ID: 66981018 01-11-2016 Tiragem: 19500 Pág: 85 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Mensal Área: 20,00 x 26,00 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 5 =, -6- ç ro Low cost não é para quem quer, é para quem pode! Começa a ser comum ver muitos negócios utilizarem este termo errada e abusivamente, não cumprindo de facto o prometido, o preço mais baixo Susana (os ta e SlIva, protessnrac gad School. UniversidadeCatólica Poritiguedo. e Pedro Led oS nto5 p rod mei manager dtgitul tI rkett ng diz Nox ID: 66981018 Estudos 01-11-2016 Tiragem: 19500 Pág: 86 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 19,98 x 25,60 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 5 Vendas O aparecimento de um novo paradigma tecnológico, associado a uma diminuição generalizada do poder de compra e a um empowerment do consumidor, levou à necessidade das empresas alterarem o seu posicionamento, dando origem à popularização das chamadas estratégias "low cost". Este termo é, porém, muitas vezes erradamente usado, já que ter um produto barato ou mais barato do que o dos concorrentes não é, por si só, suficiente para que se possa ter uma estratégia de low cost pertinente e, acima de tudo, sustentável no tempo. O paradigma tecnológico actual é, de facto, substancialmente diferente daquele que encontrávamos nos anos 80 ou 90. O aparecimento da internet eliminou as barreiras físicas, aumentando exponencialmente a concorrência - não só de outras geografias - mas, também, a de outras áreas de negócio. A internet também permitiu a desmaterialização dos canais de venda, transformando qualquer equipamento com ligação à rede numa verdadeira loja. Hoje não é mais necessário ter um espaço físico numa rua cara para vender roupa de luxo. Exemplo disso é a Farfetch, que. com crescimentos acentuados na área do retalho (muito) especializado do vestuário de luxo, consegue garantir uma proposta de valor premi= num modelo 100% digital. Também o aparecimento de meios de pagamento electrónicos democratizou o acesso a muitos bens e serviços, que, de outra forma, operações que fazemos regularmente quase sem pensar, em que uma simples viagem de avião, independentemente do lugar físico onde se está, é adquirida a urna companhia de um país, através de um sistema de reserva de outro, de um serviço de pagamento de um outro, entre dois outros países. Actualmente, caso não nos reportemos a um negócio em que o local seja absolutamente diferenciador e fonte de vantagem competitiva - o que só acontece nalguns casos - é preferível. numa parte substancial de actividades, ter, antes urna plataforma de venda através da net. No tradicional e bem conhecido Modelo das 5 Forças de Porter, estamos, assim, a diminuir as barreiras à entrada que é, como quem diz, a transformá-las numa ténue linha que faz com que, nalguns casos, já nem se saiba muito bem como definir o nosso sector, nem o dos concorrentes. É isto que faz com que essa eventual linha que separa sectores esteja agora mais difusa que nunca e por isso a concorrência possa vir de onde menos se espera... Por outro lado, dado o longo período de crise que muitos consumidores ocidentais vêm enfrentando, também do lado da procura os padrões de compra se têm alterado significativamente. Um bom indicador disso advém das resistências que cada vez mais consumidores apresentam aos valores pedidos pelas empresas, em troca das propostas entregues, Para além de mais atento às ofertas concorrentes, o consumidor apresenta-se como mais ponderado nas suas compras e ciente de que o seu dinheiro corresponde a uma entrega de valor que é incontestável. Neste sentido, pro- não estariam tão facilmente acessíveis, dada a complexidade logística tradicionalmente envolvida. Basta reflectir sobre uma das várias cura mais, exige mais, reclama mais e troca mais depressa de fornecedor, levando os esforços para a sua satisfação a um outro nível. As mudanças tecnológicas e sociais ID: 66981018 01-11-2016 Foi neste sentido que muitas abordagens empresariais passaram de uma filosofia de product-center para customer-centered. O aparecimento de estratégias imo cost Estes efeitos combinados têm sido responsáveis pelo reequacionar do trabalho de marketing das empresas, nomeadamente ao nível dos programas de marketing. Em 1980, Michel Porter popularizou a sua célebre matriz das estratégias genéricas, onde as opções pela diferenciação ou pela liderança pelos custos se apresentavam como alternativas, no caso das empresas que não pretendiam focalizar-se num segmento muito específico, caso em que a terceira via era a da focalização (ou estratégias de nicho). O legado de Porter enuncia que uma estratégia de liderança pelos custos é caracterizada por um foco elevado na variável preço, seja através da prática de um preço mais baixo, seja pela diminuição de todas as componentes que o definem. Isto é, o objectivo final é alcançar um preço mais baixo, ou obter custos de produção tão baixos que permitem produzir um produto a um preço mais baixo e mesmo assim manter urna margem significativa. Isto pode ser conseguido através de um esforço contínuo de ganho de eficiências, através de economias de escala ou de gama, através do desenvolvimento de métodos de produção e logística mais baixos, do desenvolvimento de canais de distribuição eficientes ou do acesso a capital, que permita eventuais alterações estruturais, ou a absorção de margens temporariamente inferiores. A Ryanair é um dos arquétipos desta estratégia. Esta empresa ajustou a sua estraté- Tiragem: 19500 Pág: 87 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 20,00 x 22,40 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 3 de 5 gia de valor de forma a retirar tudo aquilo que não era valorizado pelo cliente, oferecendo apenas o serviço base que o cliente procura - a passagem aérea - pelo preço mais baixo. Para além de especialização num tipo de serviço, e no tratamento com um tipo de avião apenas, e da negociação de preços em escala (dada a dimensão da companhia), a empresa elimina tudo o que não cria valor, reduzindo a um mínimo o que pode ser considerado extra. Todo esse extra, desde a emissão de bilhetes, à marcação de lugares, ao serviço de comida a bordo, ao handling de malas de porão, etc., é separado do serviço principal e é vendido separadamente, a um preço mais elevado, conseguindo-se assim, e nestas componentes, obter margens maiores, sem prejuízo do preço do serviço core. Outra multinacional que tem uma abordagem ligeiramente distinta, mas na mesma senda, é a IK E A. lima vez que, na indústria do mobiliário, o custo de montagem e instalação, assim como o custo do transporte, são componentes relevantes, a empresa retira estas etapas da sua cadeia de valor, passando -a para o lado do consumidor, e cobrando valores com margem substancial, caso o cliente não deseje ser integrado na cadeia. As compras, todavia, assim como o design e o marketing, essas continuam bem definidas dentro da empresa. A popularização do termo O sucesso destes e de outros exemplos levou à popularização do termo "low cost", que se passou a apresentar como um argumento de venda apelativo face ao declive de paradigma por parte dos consumidores que. como dissemos, passou a estar mais consciente e ID: 66981018 Estudos 01-11-2016 Tiragem: 19500 Pág: 88 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 20,00 x 25,43 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 4 de 5 Vendas exigente no seu processo de tomada de decisão. Contudo, é comum vermos muitos negócios utilizarem este termo errada e abusivamente, seja porque não cumprem o prometido (não têm efectivamente o preço mais baixo), seja porque obtêm esse preço sem nenhum dos pressupostos acima descritos. E efectivamente, o que acontecerá, a prazo, se a empresa corroborar o claim comunicacional, mesmo que podendo ser algo temporariamente positivo para ganhar notoriedade ou para sinalizar o mercado, o mais provável é que a empresa/marca acabe por ser descredibilizada, encarregando-se o mercado de repor a verdade, afastando-a. De facto, há casos em que as empresas não cumprem os requisitos de uma estratégia low cost. Praticar um preço mais baixo sem garantir a existência de uma margem sustentável, por exemplo, através da redução dos custos de produção, pode ser uma estratégia acertada para rápidas entradas num mercado, ou para recuperações de quota de mercado, mas será sempre uma estratégia pouco sustentável a prazo. Pode também ser potencialmente perigoso, visto que, caso leve a uma retaliação por parte dos principais concorrentes, poderá redundar numa queda geral dos preços e/ou das margens de mercado, ou à commoditization do produto vendido. O próprio mercado poderá acabar por se ressentir deste tipo de abordagem. Efectivamente é uma estratégia com risco envolvido, pois pode levar a respostas agressivas por parte da concorrência, iniciando assim uma guerra de preços sem a correspondente manutenção da margem, de onde todos poderão sair a perder, inclusive os compradores. Ao mesmo tempo, com a globalização e o aumento da velocidade do desen- volvimento tecnológico, é também aumentado o risco de se encontrar um concorrente que consegue efectivamente assumir unia estratégia de liderança pelos custos, de forma mais ajustada e eficiente do que a praticada. Outro ponto muito importante para o sucesso com uma estratégia de low cost é a escala. A escala é fundamental e quase sempre a chave do sucesso para que unia estratégia deste tipo tenha condições de prosperar. A conta é simples: se urna empresa quer ganhar o mesmo liderando pelos preços baixos, terá de passar a produzir algo, mais barato, ou a vendê-lo numa escala muito maior. Ao a lavancar o modelo de negócio no online, é hoje possível obter essa escala de forma mais rápida e barata do que nunca. Mas, para tal acontecer, o modelo de negócio terá de assentar numa plataforma de e- commerce que permita efectivamente comunicar, chegar e vender a uma base de clientes muito maior, espalhada por uma área geográfica mais vasta, com todas as idiossincrasias que esta abordagem global representa. Caso a Ryanair, a IKEA e até a Uber tivessem apenas optado por conduzir as suas operações numa base convencional, diminuindo o custo, e comprometendo a sua margem, sem as devidas alterações de produto/processo/ /estratégia/escala, o modelo não teria sido sustentável. Teríamos tido possivelmente uma guerra de preços, que comprometeria não só a companhia que a iniciasse, como também todo o mercado. Este fenómeno poderia levar ao desaparecimento de players - com inevitáveis consequências para os consumidores -, à redução da qualidade do produto/serviço oferecido, ou ainda à redução da percepção de valor acrescentado de determinada propos- ID: 66981018 01-11-2016 Tiragem: 19500 Pág: 89 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Mensal Área: 9,40 x 23,38 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 5 de 5 ta na mente do consumidor. Por fim, outro risco da popularização do termo "low cost" é a depreciação da utilização destas estratégias na mente do consumidor. Mesmo com as alterações dos padrões de consumo, existem ainda sectores mais sensíveis à aplicação deste tipo de estratégias. Muitas vezes a prática de uma estratégia low cost leva à alteração da proposta de valor, alterando características do produto ou serviço prestado (como a diminuição das características do produto, ou a alteração da forma de prestação de um serviço). Em sectores como a saúde ou a alimentação, onde o produto ou serviço prestado podem ter efeitos secundários ou implicações de longo prazo, a aplicação destas estratégias é mais difícil de ser bem-sucedida. dado que o consumidor não quer correr riscos, colocando a sua saúde ou a dos seus familiares em jogo. Respostas às estratégias Pese embora seja crucial, como temos vindo a defendei-, que se equacionem com muita cautela as estratégias low cost por parte das empresas, não é menos importante, porém, evitar alguns erros normalmente associados às respostas que outras empresas dão face à escolha por este posicionamento dos seus concorrentes. De facto, algumas empresas, quando vêem a entrada ou reconversão de um player no seu mercado, que passa a usar uma estratégia low cost. acabam por nada fazer, acreditando que o produto, o mercado e o consumidor não são sensíveis a mudanças tecnológicas significativas. Esta miopia pode criar uma crença de que o produto ou serviço vendido será sempre valorizado, cristalizando a estratégia da empresa. que tem depois mais dificuldades na criação de respostas rápidas e eficazes. Outras, porém, face à ameaça do low cost, reagem com uma diminuição das suas margens de forma a acompanharem, esquecendo que a inovação pode ser a resposta e que descer preços é mais fácil do que voltar a subi-los. Mais importante seria, porém, garantir a escala ou as alterações nos custos de produção/fornecimento do serviço, necessários para a manutenção de margens competitivas. Ou introduzir inovações e mudanças que, devidamente comunicadas, podem permitir suportar o diferencial de valor. Por outro lado, e é importante que se diga, nem sempre as empresas têm a opção de não baixar preço. A pressão competitiva dos stakeholders pode ser tão grande, que é inevitável dar uma resposta com base na redução do preço, sob pena do mercado preterir em definitivo esta opção de compra. Nestes casos, pode ser de equacionar a oferta de uma marca low cost para competir com a concorrência, protegendo assim a marca principal da empresa, e desta forma conseguir servir, quer os clientes que não estão disponíveis para pagar o mesmo pelo mesmo produto/serviço, quer aqueles que estão. Em suma, baixar o preço nem sempre é a melhor prática, se não for devidamente acompanhada de uma estratégia clara que equacione as diferentes componentes da cadeia de valor e que permita a manutenção das margens saudáveis para o dia -a-dia de um negócio ou de uma marca. Baixar o preço sem a manutenção das variáveis.de sustentabilidade pode até ser exequível no curto prazo, mas, no longo, levará a uma deterioração de valor, de receita e de percepção, quer para o player que leva a cabo esse movimento, quer para todo o mercado. 11