Relato de Caso Penetração espontânea de objeto metálico em glândula submandibular - relato de caso Spontaneous penetration of a metalic object in the submandibular gland - case report Resumo Alexandre Roberti 1 Ana Terra Morena Queiroz 2 Hemilianna Hadassa Silva Matozinho 2 Abstract Introdução: A obstrução de um ducto salivar por corpo estranho, em que ocorre inflamação crônica e fibrose de glândulas salivares, é de denominada sialoadenite. A obstrução de um ducto salivar por passagem retrógrada acidental de um corpo estranho é muito rara. Revisão de Literatura com Diagnóstico Diferencial: Alguns tipos de corpos estranhos em glândulas salivares já relatados na literatura: cerdas de escova de dente, fios de cabelo, espinha de peixe, semente de girassol, palha e até mesmo lascas de unhas. Esses corpos estranhos se alojam nas glândulas passando pelos ductos salivares gerando o quadro de sialoadenite cujos principais sintomas são: dor, edema e endurecimento da glândula acometida, além de diminuição da secreção salivar. Alguns dos diagnósticos diferenciais que devem ser considerados diante desses sintomas são: síndrome de Sjögren, sialolitíase, sialoadenite aguda e neoplasias de glândulas salivares. Apresentação de Caso Clínico: J.C.S., 32 anos, masculino, procurou atendimento médico com queixa de dor e abaulamento em região submandibular direita há 7 dias, depois de “chupar” um grampo aberto que “desapareceu” no assolho de sua boca. Discussão: O caso foi analisado sob alguns aspectos, para compara-lo com outros casos já relatados na literatura, como: idade, sexo, exames realizados, tratamento adotado, hábitos incomuns como “chupar grampos”. Comentários Finais: Para fazer o diagnóstico de sialadenite por corpo estranho é essencial fazer uma boa anamnese e inspeção da glândula e, assim, conseguir excluir outras hipóteses. Introduction: The obstruction of a gland duct due to a foreign body, associated with chronic inflammation and fibrosis of the gland, is named sialadenitis. The obstruction of the salivary duct by retrograde passage of an accidental foreign body is pretty rare. Literature Review with Differential Diagnosis: Some types of foreign bodies in the salivary glands already reported in the literature: toothbrush bristles, hairs, fishbone, sunflower seed, straw and even splinters nail. These foreign bodies are lodged in the glands by passing through salivary ducts causing sialoadenitis, whose main symptoms are pain, swelling and hardening of the affected gland, and decreased salivary secretion. Some of the differential diagnosis to be considered due to such symptoms are: Sjögren’s syndrome, sialolithiasis, acute sialadenitis and salivary gland neoplasms. Clinical Case Report: J.C.S, 32 years old, male, complains of pain and swelling of the submandibular region since he “sucked” an opened clip and it “disappeared” in his mouth seven days ago. Discussion: Some aspects of the case were analyzed and compared with others studies of the literature, such as: age, gender, exams that are usually used, chosen treatment, besides unusual habits like “suck clips”. Final Comments: The diagnosis of sialadenitis due to foreign body needs a careful inspection of the gland and also a good anamnesis, to be able to exclude other hypotheses. Key words: Submandibular Gland; Submandibular Gland Diseases; Salivary Duct Calculi; Sialadenitis; Foreign Bodies. Descritores: Glândula Submandibular; Sialadenite; Corpos Estranhos; Cálculos dos Ductos Salivares; Doenças da Glândula Submandibular. INTRODUÇÃO A obstrução de um ducto salivar por passagem retrógrada acidental de corpo estranho é muito rara. Obstruções de ductos das glândulas são mais comuns em casos com formação de cálculos no ducto, com estase salivar, podendo levar a uma infecção. Porém, também existem relatos de neoplasmas em glândulas ou mesmo cistos epidermoides, que favorecem estase e infecção1. Um quadro com obstrução do ducto, por corpo estranho, em que ocorre inflamação crônica e fibrose de glândulas salivares, é denominado sialadenite e, às vezes, pode se associar a uma infecção, com formação 1)Mestrado em Medicina (Ciências da Saúde) pelo Hospital Heliópolis - Unidade de Gestão Assistencial 1, Brasil(2006). Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Samaritano de Goiânia e Professor Assistente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Coordenador da Disciplina de Práticas Integradoras II FM-UFG. 2)Acadêmica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Instituição: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Goiania / GO – Brasil. Correspondência: Alexandre Roberti - Centro Médico Samaritano - Praça Walter Santos, 18 - 3º andar - sala 303 - Setor Coimbra - Goiânia / GO – Brasil – CEP: 74533-250 – Telefone: (+55 62) 3293-3016 - E-mail: famí[email protected]. Artigo recebido em 06/11/2012; aceito para publicação em 19/05/2013; publicado online em 31/10/2014. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há 142 e������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 3, p. 143-146, Julho / Agosto / Setembro 2014 Penetração espontânea de objeto metálico em glândula submandibular - relato de caso. de abscesso2-3. Contudo, existem outras causas para a sialadenite, que não envolvem corpos estranhos. Essas são relativamente comuns, afetando quase 1% de glândulas salivares4. Os pacientes podem não apresentar nenhuma alteração clínica, com temperatura, pulso e pressão arterial normais. O quadro é constituído dos seguintes sintomas: edema difuso e endurecimento da glândula, com notável aumento do seu tamanho, dor – que piora durante a alimentação – papila ductal edemaciada e avermelhada, com certa resistência na abertura do orifício. É comum que a quantidade de saliva secretada, pela glândula afetada, decaia de forma significativa. Quando o corpo estranho não está completamente dentro do ducto, o paciente relata a sensação de “algo pontiagudo” na boca, contudo, pode não apresentar sinais flogísticos como eritema, aumento da temperatura e turgor da pele em torno da glândula acometida2-3. REVISÃO DE LITERATURA COM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Antes do início dos sintomas, os pacientes fazem referência a histórias em que enquanto “mascavam” pedaços de grama, palito de dente, entre outros, eles eram “perdidos embaixo da língua” e sentiam uma repentina pontada na região da papila ductal5. Também já foram identificados casos de corpos estranhos que eram: cerdas de escova de dente, fios de cabelo, espinha de peixe, semente de girassol, palha e até mesmo lascas de unhas nos ductos de Wharton (ou ducto da glândula submandibular) e Stensen (ou ducto da glândula parótida)2, 3, 5, 6, 7. Existe relato de corpo estranho constituído por parte de um taco de bilhar, que havia entrado na glândula através de uma laceração superficial do zigoma8. Outra descrição apresenta uma pena de pássaro como corpo estranho, consequente ao hábito da paciente de acariciar a sua cacatua e beija-la1. Quando os primeiros casos de sialadenite por corpo estranho surgiram, era muito comum condutas terapêuticas como uso de antibióticos, extração dentária e exérese das glândulas acometidas, além de exames de Raio-X com ou sem contraste. O diagnóstico correto e o tratamento adequado demoravam demasiadamente2-3. Pilcher (1957) faz menção de um caso de abscesso do ducto da glândula submandibular que demorou doze anos até ser elucidado9. Riccio e Scavo (1967) relatam uma cirurgia na glândula submandibular, a qual se encontrava firme e tensa, envolvida por sua cápsula. Havia pouco edema, com intensa reação inflamatória periglandular, mais marcante na região do ducto, que foi identificado com certa dificuldade, apesar de estar dilatado. Quando foi feita uma incisão, imediatamente um corpo estranho verde e alongado, parecido com a folha de grama, apareceu no campo operatório3. Quando observado ao microscópio óptico, o Roberti et al. material vegetal mostrava incrustações de cálcio e a biópsia da glândula mostrou fibrose dos ácinos, infiltrado inflamatório, com exsudato purulento no ducto de Wharton. Na amostra, a saliva secretada continha amilase e ptialina, enzimas que não têm nenhum efeito na celulose, portanto, a folha de grama não seria digerida. Além disso, os efeitos bactericidas da lisozima presente não permitiam que as bactérias decompusessem o vegetal3. Um relato de caso interessante descreve um veterano da II Guerra Mundial, ferido em 1944, por estilhaços de uma explosão, que causaram-lhe lacerações da face, cinco dentes quebrados no lado direito, fragmentos incorporados na face, pescoço e língua. Depois da cirurgia para remoção dos dentes quebrados e dos fragmentos da face, pescoço e língua e reparação das lacerações, permaneceu assintomático por 30 anos. Até que estilhaços remanescentes moveram-se sutilmente, de sua posição original, indo parar no ducto de Wharton, causando sialadenite10. Existem casos de cálculos que têm seus núcleos constituídos por corpos estranhos, como, por exemplo, um membro de camarão ou um pedaço de metal de uma sonda, que foi deixada acidentalmente na cavidade oral, depois de um procedimento cirúrgico, e acabou sendo inserida no ducto salivar11. A maioria dos casos relatados na literatura trata de corpos estranhos no ducto de Wharton, pois “é fácil de penetra-lo”11. Aproximadamente 80-90% dos casos de sialadenite, por corpo estranho, acontecem no ducto da glândula submandibular. Provavelmente, essa maior “facilidade” de corpos estranhos penetrarem no ducto da glândula esteja relacionada a uma ausência ou variação no mecanismo de um sistema de esfíncter, nos primeiros três centímetros do ducto de Wharton. Marchal et al. (2001) observou a presença desse sistema de esfíncter em 90% de 120 sialoendoscopias e levantou a hipótese de ausência desse sistema em pacientes com penetração espontânea de corpos estranhos no ducto4. Quando um paciente procura atendimento médico relatando dor, edema e endurecimento da glândula submandibular, além de diminuição da secreção de saliva por aquela glândula, várias hipóteses diagnósticas surgem. Pois as glândulas salivares podem ser acometidas por várias patologias, como as doenças infecciosas, traumáticas, neoplásicas, autoimunes, associadas a defeitos metabólicos ou a problemas no desenvolvimento. As lesões mais frequentes são: mucocele, rânula, cisto do ducto salivar, sialolitíase, sialoadenite, queilite glandular, sialorreia, hipossalivação, lesão linfoepitelial benigna, síndrome de Sjögren, sialoadenose, hiperplasia adenomatoide das glândulas salivares menores, sialometaplasia necrosante e várias neoplasias de natureza benigna e maligna12. Dessas enfermidades é importante destacar como diagnósticos diferenciais: síndrome de Sjögren, sialolitíase, sialoadenite aguda e neoplasias de glândulas salivares. Pois todas essas enfermidades apresentam Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 3, p. 143-146, Julho / Agosto / Setembro 2014 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 143 Penetração espontânea de objeto metálico em glândula submandibular - relato de caso. como característica clínica marcante o inchaço de glândulas salivares. A síndrome de Sjögren é uma doença autoimune crônica caracterizada pela destruição mediada por linfócitos das glândulas exócrinas. Afeta principalmente as mulheres e é clinicamente caracterizada por olhos secos e xerostomia. Essa síndrome também está relacionada à litíase das glândulas salivares principais, acometendo principalmente a glândula parótida. A formação de sialolitos na glândula decorrente da inflamação crônica autoimune pode gerar inchaço inflamatório doloroso da glândula acometida13. A sialolitíase é responsável por 30% das afecções das glândulas salivares principais, com maior incidência em homens entre as idades de 30 e 60 anos. 92% dos cálculos ocorrem na glândula submandibular, sendo o ducto mais frequentemente afetado que o parênquima. Os cálculos geralmente consistem em uma mistura de diferentes fosfatos de cálcio junto a uma matriz orgânica. A etiologia de formação dos sialólitos pode ser tanto pela retenção de saliva (estenose do ducto salivar e divertículo do ducto salivar), quanto podem ser formados por fatores relacionados à composição da saliva (supersaturação da saliva e déficit do inibidor de cristalização)14. A litíase do ducto salivar é caracterizada pela obstrução da glândula salivar ou de seu ducto excretor devido a cálculos calcários ou sialólitos, resultando em estase salivar e subsequente dilatação da glândula que pode ser acompanhada de dor ou não. Uma consequência pode ser a sialoadenite crônica decorrente de infecção facilitada pela estase salivar15. A sialoadenite é uma inflamação das glândulas salivares que pode ser de origem infeciosa ou não, caracterizada por edema, dor e diminuição ou ausência de salivação da glândula afetada. Possui duas formas de manifestação clínica: aguda e crônica. A sialoadenite aguda pode ser provocada por vírus e bactérias, geralmente por migração retrógrada de bactérias provenientes da cavidade bucal através do ducto da glândula. Os sintomas na sialadenite aguda são: aumento no volume da glândula, acompanhado de dor (principalmente durante as refeições, devido à maior produção de saliva neste momento), edema, eritema, diminuição ou ausência da secreção da saliva da glândula afetada e secreção purulenta. O quadro também pode ser acompanhado de febre, trismo, calafrios, prostração e linfadenopatia. Já sialoadenite crônica é caracterizada por episódios repetidos de dor e inflamação, ocorrendo após um quadro anterior de sialadenite aguda. Há a destruição do parênquima e a sua substituição por tecido fibroso associado à infiltração de linfócitos, quadro decorrente da diminuição da taxa de secreção ou da obstrução do ducto salivar por sialólitos16. As neoplasias de glândulas salivares têm distribuição etária bem ampla, apresentando um pico de incidência na quinta década de vida. Há uma predominância um pouco maior entre o sexo feminino, porém isso varia de acordo com os diferentes tipos de tumor. O adenoma pleomórfico 144 e������������������������������������������� Roberti et al. é o tumor salivar mais comum (aproximadamente 50% dos tumores salivares), apesar de sua natureza benigna, tem uma propensão a ser recorrente e a evoluir para malignidade. A segunda neoplasia mais comum é o tumor de Whartin, que também é benigno e acomete quase exclusivamente as glândulas parótidas. Dentre os tumores malignos o carcinoma mucoepidermoide é o mais comum. Outros tumores que são relativamente frequentes são: adenocarcinoma (NOS), carcinoma adenoide cístico, carcinoma ex-adenoma pleomórfico, e carcinoma de ácinos celulares. Os adenomas pleomórficos das glândulas salivares principais se apresentam tipicamente como massas indolores, de crescimento lento, macios e móveis à palpação da glândula salivar acometida. Os tumores malignos, não infrequentes, diferem pouco das neoplasias benignas. No entanto, algumas características são mais sugestivas de malignidade: crescimento rápido, fixação, hemorragias, dor, evidências de comprometimento nervoso e metástases regionais ou distantes17. Nesse artigo relatamos um caso de sialoadenite da glândula submandibular devido à penetração de objeto metálico pelo ducto de Wharton. APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO Paciente J.C.S., 32 anos de idade, gênero masculino, estado civil solteiro, cor branca, procurou atendimento no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Complexo Centro Médico e Hospital Samaritano de Goiânia com queixa de dor e abaulamento em região submandibular direita há 7 dias (Figura 1). O paciente relatou que tinha o hábito chupar grampos de grampeador e que há uma semana um destes aberto havia “desaparecido” no assoalho de sua cavidade oral penetrando em sua mucosa. Desde o episódio do desaparecimento do grampo refere dor e aumento progressivo da glândula submandibular. Apresentava, em seus antecedentes, histórico de cirurgia bariátrica, porém comia bem e já estava engordando, apresentando no dia da consulta 102 quilos. Negava outras doenças. Foram realizados Raio-X simples e tomografia computadorizada da região submandibular direita que confirmaram a presença de corpo estranho em topografia da glândula Figura 1. Abaulamento em região submandibular direita. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 3, p. 143-146, Julho / Agosto / Setembro 2014 Penetração espontânea de objeto metálico em glândula submandibular - relato de caso. submandibular. Realizado procedimento cirúrgico quarenta dias após a primeira consulta com a exérese da glândula submandibular direita. O pós-operatório transcorreu sem nenhuma intercorrência e o paciente reintegrado totalmente às suas atividades normais. O exame anatomopatológico revelou apenas o corpo estranho e a presença de fibrose tecidual. DISCUSSÃO Foram estudados 10 relatos de casos publicados ao longo das últimas décadas, e percebeu-se que os pacientes com quadro de sialadenite, por corpo estranho, tinham diferentes idades, de forma que não foi observada uma predominância desse quadro em uma faixa etária específica. A literatura consultada mostrou uma variação de faixa etária que se estende desde os 14 anos até 62 anos. J.C.S., paciente deste trabalho, tem 32 anos, de forma que está incluso na faixa etária encontrada. De acordo com o estudo realizado, não foi percebida uma predominância de sialadenite, por causa de corpo estranho, em um dos sexos. Dos 10 trabalhos estudados, 5 eram pacientes masculinos e os outros 5 pacientes femininos. Essa constatação permite inferir que o fato de J.C.S. ser homem não teve grande influência como determinante do seu quadro de sialadenite por corpo estranho. A dor na região submandibular não foi referida apenas por 2 pacientes, enquanto todos os outros referiam esse sintoma. Enquanto que o “abaulamento”, referente ao edema, foi relatado por todos os indivíduos. Não houve uma prevalência de lateralidade de sialadenite da glândula submandibular, de forma que houve um equilíbrio no acometimento das glândulas esquerda e direita. Neste caso, o paciente relatou o acometimento da glândula direita. Durante a coleta do caso de J.C.S., o paciente fez referência a um hábito incomum: “chupar grampos”. Há 7 dias, um desses grampos, que fora aberto e estendido, “desapareceu” no assoalho da cavidade oral do paciente. Nos vários casos consultados existem histórias de pacientes que tinham o hábito de “comer/chupar” grama, palha, entre outros objetos pequenos e estreitos (espinha de peixe, cabelo, lascas de unha, cerdas de escovas de dente). Como já foi comentado anteriormente, existe relato de paciente que desenvolveu sialadenite por pena de cacatua. Entretanto, não foi encontrado nenhum caso em que o corpo estanho fosse um grampo. Em muitos casos foi utilizado o exame de Raio-X simples com o objetivo de se identificar o corpo estranho. Dos 10 casos estudados, apenas 2 não se utilizaram desse recurso. Todavia, esse exame de imagem não contribuiu, de forma significativa, para as conclusões dos casos, pois apenas quando havia formação de um cálculo em torno do corpo estranho (sialolitíase) é que se podia verificar, realmente, a presença de algo no ducto da glândula, pois muitos dos corpos estranhos eram de material radio transparente. Não foram encontrados Roberti et al. casos em que tomografia computadorizada foi usada para o diagnóstico. No caso em questão, J.C.S. tinha como corpo estranho um grampo que pôde ser visualizado em sua radiografia (Figura 2) e Tomografia Computadorizada (TC) (Figura 3). Os exames complementares de imagem nesse caso foram determinantes para confirmação do diagnóstico final por permitirem a visualização do corpo estranho causador da enfermidade. Sobre o tratamento, foi observado que a exérese da glândula afetada só foi realizada em alguns casos relatados, mais precisamente, em 4 dos casos. Neste caso em questão também foi realizado este procedimento Figura 2. Radiografia evidenciando corpo estranho metálico indicado por cabeças de seta em vermelho. O clip metálico externo foi colocado na imagem para referência quanto ao tamanho. Figura 3. Tomografia computadorizada evidenciando corpo estranho metálico no interior da glândula submandibular direita. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 3, p. 143-146, Julho / Agosto / Setembro 2014 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 145 Penetração espontânea de objeto metálico em glândula submandibular - relato de caso. (Figura 4). Também foram relatados dois casos em que houve remoção intraoral do corpo estranho pelo orifício do ducto salivar, além de duas extrusões espontâneas do corpo estranho após tratamento com antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos. As possíveis complicações da excisão da glândula submandibular são: paresia e paralisia de nervos (marginal, hipoglosso, lingual), sequelas estéticas, hematoma, fístulas salivares ou sialoceles, infecções da incisão cirúrgica, cicatrizes hipertróficas e inflamações causadas por litíase residual no ducto salivar. Apesar dos seus riscos conhecidos, essa cirurgia permanece válida e ainda é indicada para casos de tumores, ou condições crônicas resistentes a tratamento como sialoadenites crônicas18. No caso em questão o tratamento cirúrgico foi realizado com sucesso e não houve complicações. COMENTÁRIOS FINAIS Para selecionar o diagnóstico de sialoadenite crônica devido a corpo estranho dentre os diagnósticos de síndrome de Sjögren, sialolitíase, sialoadenite por outras causas e neoplasias de glândulas salivares é essencial ter uma história clínica bem realizada. Deve ser feita também minuciosa inspeção e palpação da região acometida, além de exame físico geral buscando descartar a possibilidade de metástases neoplásicas e as suspeitas outras manifestações sistêmicas. Grande importância deve ser dada à anamnese para evitar atrasos no diagnóstico, como em alguns casos relatados na literatura em que os médicos tiveram dificuldade em aceitar a história relatada pelo paciente. REFERÊNCIAS 1. McLoughlin LM, Dornan O. “Bird fancier’s mouth”, an unusual case of obstructive sialadenitis. The Ulster medical journal [Internet]. 2002 Nov;71(2):142–3. Available from: http://www. pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=2475312&tool= pmcentrez&rendertype=abstract 2. Ray JW. Foreign bodies in the salivary ducts. Zanesville; 1966. p. 1067–9. 3. Riccio FJ., Scavo VJ. Unusual Foreign Body Etiology of Sialadenitis. Arch Otolaryng. 1967;86:104–5. 4. Marchal F, Kurt A-M, Dulguerov P, Lehmann W. Retrograde theory in sialolithiasis formation. Arch Otolaryngol Head Neck Surg [Internet]. 2001 Jan;127(1):66–8. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/11177017 146 e������������������������������������������� Roberti et al. Figura 4. Glândula submandibular direita e grampo extraídos. 5. Watkins RM. Submandibular salivary duct calculus secondary to a foreign body. Br. J. Surg. 1982;69:379. 6. Knezevic G. Facial Sinus Caused By A Foreign Body In The Submandibular Salivary Duct. British Journal of Oral Surgery. 1983;21:69–72. 7. Tov YS, Talmi Y., Zohar Y., Laurian N. Facial cutaneous fistula due to a foreign body in Wharton’s duct. The Journal of Laryngology and Otology. 1988;102:370–1. 8. Wherry DC, Lee JG. A Foreign Body Simulating a Tumor of The Parotid Gland. Plast Reconstr Surg. 1960;25:59–61. 9. Pilcher JA. Salivary Calculus Containing A Foreign Body. Arch Otolaryngol. 1937;6:531–3. 10. Gold BD., Levy B. Delayed obstruction of a submandibular duct by shrapnel. J Oral Surgery. 1977;35:49o–491. 11. Takeshita H, Ishihara A, Yamashita T, Itoh A, Yoshida K, Fukaya M. A case of a salivary calculus containing a limb of a shrimp - The structural analysis. Aichi-Gakuin Dent Sci. 1990;3:49–58. 12. Bettio A, Maria A, Grégio T. Prevalência das lesões de glândulas salivares em laudos histopatológicos do Laboratório de Patologia Experimental da PUCPR no período Prevalence of salivary glands lesions from histopathologic diagnosis of Experimental Pathology Laboratory of PUCPR in the. RSBO. 2009;6(3):231–6. 13. Paschaloudi IKS, Fyrmpas STG, Constantinidis SSJ. Bilateral multiple sialolithiasis of the parotid gland in a patient with Sjögren ’ s syndrome. Acta Otorhinolaryngologica Italica. 2007;27:41–4. 14. Tregnaghi MAA, Staffieri VPA. Current opinions in sialolithiasis diagnosis and treatment. Acta Otorhinolaryngologica Italica. 2005;25:145–9. 15. Lagares DT, Piedra SB, Ángeles M, Figallo S, Iglesias PH, Mar- A, et al. Parotid sialolithiasis in Stensen ´ s duct. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2006;11:80–4. 16. Alvarenga, R. Martins, P. Seabra, R. Carneiro, Souza L. Sialoadenite supurativa aguda em glândula submandibular. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe. 2009;9(3):29–34. 17. Eveson J. Salivary tumours. Periodontology 2000. 2011;57:150–9. 18. Hernando M, Echarri RM, Taha M. Surgical Complications of Submandibular Gland Excision. Acta Otorrinolaringolocica. 2012;63(1):42–6. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 3, p. 143-146, Julho / Agosto / Setembro 2014