VITÓRIA, ES, TERÇA-FEIRA, 14 DE JUNHO DE 2016 ATRIBUNA Economia FALE COM A EDITORA 21 ISABELA LAMEGO E-MAIL: [email protected] Bancos vão acabar com pagamento mínimo do cartão SAIBA MAIS Juros no cartão de crédito > ROTATIVO: para quem paga o valor mínimo da fatura, a média da taxa é de 15% ao mês, sendo cobrado juros sobre juros enquanto a dívida durar. > PARCELAMENTO: para quem escolheparcelar a fatura, a taxa de juros é em torno de 10% ao mês. ADEMIR RIBEIRO - 14/08/2015 Segundo associação, a medida vai acabar gradativamente com o pagamento mínimo da fatura de cartão até extingui-la de vez Nathália Barreto ssociação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) está elaborando uma proposta para acabar com o uso do rotativo do cartão de crédito – que é quando o cliente paga apenas o valor mínimo da fatura. Isso porque, segundo a associação, a modalidade traz mais perdas que ganhos às empresas. Segundo o presidente da Abecs, Marcelo Noronha, entre as iniciativas está limitar o prazo em que o cliente pode ficar no rotativo e, a partir daí, migrá-lo para uma linha de crédito com juro menor. A medida vai acabar gradativamente com o pagamento mínimo da fatura de cartão até extingui-la de vez. As mudanças não dependeriam do governo, embora devam passar pelo crivo do Banco Central. Além de despesas e prejuízos com a inadimplência, que é de 36%, o produto prejudica a imagem dos bancos e o relacionamento com o cliente. A taxa de juros do rotativo é a mais alta das linhas de crédito, com uma média de 450% ao ano, o que explica o alto índice de inadimplência. Segundo o professor de Economia da Faculdade Fipecafi, de São Paulo, Silvio Paixão, is- O que fazer? > O PRIMEIRO PASSO é procurar a ins- tituição financeira para negociar a dívida. > É POSSÍVEL pedir um financiamento em outra linha de crédito para pagar a dívida do cartão com juros menores, como o crédito consignado ou o Crédito Direto ao Consumidor (CDC), mas isso vai depender da aprovação pela instituição financeira. > ESPECIALISTAS também indicam a venda de bens para quitar ou diminuir a dívida do cartão, evitando o pagamento de juros muito altos. > DEIXAR DE USAR o cartão de crédito também é indicado. É preciso ter controle dos gastos e só usá-lo quando tiver certeza de que pode pagar a fatura no próximo mês. A Capacidade de pagamento > ANTES DE NEGOCIAR a dívida, é pre- MARCELO LOYOLA: uma dívida inicial de R$ 1.000 passa a ser de R$ 2.511,33, após 12 meses pagando só o mínimo so se dá por conta da facilidade em obter o crédito. “Se o consumidor paga apenas o valor mínimo da fatura por meses consecutivos, são cobrados juros sobre juros, ou seja, o valor final pago é muito superior ao da dívida inicial.” Um exemplo foi dado pelo economista e coordenador da Faculdade Pio XII, Marcelo Loyola: depois de 12 meses pagando apenas o mínimo da fatura do cartão, uma dívida inicial de R$ 1.000 passa a ser de R$ 2.511,33, sendo R$ 1.495,47 referente somente aos juros pagos. Caso nenhum valor fosse pago, a dívida final seria de R$ 5.497,22. ENTENDA Juros médio de 450% ao ano O que é rotativo do cartão? > É UMA LINHA de crédito pré-aprova- da, contratada pelo cliente quando ele paga um valor abaixo do total devido no cartão de crédito. Tem taxa de juros média de 450% ao ano. Por que esse crédito é tão caro? > PELA FACILIDADE de se pegar o emANDRESSA CARDOSO - 27/03/2012 préstimo. Quanto mais fácil, mais caro ele vai custar. Isso porque a facilidade de contratação do crédito aumenta a chance de o cliente não conseguir pagar a dívida. Como o calote é um custo para a instituição financeira, ela cobra mais para compensar esse risco. Por que os bancos querem acabar com o rotativo? > ALÉM DO CUSTO para a instituição com a inadimplência, as altas taxas de juros sujam a imagem da instituição financeira. Na prática, a tendência é que o cliente que tenha aumentado muito sua dívida no cartão nunca volte a usar o produto. A instituição também corre o risco de perder o correntista para um concorrente após a experiência ruim. CARTÃO DE CRÉDITO: custos Fonte: Especialistas consultados e pesquisa/AT. Evolução da dívida do cartão em um ano Cálculo feito sem considerar novos gastos no cartão de crédito JANEIRO Valor inicial da dívida: R$ 1.000 Pagamento de 15% da fatura (valor mínimo): R$ 150 Ficou devendo: R$ 850 OBS.: FEVEREIRO Dívida foi para R$ 979,71 Pessoa amortiza 15% novamente, pagando R$ 146,96 Restante da dívida: R$ 832,75 Cálculo feito considerando o juros de 15,26% ao mês no rotativo do cartão ciso analisar sua capacidade de pagamento. Para isso, é necessário saber qual é a renda mensal líquida, quais são os gastos fixos (moradia, alimentação, transporte e educação) e, a partir daí, saber o quanto sobra. > DESSE VALOR, é indicado reservar uma parte para possíveis emergências. O restante, então, deve ser usado para o pagamento da dívida. > EXEMPLO: se uma pessoa recebe R$ 2.200 de salário líquido e gasta R$ 1.500 com as despesas fixas, sobra R$ 700. Desse valor, deve ser reservado R$ 200 para imprevistos. > ASSIM, sua capacidade de pagamento é de R$ 500 ao mês. DEZEMBRO Total pago: R$ 1.729,40 Saldo da dívida: R$ 781,93 Total pago em juros nos 12 meses: R$ 1.495,47 ANÁLISE Bruno Funchal No Estado, são mais de 300 mil superendividados Um milhão de capixabas fazem uso do cartão de crédito em suas compras e, desses, mais de 300 mil estão com dívidas com as instituições financeiras, dentro do chamado rotativo, pagando até 450% de juros ao ano. Segundo o vice-presidente de finanças da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti, o cartão de crédito responde por 50% do pagamento das compras dos brasileiros. “Entrar no rotativo do cartão é um passo para a inadimplência. Principalmente nesse momento em que a renda não acompanha a inflação. Esses juros são praticamente impagáveis”, afirmou. Para o professor de Economia da Faculdade Fipecafi, de São Paulo, Silvio Paixão, o cartão de crédito sempre teve taxas de juro altas, DIVULGAÇÃO VERTAMATTI: inadimplência mas, com a crise, a tendência é que continuem muito altos. “A média de juros é de 15% ao mês no caso do rotativo, podendo chegar a 18%. Quem está nessa situação deve buscar negociar a dívida e deixar de usar o cartão”, disse. Professor de Economia da Fucape Business School Inflação em alta, juros altos “Na conjuntura econômica atual, com desemprego crescente e juros altos, uma tendência tem sido o aumento significativo do uso do rotativo do cartão de crédito. Esse instrumento acaba sendo utilizado por ser visto com um recurso de fácil disponibilidade. Apesar disso, é um instrumento perverso, dadas as altas taxas de juros, e acabam por levar muitas famílias à inadimplência. As famílias precisam pensar que a recuperação da economia brasileira será lenta e, com a inflação em alta, os juros continuarão em alta. Independentemente da situação financeira de cada um, é fundamental fugir das dívidas, principalmente essas de com taxas de juros extremamente elevadas.”