uma nova forma de ver a didática e a prática de ensino

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Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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UMA NOVA FORMA DE VER A DIDÁTICA E A PRÁTICA DE ENSINO:
REPENSANDO A RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA NO CURSO DE
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA UFPR-LITORAL
CANZIANI, Tatiana de Medeiros. Universidade de São Paulo (USP).
Resumo: Este artigo tem por objetivo refletir sobre a experiência desenvolvida no/pelo
curso de formação inicial de professores, licenciatura em Ciências, na Universidade
Federal do Paraná – Setor Litoral, município de Matinhos/ Paraná, no que diz respeito à
relação entre teoria e prática como elementos constituintes e de grande impacto na
construção da identidade do profissional docente. A partir de um recorte focado na
organização curricular da licenciatura, essa reflexão se dá por meio de revisão
bibliográfica sobre o tema e também de análise de documentação estruturante da
graduação - projeto pedagógico de curso (PPC) - e da instituição - projeto
políticopedagógico do Setor (PPP) - e se refere à primeira fase do trabalho de
doutoramento realizado pela pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade de São Paulo, dentro da área temática Didática, Teorias de Ensino e
Práticas Escolares. A concepção de currículo veiculada a esse curso de formação inicial
de professores, focado em formação para a docência emancipatória, dá-se a partir de
princípios de flexibilização curricular, na qual se possibilita o exercício experiencial de
uma visão didático-pedagógica na qual a ciência é entendida como uma construção
humana, historicamente estabelecida, e (re)construída cotidianamente por e entre os
sujeitos. Essa proposta se encaminha dentro da perspectiva de profissionalização
docente pensada por Maurice Tardif (2012), por meio da qual se entende a construção
dos saberes do professor, de modo plural e temporal,em diferentes etapas da vida do
sujeito e interferindo diretamente na ação do profissional em sala de aula e na escola.
Nesse sentido, a concepção de didática e prática de ensino passa a inserir-se em um
novo panorama no qual os limites da universidade são transpostos, na medidaem que a
escola se aproxima, propiciando novas formas de tratar o saber docente.
Palavras-chave: Didática; Prática de Ensino; Formação Inicial de Professores.
Introdução:
A transição de paradigmas pela qual passa a educação atual, em contexto
brasileiro, faz com que novos modelos didático-pedagógicos se estabeleçam como
forma de responder a concepções educacionais mais humanísticas e integradas/
integradoras.Nesse sentido, surgem experiências educativas interessantes – baseadas em
linhas teóricas de pensamento ainda em construção - no que diz respeito a práticas
inovadoras que tem por objetivo propiciar a transformação do espaço escolar e
acadêmico em um ambiente mais dinâmico e conscientemente mais heterogêneo.
Com o intuito de discorrer sobre esse caráter experiencial de um novo modelo
educacional proposto, esse artigo pretende abordar a organização curricular do curso de
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licenciatura em Ciências, da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral (UFPR
Litoral) a partir de uma reflexão direcionada à didática e à prática de ensino da
graduação em questão, como forma de repensar a relação existente entre teoria e prática
na formação de docentes. Não se trata, portanto, de uma defesa indiscriminada em prol
de uma concepção educativa adotada por um curso de licenciatura que pretende se
sobrepor aos demais modelos educacionais existentes a partir de uma verdade absoluta,
mas sim de uma discussão acerca de princípios que sustentam uma nova maneira de
repensar a formação inicial de professores, em nível superior.
O curso de licenciatura em Ciências da UFPR Litoral: uma experiência inovadora
em processo de consolidação
O curso de licenciatura em Ciências da Universidade Federal do Paraná – Setor
Litoral foi criado no segundo semestre de 2008, tendo formado no ano de 2013 a sua
segunda turma. Trata-se de um marco dentro da centenária Universidade Federal do
Paraná (UFPR) no que se refere à transição de espaços da formação de professores,
atribuído de modo exclusivo à Faculdade de Educação, ainda exclusiva nos cursos de
licenciatura ofertados na capital paranaense.
Na UFPR Litoral, os alunos dos três cursos de licenciatura existentes – Ciências,
Artes e Linguagem e Comunicação - tem sua formação didático-pedagógica
desenvolvida de modo integrado ao conhecimento epistemológico. Esse caráter
integrador reflete o modelo didático-pedagógico adotado pelo Setor Litorala partir de
um projeto político pedagógico (PPP) diferenciado.
A UFPR Litoral tem em sua proposta pedagógica o objetivo de integrar a
pesquisa, a extensão e o ensino desde o início do curso, de modo que a aprendizagem
dos estudantes universitários reflita sobre a realidade local na qual a instituição está
inserida – litoral do Paraná - e acerca dos problemas sociais enfrentadas pela população
da região. Essa característica demonstra um comprometimento e uma nova forma de
tratar teoria e prática, uma vez que se propicia ao aluno uma aproximação com a
realidade, de maneira que se possa discutir as questões sociais sob uma nova lente, ou
seja, de dentro da universidade para fora dos muros acadêmicos, mas também de fora
para dentro, a partir de uma vivência mais plural e complexa.
Nessa direção, defende-se a construção coletiva de um projeto políticopedagógico emancipatório com a centralidade no combate da resignação e da
naturalização do sofrimento e exclusão social, a partir da leitura crítica da
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realidade que se constitui como o ponto de partida e de retorno para a
construção e reconstrução do conhecimento. (UFPR LITORAL, 2008, p. 8)
Para que esses objetivos sejam cumpridos, é preciso que se estabeleçam novas
concepções de universidade, de conhecimento, de estudantes e professores, já que o
espaço acadêmico sustentador do panorama apresentado deve atuar como ambiente de
construção, mas também de disseminação do conhecimento – cada vez menos
disciplinar e fragmentado ao passo que se transforma em um saber social, mais
heterogêneo e aplicado (TARDIF, 2012). Além disso, essa universidade repensada
atribuinovos papeis para professores e alunos, uma vez que o docente assume a função
de mediador do processo de construção do conhecimento e o estudante atua como
sujeito participante de sua aprendizagem.
Nesse sentido, o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição está focado em
três grandes fases: 1) Conhecer e Compreender; 2) Compreender e Propor; 3) Propor e
Agir. A organização curricular se distribui da seguinte maneira: 1ª fase – Conhecer e
Compreender, dois semestres; 2ª fase – Compreender e Propor, um a quatro semestres;
3ª fase – Propor e Agir – um a dois semestres.
Conforme explícito em seu PPP essas três fases são organizadas temporalmente
e acontecem por meio de três módulos que são distribuídos ao longo do curso e ocorrem
simultaneamente: Projetos de Aprendizagem (PAs), Fundamentos Teórico-Práticos
(FTPs) eInterações Culturais e Humanísticas (ICHs).A distribuição semanal ocorre de
um a dois dias voltados para os projetos de aprendizagem, a mesma distribuição para as
interações culturais e humanísticas e de um a três dias para os fundamentos teóricopráticos.
Os Projetos de Aprendizagem (PA) como eixo do currículo pensam no estudante
como sujeito co-responsável por seu processo de aprendizagem. Cada aluno, escolhe um
tema para seu PA que será desenvolvido a longo de todo o curso. Cada professor,
também responsável por um projeto de ação docente em determinada região do litoral,
orienta o estudante ao longo do processo. Além disso, desenvolvem-se, paralelamente,
projetos institucionais voltados à formação de professores das escolas públicas, a
economia sustentável, saúde, entre outros. Isso possibilita um contato direto com a
sociedade na qual se vive, pois valoriza a tríade ensino, pesquisa e extensão de forma
equilibrada.
O segundo módulo, Fundamentos Teórico-Práticos (FTPs), trata-se de diretrizes
curriculares específicas de cada curso e saberes necessários para o desenvolvimento dos
projetos de aprendizagem. Dessa forma, segue a ideia de que os conteúdos mínimos
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surgem da necessidade de cada estudante em responder suas dúvidas, questões, ou seja,
trabalha com a construção do conhecimento significativo. Por isso, os FTPs atuam
como mediadores e não como finalidades do processo de aprendizagem, uma vez que
orientação por projetos delineia esse percurso.
As Interações Culturais e Humanísticas, também conhecidas como ICHs, são
oficinas de atividades interdisciplinares ofertadas por alunos, técnicos-administrativos,
alunos e comunidade externa com o intuito de possibilitar trocas de experiências, gerar
debates e fomentar o desenvolvimento de saberes. Cada estudante deve cursar, no
mínimo, 20% de atividades desse tipo que serão integradas a seu currículo específico.
Segundo demonstram Silva; Brizolla; Silva (2013), a matriz curricular da
licenciatura em Ciências, estruturada por meio de um mapa conceitualque demonstra os
eixos temáticos a serem abordados através de um currículo flexível, atua em
consonância com o disposto acima. Distribuída ao longo de quatro anos, totalizando
3360 horas, a carga horária da carreira se dá da seguinte maneira: 1580 horas são
destinadas aos Fundamentos Teórico-Práticos (FTP) e à Prática de Ensino, 640 horas
voltadas às Interações Culturais e Humanísticas (ICH) e 640 horas aos Projetos de
Aprendizagem (PA). Além disso, o estudante deve cumprir 400 horas de Estágio
Supervisionado e 100 horas de Atividades Formativas Complementares.
Segundo o Projeto pedagógico de curso (UFPR LITORAL, 2011), o estudante
da licenciatura em Ciências tem como componentes específicos de seu currículo os
Fundamentos Teórico-Práticos a seguir:Integração e Reconhecimento e Concepções de
Ciência e Educação; Ciências da Natureza e Educação, Libras e Estágio Supervisionado
I; Cenário Escolar regional, ensino de Ciências e Prática de Ensino e Estágio
Supervisionado II; Fundamentos básicos contextualizados da Física, Química e
Biologia, cotidiano escolar e Prática de Ensino e Estágio Supervisionado III; Vivências
de docência, relação Ciências e Sociedade e Prática de Ensino e Estágio Supervisionado
IV; Vivências de docência, relação Ciências e Meio Ambiente e Prática de Ensino e
Estágio Supervisionado V; Vivências de docência, relação ciências, saúde e qualidade
vida e a prática de Ensino; e Vivências de docência, relação Ciências, diversidade e
inclusão. Todos os semestres, o aluno cursa também Projeto de Aprendizagem e
Interações Culturais e Humanísticas.
Considerações:
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Por meio da análise da documentação exposta nesse trabalho -PPP do Setor
Litoral da Universidade Federal do Paraná e do PPC de Ciências – é latente a
observação de que se trata de uma proposta inovadora de currículo de formação inicial
de professores em nível superior, amparada em princípios de educação humanística que
acredita na educação como elemento de transformaçãoda realidade.
É interessante notar que existe um esforço, representado por meio da
estruturação curricular do curso de Ciências, em focar a formação para a docência
emancipatória como eixo estruturador do processo de ensino-aprendizagem, o que exige
uma construção de currículo que se volte para a prática de ensino e para a aproximação
entre a escola e a universidade desde o primeiro momento do estudante/ futuro
professor.
Nesse sentido, a relação entre teoria e prática perpassa novos caminhos ao
superar a dicotomia tradicional entre formação pedagógica e epistemológica dentro da
universidade, fator que contribui para a desvalorização da formação na carreira docente.
Além disso, a aproximação com a escola de modo crítico e reflexivo, ao longo de toda a
formação universitária, contribui para modificar paradigmas pré-estabelecidos ao longo
da vida estudantil (saberes pré-profissionais) capazes de determinar uma cultura escolar
rígida e tradicional. Acredita-se que a formação do futuro professor como sujeito crítico
e emancipado, trata-se de uma peça chave para a transformação do ambiente
educacional e também da realidade que o cerca.
Referências Bibliográficas:
SILVA, L.M.; BRIZOLLA,F.; SILVA, L.E. Projeto pedagógico do curso de
licenciatura em Ciências da UFPR Litoral: desafios e possibilidades para uma
formação emancipatória. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (online), Brasília,
v.94, n.237, p.524-541, mai/ago.2013. Disponível em: 15 mai. 2014.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Editora Vozes,
2012. 14 ed.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Setor Litoral (UFPR Litoral).Projeto
Pedagógico de Curso Licenciatura em Ciências. 2011. Disponível em:
<http://www.litoral.ufpr.br/sites/default/files/PPC_LicCiencias_junho_2011.pdf>.
Acesso em: 10 mai. 2014.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Setor Litoral (UFPR Litoral). Projeto
político
pedagógico.
2008.
Disponível
em:
<http://www.litoral.ufpr.br/sites/default/files/PPP%20-%20UFPR%20%20LITORAL.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2014.
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