Saúde Financeira do País e Credibilidade do Sistema Financeiro Caboverdiano Audiência Parlamentar (9ABR2012) Situação Macroeconómica O desempenho da economia cabo-verdiana e a situação financeira do país dependem muito da conjuntura internacional e do afluxo de recursos externos, pelo que uma avaliação da evolução recente e a perspectivação da evolução futura no curto prazo devem ponderar devidamente a envolvente internacional do ponto de vista das oportunidades e riscos bem como dos desafios enfrentados pelo país. Evolução Recente As estimativas do Banco de Cabo Verde para o crescimento da economia apontam para uma taxa de crescimento do PIB de cerca de 5%, em resultado do dinamismo da procura interna, já que o contributo da procura externa líquida foi negativo, não obstante o crescimento das exportações. Em relação à inflação, evoluiu em linha com as projecções do BCV, tendo a taxa de variação média anual atingido 4,5% em 2011, uma aceleração de 2,4 pontos percentuais face a 2010. Num contexto de aumento dos preços internacionais de combustíveis e de produtos alimentares, com os seus efeitos indirectos na economia, assinala-se em 2011 a continuação do efeito de mitigação da inflação importada pelo comportamento dos preços dos bens alimentares não transformados, produzidos em larga medida internamente. Em termos da situação monetária e financeira, de realçar a prossecução da trajectória de desaceleração do crescimento da Massa Monetária alargada (M2), não obstante a dinâmica do Crédito Interno, que cresceu, destacando-se uma forte aceleração do Crédito Líquido ao Sector Público Administrativo, e a aceleração do Crédito à Economia. Em decorrência deste aumento do crédito, conjugado com o desempenho 1 desfavorável ao nível da balança de pagamentos, registou-se um decréscimo expressivo dos activos externos líquidos, destacando-se a queda das Reservas Internacionais Líquidas. Registe-se, no entanto, um melhor desempenho da balança de pagamentos no segundo semestre, o que permitiu a inversão da trajectória de diminuição das reservas no segundo semestre. Destaca-se o comportamento positivo dos depósitos dos emigrantes, no contexto duma persistente envolvente externa negativa, o que evidencia a reconhecida confiança dos emigrantes no escudo cabo-verdiano, um activo estável e credível, requisitos imprescindíveis para a estabilidade do sistema financeiro e macroeconómica do país, atento ao facto da estabilidade cambial constituir um pilar essencial do regime económico existente e, por conseguinte, uma prioridade da gestão monetária e orçamental. Finalmente, em relação ao Sector Público, as estimativas apontam para um défice orçamental de 13.263 milhões de escudos, cerca de 10% do PIB, 2,3 pontos percentuais aquém do valor registado em 2010 e 1,6 pontos percentuais abaixo da previsão do Orçamento do Estado para 2011. As receitais fiscais conheceram uma expressiva aceleração para 12,3% face aos 2,3% de 2010, ficando ligeiramente abaixo da previsão de 13%. O IVA cresceu 10,3%, menos 3,4 pontos percentuais face ao previsto e mais 3,3 pontos percentuais face ao executado em 2010. O IUR, não obstante crescer ligeiramente abaixo do IVA (9,7%), registou uma maior aceleração, de 11,8 pontos percentuais. Com um comportamento muito negativo, destacam-se os donativos que evidenciaram um enorme decréscimo de 55,5%, muito aquém da redução prevista (9,6%) e sobretudo do crescimento de 25,3% de 2010. Do lado das despesas correntes, apesar da ligeira aceleração face a 2010 – de 2,5% para 3,4% - , a execução orçamental ficou abaixo do orçamentado em 11,3 pontos percentuais, destacando-se a contenção registada nas rubricas Despesas com Pessoal e Transferências. As despesas de investimento caíram 17,6% contra um crescimento de 48% em 2011 e uma previsão de decréscimo de apenas 1,6%. A execução orçamental, na perspectiva do saldo corrente e do saldo global, melhorou face a 2010 e revelou-se melhor que o programado. O excedente corrente face ao PIB aumentou de 2% para 3,7% contra uma programação de 3,5%. A estimativa do défice global face ao PIB , de 10%, ficou aquém quer da estimativa de 2010, de 12,3%, quer da programação, de 11,6%. 2 Perspectivas Em relação às perspectivas para 2012, as projecções apontam para a estabilidade do crescimento económico no intervalo entre 4 e 5%, uma redução da inflação no intervalo entre 3 e 4% e um nível de reservas em torno dos 3 meses de importações de bens e serviços. Admite-se um abrandamento no ritmo de expansão do crédito interno, uma diminuição do investimento e uma estabilização das importações. No pressuposto do financiamento interno ao Governo Central evoluir de acordo com o orçamentado, o crédito à economia deverá conhecer um abrandamento. Num contexto de elevadas incertezas e riscos, é fundamental uma adequada articulação entre a política orçamental e a política monetária, no quadro de uma actuação prudente, nomeadamente face à necessidade de manutenção de um nível de reservas compatível com o regime cambial e ao risco de crowding-out do investimento privado. Desafios Em termos globais, face a uma conjuntura internacional desfavorável, com destaque para a Zona Euro, o desempenho económico e financeiro do país pode ser considerado moderadamente positivo, quando comparado com o desempenho económico global e dos países em desenvolvimento em particular. Face às expectativas existentes e às necessidades do país, nomeadamente para a população jovem e as camadas mais desfavorecidas, permanecem desafios, com destaque para um crescimento económico mais acelerado, gerador de mais emprego, mais inclusivo e mais sustentado. Tal pressupõe necessariamente um reforço da competitividade da economia de Cabo Verde, que passa nomeadamente pela preservação da estabilidade macroeconómica. Neste particular, e no que se refere à necessária solidez das finanças públicas, numa perspectiva consolidada – governo central, empresas públicas e municípios – e duma gestão monetária prudente, a sociedade cabo-verdiana evoluiu bastante no sentido do reconhecimento do papel fundamental da estabilidade macroeconómica. 3 Contudo, perante os riscos e incertezas crescentes a nível internacional, é possível e necessário realizar novas conquistas, a favor do reforço da constituência em prol de uma actualização das regras orçamentais e de uma maior capacitação institucional no país, com destaque para a governança económica e financeira. Justifica-se uma actualização da Lei de Enquadramento Orçamental, nomeadamente em relação à natureza e ao nível de endividamento, à dimensão do financiamento interno, com vista a uma melhor incorporação da dinâmica de crescimento do PIB nominal (considerando a taxa de crescimento real do PIB potencial e uma inflação compatível com a estabilidade de preços) e da capacidade de captação de influxos externos (sobretudo receitas de exportações e investimento directo estrangeiro) ao nível da balança de pagamentos. Sendo consensual - não obstante a importância de uma política monetária prudente que a política orçamental constitui a principal âncora do regime cambial, o nível de financiamento interno líquido do Sector Público Administrativo constitui uma variável crítica, pelo seu potencial impacto negativo, quando elevado, na Balança de Pagamentos (reservas externas) e ao nível do crowding-out do sector privado. Ainda em relação à consolidação orçamental, as melhores práticas internacionais apontam no sentido da criação, por diferentes países, de órgãos independentes, com credibilidade externa, para avaliarem os objectivos propostos relativamente aos enquadramentos macroeconómico e orçamental, à sustentabilidade das finanças públicas, ao cumprimento dos limites do saldo orçamental e das regras de endividamento. Cabo Verde deveria evoluir neste sentido, embora face à dimensão do país e aos recursos escassos disponíveis, a necessária economia institucional exija alguma inovação por parte das autoridades. Quanto à sustentabilidade da dívida pública, Cabo Verde permanece um país de baixa vulnerabilidade e de alta capacidade de gestão, de acordo com os critérios de análise da sustentabilidade da dívida utilizados conjuntamente pelo FMI e o Banco Mundial. O último exercício realizado, bem como as avaliações do BCV, confirmam a situação, mas apontam para a necessidade de políticas para a mitigação de riscos, tais como uma política prudente de endividamento e de investimentos públicos, reformas estruturais (novo PCCS, pensões), mitigação das responsabilidades contingentes. 4 Considerando o actual volume de endividamento do Governo Central, embora os riscos de insolvência sejam relativamente baixos, dado o grau de concessionalidade da carteira da dívida externa, ao dinamismo da actividade económica nacional e das receitas públicas geradas internamente, embora prevendo-se alguma moderação nas taxas de crescimento, é importante que seja cumprido o anunciado objectivo de reduzir significativamente o ritmo anual de endividamento. Tendo em consideração o elevado grau de dependência do país ao financiamento externo é de vital importância manter e mesmo reforçar a confiança dos investidores externos. Para além destes aspectos macroeconómicos, importa ter presente que a competitividade resulta sobretudo da dinâmica microeconómica e das políticas sectoriais. Por ultrapassar o escopo desta audição, reafirmo o que temos vindo a dizer, no sentido da importância da qualidade dos investimentos quer públicos, quer privados – reforço do invest in investing -, duma melhor adequação da oferta formativa às necessidades da economia, dum melhor ordenamento do território face, nomeadamente, à acelerada pressão urbana. A saúde do Sistema Financeiro do país e do seu Sector Bancário, em particular, é igualmente essencial para a garantia da estabilidade financeira, económica e da competitividade do país. Credibilidade do sistema financeiro cabo-verdiano A actividade financeira no país tem vindo a crescer acentuadamente, com predominância para o sector bancário 1 . Esta evolução positiva continuou globalmente durante o ano de 2011, tendo-se registado um crescimento dos activos na ordem dos 10%, não obstante uma ligeira quebra da rendibilidade. Factores exógenos ao sector bancário, nomeadamente o actual contexto económico de crise internacional, a desaceleração da economia nacional bem como a degradação das contas públicas e das contas externas, condicionaram a evolução do sector 1 Num período de dez anos (2001 a 2010) o número de bancos aumentou de 4 para 8 e o de parabancárias de 3 também para 8. Em 2001, Cabo Verde contava com 35 agências bancárias, em 2010 a rede já era de 105. A actividade bancária registou um crescimento anual médio na ordem de 13 % tanto para o crédito como para os activos. A evolução foi ainda mais acentuada nos depósitos, os quais cresceram em média 16% ao ano durante o período. Igual taxa de crescimento anual (16%) também se registou, nos últimos cinco anos, a nível da rede de agências bancárias. 5 bancário em 2011, tal como se verificara em 2010, cujos efeitos contribuíram para a perda da qualidade da carteira de crédito e o aumento do risco global enfrentado pelo sector bancário. O crédito com imparidade passou de 4,1% do total em 2010 para 6,8% em 2011. Reagindo a esta evolução, os bancos reforçaram os Fundos Próprios e aumentaram o nível de provisionamento para atenuar o efeito das perdas de crédito. Os fundos próprios situaram-se em 13,1 mil milhões de escudos em 2011, um aumento na ordem de 22,5% relativamente a 2010, enquanto que as provisões para cobertura de risco de crédito aumentaram em 18,2%, o que representa um índice de cobertura do crédito vencido pelas provisões de 94,8 %. Salienta-se a concentração relativamente elevada da carteira de empréstimos em actividades relacionadas com a construção. Em termos estruturais, o risco de crédito continua a ser o principal risco enfrentado pela banca nacional. Apesar disso, a banca nacional é sólida e credível, conforme indica o rácio de solvabilidade, que no final de 2011 era de 13,9, ou seja, cerca de 40% acima do mínimo regulamentar que é de 10%, e cerca de 73% acima do mínimo internacional que é de apenas 8%. O sistema de pagamentos tem garantido a normal e satisfatória liquidação das transacções financeiras e o sector segurador apresentou um aumento na sua produção e um crescimento significativo da margem de solvência. Analisando globalmente o percurso do sistema financeiro nacional, vê-se que a actividade financeira, inicialmente concentrada no sector bancário, tem vindo a tornar-se cada vez mais diversificada, designadamente pelo surgimento de novas actividades, p.e., o mercado de capitais, que tem vindo a registar uma dinâmica considerável, constituindo-se progressivamente como uma alternativa atraente para aplicação de poupanças e de financiamento para as empresas. A própria actividade bancária tem vindo a diversificar-se, passando a oferecer novos produtos e serviços (p.e., crédito à imobiliária comercial e crédito ao consumo). 6 O aumento do volume e a complexificação da actividade financeira representam desafios crescentes para a regulação e para a supervisão em Cabo Verde, à semelhança do que vem acontecendo a nível internacional. É de se realçar a estabilidade patenteada num contexto de grande turbulência a nível internacional nos anos recentes. De facto, as avaliações feitas, designadamente pelo FMI/Banco Mundial no quadro do Programa FSAP, concluíram que o sistema é globalmente robusto e estável, pese embora alguns riscos emergentes, designadamente em termos de risco de crédito e de risco de concentração. A prevenção e a mitigação desses riscos têm sido uma preocupação constante do BCV. Neste âmbito, o BCV tem vindo a monitorar de perto o sistema, analisando em detalhe as suas vulnerabilidades e introduzindo medidas com vista ao reforço da sua resiliência. Este esforço de monitorização assenta em técnicas avançadas de análise e previsão, designadamente stress tests, exercícios em que se analisa a capacidade dos bancos resistirem a um conjunto de choques extraordinários mas plausíveis, designadamente aumento do crédito mal parado, volatilidade das taxas de juro e de câmbio, entre outros. Neste pormenor, refira-se que os resultados dos últimos stress tests realizados pelo BCV, ainda que evidenciem um potencial elevado de perdas nos créditos destinados à construção e ao consumo, atestam uma elevada capacidade de resiliência do sistema financeiro face ao risco de crédito. Isto por causa das almofadas em termos de capital e de provisões entretanto introduzidas pelos bancos, conforme se referiu anteriormente. A supervisão da actividade financeira, função existente no BCV apenas desde 1993, tem evoluído, seja em termos do quadro legal (a regulação) seja em termos de capacidade operacional (instrumentos, procedimentos, sistemas e recursos humanos). Inicialmente focalizada na vertente prudencial, fundamentalmente na vertente micro, a supervisão tem hoje, também, que se preocupar com as vertentes macro e comportamental. 7 O desenvolvimento da capacidade de supervisão tem sido uma importante prioridade para o BCV. As medidas introduzidas ou em preparação nesse âmbito visam a adopção dos princípios e práticas internacionais pertinentes, designadamente (i) a migração para a supervisão baseada no risco, (ii) a introdução da supervisão macroprudencial e (iii) a introdução da supervisão comportamental. Em linha com estas orientações, e com apoio de parceiros internacionais de primeira linha (FMI, Banco Mundial, União Europeia, Banco Central do Luxemburgo, Banco Central do Brasil e consultores privados), o BCV tem vindo a promover activamente a: Melhoria dos regulamentos relativos aos diversos riscos, designadamente o risco de crédito, o risco de liquidez, o risco cambial, o risco da taxa de juros; Melhoria e integração dos sistemas de supervisão, em concreto a Central de Riscos de Crédito e a Aplicação para Supervisão Bancária; Introdução das Normas Internacionais de Relato Financeiro (International Financial Reporting Standards – IFRS) no BCV e nas entidades no seu perímetro de supervisão, introduzindo assim maior comparabilidade e fiabilidade internacionais à informação prestada pelas entidades financeiras; Formação contínua dos gestores e quadros da supervisão, seja por via de acções no exterior, seja por via de missões de assistência técnica internacional ao país; Formação contínua dos gestores e quadros do sistema financeiro, por via de workshops, seminários, com apoio de especialistas internacionais e de entidades congéneres de renome mundial; Reforço da Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliários, serviço do BCV responsável pela supervisão do mercado de capitais, capacitando-a para melhor fazer face aos riscos emergentes nesse mercado. Para além das medidas já implementadas ou em curso, e sempre na linha de continuar a modernizar o sistema, adaptando-o às normas e práticas internacionais e às particularidades e necessidades da nossa economia, outras medidas se mostram necessárias, no plano da regulação, incluindo, designadamente: 8 Melhoria da regulação do mercado de valores mobiliários: na sequência da recente aprovação de um novo Código do mercado de Valores Mobiliários, os diversos regulamentos dele emanados serão actualizados ou produzidos de raiz; Enquadramento legal da função de superintendência do sistema de pagamentos: projecto a ser desenvolvido pelo BCV em 2012. Melhoria da regulação geral do sector pela via da introdução de uma Lei de Bases do Sistema Financeiro e de uma nova Lei Bancária. Neste pormenor o BCV está em fase de finalização dos ante-projectos, para envio em breve ao Governo para aprovação. As importantes inovações preconizadas no âmbito desses diplomas incluirão: Reforço da autoridade do BCV para prevenir e combater crises no sector bancário, permitindo-lhe agir com celeridade de modo a garantir a estabilidade do sistema financeiro e a proteger os depositantes; Supressão do actual regime bancário a dois níveis (on-shore e off-shore) com tratamento prudencial diferenciado e consequentes riscos prudenciais e reputacionais; Introdução de um Fundo de Garantia de Depósitos bancários; Reforço do regime sancionatório; Melhoria da regulação do sector financeiro não bancário. Importa ainda fazer uma incursão pela actual problemática da prevenção e do combate à lavagem de capitais. À semelhança de muitos outros países, Cabo Verde encontra-se em fase de operacionalização de um sistema de prevenção e repressão deste fenómeno. Se bem que o respectivo quadro legal venha desde 2002, o mesmo foi revisto em 2009 e complementado com normativos operacionais, designadamente o Decreto-Lei que estabelece a Unidade de Informação Financeira (UIF). Inicialmente criada em 2008, e funcionando fisicamente junto do BCV, mas com total autonomia técnica e operacional, esta entidade multi-sectorial de carácter quase-policial teve recentemente a sua composição revista, de modo a conceder-lhe maior eficácia operacional e deverá em breve mudar-se fisicamente para o Ministério da Justiça. 9 O sistema financeiro, e em particular o sector bancário, vem melhorando gradualmente o seu empenho na prevenção da lavagem de capitais, sendo que o número de comunicações de operações suspeitas remetidas à UIF vem aumentando rapidamente. Refira-se que, em 2011, registou-se um crescimento dos valores envolvidos nas Comunicações de Operações Suspeitas, em cerca de 184% relativamente a 2010, ascendendo a 5.4 milhões de contos, o que corresponde a aproximadamente 4% do PIB nacional. Considerando que, de facto, a Lei foi aprovada em 2009, pode-se afirmar que não houve ainda tempo de as entidades financeiras se conformarem totalmente ao regime legal, um processo que exige tempo e implica custos. Ademais, não se pode ignorar que a aplicação prática de determinados aspectos da Lei, elaborada de acordo com os padrões internacionais, apresenta desafios consideráveis à luz de algumas facetas da realidade nacional, em concreto, os hábitos de poupança, a informalidade e o baixo grau de sofisticação financeira, particularmente no caso das populações rurais e dos emigrantes. O importante desafio que aqui se nos coloca a todos é o de prevenir e combater a lavagem de capitais, mas sem pôr em risco a actividade financeira e económica. No âmbito do quadro legal existente, e enquanto supervisor do sistema financeiro, o BCV publicou em Novembro de 2009 uma Instrução Técnica estabelecendo regras de boa prática bancária, com o propósito de combater a lavagem de capitais, bem como de acompanhar e fiscalizar a aplicação das regras e medidas de prevenção no sector bancário e financeiro em Cabo Verde. Adicionalmente, o BCV garante, por iniciativa própria ou mediante solicitação de outras entidades, a inspecção in loco e à distância das entidades financeiras no seu perímetro de supervisão. O BCV pode ainda adoptar providências extraordinárias de saneamento, dissolução e liquidação de entidades financeiras, visando a protecção dos interesses dos depositantes e outros credores e a salvaguarda do normal 10 funcionamento do mercado. Em casos extremos, por exemplo, o BCV já suspendeu gestores de uma entidade financeira e já encerrou entidades financeiras. A conformidade do sistema nacional de prevenção e combate à lavagem de capitais com os padrões internacionais, emitidos pelo Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), tem sido avaliada pela entidade regional competente, o GIABA, com resultados positivos. Por último, importa ainda salientar que o crime de lavagem de capitais está muitas vezes associado ao de financiamento do terrorismo. Aqui importa referir que se aguarda pela aprovação do projecto de Lei sobre prevenção e combate ao financiamento do terrorismo desenvolvido pelo BCV e apresentada ao Governo para decisão. Os dados aqui apresentados permitem concluir que, embora de certa forma ainda em fase de instalação, o sistema nacional de prevenção e repressão da lavagem de capitais é globalmente adequado, pese embora aqui também existirem riscos emergentes, evidentes para qualquer observador atento. Em conclusão, entende o BCV que o sistema financeiro nacional está sólido e é credível. A capacidade do BCV em matéria de supervisão do sistema financeiro é adequada, pesem embora as insuficiências resultantes de riscos emergentes mas que vão sendo suprimidas. Prova dessa adequação é que o sistema funciona globalmente bem, prestando serviços à economia e à sociedade, e os compromissos são cumpridos. De modo a que as insuficiências actuais possam ser superadas, e em aditamento às iniciativas que o BCV vem desenvolvendo, importa que haja apoio e colaboração dos demais stakeholders do sistema, cada um cumprindo com as suas responsabilidades em prol de um sistema financeiro que o país deseja e merece, e que a todos nos orgulhe e responsabilize. 11 A terminar, importa não perder de vista o facto de se estar em Cabo Verde perante um duplo e difícil desafio: para além de garantir a credibilidade do sistema financeiro, tem-se também de garantir o seu desenvolvimento, e isso passa necessariamente pelo aumento da sua competitividade, em linha com as exigências de uma economia pequena, frágil e fortemente condicionada por factores externos. Hoje é consensual que a actividade financeira pode contribuir para o crescimento económico sustentável e para o combate ao desemprego e à pobreza. De igual modo, é também evidente que no mundo cada vez mais global e competitivo em que vivemos, os desafios e as oportunidades que se oferecem ao nosso país exigem que sejamos cada vez mais competitivos, em qualquer área de actividade, e o sistema financeiro não foge à regra. E aumentar a competitividade implica assumir riscos. Tenhamos consciência disso e trabalhemos nesse sentido. 12