TRATAMENTO CLÍNICO PERIODONTAL ASSOCIADO AO LASER: REVISÃO DA LITERATURA Fábio S. Peres¹, Raphael M. Souza², Cibelle B. Lope s³ Univap/Faculdade de Ciências da Saúde, Av. Shishima Hifumi, 2911 Urbanova, 12244-000 Fone: +55 12 3947 1014, [email protected] Resumo- O objetivo deste estudo foi investigar através da revisão da literatura a importância do tratamento clínico periodontal associado ao Laser. Para este estudo foram pesquisadas diversas bases científicas, onde foram encontrados 12 trabalhos clínicos relacionados com laser em periodontia, sendo 50% Laser cirúrgico, 33% com a Fotobiomodulação a Laser e 17% com Terapia Fotodinâmica. A partir deste estudo foi possível observar que o laser pode ajudar no tratamento periodontal, diminuindo a dor, melhorando a reparação tecidual, ganho do nível clínico de inserção, diminuição do sangramento, redução de bolsa periodontal e na redução bacteriana. Concluiu-se através dos trabalhos encontrados que são necessários mais estudos clínicos para otimizar a utilização do laser na prática clínica. O futuro do laser na periodontia tem um alto potencial e as pesquisas devem continuar sendo realizadas para que o laser se torne com sucesso uma terapia adicional não substituindo o tratamento periodontal convencional. Palavras-chave: Fotobiomodulação a laser, LLLT, Tratamento periodontal. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde 1. Introdução A doença periodontal é uma doença multifatorial associada com a perda dos dentes e tecidos de suporte (CHRISTOUDOULIES et al., 2008). A gengivite não afeta a inserção dos dentes é reversível após o tratamento adequado. A periodontite resulta em perda de tecido ósseo, de inserção e é uma das principais causas da perda dentária em adultos (PIHLSTROM et al., 2005). O controle do biofilme e dos produtos bacterianos relacionados tem sido a chave para a estabilização dos resultados conseguidos no tratamento básico e/ou cirúrgico periodontal (ALMEIDA et al., 2008). Atualmente, o tratamento com laser (cirúrgico e não cirúrgico) vem sendo associado ao tratamento periodontal com a finalidade de melhorar as condições clínicas do paciente. A Fotobiomodulação a Laser (laser não cirúrgico) quando indicada substitui fármacos diminuindo a dor, inflamação, edema, melhorando a reparação tecidual e a redução bacteriana (MENDEZ et al., 2004; MAIYA et al.; MERLI et al., 2005). A redução bacteriana pode estar associada com a terapia fotodinâmica que é a associação do corante que quando fotoativado reage com as moléculas levando a produção de oxigênio singleto causando a morte bacteriana. Ou seja, esta pode ser um coadjuvante promissor à terapia periodontal não cirúrgica (ALMEIDA et al., 2006; PERUSSI et al., 2007). O objetivo deste estudo foi investigar através da revisão da literatura a importância do tratamento clínico periodontal associado ao Laser. 2. Metodologia Para este estudo foram pesquisadas diferentes bases científicas (Periódicos, Medline, Pubmed, Bireme), com as palavras-chaves (LLLT, Lasertherapy, nonsurgical periodontal therapy, wound healing). Foram encontrados 27 trabalhos relacionados com laser em periodontia, somente doze estudos clínicos, sendo seis com laser cirúrgico, quatro com fotobiomodulação a laser e dois trabalhos com terapia fotodinâmica. 3.1 Laser Cirúrgico Moritz et al. (1997) avaliaram a redução bacteriana em bolsa periodontal através do Nd: YAG (805nm, 2,5W) em 50 pacientes com profundidade à sondagem a partir de 4mm. Os pacientes foram divididos em dois grupos. As amostras microbiológicas foram avaliadas para verificar a eliminação das bactérias das bolsas periodontais. Uma comparação entre a primeira e a última contagem bacteriana revelou que a irradiação laser facilitou consideravelmente a eliminação bacteriana, especialmente para o Aa. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Schwarz et al. (2003) realizaram uma avaliação clínica com o Er:YAG em combinação com uma matriz protéica de esmalte no tratamento de defeitos intra-ósseos periodontais. Para este estudo avaliaram vinte dois pacientes com periodontite crônica foram tratados com Er:YAG (160 mJ / pulso, 10 Hz), RACR e Matriz protéica de esmalte. Os parâmetros clínicos foram avaliados no início e aos 6 meses. Houve cura em todos os pacientes, mas não foram observadas diferenças importantes significativas estaticamente e clinicamente entre as duas modalidades de tratamento. Borrajo et. al, (2004) avaliaram a eficácia clínica do diodo (980nm, 2W) associada a RACR. Foram selecionados 30 pacientes com doença periodontal moderada e avaliados os parâmetros clínicos antes e após o tratamento. Os autores concluíram que a RACR associada ao laser resulta em uma melhora clínica moderada sobre o tratamento tradicional. Assaf et al. (2007) avaliaram o laser diodo para reduzir a bacteremia associada com raspagem ultrasônica. Para este estudo avaliaram vinte dois pacientes receberam RACR, um lado foi irradiado e o outro o controle. (810nm,1,0 W). Com somente com ultrasom a taxa de bacteremia foi de 68% e quando associada com a FBL foi de 36%. A redução na incidência de bacterimia foi estatisticamente significativa (p>0,05) entre irradiado e controle. Não observaram diferenças estatísticas com relação aos sinais clínicos (p=0,05). Os autores observaram que ambos os tratamentos conduziram estaticamente a melhoras significativas em todos os parâmetros clínicos observados. Kamma et al. (2009) compararam o efeito da RACR associada ou não a FBL sobre parâmetros clínicos e microbiológicos em pacientes com periodontite agressiva. Foram avaliados trinta pacientes com periodontite agressiva. O laser utilizado foi um diodo (980nm, CW, 2W) e amostras foram coletadas após duas semanas, 12 semanas, e 6 meses após o tratamento. Segundo os autores a RACR associada à irradiação laser demonstrou os melhores resultados com relação aos demais grupos (controle e RACR), sendo o melhor período observado foi em 12 semanas após o tratamento. Kara (2008) avaliaram o nível de ansiedade entre os pacientes que sofreram frenectomia usando Nd:YAG e técnica convencional. Foram avaliadas dor pós-operatória, desconforto e complicações funcionais. Foram selecionados quarenta pacientes com problemas gengivais. Os Resultados indicaram que os pacientes tratados com Nd:YAG tiveram menor dor pós-operatória e menos complicações funcionais (p<0.05). O autor concluíu que o laser promove sucesso no pós-operatório quando comparado à cirurgia convencional. 2.2 Fotobiomodulação a Laser Amorin et al. (2006) investigaram a cicatrização gengival após gengivectomia associada a fotobiomodulação a laser (FBL) em vinte pacientes com doença periodontal. Após a raspagem e aplainamento coronário e radicular (RACR), foi realizada a gengivectomia bilateral. Um lado foi o controle e outro recebeu a FBL (685nm, 50mW, 4J/cm²). Os autores encontraram diferenças estatisticamente significantes na profundidade à sondagem nos dias 21 e 28 após a cirurgia. Sugerindo que o laser auxiliou na recuperação mais rápida nestes períodos, com uma redução de profundidade de bolsa, em comparação com ao controle. Concluíram que o a FBL foi um eficaz como coadjuvante e promoveu a cicatrização tecidual. Ribeiro et al. (2008) avaliaram o efeito analgésico da FBL sobre a RACR subgengival. Foram selecionados 10 pacientes e medidos 6 sítios por dente,4 dentes por hemiarco (Total: 960 sítios). Após RACR os pacientes receberam FBL (780nm, 35J/cm2, 70mW, 20s, única aplicação) para a analgesia pré-operatória e para a cicatrização (630nm, 8,8J/cm2, 35mW, 10s, após 24 e 48h). A avaliação da dor foi realizada no dia do tratamento e após 3 dias. Foi observada redução da inflamação gengival, mas sem diferença estatisticamente significativa entre o controle e o laser. Assim como nos aspectos clínicos e na avaliação da dor durante o procedimento. Segundo os autores não forneceu qualquer benefício clínico aparente em dentes com bolsas rasas a moderadas. Silveira et al. (2008) investigaram o número total de mastócitos em gengiva de humanos após a FBL. Foram avaliados 20 pacientes indicados para gengivectomia e divididos em três grupos: controle e dois grupos irradiados com 85J/cm2 (688nm, 785nm, 50mW, 36Hz, 36s, 1cm2). Observaram um aumento considerável no percentual de degranulação de mastócitos. Estes autores, relataram que após a cirurgia, as feridas tratadas com laser demostraram melhor reparo com relação ao a cor e o contorno da gengiva e melhorou a cicatrização da mucosa. Dilsiz et al. (2009) avaliaram a efetividade entre o Nd:YAG e o diodo (685nm) na hipersensibilidade XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 dentinária em 14 pacientes. Avaliaram através de escala visual de dor. Ambos os laseres podem ser usados para reduzir a hipersensibilidade sem efeitos adversos, segundo os autores o laser Nd:YAG demonstrou ser mais efetivo que o diodo. 2.3.Terapia Fotodinâmica Oliveira et al. (2007) realizaram um estudo em pacientes com a Terapia fotodinâmica (TFD) associada ao tratamento não-cirúrgico da periodontite agressiva. Foram selecionados dez pacientes tratados pela RACR, em seguida receberam a TFD (690nm+fotossensibilizador a fenotiazina). Os índices clínicos foram avaliados no início do estudo e 3 meses após o tratamento. Segundo os autores as diferenças não foram significativas em nenhum dos parâmetros avaliados entre os grupos, os resultados clínicos foram semelhantes a um tratamento não-cirúrgico para a periodontite agressiva. Christoudoulies et al (2008) avaliaram os efeitos clínicos e microbiológicos da TFD associada à RACR em 24 pacientes. Realizaram única sessão de TFD (670nm+fotosensibilizador líquido) associada a RACR e comparam ao controle (RACR). Os parâmetros clínicos e a microbiota (A.a., P.g, P.i, T.f., T.d., P.m., F.n., C.r., E.n., E.c., C.s.) foram avaliados no tempo 0, três e seis meses após o tratamento. Segundo os autores nos períodos avaliados somente encontraram resultados estatisticamente significantes para a taxa de sangramento gengival quando comparado ao grupo controle. 3. Resultados Os vinte sete trabalhos relacionados com laser em periodontia podem ser subdivididos em trabalhos clínicos, in vitro e in vivo. Figura 3.1: Gráfico esquemático dos artigos com laser em periodontia. Os doze trabalhos clínicos relacionados com laser em periodontia podem ser subdivididos em trabalhos clínicos com laser cirúrgico, fotobiomodulação a laser e terapia fotodinâmica. 41% Figura 3.2: Gráfico esquemático 41% dos artigos encontrados em periodontia com aplicação clínica do Laser. 4. Discussão A partir deste estudo foi possível observar a utilização do laser na prática clínica quanto a sua eficácia na redução bacteriana, parâmetros clínicos, reparação tecidual e dor pós-operatória. A redução bacteriana através do laser cirúrgico é baseada no efeito térmico e esta é uma técnica limitada, pois depende da quantidade de energia absorvida pelo tecido, tempo de aplicação, tipo de irradiação, comprimento de onda do laser. Por exemplo, o diodo não causa efeito térmico à polpa, mas o Nd:YAG pode aumentar a temperatura e causar lesão pulpar, ou seja, a maior vantagem do diodo é o mínimo de dor que pode causar ao paciente com relação ao Nd: YAG (MORITZ et al., 1997). A redução bacteriana com laser cirúrgico pode ser observada em alguns estudos clínicos com associação do tratamento periodontal não cirúrgico para tratar a periodontite crônica (MORITZ et al., 1997; BORRAJO et al.,2004) e periodontite agressiva (KAMMA et al., 2009). O laser cirúrgico também foi associado ao tratamento periodontal com o ultra-som, mas não demonstrou bons resultados para reparação tecidual, somente para redução bacteriana (ASSAF et al., 2007). Isto pode ter ocorrido devido às características do laser e do protocolo utilizado por Assaf et al. (2007), pois se sabe que o sucesso da reparação tecidual está relacionado aos efeitos da fotobiomodulação a XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 laser, ou seja, baixa potência sem efeito térmico (LOPES et al., 2007). Através da fotobiomodulação a laser a redução bacteriana pode estar associada à Terapia fotodinâmica, como foi utilizada no tratamento da periodontite agressiva e no tratamento da periodontite crônica (OLIVEIRA et al., 2007; CHRISTOUDOULIES et al., 2008). Na rotina clínica o controle da dor é muito importante para condição física do paciente e para efetividade do tratamento. A redução da dor foi observada na reparação tecidual pós frenectomias realizadas com o laser cirúrgico Nd:YAG (KARA, 2008), após gengivectomia e fotobiomodulação a laser 780 e 630nm (RIBEIRO et al., 2008) e na hipersensibilidade dentária (DILSIZ et al., 2009). A ação do laser na analgesia ocorre pela inibição da ciclooxigenase pela interrupção da conversão do ácido araquidônico em prostaglandina e também aumenta a produção de endodorfina que é um analgésico fisiológico (RIBEIRO et al., 2008). Com relação à redução na profundidade de sondagem e ganho do nível clinico de inserção foram observados no tratamento da periodontite crônica através da associação do tratamento periodontal não cirúrgico (RACR) com laser cirúrgico diodo 980nm (KAMMA et al., 2009) e na reparação tecidual de gengivectomia após fotobiomodulação a laser 685nm (AMORIM et al., 2006; SILVEIRA et al., 2008). A reparação tecidual nos grupos irradiados com laser sugestiona segundo os autores, uma alta produção de colágeno e melhor remodelação do tecido conjuntivo. A redução da profundidade de sondagem nos estágios iniciais indica uma boa higiene oral realizada pelo paciente (AMORIM et al., 2006). Neste estudo, foram observadas algumas dificuldades relacionadas ao delineamento clínico, ou seja, a discrepância entre os estudos de bacteremia pode estar ocorrendo devido a uma variedade de fatores: severidade da inflamação, o método usado para induzir bacteremia (raspagem ou extração), métodos de culturas e o tempo de amostras de sangue após o procedimento indutor (ASSAF et al., 2007). Além disso, outra dificuldade é com relação a avaliação clínica dos grupos experimentais, por exemplo, no estudo realizado por Schwarz et al., (2003) o autor não observou diferenças significantes entre os grupos (Er: YAG + Matriz de esmalte; EDTA+ Matriz de esmalte) após 6 meses e segundo o autor a diferença significativa poderia ser observada através da análise histológica, o que não é possível para um estudo clínico, além disso os autores atentam para o número pequeno de amostras. 5. Conclusão A partir dos trabalhos encontrados neste estudo, concluiu-se que há uma necessidade de serem realizados para que o uso do laser na prática clínica seja validado. O futuro do laser na periodontia tem um alto potencial e as pesquisas devem continuar sendo realizadas para que o laser se torne com sucesso uma terapia adicional não substituindo o tratamento periodontal convencional. Os estudos clínicos indicam uma diferença entre protocolos de laser com relação ao tipo de laser, comprimento de onda, parâmetros clínicos, número de pacientes e amostras, técnicas de avaliação clínica e nas comparações com as técnicas convencionais. 6. Referências - ALMEIDA, J.M; Garcia, V.G; Theodoro, L.H; Bosco, A.F; Nagata, M.J.H; Macarini, V.C. Terapia Fotodinâmica:Uma Opção na Terapia Periodontal. Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.42, n.3,161-256, jul./set. 2006. - ALMEIDA, J. M., et al. In Vivo Effect of PhotodynamicTherapy on Periodontal Bone Lossin Dental Furcations. 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