Gamboa, M.R.V - Biblioteca Digital da Unicamp

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PROESF FACULDADE DE EDUCAÇÃO/ UNICAMP
Maria Regina Volpato Gamboa
Um olhar diferente para as crianças que nos
preocupam
Americana- SP
2006
PROESF FACULDADE DE EDUCAÇÃO/ UNICAMP
Maria Regina Volpato Gamboa
Um olhar diferente para as crianças que nos
preocupam
Memorial apresentado ao Curso de
Pedagogia – Programa Especial de
Formação de Professores em
Exercício nos Municípios da Região
Metropolitana de Campinas, da
Faculdade
de
Educação
da
Universidade Estadual de Campinas,
como um dos pré-requisitos para
conclusão da Licenciatura em
Pedagogia.
Americana- SP
2006
A todos os Educadores que me
apoiaram nesta descoberta de
caminhos.
Agradecimentos
Aos meus queridos pais Antonio e Antonia, que me formaram e introduziram os
valores os quais me tem permitido ganhar a vida, ter êxito, aprender a ser feliz sem
usufruir das pessoas.
Ao meu querido esposo, Carlos Alberto, que me tem ajudado e apoiado em todos
os momentos, sendo ademais, o maravilhoso contrapeso e a balança da minha vida
que tem permitido manter o equilíbrio pra não cair.
Aos meus filhos Carlos, Rodrigo e Alexandra, fonte inesgotável de satisfação,
motivo de orgulho e esperança de um amanhã melhor para todos.
Aos meus irmãos (as ), sobrinhos ( as ) e cunhados ( as ), que me apoiaram
nesses anos.
A minha nora Elizangela Bastos, que com a sua meiguice me fortaleceu com
suas palavras de incentivos.
A minha colega, Maria Aparecida Alcântara, do curso ”PROESF”, que sempre me
acompanhou e me deu forças e trocas maravilhosas sobre suas experiências, não me
deixando desistir
A todos os ‘AMIGOS”, que fiz nesse longo trajeto de vida.
A todos os professores ( as ) que tiveram paciência e perseverança ao ensinar.
Aos meus alunos, os quais me ensinaram e ajudaram a encontrar o caminho que
foi trilhado.
A diretora, a assistente, aos professores, ao meu grupo de encontro das PIR e
ao bibliotecário Jorge aos quais me ajudaram na pesquisa deste memorial.
A psicopedagoga Edith Regina Rubinstein, e a pedagoga Aparecida D. Marques
pela co-mediação e pelo incentivo constante, para ter esse olhar diferente com as
crianças que nos preocupam.
A minha querida leitora Cristina de Carvalho Barão, pela sua dedicação,
paciência e por suas meigas palavras que me estimularam a melhorar este memorial.
. Agradeço acima de tudo a força divina que me concebeu a vida, e me ensinou a
enfrentar as dificuldades, valorizar a felicidade e ser humana.
DEDICATÓRIA
Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós, Mais sei que nada do que
vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita,
Alegria que contagia, Lágrima que corre, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso
não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais, Mas que seja intensa, verdadeira, pura.
Enquanto durar.
(Cora Coralina)
A todos muito obrigada !
“O mestre tem a responsabilidade
de
fazer
com
descubra,
não
que
o
o
aluno
caminho,
propriamente dito, mas as vias de
acesso
a
esse
caminho,
devem conduzir a meta última”
( Eugen Herribel)
que
Sumário
1.
APRESENTAÇÃO.............................................................................................9
2.
COMO INICIOU A MINHA TRAJETÓRIA DE VIDA ESCOLAR......................10
3.
COMO INICIEI MINHA CARREIRA DE PROFESSORA.................................17
4.
SOBRE
O
PROJETO
DE
REFORÇO
ESPECIAL
(INTERVENÇÃO
PEDAGÓGICA) UMA FORMA DE ATUAÇÃO........................................18
4.1
UMA
PROFESSORA
MUITO
ESPECIAL
TRABALHANDO
COM
CRIANÇAS MUITO ESPECIAIS...........................................................................20
5.
O QUE A PROESF MUDOU EM MINHAS REFLEXÕES..............................29
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................36
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................38
1.
Apresentação
Este memorial relata algumas lembranças do trajeto de minha vida e o prazer de
ir à escola nos meus anos de infância. E também o que me incentivou, a escrever as
minhas experiências quanto professora de intervenção pedagógica (reforço especial),
trabalhando com crianças de séries e idades avançadas ainda não alfabetizadas,
apresentando dificuldades individualizadas, que por diferentes razões estavam isoladas
na sala de aula.
Foram vários cursos oferecidos pela Secretária da Educação de Americana:
Seminário Internacional de Educação Inclusiva., Estudante com Deficiência Mental na
Escola, PROFA e PROESF que me levaram a uma melhor reflexão em minhas ações
pedagógicas adequadas e, que deu muito certo, além de adquirir melhores
conhecimentos, transmitiu-me muita segurança e mais confiança em minha prática.
Esta escrita me permitiu entrar em contato com meu ser / pessoa / profissional /
professor e saber que aprender, criar e transformar, às vezes é doloroso, pois implica
num esforço para o qual nem sempre se está preparado.”Caminhante, é o teu rasto o
caminho e nada mais; caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar”( Alves,
pg 11 ).
O caminho é o rasto que nele projetamos daí que pensar a
educação apenas em função dos caminhos – como tantos ainda insistem
em fazê-lo – é pensar a educação que ainda não o é, é pensar a
educação simplesmente na ótica dos educadores topógrafos, é abrir a
objetiva do olhar para fora e fechar a objetiva do olhar para dentro. E é
crer nessa espantosa mistificação (como Antonio Machado se riria dela )
de que são os caminhos que fazem os caminhantes e não o contrário...
(Alves, pg.11)
17
2.
Como iniciou a minha trajetória de vida escolar
Comecei a escrever este memorial, motivada a contar parte de minha vida,
desde 1956, quando comecei a freqüentar o jardim de infância, onde entrei em contato
com o mundo do saber intelectual até os dias de hoje.
O título do memorial surgiu quando, revendo meu percurso profissional como
professora, deparei-me no ano 2000, quando comecei a trabalhar em intervenção
pedagógica institucional com crianças que tinham dificuldades em aprendizagem.
Retomando ao início de minha vida, contarei alguns momentos que foram mais
importantes:
Uma das lembranças que tenho; da massinha de modelagem e do cheirinho de
eucalipto, toda vez que sinto esse aroma recordo desta época, da minha lancheira de
couro marrom, da minha professora, da hora do soninho, da merenda e do parque.
Momentos dourados que marcaram os meus cinco anos e meio de vida, lembranças
ternas e eternas.
Em 1957, terminando este ano, quando entrei no mundo das letras e no
“caminho suave” da cartilha, acabaram-se os jogos lúdicos e prazerosos, meu pai
tentou matricular-me nesta mesma escola, chamada Grupo Escolar ”Dr.Heitor
Penteado”, mas como as Escolas Estaduais não permitiam que a criança com menos
de sete anos fossem matriculada na 1º série e não era aplicada nenhuma avaliação,
para saber em que nível de aquisição de leitura e escrita encontrava- se a criança, e
com isso não poderiam certificar-se realmente se seis meses a menos a criança não
estaria com a capacidade cognitiva desenvolvida para a aprendizagem.
Para certificar-me disso fui pesquisar as normas correspondentes.
Em reunião de 14/11/1956 é apresentado um relatório de
subcomissão encarregado de estudar o projeto das Diretrizes e Bases,
cujo relator foi o deputado Lauro Cruz. E finalmente, na sessão do dia
29/05/1957 inicia-se no plenário da câmara a discussão do projeto que
recebeu o número 2.222/57.
Desde sua entrada no Congresso original das Diretrizes e Bases
da Educação esbarrou na correlação de forças representada pelas
diferentes posições partidárias que tinham lugar no Congresso Nacional.
Tais medidas eram tomadas ao que se presumi porque Lacerda
via no projeto nas Diretrizes e Bases da Educação o instrumento útil
para, da oposição, fustigar as posições do bloco no poder.
O projeto finalmente aprovado pelos deputados, foi encaminhado
ao senado através do oficio número 293 de 25/02/1960.(Saviani,1997)
Nessa leitura não encontrei nenhum embasamento para que me certifica-se das
normas do sistema sobre a impossibilidade do ingresso no ensino de primeiro grau com
menos de sete anos de idade.
:
Lei número 5.692 de 11/08/1971 Lei Diretrizes de Bases para ensino de
primeiro e segundo graus e de outros.
Capitulo II
Do ensino de primeiro grau
Artigo 19. Para o ingresso no ensino de primeiro grau deverá o aluno ter
a idade mínima de sete anos
§1º As normas de cada sistema disporão sobre a possibilidade de
ingresso no ensino de primeiro grau de alunos com menos de sete anos
de idade.
§2º Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior
de sete anos recebam conveniente educação em escolas
maternais e
jardins de infância e instituições equivalentes.
(Melo,Chammas.Sergino;1986).
19
Com essa referência da Lei de Diretrizes de Base da Educação pude ter certeza
da regulamentação da idade mínima de início no ensino fundamental,durante “ esses
anos”.
Felizmente ,o Diário Oficial da União publicou no final do mês de maio a lei
11.114,sancionada
pelo
presidente
Lula,que
determina,a
partir
de
2006,a
obrigatoriedade das matrículas de crianças com seis anos de idade no Ensino
Fundamental.O texto alterou artigos da L.D.B.
Em minha cidade Americana o Ensino Fundamental de nove anos foi adotado em
1998.
Voltando ao meu trajeto de vida escolar:
“Com isso papai, recorreu a uma escola anexa Dom Pedro, onde aceitavam
alunos com menos idade padrão, foi algo muito bom, pois me dei muito bem era a aluna
nº1, alfabetizei—me rapidamente e até era ajudante da professora “Dona Rita,que
naquele tempo sem saber já era construtivista” lembro-me que tínhamos liberdade em
circular na sala de aula, ajudando a mediar os colegas que se encontravam aquém da
aprendizagem. Recordo-me- me que fui presenteada por minha professora com um livro
de história.
Mas esse presente custou –me a quebra de minha inocência, pois uma aluna
muito “enciumada” e que dizia ser minha amiga, revelou- me que não existia coelhinho
da páscoa e nem Papai Noel e aí meu mundo caiu, mas felizmente tinha o meu querido
livrinho de leitura e as trocas de experiências com meus colegas de sala de aula que
estava abrindo para mim, a porta do saber.
Este ano passou, infelizmente, sai da Escola Dom Pedro e entrei novamente no
Heitor Penteado, mas perdi muito, pois os professores não eram construtivistas,era a lei
do professor o dono do saber, e os alunos passivos recebendo depósitos bancários,
com esta falta de estímulo na leitura tornei-me uma aluna comum e meu interesse
diminuiu, não era mais aquela aluna interessada e mediadora com os colegas.
20
Na visão “bancária” da educação o “saber”é uma doação dos que
se julgam sábios aos que julgam nada saber.Doação que se funda numa
das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a
absolutização da ignorância,que constitui o que chamamos de alienação
da ignorância ,segundo a qual esta se encontra sempre no outro.
O educador, que aliena a ignorância se mantém em posições
fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe,enquanto os educandos serão
sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e
o conhecimento como processo de busca. (Freire,1987:pg.58)
Período de 1962 a 1969 as escolas eram centralizadas, diretor dono da escola,
professores submissos a eles, para nós era só passado conteúdos, não tínhamos
abertura para nada, éramos reprimidos em casa e na escola, só podíamos falar quando
os professores queriam “o saber decorado” e por ai que éramos avaliados.
A educação também não deixou de entrar na esfera de preocupações do
IPES (Instituto de Pesquisa de Estudos Sociais). Assim, é que, já em 1964 nos
meses de Agosto, Setembro, Outubro, Novembro, se dedicou à preparação de
um “simpósio sobre a reforma da educação” realizado em Dezembro do mesmo
ano, culminando com a realização em Outubro e Novembro de 1968, em
colaboração com a PUC do Rio de Janeiro, de um Fórum de Educação
denominado “ A educação que nós convém “. Registra- se que participaram deste
Fórum dois integrantes do grupo de trabalho da reforma da educação . (Saviani,
1997)
Em 1966 freqüentava o curso Normal (Magistério ) no Instituto de Educação
Presidente Kennedy e até hoje não sei porque optei para fazer o normal, provavelmente
porque não tinha condições de cursar uma faculdade.
Esse curso chamado normal, que eu não achava nada normal, porque sai com
muito pouco embasamento para enfrentar uma sala de aula, que só em pensar me
arrepiava toda.
21
Formei-me em 1969, e em 1970 fui ser professora substituta em uma escola
chamada São Vicente de Paula, próxima a minha casa, no 1º ano substitui algumas
faltas de professores
Em 1971, chegou a minha vez na escala, havia duas salas sem professor ,uma
do 1º e outra do 2º ano, senti- me injustiçada, pois a diretora deu- me uma 1ª série
onde alguns meses chegaria uma professora, a outra classe ficou para a professora
que estava no 2º lugar do quadro , fiquei muito aborrecida e desanimada, o que me fez
procurar outro tipo de emprego como recepcionista e telefonista em uma empresa.
Minha vida era da empresa para escola e vice versa, pois havia começado a
fazer faculdade de serviço social , necessitava trabalhar para manter-me.
Em 1973 prestei um concurso para a polícia militar, mais uma vez estaria
entrando num curso ou profissão sem ter afinidade nenhuma. O tempo foi passando,
casei-me em 1977, tive três (03) filhos lindos, até que 1987 pedi licença do meu serviço,
em 1989, pedi exoneração para cuidar dos meus filhos. Agradeço a Deus, por ter tido
essa chance de os ter encaminhado tão bem.
Em 1990, por causa do senhor ilustríssimo presidente Collor, perdemos muitos
bens (dinheiro em poupança / a empresa do meu marido foi mal e resolvemos ir para a
terra natal dele, Santiago - Chile , final de 1990, “Vida, terra e língua nova” na qual fui
obrigada a aprender e ensinar os meus filhos a escrever e ler o espanhol, através de
livros infantis, pois as escolas exigiam que estivessem alfabetizados na língua
espanhola, esquecendo que eram estrangeiros, como nunca tinha sido alfabetizadora e
estava a muito tempo fora de sala de aula, foi um pouco difícil, mas ocorreu – me de
fazer muita leitura e ditados dessas histórias, isso ajudou– os, depois com a
convivência com os amigos, nas brincadeiras de rua, começaram logo a falar
corretamente o espanhol e quando iniciaram as aulas, escreviam razoavelmente bem.
Em 1991 a 1993, era dona de casa, mãe e professora de meus filhos em outro
país, onde tudo era diferente e muito aconchegante, a vida era muito simples, não
tínhamos conta em banco e nem carnet em lojas, tudo que comprávamos era a vista,
para nós não existia esse consumismo terrível que existe aqui .Todos nossos passeios
eram baratos e divertidos.O governo preocupava- se muito com a educação e com isso
22
o índice do analfabetismo era muito baixo, sendo assim um país bem culto,onde as
pessoas lutam por seus ideais, mesmo depois de terem sofrido 17 anos de ditadura
militar. Em 1993, infelizmente por força maior, retornamos para o Brasil deixando
nossos sonhos para trás.
Chegamos no dia primeiro de Maio de 1993 ,na minha cidade natal Americana,
para começar novamente a construir nosso lar. Até que em 1995 prestei o concurso
para PEB1 na Prefeitura de Americana.
23
“Viver é muito perigoso
Porque ainda não se sabe
Porque aprender a viver
É que é viver, mesmo”.
( Guimarães Rosa)
24
3.
Como iniciei minha carreira de professora
Em 1998 fui chamada pelo concurso, qual foi minha surpresa, havia sido
classificada em 36º lugar e comecei a lecionar, no começo foi muito difícil, pois afinal já
fazia 25 anos que não entrava em uma sala de aula. Estava como uma iniciante, não
sabia que rumo tomar, minha 1º escola foi o Caic, neste ano trabalhei com uma classe
de segundo ano do segundo ciclo (4° série) foi tudo muito difícil, com muitas crianças
defasadas no ensino - aprendizagem e com muito comprometimento emocional, isso
levava- os a indisciplina, foi um ano sofrido, mas com a ajuda divina consegui
sobreviver. Neste período percebi que havia um aluno que não era alfabetizado e tinha
freqüentado a aceleração do estado, com idade avançada, infelizmente não consegui
alfabetizá-lo ”Todos levavam um a um os pedaços de mim mesma. Construíram-me
pouco a pouco, como se ergue uma torre. Os povos se empilharam e apareci eu
mesmo – que formaram todos os corpos e todas as coisas humanas.” (Apollinaire)
No ano seguinte mudei para Ciep São Jerônimo onde estou até os dias de hoje.
No ano 2000 surgiu o projeto de reforço especial e aí comecei a empenhar- me
,fiz vários cursos de integração, citados na apresentação deste memorial, com o
objetivo de prevenir ou corrigir dificuldades de aprendizagem, para poder trabalhar com
essas crianças ,as quais estavam defasadas: na atenção, na concentração, na
organização, na participação, com auto- estima baixa ocasionando, insegurança,
apatia, desinteresse e imaturidade, consequentemente prejudicando seu rendimento e
sua socialização, que por diferentes razões estavam isoladas em sala de aula.
Esses seis anos de experiências contribuíram para escrita deste memorial, as
reuniões com o nosso grupo de Professora de Reforço e com as trocas de experiências,
as quais tem aprimorado meus conhecimentos e que ao mesmo tempo parece que
tudo esta pronto, mais ainda tenho que pensar e reformular mais e mais;aprofundar –
me na teoria para melhorar minha prática.
E aí, permito-me falar do orgulho que significa apresentar as histórias de amor
competente de quem um dia ensina e outro aprende com os alunos.
25
4.
Sobre o projeto de Reforço Especial (Intervenção Pedagógica)
uma forma de atuação.
Este projeto não surgiu por capricho de ninguém, mas existia em todas as
escolas da rede municipal, uma demanda de alunos tratados como “Alunos com
aprendizagem lenta” e pedia uma certa urgência na solução dos problemas advindos
dessa falta.
A forma de atuação, foi construída e sistematizada, tendo como intuito principal a
complexidade do aprender e a importância de integrar um ser humano no momento da
aprendizagem.
Passados seis anos deste projeto, com algumas experiências fracassadas e
outras estimuladoras as quais levaram - me, a estudar e aprofundar nessas teorias.
Muitas crianças foram mediadas por mim, umas foram fáceis de recuperar outras
necessitaram de um tempo maior, precisando de muita intervenção, pois tinham autoestima baixa, sensações de repetidos fracassos, devido à incapacidade de realizar
algumas coisas, assim aumentando sobre maneira a defasagem já existente entre elas.
Mas o meu objetivo, sempre foi para que se expressassem oralmente, tivessem
domínio do código escrito e compreensão dos usos da língua.
Neste projeto tive muito apoio de nossa ex-coordenadora pedagógica, Aparecida
Marques, uma grande estimuladora em meus conhecimentos teóricos, foi através dela
que aprendi a gostar e lidar com essas crianças e descobri que se depender de mim,
jamais desistirei delas. E também tivemos muitos encontros onde relatávamos nossas
angústias, tivemos como apoio a psicopedagoga Edith Rubinstein, que nos deu muito
embasamento teórico e fazíamos trocas de experiências riquíssimas em nosso grupo e
no final de ano, escrevíamos nosso projeto para ser apresentado em “Educadores em
Ação” um encontro de todos os professores da rede. “Cada ser recria, com a sua
singularidade, caminhos já indicados por outros” (Rubinstein, 2000 )“
26
Este espaço de relato de vivências “Educadores em Ação” foi muito especial,
pois se tornou um espaço de reflexão dentro de nossa formação continuada ,e o maior
laboratório cientifico, ético e profissional, presente em cada atitude, gesto, palavra que
iria possibilitar futuras mudanças através dos projetos que foram socializados,
compartilhados entre os professores e também a Edity falava muito nas concepções de
Vygotsky, e assim conseguíamos refletir sobre nossos casos unindo a teoria com a
prática.
“Sobre o funcionamento do cérebro humano.” Fundamenta - se em
sua idéia de que as funções psicológicas superiores são construídas ao
longo da história social do homem. Na sua relação com o mundo,
mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, o
ser humano cria as formas de ação que o distingui de outros animais.
Sendo assim a compreensão do desenvolvimento psicológico não pode
ser buscada em propriedades naturais do sistema nervoso. Vygotsky
rejeitou, portanto, a idéia de funções mentais fixas e imutáveis,
trabalhando com a noção do cérebro como um sistema aberto, de grande
plasticidade, suas estruturas e modos de funcionamento são moldados
ao longo da historia da espécie e do desenvolvimento individual. Dadas
as imensas possibilidades de realização humana, essa plasticidade é
essencial: o cérebro pode servir as novas funções, criadas na historia do
homem, sem que sejam necessárias transformações morfológicas no
órgão físico.” (Oliveira, 1992 )
Através desta citação senti que realmente nem uma mente é irreversível e que
todos tem capacidade em aprender é só exercitá-la em novas funções.
A Edith através destes nossos encontros e dos projetos apresentados escreveu
o livro “ O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer.”
Segundo Martinez, apud (s/ data:270)
“As funções cognitivas são uma serie de atividades mentais que se
realizam para chegar a dominar as operações mentais”. Por sua vez, as “
operações mentais são um conjunto de ações interiorizadas, organizadas
e coordenadas, pelas quais se elaboram a informação procedente das
fontes internas e externas”. (Rubinstein, 2003 )
27
Mais uma vez, através desta citação confirma - se a teoria acima de Vygotsky. E
assim quero aproveitar e relatar algumas intervenções que foram feitas por mim.
4.1 Uma professora muito especial trabalhando com crianças
muito especiais.
Foram várias crianças que passaram por minhas intervenções; quase todas
recuperadas, houve infelizmente algumas que por possuírem um comprometimento
emocional muito acentuado e ainda infelizmente não estava acontecendo a inclusão
obrigatória
a família era
comunicada que a criança deveria freqüentar uma sala
especial em outra escola, mas que também dependeria da aceitação desta, muitas
vezes foram convencidas que lá seria melhor para elas e assim optavam por isso.
28
Pois não sabiam da lei da inclusão:
A escola deve ser um ambiente que reflita a sociedade como ela
os alunos com necessidades educacionais especiais incluídos deverão
ter garantido seu espaço e oportunidade. O número destes alunos a
serem atendidos numa classe ou numa escola não deverá ultrapassar o
percentual deste seguimento populacional
As Diretrizes Nacionais para educação especial na educação
básica, artigo terceiro parágrafo único, diz que: “Os sistemas de ensino
devem constituir e fazer funcionar um setor responsável pela educação
especial, dotado de recursos humanos, materiais e financeiros que
viabilizem e dêem sustentação ao processo de construção da educação
inclusiva”. (Aranha, 2004)
No começo de minha prática como professora de intervenção pedagógica
(reforço) no ano 2000 recebi várias crianças, as quais estavam defasadas em ensinoaprendizagem comparando- as com os seus colegas, conforme a avaliação da
professora da classe.
Quando elas chegavam em minha sala, fazia novamente uma avaliação para
verificar o nível de aquisição do seus conhecimentos ,através de atividades abrangendo
a psicomotricidade, oralidade, leitura e escrita, afim de detectar as causas de
determinadas insuficiências ou insegurança, o que ocasionou ou o que não se
aproveitou, falta de base referencial do conteúdo ou como foi abordado.
Depois dessa avaliação tentava planejar ações pedagógicas para que a mesma
se apropriasse dos conceitos e respectivos aprofundamentos, conforme o seu ritmo.
Esta forma de atuação foi construída e sistematizada, tendo como preocupação
central a complexidade do aprender, a importância de se integrar o ser humano no
momento da aprendizagem e a importância do significado nesse processo, sendo uma
formula de atuação que se iniciou com a intenção de unidades, de todos, que
pressupõem, uma forma de pensar interacionista e construtivista em que podia ser
usada nas minhas intervenções desde que considerasse as particularidades do
contexto em que seria implantado. O que deveria fazer seria uma forma de “Otimização”
29
da aprendizagem e de intervenção nas dificuldades que já estavam na aprendizagem
como movimento processual.
Este projeto de trabalho era uma nova maneira de poder atingir essas crianças
com um recurso a ser utilizado por essa intervenção pedagógica.
Como já havia dito no memorial, impulsionada por um desejo de descoberta e
motivada pelo desafio, aceitei o convite e comecei a atender essas crianças e
adolescentes que por algum motivo não conseguiram aprender igual aos seus colegas.
Acreditava, inicialmente, que a minha contribuição seria ajudá-lo rever os
conteúdos escolares de uma outra maneira, usando outros recursos pedagógicos para
estimulá-los a se interessar mais pela aprendizagem .
Mas, às vezes sentia-me frustrada por não ser essa maneira mais certa, pois o
conteúdo não os interessava.
Havia em minha escola dois irmãos com muita dificuldade em aprendizagem, e
naquela época,1999, eu era professora auxiliar, então, quando não estava em sala de
aula, aproveitava e dava reforço a eles, pois era o quarto ano deles na escola sem
conseguir alfabetizarem - se, mas infelizmente no final do ano foram encaminhados e
diagnosticados por uma psicóloga da saúde. O menino foi encaminhado a uma sala
especial, mas a menina foi avaliada e diagnosticada que: deveria continuar
freqüentando o ensino fundamental regular.
Em 2000, ela começou a freqüentar a minha sala de intervenções, lembro - me
que as pessoas já tinham um conceito formado, que a mesma já estava à quatro anos
em uma sala de aula e não iria interagir,que dificilmente conseguiria ser alfabetizada.
Convivendo com outras crianças, conseguiu desenvolver - se em todas as áreas,
participando de teatros, jogos esportivos. Com o meu trabalho afetivo e com muita
mediação conseguiu alfabetizar se, usando todos os conhecimentos que estavam
interiorizados ,hoje tem ótimos conceitos em todas as áreas especificas.
O menino infelizmente foi para uma sala especial e segundo sua mãe tornou-se
um copista, mas não lê e nem escreve convencionalmente “Agora imitar o ato de
30
escrever é uma coisa, interpretar a escrita produzida é outra...”(Ferreira ; Teberosky,
1999)
Este aspecto fica evidente nas chamadas classes especiais para
deficientes mentais “leves” as quais com raras exceções, são constituídas
em grande parte, por multi - repetentes, sem qualquer caracterização
mais precisa de déficit intelectual. Ao colocar essas crianças no âmbito
do atendimento escolar do deficiente mental, a educação especial
contribui decisivamente para a disseminação da concepção de (
dificuldades
de
conseqüentemente,
aprendizagem
)
inerentes
aos
indivíduos
e,
de avalizadora da função seletiva dos processos
regulares de ensino num sistema educacional que, até hoje, tem como
uma de suas características básicas, a produção maciça do fracasso
escolar que recaem fundamentalmente, sobre as crianças das camadas
populares. ( apud Freitas pág. 174 )
No decorrer de minha vida profissional, todos os casos serviram- me de
referência como proceder em minha atuação com crianças de auto estima baixa,
insegurança, comprometimento emocionais muito acentuado refletindo na sua escrita.
31
Segundo Paín ( 1985:22)
“ As condições externas de aprendizagem são desprezadas
freqüentemente pelo piscopedagogo, em especial se ele teve uma
formação eminentemente psicanalítica. Freud não foi poupado disso;
recordemos simplesmente a importância concedida ao enquadre de seu
tratamento. É comum a criança com problemas de aprendizagem
apresentar um déficit real do meio, devido à confusão dos estímulos; à falta
de ritmo ou à velocidade com o que são blindados ou à pobreza ou
ocorrência dos mesmos em seu tratamento se vê rapidamente favorecida
mediante um material discriminado com clareza, fácil de manipular
diretamente, associado a instrução de trabalho e de acordo com o ritmo
apropriado para cada aquisição (Rubinstein, 2003 ).
Foram muitos casos atendidos, os quais foram feito uma integração entre a
cognição, afetividade e a ação deles.
Com os alunos que não apresentavam dificuldades graves, esta integração fruiu,
permitindo uma aprendizagem mais fácil. Já aqueles que por algum motivo
apresentaram dificuldades mais acentuadas, esta integração apresentou obstáculos e
desorganização, o que impedia a criança a aprender era o obstáculo de caráter afetivo,
o qual inibia a curiosidade e autonomia, se isso continuasse iria interferir nas funções
cognitivas e na sua expressão através da língua escrita. Aí entrou minha atuação em
vários casos de crianças com dificuldades de aprendizagem, com auto-estima baixa
,criança discriminada em seu meio social, os com laudos de déficit mental, crianças
pouco desenvolvidas nas áreas cognitivas e que geralmente sofriam agressões físicas
na própria casa.
Todas os casos permitiram- me que eu repensasse e iniciasse a procura de
alternativas e de conhecimentos para superar as minhas dificuldades, como já comentei
no decorrer desta escrita encontrei um caminho profissional do qual tenho muito
orgulho nos dias de hoje.
Havia uma criança que não conhecia sua imagem ,sei que não bastou somente o
trabalho do “ espelho “ , foi necessário atividades nas áreas da psicomotricidade,
32
cheguei a conclusão que uma criança só constrói sua escrita se dominar todas as áreas
necessárias, exemplo: se um menino não sabe amarrar seu próprio sapato como
exigiremos dele que desenhe a ultrapassada letra cursiva.
Como afirma Merch (1999 – 9)
(...)Não há leitura direta da linguagem e da fala. Aquilo que foi transmitido, assim
como aquilo que vai ser capturado, extrapola, e muito, o sentido que foi estabelecido
originalmente, isto por que não há apenas um significado, um sentido, um conceito para
aquilo que foi apresentado, mais uma infinidade. (Rubinstein, 2003)
33
Wallon ( 1978 ), por sua vez, afirma que a criança acessa ao mundo simbólico
por meio das manifestações afetivas que permeiam a mediação que se estabelece
entre ela e os adultos que a rodeiam. Defende que a afetividade é a fonte do
conhecimento.
Vygotsky ( apud Oliveira, 1992 ) defende que o pensamento:
Tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações,
necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta esfera estaria
a razão última do pensamento e, assim, uma compreensão completa do
pensamento humano só é possível quando se compreende sua base
afetivo.
Afirma, ainda, que o conhecimento do mundo objetivo ocorre quando desejos,
interesses e motivações aliam- se à percepção, memória, pensamento, imaginação e
vontade, em uma atividade cotidiana dinâmica entre parceiros( apud Leite, pg. 123;
Tassoni, pg 123).
34
Sinto que com toda essa afetividade dedicada a eles , acabaram criando um
vínculo muito forte com professor/aluno, com isso ficaram seguros , tornando-se
autônomos, chegando a serem bons leitores e escritores
.“De todas as artes, a mais bela
é a de educar.E de tão bela nunca se deu
por acabada.”Autor desconhecido.”
Através dessas várias intervenções pedagógicas que deram muito certo com os
meus alunos, os quais se encontravam defasados em ensino-aprendizagem, tive a
oportunidade de deixar aqui minhas impressões, sensações e muitas angústias, as
quais fazem-me pensar que tudo que fiz ou faço pelas crianças poderia acontecer em
sala de aula.
Embora, sabendo que o meu trabalho frui muito bem, pois a mediação traz
mudanças no pensar do aprendiz, leva-o a argumentar e refletir, pois o professor /
aluno estarão executando atividades juntos que levará a um bom resultado, mesmo
sabendo que o trabalho em pequenos grupos é outra realidade, é o que acontece
somente nas escolas particulares, infelizmente enquanto as salas de aulas nas escolas
estaduais e municipais forem super lotadas e sem professores auxiliares e com tão
pouco investimento na formação destes ,jamais haverá
uma educação de
qualidade.continuaram trabalhando em série e não em ciclo e a progressão continuada
estará sendo mal interpretada, como está acontecendo em todas as escolas.
“O índice cada ano é maior de analfabetos funcionais, saindo de nossas escolas
80% de mão-de-obra e só 20% de intelectuais.”
35
“Só aprende aquele que se apropria do aprendido,
transformando-o em aprendido, com o que pode , por isso
mesmo ,reinventá-lo ;aquele que é capaz de aplicar o
aprendido- aprendido a situações existenciais concretas”
Paulo Freire.
36
5-
O que a PROESF mudou em minhas reflexões
Em 2002, lembro-me que em minha escola, me convidaram a prestar o vestibular
para o PROESF, infelizmente não pude aceitar pois estava fazendo o curso do PROFA,
tinha medo de não dar conta, este curso deu-me muito embasamento para a
alfabetização. Gostaria de destacar que o mesmo não só leva a alfabetização e sim faz
com que a crianças consigam resolver situações problemas.
Mas, no ano 2003, criei coragem e fiz a inscrição para a faculdade, estudei e
pesquisei muito, estava tão tensa, pois havia muita cobrança para que eu passasse no
vestibular, isto refletiu muito no meu estado emocional, mas felizmente fui classificada e
iniciei em agosto de 2003 este curso.
Foram e estão sendo anos de luta, pois trabalho em período integral e tenho
minha família e casa para cuidar, com muitas leituras feitas, tive uma nova visão do
mundo, no 1º semestre na disciplina de história, estudando a evolução da igreja minha
fé balançou, todos os conhecimentos embutidos por minha mãe e fatos da vida,
deixaram-me confusa, mas hoje consigo entender Deus de uma maneira muito diferente
e que às vezes sinto que as pessoas estão alienadas em seus conceitos e entendendo
que existe muitos mistérios a serem desvendados na nossa fé e nossa sabedoria.
Foi com a Professora Cristina na disciplina de Português que aprendi a apreciar
ainda mais Vygotsky e aí encontrei a solução de muitos problemas com meus alunos e
aprendi .:
37
Que a capacidade de crianças com iguais níveis de desenvolvimento
mental para aprender sobre a orientação de um professor variava
enormemente, evidente que aquelas crianças não tinham a mesma idade
mental e que o curso subseqüente de seu aprendizado seria, obviamente,
diferente. Esta diferença entre doze e oito,ou entre nove e oito, é o nos
chamamos a zona do desenvolvimento proximal. Ela é a distancia entre o
nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da
solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através da solução de problemas sobre a
orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais
capazes. Através de estudos com crianças foi demonstrado que aquilo que
é a zona do desenvolvimento proximal hoje, será um nível de
desenvolvimento real amanhã - ou seja , aquilo que uma criança pode
fazer com
assistência hoje ela será capaz de fazer sozinho amanhã.
(Vygotsky, 1998)
Também com a disciplina de Multiculturalismo,comecei a mudar meus conceitos
sociais e entender que todas as pessoas são iguais e que não importa a cor e nem o
nível cultural.”Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e,assim
descobrindo-se, sofrem; mas, sobretudo, com eles lutam.(apud Freire , pg.23).
Na disciplina de Educação e Tecnologia, percebi que realmente tanto o professor
como aluno tem necessidade de entrar no mundo virtual, não dá mais para prorrogar,
“Pois o micro permite aprendizados interessantes. No teclado, por
exemplo, estão todas as letras e símbolos que a língua oferece. Quando
se ensina letra por letra, a criança acha que o alfabeto é infinito, porque
aprende uma de cada vez. Com o teclado, ela tem noção de que as letras
são poucas e finitas. Nas teclas elas são maiúsculas e no monitor
minúsculas, o que obriga a realização de uma correspondência,os
recursos tecnológicos, no entanto não substitui o texto manuscrito
durante o processo de alfabetização, mais com certeza o complementa e
exige muito da escrita e da leitura.” ( Teberosky, 2005 ).
38
Com todas estas reflexões e principalmente em Pensamento Sociológico e
Educação, comecei a enxergar que a alienação é muito forte, as pessoas não
enxergam ou não querem enxergar, pois é muito difícil lutar-mos por um ideal, corremos
muitos riscos, principalmente os nossos jovens, que quando lutam por um direito são
excluídos da sociedade. Segundo Marx :
“Em nossa sociedade a suprema ironia do capitalismo é que dominado
pensa com a cabeça do dominador e essa é a forma de domínio no
capitalismo; os trabalhadores dormem com inimigo confortavelmente
instalado em uma própria mente, todos os dias sem saber é quase como
se ouve- se em seu cérebro um chip perverso de computador, destes de
filme de ficção cientifica que o obrigam a levantar no outro dia levar uma
vida da mesma forma do dia anterior.” (Rodrigues, 2003)
“Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera
acontecer.” Talvez quando Geraldo Vandré cantava essa música ainda pensava que
este protesto iria mudar algum pensamento político, infelizmente nas escolas não mais
estamos podendo fazer as coisas na hora que queremos ou como queremos as
propostas são formuladas por economistas que desconhecem o Universo Educacional.
Mas, em sala de aula, nossas atividades têm necessidade de serem bem refletidas e
por já estar com o pensamento bem crítico, me assusta quando vejo algum professor
aplicando em alguma comemoração a música “ Marcha Soldado, cabeça de papel
quem não marchar direito vai preso pro quartel” . Sei que realmente fazem isso por pura
alienação nem param para refletir que ingenuamente estão incutindo nas cabecinhas,
subordinações. Também os livros que uso para a leitura aos alunos, procuro explicarlhes o que está atrás das escritas , ex : Pinóquio, Chapeuzinho Vermelho, e outros
contos.
Segundo Candau,1999, pg 37
“O banco prioriza em suas recomendações e conclusões , investimentos
nos seguintes aspectos: aumento do tempo de instrução, por meio da
ampliação do ano escolar, da flexibilização e adequação de horários;
reforço do dever de casa, oferta de livros didáticos, considerados
expressão operativa do currículo e elementos compensadores dos baixos
níveis de formação
docente; melhoria dos conhecimentos dos
professores, privilegiando- se a formação continuada em detrimento da
formação inicial, e estimulando- se os sistemas de educação à distância.”
39
Nas aulas de Políticas Educacionais, avaliação e gestão sempre existia relatos
de professores que mostravam muita angustia na imposição da metodologia imposta
pela Secretaria Municipal de Educação em todas as cidades do Pólo.
“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a
viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da
nossa palavra. O professor, assim , não morre jamais...” (Rubem Alves,
2001)
A relação entre educação escolar e o exercício da cidadania é que a educação
pode e deve auxiliar as pessoas a serem mais consciente em seus atos e mais críticos.
Isto ocorre quando questionamos os valores consumistas e padrões de vida imposta
pela sociedade, propondo uma nova visão com respeito ao próximo,e os recursos
naturais do planeta, Nesta disciplina de Teoria Pedagógica e Produção em Ciência e
Meio Ambiente com os conhecimentos adquiridos desenvolvi contextos culturais
determinados e fui apropriando de um pré- compreender vivência características dos
ambientes em que se inserem. Estes conhecimentos correspondem ao senso comum
que se ampliam e sofistica ao longo da vida, tomando em conta o ambiente que se vive,
isto pode dar- se de modo particular. Abordando o texto de Rubem Alves (2001) em que
o senso comum X pensamento científico.
“Quando diz que o pensamento científico é resultante do
senso comum refinado e disciplinado. Se isso é realmente
provado,
gostaria
de
saber
por
quê
razão
sempre
acreditamos e confiamos nos profissionais que nos fornecem
serviços seja de saúde ou outros? Já que o cientista virou um
mito e todos os mitos são perigosos, porque leva as pessoas
a pensar como eles querem, inibindo nossos pensamentos,
fazendo nos acreditar que não sabemos nada.”
Aí que devemos mostrar o nosso senso comum quando nós resolvemos muito
bem o nosso cotidiano e muito mais rápido do que se fossemos buscar um pensamento
cientifico.
40
Tentando finalizar este memorial gostaria de deixar uma sugestão, para que as
disciplinas do 6º semestre, fossem vistas antes pois estou percebendo, que estou
mudando ainda mais o meu conhecimento de mundo as quais teriam me ajudado muito
mais em minha pratica e na escrita deste memorial.
Na disciplina de Educação Especial, percebi que a inclusão que está sendo feita
em nossas escolas, não está correta com a lei, não existe estrutura física. Sei que não
é necessário só isso para acontecer à inclusão, mas as escolas que já possuem rampas
com corrimão e banheiros adaptados funcionam bem melhor .
Atualmente, o tema inclusão é alvo de constante discussão,
essas pessoas eram percebido como doentes e como tal, merecedores
de cuidados médicos. Hoje é muito importante a intervenção pedagógica
juntamente com atendimento clínico e social, existe a necessidade de se
oferecer atenções diferenciadas e especificas as características e
necessidades do educando.
A inclusão é uma busca de transformação social e, portanto, uma
responsabilidade e dever da família, da comunidade, do poder público e
da sociedade em geral, e nos, professores, gestores e profissionais de
educação somos agentes imprescindíveis neste processo.
Uma escola faz o trabalho de educação inclusiva quando propõe
um ensino diferenciado, uma aprendizagem diferenciada, uma avaliação
diferenciada. (Grillo & Mobilon: 2005)
Sinto que há uma necessidade urgente de reivindicar - mos amparos e que isto
tem que ser um projeto onde haja trabalho em conjunto, tanto do Governo de Estado,
da Cidade e comunidade,família e também dentro da própria escola. E que também os
professores tem que entender que inclusão não é somente as crianças com deficiências
mentais e físicas, mas aquelas que tem dificuldades em aprendizagem, que as vezes
são excluídas nas próprias salas de aula e alguns professores não percebem que o
comprometimento emocional é mais grave do que outras deficiências.
Na disciplina escola e currículo estudando os clássicos percebi o quanto a
educação ainda está atrasada :
41
Comenius (1598 / 1670) “ O homem não pode chegar a ser homem se não for
educado” “ A escola é uma bela fábrica de homens para que eles se façam como tais”
Rousseau (1712 / 1788) “O ser nasce bom a sociedade o corrompe ”
Pestalozzi “ Tudo que não toca a totalidade do seu ser, não o toca naturalmente
e não é humanamente educativa, são extensão das palavras ”
Dewey “ O presente afta o futuro”
Carl Rogers “ A única coisa que se aprende e realmente faz diferença no
comportamento da pessoa que aprende é a descoberta de si mesmo”
Paulo Freire “ O futuro não nos faz. Nos é que nos refazemos na luta para fazêlo”.
42
Agora gosto de mim
Quando vir auto-imagem de uma criança começar a se aperfeiçoar,
você verá significativos progressos na área das realizações, mais,
importante, verá uma criança que está começando a apreciar a vida.
Wayne Dyer
43
6.
Considerações Finais
Finalmente, cheguei a concretização de algo que parecia da ordem do
impossível, escrever sobre as minhas experiências em sala de aula, resumindo a
trajetória da minha formação escolar e fazendo articulações com a prática e as teorias
vistas no curso de pedagogia. A escrita quando não é um diário, nos coloca diante de
nós mesmos e também diante do outro, o nosso leitor, a quem nos mostraremos as
nossas idéias, nos deixando muito apreensivas com os seus pareceres.
Esse memorial conta uma história de amor, trabalho e cooperação. Foi no
registro das minhas experiências que pude resolver meus conflitos, assim construí a
minha identidade enquanto profissional da educação, cobrando-me disciplina,
determinação, empenho, força, vontade própria e desejo de criar minhas próprias
marcas, a minha preocupação com essas crianças é muito grande e por esse motivo
que quis expor as metodologias que uso e usei em meu trabalho e que deu muito
certo. O meu objetivo é ajudar na flexibilidade mental dos alunos, assim como sua
integração no grupo e tornando - os seres autônomos e competentes até chegar a
enfrentar situações nas quais anteriormente sentiam-se incapaz.
Por isso vejo que valeu a pena o meu trabalho com os alunos que foram e são
discriminados e isolados em sala de aula e isso me levou a estudar e aprofundar aos
muitos conhecimento sobre o processo de aprendizagem, tenho aprendido que o ser
humano é complexo e inteiro, e que tentar, treinar aspectos isolados de seu
desenvolvimento não contribui para esta completude.
A minha busca passou a ser a de encontrar formas de trabalhar que integrando
aspectos do desenvolvimento humano pudessem auxiliar o indivíduo a superar
dificuldades especificas de aprendizagem.
Foi uma tarefa muito difícil, pois além de não encontrar a sistematização do que
vinha encontrando, em material bibliográfico, no início da minha carreira, fui percebendo
que a forma de encaminhar a ação tinha que ser diferenciada e devia considerar as
particularidades de cada sujeito que procurava apoio e recuperação em meu trabalho.
44
Pude ir descobrindo que à referência que procurava se encontrava nas próprias
pessoas que apresentavam dificuldades na aprendizagem, elas me contavam a cada
dia, e me contam até hoje, qual o caminho a ser trilhado.
A partir deste conhecimento , adquirido principalmente na PROESF e na busca
de autores que desenvolveram estudos e pesquisas sobre aprendizagem, pude ir
dando corpo a forma de trabalhar, que muito embora continue considerando as
particularidades de cada caso, pois cada criança tem um tipo de comprometimento
emocional sendo que algumas foram diagnosticadas com déficit mental.
Contar sobre os processos que fui podendo fazer em minha vida profissional, e
apresentar a organização pratica e teórica a que cheguei foi o grande objetivo deste
trabalho.
Espero que este conteúdo possa realmente atingir os objetivos deste memorial e
que não seja importante apenas para mim.
Sou uma apaixonada pelo que faço, e faço aquilo que me apaixono, por isso
talvez tenha demorado tanto para perceber que preciso deixar de ser egoísta e dividir
com os outros professores a minha paixão.
45
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47
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