Modelo tecno-assistencial do mercado supletivo, seus atores e a qualidade da assistência – Oncologia Região Metropolitana de São Paulo Relatório final PROJETO DE CENTRO COLABORADOR DA ANS Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês (IEP-HSL) Pesquisadores principais: Roberto Padilha e Ana Maria Malik Pesquisadores associados: Denise Schout, Marisa Miyagi, Paulo David Scatena, Aline R. Andriolo, Marly Mitiko Kawahara São Paulo, Abril 2007 Índice Resumo ............................................................................................................................ 3 Introdução ....................................................................................................................... 4 Objetivos ....................................................................................................................... 26 Material e Métodos....................................................................................................... 27 Resultados ..................................................................................................................... 41 Comentários finais: achado, limitações e novas propostas de pesquisa...................60 Referências Bibliográficas............................................................................................64 Anexos.............................................................................................................................67 2 Resumo Na perspectiva de identificação de padrões assistenciais no setor de saúde suplementar, o eixo metodológico do projeto foi desenvolvido de forma a descrever os itinerários diagnósticos e terapêuticos para determinado sub-grupo de patologias marcadoras para o processo assistencial e relevantes para o perfil de necessidades da população coberta pela assistência suplementar. Nessa perspectiva foram selecionadas dentre as neoplasias, o câncer de mama e as leucemias e linfomas como patologias traçadoras. A metodologia utilizada foi qualitativa, com aplicação de questionários semi-estruturados a operadoras, médicos e pacientes por meio de entrevistas. Também foi realizada análise de prontuários em prestadores hospitalares. Para selecionar os prestadores, médicos e pacientes utilizaram-se dois tipos de bancos de dados secundários: base de dados de óbitos ocorridos no Município de São Paulo e banco de dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo com as saídas hospitalares dos prestadores privados (Boletim CIH). Cruzando-se essas bases foi extraída amostra de pacientes internados com o diagnostico de câncer de mama e leucemias e linfomas atendidos por prestadores privados na região metropolitana de São Paulo para os anos de 2004 e 2005. Foram revisados os prontuários médicos de amostra de pacientes em prestadores escolhidos para caracterizar a assistência hospitalar nos casos de câncer de mama e leucemias e linfomas. Desta maneira, foram identificados padrões assistenciais para as afecções selecionadas, formas de gestão das operadoras e os principais conflitos entre os diversos atores no mercado suplementar de saúde da região metropolitana de São Paulo. Unitermos: Planos de pré-pagamento em saúde. Setor privado. Administração de serviços de saúde. Regulação pública. Integralidade da assistência. Linha do cuidado. Pesquisa em serviços de saúde. Assistência médica. São Paulo. 3 Introdução A Constituição Federal de 1988 definiu os princípios de assistência à saúde pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Lei Orgânica de 1990, que se propôs à universalidade, integralidade e eqüidade. O processo de regulamentação dos Planos e Seguros Privados de Assistência à Saúde vem se desenrolando desde 1991 (portanto um ano depois do nascimento legal do SUS). Em função dele, o Congresso Nacional aprovou a Lei 9656, em 03 de junho de 1998 (CARVALHO, 2003) e foi criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 2000. Com isto o tema mercado privado de saúde foi introduzido na agenda governamental (BAHIA, 2001). A lei 9.656/98 estabeleceu um novo patamar no processo de regulação; entretanto há que se aprofundar a natureza dessa regulação, seus avanços e limites, a dimensão da organização desse setor, o financiamento da oferta de serviços, as modalidades assistenciais, suas redes e a complexidade dessas relações visando garantir a assistência à saúde e a produção do cuidado. Desde o início da implantação da regulamentação da assistência médica supletiva no país começaram a ser levantadas questões referentes a sua qualidade, ao seu financiamento e ao real fundamento para sua existência. Pode-se dizer que os setores, público e privado, sempre olharam um para o outro com grande desconfiança, acusando-se mutuamente de oferecer serviços de baixa qualidade e de realizar procedimentos desnecessários, utilizando sem necessidade recursos limitados. Uma das premissas com as quais se tem lidado é a necessidade de melhor controle da utilização de recursos pelo setor privado, tendo como objetivo o resultado financeiro, eventualmente levando ao racionamento no acesso aos procedimentos, mais do que a sua racionalização. Para a superação desse cenário impõe-se um novo referencial, assentado no compromisso ético com a vida, com a promoção e a recuperação da saúde (MALTA, 2004). Assim, é de extrema relevância abordar a assistência de forma integrada, articulando-se todos os passos na produção do cuidado e no restabelecimento da saúde. A proposta do presente estudo é mapear a integralidade da assistência pelo acompanhamento da linha do cuidado (projeto terapêutico instituído), como mecanismo adequado para a análise do usuário no seu "percurso assistencial", buscando elementos que revelem com mais clareza a assistência prestada, as interações ocorridas entre o usuário, o prestador e a operadora. 4 Olhando para o mercado em saúde no país, considerando seus participantes (os prestadores individuais e organizacionais, o governo, os fornecedores, os financiadores, as operadoras, a academia e os usuários), é possível perceber uma condição de assimetria de informação. Não se trata de dizer que a posição de um dos atores é mais correta que a do outro, mas sim de reconhecer que, de seus loci institucionais diferentes, eles têm visões de mundo e objetivos distintos. Assim, é de se esperar que os financiadores (no caso as empresas que compram os serviços das operadoras) olhem para suas limitações orçamentárias concretas, quando tomam decisões sobre acesso e/ou formas de financiamento. Não surpreende que os prestadores de assistência (clínicas, hospitais e serviços de apoio) considerem seus custos e sua receita em relação aos diferentes procedimentos que realizam. Parece normal que os profissionais envolvidos diretamente na assistência direta se preocupem com a qualidade da sua atividade, que os fornecedores de equipamentos se interessem pela realização de procedimentos diagnósticos e de terapêutica e realizem estudos que justifiquem sua utilização. Da mesma forma, as operadoras, que atuam como intermediários entre os financiadores e os prestadores de serviços, queiram defender suas margens de ganho. Finalmente, é esperado que os fornecedores de serviços de consultoria se esforcem para convencer os seus clientes do acerto de suas sugestões e que os fornecedores de medicamentos continuem a testar novas drogas em nome da busca constante de cada vez mais saúde e bem estar dos seus usuários. Quanto à academia, por um lado vem desenvolvendo estudos no sentido de descobrir, disseminar e/ou justificar diretrizes de cuidados mais eficazes em relação a cada uma das afecções sobre as quais se debruça, em nome da qualidade na assistência. Por outro, muito mais raramente, busca estabelecer protocolos para levantamento de custos e mudanças na cultura dos profissionais, ou ainda desenvolver pesquisas para analisar o que ocorre nos serviços, tendo em vista seu aprimoramento, pois muito recentemente passou a considerar este como um de seus papéis. O governo brasileiro tem como um dos seus objetivos a universalização do acesso, de maneira a implantar definitivamente o SUS. Uma de suas responsabilidades é o controle da qualidade daquilo que é oferecido à população, seja com financiamento público seja privado. Quanto aos usuários, eles têm seus interesses próprios, entre os quais está, no mínimo, o acesso àquilo que consideram como satisfação de suas demandas, que podem ou não ser definidas como necessidades. 5 Esses referenciais visam à garantia do acesso aos cuidados necessários, o vínculo, a responsabilização por parte da operadora e dos produtores de serviços, para com o usuário, a integralidade da assistência e o monitoramento contínuo dos resultados alcançados, por um processo de trabalho cuidador, e não por uma lógica indutora de consumo (MYNAIO, 1993). Torna-se um desafio para a saúde suplementar incorporar em seu processo assistencial os debates colocados no processo de trabalho, estabelecendo novas vertentes analíticas para avaliar a eficácia e a efetividade do seu papel na prestação de atenção à saúde. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tem se proposto a discutir novos mecanismos de macro e especialmente de micro-regulação e apontar para o estabelecimento de novos formatos de intervenção (MALTA, 2004). A principio, a principal preocupação dos estudos realizados ou financiados pela ANS era a caracterização do setor de saúde suplementar (segmentação): características de cada operadora e nichos de mercado explorados por cada uma delas. (ANS, 2005). Outros estudos promovidos pela ANS (Modelos Assistenciais e Mecanismos de Regulação) sugerem que a regulação assistencial da saúde suplementar tem grande impacto no resultado final do serviço prestado (o atendimento das necessidades da população beneficiária, de forma integral, resolutiva e com a qualidade necessária). A partir dessa premissa, a Agência pretende realizar mudanças nos modelos assistenciais e nos processos de gestão das operadoras, para torná-las produtores de saúde inseridos no contexto do Sistema de Saúde brasileiro (ANS, 2005). Embora esta ainda não seja uma prática comum, as operadoras podem ser entendidas como gestoras da saúde dos seus beneficiários, ou seja, podem estabelecer ações mais abrangentes, considerando a saúde como um todo, implicando não só a promoção da saúde e a prevenção da doença, mas também a garantia do acesso e a qualidade da assistência ofertada. Visando à garantia dessas práticas pelas operadoras, o Estado precisa intervir na regulação operativa, regulando a relação entre operadora, prestadores de serviços e beneficiários. A regulação do Estado nesse nível deverá ser precedida por um processo de apreensão dessa dimensão, compreendendo como esses mecanismos assistenciais ocorrem no cotidiano. A compreensão e a regulação da assistência supletiva deve considerar as experiências e modelagens produzidas no setor público, com o objetivo de compará-las e assim estabelecer novos conhecimentos. 6 Formas Atuais de Financiamento A nova dinâmica social, produzida pela legislação vigente, trouxe à tona a falsa estabilidade e o forte caráter fetichista existentes na chamada ‘assistência à saúde’ dos planos privados, que enfatizam a assistência curativa. Este setor mergulhou numa agenda de conflitos e reclamos relativos às disputas de interesses entre os diferentes atores. Este cenário está hoje muito influenciado pela mobilização social, que passou a exigir outro tratamento para a questão do sistema privado de atenção à saúde. (ACIOLE et al., 2003). Nesse contexto, é fundamental perceber que o modelo de atenção à saúde está centrado na produção de procedimentos profissionais. Vale ressaltar que a forma de financiamento no setor saúde, seja ele público ou privado, reforça esse modelo, uma vez que remunera por procedimento, tipicamente no modelo fee for service. No setor privado, este quadro é agravado pela utilização de uma tabela de pagamentos que privilegia os procedimentos cirúrgicos. Essa conformação valoriza aqueles invasivos, com utilização de equipamentos e materiais de alto custo. Portanto, o conjunto das intervenções médicas ocupa um lugar central e estratégico entre os atos de cuidar, na modelagem assistencial que atualmente predomina no setor suplementar. Em relatório de pesquisa recentemente publicado (ANS, 2005), as operadoras estudadas exercem pouco ou nenhum controle sobre as atividades dos profissionais, notadamente nas linhas de cuidado investigadas (cardiologia e materno-infantil), ficando as ações empreendidas essencialmente sob responsabilidade do médico assistente. Agentes do Sistema de Saúde Suplementar A regulação pública dos planos privados de saúde busca a construção de novas relações de compartilhamento de riscos envolvidos na prestação de assistência à saúde entre Estado, operadoras de saúde, prestadores de serviço saúde, fornecedores, empresas empregadoras e usuários. É necessário aperfeiçoar os instrumentos já implantados, ampliar a sua efetividade e proceder aos ajustes decorrentes dos impactos do processo na organização e gerenciamento do sistema, de forma a garantir uma melhoria constante e sustentável na assistência à saúde dos usuários, ressaltando que a expansão do setor é requisito indispensável para sua viabilidade futura (BAHIA, 2001). 7 Operadoras de Planos de Saúde: Operadoras de Planos de Assistência à Saúde são as empresas e entidades que atuam no setor de saúde suplementar oferecendo aos consumidores os planos de assistência à saúde. Na visão empreendedora, ao longo do seu processo de evolução, as operadoras de planos de saúde prestaram um grande serviço à população brasileira, permitindo o seu acesso aos serviços de saúde, uma vez que cobriram uma fatia do espaço deixado pela ineficiência, pela ausência efetiva de determinação política e pela incapacidade de financiamento do setor público. Na região sudeste, no início dos anos 80, havia cerca de 15 milhões de clientes dos planos de saúde (exceto os de planos próprios), registrados pela Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) e pela Federação das Unimeds. Esse número revela a persistência e a consolidação das empresas de planos de saúde como alternativa assistencial para os trabalhadores especializados dessa região (SILVA, 2003). De um setor que atuava livremente sem qualquer interferência governamental, exceto pelos incentivos dados pela compra de serviços pela Previdência Social e pela renúncia fiscal das pessoas físicas e empresas que adquirem planos de saúde, a regulação criou fortes barreiras à entrada e saída das empresas, retirando do mercado cerca de 2.716 operadoras no período 2000 a junho de 2003. Em junho de 2003, 2.313 operadoras permaneciam ativas, porém o mercado apresentava-se com uma dinâmica de oligopólio, pois 3,3% das operadoras detinham 52% dos beneficiários (NITÃO, 2004). Além disso, a regulamentação aumentou o acirramento da concorrência entre as empresas do setor, pois as novas regras nivelaram os planos de saúde e trouxeram maiores garantias assistenciais para os beneficiários (SILVA, 2003). O número de beneficiários de planos de saúde permanece estável se compararmos o número captado no cadastro de beneficiários da ANS (36,7 milhões) em 2003, com o suplemento saúde da pesquisa PNAD/IBGE, realizada em 1998 (38,7 milhões). Nesse período, os consumidores representaram o elo mais vulnerável, com pouco controle sobre o acesso aos serviços de saúde e à qualidade da assistência prestada. Respaldadas pela ótica dos direitos dos consumidores e defesa da autonomia médica, as políticas governamentais se direcionam para também garantir os interesses dos clientes dos planos, impedindo as restrições ao atendimento e, portanto, a negação 8 da utilização de procedimentos. As ações geradas por essa política diferem do controle da seleção de riscos, que é até aceita pelos consumidores, desde que incluída com clareza nos contratos (BAHIA, 2001). Poder Público: O Estado Brasileiro esteve afastado por muito tempo do seu papel regulador nas atividades iniciais da saúde suplementar, devido ao seu envolvimento na evolução da reforma do Sistema Público de Saúde.. Outro problema, pelo pouco desenvolvimento do setor de saúde suplementar entre as políticas públicas do setor, é que os processos, as informações, a análise econômica e, em especial, os resultados da qualidade da assistência prestada eram muito pouco conhecidos pelo Ministério da Saúde (MS). Dessa forma, uma grande parcela da base de dados e das informações do setor de saúde no Brasil, até 2007, contemplam apenas os números e as correspondentes análises dos serviços realizados pelo setor público, desconsiderando a situação e os resultados das ações de saúde que são prestadas a aproximadamente um quarto da população brasileira (NITÃO, 2004). Os embates sobre a regulamentação pública se estenderam para dentro do aparelho do Estado: enquanto o Ministério da Fazenda defendia uma regulação governamental de menor intensidade por meio da SUSEP, onde o centro era a regulação econômica e financeira, o MS defendia uma ação mais efetiva do Estado, colocando a regulação também sobre o aspecto assistencial. O modelo da regulação bipartite, feita pela SUSEP e pelo MS, se arrastou até a criação da ANS como um órgão regulador único, saindo vitoriosa a tese do Ministério da Saúde (MALTA, 2004). A Agência de Saúde Suplementar (ANS) foi criada com autonomia orçamentária e decisória e se assemelha às demais agências reguladoras quanto à estrutura organizacional e autonomia (MALTA, 2004). Prestadores de Serviços: Atendidos nos seus interesses mais imediatos, notadamente pela progressiva redução no número dos pacientes particulares (chamados out of pocket) e pela crescente deterioração do seu relacionamento com a área pública, os prestadores de serviços médicos buscaram compor uma associação forte e firme com as operadoras de planos de 9 saúde. Pesquisa desenvolvida pela Escola Nacional de Saúde Pública em 1995 aponta que 75% a 90% dos médicos declararam depender diretamente dos convênios para manter suas atividades em consultório (NITÃO, 2004). É importante observar que, nos contratos entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços, os aspectos de qualidade assistencial não são o foco principal da relação. O maior determinante sempre foi a capacidade de vendas que o credenciamento de um prestador de serviços possa gerar para a operadora de planos de saúde e, especialmente, a sua tabela de preços. Por outro lado, a adoção do credenciamento dos mesmos provedores de serviços como estratégia para a organização das sub-redes, para cada tipo de plano, tem como conseqüência uma homogeneização dos produtos, determinada, na prática, pelos provedores de serviços e não pelas operadoras. Fornecedores: Com base nas informações do Sistema de Informações de Produtos da ANS, o poder dos fornecedores é maior nos planos individuais e nos coletivos por adesão do que nos coletivos com patrocínio (nos quais o empregador arca com parcela ou com a integralidade do pagamento dos custos do benefício). Ou seja, quanto mais livre a utilização dos serviços maior o custo assistencial. O sistema de informações, no entanto, não permite identificar o poder dos fornecedores em relação ao tipo de rede, se contratada, terceirizada ou própria. O estímulo à formalização de contratos dos serviços profissionais, da rede de diagnose e terapia e hospitalares aponta que os fornecedores terão seu poder ampliado com a regulação da sua relação com as empresas, o que contribuirá para o aperfeiçoamento da estruturação do setor, ao mesmo tempo em que exigirá o desenvolvimento de novas habilidades gerenciais das empresas para mantê-las lucrativas (NITÃO, 2004). Organização da Categoria Médica A organização da corporação médica, no Brasil, data do século XIX. A categoria tornou-se estruturada em múltiplas entidades, como sociedades científicas, conselhos, associações, agremiações e sindicatos. Esta característica a torna uma corporação especial dentro do segmento das profissões tidas como de origem liberal. 10 Várias são as razões e são vários os estudiosos (ALMEIDA, 1997; CAMPOS, 1988; DONNANGELO, 1975; LUZ, 1979; SCHRAIBER, 1993), que já firmaram o reconhecimento desta situação especial. Esta categoria profissional, de evidente reconhecimento na trama social, pertencente às elites e de imagem cultural associada à produção científica, técnica e acadêmica, tem como perspectiva de trabalho a produção de um certo modo de cuidar da vida e da saúde do ser humano. Ela tem ocupado, até o início do século XXI, um lugar central na organização do processo de trabalho em saúde, dado principalmente pelo seu poder prescricional e central, uma vez que delega parcela de suas atribuições a outros profissionais do setor (este profissional tem o poder de atribuir tarefas a outras categorias de trabalhadores neste campo, dentro dos processos de produção da assistência à doença e da proteção à saúde). A incorporação crescente de tecnologias nos processos produtivos em saúde, sob a gestão médico-hegemônica, já havia delimitado uma transição significativa na organização do trabalho em saúde em geral, e do médico em particular (SCHRAIBER, 1993). O trabalho médico já teve uma marca de passagem de uma medicina mais mercantil e de um profissional mais liberal (DONNANGELO, 1975) para um modelo mais organizado, e se começou a falar nos processos produtivos em saúde, que se expressaram na qualificação dos profissionais cada vez mais em torno de núcleos especializados, restringindo-os, num crescente, à produção de um procedimento específico (um exame laboratorial, um ato clínico, etc.). Autores ligados ao movimento sanitário brasileiro há muito vêm indicando essas questões, com formulações bastante ricas. Apesar de sugerirem questões relevantes para a compreensão dos processos, não chegam a propor outro entendimento para a micropolítica dos processos de trabalho em saúde. Por exemplo, Campos (1992) aponta a capacidade do movimento sanitário de atuar no dia-a-dia dos serviços de saúde como central, advogando que essa é uma das principais arenas para o confronto com os projetos neoliberais presentes nos modos de gerir os serviços nos planos político e produtivo. Indica como necessária a construção de um compromisso efetivo dos trabalhadores de saúde com o mundo das necessidades dos usuários, que permita explorar de modo exaustivo o que as tecnologias em saúde detêm em termos de efetividade, em um novo modo de operar a gestão do cuidado em saúde. O novo modelo passa pela produção de novos coletivos de trabalhadores, comprometidos éticopoliticamente com a defesa da vida. 11 As análises sobre o ambiente médico assistencial têm demonstrado como o confronto entre defensores do serviço público versus defensores do privado não consegue dar conta da situação real vivida, de hegemonia do projeto neoliberal médico. Este projeto se reproduz micro-politicamente em todos os lugares e momentos de produção de atos em saúde, indicando que isto coloca os defensores da assistência à saúde diante do desafio de saber operar a gestão dos estabelecimentos assistenciais de saúde e dos processos de trabalho de uma outra maneira, procurando desenhar uma alternativa à perspectiva hegemônica. Segundo Campos (1992), tal tarefa significa a construção de um modelo tecno-assistencial, que não pode desprezar recursos tecnológicos, clínicos e/ou sanitários para a sua ação. O trabalho médico ocupa lugar estratégico neste modelo, ainda mais se comprometido e vinculado com os usuários, individuais e coletivos, atuando dentro de equipes multiprofissionais, operadores de conhecimentos multidisciplinares. A chamada Atenção Gerenciada (managed care) aposta na produção de tecnologias no campo da gestão de processos de trabalho em saúde, que possam substituir a micro-decisão clínica pela administrativa, impondo uma nova forma tecnológica de constituir o ato de cuidar e o modo de operar a sua gestão, tanto no interior dos processos produtivos em saúde quanto no campo de organização do sistema. O setor saúde tem uma lógica multi-convenial, ou seja, tem predominado o formato ‘credenciamento’ como mecanismo de compra de serviços por parte da maioria das empresas de autogestão, ou mesmo das cooperativas (para quais o serviço deve ser prestado nos estabelecimentos dos seus cooperados: o consultório ou o laboratório médicos). Em vista disso, dá-se o estabelecimento de uma prática mais ou menos generalizada, qual seja, a do profissional médico se “conveniar/credenciar” junto a várias operadoras simultaneamente, tendo o seu consultório como a base operacional na qual obtém uma renda mensal no mercado. Aliás, autores que discutem há tempos a questão do trabalho médico, como Campos (1989) e Schraiber (1992), identificam a questão da autonomia como central na compreensão e na análise da reação dos médicos às políticas de saúde, como na estruturação e organização do seu processo de trabalho, em que o credenciamento (forma de inserção no mercado de trabalho) e o cooperativismo (forma de resistir ao empresariamento da medicina idealizada pelo fundador da cooperativa médica) são as maneiras com que a categoria profissional foi construindo sua resistência à perda da perspectiva liberal. 12 Credenciamento e cooperativismo estão entre as formas predominantes com as quais o profissional consegue captar a clientela no mercado e preservar resquícios do princípio da autonomia e da livre escolha, caros à perspectiva corporativo-liberal em que vê inserido e legitimado o seu trabalho e que guarda na defesa de uma prática autônoma, verdadeiro mecanismo singular com que vai operando sua adesão ao capital (CAMPOS, 1989) ou definindo os limites de liberdade que asseguram a manutenção dos valores ideológicos que recortam e significam o fato de ser médico (SCHRAIBER, 1990). Isto ocorre porque, com a perda do controle de seus meios de produção e com a crescente invasão da iniciativa empresarial no mercado de produção e consumo de atos e procedimentos médicos, este profissional encontra no credenciamento e/ou no cooperativismo as formas mais expressivas de manter, em algum grau, a sobrevivência do penúltimo bastião da cidadela liberal: a possibilidade da livre escolha pelo cliente, o que lhe dá a falsa segurança de se sentir autônomo. Esta situação se mantém dos anos 1980 até 2007! Segundo nota da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de São Paulo (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 2007), o plano de saúde pode definir quais doenças estão sendo cobertas, mas não que tipo de tratamento será estabelecido para seu tratamento ou sua cura. O STJ destacou que deve ficar bem claro que o médico, e não o plano de saúde, é responsável pela orientação terapêutica e que entender a questão de modo diverso põe em risco a vida do consumidor. Prestação de Assistência no Âmbito da Medicina Supletiva Vários organismos internacionais vêm realizando, desde os anos 1990, investimentos para difundir a proposta da Atenção Gerenciada (managed care) nos países latino americanos como um projeto “modernizante”. Isto contribui para produzir uma agenda razoavelmente semelhante no continente, entre todos aqueles que vivem os processos de reforma do estado, em geral, e dos sistemas de saúde, em particular (PAGANINI, 1995) procurando, assim, constituir no plano imaginário um campo comum que envolve a todos os que desejam e se relacionam com as reformas. O segmento privado de serviços de saúde constitui parte importante do sistema de atenção à saúde no país. Abrange uma significativa parcela da população economicamente ativa, enredando numa complexa cadeia de elos produtivos, relações empresariais, comerciais e, principalmente, assistenciais, que envolvem quase dois 13 milhares de operadoras, centenas de milhares de médicos e serviços de saúde e quase uma centena de milhões de usuários/beneficiários dos planos e seguros de saúde. Bahia (2000), por exemplo, argumenta que o arcabouço legal desenvolvido a partir da regulamentação dos planos e seguros se alicerça na ampliação e padronização das coberturas. Estas regras estimulam mudanças nas relações entre provedores de serviços e empresas de planos e seguros-saúde, uma vez que os produtos passam a ser muito parecidos, configurando praticamente uma commodity, concentrando a competição nos preços e nos modelos de regulação do acesso de clientes e médicos à utilização de procedimentos e não mais em padrões diferenciados de cobertura. Pode-se dizer que no Brasil, de 1998 até 2005, predominaram padronização e ampliação de cobertura. Isto parece ser resultado do baixo grau de conhecimento sobre a realidade deste mercado. Mesmo assim, faltam efeitos normativos que contemplem pressões de grupos sociais, notadamente os mobilizados em torno da questão de defesa do consumidor, (ACIOLE, 2003). Cecílio et al. (2003) sugerem o modelo abaixo reproduzido para representar o campo a ser regulado, abrindo a discussão de como atuar visando a transformação na melhoria da atenção à saúde. OPERADORAS PRESTADORES USUÁRIOS Nesse esquema, vale ressaltar a necessidade de inclusão do papel dos fornecedores de materiais, medicamentos e equipamentos médico-hospitalares que interferem, seja na oferta de novas tecnologias, em negociações com incentivos para os prestadores médicos e hospitalares ou ainda em relações de parceria com as operadoras. O eixo prioritário de análise poderia ser a construção de informações estruturadas e consistentes acerca de como se comportam as operadoras, cada uma delas e em seu conjunto, nos modelos de regulação que estabelecem com os seus prestadores 14 e com os seus clientes, seja impondo limites a estes na efetivação da cobertura ou restringindo os médicos no acesso a procedimentos ou intervenções. Para Almeida (1998), a mudança na proteção ao consumidor, bem como a garantia da estabilidade no mercado e questões relativas ao subsídio e incentivos ainda estão em aberto. A autora sugere que, a partir do ainda recente estágio da regulamentação no país, ocorrerá mudança no modelo de relacionamento que as empresas mantêm com os prestadores, centrado no corte de custos e na contenção de gastos, embora a adesão maciça ao managed care não tenha ocorrido com a velocidade e a magnitude esperadas, principalmente por aqueles que não só defendem mas tentam mimetizar o modelo assistencial dos EUA. Ocorre então desequilíbrio no território da regulamentação, de tal modo que esta, se por um lado, aumenta a visibilidade de práticas lesivas ao consumidor e amplia o debate em torno da padronização de cobertura, por outro continua a manter frágeis os mecanismos estabelecidos entre os vários atores do setor, lembrando que princípios da livre escolha do beneficiário e da autonomia do profissional médico fazem parte dos princípios da defesa do consumidor (BAHIA, 2000; ALMEIDA, 1998). A regulação dos planos em favor dos grandes players e do managed care é incompatível com as diretrizes do SUS; por isso, foi necessário um tipo de ação regulatória em direção ao fortalecimento da esfera pública. Os possíveis caminhos da ANS no enfrentamento da crise econômica dos planos de saúde desfazem a ficção de que o mercado, uma vez fortalecido, vai cooperar com o SUS, ao invés de contaminá-lo no marco da desigualdade social crônica (REIS, 2002). Segundo Iriart (2000), a atenção gerenciada se caracteriza pela organização de serviços de atenção à saúde sob o controle administrativo de grandes organismos privados, financiados pela captação de usuários. Estes organismos intermedeiam a relação entre produtores de serviços e consumidores. O capital financeiro passa a ser um ator fundamental. A atenção gerenciada representa o controle do ato médico, operando a relação custo/efetividade, alterando a lógica de produção do cuidado (FRANCO, 2002). Torna-se um desafio construir outros referenciais, orientando a regulação a partir da ótica do usuário. No Estado de São Paulo, a “Pesquisa de Condição de Vida – PCV”, conduzida pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), desde 1990 a cada quatro anos, revela que os beneficiários de convênio médico, na região metropolitana da Grande São Paulo, representavam 43,3% em 1990, 43,5% em 1994 e 44,2% em 1998. 15 Portanto, o extrato populacional que dispõe desse recurso apresentou certa estabilidade no período. No entanto, a parcela de titulares de convênios oferecidos por empresas empregadoras caiu de 64,6% para 45,9%, ou seja, a manutenção da posse de convênio até 1998 se deveu ao crescimento de titulares particulares (SEADE, 1998). Esse setor sofreu mudanças significativas acompanhando o aumento do desemprego e do número dos assalariados sem carteira assinada. Na região metropolitana de São Paulo, os assalariados passaram de 67% para 64% entre 1994 e 1998, com redução importante dos postos de trabalho assalariado com carteira assinada (SEADE, 1998). Uma vez que a extensão da assistência médica supletiva está relacionada aos benefícios oferecidos pelas empresas aos trabalhadores, o crescimento do mercado informal impacta o setor de forma significativa. Nos últimos anos, esse quadro só se agravou, de forma que a busca de alternativas de controle de custos tornou-se uma questão de sobrevivência para os serviços de saúde privados. Acompanhando o modelo de atenção gerenciada, desenvolvido no sistema de saúde americano, a implantação de diretrizes e sua tradução em protocolos clínicos ganham grande importância como estratégias fundamentais para o controle de custos, especialmente para a tentativa de previsão de custos no setor de saúde suplementar. Dessa forma, consolida-se uma pressão crescente sobre os profissionais de saúde para a diminuição da utilização de recursos na assistência médica oferecida. Assim, impõe-se aos pacientes limitações no consumo de serviços e aumento, cada vez maior, das contribuições, especialmente para aquelas faixas etárias com potencial aumento de consumo dos serviços – idosos e pacientes com doenças crônicas. Ressalte-se que esse movimento se insere num contexto hospitalar que passa por intensas transformações. Entre elas, a preocupação com a padronização dos processos assistenciais está presente tanto na rede pública quanto na privada. Modalidades Empresariais de Planos e Seguros-Saúde O surgimento do setor se deu a partir de meados da década de 1960, com o denominado convênio-empresa entre a empresa empregadora e a empresa médica (medicina de grupo). A Previdência Social repassava subsídios per capita pelos serviços prestados, prática que foi decisiva no empresariamento da medicina (MÉDICI, 1992). O sub-segmento comercial da saúde suplementar está integrado por aproximadamente 1.200 empresas, sendo 800 empresas de medicina de grupo 16 (incluindo as filantrópicas), 360 cooperativas médicas (em sua imensa maioria as Unimeds) e 30 seguradoras. Responde pela cobertura de 2/3 do total de clientes do mercado de planos de saúde (BAHIA, 2001). As medicinas de grupo, constituídas inicialmente por grupos médicos aliados ao empresariado paulista, são desde o início do século XXI responsáveis por quase 40% dos beneficiários da assistência médica supletiva. Esse segmento se organizou em torno de proprietários/acionistas de hospitais, criando redes de serviços e credenciando hospitais e laboratórios (BAHIA, 2001). As Unimeds possuem 25% dos clientes de planos de saúde e se organizaram, a partir da iniciativa de médicos, com a argumentação da ameaça de perda da autonomia da prática médica e da mercantilização da medicina (BAHIA, 2001). As seguradoras, vinculadas ou não a bancos, representam a modalidade empresarial mais recente no mercado de assistência médica suplementar e são responsáveis pelos planos de 16% do contingente de pessoas cobertas por planos privados de saúde (CORDEIRO, 1984; BAHIA et al., 1999 e ABRAMGE, 2000). Todas as operadoras de grande porte do segmento comercial disponibilizam ao mercado planos coletivos e individuais de tipo executivo, intermediário e básico. Contudo apenas três medicinas de grupo, três cooperativas e quatro seguradoras possuem acima de 300.000 clientes. A grande maioria das medicinas de grupo e cooperativas é de pequeno porte e propicia coberturas contratualmente bastante homogêneas utilizando redes de serviços bastante diferenciadas e localizadas. Mais que 60% dos planos de saúde registrados pela ANS restringem as coberturas a um único município (11%) ou a um grupo de cidades vizinhas (51%) (BAHIA, 2001). Um plano executivo de uma medicina de grupo é igual ao de uma seguradora, de uma cooperativa médica e de uma empresa/entidade com plano próprio. Como a definição do produto depende estritamente da presença/ausência dos provedores de serviços na lista de credenciados das operadoras, aqueles considerados excelentes adquirem alto poder de barganha por serem requisitados para compor a sub-rede de serviços de todas as operadoras de grande porte. O mesmo ocorre no sentido contrário, para os serviços qualificados como básicos. Estes instrumentos de auto-regulação introduzem fatores externos às meras relações quantitativas entre oferta e demanda e certamente influenciam os valores dos prêmios e as formas de financiamento. Um outro ponto que merece destaque é a questão do desempenho econômico do setor. Apesar de ser veiculado pelas entidades de representação das empresas que o setor está tendo perdas na sua lucratividade, não é esta realidade observada na análise 17 dos índices financeiros das 454 operadoras demonstradas pelo Projeto Info, 2004 da ANS (NITÃO, 2004). Autogestões são planos próprios, patrocinados ou não pelas empresas empregadoras, constituindo o sub-segmento não comercial do mercado de planos e seguros. As autogestões totalizam cerca de 300 empresas e aproximadamente 4,7 milhões de beneficiários. O grupo é heterogêneo, incluindo as grandes indústrias de transformação, entidades sindicais, empresas públicas e até empresas com pequeno número de associados (CIEFAS, 2000; BAHIA 2001). Aproximadamente metade dos planos de autogestão é administrada por instituições sindicais ou por entidades jurídicas paralelas às empresas empregadoras, como as caixas de assistência, caixas de previdência e entidades fechadas de previdência, integradas por representantes dos trabalhadores e da parte patronal. As demais empresas com planos próprios os administram por meio de seus departamentos de benefícios/recursos humanos (CIEFAS, 1999; BAHIA et al., 1999 E ABRAMGE, 2000). Os planos de autogestão organizam suas redes de serviços, fundamentalmente, mediante o credenciamento de provedores e provêm, em geral, coberturas para muitos dos procedimentos de alto custo. Regulamentação dos Planos Privados de Assistência à Saúde As condições institucionais para a montagem de um sistema regulatório com maior capacidade de atuação foram impulsionadas com a criação da ANS, em 1990, na medida em que a Agência unificou as atividades de regulação em um único órgão e foi constituída como autarquia em regime especial, com autonomia decisória e financeira. As ações desenvolvidas pela ANS desde o início de sua existência indicam a realização de um grande esforço de normatização para definir as regras de funcionamento do mercado de saúde suplementar, com destaque para as seguintes áreas: coberturas assistenciais e condições de acesso; entrada, permanência e saída das operadoras; reajuste de preços; fiscalização das atividades de operação e comercialização dos planos; monitoramento dos contratos e ressarcimento ao SUS. Pressionado por grandes seguradoras e entidades de defesa do consumidor, o Ministério da Saúde desistiu da obrigatoriedade da adaptação dos contratos antigos às inclusões das coberturas previstas pela legislação (Medida Provisória 1908-17). As ameaças de elevação brutal dos preços dos prêmios perante os requerimentos de ampliação de cobertura, exemplificadas para uma assistência médica suplementar 18 constituída exclusivamente por clientes de planos individuais tipo executivo, legitimaram, na prática, o direito do consumidor de "optar" por manter-se vinculado a um plano mais barato, com coberturas restritas. Isso incidiu diretamente sobre outro pilar da regulamentação: o ressarcimento ao SUS, concebido em 2000 para desestimular o atendimento de clientes de planos de saúde em estabelecimentos da rede pública e privada conveniada. À ampliação de cobertura deveria corresponder idealmente um "ressarcimento zero". Ainda existem inúmeras dificuldades no processo de retorno do recurso desembolsado aos cofres públicos, demonstradas pelos dados de desempenho do ressarcimento: dos 364.242 procedimentos identificados até dezembro de 2002, 193.014 haviam sido impugnados, 145.349 cobrados e apenas 33.935 efetivamente pagos (MALTA, 2004). Impacto da Regulamentação no Setor O setor de planos de saúde vive uma densa transformação desde o início da vigência da Lei 9.656/98. Um exemplo importante das mudanças introduzidas pela Lei foi a instituição da obrigatoriedade de disponibilidade e fornecimento de informações, o que permite à ANS promover diversas análises e, em especial, acompanhar a evolução dos custos, condição essencial para a autorização de aumento das mensalidades dos planos individuais. A segurança do usuário de planos privados de assistência à saúde aumentou com a regulamentação, pela ANS, de medidas necessárias à manutenção da integridade das operadoras e da garantia da continuidade da prestação dos serviços de assistência contratados. Quando a regulação entra na dimensão econômico-financeira estabelecendo condições de entrada, de permanência e de saída do setor, e com a exigência da constituição de reservas e garantias, pretende-se dar segurança ao consumidor, garantindo a capacidade econômico-financeira das operadoras para cumprir os contratos firmados, além de assegurar a transparência e a competitividade no setor. A legislação de saúde suplementar revela preocupação com os aspectos financeiros e patrimoniais das operadoras, demonstrando, em particular, que há uma relação direta entre a solvência de uma operadora e a manutenção e qualidade da prestação dos serviços de assistência à saúde aos consumidores (BAHIA, 2001). Os grandes embates posteriores à criação da ANS têm se dado em função da ampliação da cobertura e ameaças de quebra das operadoras de menor porte, face às 19 exigências de demonstração de solvência (BAHIA, 2001). As críticas produzidas pelos diversos atores variam conforme a sua origem, inserção social e defesa dos interesses que representam. Assim, os órgãos de defesa dos consumidores, como o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), pontuam, por exemplo, a “armadilha aos idosos”, apontada como a permissão da adoção de preços diferenciados entre os mais jovens e mais velhos, e a permissão de não coberturas. Os órgãos de defesa do consumidor conjuntamente com as entidades médicas, questionam a não cobertura de todas as doenças, a autonomia na solicitação dos procedimentos, a remuneração dos profissionais, dentre outros. As cooperativas médicas questionam os prazos de adaptação às Leis, a obrigatoriedade e constitucionalidade do ressarcimento, as dificuldades impostas aos pequenos planos e empresas regionais, no que se refere às exigências de coberturas. As medicinas de grupo pontuam os prazos de adaptação às Leis, a ilegalidade quanto à retroatividade e as inúmeras exigências que levam ao aumento dos custos dos produtos. As seguradoras criticam a expansão do modelo criado, com regras de difícil execução. Pressionadas por esse cenário, as operadoras tiveram suas margens reduzidas. A ANS centrou sua atuação no monitoramento das condições contratuais para o acesso aos serviços de saúde, na política de preços e na solidez econômica das operadoras para sustentação dos direitos dos usuários. Isso levou a mudanças no relacionamento das operadoras com os prestadores, uma vez que sem os rendimentos do mercado financeiro e sem a possibilidade de transferir a conta para os usuários, o foco da busca das soluções ficou concentrado nos prestadores de serviços (SILVA, 2003). A importância da caracterização das tendências no comportamento desses atores, suas tensões e disputas, fundamentando uma nova intervenção do Estado, irá auxiliar na construção da competência para exercer a regulação nesse campo instável e fortemente auto-regulado, ou seja, atuar na micro-regulação do mercado de saúde. Projeto Diretrizes / Melhores Práticas Os hospitais privados buscam se diferenciar no mercado aderindo, por exemplo, a sistemas de avaliação externa, como acreditação, nos quais é valorizado o controle dos processos de trabalho. No Brasil, a Associação Médica Brasileira (AMB), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), patrocinou o desenvolvimento de um esforço integrado denominado “Projeto Diretrizes” cujo principal objetivo foi 20 “...padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico.” (JATENE e CUTAIT, 2002), caracterizando também um tipo de controle de processos de trabalho. A elaboração do projeto e sua implantação representaram uma iniciativa conjunta das duas organizações ante o cenário internacional de intensa produção científica, difícil de ser absorvida pelos profissionais. O crescimento do número de diretrizes para várias enfermidades, associado à preocupação com a adequada disseminação de “boas práticas” baseadas em evidências científicas para todos os profissionais dispersos nas várias regiões brasileiras, constituíram aspectos motivadores desse tipo de estratégia. (JATENE et al., 2001). O crescimento do número de escolas médicas, com qualidade questionável; a dificuldade de acesso a sistemas nacionais de capacitação e educação permanente dos profissionais, especialmente daqueles que atuam em regiões mais distantes dos grandes centros de formação; a dificuldade dos especialistas em absorver as novas propostas diagnósticas e terapêuticas, perante o volume e a velocidade de mudança na produção científica especializada, o regime de trabalho dos profissionais médicos, assalariados e com média de três a quatro empregos, reforçaram a premência de disseminação de conhecimentos sobre boas práticas. Logo, considerou-se esse “Projeto Diretrizes” como uma alternativa para suplantar essas dificuldades (JATENE et al., 2001). Outro aspecto citado, e com extrema relevância para as Regiões Sudeste e Sul brasileiras, é a pressão crescente dos financiadores do setor de assistência médica supletiva. É ingênuo considerar que essas forças não representaram um dos elementos motivadores para que as sociedades de especialistas, a convite da AMB e do CFM, participassem da construção, e em especial da seleção dos agravos a serem priorizados para iniciar esse processo. O processo de elaboração procurou seguir alguns dos passos propostos para o desenvolvimento de diretrizes com alta qualidade. Foi organizada uma equipe, especializada em metodologia epidemiológica, vinculada ao corpo de direção do projeto, responsável pela sistematização da grade de evidências e de recomendações e com o papel de auxiliar a recuperação e análise das referências científicas selecionadas, em geral, pelo grupo de profissionais especialistas indicados por cada uma das sociedades vinculadas à AMB (JATENE e CUTAIT, 2002). A seleção dos temas ficou por conta das sociedades de especialistas. Essa talvez seja uma das maiores fraquezas do projeto, uma vez que temas extremamente relevantes no cenário epidemiológico brasileiro não foram contemplados, enquanto outros, sem 21 grande significado, fizeram parte da lista de 90 diretrizes elaboradas. Este conjunto de documentos está disponível na Internet e foi elaborado entre 1999 e 2001. A previsão para atualização dos documentos, requisito essencial para diretrizes de boa qualidade, não está registrada em qualquer texto inserido no portal ou no conteúdo das diretrizes. Em 2005 o projeto foi retomado, com a revisão de alguns temas e introdução de novos. O teor das diretrizes é diversificado, seja em relação ao tipo de doença, gravidade, magnitude do problema ou nível de atenção. Estão incluídos desde temas voltados para a promoção de saúde (como atividade física), exames diagnósticos (como, por exemplo, eletroneuromiografia) e agravos considerados sentinela em geriatria (como quedas em idosos) até doenças graves e bem delimitadas, tais como pneumonias adquiridas em comunidade por adultos imunocompetentes, doença pulmonar obstrutiva crônica, asma brônquica em adultos ou diagnóstico e tratamento de câncer de mama. Dentro da área de cardiologia o único tema relacionado foi prevenção da aterosclerose – dislipidemia. Na produção de diretrizes para este campo a Sociedade Brasileira de Cardiologia foi pioneira. Seguindo as tendências internacionais, de padronização de condutas para doenças isquêmicas do coração e para outras doenças cardíacas, a Sociedade veio construindo documentos de consenso desde a primeira metade da década de 1990. Os níveis de evidência e as grades de recomendação diferem daquelas propostas pelo “Projeto Diretrizes”. As diretrizes para angina instável e infarto agudo do miocárdio sem supradesnível do segmento ST (NICOLAU et al., 2001), para dor torácica na sala de emergência (BASSAN et al., 2002), para pacientes com arritmias cardíacas (SCANAVACCA et al., 2002) são exemplos desse esforço e correm em paralelo ao trabalho coordenado pela AMB/CFM. Outras sociedades de especialistas investiram nesse tipo de estratégia, mas é na cardiologia que se pode identificar maior produção científica, inclusive com avaliações sobre o impacto da implantação de diretrizes em hospital escola (BARRETTO et al., 2001). Para repensar novas modelagens assistenciais, assentadas em diretrizes com a integralidade do cuidado, há que se aprofundar o debate sobre novos fundamentos teóricos, particularmente sobre a natureza do processo de trabalho, particularmente a sua micropolítica e a sua importância na compreensão da organização da assistência à saúde. Propostas alternativas para a organização dos serviços de saúde buscam incorporar outros campos de saberes e práticas em saúde e configurar formas antihegemônicas de organização da assistência. Estas ações diferenciadas na produção da saúde operam tecnologias voltadas para a produção do cuidado, apostam em novas 22 relações entre trabalhadores e usuários, tentando construir um novo serviço de saúde, centrado nos usuários e em suas necessidades e estabelecendo um contraponto à crise vivida pela saúde (CECÍLIO, 2003). O estudo desenvolvido buscou aprofundar a caracterização do modelo assistencial existente no setor de saúde suplementar na região metropolitana de São Paulo, tendo como objeto a área de oncologia. A escolha dessa especialidade para o projeto de investigação atende uma das linhas de investigação já selecionadas pela Agência: é uma das especialidades com maior padronização e consenso em relação a tratamento nos âmbitos internacional e nacional, tem um grau e velocidade de incorporação de novos conhecimentos diferenciada das outras áreas clínicas, possui indicadores de qualidade válidos na literatura e representa uma situação clínica onde são utilizados recursos (materiais, medicamentos e equipamentos) diagnósticos e terapêuticos de alto custo, onde os profissionais estão envolvidos de forma assalariada ou por meio de empresas próprias nos serviços de quimioterapia e radioterapia, nas unidades de internação especializada e nos consultórios, sejam eles oncologistas clínicos, hematologistas, radioterapeutas ou cirurgiões. A escolha de determinados tumores sólidos está relacionada ao perfil epidemiológico dos principais tipos de câncer no país. Nos últimos cinco anos, no Brasil, os principais tipos de câncer, responsáveis por 41% de todos os óbitos por Câncer são: neoplasia maligna de traquéia, brônquios e pulmões, neoplasia maligna do estômago, neoplasia maligna da mama, neoplasia maligna do cólon, reto e ânus e neoplasia maligna da próstata. No sexo masculino, câncer de pulmão, próstata e estômago constituem as principais localizações e no sexo feminino, câncer de mama, pulmão e cólon, reto e ânus. No Estado de São Paulo, os coeficientes de mortalidade são maiores que no Brasil, representando também a segunda causa de morte, com coeficiente de mortalidade em 2003 de 98,5/100.000 habitantes. Em relação aos principais tipos, ressalta-se a importância do câncer de mama como causa de morte entre as mulheres, especialmente no município de São Paulo. No município de São Paulo, os cinco principais tipos de câncer são: câncer de pulmão, cólon, mama, estômago e próstata, sendo câncer de mama a primeira causa entre as mulheres e pulmão entre os homens. Vale ressaltar que ao considerar, além da magnitude, a existência de métodos de rastreamento com evidências científicas comprovadas, aparecem câncer de mama, cólon, próstata e colo de útero. As leucemias e linfomas são aqueles para os quais existe menor letalidade, se utilizados os esquemas 23 terapêuticos preconizados. Com base nas necessidades de saúde da população paulistana e considerando a oferta de recursos para prevenção secundária, diagnóstico e tratamento destas enfermidades, foram selecionadas aquelas com maior relevância e nas quais fosse possível acompanhar todas as etapas do processo assistencial. O Câncer de mama é uma das situações clínicas que requerem maior número de especialistas para o bom acompanhamento dos casos e exige linha de cuidado pressupondo articulação entre as unidades no hospital; se utilizados prestadores isolados, grande integração entre eles, o que faz com que essa doença em particular, como afecção traçadora, tenha papel importante para identificar falhas ou descontinuidades no itinerário diagnóstico e terapêutico em câncer. Além disso, é em geral manejada como procedimento eletivo e muito dependente de acesso a recursos diagnósticos e terapêuticos de alto custo. 24 Objetivos Geral Descrever e avaliar o modelo tecno-assistencial e a dinâmica de atores no mercado de saúde suplementar na área de oncologia na região metropolitana de São Paulo. Específicos: 1. Estudar procedimentos diagnósticos e terapêuticos (cirurgia curativa, reconstrução mamária, quimioterapia e radioterapia) empregados para os pacientes com Câncer de Mama e Leucemias e Linfomas. Os aspectos a serem estudados foram: a. indicações, fluxos dos pacientes, limitações no acesso, loci institucionais e características dos prestadores, existência de diretrizes; b. descrição dos registros clínicos existentes; c. resultados: indicadores (oportunidade de tratamento, complicações, mortalidade, entre outros); 2. Descrever as formas de inserção dos médicos no mercado de saúde suplementar, os requisitos para sua atuação, limitações para a prática e reivindicações dos diferentes atores envolvidos no processo em relação à satisfação de suas demandas e/ou necessidades. 3. Descrever os mecanismos existentes nas operadoras, na área de oncologia, para gerenciar o cuidado, procurando identificar limitações de acesso aos recursos diagnósticos e terapêuticos assim como gestão – critérios de credenciamento da rede de serviços de saúde. 25 Material e Métodos Para atingir os objetivos propostos foram selecionadas inicialmente duas formas de aproximação para caracterizar a demanda, os prestadores hospitalares, médicos e pacientes envolvidos na assistência em oncologia. Seleção de Prestadores e Pacientes Considerando que as informações obtidas a partir dos atestados de óbito são universais – para o conjunto da população – independente do local de atendimento e da fonte de financiamento, pode-se assumir que são aquelas com melhor qualidade de registro nas estatísticas de saúde, foram solicitadas à Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo as bases de dados de óbitos ocorridos no município durante o período de 2004 a 2005. Para a análise dos municípios da região metropolitana seria necessária a solicitação das bases de óbitos dos 38 municípios da Grande São Paulo. Para contornar a dificuldade operacional e construir uma aproximação dos dados, optou-se por trabalhar com a base de dados de óbitos segundo ocorrência no município de São Paulo. A análise das informações de óbito segundo causa básica permitiu identificar os óbitos por Câncer de Mama e por neoplasias do tecido linfático e hematopoiético registrados no período de análise, seu local de ocorrência (prestadores com maior registro de óbitos dessa causa) e os médicos responsáveis (tabelas 1, 2 e 3). Tabela 1 - Distribuição dos óbitos não fetais ocorridos no município de São Paulo segundo o local de residência - 2004 e 2005 Ano Local de residência Leste Sul Norte São Paulo - Capital Oeste Centro Ignorado São Paulo - Capital - Total Grande São Paulo Interior São Paulo Outros Estados ou Ignorado TOTAL 2004 n° % 22.881 30,4 18.005 23,9 13.642 18,1 6.560 8,7 3.145 4,2 1.101 1,5 65.334 86,8 7.565 10,1 1.543 2,1 788 1,0 75.230 100,0 2005 n° % 21.510 30,2 16.982 23,8 12.943 18,1 6.519 9,1 3.010 4,2 979 1,4 61.943 86,8 7.108 10,0 1.497 2,1 776 1,1 71.324 100,0 Fonte: SMS – Município de São Paulo 26 Tabela 2 - Distribuição dos óbitos ocorridos no município de São Paulo segundo o local de residência e causa básica de óbito agrupado por capítulo CID (10ª Revisão) - 2004 e 2005 Local de Residência Causa básica de óbito Circulatório Neoplasias Respiratório Causas externas Digestivo Moléstias Infecciosas Endócrino Geniturinário Sistema Nervoso Perinatal Sintomas Congênitas Mental Osteomuscular Sangue Pele Gravidez Ouvido Olhos e anexos TOTAL São Paulo Capital Grande São Paulo n° % n° 20.043 32,4 1.642 11.983 19,3 2.158 7.562 12,2 644 6.596 10,6 848 3.701 6,0 389 2.770 4,5 440 2.515 4,1 181 1.406 2,3 170 1.484 2,4 111 1.276 2,1 189 825 1,3 51 534 0,9 160 682 1,1 37 215 0,3 40 190 0,3 36 112 0,2 7 40 0,1 5 8 0,0 1 0,0 61.943 100,0 7.108 Interior São Paulo % n° 23,1 464 30,4 439 9,1 109 11,9 114 5,5 72 6,2 90 2,5 32 2,4 36 1,6 15 2,7 32 0,7 7 2,3 60 0,5 3 0,6 9 0,5 12 0,1 2 0,1 1 100,0 1.497 % 31,0 29,3 7,3 7,6 4,8 6,0 2,1 2,4 1,0 2,1 0,5 4,0 0,2 0,6 0,8 0,1 0,1 100,0 Outros TOTAL Estados ou Ign n° % n° % 272 35,1 22.421 31,4 208 26,8 14.788 20,7 52 6,7 8.367 11,7 39 5,0 7.597 10,7 36 4,6 4.198 5,9 41 5,3 3.341 4,7 9 1,2 2.737 3,8 10 1,3 1.622 2,3 6 0,8 1.616 2,3 2 0,3 1.499 2,1 3 0,4 886 1,2 85 11,0 839 1,2 4 0,5 726 1,0 1 0,1 265 0,4 6 0,8 244 0,3 121 0,2 2 0,3 48 0,1 8 0,0 1 0,0 776 100,0 71.324 100,0 Tabela 3 - Distribuição dos óbitos não-fetais ocorridos no município de São Paulo segundo a causa básica de óbito relacionado às neoplasias - 2004 e 2005 Ano Causa básica do óbito Capítulo Descrição topográfica Neoplasias malignas dos órgãos digestivos Neoplasias malignas dos aparelho respiratório e dos órgãos intratorácicos Neoplasias malignas da mama Neoplasias malignas do tecido linfático, hematopoético e de tecidos correlatos n° 4.751 % 32,5 2.162 14,8 2005 n° % 4.922 33,3 2.173 14,7 1.337 9,1 1.362 9,2 1.369 9,4 1.283 8,7 1.017 7,0 1.064 7,2 836 5,7 821 5,6 678 4,6 740 5,0 586 4,0 580 3,9 538 3,7 503 3,4 Neoplasias malignas do lábio, cavidade oral e faringe 530 3,6 492 3,3 Neoplasias malignas da pele Neoplasias malignas do tecido mesotelial e tecidos moles 207 1,4 207 1,4 140 1,0 171 1,2 Neoplasias de comportamento incerto ou desconhecido 146 1,0 122 0,8 105 0,7 113 0,8 96 0,7 122 0,8 86 0,6 77 0,5 32 0,2 36 0,2 14.616 100,0 14.788 100,0 Neoplasias malignas dos órgãos genitais femininos Neoplasias malignas dos órgãos genitais masculinos Neoplasias 2004 Neoplasias malignas de localizações mal definidas, secundárias e de localizações NE Neoplasias malignas dos olhos, do encéfalo e de outras partes do SNC Neoplasias malignas dos órgãos urinários Neoplasias malignas da tireóide e de outras glândulas endócrinas Neoplasias malignas dos ossos e das cartilagens articulares Neoplasias benignas Neoplasias malignas de localizações múltiplas independentes (primárias) TOTAL 27 Entre as diversas neoplasias, o câncer de mama (neoplasias malignas de mama) representou cerca de 9% dos óbitos (1337 em 2004 e 1362 em 2005) e 72 médicos responderam por aproximadamente 28% casos que chegaram a óbitos. A grande maioria dos óbitos ocorreu nos hospitais financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Conseqüentemente, os profissionais que mais atestam o fazem nos serviços do SUS. Entre os prestadores privados que atendem pacientes conveniados (não SUS) se destacam os seguintes hospitais: Beneficência Portuguesa, A.C. Camargo, Albert Einstein, Santa Catarina, São Luiz, Sírio Libanês, Samaritano, Evaldo Foz, Alvorada, Nove de Julho, São Camilo (unidades Pompéia, Ipiranga e Santana), entre outros. A partir dessa base foi possível identificar prestadores hospitalares privados com relevância na assistência oncológica da região metropolitana de São Paulo. A Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo possui há muitos anos (desde 1982) rotina de coleta mensal de dados de todas as saídas hospitalares dos prestadores privados com informações de dados demográficos, dados da internação, diagnóstico principal, procedimento (tabela SUS) e evolução. O envio desse relatório é realizado por meio magnético, porém a cobertura não é homogênea em todos os municípios do Estado. Para a região metropolitana de São Paulo a base tem boa cobertura (90% dos prestadores privados) e o nível regional da Secretaria Estadual de Saúde (SES) supervisiona e armazena essas informações. Foi, portanto, solicitada à SES a base de dados dos prestadores privados contendo essas informações para o período de 2004 e 2005 para o Estado. A SES forneceu os dados de 2004 e primeiro semestre de 2005, uma vez que no segundo semestre de 2005 foi alterada a sistemática de coleta dificultando sua utilização para o período como um todo. A base possui 1.775.909 registros de internações hospitalares de prestadores privados do Estado de São Paulo, dos quais 1.596.679 registros válidos. Quando foram analisados os dados segundo data de saída, percebeu-se que a base continha registros de 2002 e 2003. Procedeu-se à seleção das saídas com residência no Estado de São Paulo, que corresponderam a 1.577.605 saídas (tabela 4). 28 Tabela 4 - Distribuição das saídas hospitalares segundo área de abrangência da regional (Secretaria Estadual de Saúde) de residência e ano da data da saída hospitalar - Boletim CIH - SES - Estado de São Paulo DIR 01 DIR 22 DIR 12 DIR 02 DIR 23 DIR 03 DIR 10 DIR 07 DIR 05 DIR 13 DIR 19 DIR 20 DIR 14 DIR 21 DIR 09 DIR 11 DIR 18 DIR 16 DIR 04 DIR 15 DIR 08 DIR 06 DIR 24 DIR 17 TOTAL DIR_RESID Capital São José do Rio Preto Campinas Santo André Sorocaba Mogi das Cruzes Bauru Araraquara Osasco Franca Santos São João da Boa Vista Marília São José dos Campos Barretos Botucatu Ribeirão Preto Presidente Prudente Franco da Rocha Piracicaba Assis Araçatuba Taubaté Registro 2002 2003 2004 2005 Total 21 64.055 357.782 162.833 584.691 52 8.812 118.379 58.674 185.917 2 473 80.721 39.663 120.859 4 2.724 38.164 42.234 83.126 3 3.717 39.481 24.400 67.601 3 4.289 34.369 25.972 64.633 2 2.996 33.236 26.529 62.763 1.572 36.584 22.476 60.632 9 5.607 27.707 12.676 45.999 977 24.301 13.072 38.350 2 5.634 13.380 18.279 37.295 2 705 24.242 11.291 36.240 480 21.575 12.457 34.512 698 19.569 13.121 33.388 151 10.064 6.920 17.135 1 230 9.813 6.205 16.249 165 12.288 2.452 14.905 1 999 7.536 6.078 14.614 176 8.832 5.018 14.026 1 198 8.530 4.088 12.817 330 8.092 3.424 11.846 131 1.983 5.690 1.973 9.777 170 6.765 2.216 9.151 27 646 406 1.079 234 107.168 947.746 522.457 1.577.605 % 37,1 11,8 7,7 5,3 4,3 4,1 4,0 3,8 2,9 2,4 2,4 2,3 2,2 2,1 1,1 1,0 0,9 0,9 0,9 0,8 0,8 0,6 0,6 0,1 100,0 Esse volume de registros corresponde a 557 estabelecimentos de saúde privados. A produção de alguns prestadores está muito abaixo da produção apresentada nos dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos, o que evidencia que esta base apresenta cobertura heterogênea para os prestadores e, portanto, precisa ser utilizada com restrições. No entanto, vários prestadores identificados na base de óbitos estavam bem representados no Cadastro, o que permitiu a sua utilização para a região metropolitana da grande São Paulo. Analisando-se os diagnósticos de saída, segundo capítulo da Classificação Estatística Internacional de Doenças e problemas relacionados à saúde 10ª revisão (CID-10), pode-se identificar que aproximadamente 7% das internações registradas são de Neoplasias, correspondendo a 110.874 (tabela 5). 29 Tabela 5 - Distribuição das saídas hospitalares segundo diagnóstico principal agrupado por capítulo (CID 10ª revisão) e ano da data da saída hospitalar - Boletim CIH - SES - Estado de São Paulo Capítulo CID 2002 2003 2004 2005* nº % nº % nº % nº % Gravidez 28 11,2 16.566 15,3 131.090 13,7 77.852 14,7 Circulatório 40 16,1 13.977 12,9 126.201 13,1 67.241 12,7 Geniturinário 39 15,7 11.002 10,2 98.940 10,3 57.983 11,0 Digestivo 26 10,4 10.524 9,7 98.591 10,3 55.938 10,6 Respiratório 31 12,4 11.169 10,3 109.728 11,4 53.840 10,2 Neoplasias 8 3,2 7.292 6,7 68.013 7,1 35.561 6,7 Lesões 11 4,4 7.144 6,6 65.201 6,8 35.288 6,7 Sintomas 23 9,2 6.849 6,3 55.835 5,8 33.783 6,4 Osteomuscular 4 1,6 4.289 4,0 42.643 4,4 24.682 4,7 Moléstias Infecciosas 13 5,2 3.739 3,5 33.464 3,5 17.479 3,3 Endócrino 8 3,2 3.463 3,2 31.706 3,3 16.513 3,1 Sistema Nervoso 7 2,8 2.065 1,9 19.268 2,0 10.159 1,9 Fatores 3 1,2 1.593 1,5 14.228 1,5 8.502 1,6 Pele 1 0,4 1.615 1,5 12.069 1,3 6.991 1,3 Olhos e anexos 1.570 1,5 14.817 1,5 5.994 1,1 Perinatal 1.147 1,1 8.912 0,9 5.680 1,1 Mental 4 1,6 953 0,9 8.382 0,9 4.965 0,9 Congênitas 2 0,8 805 0,7 6.677 0,7 3.709 0,7 Sangue 1 0,4 722 0,7 5.349 0,6 2.758 0,5 Ouvido 508 0,5 5.443 0,6 2.663 0,5 Causas externas 849 0,8 1.985 0,2 721 0,1 Ignorado 284 0,3 1.271 0,1 190 0,0 249 100,0 108.125 100,0 959.813 100,0 528.492 100,0 Total *referem-se ao 1º semestre de 2005 Os registros de 2002 foram desconsiderados, pela sua pequena representatividade. Para detalhar a análise identificou-se o volume de saídas segundo localização dos prestadores nas regionais da SES. Em relação às Neoplasias malignas, observa-se grande volume de registros na DIR Capital e, entre as regionais da Grande São Paulo, na regional de Santo André. Por isso foram analisados prestadores dessas duas regionais. 30 Tabela 6 - Distribuição anual das saídas hospitalares de Neoplasias Malignas (sem pele) segundo DIR-Hospital - Hospitais Privados - 2003 a 2005 DIR 01 - Capital DIR 12 - Campinas DIR 10 - Bauru DIR 22 - São José do Rio Preto DIR 23 - Sorocaba DIR 02 - Santo André DIR 19 - Santos DIR 07 - Araraquara DIR 21 - São José dos Campos DIR 13 - Franca DIR 14 - Marília DIR 20 - São João da Boa Vista DIR 09 - Barretos DIR 03 - Mogi das Cruzes DIR 11 - Botucatu DIR 15 - Piracicaba DIR 05 - Osasco DIR 18 - Ribeirão Preto DIR 16 - Presidente Prudente DIR 08 - Assis DIR 24 - Taubaté DIR 06 - Araçatuba DIR 04 - Franco da Rocha Ignorado DIR 17 - Registro ANO SAIDA 2003 2004 2005 2.701 24.768 8.980 182 4.270 2.166 166 2.770 2.619 221 2.477 1.271 109 1.148 680 54 669 905 278 501 793 29 896 576 14 610 575 21 491 335 5 531 293 5 485 237 11 322 214 16 193 175 1 178 188 204 88 31 177 68 5 178 49 5 64 149 137 38 3 94 37 11 39 5 7 2 4 1 1 3 1 Total geral 3.872 41.213 20.445 65.530 100,00 DIR_HOSP Total geral 36.449 6.618 5.555 3.969 1.937 1.628 1.572 1.501 1.199 847 829 727 547 384 367 292 276 232 218 175 134 55 9 6 4 55,62 10,10 8,48 6,06 2,96 2,48 2,40 2,29 1,83 1,29 1,27 1,11 0,83 0,59 0,56 0,45 0,42 0,35 0,33 0,27 0,20 0,08 0,01 0,01 0,01 No município de São Paulo (DIR-São Paulo) os prestadores com maior volume de registros para neoplasias malignas e mais especificamente Câncer de mama estão apresentados na tabela abaixo. 31 Tabela 7 - Distribuição anual das saídas hospitalares de Neoplasia Maligna de Mama (C50) segundo estabelecimento - Hospitais Privados - DIR Capital - dez 2003 a jun 2005 Estabelecimento HOSP A C CAMARGO-FUND ANTONIO PRUDENTE HOSP ALVORADA HOSP STA CATARINA HOSPITAL SIRIO LIBANES HOSP 9 DE JULHO HOSPITAL OSWALDO CRUZ HOSP SAO LUIZUNIDADE I HOSP BENEFICENCIA PORTUGUESA SAO JOAQUIM HOSP IGESP HOSPITAL E MATERNIDADE SANTA MARIA CRUZ AZUL INTERCLINICAS SERV MED HOSP LTDA INST BRASILEIRO DE CONTROLE DO CANCER-IBCC HOSP PAULISTANO HOSP NIPO BRASILEIRO HOSPITAL SANTA HELENA HOSP EDMUNDO VASCONCELOS HOSP VASCO DA GAMA HOSP BOSQUE DA SAUDE HOSP BANDEIRANTES HOSP METROPOLITANO HOSP SAMARITANO HOSP STA CRUZ HOSP AVICCENA HOSP MAT SAO CAMILO - POMPEIA HOSP STA RITA SAMHO - INTERMEDICA SISTEMA DE SAUDE LTDA HOSP MAT ALVORADA STO AMARO INST DO CANCER ARNALDO VIEIRA DE CARVALHO HC DA FMUSP HOSPITAL DAS CLINICAS HOSP MAT SAO CAMILOSANTANA HOSP E MAT NSA SRA DE LOURDES HOSP DE ERMELINO MATARAZZO-DAY SANTA MARINA HOSPITAL GERAL E MATERNIDADE PRO MATRE PAULISTA HOSP MAT STA JOANA HOSPITAL SAO LUCAS-SAO PAULO Hospital Santa Cecília INSTITUTO GERAL DE ASSISTENCIA SOCIAL EVANGELICA IGASE HOSPITAL SANTA VIRGÍNIA HOSP MAT SAO CRISTOVAO SOCIEDADE PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA/UNIFESP HOSP STA MARCELINA HOSP ADVENTISTA DE SAO PAULO HOSP MAT SAO CAMILO - IPIRANGA MEDIAL SAUDE S/A SANTA CASA DE SAO PAULO HOSPITAL SBC INTERMEDICA - SISTEMA DE SAUDE LIMITADA HOSP NSRA DE LOURDES HOSP DA PENHA COMPLEXO HOSPITALAR PAULISTA HOSP MAT STA MARTA HOSP NSRA DO PARI HOSPITAL SAO LUIZ GONZAGA HOSP STA PAULA HOSP PRESIDENTE HOSP ALBERT EINSTEIN HOSP MAT 8 DE MAIO HOSP MAT VOLUNTARIOS Total geral 2003 27 13 12 35 13 ANO SAIDA 2004 850 918 202 214 201 217 113 105 97 2005 176 75 131 94 98 77 82 42 19 1.026 993 360 321 311 294 230 147 129 18,30 17,71 6,42 5,72 5,55 5,24 4,10 2,62 2,30 8 11 1 6 4 4 14 8 10 15 45 19 13 4 10 14 2 2 3 1 2 18 - 87 96 101 83 75 70 52 63 63 56 40 34 38 8 28 9 21 18 31 16 23 19 6 9 15 10 11 30 14 17 32 19 17 33 21 7 25 25 23 8 3 18 13 7 6 3 14 9 4 7 5 125 121 118 115 95 93 89 88 84 81 73 67 61 53 50 40 38 35 31 30 29 24 22 21 20 19 18 16 2,23 2,16 2,10 2,05 1,69 1,66 1,59 1,57 1,50 1,44 1,30 1,19 1,09 0,95 0,89 0,71 0,68 0,62 0,55 0,53 0,52 0,43 0,39 0,37 0,36 0,34 0,32 0,29 11 1 1 4 9 8 4 4 15 14 13 0,27 0,25 0,23 2 1 6 3 3 1 1 - 6 7 6 2 5 1 5 2 1 3 1 4 3 2 2 2 1 1 4 2 3 6 2 1 2 3 1 3 1 - 12 10 9 8 8 7 7 6 4 4 4 4 4 3 2 2 2 2 1 0,21 0,18 0,16 0,14 0,14 0,12 0,12 0,11 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07 0,05 0,04 0,04 0,04 0,04 0,02 344 4.074 1.190 5.608 100,00 Total geral 32 Para a DIR de Santo André, observou-se que o hospital com maior volume de registros de neoplasias malignas apresentava também maior proporção de casos de Câncer de Mama. Vale ressaltar que o volume de casos é bem inferior ao identificado no município de São Paulo (Tabela 8). Tabela 8 - Distribuição anual das saídas hospitalares de Neoplasia Maligna de Mama (C50) segundo estabelecimento - Hospitais Privados - DIR Santo André - dez 2003 a jun 2005 Estabelecimento HOSPITAL E MATERNIDADE BRASIL HOSPITAL SAO BERNARDO S/A HOSPITAL E MATERNIDADE DR CHRISTOVAO DA GAMA HOSPITAL E MATERNIDADE SAUDE SANTO ANDRE HOSPITAL SAUDE SÃO BERNARDO HOSPITAL E MATERNIDADE ASSUNCAO HOSPITAL BARTIRA HOSPITAL CORACAO DE JESUS HOSPITAL NOSSA SENHORA DE FATIMA HOSPITAL E MATERNIDADE SAUDE SAO BERNARDO HOSPITAL ABC AMICO HOSPITAL RIBEIRAO PIRES LTDA HOSPITAL E MATERNIDADE BENEFICIENCIA PORTUGUESA HOSPITAL SAO CAETANO HOSPITAL E MATERNIDADE CENTRAL SAO CAETANO DE SUL Total geral 2003 1 1 ANO SAIDA 2004 36 9 10 9 4 1 2 2 1 2 1 1 1 79 2005 41 18 17 14 6 6 4 5 3 1 115 Total geral 77 28 27 23 10 7 6 5 3 2 2 2 1 1 1 195 39,49 14,36 13,85 11,79 5,13 3,59 3,08 2,56 1,54 1,03 1,03 1,03 0,51 0,51 0,51 100,00 O cruzamento das informações da base de óbitos com os dados do Boletim CIH permitiu selecionar prestadores privados com maior demanda de neoplasias malignas, em especial de câncer de mama e leucemias e linfomas, de forma a caracterizar melhor aqueles prestadores privados com grande demanda oncológica no setor supletivo na região metropolitana de São Paulo. A escolha dos hospitais seguiu critério de importância, facilidade operacional e representatividade frente às fontes de financiamento. Seguindo esta distribuição, solicitamos prontuários para serem analisados nas organizações: Hospital Beneficência Portuguesa, Hospital A.C Camargo, Hospital 9 de Julho, Hospital Alvorada, Hospital e Maternidade São Camilo – Pompéia, Hospital Paulistano, Hospital Santa Catarina e Hospital Sírio Libanês no município de São Paulo e Hospital Brasil em Santo André. O hospital Beneficência Portuguesa não conseguiu levantar os prontuários em tempo hábil, de forma que foi excluído da investigação. O Hospital A.C Camargo exigiu passagem pela Comissão de Ética do próprio hospital, não aceitando a aprovação obtida junto à Comissão de Ética em Pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanes em julho de 2006, como os demais prestadores. Não houve tempo hábil para cumprir essa exigência, impossibilitando o levantamento para a presente investigação. Em todos demais prestadores foi exigida, para permitir a consulta aos prontuários, a aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa. Os hospitais foram 33 formalmente contatados e esclarecidos por telefone sobre os propósitos da pesquisa e não houve recusa em submeter os prontuários à análise. No entanto, alguns demoraram mais de um mês para colocar os prontuários selecionados à disposição da equipe de pesquisadores, justificando a demora pelo custo do envio dos prontuários das empresas terceirizadas que os armazenam. Além disso, o espaço físico para consulta, mesmo que para apenas duas pessoas foi outra dificuldade, uma vez que os serviços de arquivo médico eram, na maior parte dos hospitais, locais com pouco espaço para receberem pesquisadores. Com as unidades hospitalares definidas, foi iniciado o processo de seleção de quais prontuários seriam analisados. Desta forma, foi selecionada amostra aleatória dos pacientes e respectivas passagens no período entre dezembro de 2003 e junho de 2005 nos hospitais citados. Foram encaminhados os pedidos para análise dos prontuários e as respostas obtidas de cada hospital foram as seguintes: Tabela 9 - Distribuiçao dos prontuários selecionados segundo estabelecimento e situação no levantamento - dez 2003 a jun 2005 Estabelecimento HOSPITAL SIRIO LIBANES HOSP 9 DE JULHO HOSPITAL E MATERNIDADE BRASIL HOSP ALVORADA HOSP STA CATARINA HOSP PAULISTANO HOSP MAT SAO CAMILO - POMPEIA Total - % Analisados Não disponíveis Excluídos Total solicitados 159 45 33 27 24 23 20 66 2 0 15 1 2 0 0 2 0 7 0 0 5 225 49 33 49 25 25 25 331 76,8 86 20,0 14 3,2 431 100,0 Os prontuários excluídos foram analisados, mas por não se enquadrarem na definição de caso, não foram incluídos no estudo. Os prontuários não disponíveis não foram encontrados nas instituições por dificuldades operacionais dos prestadores no arquivamento dos prontuários. A pesquisa dos prontuários foi realizada entre os meses de novembro de 2006 e janeiro de 2007, com aplicação de formulário estruturado para os 331 prontuários incluídos no estudo. A partir das pesquisas dos prontuários foram identificados fonte de financiamento dos casos e referendados os profissionais médicos envolvidos no 34 atendimento, com vistas a posterior seleção para entrevista. Também foi possível identificar os endereços e telefones atualizados dos pacientes para viabilizar a realização das entrevistas. Formulários Semi-estruturados Foram confeccionados quatro tipos de formulários para coleta de dados do itinerário terapêutico nos casos de Câncer de Mama e Leucemias e Linfomas: coleta de dados do prontuário; entrevista com o médico assistente; entrevista com a operadora; e para entrevista com o paciente. a) Prontuários Hospitalares (ANEXO 1) O formulário para coleta de dados do prontuário baseou-se na revisão dos critérios extraídos das principais diretrizes nacionais e internacionais para manejo dos pacientes com Câncer de mama e Leucemias e Linfomas, assim como identificar o perfil clínico dos pacientes atendidos com esse diagnóstico. a) Identificação do paciente: nome, número do prontuário, data de internação, data da saída, tipo de saída, idade, sexo, nome da operadora, tipo de plano, nome do hospital, endereço e telefone do paciente, nome do médico assistente, número do CRM, endereço e telefone do médico. b) Procedimentos diagnósticos: data do início dos sintomas, descrição de sintomas, data do diagnóstico. c) Antecedentes pessoais: existência de: tabagismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus e existência de câncer na família e o tipo. Em mulheres: idade da menarca, número de gestações e partos. d) Procedimentos diagnósticos: Aspectos do tumor quanto ao tamanho, localização, sinais de invasão, metástase, outros a especificar. Descrição de exames, datas e resultados de hemograma, exame radiológico simples, ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética, biópsia, cintilografia, outro exame a especificar, estadiamento clínico, imunohistoquimico, biópsia de congelação, exame anátomo patológico da peça cirúrgica, classificação TNM da anatomia patológica 35 e) Procedimentos terapêuticos: data e tipo da cirurgia curativa, cirurgia paliativa, cirurgia reparadora, outra cirurgia a especificar. Procedimento Oncológico Clínico, período e tipo da quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, outro tipo de terapia a especificar. f) Evolução: existência de: complicações cirúrgicas, infecção hospitalar, óbito na internação por procedimento cirúrgico, outro a especificar. g) Situação dois anos após o diagnóstico: especificando data da recidiva ou metástase, se o paciente está vivo (com ou sem câncer), se morto (por câncer ou não). b) Prestadores Médicos (Anexo 2) Selecionaram-se os profissionais que prestaram atendimento aos pacientes selecionados com Câncer de Mama e Leucemias e Linfomas. O formulário para coleta de dados por entrevistas com médicos foi baseado no fluxo e na gestão do sistema de saúde privada. Levou-se em consideração o manejo esperado para essas afecções, procurando identificar as dificuldades em conseguir autorizações das operadoras, conforme o detalhamento a seguir: a) Identificação do entrevistado: nome, número do CRM, e-mail, idade, tempo de formado, especialidade, título de especialista, locais de trabalho. b) Informações gerais do relacionamento médico – operadoras: menção dos convênios pelos quais o consultório do médico é credenciado, se realiza procedimentos para a operadora, para quais operadoras e quais procedimentos. c) Macrofluxo do usuário: descrição pelo médico do fluxo mais freqüente em Câncer de mama e/ou Leucemias e Linfomas (investigação e/ ou condução clínica) para cada operadora com que trabalha e descrição das principais diferenças entre essas operadoras no que refere aos macrofluxos descritos. d) Acesso ao atendimento eletivo e urgência: rotinas estabelecidas para agendamento das consultas ambulatoriais e de emergência e se existem regras impostas pelas operadoras; se a operadora estabelece regras em relação à produtividade (número de consultas por determinado período). 36 e) Dificuldades recentes na urgência: nos últimos seis meses, caso tenha se defrontado com uma situação de urgência oncológica, se encontrou dificuldade para encaminhar o paciente para internação. f) Controle sobre solicitação de procedimentos diagnósticos e terapêuticos g) Continuidade do cuidado: procura caracterizar dificuldades de encaminhamento dos pacientes para quimioterapia, radioterapia, fisioterapia, psicologia, nutricionista ou outro profissional envolvido no processo terapêutico. Se o encaminhamento de pacientes para médicos de outras especialidades requer alguma autorização da operadora. h) Existência de programas de acompanhamento para grupos específicos/de risco (Exemplo acompanhamento pós cirúrgico - reabilitação). i) Conflitos envolvendo os vários atores do mercado: médico e paciente; médico e hospital; médico e operadora; paciente e operadora; hospital e operadora. Foram identificados e selecionados para serem entrevistados 8 médicos mastologistas e/ou oncologistas. O critério de escolha foi volume e diversidade de operadoras identificadas na análise dos prontuários. Todos foram contatados, mas além da dificuldade de agenda, cinco deles se recusaram a participar de entrevista. Foi possível realizar entrevistas com apenas três médicos mastologistas ou oncologistas. c) Operadoras (Anexo 3) O formulário para coleta de dados por entrevistas com gestores das operadoras foi elaborado para identificar o fluxo da atenção para oncologia, em especial para Câncer de Mama e/ou Leucemias e Linfomas, quais os mecanismos de gestão do sistema para esse grupo de pacientes e prestadores. Levou-se em consideração exame e tratamento específico e se inquiriu sobre o modo ou critério de autorização e o tempo de resposta das operadoras perante as solicitações dos prestadores. a) Identificação da operadora: nome, cidade, estado, classificação da operadora, nome do interlocutor, cargo do interlocutor, telefone, e-mail. b) Características gerais da operadora e de seu relacionamento com o usuário: existência de sistema de informação e sua descrição; existência de mecanismos de comunicação entre a operadora e o beneficiário e sua descrição. 37 c) Regras de acesso e de utilização para gerenciar procedimentos diagnósticos e terapêuticos em oncologia: referenciamento (critérios para referenciar os beneficiários para os prestadores em Oncologia); instrumentos utilizados pela operadora para informar como os beneficiários devem proceder nos atendimentos de consultas, realização de exames, internações e urgência/ emergência; regras para acesso do beneficiário à autorização para realização de realização do exame laboratorial de análises clínicas específica, radiológico específico, ultrassonográfico específico (por ex: biópsia de próstata guiado por USG), de tomografia computadorizada, ressonância magnética, endoscopia, cirurgia paliativa ou curativa, cirurgia reparadora (por ex. colocação de prótese de mama, fechamento de colostomia), de quimioterapia e radioterapia; regras em situações de urgência e emergência oncológica. d) Programas de gestão assistencial: existência e organização, na operadora, de programas de acompanhamento de grupos de doença oncológica (case management); protocolos clínicos para orientar ou definir conduta clinica, tipo e número de procedimentos, fluxo ou referenciamento do beneficiário, outro a especificar. e) Divergências com prestadores: descrição de divergências (médicas, administrativas e/ ou financeiras) entre a operadora e os serviços de saúde, em relação aos procedimentos realizados; descrição de divergências (médicas, administrativas e/ ou financeiras) entre a operadora e os médicos, em relação aos procedimentos realizados; premiação por baixa utilização (médicos e pacientes). f) Modelo de gerenciamento do cuidado: existência de mecanismo de identificação e controle do beneficiário atendido em serviços de emergência cardiológica, visando ao seu acompanhamento futuro; acompanhamento para grupos especiais visando práticas de promoção/ prevenção à saúde em para determinados grupos de maior risco; outros benefícios oferecidos pela operadora além da cobertura mínima obrigatória pela Lei 9656; programa de benefício farmacêutico. g) Política da operadora para regular a qualidade dos serviços prestados: promoção da saúde; junto aos médicos que solicitam mais exames que a média, novos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. 38 d) Pacientes (Anexo 4) Os formulários para coleta de dados por entrevistas com pacientes foram baseados no itinerário terapêutico tradicional. Procurou-se saber se o paciente teve dificuldade em ter autorizado e realizado o exame ou tratamento para a sua doença específica. a) Identificação do paciente/familiar: nome, idade, sexo, operadora, tipo de plano, data de início da cobertura, serviço de saúde, quem respondeu a pesquisa e seu grau de parentesco. b) Procedimentos diagnósticos: data de início dos sintomas, tipo de sintomas, data do diagnóstico. c) Antecedentes pessoais: presença de tabagismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, antecedente de câncer na família. d) Fluxo de atendimento e seguimento: motivo de procura, se trocou de médico e por que; avaliação do atendimento prestado pela operadora. e) Atuação dos profissionais: responsável(is) pelo cuidado; quem cuida atualmente e como cuida. f) Avaliação dos atendimentos realizados: pontos positivos, problemas de acesso, segurança técnica. Satisfação com o atendimento dado pela operadora e presença de problemas para realizar algum procedimento solicitado, qual problema e em qual procedimento. 39 Resultados Análise dos Prontuários de pacientes com diagnóstico de Câncer de Mama e Leucemis e Linfomas Foram pesquisados prontuários do Hospital Sírio Libanês, Hospital Alvorada, Hospital Santa Catarina, Hospital São Camilo Pompéia, Hospital Paulistano e Hospital e Maternidade Brasil de Santo André. A lista de hospitais e dos prontuários foi elaborada a partir das bases de dados secundárias – Base de óbitos e CIH do Estado de São Paulo. O conhecimento dos diretores dos hospitais pelos profissionais do GV Saúde facilitou o acesso aos prontuários. Alguns hospitais submeteram a solicitação à apreciação da sua área jurídica, o que em geral dificultou o acesso, impondo demora para liberação dos prontuários para consulta. Em relação aos achados indiretos sobre a qualidade do conteúdo e dos registros dos prontuários, pode-se observar que: os prontuários foram solicitados, organizados por data de internação, sendo disponibilizada apenas a internação referida. O Hospital Sírio Libanês foi o único que apresentou para consulta todas as internações ocorridas do mesmo paciente até o dia da pesquisa, o que possibilitou identificar óbitos ocorridos após o diagnóstico e seguimento dos pacientes. Na maioria dos hospitais a organização do prontuário esteve adequada, em geral organizada por documento e data. Apenas em um hospital o prontuário pode ser considerado mal organizado. Todos os hospitais pesquisados adotam formulários padrão para cada documento exigido do prontuário, por ex: folha de admissão, prescrição, evolução, solicitação de exames, descrição de cirurgia. Esses documentos são freqüentemente diferenciados por setor (Unidades de Terapia Intensiva (UTI)) e por profissional (médico, enfermeiro, fisioterapeuta). Os setores que apresentavam prescrição e evolução realizadas no computador tinham maior legibilidade, facilitando a leitura e obtenção de dados relevantes. Em geral, isto ocorreu nas UTIs de alguns hospitais. Muitos prontuários continham apenas a história das complicações do momento ou o relato do procedimento que motivou a internação em estudo, o que não permitiu uma visão completa do itinerário terapêutico do paciente. Em alguns prontuários foi possível verificar que o paciente trocou de médico, de operadora e ou de hospital, mas raramente o motivo desta ocorrência estava descrito. Muitas vezes não foi encontrado o relatório dos exames solicitados, trazidos pelo paciente ou entregues a ele, nem a transcrição destes no prontuário. Com relação aos hábitos e fatores de risco 40 envolvidos na doença do paciente, raramente foram descritos pelos médicos. Na maioria dos hospitais, este dado estava registrado na entrevista da enfermagem, mas pelo tipo de anotação restou a dúvida quanto a se, na ausência do registro, tinha sido ou não perguntado ao paciente. Nos 331 prontuários analisados, a idade média dos pacientes observada foi de 53 anos. A distribuição dos casos segundo diagnóstico está apresentada na tabela 10. Foram estudados 264 casos de Câncer de Mama, 37 prontuários de pacientes com Linfoma não Hodgkin e 29 com Leucemia linfóide. Entre os prontuários analisados 40% são de pacientes cobertos por seguradoras, 25% por medicina de grupo, 18% particulares, 11% auto-gestão e 7% cooperativas conforme demonstrado na tabela 11. Tabela 10 - Distribuição dos prontuários de neoplasia segundo principal e sexo - dez 2003 a jun 2005 SEXO Descrição diagnóstico principal Feminino Masculino Neoplasia maligna da mama 260 4 Linfoma não-Hodgkin 12 25 Leucemia linfóide 12 17 Neoplasia maligna secundária dos órgãos respiratórios e digestivos 1 Total geral 285 46 diagnóstico Total Nº 264 37 29 geral % 79,8 11,2 8,8 1 331 0,3 100,0 Tabela 11 - Distribuição dos prontuários analisados segundo tipo de operadora e período de atendimento do paciente ANO SAIDA Tipo de Operadora dez/03 Seguradora 3 Medicina de grupo 3 Particular 1 Autogestão 1 Cooperativas 2 Total geral 10 Total geral 2004 1º sem 2005 nº % 79 58 37 25 13 212 50 20 23 9 7 109 132 81 61 35 22 331 39,9 24,5 18,4 10,6 6,6 100,0 A composição etária dos pacientes selecionados foi diferente entre as operadoras, como pode ser visto no gráfico 1 abaixo. Os casos cobertos por seguradoras, medicinas de grupo e particulares estiveram concentrados na faixa de 45 a 59 anos. Vale ressaltar que na medicina de grupo a faixa de 30 a 44 anos contribui com 41 parcela significativa de casos. Considerando que nessa amostra predominam os casos de câncer de mama, esses dados apontam para a necessidade de aprimoramento na prevenção secundária dos casos de câncer de mama. 60 Gráfico 1 - Distribuição dos casos com prontuários analisados com diagnóstico de Câncer de mama e leucemias e linfomas segundo faixa etária e tipo de operadora - dez 2003 a jun 2005 < 15 anos 15 a 29 anos 50 30 a 44 anos Número de casos 45 a 59 anos 40 60 a 74 anos > ou = 75 anos 30 20 10 0 Seguradora Medicina de grupo Particular Autogestão Cooperativas Tipo de operadora Em relação ao tempo de permanência, os casos de câncer de mama apresentaram média de 4,7 dias, com desvio padrão de 11,1 dias, evidenciando portanto grande variabilidade. Entre as operadoras, as que demonstraram maior média de dias de permanência, nesses casos, foram as seguradoras, seguidas do particular (out of pocket), como pode ser visto na tabela abaixo. Tabela 12 - Distribuição dos casos e da média e desvio padrão dos dias de permanência de Câncer de mama segundo tipo de operadora - dez 2003 a jun 2005 Tipo de Operadora Seguradora Medicina de grupo Autogestão Cooperativas Particular Total Prontuários 108 56 61 20 19 264 Média dos dias de permanência Desvio padrão dos dias de permanência 5,8 3,1 2,9 3,3 5,1 4,7 15,8 3,9 3,8 4,5 8,4 11,1 Para os casos de Leucemia linfóide, o tempo de permanência médio foi bem maior, de 12,7 dias com desvio-padrão de 21,6 dias. No casos de Linfoma, média de 7,1 dias e variação de 8,9. 42 Os casos de câncer do sistema linfático e hematopoiético consumiram muitos dias de permanência, o que deve estar relacionado com altos custos hospitalares. Mesmo para os casos de câncer de mama, o tempo de permanência de 5 dias é alto considerando o fato de em geral as internações se deverem a procedimentos cirúrgicos eletivos, para os quais preconiza-se 3 a 4 dias no máximo de permanência hospitalar. Outro aspecto a ser analisado é a grande variabilidade observada, o que evidencia falta de padronização nos processos assistenciais. Tabela 13 - Distribuição dos casos e da média e desvio padrão dos dias de permanência de Leucemias segundo tipo de operadora - dez 2003 a jun 2005 Tipo de Operadora Seguradora Medicina de grupo Autogestão Cooperativas Total Prontuários 10 9 9 1 29 Média dos dias de permanência Desvio padrão dos dias de permanência 17,1 15,6 6,3 32,9 15,9 5,1 - - 12,7 21,6 Tabela 14 - Distribuição dos casos e da média e desvio padrão dos dias de permanência de Linfomas segundo tipo de operadora - dez 2003 a jun 2005 Tipo de Operadora Seguradora Medicina de grupo Autogestão Cooperativas Total Prontuários 14 16 6 2 38 Média dos dias de permanência Desvio padrão dos dias de permanência 11,4 5,0 4,7 1,5 7,1 10,9 7,3 7,0 0,7 8,9 Do ponto de vista da assistência (tabela 15) pode-se detectar que, dos 331 pacientes estudados, foi possível identificar informação sobre quadro clínico inicial em 17% dos casos. Além de rara a informação sobre a indicação da internação, constatou-se que dados sobre menarca, número de gestações (59 casos), paridade (63 casos) e amamentação são eventuais. A data dos sintomas esteve registrada em 40 casos e a data do diagnóstico em 28. A informação de tabagismo está presente em apenas 47% dos casos, sendo de 15% a prevalência de tabagismo nesse grupo de pacientes para os quais há registro de que se perguntou a respeito. Em relação ao registro de comorbidades, só foi possível recuperar informação de hipertensão em aproximadamente 54% dos casos e de diabetes 43 em 48% dos prontuários analisados. O achado de pior qualidade na história clínica foi o registro de história de câncer na família, identificado em apenas 9% dos prontuários. Nos casos de câncer, a história clínica com registro muito pobre e não conforme com as exigências de boas práticas clínicas denota desvalorização por parte dos profissionais e dos prestadores a respeito da qualidade do registro clínico. Quanto aos procedimentos diagnósticos, aquilo que está considerado como não realizado pode ser decorrente de falha nos registros clínicos ou na forma de armazenamento dos exames, especialmente nos caso dos laudos de biópsias (anátomopatológicos). As amostras podem ser analisadas em vários laboratórios e não existe de forma padronizada exigência de armazenamento dentro do prontuário do laudo. Muitas vezes não foi encontrado o relatório dos exames solicitados, trazidos ou entregues ao paciente, nem a transcrição destes pelos médicos ou enfermagem no prontuário. Foi possível recuperar a localização do tumor em 71% dos casos, porém só em 36 casos pôde ser recuperada a descrição do tamanho do tumor. Nos casos de leucemias e linfomas seria esperada a presença do resultado do hemograma, o que foi observado em 15% dos prontuários. Nos 264 casos de câncer de mama, a análise imunohistoquimica, considerada essencial para a definição do esquema de tratamento, foi observada em apenas nos 14% dos registros analisados. O registro do estadiamento só foi localizado em 1 caso. A inadequação dos registros reflete a falta de compromisso com o acompanhamento do caso nos hospitais e na rede de serviços. O paciente, como é seguido em vários serviços, poderá ter as informações registradas mais precisamente no prontuário do consultório do seu médico, se existir esta possibilidade, mas não está disponível para o restante da equipe assistencial. Nos procedimentos terapêuticos ressalta-se que entre os 264 casos de câncer de mama, 236 (89%) foram submetidos a procedimentos cirúrgicos de caráter curativo. Na tabela 16 está apresentada a distribuição dos procedimentos cirúrgicos segundo tipo de procedimento realizado. 51% dos casos foram submetidos a Mastectomia com linfadenectomia e 42% a cirurgias conservadoras. Foi registrada biopsia de congelação em 18% dos casos e laudo de anátomo-patológico de peça cirúrgica em 33% dos prontuários. Vale ressaltar que o baixo índice de registro desse tipo de procedimento pode ser decorrente da participação de serviços de terceiros na realização desses exames para os prestadores hospitalares e a falta de obrigação de armazenamento dos resultados nos prontuários. 44 A cirurgia reparadora – reconstrução mamária só foi realizada em 35% dos casos, em geral logo após a mastectomia, isto é no mesmo dia cirúrgico. Esse achado reforça a identificação de fragmentação na assistência e inadequação em relação a boas práticas, tendo como base as diretrizes clínicas que preconizam as cirurgias curativa e reparadora no mesmo tempo cirúrgico, em especial considerando que 51% dos casos foi submetida a mastectomia. A quimioterapia foi utilizada em 42% dos casos. Desses, apenas em 77 dos casos foi possível recuperar o esquema de tratamento proposto. A radioterapia foi realizada em 19% dos casos. O registro de complicações foi recuperado em 92% dos casos que sofreram procedimentos cirúrgicos (236), sendo que 4% tiveram complicações desta natureza. Em 82% dos casos havia registros que permitiram identificar 6% de casos com infecção hospitalar. A maioria dos pacientes teve alta, porém 32 casos foram a óbito (12 em internações posteriores ao diagnóstico), correspondendo a 10% de letalidade na casuística estudada (tabela 15). 45 Tabela 15 - Distribuição dos prontuários de Câncer de Mama, Leucemias e Linfomas segundo variáveis selecionadas - dez 2003 a jun 2005 264 prontuários de Câncer de Mama e 67 Leucemias e Linfomas Achado de mamografia Nódulo ou tumor na mama Sintomas Outros sintomas Sem registro no protnuário Tabagismo Sim Não Sem registro no protnuário Hipertensão Sim Não Sem registro no protnuário Diabetes Sim Não Sem registro no protnuário Histórico familiar de câncer Sim Não Sem registro no protnuário Sim Não Sim Localização Não Sim Hemograma Não Sim Imunohistoquimica Não Sim Cirurgia Curativa Não Sim Realizaçao de Biopsia de Não congelação Anatomo Patológico de peça Sim Não cirúrgica Sim Cirurgia Reparadora - Plástica Não Sim Quimioterapia Não Sim Radioterapia Não Sim Complicações cirúrgicas Não Sem registro no protnuário Tamanho do Tumor Infecção hospitalar Sim Não Sem registro no protnuário Evolução Óbito Alta Transferências Total % 8 2,4 19 5,7 30 9,1 228 68,9 51 15,4 104 31,4 176 53,2 65 19,6 112 33,8 154 46,5 23 6,9 135 40,8 173 52,3 24 7,3 5 1,5 302 91,2 36 13,6 228 86,4 234 70,7 97 29,3 10 14,9 57 85,1 38 14,4 226 85,6 236 89,4 28 10,6 42 17,8 194 82,2 77 32,6 159 67,4 91 34,5 173 65,5 140 42,3 191 57,7 63 19,0 268 81,0 9 3,8 209 88,6 18 7,6 19 5,7 273 82,5 39 11,8 32 9,7 298 90,0 1 0,3 nº 46 Tabela 16 - Distribuição dos prontuários de Câncer de Mama segundo tipo de procedimento cirúrgico - dez 2003 a jun 2005 Descrição procedimento cirurgia de mama Mastectomia + Linfonodos com ou sem reconstrução no mesmo tempo (Adenomastectomia bilateral + gânglio sentinela ou Mastectomia radical ou Mastectomia Pattey ou Mastectomia e esvaziamento gangionar) Quadrantectomia / Ressecção Segmentar / Setorectomia com ou sem linfadenectomia Exerese de tumor Outros procedimentos Total Nº % 120 50,8 100 8 8 236 42,4 3,4 3,4 100,0 Análise das entrevistas com os médicos mastologistas e oncologistas Foram entrevistados três (03) médicos oncologistas com formação em: - mastologia - oncologia e imunologia - cirurgia torácica e endoscopia respiratória O tempo de formado variou de 15 a 25 anos, e todos tinham títulos de especialista. Quanto maior o tempo de formado há uma maior seleção nos convênios pelos quais são credenciados. Existe tentativa de maior independência em relação aos convênios, mas que parece difícil. Mesmo assim, mantêm no consultório convênios com diversas operadoras para seus assistentes atenderem. Em um consultório foi feita opção de suspender atendimento para pacientes cuja assistência era remunerada por operadoras há um ano. O profissional considera que financeiramente é mais interessante, pois percebeu que os médicos que não atendem convênio recebem mais pelo valor do reembolso do que o médico conveniado. Ainda faz desconto para os pacientes que têm qualquer tipo de convênio, cobrando metade do valor da consulta. Apesar da decisão, percebe-se estreita relação econômica, frente ao depoimento de que houve queda no numero de atendimentos. Operadoras disponíveis nos consultórios: - Omint, Lincxs, Notredame, Classes Laboriosas; - Sul América, Bradesco (planos individuais antigos), Porto Seguro, Marítima, AGF, Unibanco, Internacional (dinamarquesa), Hospitaú; 47 - Unimed Paulistana, Unimed Central Nacional, Unimed Fortaleza; - Cabesp, Cesp, Metrus, Vale do Rio Doce, Afresp, Cet, Petrobras, Associação Nove de Julho, São Luiz; - Green Line, Golden Cross, Mediservice, Careplus, Hospital Adventista. Todos parecem ter uma relação medico paciente muito “humanizada”. Referem se preocupar com a qualidade de vida do paciente, com as dificuldades com acesso e com a agilidade e qualidade do tratamento. Não sentem cerceamento por parte das operadoras em relação ao atendimento de consultas. Em geral, podem agendar a quantidade que quiserem, nos horários de atendimento mais convenientes. Já sabem quais exames e procedimentos necessitam de relatórios, então já os providenciam com antecedência para não atrasar o tratamento. Em geral, queixam-se da demora na autorização para realização de exames de mais alto custo, como ressonância magnética ou PET CT. Referem que algumas operadoras (Cassi) não autorizam sistematicamente a realização de alguns exames como Ressonância Magnética de Mamas para estadiamento loco-regional, para doenças nem com relatório médico. Um dos médicos já formalizou solicitação à ANS para incluir a ressonância entre os procedimentos autorizados, mas ainda não houve resposta. Nos casos de repetição de exames sempre há questionamento e discussão por parte da Green Line e da Cassi. Um médico considera a Cassi como particularmente exigente neste quesito. Informam orientar os pacientes a brigarem por seus direitos. Um dos profissionais indica uma advogada especializada em ações de usuários contra operadoras para auxiliar os pacientes. Em geral há muita perda de tempo para realização de exames diagnóstico via ambulatorial, então os médicos optam por internar os pacientes nos casos mais graves para agilizar o diagnóstico, por exemplo, nos pacientes da Sul América. Na internação sem interferência do convênio, em geral, diminui para 1/3 o tempo em conseguir o realizar o diagnóstico. Há unanimidade quanto ao fato que a Omint e a Lincxs são duas operadoras que não oferecem problemas. As auto-gestões também não apresentam grandes problemas, porque se preocupam com seus associados que fazem parte de populações fechadas. Para todos os convênios há necessidade de se realizar relatório para qualquer exame de custo mais elevado. Alguns convênios solicitam anexar exames laboratoriais ou de anátomo-patologico para justificar realização de algum procedimento, como 48 colocação de portocath ou internação para transfusão de algum imunocomponente ou hemocomponente. Cirurgias precisam também do mesmo processo. Algumas operadoras menores como a Green Line chegam a fazer o paciente passar por um medico auditor para avaliar os exames e o paciente para verificar a indicação cirúrgica. Em alguns casos, além de realizar relatório por escrito e anexar exames, há necessidade de discussão do caso com o auditor médico. Por vezes, houve queixas de que o auditor não é um especialista no assunto e precisa de uma série de explicações extras e tem dificuldade em ser convencido. Após tudo isso, é necessário aguardar a resposta da autorização para efetuar o procedimento. No caso de implantação de portocath pela Cassi é necessário realizar o pedido com 7 dias de antecedência. Nos casos de pacientes mais graves, optam por recorrer à colaboração de conhecimentos internos em hospitais mais conhecidos para burlar a burocracia e agilizar o procedimento. Fazem baseados em relações informais, pois há o risco do convênio glosar o procedimento. Existem muitas reclamações com os códigos AMB que não contemplam diversos procedimentos ou tratamentos quimioterápicos ou imunoterápicos. Quando não estão no código, dificilmente há perspectiva do convênio autorizar. Quando estão, mas a ANS não autorizou, também existem dificuldades. É um meio de que se cerca o convênio para evitar pagamentos de alto custo. Parece que sempre ocorrem as divergências entre o que foi feito e o que a operadora quer pagar. Ou o convênio não aceita o que foi relatado na descrição da cirurgia e quer pagar apenas uma parte, ou diz que o que foi feito está tudo incluído em código diferente (pagamento menor) ou diz que o procedimento a ser realizado não é o que o médico está alegando e pretende pagar a menor. Nos casos de realização de cirurgia curativa ou paliativa é necessário pedido para autorização utilizando relatório simples. Omint e Lincxs não demoram para autorizar. As outras pedem relatórios detalhados e depois novos relatórios e muitas vezes há necessidade de se reagendar a cirurgia. No caso dos tratamentos quimioterápicos e imunoterápicos realizados nas clinicas a dificuldade maior é para autorização desses procedimentos principalmente nos casos em que o paciente possui algum tipo de câncer mais agressivo ou mais raro, para o qual não existem estudos mais detalhados. Demoram muito para autorizar ou simplesmente não autorizam. Em geral, a maioria das operadoras possui protocolos de tratamento quimioterápico, sendo que a maioria com medicamentos genéricos. Para a 49 maioria dos pacientes em tratamento, este tipo de quimioterapia é adequado, porém naquela faixa de pacientes mais graves e /ou raros, ele não é contemplado, sendo necessária perda de tempo e muitas vezes de vidas. Todos os tratamentos quimioterápicos precisam de relatório médico detalhado e de estudos de fase 3 detalhados, randomizados, correspondentes ao diagnóstico do paciente, anexados ao relatório. Só aceitam relatórios por escrito e não aceitam discussão com auditores verbalmente para justificar o procedimento. A Unimed Paulistana interfere sempre e prefere que ao pacientes sejam encaminhados para sua central de quimioterapia. Com a Unimed Central Nacional quase não ocorrem problemas porque o paciente vem de outro estado e tem maior força. Classes Laboriosas, Sul América e Unimed Paulistana só autorizam quimioterapia genérica. Segundo os médicos, não se importam com a qualidade e com os protocolos terapêuticos, mesmo baseados em evidencia. Algumas operadoras seguem protocolos em relação a quimioterapias em geral, quando o paciente tem algum tipo de tumor raro aparecem problemas, porque a quimioterapia é mais onerosa e os planos de saúde não autorizam. Em geral, quando as operadoras seguem os protocolos há melhores resultados. Também ocorrem problemas quando os pacientes estão em fase que ultrapassa as possibilidades terapêuticas existentes. Nenhum convênio autoriza quimioterápicos de ponta. Em 2007, a oncologia está muito avançada e modifica-se rapidamente. Existe grande quantidade de pacientes nestas condições. Não existem trabalhos (protocolos clínicos) de fase 3 nestes casos que tenham número suficiente para tal. Por exemplo, paciente com Sarcoma de Kaposi (Bradesco Saúde) precisa de quimioterapia (autorizado por convênio), mas o medicamento está em falta no mercado. O Bradesco não autoriza outro quimioterápico, mesmo existindo estudos comprovando sua eficácia, alegando custo elevado. Exceto a Unimed Paulistana, nenhum outro convênio limita a produção de procedimentos realizados. Não existem estímulos ao médico por se adequar às regras, normas, protocolos adotados pela operadora. A Sul América tem uma rede boa tanto para diagnóstico, como acesso e qualidade. Os problemas são os protocolos de quimioterapia, muito restritos, com grande redução da rede credenciada para tratamento. Sem grandes problemas com operadoras das antigas estatais (CESP, CABESP, etc), com as quais conseguem boa agilidade porque o interesse é o paciente. Classes Laboriosas, devido a sua situação atual, apresenta muitas limitações de recursos. Internacional, convênio da Dinamarca, não apresenta problemas. Quanto ao 50 Bradesco Saúde, só atende os planos antigos individuais que apresentam boa cobertura. Os planos novos (empresa) não têm interesse. Os médicos ainda falam de hospitais em que possuem vínculo em que há boa relação e, conseqüentemente, respaldo para uma série de procedimentos de urgência ou para agilizar liberações com anuência ou graças à atuação da diretoria destes hospitais. Enquanto alguns conseguem internação rápida, outros convênios interferem e dificultam esse processo, como a Unimed Fortaleza e as Classes Laboriosas. No primeiro caso um paciente precisou pagar para depois ser ressarcido. No segundo houve dificuldade em encontrar hospital de confiança do médico para internar o paciente, devido a redução de sua carteira de credenciados, hospitais e serviços. Nenhum convênio cobre o uso de medicamentos via oral. Não autorizam nem com o paciente internado. Para radioterapia há necessidade de autorização prévia, solicitada pelo profissional que irá realizar o tratamento. Radioterapia intra-operatória é muito difícil de conseguir. Quando há necessidade de se encaminhar para outro profissional médico é feito relatório explicando o caso. Não há necessidade de solicitação de autorização. Fisioterapia e fonoaudiologia precisam de relatório para autorização. Em geral só autorizam 10 sessões. Psicologia não está coberta por nenhum convênio. Já explica ao paciente que ele terá que pagar. Em geral, encaminha para profissionais e serviços que conhece e em quem confia. Nos casos em que o convênio é muito restrito, orienta o paciente a procurar o que está coberto para não ter ônus financeiro. Não existe percepção de acompanhamento do paciente por parte do convênio após a alta. Existe remanejamento do paciente para referências preferidas do convênio. Um dos médicos relata perda de 15 a 20% dos pacientes atendidos em regime de internação que não eram seus pacientes previamente. Em geral, os convênios não fazem acompanhamentos de grupos de patologias oncológicas para regular os serviços assistenciais. Parece que só a Omint possui um case management onde compara serviços e por vezes encaminha alguns casos, em geral mais graves e complicados, para um dos médicos. Houve uma crítica em relação às glosas. Em geral, não há limite estabelecido de produção, porém, muitas vezes ocorrem sobre a produção sem justificativa. Os médicos acreditam que pode ser pelo volume elevado de procedimentos, mas talvez não seja porque quando reapresentam a mesma conta no mês seguinte não há problemas. 51 A única operadora que tem programa próprio de acompanhamento de grupo especifico de pacientes é a Unimed Paulistana, que tem programa anti-tabagismo. Em relação aos conflitos envolvendo operadoras de planos de saúde, relatam os seguintes aspectos: Médico-Paciente – Reembolso. Paciente vem encaminhado por médico que o atendeu pelo convênio. O paciente tem medo de ter que arcar com os custos da internação, uma vez que o médico não é credenciado. Precisa explicar sempre para não perder o paciente. A Sul América paga reembolso maior a quem não é credenciado. O convenio cria conflito entre o paciente e o médico em relação ao procedimento (2ª opinião) e faz o paciente perder a confiança no medico. Falta relação de confiança entre médico, paciente e convênio. Por problema de sinistralidade (convênio quer gastar o mínimo com o paciente) e por saber o que vai ocorrer, o médico opta por tentar minimizar os problemas com o paciente. A relação sempre é tensa, pois tenta viabilizar o tratamento. Precisa realizar relatórios em 50% do tempo, mas o faz para garantir o reembolso. Médico-Hospital – Burocracia do tempo de autorização prévia para os procedimentos. Precisa de muitos relatórios. Hospital fez convênio com a Sul América em que o segundo médico vai receber apenas metade do honorário. Não foi consultado o médico sobre esta negociação. O hospital lida mal com o corpo clinico. O hospital é pressionado pelas seguradoras e acha que os médicos muitas vezes são indisciplinados. Médico-Operadora – Glosas de reembolso de procedimentos e cirurgias. Existe situação de dependência. Seria necessário maior cumplicidade, que não existe. As operadoras não vêem a qualidade. A relação exige credibilidade, mas é lábil, instável pela dependência. Há muitos procedimentos novos e a tabela AMB está desatualizada. Por exemplo, para mastologia os valores são muito baixos. Das dificuldades com autorização dos convênios, aquelas relacionadas à plástica são as piores, sendo questionados os tipos de prótese, ou de fios. Paciente-Operadora – Burocracia em tempo de aprovação de procedimentos e exames. Medicações orais (quimioterápicos) que não cobertos pelo plano. Alguns exames deveriam ser realizados e não costumam ser autorizados (ex: PET-CT e RNM de 52 mama). Também há restrição para as internações, principalmente quando o caso fica mais grave e o paciente começa a gastar mais. O perfil do plano do paciente pode resultar em problemas para internar. Em alguns hospitais não há problemas, outros, porém têm muitos planos, nos quais os procedimentos são realizados com diferenças. Hospital-Operadora – Materiais especiais, em relação ao preço (grampeador, suturas, cateter). Quando os pacientes descobrem, reclamam: “Vou ter que esperar eles negociarem o preço enquanto minha doença piora?” Há pressões pelo descredenciamento fácil, pelos preços praticados, por meio dos médicos. Falta mais parceria. Apesar da grande quantidade de recusa dos médicos, aqueles que foram entrevistados receberam bem os pesquisadores, embora o projeto fosse visto com certa desconfiança ou com falta de seriedade. Os profissionais foram sinceros nas respostas, às vezes com detalhes. Todos receberam os entrevistadores no próprio consultório, apesar de terem a opção de outros locais. A impressão nas entrevistas foi de que querem garantir boa assistência, estão preocupados em minimizar o sofrimento dos pacientes e buscam auxiliá-los para encurtar o tempo de diagnóstico e de tratamento. No momento final da entrevista foi solicitado que falassem livremente sobre sua visão a respeito das perspectivas do setor. Alguns têm uma visão pessimista sobre o futuro, mas apresentam propostas de programas alternativos e de possibilidades de remuneração diferente da existente em 2007. Outros consideram que apenas a prática liberal permite alguma qualidade na assistência. Administrativamente acham que os convênios têm razão em cercar os gastos e que consideram que a classe médica está muito desunida. O ideal seriam os protocolos bem montados. Por exemplo, se determinado procedimento gasta R$10.000,00 então é possível avaliar quem está conseguindo manter o padrão e quem está fora. Caberia, então, premiar aqueles que conseguem manter-se no padrão. Quando o gasto ultrapassa o combinado seria adequado chamar as 3 partes e negociar para arcar com as despesas (hospital, operadora e medico). Dão preferência a situações em que se sentem em casa. Preferem liberar o paciente a atender em local onde não se sente bem. Precisam de infra-estrutura técnica adequada, calor humano, boa vontade, boa relação médico-paciente. Não gostam de arrogância no relacionamento. Seria bom se ANS tivesse mais em conta a visão do consumidor. A ANS precisaria aceitar mais rapidamente as tabelas da AMB, caso 53 contrário os convênios continuarão a não aceitam determinados procedimentos ou tratamentos. Como é importante ter mais qualidade nos planos, eles precisam ter maiores ganhos para isso. A ANS precisa restringir os aumentos abusivos. Ela precisa regular os planos básicos para garanti algumas coberturas básicas que poderiam resolver o problema do paciente no inicio e evitar pioras e chama a atenção os médicos tivessem preocupação com o acompanhamento pós alta dos pacientes. Um dos entrevistados faz parte da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos. Considera que as operadoras deveriam acompanhar mais de perto este tipo de atividade. Tem discutido com alguns convênios a introdução de programa de antitabagismo (Unimed Paulistana, Classes Laboriosas, Omint e Sul América). Refere que eles têm sido bem receptivos. Entrevistas com familiares e pacientes Durante 1 mês, 2 profissionais da área da saúde, previamente treinados, contataram os pacientes/familiares selecionados a partir da amostra de prontuários analisados para realização de entrevista mediante aplicação do formulário. Foram excluídos 25% dos números de telefone obtidos, referentes a números de telefones comerciais, número errado ou que não atenderam após duas tentativas, das quais uma em horário noturno. Antes de qualquer outro procedimento, os entrevistadores se apresentaram e informaram os objetivos da pesquisa. Foram entrevistados os pacientes que concordaram em participar. Os dados foram coletados em formulários padronizados, codificados, digitados, revisados e analisados. Foi difícil contatar as pessoas, muitas recusaram a entrevista e aqueles que aceitaram não se dispuseram a realizá-la pessoalmente, apenas por telefone. As questões abrangiam antecedentes pessoais e familiares sobre as afecções selecionadas, orientações, práticas e oportunidades de diagnóstico precoce, além do tratamento imediato. 54 Tabela 17 – Entrevistas pacientes ATENDIMENTO Total % sem descrição 20 20,9 não atende 32 35,5 telefone errado 14 16,4 não quis responder 9 10,9 respondeu por telefone 14 16,4 Total 89 100,0 1) A paciente relata que palpou o TU durante o banho em 01/09/2004 e o diagnóstico foi feito 10 dias depois. Nega tabagismo, HA e diabetes. Nega histórico familiar de CA. Faz acompanhamento anual com o mesmo médico. Avalia o tratamento como bom e está satisfeita com a operadora. 2) A paciente relata que o diagnóstico ocorreu 1 ano antes da cirurgia, em exame ginecológico de rotina. O médico percebeu o TU palpável e encaminhou ao mastologista. É fumante, não diabética, mas adquiriu Hipertensão. Não existe histórico de outros CA na família. Ela faz acompanhamento médico semestral que avalia como ótimo e “humano”. Ela diz não ter tido qualquer problema com a operadora e está satisfeita. 3) A paciente relata que o TU estava assintomático no momento do diagnóstico. Foi descoberto em exame de mamografia de rotina pelo ginecologista, que a encaminhou ao mastologista. A paciente nega tabagismo, HA ou diabetes. Existe histórico familiar de outros tipos de câncer diferentes de mama (útero). A paciente relata estar satisfeita com o atendimento da operadora, que cobriu a 1ª cirurgia em Limeira. O TU recidivou e ela procurou tratamento em Campinas. Relata que os médicos não sabiam resolver o caso, então veio a São Paulo, realizou a 2ª cirurgia em atendimento particular em hospital não coberto pela operadora. A paciente continua em tratamento de QT, coberto pela operadora, e está satisfeita com a operadora. 4) A paciente tinha plano de uma operadora que não cobriu o atendimento no hospital que procurou. Assim, realizou a cirurgia em atendimento particular e moveu ação contra 55 o Hospital, que ficou obrigado a prestar-lhe atendimento. A paciente relata que está muito satisfeita com o convênio, mas não gosta do hospital. 5) A paciente não lembra se teve sintomas, nem quando o diagnóstico foi feito, também não sabe se o TU era palpável. Diz que procurou o médico porque tinha câncer. Nega tabagismo, HA, diabetes e histórico familiar de CA. Não lembra do responsável pelo cuidado, mas atualmente está sendo atendida numa organização cujo atendimento avalia como maravilhoso. Relata não ter tido problemas com a operadora e está satisfeita. 6) A paciente relata que o TU estava assintomático no momento do diagnóstico, feito durante exames de rotina. O prosseguimento foi dado por outro médico. Avalia os atendimentos como muito bons. Não teve problemas com a operadora e se diz satisfeita. 7) A paciente relata ter notado nódulos na mama em 10/1994, e procurou o médico para exames diagnósticos (17/11/1994). Nega tabagismo, HA ou diabetes. Relata histórico familiar de CA (avó e prima). Faz acompanhamento com o mesmo médico e o considera muito bom. Teve problemas com a operadora, que não queria liberar o atendimento e a processou. Quando foi fazer a cirurgia reconstrutiva, a operadora também não liberou imediatamente. Não se sente satisfeita com a operadora. 8) A paciente relata que o TU estava assintomático no momento do diagnóstico, mas era palpável. Nega tabagismo, HA e diabetes. Nega histórico familiar de TU. Relata que o diagnóstico foi feito durante exame de rotina e que mudou de médico porque “ele era uma porcaria”. Achou o médico do seguimento ótimo e está contente. Quanto à operadora, está insatisfeita pois não cobre o tratamento pedido pelo dermatologista. 9) A nora da paciente diz que o TU estava assintomático no momento do diagnóstico e foi descoberto pelo ginecologista em exames de rotina. Paciente foi encaminhada ao mastologista. Relata que a paciente não era tabagista nem diabética, mas era hipertensa e tinha histórico de CA na família (pai em próstata e mãe em local desconhecido). Avaliou o atendimento médico como bom, rápido e capaz. Diz não ter tido nenhum problema com a operadora, e a avalia como ótima. 10) A paciente relata que o TU estava assintomático no momento do diagnóstico (12/2004), mas procurou o médico para biópsia. Nega tabagismo, HA ou diabetes, relata histórico familiar de CA (primas, tio e pai). Avalia a médica que acompanha o tratamento desde o início como muito boa. Diz não ter tido problemas com a operadora e está satisfeita. 11) A esposa do paciente respondeu ao questionário, pois o paciente estava em estado terminal sob cuidados de enfermeira que não podia responder. No inicio dos sintomas, 56 em 09/04, o paciente esquecia as coisas e parou de andar. Assim resolveram procurar o médico. Ela nega que o paciente seja tabagista, hipertenso ou diabético. Relata histórico familiar de CA (tio e tia). Realiza exames de rotina com o mesmo médico e considera o atendimento excelente. Relata que não tiveram problemas com a operadora e que estão satisfeitos. 12) A paciente relata ter percebido o TU e procurou o médico. Relata HA e diabetes, mas nega tabagismo. A tia apresentou mesmo TU. Faz acompanhamento semestral com o médico que fez o diagnóstico, considera o atendimento do médico e da operadora bom, sem intercorrências. 13) A paciente relata que o TU estava assintomático no momento do diagnóstico, realizado pelo ginecologista em exames de rotina. Este médico a encaminhou para o mastologista. A paciente relata HA, diabetes, porem não tabagista. A paciente avalia o atendimento médico como bom . A paciente relata que a operadora demorou para liberar os exames (agulhamento), mas após isso, o encaminhamento cirúrgico foi rápido. 14) Mãe da paciente relata que a criança apresentou sintomatologia de dores na virilha em 24/12/2004 e o diagnóstico veio em 30/12/2004. Não há histórico familiar de nenhum tipo de CA. A oncologista pediatra realiza o tratamento e acompanhamento até hoje, cobertos pela operadora. A mãe diz estar satisfeita tanto em relação à médica, quanto em relação à operadora. Entrevistas com as operadoras Foram entrevistados os dirigentes de quatro tipos de operadora: duas empresas de auto-gestão, uma cooperativa médica, uma medicina de grupo e uma seguradora. Em relação aos sistemas de informação as empresas trabalham com sistemas de informação fragmentados e limitados para responder as perguntas assistenciais, sendo necessária a complementação por intermédio de consolidação e análises manuais. Quanto aos mecanismos de comunicação com os usuários, a seguradora estudada é a operadora que possui mecanismos mais pobres, fazendo pesquisa de satisfação a cada 2 anos. Quanto à utilização dos serviços, as 5 operadoras entrevistas têm call center para autorização prévia para os procedimentos de maior custo/complexidade e liberação de senhas. Nenhuma tem estrutura montada para referenciamento de casos. Entre os exames listados, para o raio X se exige solicitação médica mas não autorização prévia. 57 Para a realização de tomografia, ressonância magnética, cintilografia, e para os procedimentos cirúrgicos curativo ou reparador, todas as operadoras exigem solicitação médica e autorização prévia. Para a medicina de grupo, a liberação dos procedimentos é baseada em protocolos e passível de auditoria. Em todas, a quimioterapia com novas drogas ou esquemas alternativos existem limitação e muita discussão para liberação. O beneficiário ainda tem grande poder na escolha do prestador. Entre os critérios de valorização para as operadoras estão o renome da instituição competência técnica e o custo envolvido. Em relação a programas de acompanhamento de grupos de pacientes, ou programas preventivos, todas referem realizar algum tipo de investimento para pacientes crônicos ou ainda não estarem estruturadas, afirmando que o programa será lançado em 2007. No entanto esse tipo de estratégia seria dirigido apenas para aqueles pacientes que apresentarem maior sinistralidade. Apenas uma das auto-gestões tem um modelo assistencial – médico de família - recentemente implantado, que tem o potencial de incorporar ações preventivas e determinar impacto no médio e longo prazos. As operadoras não referem ter protocolos de tratamento definidos mas identificam prestadores diferenciados onde consideram os esquemas de tratamento mais padronizados e que apresentam melhores resultados. 58 Comentários finais: achados, limitações e novas propostas de pesquisa É necessário esclarecer, a priori, que um dos pontos fortes da pesquisa foi a possibilidade de estudar o mesmo objeto utilizando diferentes olhares. A descrição dos métodos empregados evidenciou que se buscou obter a percepção das diferentes partes envolvidas a respeito do acesso a serviços de saúde. Ao mesmo tempo, cabe o relato de que os hospitais e as operadoras foram muito mais abertos ao processo de investigação que os médicos e os pacientes. É possível que o grau de conhecimento dos pesquisadores com diretores de hospitais e dirigentes de operadoras tenha facilitado o contato. No entanto, seria esperado que o mesmo tivesse ocorrido com os médicos. Os pesquisadores acreditam, após a realização da presente investigação, que a abordagem destes profissionais poderia ser feita de outra maneira, com mais sucesso, o que poderá ser testado em nova oportunidade. Quanto aos pacientes, investigações anteriores permitiam esperar a dificuldade de acesso encontrada. A prática de pesquisas telefônicas não é usual no país, onde o telemarketing e técnicas afins são malvistas, pelo menos nas classes sociais buscadas neste caso. A pesquisa de campo permitiu observar que os prontuários médicos são considerados propriedade e patrimônio dos hospitais, sendo difícil o acesso a eles. Por um lado isto mostra um cuidado louvável, sendo uma demonstração de qualidade a preocupação com um documento onde estão formalizados dados e informações acerca da vida e saúde dos pacientes, pelo menos segundo as entidades de avaliação externa, como as acreditadoras. No entanto, este cuidado não é refletido na qualidade dos prontuários, que está aquém daquilo que se pretenderia encontrar neste tipo de documento, de maneira geral. O preenchimento incompleto não permite visualizar, por exemplo, se a não adesão a protocolos é aparente (ou seja, os procedimentos referentes a eles não são realizados) ou real (não há reforço a este tipo de prática). Na comparação entre os achados na área de Cardiologia e na Oncologia, nesta última a qualidade dos registros clínicos é pior e a quantidade de informações disponíveis nos prontuários hospitalares é menor. No caso dos tumores sólidos, como o câncer de mama, o registro da história clinica na internação do procedimento cirúrgico e a dificuldade de se recuperar nos prontuários a continuidade da assistência apontam para necessidade de investimento na construção de sistemas de informação dirigidos para garantir o acompanhamento da linha assistencial. Isto é, sistemas – prontuário eletrônico 59 mínimo dos pacientes - que sejam alimentados pelos diversos serviços onde o paciente é seguido, permitindo troca de informações entre os diversos serviços de saúde e posterior monitoramento de linha assistencial. Quanto aos prestadores médicos, pode-se dizer que de maneira geral os entrevistados deste trabalho estão insatisfeitos com sua relação tanto com as operadoras quanto com os hospitais. Pode-se atribuir estes resultados a um viés da amostra, pois foram contatados para a realização de entrevistas profissionais de serviços que atendem pacientes de classes A e B. No entanto, as operadoras com as quais eles trabalham também atendem estas classes sociais e deveriam estar entre as que mais privilegiam os profissionais. Para os profissionais, os hospitais não estão preocupados em satisfazer os médicos, pelo contrário, buscam os melhores acordos com as operadoras e não se preocupam com quem lhes ocupa os leitos. Uma possibilidade de análise é que na verdade o médico está percebendo sua perda de espaço como aquele que leva o paciente para o hospital, visão comum até o início do século. A partir desse momento passou a ficar claro para os serviços financiados por meio da assistência médica supletiva que uma de suas fontes de pacientes são “os planos de saúde”. Assim, estes se tornam percebidos como os novos clientes preferenciais, o que não necessariamente é real, se for perguntado para os demais componentes da equipe de saúde. As operadoras também são consideradas como elementos que interferem na qualidade da assistência, colocando limites aos desejos dos pacientes (na verdade, dos médicos, que trabalham mais baseados naquilo que consideram como evidências, da sua própria prática profissional). Alguns dos médicos entrevistados valorizam a utilização de protocolos, mas especialmente em relação a novos medicamentos quimioterápicos, relatam dificuldades no diálogo com as operadoras – auditores – e não conseguem liberação de autorização para suportar tratamentos para pacientes que não respondem aos medicamentos tradicionais. As operadoras se protegem quando colocam restrições ao acesso utilizando recomendações de sociedades de especialistas, auditores especializados e critérios, que a rigor servem para controlar custos. Ao mesmo tempo, perdem a oportunidade de utilizar alguns dos mecanismos mais recomendados pela literatura internacional como controle de pacientes de risco por intermédio do case management (gerenciamento de casos) ou do disease management (gerenciamento de doenças). O senso comum acredita que os planos de saúde (principalmente as auto-gestões, que trabalham com uma população fechada e pensando no longo prazo) teriam o interesse e todos os incentivos para 60 trabalhar com sua clientela medidas que lhes melhorassem condições de vida e saúde, desde a empresa. No entanto, verifica-se que todas as operadoras entrevistadas pensam implantar algum sistema nesse sentido...no futuro próximo. O fato de seus sistemas de informação serem ainda incipientes reforça esta perspectiva, pois a definição dos pacientes de risco passa por conhecer a sinistralidade, as taxas de utilização, etc,. Medidas de controle para excesso de utilização de procedimentos são relatadas com muito mais freqüência que recompensas por baixo consumo (apresentada como proibida porém insinuada como real). Outro aspecto importante especialmente no caso do câncer de mama é a falta de políticas claras nas operadoras para rastreamento populacional. Mamografia nas faixas de 50 a 69 anos é o recomendado e utilizado em vários sistemas de serviços de saúde no mundo. Existem declarações de intenção e de planejamento nesta direção, mas até o momento não parece ser uma política implementada pelas operadoras. Mesmo em relação aos esquemas quimioterápicos e à indicação de radioterapia, muitas operadoras tem uma prática de gestão de cada caso isolado e não uma política baseada em diretrizes e protocolos clínicos discutidos com os principais prestadores médicos ou hospitalares. Especialmente em câncer, a organização e gestão de uma rede assistencial costuma garantir maior efetividade na assistência. Os pacientes ou seus familiares próximos, por sua vez, têm uma percepção incompleta do processo. Eles avaliam o atendimento segundo lhes parece adequado ou não, dificilmente conseguem relatar a que procedimentos foram submetidos. Conseguem separar médico de hospital e de operadora, mas sua visão do que compete a cada um varia de acordo com sua conveniência. De acordo com o estereótipo vigente, os pacientes tendem a supervalorizar o papel do médico. Quando ocorrem problemas, é mais fácil atribuí-los aos hospitais do que aos médicos. Os pacientes valorizaram muito os tempos decorridos entre diagnóstico e tratamento e, apesar de perceberem limitações, consideram-se satisfeitos com o atendimento. Além disso, o número restrito de pacientes não permite generalizar o achado de que nenhum deles referiu qualquer problema com as operadoras. Quando comparamos com as entrevistas obtidas na área de cardiologia, houve maior número de respostas de pacientes e/ou pessoas relacionadas e foi possível identificar de forma mais detalhada o caminho percorrido pelo paciente. Cabe a percepção de que quando se olhou, nas diferentes entrevistas, para conflitos teóricos ou potenciais entre os diferentes atores considerados, foram colocados mais problemas do que quando se discutia a prática individual de cada um. 61 Ainda há uma série de assuntos, de ordem pragmática, metodológica e teórica a resolver, que esta investigação ajudou a levantar. Em primeiro lugar, este estudo deve ser considerado como parcial, pois mostrou algumas dificuldades que precisam ser melhor circunstanciadas. Se a intenção for, de fato, identificar qualidade e gargalos na assistência em oncologia, no Câncer de mama mais especificamente, seria imprescindível ter um levantamento dos tempos percorridos entre o diagnóstico e o procedimento curativo, o que não se consegue obter de prontuários ou a partir de entrevistas. O desenho mais apropriado neste caso seria de um estudo prospectivo, no qual os centros colaboradores tivessem acordos com alguns hospitais no sentido de seguir pacientes que procurassem seus serviços com os diagnósticos selecionados e, a partir daí, os pacientes fossem identificados em função de qual a fonte pagadora para seu atendimento, seus exames e os demais procedimentos e insumos requeridos para seus casos e a forma de seguimento à qual eles fossem submetidos, ou seja, o caminho inverso do que foi trilhado no presente trabalho. O desenho deste, retrospectivo, seria complementado de maneira satisfatória com a nova visão da mesma realidade. Outro foco que se pode levantar é sobre a utilização de protocolos, se forem abordados os médicos cujos prontuários tiverem sido analisados. Faz parte das limitações pelas quais se optou o fato de que a realidade estudada se aproximou de uma visão elitizada da assistência médico-hospitalar. Diz a literatura atual que as soluções mais inovadoras estão sendo geradas nas operadoras que trabalham com população de menor poder aquisitivo. Esta hipótese pode ser testada, buscando outros hospitais e outras operadoras, e conseqüentemente outros médicos e outros pacientes. O mesmo pode ser dito de prestadores médicos, em relação aos quais, em vez de estudar os que mais se assemelham ao modelo de prática liberal, hegemônico até os anos 80, pode ser visto como desejável conversar com aqueles assalariados por medicinas de grupo ou por hospitais. O precário sistema de informações presente nas operadoras analisadas aponta para uma dificuldade de a Agência conseguir obter os indicadores de qualidade a que se propõe. De fato, verificou-se que as operadoras esperam do mercado, pelo menos neste primeiro semestre de 2007, a avaliação dos serviços, seja este mercado composto pelos clientes usuários ou pelos médicos. Como não existe uma valorização, nem por parte dos hospitais nem por parte desses “planos de saúde”, do prontuário como uma fonte de informações para a aferição dos serviços prestados, pode-se imaginar que o controle da 62 qualidade da assistência médico-hospitalar fornecida aos cidadãos brasileiros atendidos no âmbito da saúde suplementar ainda não ocorrerá no curto prazo. A discussão e a análise da qualidade da assistência médico-hospitalar e do acesso aos serviços no Brasil está longe de poder ser considerada explorada e/ou compreendida. Entre outros aspectos, ela deve ser percebida em constante mutação, por um sistema de saúde que ainda está em fase de experiência em seu desenho. Além disso, as realidades regionais são heterogêneas, desde em função de perfil de necessidade até relativas à oferta de serviços. A gestão desta situação tão diversificada precisa ser melhor informada, ou seja, quanto mais a ANS, as operadoras, os gestores de serviços e de sistemas (sejam eles o SUS ou o setor privado) souberem sobre o que acontece quando um cidadão adoece e procura o serviço, melhores serão as decisões tomadas e mais adequadas as condições para seu atendimento. 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMGE. Informe de Imprensa: dados e números da medicina de grupo. São Paulo, 2000 (mimeo). ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar. Duas faces da mesma moeda: microrregulacao e modelos assistenciais na saúde suplementar. Rio de Janeiro: Agência Nacional de Saúde Suplementar; 2005. 268 p. (Série A. Normas e manuais técnicos. Regulação e saúde, 4). ACIOLE, G. G.; 1º Relatório Parcial – Projeto P12: Uma Primeira Aproximação Do Campo De Investigação:Esboço de Proposta Metodológico-Instrumental Para A Pesquisa. Campinas: 2003 (mimeo). ALMEIDA, C.; Médicos e Assistência médica: Estado, mercado ou regulação? 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ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES Menarca:______ anos Tabagismo S [ ]N[ G____ P____ ] Hipertensão S [ História familiar de câncer S [ Não consta [ ]N[ Amamentação: S [ ]N[ ] ] N[ Diabetes S [ ] ]N[ ] ] Qual câncer: _______________________ ] D. ASPECTOS DO TUMOR Tamanho tumor Localização do tumor Sinais de invasão local Metástases Outros 67 Observações: _____________________________________________________________ _________________________________________________________________________ E. DESCRIÇÃO DE EXAMES - DIAGNÓSTICO Exames Data Resultados Hemograma (Leucemias) RX USG Tomografia / Ressonância Biópsia Tipo: _________________ Cintilografia Outros exames: __________________ Estadiamento clínico Imunohistoquímica Biópsia de congelação S[ ] N[ ] Anátomo-patológico da peça cirúrgica Classificação TNM T _____ N_____ M_____ (anatomia patologia) 68 F. PROCEDIMENTOS TERAPÊUTICOS Procedimento Cirúrgico Data Nome do procedimento Cirurgia Curativa Cirurgia Paliativa Cirurgia Repadora (Implante de prótese mamária, fechamento de colostomia, etc) Outro: Procedimentos Oncologia Clínica Quimioterapia Data de Início e N. º de Ciclos e Esquema Fim Início: Fim: Radioterapia Inicio: Fim: Hormonioterapia Início: Fim: Outro tratamento: Início: _______________________ Fim: G. EVOLUÇÃO G1 Complicações cirúrgicas S[ ] N[ ] G2 Infecção hospitalar S[ ] N[ ] G3 Óbito na internação do procedimento cirúrgico S [ ] G4 Óbito na internação do tratamento clínico S [ N[ ] N[ ] ] G5 Situação 2 anos após o diagnóstico: Data da última avaliação (primeira após 2 anos) Data: ___/___/____ Observações: _________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 69 G6 Recidiva S[ ] N[ ] Data: ____/___/_____ G7 Metástase S[ ] N[ ] Data: ____/___/_____ G8 Vivo [ ] livre de doença (sem evidência de câncer) [ ] com câncer [ ] sem outras informações G9 Morto [ ] por outras causas. Qual(is)?:_______________________________ [ ] por câncer [ ] sem evidência de câncer Nome do pesquisador: ________________________________________________________ Local: _____________________________________________________________________ Data: _________________________ 70 Anexo 2 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS - PRESTADORES MÉDICOS – Oncologia A. IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO Nome: Nº do CRM: E-mail: Idade: Tempo de formado (anos): Especialidade: Título de especialista: Sim [ ] Não [ ] Local (is) de trabalho: ___________________________________________________________ B. INFORMAÇÕES GERAIS DO RELACIONAMENTO MÉDICO - OPERADORAS B1. Mencione os convênios (operadoras) com os quais o senhor trabalha no consultório? B2 Realiza procedimentos para os convênios? Sim [ ] Não [ ] B3. Para quais operadoras? B4. Quais procedimentos? C. MACROFLUXO DO USUÁRIO C1. Descreva o macrofluxo mais freqüente dos usuários com Câncer ou suspeita de Câncer (investigação e/ou condução clínica) para cada operadora com que trabalha: relate o caso de uma paciente. Cooperativa Médica - Medicina de Grupo - Auto-Gestão - Seguradora Entrada (Pronto Socorro, Hospital, Consultório, Call center, encaminhamento da operadora) Processamento diagnóstico (Ex. Laboratoriais, Ex Imagem, Endoscopia, Biópsia) Processamento terapêutico (Cirurgia, Quimioterapia, Radioterapia, Paliativo) 71 C2. Descreva as principais diferenças entre essas operadoras no que refere aos macrofluxos descritos. (idéia de identificar a ênfase do entrevistado) D. ACESSO AO ATENDIMENTO ELETIVO/ URGÊNCIA D1. Como as consultas dos pacientes do plano são marcadas no seu consultório? ( ) Demanda espontânea ( ) Encaminhamento feito pela central de atendimento da operadora ( ) Encaminhamento feito por outro profissional ( ) Outra forma. Qual? ______________________________________________________ _________________________________________________________________________ D2. O senhor disponibiliza consultas médicas para casos agudos? Sim [ ] Não [ ] Em caso afirmativo: ( ) As consultas são disponibilizadas durante todo o horário de funcionamento do consultório sem necessidade de agendamento ( ) As consultas são disponibilizadas durante todo o horário de funcionamento do consultório mas necessitam de agendamento prévio D3. Quais serviços são ofertados para apoio ao atendimento ambulatorial/consultório? ( ) Interconsultas ( ) Serviços de Apoio Diagnóstico e Terapia ( ) Cirurgia Ambulatorial ( ) Hospital-Dia ( ) Emergência ( ) Outro Especificar ______________________________________________________ D4. Nos casos de encaminhamento feito pela prestadora, o sr. conhece os critérios utilizados para esse direcionamento? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ D5. O plano estabelece regras para agendamento (reserva de horários para pacientes do plano, tempo de espera para agendamento de consulta, etc) de seus pacientes? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Contratualmente ( ) Não Contratualmente ( ) D6. O plano estabelece regras em relação à produtividade (número de consultas por determinado período)? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 72 Contratualmente ( ) Não Contratualmente ( ) D7. Nos últimos seis meses, caso tenha se defrontado com uma situação de urgência oncológica: ( ) Conseguiu internar o paciente com rapidez, encaminhando-o diretamente para algum hospital do convênio. ( ) Encontrou dificuldades para encaminhar o paciente para internação Especifique: ________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ E. CONTROLE SOBRE SOLICITAÇÃO PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS E TERAPÊUTICOS E1. A sua prática clinica dentro das operadoras é regulada por algum mecanismo de controle? Sim [ ] Não [ ] E2. Descreva os mecanismos de controle caso existam ______________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ E3. A operadora utiliza protocolos ou normas técnicas para regular procedimentos: Sim [ ] Não [ ] E4. Se a resposta for afirmativa, qual a sua avaliação sobre as regras preconizadas? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ E5. Há limite de produção dos procedimentos realizados num determinado período? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ E6. Quando é necessário produzir relatórios para autorização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos? Cite exemplos de situação freqüentes e raras. ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ E7. Existe algum mecanismo de estímulo ao médico por se adequar às regras/normas/protocolos adotados pela operadora? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _______________________________________________________ __________________________________________________________________________ MECANISMOS DE CONTROLE ESPECÍFICOS PARA PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS/TERAPÊUTICOS E8. Para solicitação/realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos explicite quando é necessário elaborar relatórios (discrimine para qual operadora): A) Ex. Laboratoriais – cite quais: _________________________________________________ 73 ___________________________________________________________________________ B) Exame radiológico (RX) C) Exame Ultrassonográfico (USG) D) Tomografia Computadorizada (TC) E) Ressonância Magnética (RM) F) Cintilografia G) Endoscopia H) Cirurgia curativa ou paliativa I) Cirurgia reparadora (por ex. implante de prótese de mama, fechamento de colostomia) requer: E9. Existem outras exigências para autorização da(s) operadoras? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ E10. No caso de atendimento de casos em situação de emergência em hospitais, como se dá o acesso aos exames na urgência? ( ) Liberação conforme solicitação médica ( ) Depende da segmentação do plano ( ) O plano não cobre esse procedimento ( ) Outro, especifique: _______________________________________________________ E11. Existe algum tipo de controle não mencionado nas opções anteriores Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ E12. Quando a operadora realiza glosa sobre a sua produção, isto decorre de: ( ) Nunca fui glosado ( ) Volume de procedimentos que ultrapassa o limite estabelecido ( ) Procedimentos fora do protocolo ( ) Fora da cobertura do plano ( ) Ausência de autorização pela operadora ( ) Teto financeiro ( ) Outro, especifique: _______________________________________________________ F. CONTINUIDADE DO CUIDADO F1. O encaminhamento de pacientes para médicos de outras especialidades: ( ) Não requer intermediação ( ) Requer relatório detalhado ( ) Requer relatório e conversa com auditor para liberação de cobertura 74 ( ) Outras formas, quais? ___________________________________________________ ________________________________________________________________________ F2. O encaminhamento de pacientes para quimioterapia: ( ) Não requer intermediação ( ) Requer relatório detalhado ( ) Requer relatório e conversa com auditor para liberação de cobertura ( ) Outras formas, quais? ___________________________________________________ ________________________________________________________________________ F3. O encaminhamento de pacientes para radioterapia: ( ) Não requer intermediação ( ) Requer relatório detalhado ( ) Requer relatório e conversa com auditor para liberação de cobertura ( ) Outras formas, quais? ___________________________________________________ ________________________________________________________________________ F4. O encaminhamento de pacientes para outros profissionais (psicólogos, fisioterapeutas, etc): ( ) Não requer intermediação, podendo ser solicitado pelo próprio paciente. ( ) É feito pelo profissional que indica diretamente para o especialista ( ) Requer relatório detalhado ( ) Requer relatório e conversa com auditor para liberação de cobertura ( ) Outras formas, quais? ___________________________________________________ ________________________________________________________________________ F5. No caso de usuário atendido em serviços de emergência oncológica, existe algum mecanismo de identificação e inclusão do mesmo em programa de acompanhamento (follow-up)? Sim [ ] Não [ ] Se sim, como é realizado: _____________________________________________________ __________________________________________________________________________ F6. Há alguma forma de acompanhamento aos egressos de internações hospitalares? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ F7. Existe algum mecanismo determinado pela operadora, com relação à continuidade do atendimento pelo mesmo profissional que: estimule [ ] desestimule [ ] a continuidade de atendimento? Especifique: _______________________________________________________ __________________________________________________________________________ 75 F8. Existem programas de acompanhamento para grupos específicos (Exemplo acompanhamento de ca de mama, ca de próstata, ca de colon, leucemias) Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ F9. A operadora faz acompanhamento de alguns grupos de patologia oncológica (case management), como medida da regulação da utilização dos serviços assistenciais? Sim [ ] Não [ ] Se sim, especifique: _________________________________________________________ __________________________________________________________________________ G. CONFLITOS ENVOLVENDO OPERADORA DE PLANOS DE SAÚDE G1. Quais são os problemas/conflitos mais freqüentes entre Médico – Paciente? Citar: G2. Quais são os problemas/conflitos mais freqüentes entre Médico - Hospital? Citar: G3. Quais são os problemas/conflitos mais freqüentes entre Médico – Operadora? Citar: G4. Quais são os problemas/conflitos mais freqüentes entre Paciente – Operadora? Citar: G5. Quais são os problemas/conflitos mais freqüentes entre Hospital - Operadora? Citar: Nome do pesquisador: ________________________________________________________ Local: _____________________________________________________________________ Data: _________________________ 76 Anexo 3 OPERADORAS MÉDICAS DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA OPERADORA Nome da operadora: Cidade / UF: Classificação: Cargo do interlocutor: Cupula estratégica ou seu representante e-mail p/ contato 1) Existe sistema de informação na operadora? Sim Não 2) Com quais tipos de informações a empresa trabalha: Cadastro da clientela Sistema de Custos Prontuário eletrônico Sistema de informações gerenciais Cartão de Saúde Registros epidemiológicos Outros Especifique _________________________________ 3) Existe algum mecanismo de comunicação ou contato da operadora com o beneficiário? Sim Não 4) Em caso afirmativo, esse contato se dá através de: Ouvidoria Serviço de atendimento telefônico Boletim Informativo Assembléia geral de beneficiários Envio de extrato de utilização Pesquisa de satisfação dos usuários Conselhos Outros Especifique ________________________________________ 5) Quais os mecanismos de regulação para utilização dos serviços assistenciais em oncologia? Autorização prévia (utilização dos serviços condicionada à autorização) Porta de entrada (ex.: médico generalista) Direcionamento (utilização direcionada de prestador) Hierarquização da Rede (encaminhamento por grau de complexidade) Co-participação ( parte efetivamente paga pelo consumidor referente à realização do procedimento) 77 Fator moderador Franquia (valor estabelecido no contrato até o qual a operadora não tem responsabilidade de cobertura) Não pratica Outros Quais ___________________________________ 6) Em caso de referenciamento, numere abaixo de 1 a 5, os critérios (em ordem de prioridade) que o atendente usa para referenciar os beneficiários para os prestadores em oncologia: Escolha do beneficiário Localização geográfica Tipo de Plano Custo do prestador Gravidade do problema Encaminhamento por outro profissional Prestador de maior procura pelos beneficiários Outro: Citar____________________________________________________ 7) A Operadora possui algum instrumento (manual de normas e procedimentos, material publicitário) para informar como os beneficiários devem proceder nos atendimentos de consultas, realização de exames, internações e urgência/ emergência? Manual de Normas Manual de Procedimentos Site/Internet Call Center Outros. Quais? _____________________________________ 8) Em situações de Urgência e Emergência Oncológica a operadora utiliza algum mecanismo de regulação dessa utilização? Sim Qual? _______________________________________________ Não 9) A operadora faz acompanhamento de alguns grupos de patologia oncológica (case management: CA mama, CA próstata, CA colon, Leucemias), como medida da regulação da utilização dos serviços assistenciais? Não Sim Especifique os grupos de patologias _________________________ 10) Em caso afirmativo, como é feito esse acompanhamento? __________________________________________________________________ 11) Para a realização de ex. laboratoriais específicos, o beneficiário necessita de: Liberação conforme solicitação médica Autorização prévia Co-pagamento Protocolo Auditoria médica 78 Outros Especificar: _________________________________ 12) Para a realização de ex. radiológico, o beneficiário necessita de: Liberação conforme solicitação médica Autorização prévia Co-pagamento Protocolo Auditoria médica Outros Especificar: _________________________________ 13) Para a realização de ex. ultrassonográfico, o beneficiário necessita de: Liberação conforme solicitação médica Autorização prévia Co-pagamento Protocolo Auditoria médica Outros Especificar: _________________________________ 14) Para a realização de tomografia computadorizada, o beneficiário necessita de: Liberação conforme solicitação médica Autorização prévia Co-pagamento Protocolo Auditoria médica Outros Especificar: _________________________________ 15) Para a realização de ressonância magnética o beneficiário necessita de: Liberação conforme solicitação médica Autorização prévia Co-pagamento Protocolo Auditoria médica Outros Especificar: _________________________________ 16) Para a realização de endoscopia o beneficiário necessita de: Liberação conforme solicitação médica Autorização prévia Co-pagamento Protocolo Auditoria médica Outros Especificar: _________________________________ 17) Para a realização de cirurgia, o beneficiário necessita de: Liberação conforme solicitação médica Autorização prévia Co-pagamento Protocolo Auditoria médica Outros Especificar: _________________________________ 79 18) Definida pelo médico a necessidade de internação em urgência oncológica, qual o fluxo para a sua obtenção junto à rede hospitalar? O próprio beneficiário busca o hospital O médico interna o beneficiário no hospital geral de sua escolha Autorização prévia Outra. Especifique: _________________________________________ 19) A operadora estabelece algum critério específico para cirurgias eletivas? Não Sim Especifique __________________________ 20) Caso existam protocolos, estes se referem a: (podem ser marcadas mais de uma opção) Orientação da conduta médica Definição do tipo de procedimentos autorizados Definição do número de procedimentos autorizados Definição do fluxo/referenciamento do beneficiário Outros Especificar ________________________________________ 21) Se necessário um procedimento que não consta do protocolo clínico, ou se excede o número previsto pelo mesmo, a conduta adotada é: Não autorização Autorização prévia Autorização após análise do médico auditor Co-pagamento Outros Especificar _________________________________ 22) Existem divergências (médicas, administrativas e financeiras) com os prestadores, em relação aos procedimentos realizados? Serviços de saúde Sim Não Em caso afirmativo, quais as causas mais freqüentes? Volume de procedimentos que ultrapassa o limite estabelecido Procedimentos fora do protocolo ou da cobertura do plano Ausência de autorização prévia pela operadora Teto financeiro Outros Especificar:_________________________________________ Divergênias Médicas Sim Não Em caso afirmativo, quais as causas mais freqüentes? Volume de procedimentos que ultrapassa o limite estabelecido Procedimentos fora do protocolo ou da cobertura do plano Ausência de autorização prévia pela operadora Teto financeiro 80 Outros Especificar:_________________________________________ 23) Existe algum tipo de premiação ao usuário por baixa utilização? ( ) Sim ( ) Não Qual?______________________________________________________ 24) Existe algum tipo de estímulo/premiação ao médico por baixa utilização? ( ) Sim ( ) Não Qual?______________________________________________________ MODELO DE GERENCIAMENTO DO CUIDADO 25) No caso de beneficiário atendido em serviços de emergência, existe algum mecanismo de identificação e controle desse beneficiário, visando o seu acompanhamento futuro? Não Sim Em caso afirmativo, como é realizado? _________________________________________ 26) Existe procedimento de acompanhamento para grupos especiais visando práticas de promoção/prevenção à saúde? Tabagismo Idosos Pacientes com antecedentes oncológicos (pessoal e/ ou familiar) Outros Especifique _______________________________ 27) Que outros benefícios além da cobertura mínima obrigatória da Lei 9656, a operadora oferece? Programa de assistência farmacêutica Assistência domiciliar Transporte pré-hospitalar Transporte aéreo Cobertura em viagem internacional Outros Especificar ____________________________________ 28) Existe programa de benefício farmacêutico? Sim Não Em caso afirmativo, esse se dá por: Aquisição em rede própria Reembolso total Reembolso parcial Desconto em farmácia credenciada Aquisição a preço de custo 81 29) Quais as políticas que a sua operadora têm para regular a qualidade dos serviços prestados? 30) Quais as políticas desenvolvidas pela operadora para a promoção à saúde? 31) Quais os mecanismos de regulação junto aos médicos que solicitam exames acima da média? Nome do entrevistador: Local: Data: 82 Anexo 4 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS - PACIENTE – Oncologia A. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE Nome do paciente: Nº do Prontuário: Idade: Sexo: Operadora: Tipo de Plano: Data de início da cobertura: Serviço de Saúde: Quem respondeu a pesquisa: Parentesco: B. PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS B1. Data da início do sintomas: _____/_____/_____ B2. Quais sintomas? _______________________________________________________ [ ] Assintomático B3. Data do diagnóstico: ____/____/____ C. ANTECEDENTES PESSOAIS Início vida sexual: ____________ Menopausa: _____________ Tabagismo S [ ] N[ ] Hipertensão S [ História familiar de câncer S [ ] N[ ] N[ ] ]N[ ] ] Qual câncer: ______________________________ Descrição do exame físico (diagnóstico): Tumor palpável S [ Não sabe [ Diabetes S [ ] N[ ] ] D. SEGUIMENTO D1. Por que procurou atendimento médico? D2. Trocou de médico S [ ] N[ ], se sim por que? D3. Como foi o atendimento dado pela operadora? E. ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS 83 E1. Quem foi (foram) o(s) responsável(is) pelo cuidado? E2. Quem cuida atualmente? E como cuida? E3. Como avalia os atendimentos realizados? E4. Quais os pontos positivos? E5. Teve problemas? Quais (acesso, segurança técnica, etc.)? E6. Ficou satisfeito com o atendimento dado pela operadora? E7. Teve algum problema para realizar algum procedimento solicitado? E8. Qual procedimento? (exames, internação, transferência para outro serviço, etc.) E9. Que tipo de problema? (autorização prévia, parecer de especialista ou auditor, negação de realização, etc) Nome do pesquisador: ________________________________________________________ Local: _____________________________________________________________________ Data: _________________________ 84