1 A AMÉRICA LATINA PÓS-NEOLIBERALISMO E O PROBLEMA DO TRABALHO /EMPREGO Rose Serra* RESUMO Este trabalho aborda a relação entre a implantação do projeto neoliberal em países da América Latina do final dos anos 1980 para cá, os determinantes político-econômicos desse modelo e a agenda de ajuste econômico definida para os países periféricos e implementada pelos Estados Nacionais. Esse projeto revela a imposição de um novo padrão de acumulação, de um novo modelo produtivo que provocaram, entre outros efeitos, o agravamento da exclusão social e no mundo do trabalho, novas formas de gestão da força de trabalho e do emprego, a desregulamentação e flexibilização das relações trabalhistas, o desemprego e uma forte crise na organização dos trabalhadores. Palavras-Chaves : América Latina - Neoliberalismo Produtiva – Desemprego -- Exclusão Social. - Reestruturação ABSTRACT This work relationship between the implantation of neo-liberal project in Latin America countries (from late 80’s up today), the political-economic matters involved and the policy of economic adjustments adopted for peripheral countries and implemented by National State. This project reveals the imposition of a new accumulation pattern and a new production model which besides other effects, lead increasing of social exclusion, new forms of dealing with job and working management, the flexibility and changing of rules of work relationship , unemployment and a deep crisis in working unions Keywords: Latin America – neo-liberalism – Productive restructure – unemployment – social exclusion 1 INTRODUÇÃO Nos últimos quinze anos, o agravamento da situação social na América Latina assume contornos alarmantes com várias expressões da questão social, através da sua multiplicidade de expressões em termos de sua extensão, profundidade e complexidade. A implantação das políticas neoliberais nessa região do mundo, a partir dos anos oitenta passados e, em especial, da década de noventa passada para cá, pode ser considerada a principal razão determinante desse grave quadro. Vale reforçar: tal situação explica-se, em suas manifestações mais agudas, com as políticas de ajuste estrutural definidas pelo grande capital internacional para os países periféricos, provocando o aumento * Doutora em Serviço Social São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 2 das desigualdades sociais e a extensão da miséria a amplos segmentos dessa população, como conseqüências econômicas e sociais dessas políticas. Por outro lado, a deterioração das políticas sociais no período mais recente, dos anos 1990 passados os dias de hoje, é uma das principais aspectos de combinação desses ajustes via política econômica recessiva com cortes nos gastos sociais. A crise econômica e o modelo de gestão do chamado Estado de Bem Estar, “Welfare State”, são apontados como causas dessa situação por neoliberais, enquanto outros segmentos também consideram que essa deterioração social não seria um simples efeito da crise, mas também um elemento consubstancial da política neoliberal do chamado ajuste estrutural, quer dizer, essas políticas provocaram o distanciamento cada vez maior entre os pobres e ricos, com o agravamento das desigualdades sociais. Esses ajustes têm provocado e/ou acentuado a estratificação social, expressa em condições desiguais nas condições de trabalho, no acesso a bens e serviços e nos mecanismos e instrumentos de proteção social. Considerando a constituição das políticas sociais como a base materializada dessa intervenção estatal, é de se supor que, sob a égide de outro tipo de Estado dos tempos neoliberais, essa estratégia já não poderá contribuir para atender ao objetivo precípuo da formação social capitalista, o de reprodução e valorização do capital. Este texto trata do agravamento da deterioração das condições de vida de grandes contingentes da população dessa região, em especial, da situação do trabalho/ emprego decorrente dos processos relativos ao novo modelo produtivo instalado, a partir da década de 1980, situando um breve panorama acerca da questão social e do papel dos Estados nacionais na implantação dos ajustes econômicos definidos pelos organismos internacionais para os países periféricos. O que importa aqui analisar é que em cada época do desenvolvimento capitalista, “a questão social” apresenta refrações em consonância com as determinações próprias da exploração capitalista e de acordo com o modelo de produção desenvolvido nesse período. Para Robert Castel (1998), sociólogo francês, há uma profunda metamorfose da “questão social” precedente, configurando hoje uma nova problemática, mas não outra problemática. Quer dizer, a manifestação é nova, mas as determinações são as mesmas. Portanto, há uma posição homóloga entre os vagabundos de antes da revolução industrial e as diferentes categorias de inempregáveis de hoje; os processos de produção dessas situações são semelhantes em sua dinâmica e diferentes apenas em suas manifestações. Castel (1988) traz à baila uma interessante contribuição que é a relação entre integração e inserção social. Para ele, o trabalho é o grande integrador, a base de São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 3 sustentação da estabilidade e de coesão social e de formação de identidades dos diversos grupos que interdependem socialmente. As sociedades capitalistas do centro implementaram à luz do pensamento keynesiano as políticas de integração, tendo como eixos a busca do pleno emprego, um sistema de proteção social de natureza universal e mecanismos de assistência social adequados àqueles segmentos da população em estado de risco social. As políticas de inserção para Castel (1998), que correspondem às políticas de assistência social, apresentam uma lógica que ele denomina de “discriminación positiva” porque são focalizadas em agrupamentos particulares e obedecem a mecanismos e estratégias próprias, distinguindo-se das políticas de integração em razão dessa condição de foco em oposição ao caráter generalizado daquelas. O paradoxo é que na medida que os neoliberais rejeitam as políticas de integração incrementando políticas cada vez mais focalizadas, os efeitos de suas ações exigem cada vez mais proteção generalizada, dada a crescente situação de instabilidade. De fato, está em curso um engenhoso processo de aprimoramento dessa atuação focalista através da utilização de tecnologias que aperfeiçoam os antigos modelos existentes, principalmente porque nos tempos neoliberais ganha corpo a relação público/privado, o que confere e requer novas inventivas no trato social. Daí, “novidades” como os Programas de Governo como o PRONASOL no México e a Comunidade Solidária no Brasil, modelos com indicação marcante da transferência “invisível” das ações estatais para o privado, pelas “mãos” da assistencialização da proteção social em nome da solidariedade, denominação atual da assistência. Frente a esta análise, conclui-se que uma sociedade atingida pelo desemprego e pela precarização do emprego, é uma sociedade em estado de risco social, com ameaça de caos social que advém da condição de desintegração social decorrente do não trabalho/emprego precarizado. Portanto, pode-se considerar que o núcleo da “questão social” hoje possa advir dessa desestabilização na condição do trabalho/ emprego, que provoca incertezas ou impossibilidade de um lugar social em determinado território com assento duradouro. Ianni (1996) aborda a “questão social” com uma similitude com Castel, apesar de suas diferenças teóricas, o que imprime relevância a essa convergência de posição, ao afirmar que em todas as suas manifestações “está presente o elemento básico da questão social envolvida na dissociação entre trabalho, produção e apropriação, ou simplesmente alienação”. (IANNI, 1996, p.27). Para este autor, os diversos aspectos da questão social podem “mesclar-se e dinamizar-se” mas a sua base de determinação é o desemprego: “ainda que suas manifestações ocorram desigualmente, as relações e as redes que articulam a economia e a sociedade em escala mundial fazem com que algumas dessas São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 4 manifestações revelem-se típicas da nova divisão internacional do trabalho. (idem, p.28). E arremata afirmando que as exigências de reprodução ampliada do capital, envolvendo sempre a concentração e a centralização de capitais, bem como o desenvolvimento desigual e combinado, atravessam fronteiras e soberanias. Todos os países, ainda que em diferentes gradações, estão sendo atingidos pelo desemprego estrutural decorrente da automação, robotização e microeletrônica, bem como dos processos de flexibilização generalizada (IANNI, 1996, p.28-29). Para Ianni (1996), o fato de vários aspectos da “questão social” convergirem no desemprego agrava mais ainda as manifestações dessa, com “problemas relativos aos preconceitos de raça, idade e sexo, tanto quanto os referentes à religião e língua, cultura e civilização” afirmando ainda que o desemprego estrutural pode implicar na formação da “subclasse, uma manifestação particularmente aguda da questão social” que pode revelar vários aspectos da mesma: pauperismo, desorganização familiar, preconceito racial, guetização de coletividades em bairros das grandes cidades, preconceito social e de idade e desenvolvimento de uma espécie de subcultura de coletividades segregadas [...]. A subclasse [...] indicando uma crescente desigualdade e a emergência de uma nova fronteira separando um segmento da população do resto da estrutura de classe (IANNI, 1996, p.3031). O que se evidencia como fio condutor das posições de Ianni é que a questão social deve ser tratada hoje como parte ou como expressão do mesmo processo de globalização da economia afirmando que “o mesmo processo de amplas proporções que expressa a globalização do capitalismo expressa também a globalização da questão social” IANNI, 1996, p. 26). Com essas premissas, farei, a seguir, um apanhado geral da situação de trabalho/emprego da América latina, como complemento ilustrativo das análises acerca dessa temática, ponto central da questão social de hoje. A publicação de 2002, Cuadernos del CEPED –Centro de Estudios sobre Población, Empleo y Desarrolo, n° 7, da Faculdad de Ciencias Económicas de Universid de Buenos Aires, sob a coordenação de Javier Lindenboim, apresenta um diagnóstico muito interessante, fruto de estudos e pesquisas de muitos pesquisadores que recomendo como instrumento atualizado e consistente da realidade do emprego na Argentina, mas com dados e análises da América Latina, que constituem uma síntese dessa problemática no continente. Ricardo Infante, um dos autores, aponta aspectos importantes na América Latina: São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 5 La metamorfosis del mercado laboral há sido un proceso largo en América Latina.Para abordarlo se tratarán tres aspectos: el primero se relaciona com la insuficiencia dinámica de las economias para generar nuevos empleos en la región, el segundo aspecto estás vinculado com la calidad de los puestos de trabajo y como ésta evoluciona en los últimos 50 anõs y, finalmente, se analiza la metamorfosis asociada a los procesos de cambio del empleo durante los noventa [..] la tasa de desempleo alcanza a cerca de unn 9% a fines de los noventa, cifra que es superior a la registrada durante la crisis de la deuda externa. (LINDENBOIM, 2002, p. 171). A qualidade do emprego, o segundo aspecto tratado, reflete a alterações na estrurura do emprego, decorrente da reestruturação produtiva:” En la actualidad, de cada 10 nuevos puestos de trabajo el sector moderno genera 4 y el sctor informal 6, o sea estamos frente a un proceso de informalización del emprego que ya tiene 20 años”(LINDENBOIM, 2002, p.174 -175). O que se percebe nesse s dados é que há uma coerência dos efeitos das mudanças estruturais no trabalho e na regulação estatal que se expressam nas diferentes realidades, com diferenças pouco significativas de país a paÍs, em conformidade com suas realidades específicas de estágio de desenvolvimento econômico. Em síntese, Infante fecha sua análise informando: La metamorfosis del empleo se refleja en los cuatro procesos de cambio siguientes: el de privatización, 95% del nuevo empleo es generado poe el sector privado y el 5% por el Gobierno, la terciarización; 88% de los nuevos empleos son en servicios y 12 % solamente en bienes, y el proceso de informalización; 60 % es informal y 40% es moderno. Además se registra un proceso de precarización del trabajo: de cada 100 nuevos empleos generados en la región, en promedio, un 60 % de ellos tiene cobertura de seguridad social [...] Sin embargo, se estima que un 20% de los 4 puestos de trabajo no está protegido por lo que en realidad debería considerarse que tan solo 3 de ellos tienem condiciones adequadas de trabajo y de protección social. (LINDENBOIM, 2002, p. 176 – 177). Diante desse panorama desolador na região latino americana das condições de emprego com cerca de “2/3 do emprego é de baixa qualidade com taxa de cerca de 9% de desemprego”, a meu ver, só a intervenção estatal de incremento e apoio à atividade produtiva geradora principal de crescimento, provocará efetiva alteração dessa realidade. Considerando-se que as políticas e programas de governo respondem às exigências do capital em cada estágio do desenvolvimento do capitalismo, que este também exige para cada estágio desse, um tipo de regulação social, é importante a discussão sobre Estado, enquanto elemento constitutivo de análise dos atuais processos de transformação social macro societários, uma vez que é para os canais e mecanismos de regulação das relações sociais que convergem e são gestadas as ações político-econômicas que afetam o conjunto da nação. Para começar, recorro a uma premissa: as transformações que ocorrem no capitalismo ao longo de sua trajetória nas suas diferentes fases e estágios - concorrencial, São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 6 monopolista e tardio - provocam alterações no processo produtivo e nas relações de produção que incidem diretamente nas conformações que o Estado assume para responder a essas alterações. Vale afirmar, portanto, que para cada etapa do capitalismo há a criação de um Estado correspondente. Conseqüentemente, os demais processos ídeo-políticos e sócio-culturais também são determinados por essas alterações das relações capitalista, imprimindo em cada época de existência do modo de produção capitalista, relações entre o capital e o trabalho também modificados nas suas correlações de força e manifestações concretas das lutas de classes. De fato, esse papel integrador do Estado foi, historicamente, resultante das alterações estruturais do modo de produção capitalista aliadas às possibilidades maiores ou menores de pressão da classe trabalhadora junto ao Estado para incorporar as suas demandas de direitos sociais. Foi assim com o capitalismo monopolista sob o enfoque distributivista - keynesiano, cuja expressão deu-se com as regulações do Welfare State, através de sua políticas de pleno emprego e de expansão da proteção social universalista. Ao contrário, a crise econômica dos anos 70 traz à tona a rejeição do capital pelos níveis redistributivos do Welfare State que estavam reduzindo suas taxas de lucro e, desta vez, é o caráter integrador do Estado o alvo de desmontagem. Ao mesmo tempo, identificam-se estratégias neoliberais de desqualificação político-econômica da regulação estatal econômica considerada como anacrônica e um entrave ao desenvolvimento. Num exemplo e noutro, o que define a alteração do Estado são os interesses do capital que se apresentam através de políticas de gestão às quais aquele deve submeter-se para transformar-se no Estado adequado ao capital. Em cada ciclo econômico do capitalismo ou como quer Mandel, a cada “onda longa expansiva” ou “onda longa recessiva”, há requisições do capital e demandas do trabalho ao Estado que lhe conferem alterações, resultando como já sinalizei antes, em Estados reformados para cada etapa do capitalismo. Nessa perspectiva, na atual fase do capitalismo, a reforma do Estado na sua estrutura, composição e funcionalidade, corresponde à montagem da forma de Estado adequada aos princípios e metas do projeto neoliberal. Portanto, a desobrigação social do Estado pela via da alteração de seu arcabouço institucional, nada mais representa do que adequar a forma aos objetivos e metas dos ajustes dos países periféricos ao figurino determinado pelo Consenso de Washington.O gasto social é visto como causa da crise fiscal do Estado e seu corte tem significado um deliberado desfinanciamento das instituições públicas, tendo como seqüelas a deterioração e o crescente desprestígio dessas instituições. Posições contrárias a essa visão sublinham que a crise fiscal dos Estados latino-americanos não se deve a um gasto São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 7 social excessivo, e sim ao problema da dívida pública provocada pela mudança nas relações econômicas internacionais e nacionais. A elevação da taxa de juros da dívida, a queda nos preços dos produtos de exportação dos países subdesenvolvidos e a desregulação financeira, levaram a um estrangulamento da capacidade de pagamento do serviço da dívida. Para garantir seu pagamento, foram impostos programas de ajuste, centrados na redução do déficit público. Essa equação foi "resolvida" com o corte de outros itens do gasto público, principalmente o social. Outra grande característica dessa modalidade de política social é a privatização dos serviços públicos através da cobrança do serviço público. O argumento é que os fundos públicos não devem custear um bem privado, como acontece, principalmente, nos serviços de saúde e educação, além de proporcionar uma alternativa de captação de recursos para os cofres públicos. Com essa medida, seriam atingidos dois dos objetivos neoliberais: remercantilizar os bens sociais e reduzir o gasto social público, suprimindo a noção de direitos sociais. O que as experiências vêm demonstrando em países, como no caso do Chile, que utilizou tais mecanismos, é que tais pretensões não estão sendo alcançadas, em razão das baixas condições de consumo de segmentos desses países como as camadas médias, vitimadas por empobrecimento crescente. 2 CONCLUSÃO O processo generalizado de aumento dos indicadores de desigualdade social e pobreza verificado na América Latina, sobretudo naqueles países que adotaram medidas econômicas de ajuste neoliberal, combinado com a redução dos direitos sociais, provocou manifestações sociais importantes, como na Argentina, em anos recentes, de vivência de quase caos total. Muitos governos latino-americanos, bem como organismos financeiros internacionais, utilizaram novas retóricas para convencer as populações sobre a justeza e acerto de suas políticas de privatizações e da inoperância do setor público, da impossibilidade de manutenção da universalidade dos serviços sociais, em razão do déficit fiscal, justificando o encolhimento da ação estatal na esfera do bem-estar social como razão para atender aos mais necessitados. Tais argumentos tiveram êxito, no início da implantação das políticas neoliberais, com o sucesso do combate à inflação e a estabilização das moedas nacionais, bem como a aceitação das privatizações foi uma realidade, sobretudo junto aos mais abastados, parte da classe média e segmentos populares menos politizadas e em lugares com organização sindical fragilizada. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 8 Na América Latina de hoje, os efeitos do processo de privatização e de retração estatal na área social têm sido amenizados por programas especiais contra a pobreza, com o apoio aos governos de países dessa região de organismos financeiros internacionais, a programas de áreas sociais de alimentação, saúde e de educação. É uma espécie de Aliança para o Progresso reatualizada, dessa vez, não mais para conter as ameaças da revolução vermelha, mas para assegurar as quotas mínimas de sobrevivência de grandes parcelas muito pobres e de contenção das potenciais reações desorganizadas e violentas das populações desses bolsões de miséria e pobreza crônica. Em regiões, com populações heterogêneas e complexas, com maior ou menor grau de diferenciação, as políticas, programas e estratégias de enfrentamento e superação dos níveis de desigualdade, devem visar atender às demandas dos diferentes segmentos sociais. É verdade, ainda, que as políticas de focalização em muitos casos mercantilizam os benefícios sociais, provocando a capitalização do setor privado e a deterioração e o desfinanciamento das instituições públicas, sem a eficiência e a eficácia anunciadas pelos governos neoliberais, principalmente, ocasionando a redução do déficit público, uma vez que não só este não tem diminuído, com em alguns casos, tem aumentado, em razão da contrapartida dessas estratégias, ou seja, a concessão de subsídios ou renúncia fiscal em favor do setor privado. Por outro lado, não tem havido atendimento efetivo aos pobres, principalmente, pelos escassos recursos que são utilizados, muito aquém das suas necessidades. O que está em curso, conforme evidenciam as propostas e os programas em desenvolvimento em países desse continente, são dois processos que se entrecruzam, a assistencialização da seguridade social e a refilantropização da assistência, ambos com a mesma base de determinação neoliberal: o desmonte dos direitos sociais como responsabilidade do Estado, tônica erigida pelo Estado Social, sob a égide do pensamento de John Keynes. Enfim, o crescimento e a extensividade da pobreza a grandes contingentes das populações e o resultante aprofundamento da desigualdade social em muitos países da América Latina, apesar dos surtos de crescimento econômico em muitos deles, exige uma ampla intervenção pública, estatal e não estatal, mais efetiva, eficiente e eficaz na resolução dos enormes e complexos problemas sociais desses países, cujo epicentro, a meu juízo, deve ser uma política econômica geradora de trabalho/ emprego. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 9 REFERÊNCIAS CASTEL, Robert. As Metamorfoses da questão social - uma crônica do salário. Trad. Iraci D. Poleti. Petrópolis (Rio de Janeiro): Vozes,1998. IANNI, Octavio. O Mundo do Trabalho. In: FREITAS, Marcos C. de (org.).A Reinvenção do Futuro.São Paulo: Cortez, 1996. LINDENBOIM, Javier (compilador). Metamorfosis del empleo en Argentina – Diagnóstico, políticas y perspectivas. Cuadernos del CEPED,.Buenos Aires, Faculdad de Ciencias Econômicas / Universid de Buenos Aaires, n. 72002. MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. São Paulo: Nova Cultura, 1985. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005