UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ROSANE SCHIRLEY BINHARA BERALDI APLICAÇÃO TÓPICA DOS FATORES DE CRESCIMENTO CELULAR NA CICATRIZAÇÃO DO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA PLÁSTICA CURITIBA 2013 APLICAÇÃO TÓPICA DOS FATORES DE CRESCIMENTO CELULAR NA CICATRIZAÇÃO DO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA PLÁSTICA Rosane Schirley Binhara Beraldi1 1. Tecnóloga em Estética e Imagem Pessoal, graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná em 2011. E-mail: [email protected] RESUMO: A qualidade das cicatrizes resultantes das cirurgias plásticas é uma das principais preocupações dos pacientes. Nesse contexto, os fatores de crescimento surgem como uma opção terapêutica promissora. O objetivo deste artigo é avaliar a importância dos principais fatores de crescimento (FC) envolvidos na cicatrização e seu uso em formulações de aplicação tópica como uma alternativa eficaz para acelerar o processo de cicatrização do pósoperatório e melhorar a aparência final da cicatriz. Todos os estágios do processo de reparação tecidual são controlados por uma grande variedade de diferentes fatores de crescimento e citocinas. Por este motivo, justifica-se a pesquisa e a indicação da terapia com fatores de crescimento. Este artigo foi conduzido na forma de trabalho de revisão da literatura e baseou-se em pesquisa bibliográfica e consulta de sites de busca científica. Neste estudo pudemos observar que, na medicina estética, o uso de cosméticos com fatores de crescimento é crescente, com inúmeros resultados positivos, podendo ser uma terapia alternativa à técnica de PRP. Entretanto, acreditamos que ainda são necessárias mais pesquisas, para que se obtenha respaldo científico sobre seu uso e para que se possa determinar quais formulações, em termos de composição molecular, são mais adequadas para potencializar o evento predominante. Palavras-Chave: fatores de crescimento, cicatrização de feridas, cirurgia plástica, formação de colágeno, reepitelização dos tecidos. ABSTRACT: The final quality of scars is a big concern to plastic surgery patients. In this context, the growth factors arise as a promising therapeutic 2 option. The objective was to identify the main growth factors involved in the wound healing process and its use on topical formulas, as a way of speeding up the healing process after the interventions and improving the aesthetic aspect. The growth factors participate actively at controlling and modulating every step of the healing process, justifying this research, and therefore the indication of this kind of therapies. This article was based on literature research and scientific search engines, and was intended to review the main aspects of growth factor topic therapy. In this study, we could notice that the cosmetic use of growth factors is increasing, with numerous positive results, and may be an alternative therapy to the use of platelet-rich plasma (PRP). However, we believe that it is still necessary to research more, to give its use scientific support and determine which formulas are more appropriate, in terms of molecular composition, to potentiate the predominant healing phase. Key words: growth factors, wound healing, plastic surgery, collagen generation, tissue reepithelization. 3 1 INTRODUÇÃO A busca pelo belo e pela forma ideal vem aumentando significativamente a procura de procedimentos estéticos cirúrgicos com o intuito de obter um corpo harmonioso e saudável (MILANI et al., 2006). A eficiência de uma cirurgia plástica não depende somente do seu planejamento cirúrgico, mas também da intervenção e cuidados no pré e no pós-operatório, que têm demonstrado serem fatores preventivos de possíveis complicações e promotores de um resultado estético mais satisfatório (SINGER e CLARK, 1999). Na discussão acerca do resultado de cirurgias plásticas, é muito relevante o estudo da incidência de complicações e, principalmente, de fatores que levem a alterações estéticas ditas "negativas". Não há dúvida de que o dado geral mais importante refere-se à quantidade e à qualidade de cicatrizes resultantes, inevitáveis em qualquer cirurgia ou trauma em que se incisa, além da pele, pelo menos o celular subcutâneo (FERREIRA, 2000). Na cirurgia plástica o mecanismo de lesão da pele, vai ocorrer pelo trauma mecânico causado pelo instrumento cirúrgico (BORGES, 2006). Com o objetivo de recuperar a integridade tecidual, é iniciado um mecanismo de cicatrização, no qual é possível atuar com diversas terapias de forma a acelerar o processo, melhorar a aparência final das cicatrizes, diminuir o risco de complicações e abreviar o tempo de desconforto e limitação do paciente. A cicatriz final, secundária a um processo de reparação, é variável e nunca completamente previsível. Além do trauma, a cicatriz pode resultar de uma patologia, podendo apresentar-se hipertrófica, atrófica ou queloideana (GUIRRO & GUIRRO, 2002). No tratamento de feridas busca-se o fechamento rápido da lesão de forma a se obter cicatriz funcional e esteticamente satisfatória. Para tanto, é indispensável melhor compreensão do processo biológico envolvido na cicatrização de feridas e regeneração tecidual (BORGES, 2006). Durante esse processo ocorre: a infiltração de neutrófilos e macrófagos, fibroplasia e deposição de matriz extracelular, angiogênese, cicatrização e reepitelização. Esses eventos são regulados por mediadores derivados da 4 circulação, cininas, mediadores lipídicos e mediadores peptídicos dentre eles, os fatores de crescimento (BALBINO et al., 2005). Os fatores de crescimento (FC) estão presentes em todas as fases do processo de cicatrização, modulando a função de outras células ou da própria célula que os gerou. (MALE e ROIT, 1999). Os principais fatores de crescimento envolvidos na cicatrização cutânea são: o Fator de Crescimento Epidérmico (EGF), o Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF), o Fator de Crescimento de Fibroblasto (FGF), e o Fator Transformador de Crescimento-β (TGF-β) (BROUGHTON et al., 2006). O objetivo deste estudo é avaliar a importância dos chamados fatores de crescimento (FC) na cicatrização de tecidos e seu uso em formulações para aplicação tópica, como uma alternativa eficaz para acelerar o processo de cicatrização no pós-operatório de cirurgias plásticas. 5 2 METODOLOGIA Este artigo foi conduzido na forma de trabalho de revisão da literatura e baseou-se em pesquisa bibliográfica e consulta em sites de busca científica (Lilacs, Bireme, Scielo) nas línguas portuguesa e inglesa. 6 3 PROCESSO CICATRICIAL Quando o tecido cutâneo sofre uma lesão por trauma ou incisão cirúrgica, inicia o processo de cicatrização (HESS, 2002). Esse processo pode ser classificado em: por primeira intenção e por segunda intenção (GUIRRO & GUIRRO, 2004). As feridas cirúrgicas, assim como a maioria das feridas agudas, cicatrizam por primeira intenção, pela aproximação das bordas da pele. O risco de infecção é menor, menor perda de tecido, cicatrizes mínimas e reduzido tempo de recuperação. Já as feridas crônicas, como úlceras de pressão, cicatrizam por segunda intenção, sem aproximação das bordas da pele. A perda de tecido é maior, o risco de infecção é maior e o tempo de cicatrização é mais longo (HESS, 2002). Ferimentos na pele iniciam uma cascata complexa, porém ordenada (FITZPATRICK e ROSTAN, 2003) de eventos, envolvendo diversos tipos de células e moléculas (WERNER e GROSE, 2003). Este processo de reparo inicia imediatamente após o ferimento. As células lesadas liberam fatores de crescimento que sinalizam o início do processo de reparo (SUNDARAM et al., 2009), recrutando células inflamatórias como neutrófilos, monócitos e linfócitos para a área afetada (WERNER e GROSE, 2003). O processo de reparação tecidual é dividido em três fases: inflamação, proliferação, e remodelamento. Cada fase é marcada por uma série de interações entre células especializadas, fatores de crescimento e a matriz extracelular. As fases não são individuais, elas se sobrepõem simultaneamente e se completam (BORGES, 2006). 3.1 INFLAMATÓRIA A fase inflamatória tem início no momento do ferimento e dura de 4 a 6 dias. Ela é caracterizada por edema, eritema, calor e dor (HESS, 2002). Nessa fase inicia-se o extravasamento sanguíneo que ocupa a área com plasma e elementos celulares, principalmente plaquetas. A agregação plaquetária e a coagulação sanguínea geram um tampão, rico em fibrina, que restabelece a 7 hemostasia, interrompe a perda de sangue, forma uma barreira contra a contaminação de microrganismos e organiza matriz provisória necessária para a migracão celular. Essa matriz servirá também, como reservatório de citocinas e fatores de crescimento que serão liberados durante as fases seguintes do processo de reparo (WERNER e GROSE, 2003). Citocinas são pequenos polipeptídeos que foram inicialmente identificados devido à sua forte ação sobre a quimiotaxia, proliferação e diferenciação de células inflamatórias (CHIN et al., 2007). Fatores de crescimento são polipeptídeos secretados na ferida que podem ter como função, estimular ou inibir a síntese de determinadas proteínas, além de atuarem na ativação e migração de células (GUYURON et al., 2009). As plaquetas, induzidas pela trombina, sofrem a degranulação plaquetária e liberam vários fatores de crescimento, como o PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas) e TGF-β (fator transformador do crescimento beta), que neste primeiro momento terão como função atrair neutrófilos e monócitos, e o EGF (fator de crescimento epidérmico), que será mais ativo na fase proliferativa (BARRIENTOS et al., 2008), além de gicoproteínas adesivas como a fibronectina e trombospondina, que são importantes constituintes da matriz extracelular provisória. Assim como os neutrófilos, os mastócitos e os macrófagos também estão envolvidos na fase inflamatória da ferida. Os neutrófilos são as células mais abundantes no sangue e os primeiros a ingressar no leito da ferida com o objetivo de eliminar corpos estranhos, sendo os tipos celulares predominantes entre o primeiro e segundo dias (BORGES, 2006). Os mastócitos liberam substâncias responsáveis pelas primeiras sequências do processo de reparo. Os macrófagos predominam entre o segundo e o quinto dia e têm papel fundamental no término do debridamento iniciado pelos neutrófilos. Auxiliam na eliminação de microorganismos e são as células mais eficientes na eliminação de fragmentos teciduais, inclusive removendo, pela fagocitose, os neutrófilos que perderam função (NEWMAN et al., 1992). Sua maior contribuição é a secreção de citocinas e fatores de crescimento, como por exemplo: fator de crescimento dos fibroblastos (FGF), fator de crescimento epidérmico (EGF), fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), fator de crescimento de 8 transformação beta (TGF-β), fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e fator de crescimento insulínico (IGF) (KIERSZENBAUM, 2004), além de contribuírem na angiogênese, fibroplasia e síntese de matriz extracelular. São fundamentais para a transição para a fase proliferativa (BROUGHTON et al., 2006). 3.2 PROLIFERATIVA A proliferativa é a fase responsável pelo fechamento da lesão propriamente dita. Ela se caracteriza por fibroplasia, angiogênese e reepitelização. A reepitelização se inicia horas após a lesão, com movimentação das células epiteliais oriundas tanto da margem como de apêndices epidérmicos localizados no centro da lesão. Os fatores de crescimento são os prováveis responsáveis pelos aumentos das mitoses e hiperplasia do epitélio (CHRISTOPHER, 1972). A fibroplasia e a angiogênese, que compõem o chamado tecido de granulação, responsável pela ocupação do tecido lesionado, iniciam cerca de quatro dias após a lesão. Os fibroblastos produzem a nova matriz extracelular necessária ao crescimento celular (SINGER e CLARK, 1999). A proliferação de fibroblastos depende da liberação de fatores de crescimento e o mais importante na proliferação e ativação dos fibroblastos é o PDGF (fator de crescimento derivado das plaquetas). Em seguida é liberado o TGF-β (fator de crescimento de transformação beta), que estimula os fibroblastos a produzirem colágeno tipo I e miofibroblastos que promovem a contração da ferida (BROUGHTON et al., 2006). A angiogênese é etapa fundamental do processo de cicatrização, na qual novos vasos sanguíneos são formados a partir de vasos preexistentes. Os novos vasos participam da formação do tecido de granulação provisório, suprem de nutrientes e de oxigênio o tecido em crescimento e o fluxo sanguíneo é progressivamente reestabelecido (CLARK, 1982). O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e o fator de crescimento dos fibroblastos (FGF) estão fortemente relacionados com a 9 formação de novos vasos, sendo que o VEGF é o um dos fatores mais importantes na angiogênese e na formação do tecido de granulação (PEREIRA, 2004). 3.3 REMODELAMENTO Durante a remodelagem, o tecido de granulação é gradualmente substituído por uma cicatriz, que é um tecido relativamente acelular e avascular. A crosta rica em fibrina é substituída por tecido cicatricial maduro devido a uma deposição ordenada de fibronectina e colágeno tipo III, e finalmente por colágeno tipo I, ácido hialurônico e proteoglicanas (GUIRRO & GUIRRO 2002; BORGES 2006). Esta etapa constitui-se da mudança do tipo de colágeno que compõe a derme e de sua disposição. Enquanto o colágeno tipo III, inicialmente mais abundante que o tipo I, é degradado ativamente com o decorrer do tempo, o colágeno I vai tendo sua produção aumentada pelos fibroblastos. Ao mesmo tempo da substituição do tipo de colágeno, as fibras paralelas, dispostas aleatoriamente, mudam para entrelaçadas e organizadas ao longo das linhas de stress (SINGER e CLARK, 1999, BROUGHTON et al., 2006). Estas mudanças aumentam a força tênsil da ferida (BROUGHTON et al., 2006). Isso vai ocorrer até que o tecido cicatricial tenha recuperado em média 80% da força original da pele (HESS, 2002). Pode levar de meses a anos, para que o novo tecido esteja com a estrutura mais próxima possível do tecido original (BORGES, 2006). Enquanto PDGF estimula maior degradação de colágeno I e síntese de colágeno III, TGF-β induz maior secreção do primeiro e sua menor degradação por aumento da expressão de TIMPs (inibidores de metaloproteinases) e diminuição da expressão de MMPs (matrizes metaloproteinases), sendo a remodelagem e a contração da ferida, parcialmente controladas pela relação entre eles (SINGER e CLARK, 1999, BROUGHTON et al., 2006, KIERSZENBAUM, 2004). A cicatriz hipertrófica ou quelóide ocorre quando as fibras de colágeno não se orientam ao longo das linhas da fenda, mas sim em espiral, fazendo com que haja projeção da mesma sobre a superfície da pele (GUIRRO & GUIRRO, 2002). A primeira regride espontaneamente e ocorre dentro dos 10 limites da lesão, ao contrário dos quelóides que são, em geral, definitivos e a fibrose formada se estende além dos limites da lesão. Ambas caracterizam um problema estético significativo e possuem uma aparência grosseira (GUIRRO & GUIRRO, 2002). 11 4 FATORES DE CRESCIMENTO Os fatores de crescimento são proteínas regulatórias que medeiam mecanismos de sinalização celular, capazes de alterar o crescimento, a proliferação e a diferenciação celular (SUNDARAM et al., 2009), são fundamentais para iniciar e manter o processo de cicatrização de ferimentos cutâneos, trabalhando em conjunto com citocinas e outras moléculas (FITZPATRICK e ROSTAN, 2003). São produzidas principalmente por linfócitos e macrófagos ativados, que atuam no sistema imune. (MALE e ROIT, 1999). O papel de diversos fatores de crescimento no processo de reparo das lesões epiteliais vem sendo estudado há anos, para o conhecimento das suas funções biológicas e possíveis aplicações terapêuticas. Muitos destes estudos são direcionados a descobrir o papel de cada uma dessas moléculas no processo de reparo (WERNER e GROSE, 2003). Os principais fatores de crescimento envolvidos na regeneração dos tecidos são: Fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF): Pela sua potência na vasoconstrição, são rapidamente liberados pelas plaquetas no momento da lesão onde, induzem a expressão de colágeno nos fibroblastos (MARTIN et al., 1997), atuam no recrutamento dessas células (SUNDARAM et al., 2009), aceleram a formação do tecido de granulação e induzem a síntese de outro fator de crescimento, o TGF-β, onde seu efeito pode ser indireto (MARTIN et al., 1997). O PDGF foi o primeiro fator de crescimento a ser aprovado para o tratamento de úlceras em humanos (DANILENKO et al., 1995; MANDRACCHIA et al., 2001). Fator de crescimento epidérmico (EGF): Esses fatores de crescimento são liberados pelas plaquetas no local do ferimento e facilitam a regeneração celular da epiderme. Estimulam a proliferação e migração dos queratinócitos, a formação do tecido de granulação e promovem a migração e proliferação dos fibroblastos. O EGF foi o primeiro fator de crescimento a ser isolado em 1962 (WERNER e GROSE, 2003). Observa-se em alguns estudos que a administração do EGF exógeno, além de atuar na epiderme, melhora a síntese da matriz extracelular da derme. 12 Fator de crescimento fibroblástico (FGF): A família desses fatores de crescimento aumentam a proliferação e a ativação dos fibroblastos (SUNDARAM et al., 2009) e estimulam o acúmulo de colágeno, acelerando assim a formação do tecido de granulação, além de estimularem fortemente a divisão celular das células endoteliais (MARTIN et al., 1997). Estudos detectaram mínima expressão de FGF nas desordens da cicatrização (WERNER e GROSE, 2003). A maioria dos membros desta família possui um amplo espectro de ação mitogênica, estimulam a proliferação de células de origem mesodermal, ectodermal e endodermal. Sobre esse aspecto, a única exceção é o KGF (FGF7) que parece ser específico para células epiteliais e de menor efeito em organismos adultos (WERNER, 1998). Os FGFs são mitogênicos para vários tipos celulares presentes no tecido lesado, incluindo fibroblastos e queratinócitos (ABRAHAM e KLAGSBRUN, 1996). Dentre todos os FGFs, os que vêm demonstrando maior potencialidade de participação no processo de reparo são: FGF1, FGF2, FGF4, FGF7 e o FGF10 (ABRAHAM e KLAGSBRUN, 1996; WERNER, 1998). Numerosos estudos realizados in vivo, indicam um papel importante desses fatores de crescimento na cicatrização de feridas, especialmente o FGF1 e FGF2 por apresentarem efeitos sobre a angiogênese em diferentes sistemas de ensaio (RISAU, 1990). Estudos em ratos diabéticos mostram níveis reduzidos de FGF, os quais foram associados a dificuldade no processo de cicatrização (WERNER et al., 1994). Fator de crescimento vascular endotelial (VEGF): Esse fator facilita indiretamente a produção de componentes da matriz extracelular por prover suprimento sanguíneo e nutricional ao tecido (SUNDARAM et al., 2009). Sua expressão é muito estimulada após um ferimento cutâneo. É o maior regulador da angiogênese do processo de regeneração (WERNER e GROSE, 2003). Fator de crescimento insulínico (IGF): atua na proliferação celular, na remodelagem tecidual e no ciclo de crescimento capilar, bem como na diferenciação folicular. Foi identificado como um importante regulador mitogênico e morfogênico na biologia do folículo piloso. (WEGER e SCHLAKE, 2006). Observa-se o efeito benéfico da administração exógena de IGF-I no reparo de tecidos, particularmente, quando associada a outros fatores de crescimento (LYNCH et al., 1989). 13 O IGF é secretado pelas plaquetas e osteoblastos. Este fator liga-se ao mesmo receptor que a insulina e está envolvido no desenvolvimento de muitos tecidos, inclusive o dente. O IGF constitui um fator importante para a sobrevivência de células hematopoéticas, fibroblastos e células do tecido nervoso (JOSEPH et al., 1996). Fator de crescimento de transformação-β (TGF-β): Esses fatores de crescimento são liberados no local do ferimento pela degranulação das plaquetas. Moléculas inativas de TGF-β presentes na matriz extracelular, são ativadas. Essas duas fontes provavelmente agem diretamente para iniciar o processo de reparo, atraem células inflamatórias, especialmente macrófagos, por quimiotaxia, para aumentar e manter o aporte de fatores de crescimento na lesão, otimizando o processo. Esse fator acelera a formação de tecido de granulação (WERNER e GROSE, 2003), estabiliza a junção dermoepidérmica (FITZPATRICK e ROSTAN, 2003) e controla o crescimento e ativação dos fibroblastos nas etapas de síntese de componentes da matriz e remodelamento (SUNDARAM et al., 2009). TGF-β induz as células a sintetizarem mais moléculas de TGF-β, com o intuito de criar uma resposta positiva (FITZPATRICK e ROSTAN, 2003), aumentando a sinalização para o local do ferimento (WERNER e GROSE, 2003). É também, um importante regulador da matriz extracelular, estimulando a deposição de colágeno e inibindo as proteases que degradam a matriz. Os Fatores de Crescimento liberados por plaquetas e outras células no local da lesão, atuam nas próprias células que os secretam e em células vizinhas (SUNDARAM et al., 2009), mas logo cessam seu efeito sinalizador, por serem degradados por proteases. Para a sequência do reparo, as células inflamatórias, as células epiteliais e os fibroblastos, devem manter a síntese e a liberação contínua dessas proteínas (FITZPATRICK e ROSTAN, 2003). A atividade dos fatores de crescimento é controlada por outros fatores de crescimento, simultaneamente sintetizados, e por outras moléculas intrínsecas que interagem para manter um balanço homeostático durante o processo de reparo (SUNDARAM et al., 2009). Portanto, é possível que a combinação complexa entre diversos fatores de crescimento, seja mais indicada para regular o processo de regeneração. Acredita-se que a presença de um único 14 fator de crescimento, não seja suficiente (FITZPATRICK e ROSTAN, 2003; SUNDARAM et al., 2009). Para adquirir fatores de crescimento, a medicina estética usa a técnica de centrifugação do sangue para obtenção de um plasma rico em plaquetas, técnica esta denominada de “PRP”. O PRP é uma concentração autóloga de plaquetas em um pequeno volume de plasma, com a consequente presença de fatores de crescimento (FC) liberados por estas plaquetas, além de proteínas osteocondutoras que também servem de matriz para migração epitelial, formação óssea e de tecido conectivo, o qual pode ser injetado no local que se deseja tratar, sobre a pele no pós-peeling químico, no pós-laser ou na terapia percutânea de indução de colágeno. Foram identificados pelo menos sete diferentes fatores de crescimento encontrados no plasma rico em plaquetas, são eles: três isômeros do fator de crescimento plaquetário (PDGF) – PDGFαα, PDGFββ e PDGFαβ – dois fatores de crescimento transformadores (TGF) – TGFβ1 e TGFβ2 – o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e o fator de crescimento epitelial (EGF) (MARX, 2004). Estas substâncias tornam a cicatrização mais rápida e eficiente. Além disto, o PRP possui proteínas como a fibrina, fibronectina e vitronectina, que promovem a osteocondução através de sua ação na adesão celular, além da própria ação do TGFβ e do PDGF na estimulação dos osteoclastos, melhorando a qualidade dos resultados obtidos nas enxertias ósseas. (KNOX et al., 1986). As plaquetas atuam no processo de hemostasia, cicatrização de feridas e reepitelização. Elas liberam diversos FC que estimulam a angiogênese, promovendo crescimento vascular e proliferação de fibroblastos, que por sua vez proporcionam um aumento na síntese de colágeno (MARX, 2004). Estas propriedades das plaquetas tornam o PRP um produto com grande potencial de melhorar a integração de enxertos, sejam eles ósseos, cutâneos, cartilaginosos ou de gordura, bem como estimular a cicatrização de feridas. Nas cirurgias em que se trabalha com retalhos cutâneos, inclusive mamoplastias, abdominoplastias e ritidoplastias, o PRP ajuda na hemostasia e estimula o desenvolvimento da neovascularização, diminuindo assim complicações como hematomas, seromas e sofrimento vascular dos retalhos (BHANOT e ALEX, 2002). 15 Na cirurgia plástica cosmética o uso do PRP tem tido resultados positivos (ADLER e KENT, 2002; SCLAFANI et al., 2005; GHANDI et al., 2006). Na medicina estética seu uso é crescente, com vários resultados promissores em rejuvenescimento, melhora de cicatrizes e melhora da alopecia, sem muitos estudos ainda (HAUAGGE e GAMA, 2011). Os fatores de crescimento de uso tópico são obtidos através da tecnologia de DNA recombinante, que se dá a partir de um gene sintético, ou seja, obtido exclusivamente por síntese química (CARAGEN). A tecnologia do DNA recombinante é uma tecnologia que possibilita a obtenção de organismos (bactérias, leveduras e mesmo eucariontes superiores como as plantas) programados com genes exógenos, que produzam peptídeos ou outras substâncias de interesse (LIMA, 2001). Estes peptídeos são obtidos por meio de fermentação em bactéria E. coli. Para dar início a este processo se utiliza um gene sintético. Este gene é sintetizado de forma a ter a estrutura adequada para codificar o peptídeo desejado, neste caso, para codificar os peptídeos denominados fatores de crescimento humano. “Humano” porque possuem a sequência de aminoácidos para se assemelharem aos dos peptídeos encontrados naturalmente em seres humanos, e não com objetivo de se assemelharem a fatores de crescimento de outros seres vivos animais ou vegetais. Através desta técnica, se obtém os seguintes fatores de crescimento; EGF. IGF, FGF (ácido e básico), TGF e VEGF e outros. Para uma melhor absorção da pele, estas moléculas são nanoencapsuladas (CARAGEN). 16 5 TERAPIA TÓPICA COM FATORES DE CRESCIMENTO A terapia tópica com fatores de crescimento tem demonstrado efeitos positivos em distúrbios de cicatrização de feridas (MANDRACCHIA et al., 2001), na reepitalização acelerada em ferimentos (HONG et al., 2006), na cicatrização de úlceras cutâneas (BECKERT, 2006) na pele fotodanificada, no aumento da espessura epidermal, na formação de colágeno novo (FITZPATRICK, 2005) e nas cicatrizes pós-cirurgia plástica (TOZO et al., 2011; BARCZYSZYN, 2012). Paavonen et al. (2000) realizaram estudo utilizando um modelo de ferida em porcos, no qual encontraram vasos linfáticos no tecido de granulação. Segundo os autores, o grupo de VEGF é, provavelmente, importante regulador da angiogênese e linfangiogênese durante o desenvolvimento e a reparação de feridas cutâneas. Estudos revelam o efeito benéfico de IGF-I no reparo de tecidos, principalmente em combinação com outros fatores de crescimento (LYNCH et al., 1989). Além disso, o IGF1 lipossomado atuou na reepitelização da pele pós-lesão térmica (JESCHKE et al., 1999). Esses resultados sugeriram importantes atividades de IGFs na cicatrização de feridas. Blakytny et al. (2000) sugerem que os níveis reduzidos de IGF e/ou de seus receptores, levam a uma deficiência no processo de cura das feridas e a produção aumentada de IGF-I pode desencadear uma cicatriz hipertrófica (GHAHARY et al., 1995). Goldstein et al. (1989) estudaram em culturas humanas, os efeitos do IGF sobre a produção de colágeno, comparando os efeitos da insulina e do IGF-I. De acordo com os resultados, IGF-I a 10 ng/ml, aumentou a produção de colágeno em 2 vezes. Já na concentração de 100 ng/ml, o IGF-I foi capaz de aumentar em 3 vezes. Estudos realizados por Beckert et al. (2007), demonstram que a aplicação repetida de Fator de Crescimento Insulínico (IGF), acelera a cicatrização de úlceras cutâneas. Hong et al. (2006) trataram ferimentos em porcos com aplicação tópica de EGF, duas vezes ao dia, e observaram a cicatrização desses acelerada em comparação ao grupo tratado com placebo. 17 Em 2005, Fitzpatrick realizou um estudo utilizando uma combinação de vários fatores de crescimento derivados de fibroblastos humanos, para verificar os efeitos da aplicação tópica na cura de ferimentos e seus potenciais no tratamento de peles fotodanificadas. O estudo foi realizado com 14 pacientes fazendo aplicação tópica do produto, 2 vezes ao dia por um período de 60 dias. Ao término do estudo, Fitzpatrick observou uma melhora clínica de 78,6%, aumento da espessura epidermal de 27% e aumento de 37% na formação de colágeno dérmico. Esses dados, bem como os de outros estudos, abordando os fatores de crescimento na cura de ferimentos demonstram resultados cosméticos e clínicos positivos para o tratamento tópico nas peles fotodanificadas. Segundo Fitzpatrick (2005) quando os fatores de crescimento são associados a outros ativos como aminoácidos, oligoelementos e ativos que protegem as células tronco, garantem resultados rápidos e efetivos no processo de restauração e reparação tecidual, restabelecendo a divisão das células, protegendo contra o envelhecimento e rejuvenescendo os fibroblastos. Em 2011, Tozo et al. realizaram um estudo tratando as cicatrizes de pacientes no pós-operatório de cirurgia plástica, com fatores de crescimento (FGF – 20mg/g, IGF 20mg/g, VEGF 20mg/g e EGF 20mg/g). Esse estudo demonstrou que além de acelerarem o processo de reparação tecidual, a utilização dos fatores de crescimento pode diminuir o desconforto e melhorar a aparência das cicatrizes no pós-operatório de cirurgias plásticas. Pode também acarretar em um menor período de limitações e uma maior precocidade na reabilitação pós-operatória. Em 2012, Barczyszyn realizou um estudo de caso com aplicação tópica de fatores de crescimento, onde avaliou o processo de cicatrização e a redução do edema em uma cirurgia de abdominoplastia, associada à lipoaspiração. Paciente apresentava intenso edema abdominal, equimose na região suprapúbica e foco de necrose tecidual nas bordas da cicatriz suprapúbica. Foram realizadas sessões diárias com aplicação tópica de fatores de crescimento e associações. Após a 5ª sessão observou-se melhora significativa no quadro de necrose, assim como, na absorção das equimoses e do edema presente. 18 Segundo Balbino e colaboradores (2005), para se obter maior eficácia no tratamento tópico com fatores de crescimento é preciso reconhecer qual é a etapa predominante, na evolução da cicatriz, a ser abordada e selecionar formulações adequadas em termos de composição molecular. Ou seja, de nada adiantaria a administração de potencializadores da migração de neutrófilos, se a análise cronológica da lesão indicar que o momento é de predomínio da reepitelização. Da mesma forma, a administração de estimuladores da migração de queratinócitos não teria efeito nos momentos iniciais da lesão. 19 6 SEGURANÇA NO USO TÓPICO DOS FATORES DE CRESCIMENTO Levando em consideração a importância dos fatores de crescimento na indústria cosmecêutica e seu crescimento exponencial nas pesquisas, é importante relacionar o estudo de Dieamant et al. (2012), no qual foi avaliado o perfil de segurança de alguns produtos contendo fatores de crescimento e seus análogos, utilizando modelos in vitro de cultura de células da pele humana. Foram estudados dois tipos de culturas celulares, com a avaliação dos efeitos dos produtos teste sobre a proliferação de células tumorais (células de melanoma) e sobre a proliferação de fibroblastos humanos normais. Os resultados obtidos, com base na utilização de modelos de culturas celulares de pele humana in vitro, saudáveis e tumorais, demonstraram que os produtos cosmecêuticos, que contêm fatores de crescimento como ativos principais, podem ser considerados seguros e eficazes para aplicação tópica, uma vez que não promoveram a proliferação de células anômalas, e em alguns casos, estimularam a proliferação de fibroblastos normais, células cruciais no processo de reparação tecidual. 20 7 CONCLUSÃO Neste artigo procuramos analisar o uso tópico de fatores de crescimento celular na cicatrização de pós-operatório de cirurgias plásticas. Além da importância das interações célula-célula e célula-matriz, todos os estágios do processo de reparação tecidual são controlados por uma grande variedade de diferentes fatores de crescimento e citocinas. Por este motivo, justifica-se a pesquisa e a indicação da terapia com fatores de crescimento. Vários estudos têm demonstrado efeito benéfico de muitos desses fatores de crescimento. Portanto, seu uso tópico está indicado em todos os procedimentos em que a pele necessite de um processo de cicatrização e regeneração de tecidos, como por exemplo, cicatrizes de primeira e segunda intenção, pós-peeling químico, pós-aplicação de laser e outros. Na tentativa de recuperar a integridade da pele os tecidos necessitam de uma resposta rápida das terapias para acelerar esse processo e os fatores de crescimento são fundamentais, melhorando a aparência das cicatrizes, evitando complicações, assim como, evitando desconfortos e limitações por tempo maior. A técnica de tratamento com plasma rico em plaquetas (PRP) onde o sangue do próprio paciente é retirado, centrifugado e injetado na área a ser tratada, ou colocado sobre a pele "aberta", no pós-peeling químico, laser ou na terapia percutânea de indução de colágeno (MARX, 2004) é uma das opções da medicina estética. Esta técnica, além de invasiva, necessita de equipamentos, materiais estéreis e treinamento do profissional. Já os fatores de crescimento de uso tópico são obtidos através da tecnologia de DNA recombinante, que se dá a partir de um gene sintético, ou seja, obtido exclusivamente por síntese química (CARAGEN). Outro fato favorável à terapia tópica com fatores de crescimento é a existência de estudos que demonstram eficácia e segurança no uso dos fatores de crescimento em cosméticos. Além disso, eles encontram-se prontos para o uso, facilitando a obtenção pelo profissional. Neste estudo pudemos observar que, na medicina estética, o uso de cosméticos com fatores de crescimento é crescente, com inúmeros resultados positivos, podendo ser uma terapia alternativa à técnica de PRP. Entretanto, 21 acreditamos que ainda são necessárias mais pesquisas, para que se obtenha respaldo científico sobre seu uso e para que se possa determinar quais formulações, em termos de composição molecular, são mais adequadas para potencializar o evento predominante. 22 8 REFERÊNCIAS ABRAHAM J.A., KLAGSBRUN M. Modulation of wound repair by members of the fibroblast growth factor family. In: The Molecular and Cellular Biology of Wound Repair (2nd ed.), edited by Clark RAF. New York: Plenum, 1996, p. 195–248. ADLER SC, KENT KJ. Enhancing wound healing with growth factors. Facial Plast Surg Clin North Am 2002; 10(2):129-146. 45. BALBINO C.A., PEREIRA L.M., CURI R. Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma revisão, Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences vol. 41, n. 1, jan./mar., 2005 Departamento de Fisiologia e Biofísica, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo BARRIENTOS S., STOJADINOVIC O., GOLINKO M.S., BREM H. 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