A caverna secreta Bem alto num rochedo, por cima do mar resplandecente, o João encontrou um caminho por entre a erva alta, as borboletas e o tojo. Segurou a mão do pai com força e ambos desceram a custo. — Olha, pai — exclamou o João. — Uma praia! Por entre os rochedos, viram a praia, que estava deserta, secreta e silenciosa. O João correu sobre as pedras quentes, as algas quebradiças e as ondas que lavavam a areia. De repente, junto aos rochedos, viu uma caverna – escura, misteriosa, escondida. Quem teria lá vivido? Quem viveria lá agora? O cheiro escuro e húmido do mar fê-lo imaginar... Será que, outrora, os piratas escondiam ali os tesouros, para depois regressarem aos navios e navegarem para longe? Ou será que, em noites de invernia, os contrabandistas ocultavam ali barris de vinho? Será que esta gruta conduzia ao mundo aquático de Neptuno, onde as sereias nadavam, com caudas escamosas e cabelos de alga, cantando canções para os marinheiros? Ou haveria algum dragão-marinho ali escondido, que só saía quando tinha coragem? — Que gruta fantástica! — exclamou o pai. — Queres entrar? O João segurou a mão do pai com força, com o coração a bater descompassado e os pés a esmagarem os seixos. Penetraram juntos na caverna... Mas não encontraram nenhum tesouro. Nem nenhum vinho. Nem nenhum dragão-marinho. Nem sequer sereias com cabelo de algas. Apenas rochas. Rochas sólidas, antigas, com muitos séculos. E, de repente, o João pôs-se a correr. A correr de volta para o sol, para a praia ao ar livre, junto ao oceano azul, sob o céu sem fim. Pai e filho fizeram juntos um piquenique, enquanto observavam os pássaros a darem voltas sobre o mar encapelado. Depois, procuraram conchas, espreitaram as pocinhas nos rochedos e desenharam figuras na areia. Finalmente, subiram de novo as rochas que conduziam ao caminho através da erva alta, das borboletas e do tojo. E, nessa noite, o João escondeu-se nos cobertores da sua própria caverna quente. Adormeceu com o som do mar a cantar nos seus ouvidos. E a sonhar com o dia em que ele e o pai tinham encontrado uma gruta secreta. Richard Hamilton The Secret Cave London, Orchard Books, 2007 (Tradução e adaptação)