocasiões, poderia desaparecer sem tratamento e em uma quantidade significativa de pacientes. 2 O estudo comandado pelos médicos H. Gilbert Welch, Per-Henrik Zahl e Jan Maehlen, comparou dois grupos de mulheres com idade entre 50 e 64 anos, em períodos consecutivos de seis anos cada um. O primeiro grupo era composto por 109.784 mulheres, estudadas de 1992 a 1997, com a realização de apenas uma mamografia e o segundo com 119.472, que foram analisadas entre 1996 e 2001 com a realização de uma mamografia a cada dois anos. O que os pesquisadores esperavam com esta análise era que em ambos os grupos fossem detectadas quantidades similares de cânceres de mama, mas a pesquisa comprovou que o grupo que fez mamografia regularmente teve 1909 mulheres diagnosticadas com câncer de mama invasivo durante todo o 11 Matéria escrita por Eugenio Frater para a revista Exame Info, que se encontra disponível no site da editora abril com o título de “Como acontecem as curas espontâneas”. 2 Matéria escrita por Eugenio Frater para a revista Exame Info, que se encontra disponível no site da editora abril com o título de “Como acontecem as curas espontâneas”, em um estudo realizado na Noruega e publicado em “The Archives of Internal Medicine“. 13 período de análise, já no grupo submetido a apenas uma mamografia foram identificados 1564 mulheres com o mesmo diagnóstico no mesmo espaço de tempo. Embora existam várias possibilidades para explicar este fenômeno à teoria defendida pelo médico Welch, da Escola de Medicina Geisel em Dartmouth (EUA) é a seguinte “Algumas mulheres têm um tumor em um momento da sua vida e depois não o têm, ou seja, seus tumores desaparecem” (GEISEL, apud, FRATER, 2013, internet). Porém embora estes casos de cura espontânea sejam admitidos, esta mesma matéria publicada na revista Exame Info, da editora Abril, revela que os índices deste tipo de cura são baixos, isso de acordo com o hepatologista Bruno Sangro, da Clínica Universitária de Navarra (Espanha), que foi o coordenador desta pesquisa. “Calcula-se que a regressão parcial ocorre entre dois e quatro casos a cada mil, e que de 1% a 2% dos pacientes podem experimentar algum tipo de regressão, na qual o tumor encolhe ou diminui.” (SANGRO, apud, FRATER, 2013, internet). Mas se por um lado às estatísticas de cura espontânea do câncer são baixas, na Leishmaniose Tegumentar Americana são bem elevadas, isso segundo a artigo3 intitulado “Cura espontânea da Leishmaniose causada por Leishmania Viannia Braziliensis em lesões cutâneas” e baseado em pesquisas que envolveram 14 anos de trabalho clínico em campo, realizado na comunidade de Três Braços e Corte da Pedra, Bahia, com 1416 pacientes portadores da referida enfermidade. 16 pacientes do sexo masculino recusaram-se a utilizar a medicação e 6 do sexo feminino encontravam -se em período gestacional, porta n to não utilizaram o medicamento. Estes pacientes foram acompanhados por um período entre 4 a 12 anos, a partir do diagnóstico. Observou-se que em 9 pacientes (40,9% ) desta casuística, o tempo de cicatrização após o aparecimento da lesão, p o d e ser calculado em 6 meses de evolução. Quando se eleva a observação para 12 meses, tem os que 19 pacientes (86,3%) cicatrizaram suas lesões neste período. Em 3 casos (13,6%) as lesões permaneceram ativas por mais de 12 meses.Conclui-se que os determinantes da cicatrização natural das lesões produzidas por Leishmania Viannia braziliensis permanecem desconhecidos (REVISTA DA 3 1990, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 14 SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 1990, internet) Os números são bem distintos nos dois casos apresentados, mas em ambas as amostras houve casos de cura espontânea o que atesta este fenômeno. Porém segundo entrevista realizada para a produção deste trabalho com a psiquiatra Michele Barbosa que é graduada na faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, falar em cura através da mente é algo complicado, porém existem de fato diversas pessoas que afirmam terem se curado pela autossugestão por diversas e diferentes técnicas, mas segundo ela não há como realizar um estudo adequado que considere o antes e o depois em um período de tempo apropriado para que esta verificação seja feita, com a devida exclusão da intervenção medicamentosa, o que descaracterizaria a cura espontânea. “A autossugestão reconhecidamente altera a evolução de várias patologias, mas há que se ter cautela na afirmação de poder curar uma enfermidade”.4 Ela ainda complementa esta informação explicando que as pesquisas na maioria dos casos são contraditórias no que se refere à cura de patologias, que compreenderiam a cessação completa de uma determinada enfermidade, sem que ficasse nenhuma sequela, através da autossugestão, ou do efeito placebo, ou de algum meio que pudesse caracterizar a cura como espontânea, ou seja, sem intervenção medicamentosa eficaz. Barbosa explica que esta falta de precisão se dá em parte devido ao conceito do que é cura e em parte pelas implicações éticas de uma pesquisa adequada para que tal verificação seja realizada, “como não oferecer um tratamento convencional de eficácia comprovada e expor o paciente ao risco de uma piora?” 5 Mas mesmo com a falta de uma análise que ela considere totalmente segura a ideia de que quanto mais um paciente se sente no controle da situação que vive, com percepção adequada dos sinais e sintomas de sua doença, melhor é a resposta ao tratamento é admitida. “Além disso, o sistema imunológico é 4 Entrevista realizada com a psiquiatra Michele Barbosa, através de e-mail no dia 13 de setembro de 2013. 5 Entrevista realizada com a psiquiatra Michele Barbosa, através de e-mail no dia 13 de setembro de 2013. 15 claramente influenciado pelo psiquismo, donde a crença de que um psiquismo saudável leva a um organismo também saudável” 6 Também podemos encontrar menção a cura espontânea em uma reportagem da revista GEO em que foi discutido o tema Milagre. Na referida matéria foram apresentados alguns dados, dentre eles o de que cerca de 20 a 30 estudos de casos de curas repentinas são publicados em revistas médicas especializadas. O que é denominado pelos médicos como remissão espontânea, ou seja, regresso da doença sem qualquer tratamento médico, ou por meio de terapias sem valor reconhecido pela ciência.7 Mas os médicos que participaram desta reportagem levantaram algumas questões a fim de considerar que esta cura é fisiológica e não milagrosa. O processo de cura de um câncer, por exemplo, tem uma explicação denominada teoria das infecções. De acordo com esta tese o processo de cura poderia ter inicio a partir de uma infecção febril causada por vírus ou bactérias, onde os mecanismos de defesa do corpo poderiam atacar os agentes patogênicos e, de alguma forma, também o tumor. Esse processo poderia incluir defesas do próprio organismo, como as chamadas citosinas, moléculas capazes de inibir o crescimento de células cancerosas. 8 Além disso, diversas outras teorias são apresentadas para este tipo de cura, como, transfusão de sangue ou influências hormonais são cogitadas como “gatilho” para que este processo ocorra. Dietas e mecanismos psicológicos também devem ser levados em consideração. Porém é mencionado na reportagem que até o momento nenhuma dessas possibilidades levou a explicações garantidas do por que e como as remissões ocorrem.9 Portanto o fato é que as curas espontâneas ocorrem, mas o fator que desencadeia este fenômeno ainda é motivo de discussão e de especulação cientifica e religiosa, com diversas teorias e tentativas de explicar algo que ainda intriga a comunidade médica. 6 Entrevista realizada com a psiquiatra Michele Barbosa, através de e-mail no dia 13 de setembro de 2013. 7 Revista Geo, edição 48, página 34. 8 Revista Geo, edição 48, página 34 9 Revista Geo, edição 48, página 34 16 1.3– Saúde x Doença Outro aspecto importante é que exista a compreensão do conceito de saúde e de doença, afinal de contas estes aspectos precisam estar bem definidos para que não haja confusão em relação a um individuo saudável e um não saudável, facilitando assim o entendimento do que é a cura, e em quais circunstâncias ela pode ser definida. Vamos começar este capítulo com a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) que compreende saúde como mais do que apenas a ausência de doença. Portanto para que uma pessoa seja considerada saudável é necessário que ela viva em uma situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. Porém existem controvérsias em relação a esta definição que é considerada por muitos como ultrapassada. Para Marco Segre, autor do artigo O conceito de Saúde, da Revista de Saúde Pública, esta definição não pode ser considerada correta, pois “trata-se de definição irreal porque, aludindo ao “perfeito bem-estar”, coloca uma utopia. O que é “perfeito bem-estar”? É por acaso possível caracterizar-se a “perfeição”?”. (SEGRE, 1997, p.3). Para fundamentar este conceito Marco menciona Freud com o intuito de demonstrar que a perfeita felicidade de um indivíduo dentro da civilização constitui algo impossível. Ele explica que Freud acreditava que os homens tinham feito um pacto entre si, trocando uma parcela da liberdade pulsional por um pouco de segurança. Desta forma, a própria organização social e a condição mesma da existência do homem em grupos baseiam-se em uma renúncia que, ainda que assegure ao indivíduo certos benefícios, gera um constante sentimento de “mal-estar”. (FREUD, apud, SEGRE, 1997, p.3). Segundo a linha de raciocínio deste autor quando se observa em alguém um estado de hiper- adaptação mental é provável que o sujeito esteja com a vida psíquica empobrecida. “Sua vida onírica e de fantasia parece amortecida, do que resulta um rebaixamento da criatividade e do potencial de intervenção sobre a realidade, no sentido de transformá-la.” (SEGRE, 1997, p.3). Portanto estes sujeitos que não contam com uma proteção da vida psíquica capaz de oferecer sustentação para o enfrentamento de acontecimentos 17 traumáticos, logo são os mais propensos à somatizar. Marco explica isto usando a teoria do MARTY, autor de psichosomatique de 1980, que comenta que certas doenças são verdadeiras expressões do inconsciente manifestadas de forma primitiva, isto é, decorrentes da insuficiência fantasmática do sujeito. “Assim, ao invés do sujeito produzir um sintoma psíquico e simbólico, como ocorre no caso da neurose, ele tende a responder ao excesso de excitação que não pode elaborar utilizando o corpo real.” (SEGRE, 1997, p.4). Então podemos compreender que o estilo e o ritmo de vida do sujeito, impostos pela cultura, a modalidade da organização do trabalho, a vida nas metrópoles, entre tantos outros fatores, podem causar um impacto na vida da pessoa, inclusive na saúde física. Déjours (1980) tem nos trazido grandes contribuições, analisando as formas de organização do trabalho que impedem o trabalhador de manter seu funcionamento mental pleno, tendo assim de lançar mão de um processo de repressão da vida fantasmática que o induz a responder à excitação através da somatização. (SEGRE, 1997, p.4). Logo podemos compreender que a doença somática seria apenas uma via a mais para externar a turbulência afetiva, tendo sido essa via inconscientemente buscada pelo sujeito, incapaz de harmonizar os seus conflitos interiores. O autor exemplifica que uma pessoa muito nervosa, e que repreende esta agressividade, sem encontrar outra via de escape, pode explodir no plano somático, ou seja, no corpo real. Por isso, ele reforça que é importante tratar o doente e não a doença. Além disso, o médico também precisa ser apto a transmitir confiança para o paciente, o que facilita o vinculo afetivo e, portanto resulta em um prognóstico mais favorável na luta contra a doença. O vínculo afetivo, embutido de confiança recíproca, na dupla que empreende uma ação de saúde (profissional-cliente), a par dos aspectos cognitivos, técnicos e científicos, é decisivo para que se possa esperar a melhora do estado do cliente. (SEGRE, 1997, p.4). Porém, este é um desafio difícil de ser cumprido porque segundo o autor a medicina moderna é constituída de profissionais de saúde mal remunerados, logo desmotivados, o que torna difícil o estabelecimento de qualquer tipo de relação 18 afetiva com o cliente, Marco ainda afirma que esta relação é algo tão irreal quanto à expectativa de “perfeito” bem-estar da Organização Mundial de Saúde. Admite-se que assim seja, pelo menos em parte, cabendo à contrapartida à própria estrutura de personalidade do profissional, despreparado muitas vezes para o estabelecimento daquele tipo de vínculo. As restrições mencionadas absolutamente não desvalorizam as reflexões apresentadas. (SEGRE, 1997, p.4). Então dentro desta perspectiva podemos classificar qualidade de vida como algo intrínseco, que deve ser avaliado individualmente, podendo variar de pessoa para pessoa. Marco pontua este conceito com a seguinte afirmação “Não há rótulos de “boa” ou “má” qualidade de vida, embora, a saúde pública, para a elaboração de suas políticas necessite de “indicadores”.” (BION apud SEGRE, 1997, p. 5). Neste artigo o conceito de doença também é questionado, já que nesta linha de raciocínio, doença seria apenas um conceito estatístico e o sofrimento algo relativo, podendo variar de acordo com a perspectiva de cada individuo. O que é o doente? Um ser humano diferente, que talvez tenha sua vida encurtada. O que é o sofrimento? É dor, inteiramente subjetiva, qualquer que seja a sua origem. O tratamento de uma doença, qualquer que seja ela apenas será legítimo (e,consequentemente, ético), se o “doente” manifestar vontade de ser ajudado. (SEGRE, 1997, p.5). De acordo com este princípio a autonomia do sujeito não pode ser negada, ou seja, deve ser levado em consideração que o bom para um pode não ser satisfatório para outro, um individuo pode preferir conviver com determinada enfermidade a ter que ser submetido a um tratamento que em alguns casos pode ser doloroso e com poucas chances de êxito. Uma pessoa que optaria pelo tratamento poderia imaginar que o outro que não fez a mesma escolha estivesse desistindo de viver ou que ele não tinha motivos para lutar, quando, no entanto este conceito não pode ser considerado verdadeiro, tendo em vista que os parâmetros de saúde e de doença variam de acordo com a realidade de cada um, e de acordo com o que cada um compreende como um estado de vida saudável. E isso nos leva novamente a questão da qualidade de vida, e a dificuldade de encontrar uma definição para este conceito que seja capaz que abranger a todos. 19 Poderá alguém afirmar que um portador de colostomia, consequente a uma cirurgia de câncer intestinal, tem qualidade de vida pior do que um seguidor obsessivo de regras religiosas, intimidado perenemente por um Deus que lhe foi inculcado, independentemente de sua vontade? (SEGRE, 1997, p.5). Marco ainda questiona se alguém, pelo simples fato de não ter recursos para se alimentar de acordo com nossos padrões, pode ser considerado com uma qualidade de vida inferior a de uma pessoa bem alimentada? O destaque à autonomia do ser humano, em que supostamente existe uma “vontade”, fazendo parte de uma “psyche” (alma) que transcende ao próprio ambiente sociocultural e mesmo à sua bagagem genética, talvez dê uma condição melhor de entender a virtual ineficácia de políticas de saúde em determinados casos e circunstâncias. (SEGRE, 1997, p.6). Para concluir Marco sugere que saúde seria um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade. 20 CAPÍTULO 2 O poder curativo da mente 2.1 – Pensamento positivo Neste capítulo veremos o poder do pensamento positivo de um ponto de vista científico, tanto para o desenvolvimento de doenças como para a cura. Russel Norman Champlin, autor de “Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia”, explica que as nossas emoções podem contribuir para que um quadro de problemas de saúde se instale, ou seja, muitas enfermidades físicas têm causas mentais. Ainda segundo Russel, os sentimentos negativos são fatores que contribuem para o aparecimento de enfermidades, “poderíamos frisar emoções negativas como o ódio, a hostilidade e a ansiedade”. (Champlin, 2002, p. 1035). Portanto para Russel, a correção do estado da alma leva a cura física. A mente ainda guarda alguns mistérios, coisas que a ciência ainda não foi capaz de explicar, contudo já foi descoberto que ela pode trabalhar contra ou a favor do indivíduo. No caso de uma enfermidade a mente pode ativar o sistema imunológico e produzir uma consequente melhora no quadro clínico, levando o paciente à cura espontânea. E este poder curativo da mente é acessível a todo aquele que condicionar o pensamento de maneira positiva, segundo o autor do livro Amor Medicina e Milagres, Bernie S. Siegel “O poder da mente se encontra sempre à disposição, e seu espaço de manobra mostra-se maior antes da ameaça de um desastre” (SIEGEL, 1989, p. 6). E este processo é livre de qualquer tipo de submissão a denominações de ordem religiosa ou psicológica em particular, basta que indivíduo desenvolva a capacidade de amar a vida e lutar por ela. “A capacidade de nos amarmos, juntamente com a de amar a vida, aceitando por inteiro que ela não dura para sempre, permite melhorar sua qualidade.” (SIEGEL, 1989, p. 6). O autor acredita que o papel dele como cirurgião é ganhar tempo para que as pessoas possam se curar por elas mesmas. “Procuro ajudá-las a ficar bem e, ao mesmo tempo, compreender por que adoeceram. A partir daí, poderão obter uma verdadeira cura e não uma simples reversão de determinada moléstia.” (SIEGEL, 1989, p. 6.). 21 Outro livro que fala sobre o poder curativo da mente é o A Cura Quântica: O poder da mente e da consciência na busca da saúde integral, do Dr. Deepak Chopra, para este autor a cura é viva, complexa e holística. Lidamos com ela presos a nossos meios limitados e ela parece obedecer a nossos limites. Mas quando acontece alguma coisa estranha, como um câncer avançado que desaparece súbita e misteriosamente, frustra-se a teoria médica. Nossos limites parecem, então, muito artificiais. (CHOPRA, 1989, p.10). Deepak conta que já atendeu diversos pacientes que tinham um estágio avançado de câncer e que sararam completamente depois de considerados incuráveis, com prognóstico de poucos meses de vida, porém ele descarta a hipótese de milagre e acredita que este processo é puramente mental. “achei que eram a prova de quer a mente pode aprofundar-se o suficiente para mudar os próprios modelos que formam o corpo.” (CHOPRA, 1989, p.10). Para Deepak a dúvida em relação à cura através do poder mental se dá ao fato de a ciência ter base física sólida e, portanto convincente aos olhos de qualquer médico, já o poder da mente não dispõe destas características. 2.2 – Efeito placebo e convencimento mental O efeito placebo é outro aspecto que pode exercer influência no processo de cura espontânea. A psiquiatra Michele Barbosa entrevistada pela autora deste trabalho define efeito placebo como uma situação de piora, melhora surgimento ou cessação de sintomas a partir de uma intervenção, medicamentosa ou não, sem que a mesma apresente ação específica sobre os mesmos. Ela explica que este processo sempre funciona a partir de reflexos incondicionados e ressalta que deve haver uma crença por parte do paciente sobre a intervenção a que será submetido, e é esta crença que influencia o sistema nervoso. A partir desta influência, vários podem ser os desdobramentos, resultando inclusive no referido efeito placebo. Ridicularizado durante uns vinte anos pela instituição médica, o efeito placebo – pelo qual entre um quarto e um terço dos pacientes apresentam melhoras por acreditarem que estão tomando medicamento eficaz, ainda que o comprimido não contenha nenhuma substância ativa – hoje é plenamente reconhecido. (SIEGEL, 1989, p. 22.). 22 Portanto, o efeito placebo também é um exemplo de cura psicológica, que engana a mente para que ela acredite que o alívio chegou, e assim envie mensagem para o corpo que reage de acordo com o estímulo positivo. Este processo é baseado na teoria de que casos de cura podem acontecer se a pessoa acreditar na eficácia do método, ou confiar em um terapeuta, ou em alguém que esteja desenvolvendo um tratamento. Na medicina e na psiquiatria estes casos são conhecidos como transferência positiva podendo também acontecer o contrário, no caso da piora do quadro clínico ou do desenvolvimento de uma doença, denomina-se então transferência negativa. Bernie (2005), autor de Amor, Medicina e Milagres, explica que a “medicina primitiva” era especialista em efeito placebo, uma vez que ainda não dispunham de muitos recursos terapêuticos para cura, então a solução eram os rituais que tinham a capacidade de estimular a confiança do paciente e terminavam por surtir efeito. Esta dinâmica também pode ser considerada placebo. A fé na cura se assenta na crença do doente num poder superior e na capacidade do curandeiro para servir de intermediário. Por vezes, basta como condutor de transmissão um mero artefato ou a relíquia de um santo. Para um católico, uma garrafa com a etiqueta de água benta de Lourdes tem propriedades curativas, ainda que ela só contenha água da torneira. (GEISLER, 2002, p. 228). Pode-se afirmar que efeito placebo está intimamente ligado à confiança do paciente no médico, o Bernie relata em seu livro um estudo realizado pelo psiquiatra Jerome Frank, da Universidade John Hopkins, que confirma esta afirmação. Hopkins encontrou provas para esta tese ao estudar 98 pacientes operados de deslocamento de retina. “Depois de avaliar a independência, o otimismo e a fé de cada doente em seu respectivo médico, verificou que os mais confiantes se curavam mais depressa que os outros.” (SIEGEL, 1989, p. 22.). O processo de convencimento mental, que pode ser denominado como sugestão e funciona quando a pessoa passa por um processo de convencimento mental de estar curada, na maioria das vezes isso acontece de forma inconsciente, através de um processo de autoconvencimento de que a doença não existe. 23 Neuróticos e histéricos frequentemente se aliviarão de seus sintomas pelas sugestões e pelo ministério de curandeiros carismáticos. É tratando desses tipos que os curandeiros afirmam suas vitórias mais dramáticas (GEISLER, 2002, p.228). Muitas pessoas podem ser capazes de realizar uma cura psicológica sem que isso tenha qualquer tipo de ligação com milagre, uma vez que o milagre se trata de algo que contraria as leis naturais. Porém esta capacidade da mente em desenvolver um mecanismo de cura, não deixa de ser algo extraordinário. Já que Deus nos criou como unidades de mente e corpo, ele deve receber a glória quando essa relação maravilhosa da mente afetando o corpo é usada para trazer cura. Mas é um exagero sério considerar essas curas sobrenaturais (GEISLER, 2002, p.229). Portanto o efeito placebo é algo comprovado e eficaz em determinados casos, bem como o pensamento de que o tratamento irá resultar em algo positivo. 24 CAPÍTULO 3 O Milagre 3.1 - Definição de Milagre Vamos abrir este capítulo com o conceito da palavra milagre, o que é importante para evitar que o milagre seja confundido com outros fenômenos. Segundo o Dicionário Didático (2008) é um fato que não pode ser explicado pelas leis da ciência ou da natureza e que se considera realizado por intervenção divina ou sobrenatural. Para o Padre Lucas Rosa da Silva, que é vigário da Paróquia Matriz de, São José dos Campos – SP, o milagre pode ser compreendido como uma intervenção extraordinária de Deus em vista do bem de uma pessoa alterando determinada imperfeição, como por exemplo, uma cura, ou provocando fenômenos extraordinários, casos de alucinações coletivas, por exemplo. 10 Alberto Gobbo Júnior, que cuida do Relicário do P. Rodolfo em São José dos Campos - SP, e é secretário do Postulador Geral da causa do P. Rodolfo Komorek, em Roma, Don Pierluigi Cameroni SDB, é uma autoridade no assunto, e concorda com a opinião do padre Lucas, que afirma que o milagre é uma intervenção divina, porém explica que para um caso de cura ser aceito como milagre, é necessário que passe por um crivo criterioso, que envolve personalidades ligadas diretamente a ciência.11 O representante da igreja protestante, pastor Batista Max Souza, define milagre como uma ação sobrenatural que beneficia uma pessoa ou situação. Ele defende que desde que a cura tenha sido realizada pelo nome de Jesus, ela pode ser considerada uma intervenção divina, ou seja, um milagre. Para Max, a cura veio pelo sangue de Jesus Cristo na cruz. “A palavra diz que por causa das suas pisaduras nós somos sarados”. 12 De acordo com a Bíblia, o milagre é um prodígio religioso, uma obra de poder, um sinal dirigido por Deus. Especialmente nos Evangelhos, é considerado 10 Dados colhidos durante entrevista realizada pela autora deste projeto, no dia 12 de outubro de 2013. 11 Entrevista realizada pela autora deste projeto no dia 12 de outubro de 2013. 12 Entrevista realizada pela autora deste projeto no dia 7 de outubro de 2013, através de e-mail. 25 como sinal, isto é, como “palavra plástica” de Deus que interpela o homem e o ajuda a proferir um ato de fé na mensagem transmitida por Cristo. Ou seja, os milagres são sinais divinos que não podem acontecer separados ou isolados da Revelação de Deus à qual pertencem e que expressam.13 Definido o conceito de milagre podemos partir para o próximo capítulo, que visa aprofundar a compreensão deste fenômeno extraordinário. 3.2 – Contexto histórico Este capítulo irá retratar o milagre em um conceito histórico e social, para que a compreensão deste fenômeno fique mais evidente. O autor que será usado como fonte principal para as questões que serão apresentadas neste capítulo é o psiquiatra Miguel Chalub. Vamos começar com as questões culturais que permeiam este fenômeno. Um aspecto importante e que irá facilitar a compreensão e afeição a este tema, pois irá permitir a captação dor termos utilizados e trará a luz a origem histórica de determinados pensamentos. “Na cultura ocidental cristã, as primeiras ideias do milagre estão na bíblia, principalmente no Antigo Testamento. O milagre é sempre mostrado como um sinal, um fenômeno, um testemunho.” (CHALUB, 1999, p. 6). De acordo com esta afirmação a bíblia seria o principal livro donde os cristãos extraem os conceitos e as definições do que pode ou ser considerado um milagre, portanto para o cristianismo este livro tem valor histórico capaz de sustentar a fé das duas religiões que serão o alvo deste projeto, a católica e a protestante, é a partir do testemunho bíblico que ocorre a evolução da compreensão teológica de milagre. 14 Para ambas, o milagre ocorre por intervenção Divina, sendo esta a única fonte capaz operar maravilhas, a diferença é que os fiéis católicos creem que os santos, podem agir como intercessores junto a Deus, que seria o operante do milagre. 13 Material publicado em Teocomunicação 142 (2003) 881 - 894. 14 Material publicado em Teocomunicação 142 (2003) 881 - 894. 26 Intervenção divina é toda ação de Deus no mundo e na vida do justo, como providência e graça. Os milagres são uma intervenção extraordinária. Somente Deus realiza os milagres. Os santos intercedem a Ele, mas é Ele que age. Uma pessoa (já falecida ou em vida ainda) que está em comunhão com Deus pode ser instrumento Dele para uma intervenção extraordinária do mesmo (milagre). Tal pessoa foi um intercessor.15 Chalub explica que no Cristianismo, o milagre é sempre visto como um sinal de Deus e da ligação que ele tem com o mundo, porém o Judaísmo divide este fenômeno. “Curiosamente, em uma das origens do nosso pensamento – que é o Judaísmo, o pensamento rabínico-, dividiram-se os milagres em ocultos e revelados (ou reveladores).” (CHALUB, 1999, p. 6). O judaísmo não é o foco principal a ser estudado, mas é importante que o ponto de vista desta doutrina seja conceituado para que possamos compreender as diferenças e o momento em que elas divergem. Para os judeus, o milagre verdadeiro é milagre oculto, que está ligado ao fenômeno da vida, do Universo, do cotidiano. Segundo o autor no pensamento judaico e rabínico o simples fato do ser humano sobreviver diante de tanta adversidade, e se multiplicar já pode ser considerado um milagre. O milagre do cotidiano, milagre da simples existência que o Judaísmo chama de milagre oculto, e que para eles compreende o verdadeiro milagre. Porém o imaginário popular não corresponde a esta descrição, e está mais acostumado a associar este fenômeno a algo maravilhoso e inusitado, capaz de causar reações espantosas nas pessoas. Se perguntarmos a uma pessoa que não está muito preocupada com o assunto o que é um milagre, dificilmente vai dizer que milagre é estar vivo. Ou que milagre é o sol a nos proporcionar luz e calor, permitindo que possamos existir. Ela vai mencionar fenômenos portentosos, extraordinários, que é a ideia comum. (CHALUB, 1999, p.7). Mas o Tamulde judaico que compreende as obras rabínicas orienta que a fé não precisa do milagre para ser provada. Segundo Chalub, os judeus acreditam que pessoas que precisam de milagres para comprovação da fé, têm na verdade uma imaturidade nesta área, para eles a fé dispensa completamente o milagre, ou 15 Entrevista realizada no dia 12 de outubro com o Pe. Lucas Rosa da Silva. 27 seja, segundo eles o milagre é um acontecimento que nada tem a ver com a fé. O autor explica que esta ideia passou para o Cristianismo, mas teve uma bifurcação. Dentro do Cristianismo, a primeira ideia é que o milagre cotidiano, o milagre oculto, é um pouco esquecido, e passa a ser milagre o fato extraordinário, a intervenção e a revelação de Deus. Deus não só intervém na natureza, como também se revela através dessa intervenção. Ou seja, o milagre é um demonstrativo da presença e da intervenção de Deus. (CHALUB, 1999, p.7). Isso significa, segundo o autor, que para os cristãos o milagre é um demonstrativo da presença e da intervenção de Deus. Mas nem todo fato extraordinário pode ser aceito como uma intervenção Divina. Esta distinção foi estabelecida na era patrística, ou seja, durante os primeiros sete séculos, onde os Padres ou Pais da Igreja foram os primeiros teóricos a elaborar a filosofia cristã, estabelecendo critérios em defesa da fé do Cristianismo, inclusive na distinção do milagre e do prodígio, que é o que veremos no próximo tópico. 3.3 – Milagre x prodígio Neste tópico veremos o que os padres da Igreja, os pensadores do primeiro século da Era Cristã estabeleceram a fim de distinguir a verdadeira intervenção de Deus, o milagre. Dr. Miguel Chalub, explica que para um fato ser considerado milagroso é preciso estar de acordo com o caráter Divino, ou seja, o milagre não pode ser um prodígio, não pode causar sério abalo na natureza porque não seria simplesmente a expressão do arbítrio de Deus. É como se Deus quisesse provar a sua força e fosse capaz de derrogar a lei da natureza simplesmente para mostrar que ele é Deus, é o Todo-Poderoso. Isso, se ocorresse, seria um prodígio – explicações ainda misteriosas, mas não ligadas à divindade. Então, para ser um milagre, tem de corresponder ao que chamamos o caráter de Deus, ou à personalidade de Deus. Deus não é um mágico, não é um prestidigitador que faz maravilhas pata homens ficarem impressionados. (CHALUB, 1999, p.7). Este conceito já representa um bom ponto de partida para distinguir o milagre do prodígio, mas não para por ai, apenas estes critérios poderiam ficar vagos, então mais pontos foram acrescidos. Segundo Chalub, o milagre precisa estar de acordo com o que a bíblia mostra, já que este é o livro usado como base 28 pelos cristãos. “O milagre só tem sentido se ensinar uma verdade. Os milagres do Novo Testamento, do Evangelho, são assim.” (CHALUB, 1999, p.7). Chalub destaca que Jesus não realizava milagres para mostrar o que era capaz de fazer, ou para que outras pessoas o idolatrassem, mas para transmitir uma verdade. Ele foi o transmissor de uma verdade, algumas já conhecidas do Antigo Testamento, e outras estabelecidas pela nova fé, através da instauração do Cristianismo, mas sempre em harmonia com o já estabelecido. Os milagres têm que estar em harmonia com coisas já estabelecidas, tanto no sentido natural quanto no sobrenatural ou no preternatural. O milagre não pode estar totalmente em contradição com o que já está estabelecido. Teria que haver uma adequação aos fins religiosos. (CHALUB, 1999, p.8). Portanto para Chalub, o milagre não pode ser algo sem fundamento, que não leve a lugar nenhum. Precisa ter benefícios para que o processo de salvação segundo a religião aconteça. Se estes benefícios não forem encontrados, não estaremos diante de um milagre, mas talvez de um prodígio. Outro aspecto importante é que o milagre não é propriamente uma anulação das leis naturais, porque elas não podem ser anuladas. Para Chalub o milagre seria uma suspensão episódica dessas leis, o que levaria a ultrapassagem de qualquer força criada, ou seja, todos os fenômenos que podem ser explicados por algum tipo de força criada, uma força natural, não podem ser considerados milagre. Em sua essência, teria que ultrapassar forças criadas. Se as quatro forças fundamentais da física – o eletromagnetismo, a gravitação, a atração forte e atração fraca – pudessem explicar o fenômeno, ele não teria ultrapassado forças criadas e, por isso, não seria um milagre. Poderia ser um fenômeno não explicado, um fenômeno cuja causalidade ainda está oculta, mas não seria milagre. (CHALUB, 1999, p.8). Porém ainda é preciso levar em consideração outros dois fenômenos, que são os chamados paranormais e os preternormais. Chalub explica a diferença entre os dois “Os fenômenos paranormais seriam fenômenos extraordinários, mas ainda dentro das forças naturais, aquilo que é estudado pela parapsicologia, que tenta obter um status de ciência, mas ainda não conseguiu” (CHALUB, 1999, p.8). Mas embora exista esta pretensão o autor descarta esta possibilidade porque segundo ele estes fenômenos paranormais já são estudados por cientistas 29 sérios, que podem chegar a conclusão que ou se tratam de fenômenos psicológicos, portanto não precisariam de uma nova ciência, ou seria um embuste, de “feitiçaria”. Desta forma ele não consideraria ciência. 3.4 - Santo Agostinho e Santo Tomás Agora que o milagre já foi conceituado vamos abordar duas linhas de pensamento teológico, para ver como estas explicações podem ser associadas a alguns aspectos psicológicos. Estes pensadores serão o Santo Tomás e o Santo Agostinho. Para o catolicismo, Santo Tomás é o principal pensador a respeito dos milagres. Ele retoma algumas ideias de Santo Agostinho, que tentava fazer uma ligação entre a filosofia grega platônica e o Cristianismo, porém muda a direção do conceito de milagre. “Santo Tomás deixa de ver o milagre como uma semiologia, tal qual era para Santo Agostinho, para vê-lo sob uma forma de metafísica, no sentido aristotélico, além da natureza, além da física.” (CHALUB, 1999, p.10). Ou seja, Santo Tomás deixa de tentar encontrar respostas e acredita que este fenômeno está além da nossa compreensão, ele reforça ainda que o milagre é uma singularidade da ação divina, é uma ação de Deus e uma expressão da sua onipotência. Já Santo Agostinho tem um pensamento que se aproxima mais da linha de raciocínio da psicologia, compreendendo Deus de uma maneira diferente da que Santo Tomás compreende. Para ele a ação divina está presente em cada ente, portanto nós seríamos mais que objetos para que Deus opere milagres, nós também teríamos participação na operação divina. Ou seja, o milagre, despido do aspecto sobrenatural, seria uma ação humana que em sua autonomia acompanharia a intervenção divina. Haveria dois momentos: o primeiro, em que Deus resolve intervir sobre a natureza por razões que só pertencem a sua consciência, mas do qual o ser humano também participa como ser que tem sua razão, seu livre arbítrio. Ele não é simplesmente um móvel que Deus manipula, mas tem mobilidade própria, movimento próprio. Sem essa intervenção do ser humano, sem a sua cooperação, o milagre não ocorreria. (CHALUB, 1999, p.10). No pensamento agostiniano, Deus não violenta a natureza, e não vai contra ela, ou seja, como nós também somos parte desta natureza, o ser humano 30 precisaria acompanhar Deus para que o milagre acontecesse. “A causa segunda, que somos nós, participa também. É claro que estou falando dos chamados milagres em que o ser humano está envolvido diretamente, aqueles que nos interessam, como a cura de doenças, por exemplo.” (CHALUB, 1999, p.10). Esta explicação se encaixa nos casos de milagres em que o ser humano está intimamente ligado, como mencionado a cima nos casos de cura. Já nos casos de milagres relacionados somente à natureza a explicação ainda é discutível, inclusive pela psicologia. “De qualquer maneira, isso seria um sucesso de acontecimento, fora da ordem comum da natureza, mas é preciso frisar: sempre com a participação do ser humano como causa segunda.” (CHALUB, 1999, p.10). O que também merece destaque nesta questão de milagres e da igreja católica são os santos, que teriam o poder para realização de maravilhas. Chalun levanta um questionamento quanto a estes que intercedem junto a Deus em nosso favor, segundo ele os santos antigos são esquecidos e por isso não fazem mais milagres, deixando todo o mérito para os santos atuais que são os que realizam o maior número de milagres, mas além dos atuais e dos antigos, existem os santos duradouros, como o Santo Antônio, que realiza supostos milagres com frequência. Esta será a discussão do tópico a seguir. 3.5 – Santos antigos x Santos atuais O fato de os santos atuais realizarem mais milagres que os antigos, segundo Chalub, se deve a um fator estritamente psicológico, que é conhecido como fenômeno de divulgação, do conhecimento, onde segundo esta teoria, as pessoas depositariam mais expectativas em algo conhecido por elas, descartando o desconhecido. O que revelaria que de certa forma o ser humano seria de fato a segunda causa do milagre. Se uma moça pede a Santo Antônio por um marido, e tem o pedido atendido, o mérito é dela, mas a convicção de que o Santo iria conceder este milagre ajudou a impulsionar esta realização. “É o ser humano que é miraculoso, ele participa desse milagre, dessa ação divina. Talvez, sem ele, a ação divina não ocorresse.” (CHALUB, 1999, p.11). 31 Com a inauguração da ciência moderna, este pensamento se tornou ainda mais agudo, com o surgimento de alguns pensadores, como por exemplo, Spinoza, que aproximava os desígnios de Deus da lei da natureza. Para este pensador não haveria nada de extraordinário no milagre, uma vez que Deus e a natureza seriam a mesma coisa. Neste pensamento podemos inclusive afirmar que os milagres não existem, já que pertenceriam ao próprio mundo natural. Hume é outro pensador, que acabou contribuindo de alguma forma para a psicologia. Ele explica que quando pensamos em milagre, há uma tensão entre o testemunho de outra pessoa e a experiência que nós mesmos vivenciamos. Ainda segundo este pensador o milagre só teria sentido quando a experiência fosse pessoal, não bastando o testemunho do próximo. Por isso tantas pessoas tem fé e outras tantas desdenham de acontecimentos supostamente milagrosos. Esta questão fica ainda mais latente nos casos de curas miraculosas. Por mais que os processos de Fátima, principalmente de Lourdes, que são os mais conhecidos, sejam muito rigorosos, levados a sério, algumas pessoas continuam absolutamente céticas. Não acreditam naquilo. Não adianta vir com demonstrações feitas de maneira rigorosa, que elas não acreditam. Quer dizer, é preciso que haja uma experiência própria. Não basta o testemunho. Isso foi dito por Hume, que nada tem a ver com a teologia, e sim com filosofia, mas que deixou essa contribuição. (CHALUB, 1999, p.11). Esta teoria demonstra que o milagre está intimamente ligado ao ser humano e para que haja uma cura, por exemplo, seria necessário que a pessoa estivesse de acordo com este fator, só assim ele poderia acontecer, caso contrário não. Então, chegamos ao ponto que vamos denominar milagre, especialmente como fenômeno humano, que segundo Miguel, seria um fato que não revogou a lei da natureza, mas sim que poderia ocorrer, não ocorre habitualmente, mas existe uma chance que ocorra. Mas Alberto Gobbo Júnior tem outra explicação para a questão dos santos, segundo ele, que trabalha para que o Padre Rodolfo receba o título de santo, o intercessor precisa ser conhecido para que as pessoas façam pedidos à ele, se não for, não farão, e consequentemente não terão as causas alcançadas por intermédio do santo desconhecido. 16 16 Entrevista realizada pela autora deste projeto no dia 12 de outubro de 2013. 32 3.6 – Os milagres para o Vaticano Neste capítulo iremos compreender como o Vaticano encara esta questão, e como é o critério de avaliação para confirmar ou descartar um milagre. Em Roma, um órgão do Vaticano exige provas de milagres desde 1588, antes que um morto ou um candidato à canonização possa ser beatificado. Até 2005, os papas criaram 784 santos, 650 deles no século 20, e desses, 482 somente no pontificado de João Paulo II (1978-2005). Acrescentando-se as 1338 beatificações, isso eleva o número de milagres oficialmente reconhecidos neste papado para 1820. Porém para que um caso seja considerado milagre pelo Vaticano, é preciso que antes passe por um crivo, que envolve uma investigação criteriosa por peritos científicos e teólogos. Segundo a Igreja, a maioria dos supostos milagres está relacionada à cura de alguma enfermidade grave. “para que a recuperação seja qualificada como divina, primeiro o doente precisa ter sido desenganado pelos médicos e, depois, completamente curado.” (TAMANINI, 2013, internet). O processo de reconhecimento de um santo começa com uma detalhada — e exaustiva — investigação sobre a vida do “candidato”, e só depois de comprovar a sua virtuosidade e que ele tenha realizado pelo menos dois milagres após a sua morte é que esse indivíduo é reconhecido como santo. (TAMANINI, 2013, internet). Além deste critério, a cura deve ocorrer de forma espontânea, e sem explicação cabível para o fenômeno. Outro ponto é que o doente deve ter recorrido à intercessão de um único santo, para que não haja confusão em relação à autoria do milagre. Portanto, o primeiro passo é uma investigação da vida do candidato a santo. Se for considerado virtuoso o suficiente, a pessoa é considerada ser um servo de Deus. Se apresentar níveis heroicos de virtude na sua vida, eles são considerados veneráveis. Para se tornarem santos, no entanto, eles precisam ter realizado dois milagres após a morte. O Padre Lucas Rosa da Silva17, explica que durante este processo buscase verificar e caracterizar o estado patológico anterior ao suposto milagre, 17 Dados colhidos durante entrevista realizada pela autora deste trabalho. 33 submeter depois o curado a exames médicos que comprovem ter sido impossível pela medicina alcançar aquela cura, e por vezes se espera determinado tempo para verificar se a cura persiste. Depois a Igreja emite um decreto afirmando o milagre. Mas com o avanço científico tecnológico, muitos fenômenos acabaram sendo explicados, o que fez com que a Igreja mudasse um pouco os critérios para a santificação. Assim, apesar de os milagres ainda serem tecnicamente necessários para qualificar um candidato como santo oficial, eles acabaram perdendo um pouco a sua força. Em vez disso, hoje em dia a “santidade” em vida — que serviu para inspirar e ajudar os fiéis enquanto o candidato ainda estava entre nós — acabou se tornando um importante fator de influência na decisão do Vaticano. (TAMANINI, 2013, internet). O papa João Paulo II, também contribuiu para facilitar a coprovação destes milagres, reduzindo o número de milagres oficiais necessários, de três para dois. O que mesmo assim ainda é considerado um processo criterioso. O senhor Alberto Gobbo Júnior, é irmão salesiano e ser secretário do Postulador Geral da causa do P. Rodolfo Komorek, em Roma, Don Pierluigi Cameroni SDB, ele relata que mais de sete mil supostos milagres já foram registrados para o processo de santificação do padre Rodolfo, porém nenhum destes passou pelo crivo do Vaticano. 18 18 Entrevista realizada pela autora deste projeto, no dia 12 de outubro de 2013. 34 CAPÍTULO 4 Modalidade Após a definição do tema foi verificado que a melhor maneira de apresentar este projeto seria através de uma Grande Reportagem Impressa para revista, que irá permitir que fossem demonstrados o ponto de vista religioso e o científico em relação aos casos de cura espontânea, além disso, a reportagem impressa irá permitir a utilização de infográficos para facilitar a compreensão do leitor. . 4.1 A Reportagem Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari a reportagem é um gênero privilegiado, pois tem condições de explorar ao máximo a história e os seus personagens. Por isso, é a reportagem - onde se contam se narram as peripécias da atualidade - um gênero jornalístico privilegiado. Seja no jornal nosso de cada dia, na imprensa não cotidiana ou na televisão, ela se afirma como o lugar por excelência da narração jornalística. E é mesmo, a justo título, uma narrativa - com personagens, ação dramática e descrições de ambiente - separada, entretanto da literatura por seu compromisso com a objetividade informativa. (SODRÉ; FERRARI, 1986, p. 9). O objetivo da reportagem é se apronfundar no tema e trazer para o leitor o máximo de informações relacionadas ao assunto escolhido, de forma clara e precisa. Diferenciando da notícia que tende a ser mais factual. Qual a diferença entre notícia e reportagem? A primeira informa fatos de maneira mais objetiva e aponta as razões e efeitos. A segunda vai mais a fundo, faz investigações, comentários, levanta questões, discute, argumenta. (VILARINHO, 2013). Este projeto pretende contar a história de pessoas que passaram por um processo de cura espontânea. A modalidade será a grande reportagem para revista. Muniz Sodré e Ferrari relatam que a reportagem é o relato de um fato, não regido pelo imaginário, tendo então a necessidade de estar baseado em fatos (SODRÉ; FERRARI, 1986). 35 O desdobramento das clássicas perguntas a que a notícia pretende responder (que, o que, como, quando, onde, por quê) constituirá de pleno direito uma narrativa, não mais regida pelo imaginário, como na literatura de ficção, mas pela realidade factual do dia-a-dia, pelos pontos rítmicos do cotidiano que, discursivamente trabalhados, tornam-se reportagem. Esta é uma extensão da notícia e, por excelência, a forma-narrativa do veículo impresso (embora a entrevista, sobretudo o perfil, possa também, às vezes, assumir uma forma narrativa). A reportagem constitui, assim, basicamente, um dos gêneros jornalísticos. (GEISLER, 2002, p.231) 4.2- Jornalismo de Revista O jornalismo de revista permite certa parcialidade na abordagem do assunto escolhido e propicia uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto. O texto de cinco ou seis páginas de uma revista semanal não é neutro. Neutralidade é uma “pretensão” objetiva, comum no jornalismo diário. Imagine como a Folha de S. Paulo, por exemplo, escreveria sobre o assassinato de um conhecido traficante de drogas. Pelo menos em tese, a rapidez, a padronização e a busca de uma suposta neutralidade dariam o tom do texto. (Vila Boas,1996, p.14). No jornalismo de revista também é permito que o jornalista escolha o tom que vai dar na matéria, o que diferencia o jornalismo de revista e de jornal. Na revista é possível adotar um tom mais leve ou mais dramático, dependendo da linha editorial da mesma, ou do foco que a revista quer dar na reportagem. Na revista, o tom é uma escolha prévia de linguagem (humor, tragédia, drama, tensão etc). O tom da maioria dos textos de um jornal passa por uma suposta objetividade e isenção. (Vila Boas,1996, p.14). Como o tempo para analisar os fatos antes de escrever um texto para revista é maior, é possível e interessante para o leitor que seja feito pelo jornalista um levantamento histórico, explicando todo o contexto para quem estiver lendo a matéria, o que torna o texto mais interessante e agrega valor documental. A análise e a interpretação do fato não podem prescindir do tempo e do espaço. Não os dispense de seu projeto, esteja sempre bem informado. Não tenha apenas informações puras e simples. Depure e 36 compreenda o fato. A narrativa de um texto de revista é também um documento histórico. (Vila Boas, 1996, p.15). 4.3 - O texto do Jornalismo de Revista A linguagem utilizada na revista permite algumas brincadeiras com as palavras e desde que sem exageros valida expressões típicas de determinadas regiões, além disso, o uso das palavras pode ter um sentido conotativo, levando o leitor a pensar, e tornando a leitura menos densa. Para Vilas Boas o tempo da leitura permite esse jogo com as palavras, já que a leitura de uma revista não é rápida como a de um jornal diário. Na revista as palavras podem ser usadas não apenas com o sentido que lhes atribuem os dicionários. Às vezes, é até bastante indicado lançar mão de uma palavra que não está diretamente ligada ao objeto ou ser ao qual dá nome. No texto diário de jornal, o valor conotativo só é aceito em situações muito especiais, pois o jornalismo diário precisa da padronização e da velocidade para sobreviver. Além disso, o jornal diário é de leitura rápida, ao contrário da revista. (Vila Boas, 1996, p.18). Porém é bom estar atento e mesmo com essa permissividade de palavras variadas e fora da linguagem coloquial, é importante saber dosar e usar estes artifícios com moderação, sempre atento ao contexto, para que o texto não empobreça ou fique vago. Se a situação a ser narrada exige precisão, denominação concreta, denotativa, não pense duas vezes. Evite que o “vago” ocupe um “espaço”. A metáfora é um recurso que deve ser usado com moderação, domínio e gosto. (Vila Boas, 1996, p.19). O texto para revista também permite outro artifício muito eficaz, que é o confronto de ideias, onde duas pessoas com opiniões distintas sobre determinado assunto podem opinar e isso pode ser colocado em destaque para que o leitor decida qual o melhor argumento. Confrontar as ideias, por exemplo, é muito comum e eficaz no texto de revista, dependendo, obviamente, do contexto. Se quiser expor o pensamento de dois parlamentares de peso sobre uma questão polêmica, torne bem marcantes as posições políticas de cada um deles. Isso pode ser conseguido com frases de efeito ou 37 entrecortadas por palavras de fundo irônico, explícito ou não. (Vila Boas, 1996, p.19) É importante também que o texto tenha uma escrita clara e que caminhe com fluidez para o desfecho, o leitor não pode ficar perdido ou confuso em meio à reportagem. A objetividade é outro fator importante, palavras que não agregam nenhum tipo de valor a compreensão do que está sendo redigido podem ser cortadas. O importante é que ao longo do texto você conduza as informações para o fechamento, tão importante quanto a abertura. Lembre-se: há sempre uma chance de o leitor não “captar a mensagem”. Aquele que escreve com o objetivo oculto de “ouvir o texto” está, na verdade, se esforçando para obter uma harmoniosa melodia. O ritmo entra em compasso com a tônica. (Vila Boas, 1996, p.30 e 31). 38 CAPÍTULO 5 Metodologia 5.1- Definição da temática Antes de iniciar este trabalho foi necessário definir o tipo de pesquisa que melhor atenderia as necessidades para que o objetivo proposto fosse atingido. Para Antonio Carlos Gil, “o elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados” (GIL, 1985, p. 50). Serão realizadas entrevistas com representantes da ciência e da religião, a fim de coletar opiniões em relação a fenômenos de cura espontânea, além desses procedimentos, foi realizado o levantamento bibliográfico, a pesquisa exploratória e a pesquisa documental, a fim de dar cunho cientifico ao trabalho. Para Gil, “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos” (GIL, 1985, p. 26). O autor complementa que, com o desenvolvimento da pesquisa, o que antes era um questionamento teórico cede lugar a questões práticas. O delineamento ocupa-se precisamente do contraste entre a teoria e os fatos e sua forma é a de uma estratégia ou plano geral que determine as operações necessárias para fazê-lo. Constitui, pois, o delineamento a etapa em que o pesquisador passa a considerar a aplicação dos métodos discretos, ou seja, daqueles que proporcionam os meios técnicos para a investigação. (GIL, 1985, p. 49) Como ciência e religião são dois pontos de vista que divergem e que em alguns momentos parecem se fundir, foi necessário realizar um aprofundamento das teorias defendidas para explicação da cura espontânea. A conversa posterior com os representantes será fundamental para iniciar a grande reportagem impressa, que é a segunda parte deste trabalho. Considerando os dois principais tipos de pesquisa, a qualitativa e quantitativa, neste trabalho aplicou-se a pesquisa qualitativa, pois a intenção foi levantar histórias e fatos que aconteceram e desenvolver a reportagem partindo desses acontecimentos. Na pesquisa qualitativa questões e problemas para a pesquisa advêm de observações no mundo real, dilemas e questões. Elas são 39 formuladas como hipótese se – então (se variável dependente) derivadas da teoria. (MARSCHALL; ROSSMAN, 1989). Portanto como a parte prática do trabalho irá consistir em uma grande reportagem impressa para revista, será necessário que sejam captados personagens reais para permear a narrativa. 5.2- Pesquisa Bibliográfica Após definido o tema foi realizada uma pesquisa bibliográfica a fim de constatar a viabilidade ou não da temática deste projeto. Constatada a possibilidade do desenvolvimento deste assunto, teve início à pesquisa de autores que pudessem fundamentar este trabalho em todos os campos que a temática abrange, ou seja, no campo da ciência e da religião, além disso, foram exploradas algumas terminologias para que a compreensão se tornasse mais familiar, portanto foram pesquisados autores que definissem algumas terminologias, como saúde e doença. Neste trabalho a pesquisa bibliográfica serviu como meio para obter conhecimento sobre o assunto e para constatar que era possível o desenvolvimento de um projeto com a abordagem proposta inicialmente. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. [...] A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados senão com base em dados secundários. (GIL, 1985, p. 50) A primeira leitura foi Milagres a ciência confirma a fé de Oscar González Quevedo, que serviu como ponto de partida para o desenvolvimento do projeto. 5.3- Pesquisa Exploratória A pesquisa exploratória foi utilizada no início deste projeto com o intuito de tornar o tema mais familiar, através de uma sondagem do assunto, sendo realizada antes das demais pesquisas, com o intuito de verificar a consistência das ideias propostas neste trabalho. 40 Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. (GIL, 1985, p. 27) Então foi feito um levantamento bibliográfico de temas que abordassem cura espontânea, bem como conceitos de saúde e doença, além do ponto de vista da religião, buscando bibliografias que aproximassem este conceito e me dessem base para desenvolver o projeto. 5.4- Pesquisa Documental Realizada a pesquisa bibliográfica houve a necessidade de ampliar o campo de conhecimento, portanto a segunda etapa consistiu na pesquisa documental, que compreende os mesmos passos da pesquisa bibliográfica, porém são incluídas as análises documentais, de primeira e de segunda mão, tais como relatórios de pesquisas, relatórios de empresas, tabelas estatísticas, e outros. Existem, de um lado, os documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc. De outro lado, existem os documentos de segunda mão, que de alguma forma já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas etc. (GIL, 1985, p. 51) No caso deste projeto foram utilizadas revistas científicas e conteúdos de sites que continham entrevistas com pessoas relacionadas com o tema proposto. 5.5- Personagens Os personagens escolhidos para este trabalho foram uma psiquiatra, um padre, um pastor, e um irmão salesiano, que além de coordenar a catequese de adultos na Sagrada Família, cuida do Relicário do P. Rodolfo Komorek, e é secretário do Postulador Geral da causa do Padre Rodolfo. 41 5.6 – Pauta As entrevistas com o Padre, o Pastor, e a Psiquiatra foram realizadas através de correio eletrônico, já a entrevista com o irmão salesiano, foi presencial, parcialmente gravada e parcialmente anotada, devido a uma falha técnica apresentada pelo aparelho que estava sendo utilizado. 5.7 – Cronograma JAN FEV MAR ABR X X X X X X X X X X 2013 Pesquisa Bibliográfica Coleta de dados MAI JUN X X JUL AGO SET OUT X X X X X X X X X X NOV Elaboração do projeto escrito Entrevistas Desenvolver a grande reportagem Diagramação Apresentação X 42 CAPÍTULO 6 Histórico da Superinteressante 6.1– Superinteressante A grande reportagem impressa que será escrita pela autora deste projeto será para a revista Superinteressante e seguirá o padrão da referida revista. Esta escolha foi baseada no público alvo que a referida revista abrange que é de jovens entre 18 e 25 anos de idade. Além disso, o tema escolhido pela autora se assemelha à temática abordada pela Superinteressante, que costuma tratar de assuntos polêmicos, de maneira lúdica e até divertida. A Superinteressante teve sua primeira edição no ano de 1987, quando a editora Abril comprou os direitos da revista espanhola Muy Interesante, lançada no mercado em 1981. A ideia inicial era traduzir as páginas da revista espanhola. A revista seria impressa com o fotolito19 enviado da Espanha. O primeiro diretor de redação da Super foi o jornalista Almyr Gajardoni, responsável por uma revista de 20 páginas, que estreou em grande estilo, distribuindo 2 milhões de exemplares gratuitamente. A amostra grátis incluía uma discussão densa sobre a inteligência dos robôs, um debate sobre a existência de planetas fora do sistema solar e de seres vivos morando neles, e uma matéria singela sobre a vida amorosa dos animais, além de seções variadas, inclusive aquela que se revelaria a preferida dos leitores - "Perguntas Superintrigantes" 20 Na edição de número 1 da revista, a chegada às bancas foi marcada por um número expressivo de cinco mil assinantes. Sempre inovadora, em 1988 a revista apresentou aos leitores uma edição marcante, com uma imagem holográfica na capa. Era a primeira vez que algo deste tipo era veiculado no Brasil. Isto mostra a versatilidade e interesse por assuntos e tecnologias inovadoras da revista. Nas páginas desta edição foi abordado um assunto sobre o que era o Projeto Genoma, na época ainda uma ideia no papel, em busca de dinheiro. Este assunto voltou diversas vezes as 19 Fotolito: Chapa metálica que carimba a tinta no papel. 20 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 43 páginas da revista, até a conclusão desse que foi o maior projeto da história da ciência, em fevereiro de 2011. 21 Em 1994, algo considerado inovador para época foi publicado na revista, um contato de e-mail, do repórter Wagner Barreira, que recebeu 14 e-mails comentando a matéria que ele havia escrito sobre o futuro online. Hoje cada jornalista que trabalha na redação da Super, como é popularmente conhecida, recebe em torno de dez vezes esse número de e-mails, todos os dias.22 Ainda em 1994 aconteceu a 1ª reforma gráfica, realizada pelo segundo diretor da Super, Eugênio Bucci. A partir destas mudanças a revista ficou mais informal, mais “pop”, e incorporou de vez o apelido de Super, ao invés de Superinteressante. Outro ponto foi o aparecimento da palavra infográfico, que entrou definitivamente no vocabulário, para designar as primorosas ilustrações acompanhadas de bloquinhos de textos que viraram a marca registrada da revista. 23 Em junho de 1996, a Super entrou para o mundo digital e ganhou um domínio de site. Em abril de 1997 a revista passou por mais uma reformulação gráfica, realizada pelo diretor de arte Augusto Lins Soares. E maior do mesmo ano, mais uma novidade, a capa com cheiro, que continha cápsulas aromatizadas, com cheiro de banana. 24 Em dezembro de 1997, foi lançado o CD-ROM para assinantes, e no mês seguinte, passou a ser vendido para os demais nichos. No final do ano de 1998, o redator-chefe André Singer assumiu a revista. O que gerou uma nova reestruturação de direção, incorporando assuntos de economia, que começaram a aparecer na revista, ao lado dos tradicionais temas científicos, mas sempre tratados de uma forma menos formal, e mais atrativa, o que mantinha o público alvo da revista estimulado e interessado pelos assuntos abordados. Em 1999, a matéria “O Brasil na caçapa” infografava a crise que 21 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 22 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 23 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 24 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 44 havia abalado o real, fazendo uma representação em forma de uma mesa de sinuca, e mantendo o diferencial da Super. 25 Em janeiro de 1999, a Super recebe o prêmio Esso pelo info “Montando na Fúria”, de Alceu Nunes e Luiz Iria. Em abril o site da revista foi liberado para todas as pessoas. 26 Em 2000, a revista passou por mais uma reestruturação, com o Adriano Silva, que chegou com uma proposta de informalizar ainda mais a revista, diminuindo a distância entre o leitor. A ideia era preservar o rigor e a seriedade, mas acrescentar temas polêmicos, como drogas, eutanásia, aborto. A inquietude espiritual do começo do milênio e os conflitos religiosos que se tornavam cada vez mais comuns impuseram a revista um maior peso para as grandes discussões. Esta nova fórmula agradou o público e a revista vendeu em 2001, 11100 exemplares, em bancas e supermercados. 27 Em fevereiro de 2005, a Editora Abril passou por uma reestruturação e a Super passou a fazer parte de um núcleo. Adriano Silva assumiu a diretoria deste Núcleo Jovem, que incluía as revistas Super, Bizz, Capricho, Super Surf, Mundo Estranho e Flashblack. Denis Russo, redator chefe, passou a ser o novo diretor da revista.28 Em agosto de 2007, Denis Russo recebe uma bolsa de estudos para jornalistas e vai para Universidade de Stanford – Califórnia – EUA. O editor Sérgio Gwercman passa a ser o novo redator-chefe da Super. 29 Agosto de 2009, nova reformulação gráfica na revista. Novas fontes, novos desenhos de pagina, novos ícones. No editorial as alterações foram menos radicais: algumas sessões deixaram de existir, outras foram criadas e a revista fica ainda mais visual, com imagens que informam polêmicas, tendências e conhecimento. 30 25 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 26 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 27 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 28 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 29 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 30 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 45 Em agosto de 2010, uma mulher assume pela primeira vez o cargo de diretora de arte da revista, Alessandra Kalko, que já havia trabalhado anteriormente na revista e retornou depois de ter assumido a Women’s Health e a Mundo Estranho.31 6.2 – Prêmios Ao longo de sua trajetória a revista conquistou alguns prêmios expressivos. Confira a lista das principais premiações da Superinteressante.32 1. Abril/1998 - medalha de ouro no Malofiej com o info "Golpe de mestre" - categoria esporte; 2. Janeiro/1999 - Prêmio Esso pelo info “Montando na Fúria" (Alceu Nunes e Luiz Iria); 3. Maio/2001 - Prêmio Malofiej - medalha de bronze “Denome negro"; 4. Junho/2001 - Prêmio Esso de Jornalismo: revista do ano; 5. Maio/2002 - Prêmio Super Ecologia; 6. Junho/2002 - Prêmio Máximo de revista que melhor utiliza a infográfica no Malofiej; 7. Novembro/2002 -Prêmio Master da Ciência e Tecnologia 2002 pelo Instituto de Estudos e Pesquisas de qualidade – Campinas; 8. Janeiro/2003 - Prêmio ETHOS de Jornalismo na categoria revista com o Especial - Como salvar o Brasil; 9. Junho/2003 - revista recebe medalha de ouro - info "Metrô do Rock" e prata para 'História das Ideias”; 10. Julho/2003 - 2º Prêmio Super de Ecologia onde a revista premia vários projetos de ONGS brasileiras; 11. Setembro/2003 - Prêmio Abril de jornalismo: melhor Info "A história da Terra" e melhor reportagem sobre saúde "Deveríamos parar de comer carne?"; 12. Maio/2004 - Medalha de ouro para o info "Oficina do Inferno" no Prêmio Malofiej; 31 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 32 Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto. 46 13. Agosto/2004 - contos Bizzaros ganha o troféu HQ Mix 2003 (prÊmio dos quadrinhos); 14. Abril/2005 - Prêmio Malofiej de Infográfica. A Super ganha medalha de ouro por um info que mostrava como funciona o tráfico em uma favela e como a polícia deveria agir para reprimi-la; 15. Julho/2005 - no Prêmio Abril, ganhamos com a melhor reportagem de tecnologia (Google) e de comportamento (Casamento Gay); 16. Março/2008 - Prêmio Malofiej: medalha de prata para os infos "Mundo árvore" e "Contas Abertas". "Por dentro dos Planetas" e "Do boi ao bife”, com a de bronze; 17. Junho/2008 - No Prêmio Abril a Super fez bonito com matérias publicadas em 2007: melhor capa, melhor reportagem, infografia e ilustração; 18. Janeiro/2009 - Prêmio Esso de Criação Gráfica com uma matéria sobre a história da impotência; 19. Novembro/2009 - o diretor de arte Adriano Sambugaro ganha um prêmio (uma viagem para Nova York) dado pela empresa aos profissionais que mais se destacaram no ano. 47 6.3- Layout da Revista Figura 1: projeção da página 1 da grande reportagem 48 Figura 2: projeção da página 2 e 3 da grande reportagem. Figura 3: projeção da página 4 e 5 da grande reportagem. 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho permitiu que a cura espontânea fosse explorada de dois pontos de vista. Não considero que exista uma única explicação que seja a verdade absoluta, neste caso específico e com base nas pesquisas e nas entrevistas foi observado que as teorias na verdade são complementares e não contrárias, embora em alguns pontos o fundamento seja diferente. 50 Referências Bibliográficas CHALUB, Miguel. Os Milagres diante da fé e da ciência. Revista Magis Subidios, 1999, Disponível em http://www.clfc.puc-rio.br/magis.html. Acesso em 29 de agosto, às 12h. CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. São Paulo: Editora Hagnos, 2002. Dicionário didático 2 ed. – São Paulo: Edições SM, 2008. Dicionário Priberam (http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx?pal=milagre), às 9h no dia 17 de abril de 2013. FRATER, Eugenio, http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/2013/08/comoacontecem-as-curas-espontaneas.shtml, acessado às 18h17 do dia 03 de outubro de 2013. GEISLER, Normam L. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Editora Vida, 2002. NICOLAU, Paulo Fernando, http://www.psiquiatriageral.com.br/educacaomedica/ref_b.htm, às 17h03 do dia 02 de outubro de 2013. QUEVEDO, Oscar González, Milagres a ciência confirma a fé, São Paulo, Editora Loyola, 1996. REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, acessado via internet através do link http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v23n4/04.pdf, às 18h36 no dia 03 de outubro de 2013. SABRINA VILARINHO, http://www.brasilescola.com/redacao/a-reportagem.htm, às 13horas no dia 05 de março de 2013. 51 SEGRE, Marco, O conceito de saúde. Ver. Saúde Pública, 31 (5): 538-42, 1997. SIEGEL, Bernie S. Amor Medicina e Milagres: A cura espontânea de doentes graves, segundo a experiência de um famoso cirurgião norte-americano, São Paulo: Editora Best Seller, 1989. SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: nota sobre a narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986. TAMANINI, http://www.megacurioso.com.br/religiao/37248-como-e-que-ovaticano-reconhece-os-santos-e-seus-milagres-.htm, às 15h10 do dia 02 de setembro de 2013. VILAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo, Summus, 1996 http://www.lepanto.com.br/catolicismo/ciencia-e-fe/curas-milagrosas-de-lourdesdepoimento-de-um-especialista/, às 9h no dia 13 de março de 2013. 52 APÊNDICE A Entrevistas Entrevista realizada no dia 12 de outubro pessoalmente com o irmão salesiano, Alberto Gobbo Júnior, que é responsável pelas investigações dos casos de supostos milagres atribuído ao P. Rodolfo Komorek. Luma: Alberto o que é milagre? Alberto Gobbo: Milagre é quando Deus age e modifica a realidade considerada possível pelos homens. A bíblia é repleta de casos, e cada um dos evangelistas com as suas características pessoais relata estes casos. No caso de São Lucas que era médico, os casos eram muito bem relatados, é impossível ter dúvidas, já que são todos os fatos narrados com clareza. Jesus não fazia nenhum destes milagres para ganhar cartaz e isso é muito importante que seja frisado, já que o verdadeiro milagre é constituído quando o Pai é revelado, através das boas obras e da fé e não das ciências, da riqueza e do poder. São livros antigos, mas muito bem relatados. L: O que é fé? A: A bíblia dá uma definição de fé na carta aos hebreus, que diz que a fé a certeza da realidade que eu não vejo, ou seja, os cientistas querem provas por A+ B, mas nós apesar de não entendermos aceitamos isso é uma maravilha que eu não abro mão e que é fundamental para que curas possam ocorrer. Jesus dava grande importância a fé para que as curas acontecessem. L: Como é a investigação da igreja em relação aos casos de supostos milagres? A: É muito criterioso. A igreja dispõe de uma junta médica que é especialista em desvendar milagres. Eles tentam de todas as formas explicar o caso que chega até o conhecimento deles, são médicos muito capazes, logo se um caso passar por estes médicos isto significa que se trata de um milagre verdadeiro. 53 L: Padre Rodolfo já teve algum caso de cura coprovado? A: Ainda não. Já chegaram até nós aproximadamente sete mil casos, mas nenhum deles passou. Não é fácil não porque se um dos médicos do Vaticano descartar o caso existe uma avaliação ainda mais criteriosa, mas se nós insistirmos pode acontecer uma segunda avaliação. Tivemos um caso de cura de câncer, mas os médicos de lá descartaram, pedimos esta reavaliação, mas a equipe médica foi toda trocada o que em minha opinião não foi bom. Existem casos com menos provas que foram aceitos, então o lado humano também conta um pouco, infelizmente. L: Esta avaliação é exclusiva dos médicos do Vaticano? A: Não. Também acompanha o caso um médico daqui responsável pelo caso, como testemunha. L: E quem realiza estes milagres? A: Quem realiza os milagres é Deus, mas os santos tem o poder de interceder. Trabalhamos para que o Padre Rodolfo receba o título de santo, mas para isso ele precisa ser conhecido para que as pessoas façam os pedidos para ele, caso contrário não farão e consequentemente não terão as causas alcançadas por intermédio do santo desconhecido. L: Padre Rodolfo é um santo? A: Ainda não, por enquanto ele é apenas um servo de Deus digno de veneração, mas estamos trabalhando para comprovar a santidade dele, isso requer muitas pessoas, testemunhas idôneas e em Roma especialistas em direito canônico investiga o caso e a história do candidato. Para que ele seja santo precisa de um grande milagre, mas os médicos não colaboram, dizem que a pessoa sarou porque sarou. Tivemos o caso de um rapaz que sofreu um acidente e ficou em coma desenganado pelos médicos, a mãe pediu à comunidade que pedisse ao Padre pela cura do filho. Após este clamor o rapaz acordou saudável e sem sequelas, mas a comissão do Vaticano não aceitou o caso sob a alegação de que muitas pessoas voltavam de um coma sem nenhum tipo de intervenção de santo. Iguais a este tivemos vários casos. 54 Entrevista realizada no dia 01 de outubro por e-mail com o Pr. Max Souza, que é líder da Primeira Igreja Batista da cidade de São Paulo. Luma: O que é milagre para a igreja? Pr. Max Souza: É uma ação sobrenatural de Deus que beneficia uma pessoa ou situação. L: Todo caso de cura espontânea é admitido pela igreja como intervenção Divina? Por quê? M: Desde que seja pelo nome de Jesus sim. Cremos que a cura veio por meio do sangue de Jesus Cristo na cruz. A palavra diz que por causa das suas pisaduras nós somos sarados. L: A fé é um ponto importante para que a cura aconteça? M: Com certeza. No Novo testamento, quando Jesus curava as pessoas ele dizia: A sua fé o curou. L: É recomendável que uma pessoa abandone o tratamento médico em nome da fé? M: Nem em todos os casos. Em alguns casos, a pessoa recebe a cura de maneira instantânea, mas também cremos que Deus age por meio da medicina. Remédios e tratamentos são validos também no processo de recuperação do individuo. L: Qual o papel dos sacerdotes neste processo? M: Orar com fé sobre o enfermo para que o mesmo seja curado. 55 Entrevista realizada por e-mail no dia 14 de outubro com o Pe. Lucas Rosa da Silva, que é Reitor do Seminário de Filosofia - Diocese de São José dos Campos e Vigário da Paróquia Matriz de São José dos Campos. Luma: O que é milagre para a igreja? Pe. Lucas Rosa: Para a Igreja Católica o milagre é sempre uma intervenção extraordinária de Deus em vista do bem de uma pessoa alterando determinada imperfeição (uma cura, por exemplo) ou provocando um fenômeno extraordinário (caso das alucinações coletivas nas aparições, por exemplo). L: Todo caso de cura espontânea é admitido pela igreja como intervenção Divina? Por quê? Pe. L: Não. Por várias questões: - Determinadas semiparalisias motivadas por trauma emocional podem ser curadas se a pessoa conseguir, em um momento especial de oração, a integração psicológica que o trauma impedia; - A cura de uma enxaqueca, não motivada por patologia neuronal, se faz até sem uso de remédios, com meditação e relaxamento; - etc. L: Como é o processo de investigação de um milagre? O que deve ser avaliado? Pe. L: No processo busca-se verificar e caracterizar o estado patológico anterior ao suposto milagre, submeter depois o curado a exames médicos que comprovem ter sido impossível pela medicina alcançar aquela cura, e por vezes se espera determinado tempo para verificar se a cura persiste. Depois a Igreja emite um decreto afirmando o milagre. L: O que é intervenção Divina? Somente Deus pode realizar milagre, ou os santos também tem este poder? Uma pessoa que está em comunhão com Deus também pode realizar um milagre de cura? Pe. L: Intervenção divina é toda ação de Deus no mundo e na vida do justo, como providência e graça. Os milagres são uma intervenção extraordinária. Somente Deus 56 realiza os milagres. Os santos intercedem a Ele, mas é Ele que age. Uma pessoa (já falecida ou em vida ainda) que está em comunhão com Deus pode ser instrumento Dele para uma intervenção extraordinária do mesmo (milagre). Tal pessoa foi um intercessor. L: Por que algumas pessoas são atendidas e outras não? Pe. L: Na verdade todos são atendidos. O que acontece é que não entendemos o agir de Deus, seu propósito. Deveríamos sempre pedir a Ele a iluminação necessária para entendermos seu agir. Deus não muda, logo se seu agir é sempre de amor em relação aos seres humanos, não atender seria mudar o agir, seria imperfeição (coisa incompatível com o ser de Deus). Mesmo quando pedimos uma cura e ela não acontece, não significa que Deus não nos ouviu: Ele nos atendeu de outro modo que podemos, pela fé, entender ainda em vida ou somente diante do olhar Dele no dia do nosso grande encontro na morte, L: A fé é um ponto importante para que a cura aconteça? Pe. L: A fé é fundamental para que o milagre aconteça pois ela nos abre para a graça de Deus. No milagre se a pessoa que precisa do milagre está incapacitada para o ato de fé, a fé de quem intercede torna-se o caminho para a manifestação de Deus. L: Em que ponto a ciência e a religião interagem e em que ponto diverge? Pe. L: Ciência e religião são campos diferentes de olhar a realidade. Pela própria metodologia a ciência tem uma limitação na explicação da realidade. Mas onde ela para a religião continua. Assim as duas não precisam ser inimigas, mas “as duas asas para o ser humano alçar ao infinito” (Papa João Paulo II, na “Fides Et Ratio”). A divergência acontece de forma positiva quando cada uma reconhece a especificidade do seu campo e a possibilidade da saudável convivência. A negativa seria quando uma se enclausura em seu ponto de vista e elimina a outra (fundamentalismos religioso e cientifico). 57 L: É recomendável que uma pessoa abandone o tratamento médico em nome da fé? Pe. L: Jamais uma pessoa pode abandonar o tratamento médico em nome da fé. Qualquer ministro religioso que recomendar isso está, diante da lei brasileira cometendo crime de curandeirismo e, diante da Igreja, sendo irresponsável diante da missão que a Igreja lhe conferiu junto ao povo de Deus. Pe Pio dava a bênção de cura que a pessoa pedia e dizia: “continue seguindo o que seu médico mandou”. L: Qual o papel dos sacerdotes neste processo? Pe. L: Por sua missão, cabe ao sacerdote orientar o povo a respeito de tudo o que expliquei acima, ajudando o povo a ter uma fé esclarecida e firme, e aprender a perceber as diversas intervenções de Deus em suas vidas(e não apenas as extraordinárias). Se ele não o fizer falhará tristemente em sua missão e será culpado pelas falas do seu rebanho. L: Para a igreja quais são os primeiros passos para a pessoa alcançar o milagre da cura? Pe. L: Os passos são semelhantes aqueles pedido a todos os fiéis: mediante uma autêntica conversão abrir-se a graça de Deus, agradecendo a providência do Senhor em suas vidas, pedindo aquilo que precisam para suas vidas mas deixando Deus ser Deus, isto é, dizendo mais ou menos assim: Senhor eu queria esta graça em minha vida, mas seja feito a sua vontade e me ensine a entendê-la. L: Como a igreja entende os casos de pessoas que passaram por um processo e foram curadas de forma espontânea, porém não acreditam em Deus? A que podemos atribuir esta cura? Pe. L: Nós não conhecemos o coração das pessoas: só Deus conhece. Nossa percepção dos outros (fulano é ateu) por vezes é equivocada. Não entendemos a ação de Deus e a sua misericórdia. Se houve uma manifestação de graça, a sua origem só pode estar em Deus. L: Como identificar a mão de Deus neste processo de cura? Pe. L: Iremos reconhecer a manifestação de Deus mediante a mudança em nossa perspectiva acerca do mundo e da nossa religião. Nossa religião não mudou: nós é 58 que não a compreendíamos. Essa é uma questão que está sendo colocada a nós pela Teologia das Religiões e a Teologia Pública (David Tracy e outros). Por exemplo, como Deus salva o mulçumano, o hindu, o budista, que nunca conheceram a Cristo? Através daquilo que são os frutos do Evangelho (amor, misericórdia, compaixão, etc.) que viverão na sua fé. Mas para os Cristãos Católicos a salvação está no seguimento de Jesus Cristo através também de sua Igreja. L: Conhece algum caso de milagre de cura? Pe. L: Conheço os casos relatados e dados como milagres pela Igreja Católica e conheço casos no meu cotidiano de padre, geralmente restritos ao conhecimento da família, da comunidade e do seu pároco. L: Qual o tipo mais frequente de milagre? Pe. L: Dos relatos que conhecemos temos mais casos de cura física. L: Quantos milagres foram aceitos pelo Vaticano? Destes quantos são os de cura? Pe. L: Essa estatística é difícil. Mas pegando apenas o século XX e o início do XXI, basta ver quantos foram os beatificados (um milagre) e os canonizados (mais um milagre) e teremos uma idéia. Nota: os mártires não contam pois não precisam de um milagre, acontecido por sua intercessão, para a declaração de que são santos: conta é seu heroísmo até a morte por causa de Cristo. Sobre o tipo de milagre, a grande maioria é de cura. L: Quantos destes milagres foram realizados no Brasil? Pe. L: Novamente aqui temos duas questões: - A estatística, da qual falei acima, acerca dos beatificados e canonizados (não mártires); - O fato dos milagres que acabam sendo apenas do conhecimento da família, da comunidade paroquial e do seu pároco. Falo aqui de milagres que, se aplicássemos os critérios da Igreja Católica, seriam milagres. 59 Entrevista realizada por e-mail com a Michelle Barbosa que é graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Breve currículo: Médica de Família e Comunidade titulada pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Médica Psiquiatra titulada pela Associação Brasileira de Psiquiatria. Trabalho atual: médica concursada da Prefeitura Municipal de Jacareí. Atuação no Ambulatório de Saúde Mental, como psiquiatra, e no Núcleo de Apoio à Saúde da Família, como matriciadora em saúde mental. Luma: É possível que a mente crie uma doença física? Michele Barbosa: Não se sabe se eh possível a criação de uma doença física pela mente de modo consciente. De modo inconsciente, tal fato já é comprovado. O que se sabe é que existem doenças físicas sem causa orgânica identificável, e com gênese claramente associada a sofrimento mental. L: O que é autossugestão? M: É a influência de um indivíduo sobre o próprio psiquismo. O indivíduo cria e aceita uma ideia, com mudanças de conduta ou comportamento a partir de tal. L: É possível que a autossugestão cure efetivamente um paciente? M: As pesquisas são contraditórias no que se refere a cura de patologias (cessação completa da mesma) via autossugestão. Isso ocorre em parte devido ao conceito do que é cura e em parte pelas implicações éticas de uma pesquisa adequada para tal verificação (como não oferecer um tratamento convencional de eficácia comprovada e expor o paciente ao risco de uma piora?) . O que há de certo é que quanto mais um paciente se sente no controle da situação que vive, com percepção adequada dos sinais e sintomas de sua doença, melhor é a resposta aos tratamentos. Além disso, o sistema imunológico é claramente influenciado pelo psiquismo, donde a crença de que um psiquismo saudável leve a um organismo também saudável. 60 L: O que é efeito placebo? Como funciona este processo? M: É uma situação de piora, melhora, surgimento ou cessação de sintomas a partir de uma intervenção, medicamentosa ou não, sem que a mesma apresente ação específica sobre os mesmos.Via de regra funciona a partir de reflexos incondicionados: há uma crença por parte do paciente sobre a intervenção a que será submetido, e tal crença influencia o sistema nervoso. Dessa influência, vários podem ser os desdobramentos, resultando inclusive no citado efeito placebo. L: A mente pode curar uma enfermidade, que já foi submetida a tratamento, mas não obteve resultados satisfatórios, ou seja, a mente pode curar mesmo sem a intervenção médica?Como funciona este processo? M: É difícil falar em cura pela mente quando o que está em jogo são circuitos hormonais e neuroimunes completamente interativos com a vida psíquica. Há relatos vários de pessoas que afirmam terem se curado pela autossugestão por diversas e diferentes técnicas, mas não há como realizar um estudo adequado que considere o antes e o depois em um período de tempo adequado para tal verificação, e ainda excluindo a intervenção médico com possibilidade de riscos à saude do indivíduo. A autossugestão reconhecidamente altera a evolução de várias patologias, mas há que se ter cautela na afirmação "pode curar uma enfermidade". L: O que você pensa dos casos de cura que são considerados milagre? M: Acredito que ainda conhecemos pouco sobre o funcionamento cerebral humano, especialmente a ligação entre psiquismo e adoecimento. Muito há que se estudar sobre o eixo hipotálamo - hipófise, partindo-se do princípio que o hipotálamo é que quem integra as informações do mundo externo com o mundo interno, sendo o ponto de partida para várias alterações nos sistemas neurológico, endócrino e imunológico. Considerando que milagre é um evento extraordinário e sem explicações científicas, a mente é capaz de produzi-lo sim, só ainda não sabemos como. 61 Entrevista realizada por skype no dia 05 de novembro com o médico Odir Romero. Breve currículo: Pós-graduado em Pediatria, Saúde Pública, Medicina do Trabalho e Formação de Professores para o Ensino Superior. Pós-Graduando em Auditoria Médica e de Serviços Hospitalares. Título de Especialista em Medicina Legal e Perícia Médica (ABMLPM / AMB). Luma: O que é cura espontânea? Odir Romero: Cura espontânea é um processo onde, por algum motivo, a doença regride sem tratamento científico / medicamentoso. L: Como funciona este processo? O: Acredito que seja devido a estímulos externos que fazem com que a pessoa tenha sua imunidade melhorada, provocando reação favorável de combate à doença! L: Este processo tem ligação com o estado emocional do paciente? O: Com certeza! (comentei no item 2). L: Existe alguma explicação para casos de cura espontânea? O: Sim, um bom estado de saúde mental. L: É possível realizar pesquisas relacionadas a este tema, ou existe algum impedimento? O: Se for pesquisa científica, sim mediante avaliação por um Comitê de Pesquisa de alguma entidade. L: Qual a importância da fé neste processo? O: Pelo mesmo motivo citado no item 3. L: A ciência admite a possibilidade de milagre, ou existem outras explicações para os casos de cura espontânea? O: Com este título "milagre" acho difícil, sendo que explicaria mediante a estimulação citada acima. 62 L: O senhor conhece algum caso deste tipo? O: Não. Mas acredito em uma citação que diz: "O que a ciência não consegue explicar, aparecem manifestações religiosas e/ou sobrenaturais". L: O que seriam esses estímulos externos? O: Seriam coisas que estimulariam positivamente a pessoa, por exemplo: alegria, satisfação, amor, afeto, pensamento positivo, etc. Na Medicina, considera-se que o relacionamento bom Médico - Paciente num atendimento (simpatia, educação, etc.) é "meio caminho andado" para a melhora do paciente (o mesmo sai da consulta mais otimista!). 63 ANEXOS Pré-Projeto 2.- Objetivo 2.1 Objetivo Geral Elaborar uma reportagem para revista apresentando informações sobre casos de cura espontânea e os diferentes pontos de vista sobre a ocorrência desse fenômeno. 2.2 Objetivo Específico Apresentar casos de cura espontânea e mostrar quais são as explicações científicas e religiosas para este fenômeno. Além disso, explicar as terminologias relacionadas à temática. 3. Problema Como explicar que pacientes com doenças graves, com prognósticos desfavoráveis, evoluam para a cura espontânea? 4. Tema A Cura espontânea, sob o olhar da religião e da ciência: dois pontos de vista em relação ao fenômeno. 4.1 Título Cura espontânea: milagre, ou ação da mente? 4.2. Hipótese Uma pessoa pode se recuperar repentinamente de um diagnóstico desfavorável, o que é denominado cura espontânea. Para a ciência este 64 processo está condicionado à ação da mente. Já para a religião esta reversão no quadro pode ser caracterizada como milagre. 5- Objeto Visões da ciência e da religião sobre casos de cura espontânea. 6 Metodologia de Pesquisa Antes de iniciar este trabalho foi necessário definir o tipo de pesquisa que melhor atenderia as necessidades para que o objetivo proposto fosse atingido. O elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados. (GIL, 1985, p. 50) Foram aplicados questionários orais e realizadas entrevistas com pastores, padres, médicos clínicos e psiquiatras, psicólogos, a fim de coletar opiniões em relação a fenômenos de cura sem explicação plausível. Além desses procedimentos, foi realizado o levantamento bibliográfico, a pesquisa exploratória e a pesquisa documental, dando cunho cientifico ao trabalho e buscando esclarecimentos para o problema apresentado. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. (GIL, 1985, p. 26) Com o delineamento da pesquisa, as preocupações essencialmente lógicas e teóricas da fase anterior cedem lugar aos problemas mais práticos de verificação. O delineamento ocupa-se precisamente do contraste entre a teoria e os fatos e sua forma é a de uma estratégia ou plano geral que determine as operações necessárias para fazê-lo. Constitui, pois, o delineamento a etapa em que o pesquisador passa a considerar a aplicação dos métodos discretos, ou seja, daqueles que proporcionam os meios técnicos para a investigação. (GIL, 1985, p. 49) Como são dois pontos de vista que divergem e que em alguns momentos parecem se fundir, foi necessário realizar um aprofundamento de ambas as teorias, para posteriormente conversar com representantes do lado cientifico e do lado religioso, para então iniciar o projeto prático. 65 6.1 Tipos de Pesquisa Considerando os dois principais tipos de pesquisa, a qualitativa e quantitativa, neste trabalho aplicou-se a pesquisa qualitativa, pois a intenção foi levantar histórias e fatos que aconteceram e desenvolver a reportagem partindo desses acontecimentos. Na pesquisa qualitativa questões e problemas para a pesquisa advêm de observações no mundo real, dilemas e questões. Elas são formuladas como hipótese se – então (se variável dependente) derivadas da teoria. (MARSCHALL; ROSSMAN, 1989). Portanto como a parte prática do trabalho irá consistir em uma grande reportagem impressa para revista, será necessário que sejam captados personagens reais para permear a narrativa. 6.1.1 Pesquisa Exploratória A realização da pesquisa exploratória visou tornar o tema mais familiar, através de uma sondagem do assunto, sendo realizada antes das demais pesquisas, com o intuito de verificar a consistência das ideias propostas neste trabalho. Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. (GIL, 1985, p. 27) 6.1.2 Pesquisa Bibliográfica Após definido o tema e constatada a viabilidade da problemática proposta ,iniciou-se um levantamento bibliográfico com o intuito de buscar autores que abordassem o tema deste trabalho, partindo sempre de algo que fosse de alguma forma comprovado ou estudado. Neste trabalho a pesquisa bibliográfica serviu como meio para obter conhecimento sobre o assunto. 66 A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. [...] A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados senão com base em dados secundários. (GIL, 1985, p. 50) A primeira leitura foi “Milagres a ciência confirma a fé” de Oscar González Quevedo, o que foi um bom ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho, porque aborda a questão dos milagres de um ponto de vista da parapsicologia, não eximindo as explicações cientificas a respeito do tema. 6.1.3 Pesquisa Documental Para o desenvolvimento do conteúdo deste trabalho este tipo de pesquisa foi o mais indicado. Como o tema escolhido é abrangente, foi necessário realizar pesquisas na internet, pesquisas com pessoas que relataram experiências supostamente milagrosas, pesquisas com religiosos e pessoas ligadas a área da ciência. O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica. Apenas há que se considerar que o primeiro passo consiste na exploração das fontes documentais, que são em grande número. Existem, de um lado, os documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc. De outro lado, existem os documentos de segunda mão, que de alguma forma já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas etc. (GIL, 1985, p. 51) 7. Justificativa Este trabalho pretende apresentar os aspectos que podem levar ao processo de cura espontânea, que compreende a capacidade de recuperação automática do organismo humano. Segundo Dr. Franz Alexander, psicanalista interessado em Medicina Psicossomática a mente tem o poder de governar o corpo. De 67 acordo com esta linha de raciocínio, o poder do pensamento positivo pode ter influência neste processo de cura. A fé no tratamento também é um fator importante, segundo Bernie S. Siegel, M.D. Ele explica em seu livro “Amor, Medicina e Milagres” que durante muitos anos o efeito placebo foi considerado sem grande importância para a ciência, porém com o passar dos anos e o desenvolvimento de pesquisas, este método foi plenamente reconhecido. O fato de o paciente acreditar no tratamento gera esperança e faz com que a pessoa tenha força e fé de que pode ser curada. Entre um quarto e um terço dos pacientes apresentam melhora por acreditarem que estão tomando um medicamento eficaz, ainda que o comprimido contenha nenhuma substância ativa. (SIEGEL, 1989, página 22). O autor ainda explica que os motivos que levam o paciente a ter uma melhora com o tratamento placebo, são que o significado da doença se altera de maneira positiva, porque a sensação de amparo ajuda a potencializar o sentido do domínio e do controle sobre a doença, o que faz com que os pensamentos, antes de desesperança, passem a ser esperançosos. Ainda nesta linha de raciocínio, Bernie explica que o placebo pode ser um objeto que o paciente acredite ter poder curativo, como por exemplo, uma garrafa com a etiqueta de água benta de Lourdes, que para um católico tem propriedades curativas, ainda que ela só contenha água da torneira. Assim os adeptos da Ciência Cristã conseguem às vezes sarar de uma doença, pois são doutrinados para procurar a paz de espírito e confiar numa força superior. (SIEGEL, 1989, página 22). Esta esperança e o crédito depositado em um objeto, ou em um tratamento, induzem a um “relaxamento” que tem a capacidade de neutralizar a tensão e, oferece em muitos casos, a chave para o restabelecimento. Ainda segundo este autor, a “medicina primitiva” seria na realidade muito mais elaborada do que a nossa, quanto ao uso da mente. O que segundo ele, não significa que devemos abandonar os tratamentos convencionais, mas que deveríamos levar em consideração o poder curativo da mente. 68 É importante destacar que as curas psicológicas surtem mais efeitos sobre as doenças funcionais que sobre as doenças físicas e orgânicas. A mente pode auxiliar no processo de cura. A atitude mental positiva antecipa o processo curativo natural. Quando a doença é causada psicologicamente, pode haver uma reversão dramática quando a pessoa acredita repentinamente que pode ser curada. (GEISLER, 2002, p. 231). Portanto neste caso, estas curas consideradas psicológicas, tem o fator fé, como um agente importante neste processo. A falta de fé na possibilidade de cura é um grave fator limitante para o doente. (SIEGEL, 1989, página 24). Quando se fala em cura através da fé, podemos pensar em milagre, portanto não necessariamente uma coisa está ligada a outra, tendo em vista que para algo ser considerado milagroso existe um combinado de fatores que devem estar presentes. Curas de “fé” de doenças funcionais não são sobrenaturais. Carecem das características do verdadeiro milagre, que são as marcas sobrenaturais, que dão valor apologético aos milagres. (GEISLER, 2002, p. 231). Portanto para que um fenômeno seja considerado milagre, inclusive pela igreja é preciso que ele passe antes por uma avaliação por parte de pesquisadores científicos, que vão estabelecer uma, série de questões que precisam ser avaliadas antes de o objeto de estudo ser de fato considerado milagre. Para dar inicio a pesquisa, é importante que fique claro o significado da palavra milagre. Milagre é uma palavra originária do latim, miraculum, que significa maravilha, coisa extraordinária, fato sobrenatural, oposto às leis da Natureza. (Dicionário online “Priberam”) Milagre 1. Fato que não pode ser explicado pelas leis da ciência ou da natureza e que se considera realizado por intervenção divina ou sobrenatural. 2. Aquilo que se considera raro, extraordinário ou maravilhoso. (Dicionário didático 2 ed. – São Paulo: Edições SM, 2008.) Porém conforme as explicações anteriores, nem todo o fenômeno extraordinário pode ser considerado milagre. Afinal, devemos considerar o poder 69 curativo da nossa mente, entre outras coisas que a ciência apresenta como contra argumento na aprovação de um possível milagre. Mas é certo que um fenômeno frequente, ordinário, por mais maravilhoso que seja em si mesmo e por mais que o crente possa ver nele a ação da Divina Providência, comum ou especial, precisamente por ser um fenômeno ordinário não é considerado milagre: por exemplo, a ordem e conservação do universo. Todo milagre é extraordinário, mas nem todo o extraordinário é milagre. (QUEVEDO, 1996, página 212) Portanto para que este projeto tenha andamento será necessário encontrar histórias de pessoas que passaram por um processo de cura espontânea. Após a identificação destes personagens, o caso será apresentado para um representante da ciência e outro da religião, com a intenção de que sejam discutidas ambas as possibilidades, levando então o leitor às suas próprias conclusões em relação a este processo de cura espontânea e o que ocasionou o mesmo. 8 Modalidade: Grande Reportagem Escolhido o tema, pensei em realizar um livro-reportagem, mas após orientação decidi que a melhor maneira para relatar o que pretendo apresentar é através de grande reportagem impressa, onde terei a possibilidade de reunir, relatos e imagens que ilustrem a história, além de infográficos para facilitar a compreensão do leitor. 8.1 A Reportagem Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari a reportagem é um gênero privilegiado, pois tem condições de explorar ao máximo a história e os seus personagens. Por isso, é a reportagem - onde se contam se narram as peripécias da atualidade - um gênero jornalístico privilegiado. Seja no jornal nosso de cada dia, na imprensa não cotidiana ou na televisão, ela se afirma como o lugar por excelência da narração jornalística. E é mesmo, a justo título, uma narrativa - com personagens, ação 70 dramática e descrições de ambiente - separada, entretanto da literatura por seu compromisso com a objetividade informativa. (MUNIZ SODRÉ E MARIA HELENA FERRARI, 1986, p. 9). O objetivo da reportagem é se apronfundar no tema e trazer para o leitor o máximo de informações relacionadas ao assunto escolhido, de forma clara e precisa. Diferenciando da notícia que tende a ser mais factual. Qual a diferença entre notícia e reportagem? A primeira informa fatos de maneira mais objetiva e aponta as razões e efeitos. A segunda vai mais a fundo, faz investigações, comentários, levanta questões, discute, argumenta. (VILARINHO, 05/03/2013, internet) Para o meu Projeto pretendo contar a história de pessoas que vivenciaram um milagre em forma de grande reportagem para revista. Miniz Sodré e Maria Helena Ferrari relatam que a reportagem é o relato de um fato, não regido pelo imaginário, tendo então a necessidade de estar baseado em fatos. O desdobramento das clássicas perguntas a que a notícia pretende responder (que, o que, como, quando, onde, por quê) constituirá de pleno direito uma narrativa, não mais regida pelo imaginário, como na literatura de ficção, mas pela realidade factual do dia-a-dia, pelos pontos rítmicos do cotidiano que, discursivamente trabalhados, tornam-se reportagem. Esta é uma extensão da notícia e, por excelência, a forma-narrativa do veículo impresso (embora a entrevista, sobretudo o perfil, possa também, às vezes, assumir uma forma narrativa). A reportagem constitui, assim, basicamente, um dos gêneros jornalísticos. (GEISLER, 2002, p.231) 71 9. Cronograma de Trabalho JAN FEV MAR ABR X X X X X X X X X X 2013 Pesquisa Bibliográfica Coleta de dados MAI JUN X X JUL AGO SET OUT X X X X X X X X X X NOV Elaboração do projeto escrito Entrevistas Desenvolver a grande reportagem Diagramação Apresentação X 72 Projeção de Capítulos Capítulo 1. Análise das supostas Curas Milagrosas 1.1- Definição de Milagre Segundo o Dicionário Didático (2008) milagre é um fato que não pode ser explicado pelas leis da ciência ou da natureza e que se considera realizado por intervenção divina ou sobrenatural. 1.2 – O suposto milagre As curas que são atribuídas a milagres estão em diversas religiões, cristãs ou não, rituais ou orações que tem o poder de regenerar ou paralisar um processo degenerativo em que a ciência não obteve êxito são um argumento apologético para a defesa do cristianismo, porém como estas curas não ficam limitadas as religiões cristãs este argumento não pode ser sustentado. Já os teístas utilizam as supostas curas milagrosas como argumento para provar a existência de Deus aos considerarem que o poder de cura seria um dom natural que Deus concedeu a todos os homens, independente da prática religiosa que por ventura venham a adotar e neste ponto que vamos focar este trabalho. Quando falamos em poder de cura, é preciso explicar, que pode ser de origem, psicológica ou milagrosa propriamente dita. 1.3 – Curas milagrosas Cura milagrosa é um acontecimento que contraria as leis naturais, como, por exemplo: ressuscitar mortos, curar paraplégicos, curar cegos de nascença entre outras coisas que ficam em um âmbito de fenômenos inexplicáveis, inclusive pela ciência. Processos de cura que são acelerados também podem ser entendidos como milagre, quando contrariam os prognósticos estabelecidos pela medicina. Na bíblia é possível encontrar muitos relatos de curas realizadas por Jesus que contrariam todas as leis naturais, além de Jesus é possível encontrar nos 73 capítulos da bíblia milagres realizados pelos apóstolos, que eram pessoas que caminhavam com Jesus e o tinham como mestre. No livro de 1 Coríntios, no capítulo 12, versículo 9 o apóstolo Paulo relata o dom de cura como um dom ofertado aos humanos pelo Espírito Santo. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, 1 Coríntios 12.8-9). A bíblia orienta que os seguidores que estiverem com alguma enfermidade procurem por algum cristão que tenha mais experiência no processo de cura, e ressalta o poder da oração, dando a entender que a cura vem por intervenção Divina, pelo clamor que é feito para que Deus cure a pessoa que está recebendo a oração. Na passagem bíblica de Tiago, capítulo 5 versículo 14 a 16 esta temática é tratada de forma clara. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Tiago 5.14-16). Podemos observar também que a cura pode ser tanto um dom oferecido a cristãos específicos para a realização dos milagres, como um exercício de autoridade espiritual sobre as enfermidades que segundo a bíblia é concedido a todos os que seguem os mandamentos contidos no referido livro. E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal. (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Mateus 10.1). E, convocando os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder sobre todos os demônios, para curarem enfermidades. (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Lucas 9:1). Podemos observar também que a fé necessária para a cura está na pessoa que realiza a oração e não necessariamente no individuo que se encontra enfermo. Dos 35 milagres realizados por Jesus apenas dois se referem à fé da 74 pessoa que estava enferma, o que é uma questão importante de se observar já que a ciência comumente atribui o fato da cura ao psicológico do enfermo. A cura do paralitico de Carfanaum, relatada no livro de Mateus, capítulo 9, do versículo dois ao versículo oito e dos dez leprosos em Samaria, no livro de Lucas, capítulo 17, versículo 11 ao19 são trechos em que a fé do enfermo é ressaltada. E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho tem bom ânimo, perdoados te são os teus pecados. E eis que alguns dos escribas diziam entre si: Ele blasfema. Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vossos corações? Pois, qual é mais fácil? dizer: Perdoados te são os teus pecados; ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa. E, levantando-se, foi para sua casa. E a multidão, vendo isto, maravilhou-se, e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens. (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Mateus 9.28). E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia; E, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou. (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Lucas 17.11-19). Em outros oito casos, a fé não é o destaque, mas ela pode ser cogitada, como fator determinante para o suposto milagre. A cura de um leproso, em Mateus 8.2-4, a cura da mulher do fluxo de sangue que aparece em Mateus 9.2022, Marcos 5.24-34 e Lucas 8.43-48, Pedro andar sobre as águas, a cura do cego Bartimeu, em Mateus 14.24-33, a primeira pesca milagrosa em Lucas 5.111, a cura do paralítico do poço de Betesda, no livro de João 5.1-9, a segunda pesca milagrosa, em João 21.1-11, a cura do cego de nascença, em João 9.1-7. Já nos 24 demais casos de milagres realizados por Jesus, a fé de quem recebeu a cura milagrosa não é referida. Em 3 casos de ressurreição não havia a menor possibilidade de a pessoa que foi ressurreta ter exercido algum tipo de fé, 75 uma vez que estava desfalecida, são eles, o filho da viúva de Naim, descrito em Lucas 7.11-17, a filha de Jairo, relatado em Mateus 9.23-26 e a ressurreição de Lázaro, presente em João 11.1-44. Portanto nem sempre a cura pode ser atribuída à fé da pessoa que está enferma, sendo considerado algo sem explicação científica. 2 . A Visão da Ciência A nossa mente pode ser capaz de nos levar a desenvolver uma enfermidade, Russel Norman Champlin, autor de “Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia”, reassalta que as nossas emoções negativas podem contribuir para que um quadro de problemas de saúde se instalar. Muitas enfermidades físicas têm causas mentais. Poderíamos frisar emoções negativas como o ódio, a hostilidade e a ansiedade. Todos esses estados de alma podem ter efeitos adversos. A ciência vem reconhecendo cada vez mais essa realidade. Às vezes, quando as pessoas corrigem o estado de suas almas, corre a cura do corpo. (Champlin, 2002, p. 1035). A mente do ser humano pode trabalhar a favor ou contra ele em se tratando de saúde, tanto pode ativar o sistema imunológico e produzir melhora no quadro de determinada doença, como também pode deprimi-lo e levar o individuo a evolução de um quadro de degradação da saúde. Casos de cura podem acontecer se a pessoa acreditar que um método é eficaz, ou confiar em um terapeuta, ou em alguém que esteja desenvolvendo um tratamento, na medicina e na psiquiatria estes casos são conhecidos como transferência positiva o contrário também pode acontecer, no caso da piora do quadro clínico ou do desenvolvimento de uma doença, denomina-se então transferência negativa. O efeito placebo é um exemplo de cura psicológica e consiste em uma substância que não contém nenhum principio ativo capaz de causar melhora no quadro clínico do paciente, mas por ação da mente o quadro clínico evolui de forma positiva. O placebo engana a mente para que acredite que o alívio chegou, e o corpo reage de acordo (Geisler, 2002, p. 228). 76 Outro exemplo é o processo de convencimento mental, que pode ser denominado como sugestão e funciona quando a pessoa passa por um processo de convencimento mental de estar curada, na maioria das vezes isso acontece de forma inconsciente, é um processo de autoconvencimento de que a doença não existe. Neuróticos e histéricos frequentemente se aliviarão de seus sintomas pelas sugestões e pelo ministério de curandeiros carismáticos. É tratando desses tipos que os curandeiros afirmam suas vitórias mais dramáticas (Geisler, 2002, p.228). Muitas pessoas podem ser capazes de realizar uma cura psicológica e isso não tem qualquer tipo de ligação com milagre, uma vez que o milagre se trata de algo que contraria as leis naturais. Porém esta capacidade da mente em desenvolver um mecanismo de cura, não deixa de ser algo extraordinário. Já que Deus nos criou como unidades de mente e corpo, ele deve receber a glória quando essa relação maravilhosa da mente afetando o corpo é usada para trazer cura. Mas é um exagero sério considerar essas curas sobrenaturais (Geisler, 2002, p.229). 3. Jornalismo de Revista O jornalismo de revista permite certa parcialidade na abordagem do assunto escolhido e propicia uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto. O texto de cinco ou seis páginas de uma revista semanal não é neutro. Neutralidade é uma “pretensão” objetiva, comum no jornalismo diário. Imagine como a Folha de S. Paulo, por exemplo, escreveria sobre o assassinato de um conhecido traficante de drogas. Pelo menos em tese, a rapidez, a padronização e a busca de uma suposta neutralidade dariam o tom do texto. (Vila Boas,1996, p.14). No jornalismo de revista também é permito que o jornalista escolha o tom que vai dar na matéria, o que diferencia o jornalismo de revista e de jornal. Na revista é possível adotar um tom mais leve ou mais dramático, dependendo da linha editorial da mesma, ou do foco que a revista quer dar na reportagem. Na revista, o tom é uma escolha prévia de linguagem (humor, tragédia, drama, tensão etc). O tom da maioria dos textos de um 77 jornal passa por uma suposta objetividade e isenção. (Vila Boas,1996, p.14). Como o tempo para analisar os fatos antes de escrever um texto para revista é maior, é possível e interessante para o leitor que seja feito pelo jornalista um levantamento histórico, explicando todo o contexto para quem estiver lendo a matéria, o que torna o texto mais interessante e agrega valor documental. A análise e a interpretação do fato não podem prescindir do tempo e do espaço. Não os dispense de seu projeto, esteja sempre bem informado. Não tenha apenas informações puras e simples. Depure e compreenda o fato. A narrativa de um texto de revista é também um documento histórico. (Vila Boas, 1996, p.15). 3.1 O texto do Jornalismo de Revista A linguagem utilizada na revista permite algumas brincadeiras com as palavras e desde que sem exageros valida expressões típicas de determinadas regiões, além disso, o uso das palavras pode ter um sentido conotativo, levando o leitor a pensar, e tornando a leitura menos densa. Para Vilas Boas o tempo da leitura permite esse jogo com as palavras, já que a leitura de uma revista não é rápida como a de um jornal diário. Na revista as palavras podem ser usadas não apenas com o sentido que lhes atribuem os dicionários. Às vezes, é até bastante indicado lançar mão de uma palavra que não está diretamente ligada ao objeto ou ser ao qual dá nome. No texto diário de jornal, o valor conotativo só é aceito em situações muito especiais, pois o jornalismo diário precisa da padronização e da velocidade para sobreviver. Além disso, o jornal diário é de leitura rápida, ao contrário da revista. (Vila Boas, 1996, p.18). Porém é bom estar atento e mesmo com essa permissividade de palavras variadas e fora da linguagem coloquial, é importante saber dosar e usar estes artifícios com moderação, sempre atento ao contexto, para que o texto não empobreça ou fique vago. Se a situação a ser narrada exige precisão, denominação concreta, denotativa, não pense duas vezes. Evite que o “vago” ocupe um “espaço”. A metáfora é um recurso que deve ser usado com moderação, domínio e gosto. (Vila Boas, 1996, p.19). 78 O texto para revista também permite outro artifício muito eficaz, que é o confronto de ideias, onde duas pessoas com opiniões distintas sobre determinado assunto podem opinar e isso pode ser colocado em destaque para que o leitor decida qual o melhor argumento. Confrontar as ideias, por exemplo, é muito comum e eficaz no texto de revista, dependendo, obviamente, do contexto. Se quiser expor o pensamento de dois parlamentares de peso sobre uma questão polêmica, torne bem marcantes as posições políticas de cada um deles. Isso pode ser conseguido com frases de efeito ou entrecortadas por palavras de fundo irônico, explícito ou não. (Vila Boas, 1996, p.19) É importante também que o texto tenha uma escrita clara e que caminhe com fluidez para o desfecho, o leitor não pode ficar perdido ou confuso em meio à reportagem. A objetividade é outro fator importante, palavras que não agregam nenhum tipo de valor a compreensão do que está sendo redigido podem ser cortadas. O importante é que ao longo do texto você conduza as informações para o fechamento, tão importante quanto a abertura. Lembre-se: há sempre uma chance de o leitor não “captar a mensagem”. Aquele que escreve com o objetivo oculto de “ouvir o texto” está, na verdade, se esforçando para obter uma harmoniosa melodia. O ritmo entra em compasso com a tônica. (Vila Boas, 1996, p.30 e 31). 4. Projeto Gráfico A grande reportagem impressa que será escrita pela autora deste projeto será para a revista Superinteressante e seguirá a diagramação da referida revista. A Superinteressante teve sua primeira edição no ano de 1987, quando a editora Abril comprou os direitos da revista espanhola Muy Interesante, lançada no mercado em 1981. 79