POPULAÇÃO DE PLANTIO DE ALGODÃO PARA O OESTE BAIANO

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POPULAÇÃO DE PLANTIO DE ALGODÃO PARA O OESTE BAIANO
Liv Soares Severino1; João Luís da Silva Filho1; João Batista dos Santos2 ; Arnaldo Rocha de Alencar1.
(1)Embrapa Algodão: e-mail [email protected] (2)EBDA: e-mail [email protected];
RESUMO
A adequação da população de plantio é uma prática cultural de fácil aplicação que pode ter grande
influência sobre a produtividade de uma lavoura de algodão. Foi instalado um experimento na Fazenda
Amizade, Grupo Maêda, Município de Correntina, BA, utilizando a cultivar Delta Opal. Testaram-se os
espaçamentos entre linhas de 0,35 / 0,5 e 0,75m e densidades de plantio 5,4 / 6,5 / 7,7 e 8,8 pl/m.
Utilizou-se parcela de 36 m2 com 12m2 de área útil. O plantio foi feito no início de dezembro/2002 e
colheita em julho/2003. Os tratos culturais foram os mesmos aplicados na lavoura da fazenda. Pela
análise de variância, o número de capulhos / planta e a produtividade foram influenciados pelos
tratamentos. A produtividade foi maior no espaçamento mais estreito, possivelmente devido ao melhor
aproveitamento da radiação solar ou reduzida competição por água e nutrientes. A densidade de
plantio, porém, não influenciou a produtividade. Conclui-se que no ciclo de 2002/2003 no Oeste Baiano,
o espaçamento estreito (0,35m) teve produtividade 13% maior que o espaçamento largo (0,75m).
INTRODUÇÃO
A população de plantio é determinada pelo espaçamento entre linhas de plantio e pela distância
entre as plantas dentro da linha. Trata-se de uma prática cultural simples, mas que tem grande
influência sobre a produtividade de uma lavoura.
A escolha da população de plantio adequada precisa levar em consideração fatores ligados ao
clima, ao solo, à cultivar a ser plantada, máquinas a serem utilizadas durante o cultivo e o manejo que
será empregado. Uma população de plantas abaixo do ideal não aproveita eficientemente a área, os
tratos culturais e os recursos ambientais: nutrientes, água e luz, resultando em baixa produtividade. Por
outro lado, uma população de plantas muito alta ocasiona competição entre as plantas pelos mesmos
fatores ambientais e também favorece maior ocorrência de pragas e doenças, fatores que se somam e
ocasionam baixa produtividade (Azevedo et al., 1999).
Devido à influência de tão variados fatores, alguns controláveis outros não, os resultados de
pesquisa sobre população de plantio trazem resultados aparentemente contraditórios, levando a
conclusões divergentes sobre uma mesma população de plantio. Alguns resultados de pesquisa
mostram diminuição da produtividade ao diminuir o espaçamento (Bolonhezi et al., 1999; Moresco et
al., 1999a) e em outros a produtividade não se altera (Moresco et al., 1999b; Staut e Lamas, 1999).
Por esse motivo, é preciso analisar as razões para que a produtividade e outras características da
planta se comportem de uma forma ou de outra.
O presente estudo avaliou três espaçamentos e quatro densidades de plantio, objetivando avaliar
o comportamento da lavoura e determinar a população de plantio adequada ao Município de
Correntina, BA localizada no Oeste Baiano.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi plantado na Fazenda Amizade pertencente ao Grupo Maeda no Município de
Correntina, BA, no início de dezembro de 2002. Utilizaram-se sementes da cultivar Delta Opal. Os
tratamentos foram a combinação fatorial de três espaçamentos entre linhas (0,35m / 0,5m / 0,75m) e
quatro densidades de sementes (5,4 / 6,5 / 7,7 e 8,8 pl / m). Adotou-se delineamento de blocos
casualizados com três repetições. A parcela experimental foi de 6m x 6m, sendo a área útil de 4 metros
de comprimento e 3 metros de largura nos espaçamentos 0,5 e 0,75m e 2,8 metros no espaçamento
0,35m, totalizando 12m2 ou 11,2m2, conforme o tratamento. Aos quinze dias após a emergência das
plantas, realizou-se desbaste para obtenção das densidades desejadas. A condução da lavoura foi a
mesma do manejo adotado na fazenda para fertilização, controle de ervas, pragas e doenças e
aplicação de regulador de crescimento. A colheita foi feita a mão em julho/2003. Dentro da área útil foi
escolhida aleatoriamente uma linha na qual dez plantas foram utilizadas para contagem do número de
capulhos/planta e da altura. A produtividade foi medida em toda a área útil.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resumo das análises de variância encontra-se na Tabela 1. O número de capulhos / planta foi
influenciado tanto pelo espaçamento quanto pela densidade de plantio. A altura de plantas não sofreu
influencia dos tratamentos. A produtividade foi influenciada pelo espaçamento entre plantas, mas não
pela densidade de plantas dentro da linha.
O algodoeiro é uma planta com grande plasticidade no comportamento da produtividade em
função da população de plantas (Beltrão, 2001), razão pela qual a produtividade não variou
significativamente quando se aumentou a densidade de plantas na linha.
Nas Figuras 1 e 2 pode ser observado o efeito dos tratamentos sobre o número de capulhos /
planta. A planta comportou-se como esperado, tendo maior número de capulhos quando havia mais
espaço para seu desenvolvimento, ou seja, nos maiores espaçamentos e nas menores densidades.
A produtividade aumentou com a redução da distância entre linhas de plantio, conforme
apresentado nas Figuras 3 e 4. Os valores observados foram de 5.257 kg/ha no espaçamento de
0,75m e de 5.956 kg/ha no espaçamento de 0,35m, diferença de quase 700 kg/ha que correspondem a
aumento de 13% na produtividade.
No ciclo de 2002/2003, a distribuição de chuvas foi muito boa, sem ocorrência do veranico que
freqüentemente estabelece-se nos meses de janeiro ou fevereiro naquela região, o qual prejudica
sensivelmente a produção. Por esse motivo, a competição por água possivelmente não foi o fator
limitante da produtividade.
Os dados coletados no experimento não permitem concluir o motivo para a maior produtividade
no menor espaçamento. Duas possíveis causas podem ser consideradas: a) nos menores
espaçamentos houve melhor aproveitamento da radiação solar porque foi deixado menos espaço livre
entre as linhas, permitindo que grande parte da área estivesse coberta pelas folhas das plantas (a
radiação não foi medida para comprovar a hipótese); b) a disponibilidade de água e nutrientes não foi
limitante, fazendo com que o maior número de plantas por área resultasse em maior produtividade.
Os resultados obtidos precisam ser confirmados por mais um ano agrícola, de forma que se
tenha segurança sobre o comportamento da planta, avaliando-se também alguns fatores que possam
influenciar a produtividade, como o aproveitamento da radiação solar, e competição por água e
nutrientes.
CONCLUSÕES
1 – o espaçamento de 0,35m entre linhas resultou em produtividade 13% maior que o
espaçamento de 0,75m;
2- a densidade de plantas na linha variando entre 5,4 e 8,8 pl/m não influenciou a produtividade;
3- o número de capulhos/planta foi influenciado pelo espaçamento e pela densidade, sendo
maior quando se reduziu a população de plantas;
4- a altura não foi influenciada pelos tratamentos aplicados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, D. M. P.; BELTRÃO, N. E. M.; VIEIRA, D. J.; NÓBREGA, L. B. Manejo Cultural. In:
Beltrão, N. E. M. (org.) O Agronegócio do Algodão no Brasil. Campina Grande: Embrapa, 1999.
p. 509-551.
BELTRÃO, N. E. M. Componentes da produção na cotonicultura: uma visão integrada. In:
Congresso Brasileiro de Algodão, 3., 2001, Campo Grande. Anais ... Campo Grande: Embrapa
Algodão / Embrapa Agropecuária Oeste, 2001. p. 49-52.
BOLONHEZI, A. C.; JUSTI, M. M.; OLIVEIRA, R. C. BOLONHEZI, D. Espaçamentos estreitos para
variedades de algodão herbáceo: desenvolvimento da planta e retenção de estruturas reprodutivas.
In: Congresso Brasileiro de Algodão, 2., 1999, Ribeirão Preto. Anais...Ribeirão Preto: Embrapa
Algodão / Instituto Biológico, 1999. p. 611-613.
MORESCO, E. R.; FARIAS, F. J. C.; SOUZA, M.; AGUIAR, P. H.; MARQUES, M. F.; TAKEDA, C.
Influência da densidade e do espaçamento na produtividade do algodoeiro herbáceo. I In:
Congresso Brasileiro de Algodão, 2., 1999a, Ribeirão Preto. Anais...Ribeirão Preto: Embrapa
Algodão / Instituto Biológico, 1999. p. 632-633.
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Influência da densidade e do espaçamento na produtividade do algodoeiro herbáceo. II In:
Congresso Brasileiro de Algodão, 2., 1999b, Ribeirão Preto. Anais...Ribeirão Preto: Embrapa
Algodão / Instituto Biológico, 1999. p. 629-631.
STAUT, L. A.; LAMAS, F. M. Arranjo de plantas e época de semeadura para a cultura do algodoeiro.
In: Congresso Brasileiro de Algodão, 2., 1999, Ribeirão Preto. Anais...Ribeirão Preto: Embrapa
Algodão / Instituto Biológico, 1999. p. 649-652.
Tabela 1. Resumo das Análises de Variância das variáveis número de capulhos/planta, altura e
produtividade de algodão em caroço. Correntina, BA. 2003.
Característica analisada
Número de capulhos / planta
Altura
Produtividade
(algodão em caroço)
F.V.
Densidade (D)
Espaçamento (E)
DxE
Erro
Densidade (D)
Espaçamento (E)
DxE
Erro
Densidade (D)
Espaçamento (E)
DxE
Erro
G.L.
3
2
6
22
3
2
6
22
3
2
6
22
Q.M.
23,09
21,53
2,56
1,55
0,66
0,43
0,80
0,68
166,77
1.571,54
132,89
276,94
F
14,9**
13,9**
1,65ns
0,97 ns
0,63 ns
1,17 ns
0,60 ns
5,67**
0,48 ns
-
Os valores de F seguidos de “ns” ou **significam respectivamente não significativos e significativos a 1%
Figura 1. Comportamento do número de capulhos / Figura 2. Comportamento do número de capulhos /
planta em função de espaçamentos entre linhas.
planta em função de diferentes densidades de
plantio.
Figura 3. Comportamento da produtividade de Figura 4. Comportamento da produtividade de
algodão em caroço (kg/ha) em função de diferentes algodão em caroço (kg/ha) em função de diferentes
espaçamentos entre linhas.
densidades de plantio.
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