OFICINA DE ESCRITA A Oficina é constituída por vários módulos. Um módulo de leitura/dramaturgia, um de arquitectura e cenografia, o módulo de escrita propriamente dito e finaliza com um de interpretação. O objectivo desta sequência é o de revelar os elementos materiais objectivos de condicionamento específico da escrita que, no teatro, para além da dimensão romanesca – de ficção – contêm outras materialidades. Não se escreve para teatro sem a consciência interiorizada de que as palavras escritas, as frases, o diálogo, pressupõem uma dimensão física, é um actor que as diz, uma dimensão espacial, di-las num cenário concreto, a rua, um interior, di-las numa perspectiva, é analfabeto, é letrado, é chinês, é casado, e fá-lo dentro de um registo, mais cómico, mais patético, sarcástico, sério, trágico. A estas dimensões mais óbvias haverá que juntar as possibilidades da iluminação e do som que, actualmente atingem são elementos motores da acção dramática, intervindo muito para além de terem uma função complementar ou diríamos, de fundo, como na telas renascentistas. Todos estes elementos, em associação e integração diversa – há escritas “pobres”, que praticam a depuração, há escritas mais “barrocas”, que praticam a proliferação de signos e o excesso – contribuem para o objectivo geral de criar sentido e de o partilhar com o espectador. Esta é uma questão central: quem escreve fá-lo para uma escuta, tem de imaginar quem ouve e como houve quem ouve, imaginando também aqui as possibilidades da sala. O espectador, aquele que vê e ouve, que “ouve” como alguém disse, está numa dada sala, maior ou menor, numa espaço mais íntimo, de câmara ou num espaço amplo, como numa sala tipo Coliseu. A questão da escala é decisiva e uma peça de teatro determina-a também: há teatros de câmara e há sinfonias dramáticas, Beckett e Shakespeare. Toda esta envolvente, plural e complexa, deverá abordar-se na perspectiva da especificidade do acto da escrita, que justamente implica o domínio de um sistema de sistemas de signos. No teatro tudo é possível a partir de condicionantes estritas, mesmo o uso da forma cinematográfica, e mais recentemente, do vídeo, muitas vezes até como uma espécie de paisagem dinâmica, de cenografia actuante. Deste modo e centrada na escrita, esta Oficina poderia misturar as várias modalidades de ataque às suas problemáticas sendo que estas obedecerão a um conjunto de exercícios que sendo específicos são também formas de alimento da escrita romanesca e da poesia. A oficina Um conjunto de exercícios permitirá uma forma de apropriação do que pode “libertar” os candidatos a escrever sem peias, dando-lhe asas metodológicas, abertura intelectual, campo de referências ajudando a desbloquear formas preconceituosas de abordagem do que seja o teatro. Assim sendo: - O que é o Drama, e o que é o Teatro? 1. Desenvolver as noções de fábula e conflito; 2. As charneiras e o avanço da fábula, a tensão dialéctica na narrativa; 3. O diálogo e a escuta, contracena e fechamento; 4. Personagem e personagens: da composição ao eu fragmentário; 5. Cenas, sequências, micro sequências e planos. 6. Monólogo exterior e interior; 7. A montagem na escrita; 8. Os estilos: cómico, trágico, patético, grotesco, a farsa, etc. 9. O silêncio, a pausa, o murmúrio, o berro, os elementos intersticiais da escrita e as questões do tom, do registo, forte e fraco, alto e baixo, distante e próximo. 10. A contracena do corpo do actor com todos os elementos de significação cuja dinâmica depende do jogo do actor e da personagem; o uso de objectos, os elementos cenográficos, as dimensões espaciais, perto em longe, frente e fundo, esquerda e direita. Os exercícios: 1. Escrever uma fábula: objectividade e parasitismo semântico, a economia narrativa; 2. Imaginar uma situação real, quotidiana; imaginar uma situação onírica, sonhada; 3. Importância da observação: os conflitos expressos e invisíveis, pose, postura, posição, o que está por detrás dos comportamentos. Escrever a partir de uma cena observada. 4. Desenvolver situações ficcionais de conflito; 5. Situação de encontro e desencontro entre duas personagens, cena primitiva; 6. A terceira personagem e a alteração do quadro de jogo: do linear e complexo; 7. Falar de dentro para fora e falar para fora a partir de dentro: monólogo e monólogos; Sequência A sequência destes exercícios dependerá da composição do grupo de “escritores”, da sua juventude, experiência e inexperiência. Independentemente desse “imponderável” a oficina será, por assim dizer, “entremeada” pelas outras intervenções. Deste modo num dado momento, os “escritores” terão partes do módulo de escrita e de arquitectura sobre os mesmos textos para que, justamente, possam aprofundar de um modo mais ficado toda a diversidade da problemática das escritas, melhor dizendo das escritas. Peças para Leitura: - Soldado Vigilante – Miguel de Cervantes - O Médico à força – Molière - Dança da Morte – August Strindberg - Weisman e Cara Vermelha – Georg Tabori - Homem da Flor na Boca – Luigi Pirandello - A Última Bobina – Samuel Beckett - Sik-Sik o Mágico – Eduardo De Filippo Deste conjunto de textos se escolherá o texto e fragmentos de texto para realizar um trabalho dramaturgico e os esboços de cenografia a imaginar; Oficina de Interpretação Esta oficina seguir-se-á à materialização da dos textos oficinados. Carga horária O processo desta primeira fase decorreria durante três meses e corresponderia a uma carga horária de 4 horas semanais – mínimo – a distribuir de acordo com as disponibilidades do conjunto dos participantes. O que significa um total de 48 horas distribuídos deste modo: 28 horas de oficina de escrita, 10 horas para o trabalho de dramaturgia e 10 para a cenografia. É de deixar em aberto, de acordo com a dinâmica que se criar o emprego de alguns fins-de-semana para permitir um aprofundamento da experiência. Horário: Começo dia 7 de Março Sextas-feiras (20h30 / 00h00) Sábados (11h/13h30 – 14h30/17h30) Domingos (11h00/13h30) Local de realização – Teatro da Rainha e Centro da Juventude das Caldas da Rainha. Inscrições abertas a partir do dia 21 de Março na secretaria do Centro da Juventude das Caldas da Rainha. Informações: e-mail: [email protected]; Tel. 262840900 Candidatos Os candidatos deverão com idade mínima de dezasseis anos até aos trinta. Intervenção de formadores: - Fernando Mora Ramos – Direcção - Isabel Lopes – Dramaturgia - José Carlos Faria – Cenografia - Joseph Danan – Escritor - Christine Zurbach – Dramaturgia