I Curso Introdução à Astronomia – Fev 2017 Astrobiologia: a vida no universo Daniel R. C. Mello Observatório do Valongo - UFRJ Nesta aula veremos: O que é Astrobiologia? As origens e o status moderno da astrobiologia; A astrobiologia como ciência interdisciplinar; O Universo e a origem da vida: Das estrelas ao surgimento da vida; A vida como complexidade ● O que é vida e como procurá-la? A busca por vida além da Terra Planetas, Luas e exoplanetas com vida em potencial; Existe vida “inteligente” lá fora? O que é Astrobiologia? O questionamento sobre a possibilidade de vida fora da Terra é tão antiga quanto a própria cultura humana; As perguntas passaram por todos os séculos, desde o antigo império chinês, a cultura grega antiga, a mitologia maia até chegar ao final do século XX onde perguntas, aparentemente filosóficas começaram a ganhar mais atenção e uma investigação científica mais pormenorizada. Mas quais eram ou são estas perguntas? O que é Astrobiologia? O que é Astrobiologia? Ao longo do séc. XX eram comuns enredos de ficção científica (arte escrita e cinematográfica) sobre criaturas diversas habitantes do espaço longínquo que, por vezes, visitam a Terra; O início da corrida espacial entre EUA e URSS na década de 1950 levou equipamentos nunca antes elaborados pelo homem a visitar planetas e luas nunca antes explorados. Os estudos dos planetas deram novo impulso e novas perguntas acerca da vida foram elaboradas. O que é Astrobiologia? A partir da década de 1960, astrônomos, geólogos e microbiologistas começaram a trabalhar de forma mais estreita em questões relacionadas à chance de encontrar formas de vida (inteligentes ou não) em planetas e satélites do Sistema Solar. Foi nesta época também que o termo Astrobiologia ou Exobiologia foi criado pelo ganhador do prêmio Nobel de medicina Joshua Lederberg. A astrobiologia se ocupa então com a investigação da vida em qualquer contexto cósmico. O que é Astrobiologia? Até os anos de 1990, entretanto, este novo ramo do conhecimento não ganhou muitos adeptos e por vezes foi encarado com ceticismo e desdém por boa parte do círculo acadêmico mais tradicional. O começo da descoberta indireta de planetas extrassolares (exoplanetas) em meados dos anos 1990, as novas tecnologias instrumentais em astronomia aliadas às pesquisas sobre química da origem vida em laboratórios e aos novos enfoques da área, deram impulso moderno a astrobiologia do começo do século XXI. O que é Astrobiologia? O status moderno da astrobiologia A astrobiologia é seguramente a área da astronomia de maior interesse e uma das mais desafiadoras da atualidade; Afora a grande pergunta sobre “será que existe vida mesmo lá fora?”, talvez este grande interesse seja devido ao fato de que, ao contrário de 30 ou 40 anos atrás, temos hoje e teremos em futuro próximo, condições tecnológicas de investigar questões sobre a origem e evolução da vida de modo muito mais confiável, muito mais esclarecedor. O que é Astrobiologia? O status moderno da astrobiologia A astrobiologia se ocupa hoje: Como se formam os mundos habitáveis e como eles evoluem? Como os sistemas vivos têm origem? O que é Astrobiologia? O status moderno da astrobiologia A astrobiologia se ocupa hoje: Como reconhecer um planeta que abrigue a vida? O que é Astrobiologia? O status moderno da astrobiologia A astrobiologia se ocupa hoje: Como as condições astrofísicas e mudanças ambientais e climáticas afetam o desenvolvimento e o surgimento da vida? O que é Astrobiologia? O status moderno da astrobiologia O quanto a vida na Terra é comum ou o quanto ela é exceção no universo? Buscar a vida no cosmo é também compreender melhor a vida na Terra O que é Astrobiologia? A astrobiologia com área multidisciplinar Os resultados e pesquisas em astrobiologia são compartilhados ou produzidos por uma série de profissionais das mais diversas áreas do saber. Isto se deve ao fato de que a astrobiologia é o resultado da junção destas diversas áreas com um só objetivo: contribuir para a investigação dos pormenores da vida no universo; Neste sentido que dizemos que a astrobiologia é a área mais interdisciplinar da astronomia. O que é Astrobiologia? A astrobiologia com área multidisciplinar: O que é Astrobiologia? A astrobiologia com área multidisciplinar Sua interdisciplinaridade, portanto, contribui ainda mais para seu grande interesse, em nível de pesquisa, divulgação científica e educacional. Curso livre de astrobiologia na USP O Universo e a origem da vida Como a vida se desenvolveu? Durante o Big Bang apenas o Hidrogênio, Hélio, Lítio e pouquíssimo Boro e Berílio foram formados; Então, indiretamente, os blocos necessários para o surgimento da vida começaram nos primeiros instantes do universo; Na aula sobre estrelas, vimos que todos os outros elementos da tabela periódica foram formados nas reações nucleares das estrelas; O Universo e a origem da vida História do Universo O Universo e a origem da vida Demorou muito, muito tempo para que as primeiras galáxias se formassem e com elas as primeiras estrelas do universo. Quando isto ocorreu, começou o enriquecimento químico do universo. O Universo e a origem da vida Com um universo quimicamente mais diversificado, as condições favoráveis de temperatura e radiação permitiram a formação de estruturas maiores e mais complexas em torno de estrelas e nuvens gasosas: as moléculas interestelares. O Universo e a origem da vida Moléculas interestelares? O Universo e a origem da vida Em etapas posteriores, as nuvens gasosas se contraíram para formar novas estrelas e em torno destas, muitos discos de matéria se aglomeraram para formar planetas e outros corpos menores como satélites e cometas. O Universo e a origem da vida Os planetas com suas características físicas peculiares (condições propícias de temperatura, pressão, e nível de radiação externa adequado) permitiram que átomos e moléculas se aglomerassem e evoluíssem em complexidade. O Universo e a origem da vida A partir da formação de moléculas complexas e das condições planetárias necessárias, a hipótese do surgimento da vida é fortemente apoiada no modelo mais plausível do surgimento de vida em nosso planeta. Muitos pesquisadores são unânimes em descrever os ingredientes básicos para o surgimento da vida: abundância de H2O; abundância satisfatória de C, N e O; energia para trocas celulares; níveis de radiação e temperatura adequados; Longo período de estabilidade planetária para possibilitar que os processos pré-vitais ocorram; O Universo e a origem da vida As macromoléculas chaves para desencadear os processos pré-vitais são conhecidas como aminoácidos. Como sabemos disso? Os aminoácidos são componentes básicos das células de todos os seres vivos da Terra; Aminoácidos, proteínas Célula O Universo e a origem da vida Da Terra inóspita à Terra habitável Como está hipótese foi testada com sucesso? O Universo e a origem da vida Antes da década de 1950, existia a hipótese de Oparin-Haldane que dizia que a superfície da Terra era como uma sopa quente e que lentamente compostos da superfície subiram à atmosfera e foram sendo alterados até que aminoácidos foram sendo gerados a partir de descargas elétricas e outros processos naturais; Esta atmosfera primordial da Terra era rica em CO2, N2, metano (CH4), amônia (NH3) e H2. Em 1953, o experimento de Urey & Miller deu grande embasamento à hipótese: O Universo e a origem da vida Componentes orgânicos podem ser gerados a partir de componentes inorgânicos; O Universo e a origem da vida O Universo e a origem da vida Será que caminhos que a química trilhou para dar origem aos primeiros organismos na Terra foram muito particulares? Se pensarmos nas possibilidades dos processos prévitais ocorrerem em condições diversas, mas favoráveis, de vida no universo, devemos ser inclinados a defender a tese de que a vida deve ser bastante “comum” em todo universo. Vida rara ou vida muito provável? Aqui vão algumas evidências positivas sobre a grande possibilidade de vida no universo: O Universo e a origem da vida O Universo e a origem da vida Panspermia: Uma outra possibilidade Há outra corrente de pesquisadores que defende que os tijolos básicos para o surgimento da vida na Terra podem ter sido trazidos do espaço à bordo de asteroides ou cometas durante a fase de grande bombardeio da Terra que cessou a ~ 3.8 bilhões de anos atrás. Está é a hipótese da panspermia. Há evidências concretas do potencial pré-vital principalmente na química dos cometas, já que eles conseguiram armazenar os componentes químicos mais “leves” da nebulosa que deu origem ao Sistema Solar. O Universo e a origem da vida (H2O, CO, CO2, CH3OH, H2CO, HCN, (H2S) (NH3, HNCO, CH3CN, HNC, OCS), (HCOOH), (CH3CHO), (HCOOCH3) (NH2CHO), HC3N, t (H2CS), SO, SO2, etc. O Universo e a origem da vida A hipótese da panspermia é factível portanto com a hipótese que a vida pode mesmo se desenvolver em qualquer lugar que seja-lhe aprazível. Seus ingredientes podem ser transportados. O que determinará a origem e a evolução da vida em certo corpo celeste, será possivelmente um somatório de fatos interligados que produzirá resultados diversos, formas de vidas diversas. Para estudar a origem e sustentabilidade da vida em diversos locais do universo, muitos se perguntam como definir o que é vida? O que é vida, afinal? Esta pergunta está no cerne de todos os estudos na biodiversidade terrestre e também da astrobiologia. Apesar de ser conceito subjetivo, diversos autores defendem um conjunto de características relacionadas aos organismos vivos terrestres: Sistema com troca de energia com meio externo; Memória + mecanismo de leitura; Interação complexa com o meio ambiente; Evolução; Autorreplicação O que é vida, afinal? A base da vida na Terra está no átomo de carbono, na existência do H2O como solvente principal e do O2 como principal troca gasosa. Mas será que lá fora também é assim? O que é vida, afinal? Mas a vida pode ser diferente da usual, mesmo aqui na Terra? Nos últimos anos, formas de vidas existentes em regiões inóspitas da Terra têm sido descobertas: são os extremófilos: O que é vida, afinal? Mas a vida pode ser diferente da usual, mesmo aqui na Terra? Estas pesquisas feitas em desertos, Antártida, crateras de vulcões, regiões abissais, têm mostrado uma variedade de seres que vivem: Em extremos de temperatura: -35 a 230º C; Resistem a escassez absurda de água; Metabolismo não dependente do Oxigênio; acidez muito variável; Podem entrar em estado de dormência por mais de 1 milhão de anos; Podem ser transportados para espaço e suportar temperaturas de -230º C e incidência direta de radiação; Possibilidades para a vida no universo são inúmeras! Basta saber encontrá-las. O que é vida, afinal? Mas como procurar por sinais de vida? Estudos em astrobiologia se voltaram para a Terra a partir do anos 1990 no sentido de encontrar pistas sobre comportamentos semelhantes em outros locais do universo. A “lógica” era vasculhar a Terra e projetar os resultados para outros locais no Universo. O que é vida, afinal? Mas como procurar por sinais de vida no universo? Os recursos da astrobiologia: A observação dos planetas do sistema solar e suas características químicas, sugeriu aos astrobiólogos a existência de uma região ótima (mas não única) para existência da vida: a zona de habitabilidade O que é vida, afinal? A zona de habitabilidade é aquela região em que um sistema planetário teria condições de manter a água em estado líquido na superfície segundo a quantidade de energia recebida da estrela central. A busca por vida além da Terra Outro recurso das pesquisas em astrobiologia é investigar a possibilidade de vida inteligente interagir com o universo através da comunicação por meio de ondas de rádio. O projeto SETI de busca por vida inteligente é um dos mais conhecidos neste sentido. A busca por vida além da Terra O recurso mais direto é enviar sondas até os corpos alvos. Isto pode ser feito apenas para os astros do Sistema Solar. A busca por vida além da Terra A busca por vida além da Terra Planetas do Sistema Solar: Vênus: apesar das condições hoje serem negativas para sustentar a vida, pode ter havido condições positivas no passado, quando condições de temperatura e pressão eram mais amenas; Marte: Pesquisas modernas têm indicado que pode haver água em estado líquido no solo (inconstante) e subsolo, o que se confirmado, abriria um leque incrível de busca por vida em Marte. A superfície, hoje fria e tênue mostra evidência inegáveis de presença de água no passado. A busca por vida além da Terra Planetas do Sistema Solar: A busca por vida além da Terra Planetas do Sistema Solar: Concepção artística de Marte no passado e a sonda Curiosity, lançada em 2012, que faz intensas pesquisas em astrobiologia em Marte. A busca por vida além da Terra Planetas do Sistema Solar: Marte também poderia abrigar vida em caldeiras de vulcões? A busca por vida além da Terra Planetas do Sistema Solar: Água em Marte? A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: As sondas interplanetárias mostraram a partir da década de 1970 que existem satélites naturais em torno dos planetas gasosos que possui características bastante peculiares, principalmente os satélites de Júpiter e Saturno. Do ponto de vista da astrobiologia, três destas luas têm sido estudadas com bastante detalhes nos últimos 20 anos: Europa (Júpiter), Titã e Enceladus (Saturno); Apesar de serem objetos frios e distantes do Sol, muitos não descartam a existência de vida nestas luas. A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Europa A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Europa Tanto na hipótese de oceano e do gelo “morno”, astrobiólogos estão esperançosos com as condições de Europa. O núcleo interno da lua, poderia manter a temperatura e pressão em condições propícias para a vida se desenvolver. A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Europa A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Europa A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Enceladus Enceladus é uma lua de tamanho modesto de Saturno, que orbita bem próximo dos seus anéis; O interesse maior por este objeto começou em 2006 quando a sonda Cassini detectou ejeções ou emanações de vulcões na superfície gelada do satélite. Como sua cobertura superficial guarda similaridades com a de Europa, pode haver também em Enceladus um oceano abaixo da capa de gelo. A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Enceladus A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Titã Titã é o segundo maior satélite do sistema solar e a única a possuir uma atmosfera densa. A coloração alaranjada de sua superfície já sugeria a presença desta atmosfera na década de 1970. A sonda Cassini que foi enviada para Saturno, fez imagens e mapas completos desta lua. Os dados de análise espectral revelaram a presença de uma atmosfera rica em CH4, N, CH3 e outros compostos orgânicos. Mas isto não é bem similar à composição da atmosfera primordial da Terra? A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Titã Composição química de Titã e aspectos da superfície observados pelo telescópio Hubble. A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Titã A sonda Cassini ao orbitar Saturno e Titã, lançou sobre a lua uma outra pequena sonda chamada Huygens, que desceu na superfície de Titã em 2004. Os dados das duas sondas revelaram a presença de regiões de provável acúmulo do metano em estado líquido. Em 2009, os especialistas confirmaram a existência de lagos de metano e um ciclo do metano, tal como o ciclo da água na Terra. A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Titã A possibilidade da origem da vida com química com base no metano, dividem muitos especialistas; A geração de vida extremófila pode estar em curso em Titã. Entretanto, as condições de temperatura (-180º C) e disponibilidade de energia para estes organismos ainda são inconclusivas. A busca por vida além da Terra Luas do Sistema Solar: Titã Planetas Extrassolares É possível encontrar vida nos planetas extrassolares? Planetas Extrassolares – A busca de vida Que fração de planetas extrassolares podem abrigar condições de vida? Como buscar por sinais reais de vida nos planetas? Será possível encontrar planetas semelhantes à Terra? Água, atmosfera (com efeito estufa), temperatura amena, campo magnético, ciclo hidrológico, placas tectônicas, longos períodos de estabilidades climáticas, manutenção e evolução da vida, farta biodiversidade. Existe outra Terra por aí? Planetas Extrassolares – A busca de vida Zona de Habitabilidade do Sistema Planetário Planetas Extrassolares – A busca de vida Zona de Habitabilidade do Sistema Planetário Planetas Extrassolares – A busca de vida O Sistema Planetário Kepler 452 e Kepler 186 Planetas Extrassolares – A busca de vida planeta Kepler 452b: a nova Terra? Planetas Extrassolares – A busca de vida planeta Proxima Centauri b Planetas Extrassolares – A busca de vida Novo sistema planetário em Trappist-1 Planetas Extrassolares – A busca de vida Novo sistema planetário em Trappist-1 Planetas Extrassolares – A busca de vida Até a presente data temos cerca de 50 planetas com chances de abrigarem vida Planetas Extrassolares – A busca de vida Até a presente data temos cerca de 50 planetas com chances de abrigarem vida A busca por vida além da Terra Vida inteligente na nossa Galáxia? É possível estimar? Em 1961, Frank Drake criou uma equação no intuito de tentar estimar quantas civilizações “inteligentes” (N) existiriam na nossa galáxia. Isto ficou conhecido como equação de Drake: Dependendo da estimativa positiva ou negativa N pode oscilar de 1 a 100. A astrobiologia de hoje se ocupa com algo um pouco menos especulativo: a fração que desenvolve vida >> e por enquanto ela também vale 1! Por enquanto, esta é a única casa vital. Será que estamos sendo zelosos para com ela? Obrigado! O espectro de radiação eletromagnético