centro de ensino superior do ceará faculdade cearense curso de

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
CLAUDIA ANDRADE DE SOUZA
ENVELHECIMENTO E HIV/AIDS
ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO DIAGNÓSTICO EM IDOSOS INTERNADOS NO
HOSPITAL SÃO JOSÉ DE DOENÇAS INFECCIOSAS EM FORTALEZA-CE.
FORTALEZA - CE
2014
CLAUDIA ANDRADE DE SOUZA
ENVELHECIMENTO E HIV/AIDS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO DIAGNÓSTICO EM IDOSOS INTERNADOS NO
HOSPITAL SÃO JOSÉ DE DOENÇAS INFECCIOSAS EM FORTALEZA-CE.
Monografia submetida à aprovação da
coordenação do Curso de Serviço Social
do Centro de Ensino Superior do Ceará,
como requisito parcial para a obtenção do
grau de Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Prof. Ms. Mariana
Albuquerque Dias Aderaldo
FORTALEZA - CE
2014
de
CLAUDIA ANDRADE DE SOUZA
ENVELHECIMENTO E HIV/AIDS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO DIAGNÓSTICO EM IDOSOS INTERNADOS NO
HOSPITAL SÃO JOSÉ DE DOENÇAS INFECCIOSAS EM FORTALEZA-CE.
Monografia como pré- requisito para
obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social,
outorgado
pela
Faculdade
Cearense – FAC, tendo sido aprovada
pela banca examinadora composta pelos
professores.
Data de Aprovação:____/____/______
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Ms. Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo - Orientadora
(Orientadora)
Prof.ª Ms. Socorro Letícia Fernandes Peixoto
Prof.ª Esp. Zita Maria da Rocha
Dedico este trabalho ao meu amado
esposo Marcos Lopes por toda
paciência, respeito e amor que tem me
dedicado por todos esses adoráveis
anos de convivência, por seu jeito
peculiar de tornar nossas vidas e nosso
lar harmoniosos, fazendo com que me
sinta a cada dia a mais bela e amada
entre todas as mulheres.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é muito mais que um simples trabalho de Conclusão de Curso a
que os estudantes são submetidos, é o resultado de uma formação acadêmica
intensa e gratificante, por isso este é o momento de deixar meus agradecimentos a
todos aqueles que contribuíram tanto para minha formação acadêmica quanto para
minha formação pessoal.
Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade e privilégio de estar
sempre comigo não permitindo que o desânimo e as dificuldades me deixassem
fraquejar
À minha família, pois sei que, embora estejamos distantes, sei que estarão na
torcida para que eu possa ir cada vez mais longe em busca dos meus objetivos.
A D. Mocinha, minha avó, por toda sua sabedoria e dedicação. Seus
ensinamentos estarão sempre presente em minha vida, sou o que sou hoje graças a
ela e a forma com que me criou e educou, incentivando-me, aconselhando-me e, às
vezes, sendo dura e ríspida, hoje reconheço que tudo que fez e faz por mim é
pensando em meu bem. Te amo, minha querida.
A meu esposo Marcos Lopes e à minha filha Cáritas pela paciência e pelo
incentivo, por não exigirem de mim alem do que eu pudesse oferecer nos momentos
de conclusão do curso, sei que estou em falta com vocês, não prometo, mas vou
tentar estar mais presente e disponível para vocês. Afinal outra etapa se inicia e terei
que me dedicar ainda mais em busca de emprego e dar continuidade aos estudos.
Aos professores do curso que exigiram de nós a dedicação aos estudos e que
nos fizeram compreender o real valor do conhecimento não só para a realização
profissional, mas também para a vida.
À minha orientadora, Mariana Aderaldo, pelo incentivo, simpatia e presteza no
auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e normatização deste trabalho
de Conclusão de Curso, pelo seu espírito inovador e empreendedor na tarefa de
multiplicar seus conhecimentos. Fazendo-me refletir sobre a ética profissional e
trazendo conteúdos atualizados e a temática do envelhecimento.
A minhas amigas Erisleide, Luana, Laiana, Iracema, Tamara, Marjorie,
Fatinha, pelos bons e maus momentos que passamos juntas todos esses anos, mas
que nos fizeram amadurecer, principalmente, por estarem comigo nesta caminhada
tornando-a mais fácil e agradável, pelos momentos de aprendizagem constante e
pela amizade solidificada, a qual, certamente, se eternizará.
À banca examinadora que se disponibilizou a participar desse processo final e
com suas considerações contribuir para que o projeto se aperfeiçoe cada vez mais.
Ao Hospital São José que me proporcionou através do estágio supervisionado
vivenciar a realidade estudada e aprimorar meus conhecimentos e principalmente à
minha supervisora de campo, a assistente social competentíssima Zita Maria da
Rocha, por toda dedicação e empenho comigo, fazendo com que eu me
apaixonasse ainda mais pela profissão através de sua postura ética, com sua
delicadeza e respeito em tratar o próximo.
Aos idosos que compartilharam comigo suas histórias de vida, suas angústias
e aflições deste momento de descoberta da soropositividade. Muito obrigada pela
confiança, serei grata a todos vocês por dividirem comigo esses momentos que
foram de fundamental importância para a conclusão do trabalho.
A todos vocês o meu muito obrigada!
A saudade se aportou
Num canto de mim
E me fez mais terno.
A dor sofrida
Me amaciou o coração
Me fazendo mais puro
A falta de esperança
Tornou mais leve o meu desejo
E essa grande, imensa
Vontade de amar
Tornou mais doce o meu
semblante
Envelheci
(W. Alvarenga)”
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo conhecer os sentimentos, percepções, crenças,
valores e consequências vividas pelos idosos com Síndrome da Imunodeficiência
Humana Adquirida (AIDS) internados no Hospital São José de Doenças Infecciosas
em Fortaleza - Ceará. A prática do estágio supervisionado na instituição em questão
possibilitou à graduanda despertar a atenção para a temática do idoso com
HIV/AIDS. Foram utilizados como critérios de inclusão e exclusão a idade a partir
dos sessenta anos, estar internado no Hospital São José, estar em condições
cognitivas e emocionais, ter o diagnóstico recente do HIV/AIDS e concordar em
participar do estudo. O que se observa é que apesar da epidemia da AIDS estar
inserida em todas as camadas da sociedade, o número de casos em idosos têm
chamado a atenção de vários estudiosos do caso. A falta de campanhas voltadas
para os idosos e o diagnóstico tardio são fatores que expõem os idosos a contraírem
a doença. O aumento dos casos de idosos infectados pelo vírus é cada vez maior se
tornando um desafio para o país de desenvolver políticas públicas voltadas para
essa população que possam lhes proporcionar melhor qualidade de vida. A coleta de
dados se deu através de entrevistas semiestruturadas e abrangeram um universo de
cinco entrevistados, por meio do diário de campo e por meio de observação, que
permite ao pesquisador observar as características do campo da pesquisa. O estudo
identificou que o impacto do diagnóstico nos idosos pesquisados foi muito mais
doloroso e traumático do que acreditava a pesquisadora, o medo da revelação aos
familiares, o medo do preconceito e do abandono por parte dos familiares e amigos,
a falta de conhecimento acerca da doença e formas de transmissão e prevenção
foram outros fatores que ficaram evidentes reafirmando a necessidade do Estado
em desenvolver campanhas de prevenção do HIV/AIDS para esse público
específico. O idoso se sente culpado por expor a esposa e a idosa se sente traída,
mas não deixa o parceiro, e ambos compartilham o mesmo sentimento em relação á
morte.
Palavras-chave: Envelhecimento. Políticas Públicas. HIV/AIDS.
ABSTRACT
This work aims to evaluate the experience of older people with acquired
immunodeficiency syndrome (AIDS ) admitted to St. Joseph Hospital for Infectious
Diseases in Fortaleza Ceara . The stage of supervised practice in the institution in
question allowed the graduate attract attention to the issue of the elderly with HIV /
AIDS. Were used as inclusion and exclusion criteria from the age of sixty, be
admitted to the Hospital Saint Joseph, being in cognitive and emotional conditions ,
have newly diagnosed HIV / AIDS and agree to participate. What is observed is that
despite the AIDS epidemic be inserted in all layers of society, the number of cases in
the elderly has attracted the attention of several scholars of the case. The lack of
campaigns aimed at the elderly and late diagnosis are factors that expose the elderly
to contracting the disease . The increase in cases of infected elderly is increasing
becoming a challenge for the country to develop public policies aimed at this
population that can provide them with better quality of life . The data collection was
carried out through semi-structured interviews and covered a universe of five
respondents , through daily field and through observation, allowing the researcher to
observe the characteristics of the research field . The study found that the impact of
the diagnosis in elderly people surveyed was much more painful and traumatic than
the researcher believed , fear of disclosure to family members, the fear of prejudice
and abandonment by family and friends , lack of knowledge about the and disease
transmission and prevention were other factors that were evident reaffirming the
need for the state to develop prevention campaigns on HIV / AIDS for that specific
audience. The elderly feel guilty for exposing his wife and the elderly feel betrayed,
but do not let the partner and both share the same sentiment about to death .
Keywords: Aging. Public Policy. HIV/AIDS.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEP - Comitê de Ética e Pesquisa
DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis
HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana
HSJ - Hospital São José
IBGE - Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência
OMS - Organização Mundial de Saúde
ONG - Organizações Não Governamentais
SAME - Serviço de Arquivo e Estatística
SIDA - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
SUS - Sistema Único de Saúde
TCC - Trabalho de Conclusão de Curso
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
2. HISTÓRICO E CONTEXTO DO HIV/AIDS NO MUNDO E NO BRASIL...............14
2.1 Políticas de Saúde no Brasil e o HIV/AIDS.......................................................18
2.2 Envelhecimento X Aspectos Culturais.............................................................21
2.3 Envelhecimento X HIV/AIDS..............................................................................22
3. PERCURSO METODOLÓGICO............................................................................32
3.1 Tipo de Estudo....................................................................................................32
3.2 Campo do Estudo...............................................................................................34
3.3 Sujeitos do Estudo.............................................................................................36
3.4 Coleta e Análise dos Informações....................................................................37
3.5 Aspectos Éticos..................................................................................................38
4. ACHADOS DA PESQUISA....................................................................................39
4.1 Reações Diante do Diagnóstico........................................................................40
4.2 O Significado do Envelhecimento para o Idoso..............................................41
4.3 Ser Idoso e Estar com AIDS..............................................................................43
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................45
REFERÊNCIAS..........................................................................................................47
APÊNDICES..............................................................................................................53
11
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como referência a experiência de estágio
supervisionado no Serviço Social do Hospital São José de Doenças Infecciosas,
coml o qual a pesquisadora manteve os primeiros contatos com os idosos
portadores do vírus HIV/ AIDS, objetivando ampliar o universo do conhecimento
sobre essa temática especifica foi utilizado a pesquisa qualitativa por meio de
pesquisa de campo e bibliográfica. A coleta dos dados utilizou as técnicas de
observação direta e entrevista, já as análises dos dados coletados deu-se através do
discurso dos sujeitos que, segundo Lefevre, Crestana e Cornetta (2000), é a forma
de análise dos resultados da pesquisa qualitativa que tem as narrativas como
matéria-prima.
A AIDS está longe de atingir apenas os jovens. A epidemia de HIV/AIDS em
pessoas idosas no Brasil tem emergido como problema de saúde pública nos
últimos anos, devido a dois aspectos principais: incremento da notificação de
transmissão do HIV após os 60 anos de idade e envelhecimento de pessoas
infectadas pelo HIV. Portanto, nas pessoas com 50 ou mais anos de idade, observase tendência de crescimento da epidemia (BRASIL, 2007).
A epidemia da AIDS no Brasil tornou-se um grave problema de saúde pública.
Entre pessoas do sexo masculino acima de 50 anos, o aumento foi de 98% nos
últimos dez anos. Já nas mulheres acima de 60 anos a epidemia vem se alastrando
de forma grandiosa, havendo um acréscimo de 56,7% entre 1991 e 2001 (CALDAS,
GESSOLO, 2007).
A incidência de AIDS entre pessoas idosas no Brasil está em torno de 2,1%,
sendo a relação sexual a forma predominante de infecção pelo HIV. Há crescente
evidência de que esse grupo está se infectando também por outras DSTs, como
sífilis e gonorreia (BRASIL, 2010).
Atualmente, existem campanhas para prevenir doenças sexualmente
transmissíveis destinadas somente para adolescentes, jovens e adultos e raramente
aos idosos. Os governantes de todas as esferas do poder público esquecem que,
com o avanço da medicina e da farmacologia, nossos idosos estão vivendo cada vez
mais, e consequentemente possuem uma vida sexual muito mais ativa. Diante desta
evolução e com a falta de informações sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis -
12
DST, os idosos acabam se tornando um público vulnerável a contrair essas
doenças, em especial a AIDS.
Essa ampliação da AIDS entre os idosos pode estar diretamente ligada a uma
falha nos esforços de prevenção com este grupo de idade, a prevenção é algo muito
complexo, representando um desafio para as atuais políticas de saúde pública, já
que as campanhas de prevenção concentram-se sua atenção na população jovem.
Desta forma, direcionar campanhas para a faixa etária idosa é fundamental.
Segundo Cambruzzi e Lara (2012), as campanhas de prevenção da AIDS e
demais DSTs para os Idosos devem ser feitas em locais frequentados por essa
população, como centros de convivência, forrós de terceira idade, reuniões de
programas como o HiperDia (Programa Federal para Hipertenso e Diabéticos), além
de se utilizar uma linguagem adequada para tal finalidade.
Contudo, somente o conhecimento não é suficiente para mudar o
comportamento, de maneira que o indivíduo seja capaz de adotar práticas seguras,
a fim de evitar a infecção, mas é necessário enfocar aspectos socioculturais para se
reduzirem os riscos e as vulnerabilidades, já que na visão da sociedade a
concepção arraigada de que sexo é prerrogativa da juventude contribui para manter
desassistida essa parcela da população da terceira idade (ARONSON; BRITO;
SOUSA, 2006).
O trabalho está dividido em três capítulos, dos quais o primeiro traz o
referencial teórico, o contexto histórico do HIV/AIDS no Mundo e no Brasil, as
políticas de saúde e o HIV, os aspectos culturais do envelhecimento e o HIV. O
segundo trata do percurso metodológico, apresenta os sujeitos do estudo, o campo
onde foi feita a pesquisa e o tipo de estudo e o terceiro capítulo sobre o achado da
pesquisa, o significado da velhice para o idoso entrevistado, além de fazer a análise
do discurso e as considerações finais.
13
“[...]
Vírus
são
máquinas
Spinozianas, de forma alguma
racista ou chauvinista, e persistem
onde mais lhes convêm, sem
preferência de raça, cor, opção
sexual ou credo, como rezam as
legislações de todas as sociedades
e culturas. Ao que parece, apenas
os vírus cumprem à letra as
legislações antidiscriminação, já que
nós, humanos, não nos cansamos
de discriminar e estigmatizar uns aos
outros.”
Francisco Inácio Bastos, 2006
AIDS Na Terceira Década
14
2. HISTÓRICO E CONTEXTO DO HIV/AIDS NO MUNDO E NO BRASIL
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, popularmente conhecida como
AIDS, é uma doença que se manifesta progressivamente após a infecção pelo Vírus
da Imunodeficiência Humana (HIV). Esse vírus ataca diretamente as células de
defesa do organismo, mais precisamente os linfócitos T-CD4. Em decorrência da
diminuição dessas células no organismo, os indivíduos infectados tornam-se
imunodeprimidos, ou seja, o sistema de defesa do seu organismo mostra-se
deficiente e incapaz de defender-se adequadamente do ataque de microorganismos
invasores, ficando o soropositivo vulnerável às chamadas doenças oportunistas. As
formas de transmissão e contágio mais conhecidas são transfusão de sangue e
hemoderivados, contato com material perfuro-cortante contaminado, relações
sexuais e transmissão vertical (da mãe para o filho por meio do parto ou
amamentação) (BRASIL, 2007).
O primeiro caso de AIDS registrado no mundo foi no início da década de
1980. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, contudo, foi descrita em 1981. A
primeira vítima da doença foi a médica e pesquisadora dinamarquesa Margrethe P.
Rask, que faleceu em 12 de dezembro de 1977 de uma doença que a deteriorou
rapidamente. A AIDS foi, inicialmente, associada de forma estigmatizadora, a grupos
de risco, tais como homossexuais, prostitutas, dependentes químicos e hemofílicos,
localizados em grandes centros urbanos. O resultado desta associação foi
disseminar a falsa noção de que os que não pertenciam a estes grupos estariam a
salvo da AIDS. Além disso, reforçou preconceitos e estigmas vigentes contra
algumas minorias (SODELLI, 1999).
Na análise de Marcelo Sodelli, mestre em Psicologia da Educação pela
PUC/SP, com tese sobre a AIDS nas Escolas, com os primeiros casos de AIDS em
São Paulo e com o início de um programa estadual de mobilização, inaugurou-se o
que ele cita como primeira fase dos projetos de prevenção.
No final da década de 1970 e início da década de 1980, começam a surgir
nos Estados Unidos, Haiti e África Central os primeiros casos de uma doença que
seria definida como AIDS em 1982, quando se classificou a nova síndrome (Brasil,
2007). Era ainda uma doença misteriosa, cujas causas eram desconhecidas pelas
ciências médicas e o prognóstico era o pior possível – a morte.
15
Os primeiros casos da nova síndrome foram reconhecidos devido à
aglomeração de casos de Sarcoma de Kaposi e Pneumonia pelo Pneumocistis
Carinii em pacientes homossexuais masculinos, procedentes de grandes cidades
norte-americanas (Nova Iorque, Los Angeles e São Francisco). Muitos dos pacientes
inicialmente diagnosticados eram homossexuais, o que fez suspeitar que a doença
estivesse de alguma forma ligada a este estilo de vida (GAPA, 2007). Tratava-se
então de uma doença aparentemente ligada a uma conduta sexual, o
homossexualismo; e às classes sociais mais abastadas.
As primeiras notícias sobre a doença tiravam grande parte de suas
informações de publicações europeias e norte-americanas e anunciavam a
eminência da chegada da “peste gay” no país. As respostas eram fornecidas antes
mesmo de se ter notícia da confirmação do primeiro caso de AIDS no país, desse
modo, a epidemia de AIDS no Brasil precedeu a própria doença, criando com isso
um modelo ideológico de respostas (DANIEL, 1990).
Daniel e Parker (1990) referem a existência de três epidemias relacionadas à
AIDS. A primeira epidemia é a da infecção pelo HIV, que passa despercebida pela
sociedade. A segunda epidemia é a própria AIDS, o aparecimento das doenças
infecciosas que se instalam em função da imunodeficiência provocada pela infecção
do HIV. A terceira epidemia é a epidemia de reações sociais, culturais, econômicas
e políticas à AIDS. Ainda com relação aos aspectos sociais envolvendo o paciente
com HIV/AIDS, é preciso lembrar que a doença é, muitas vezes, acompanhada por
situações instáveis de vida, como pobreza, rejeição e problemas no trabalho. Sem
contar as impossibilidades e restrições às quais muitos pacientes acabam se
submetendo nos estágios avançados da doença, quando por vezes perdem até sua
independência física (RACHID, SCHECHTER, 2004).
É estimado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que em todo o mundo
cerca de 2,5 milhões de adultos e 1 milhão de crianças têm AIDS e que cerca de 30
milhões estão infectados com o HIV (SADOCK, SADOCK, 2007). A AIDS é a
principal causa de morte na África subsaariana, e a quarta causa no mundo todo
(LEWI et al., 2003). Diariamente mais de 6800 pessoas tornam-se infectadas pelo
HIV e mais de 5700 morrem de AIDS, na maioria das vezes, em função de acesso
inadequado à prevenção ou tratamento. Em 2007 2,1 milhões de pessoas morreram
de AIDS (UNAIDS, WHO, 2007).
16
Na América Latina, o Brasil é o país mais afetado pela epidemia de AIDS,
estima-se que cerca de 1,8 milhão de pessoas vivam com o HIV nessa região, e que
um terço delas encontra-se no Brasil. Cerca de 60% dos casos notificados são
associados a alguma forma de contato sexual (Dourado et al., 2006).
Pesquisas realizadas por Parker (1997) apontam quatro fases na história da
HIV/AIDS no Brasil, as quais, segundo o autor, cruzaram-se de inúmeras formas
com a história mais ampla da vida política no país. A primeira fase, que diz respeito
ao período compreendido entre meados da década de 1970 até 1982, caracterizada
como sendo a "pré-história" da AIDS no Brasil. A provável chegada do vírus da AIDS
no Brasil em meados da década de 1970, o fortalecimento e a intensificação de uma
pressão social por mudanças políticas no país, representada no campo da saúde
pelo movimento decorrente da reforma sanitária, e as articulações de forças
democráticas que ocuparam posteriormente importantes posições de poder,
essenciais na configuração da mudança da assistência à saúde no Brasil, foram os
fatores que, ao se articularem nesse período, estabeleceram o cenário inicial para a
construção das respostas políticas à epidemia.
A segunda fase foi no período de 1983 a 1986, propondo como elementos
norteadores as seguintes questões: reconhecimento da AIDS pelo público e
aumento de casos da infecção em diferentes estados brasileiros; instalação das
primeiras respostas oficiais à AIDS nos estados, tendo como exemplo pioneiro o
Programa Estadual de São Paulo; reconhecimento oficial da AIDS, pelo governo
brasileiro, como um problema de saúde pública, mas sem articular uma resposta
nacional de peso à epidemia e indo a reboque dos estados; e articulação das forças
sociais e políticas para pressionar o Estado e participar na construção de políticas à
HIV/AIDS.
A partir de 1982, os primeiros casos de AIDS começaram a ser oficialmente
reconhecidos em São Paulo e pouco mais tarde no Rio de Janeiro. Em 1983, dez
casos surgiram: quatro casos notificados à Secretaria da Saúde do Estado de São
Paulo e seis outros noticiados pela imprensa, mas não oficialmente comunicados. O
sistema formal de vigilância epidemiológica em relação à AIDS em âmbito nacional
iniciou suas atividades em agosto de 1985. Até janeiro de 1986, ou seja, apenas
cinco meses depois, já eram registrados 1.012 casos em vinte estados. Esses dados
apresentavam a realidade do rápido crescimento da epidemia no Brasil (INFORME
TÉCNICO, 1983; BRASIL, 1987).
17
Segundo dados do Ministério da Saúde (1998), com os estudos retroativos
produzidos no decorrer da evolução da AIDS no Brasil, em 1983 o estado de São
Paulo já contava de fato com 26 casos, número que continuou em franco
crescimento nos anos seguintes. Em 1985, quando centenas de casos de AIDS já
tinham sido detectados no Brasil, o Ministério da Saúde finalmente veio a público
reconhecer a gravidade do problema para a saúde pública brasileira. No dia 2 de
maio daquele mesmo ano, através da portaria nº 236, o ministro da Saúde criou o
Programa Nacional da AIDS e estabeleceu as primeiras diretrizes e normas para o
enfrentamento da epidemia no país, assumindo a AIDS como um problema
emergente de saúde pública1. A terceira fase, de 1987 a 1989, foi aquela em que o
Programa Nacional de AIDS foi realmente instalado e configurado. A coordenação
nacional centralizou as ações e afastou-se dos programas estaduais e Ongs. Estas,
por sua vez, fortaleceram-se ao longo dos anos e exerceram papel importante na
discussão e enfrentamento de questões importantes com o Programa Nacional.
Segundo Teixeira (1997, p. 59)
Em 1987, a articulação com o INAMPS, do Ministério da Previdência e
Assistência Social, torna-se efetiva e significa um apoio importante para as
atividades de prevenção, controle e assistência desenvolvidos pelo
Programa do Ministério da Saúde. Esta articulação certamente é
influenciada pelas decisões da VIII Conferência Nacional de Saúde,
realizada em 1986, onde são dados os primeiros passos em direção ao
Sistema Único de Saúde.
O período compreendido entre 1990 e 1992, no que diz respeito às ações
contra a AIDS, no Brasil, por parte do governo federal, é referido na historiografia
existente sobre o tema como um dos mais obscuros e desastrosos nesses mais de
vinte anos da política de saúde no que se refere à epidemia no país. O governo
Collor mostrou-se não apenas uma catástrofe nacional no aspecto político como
também na gerência da saúde pública. Especificamente em relação à AIDS,
executou estratégias marcadas pela incongruência e voluntarismo, atingindo o
Programa Nacional e sua evolução (Teixeira, 1997; Galvão, 2000; Camargo Júnior,
1999; Villela, 1999).
Camargo Júnior (1999, p. 234) define o período de 1990 a 1992 como sendo
o marco de "um interregno na trajetória das políticas públicas para o HIV/AIDS".
1
Portaria nº 236, de 2 de maio de 1985, publicada no Diário Oficial da União, Seção I. Segunda-feira,
6 de maio de 1985, p. 6856, assinada pelo ministro da Saúde, Carlos Corrêa de Meneses Sant'Anna.
18
Com a derrocada dessa gestão e, depois, do próprio presidente Fernando Collor,
houve uma reorganização e novas ocupações em postos na administração federal,
incluindo o Programa Nacional DST/AIDS. A fase que se seguiu foi vivenciada como
uma nova perspectiva política em relação à retomada dos princípios e diretrizes que
tinham caracterizado o combate à AIDS desde seu início: a cobrança e participação
dos grupos organizados, instituições e outras entidades ligadas à AIDS na
construção das ações governamentais ante a epidemia.
A fase final, de 1993 até o momento, entendemos como aquela em que os
acordos internacionais, principalmente aqueles com o Banco Mundial, firmados a
partir de 1993, passaram a ser os grandes mantenedores das ações programáticas
referentes ao confronto com o HIV/AIDS. Estabeleceram-se, nessa fase, maiores
recursos para a implementação de respostas e, ao mesmo tempo, a proposição de
aspectos mais econômicos do que sociais na linha norteadora da política nacional
contra a AIDS.
Segundo Galvão (2000), que realizou importante trabalho de análise sobre
esse período da última década do século XX na reconstrução e reestruturação do
combate à HIV/AIDS no Brasil sob a influência dos acordos com o Banco Mundial, a
ideia de um empréstimo desse banco ao país para atividades junto à epidemia
surgiu em 1992. A volta ao programa nacional da Dra. Lair Guerra na coordenação,
segundo a pesquisadora, foi decisiva para a condução das negociações com o
Banco Mundial. E a formação de uma equipe de especialistas de reconhecida
competência em diversas áreas deu credibilidade ao Programa Nacional e fortaleceu
a ideia de o Brasil ter um projeto inovador no enfrentamento da HIV/AIDS.
Para Parker (1999, p. 13),
Apesar da dimensão e do impacto da epidemia, e da significativa política de
resposta que ela gerou, poucos estudos tentaram examinar o
desenvolvimento de políticas e programas relacionados à AIDS no Brasil. O
HIV/AIDS em geral não conseguiu ser incluído na agenda de pesquisa
acadêmica relacionada à política social e de saúde pública no Brasil.
2.1 Políticas de Saúde no Brasil e o HIV/AIDS
No contexto da AIDS, considerando o conceito de políticas públicas oferecido
por Araújo e Sampaio (2006, p. 1), de que estas são "respostas a determinados
problemas sociais, formadas a partir das demandas e tensões geradas na
19
sociedade", pode-se compreender como a epidemia da AIDS tornou-se um relevante
alvo de políticas públicas, tendo em vista o grande impacto causado pela epidemia
na saúde pública. A AIDS também possui características significativas nesse
contexto, uma vez que, como apontam González e Saforcada (2006), os critérios
básicos para a justificação de uma política são o impacto econômico e social do
fenômeno, sua prevalência, a possibilidade de ser exercido economicamente e seus
critérios de ação.
Em 1986, foi criado o Programa Nacional de DST e AIDS - hoje, a
Coordenação Nacional de DST/AIDS -, com a incumbência institucional de
coordenar, elaborar normas técnicas e formular políticas públicas em sua área de
abrangência (SOLANO, 2000). Em 1988, foi criado o Sistema Único de Saúde
(SUS), e iniciou-se o fornecimento, pelo Ministério da Saúde, de medicamentos para
profilaxia e tratamento das infecções oportunistas, comuns às pessoas vivendo com
HIV/AIDS. Costa-Couto (2007) considera que as premissas do SUS de participação
e controle social, de integralidade da atenção à saúde e de universalidade do acesso
ao sistema foram vitais para a configuração das respostas à epidemia da AIDS no
Brasil.
O Programa Nacional de AIDS ao longo dos anos se fortaleceu e foi de
grande importância no enfrentamento da epidemia. Em suas origens, o programa
contou com uma rede complexa de atores governamentais e não governamentais.
Seu início traz as marcas da abertura política e da redemocratização, que criou
condições necessárias para a criação e consolidação de importantes políticas de
saúde, planejadas em conformidade com as necessidades da população
(NASCIMENTO, 2009).
Com essas medidas, houve avanços em relação ao combate ao HIV no país e
foram designados direitos às pessoas vivendo com o vírus. Foram estabelecidas
importantes leis federais de forte impacto, como a Lei n.º 7.649 de 1988, que obriga
o cadastramento dos doadores de sangue e a realização de exames laboratoriais no
material, com o intuito de prevenir a propagação de doenças; a Lei n.º 7.670 de
1988, a qual estende às pessoas vivendo com HIV benefícios referentes à licença
para tratamento de saúde, aposentadoria, reforma militar, FGTS e outros; e a Lei n.º
7.713 do mesmo ano, em seu art. 6º, inc. XIV, que isenta o portador do vírus HIV de
pagamento do imposto de renda sobre os proventos recebidos (BRASIL, 1995).
20
No entanto, em setembro de 1988, o governo federal anunciou a redução de
30% dos recursos destinados aos programas de AIDS, deixando o Programa
Nacional do Ministério da Saúde sem fundos suficientes para os medicamentos
básicos e a testagem do sangue. Em consequência disso, começou a surgir no
Brasil uma resposta crítica a esse quadro, havendo uma maior mobilização por parte
da população brasileira, principalmente através das ONGs (SOLANO, 2000).
Em 1992, ocorreu a reorganização do Programa Nacional de AIDS do
Ministério da Saúde e o estabelecimento de nova parceria com os ativistas do
movimento social. Foram criados pelo Ministério da Saúde, em 1993, os Serviços de
Atendimento Especializados (SAEs), com custos econômicos e sociais menores que
o atendimento hospitalar convencional.
Já em 1996, após ampla divulgação na mídia mundial da existência de novas
drogas, a terapia antirretroviral começou a ser oferecida gratuitamente aos cidadãos
brasileiros soropositivos. Atualmente, o país destaca-se com o maior programa de
oferta de medicamentos antirretrovirais2 do mundo, com cerca de 140 mil pessoas
vivendo com HIV/AIDS em tratamento, sem custo para os pacientes, e com
monitoramento clínico e laboratorial (REIS, 2006). Estima-se que no período entre
1996 e 2002 houve uma redução de 50% na mortalidade e de 70% da morbidade
dos casos de AIDS no país (Ministério da Saúde, 2007
Cabe ressaltar que em 1996, o então senador José Sarney foi responsável
por uma das ações mais revolucionárias no que diz respeito à AIDS. Por meio da lei
n.º 9.313/96 obriga a rede pública de saúde a oferecer gratuitamente os
medicamentos para as pessoas com HIV/AIDS. Apesar de no Brasil o acesso aos
antirretrovirais ser de acesso universal, as ações de prevenção ainda se encontram
longe de serem universais, principalmente, nas populações mais vulneráveis como
homossexuais, usuários de drogas, profissionais do sexo, populações que vivem nas
periferias, idosos, etc. Como afirma Bastos e Scwarcwald (2000), a vulnerabilidade
ao HIV/AIDS ainda é um marco para as diferentes abordagens, já que é impossível
promover a saúde sem antes garantir os mínimos sociais.
2
Os medicamentos antirretrovirais surgiram para impedir a multiplicação do vírus no organismo. Eles
não matam o HIV, mas ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico (BRASIL, 2011).
21
Outras estratégias importantes foram implantadas posteriormente, como a
disponibilização de medidas profiláticas para a prevenção da transmissão vertical do
HIV, mediante a Portaria n.º 2104, de 2002, ampliando as ações para todas as
gestantes; a política de vigilância com realização de estudos em grupos
populacionais específicos; as formulações particulares da redução de danos do uso
indevido de drogas injetáveis; a oferta gratuita de preservativos masculinos; e o
suporte diagnóstico, como os Centros de Testagem e Aconselhamento (FONSECA,
2005).
Marques (2002) considera que, diante da urgência do problema, as ações
tomadas pelo governo para responder à epidemia da AIDS foram pouco avaliadas,
apesar da tradição brasileira em fazer análises críticas das políticas públicas em
geral. Dessa forma, a análise da construção das respostas políticas frente ao
surgimento do vírus no Brasil constitui-se como um importante e vasto espaço de
considerações e pesquisa.
2.2 Envelhecimento x Aspectos Culturais
A cultura na linha simbólica é definida como “um padrão de significados
transmitidos historicamente, incorporados em símbolos, um sistema de concepções
herdadas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam,
perpetuam e desenvolvem seus conhecimentos e suas atividades em relação à vida”
(GEERTZ, 1989, p.103). O uso dos significados é próprio de toda sociedade, através
deles, os humanos organizam seus comportamentos, compreendem-se a si mesmos
e aos demais e dão sentido ao mundo. Esse sistema de significados constitui a sua
cultura.
A cultura norteia como as pessoas vivem, o que é comumente acreditado e
valorizado, bem como o modo como as pessoas procuram atender suas
necessidades na sociedade. O homem está invariavelmente em contato com o meio
que o cerca e, portanto, sofre influências constantes desse meio.
A cultura criou, na família e na sociedade, expectativas diferentes em relação
aos jovens e em relação aos velhos. Dos jovens, espera-se o desenvolvimento
intelectual-profissional e a exuberância sexual. Dos velhos, espera-se que abdiquem
da sexualidade, do trabalho e de atividades outras na sociedade (PETROIANU &
PIMENTA, 1998).
22
Por muito tempo, a população idosa sofreu e ainda continua sofrendo
discriminação por parte da sociedade. Como afirmava Beauvoir (1972), a população
mais idosa, o chamado grupo da minoria improdutiva, sempre teve seu destino
subordinado aos interesses da maioria ativa. Entretanto, uma visão mais distinta se
faz presente nas sociedades atuais. A ideia de uma visão mais positiva do
envelhecimento é resultado de vários fatores, dentre os quais, o crescimento
numérico da população idosa em todo o mundo, assim como o advento de estudos
antropológicos, que possibilitam uma visão privilegiada acerca do processo de
envelhecimento.
Estudos realizados em sociedades não ocidentais tornaram conhecidas
imagens bem mais positivas da velhice e do envelhecimento, interrogando a
universalidade da visão ocidental e mostrando que uma representação de velhice
enraizada nas ideias de deterioração e perda não é universal (UCHÔA, 2003).
A partir do momento em que se começou a conhecer o processo de
envelhecimento em distintas culturas e que se constatou a heterogeneidade das
formas de envelhecer, a velhice deixou de ser vista apenas como evento natural da
vida, para ser encarada como acontecimento densamente influenciado pela cultura.
O envelhecimento deixa, então, de ser visto como um estado ao qual os indivíduos
se submetem passivamente para ser encarado como um fenômeno biológico, ao
qual os indivíduos reagem a partir de suas referências pessoais e culturais (CORIN,
1985; MARSHALL, 1987).
O envelhecimento, ao mesmo tempo em que é processo “comum” a todos os
seres humanos, é também caracterizado pela individualidade de cada um, na
medida em que considera a experiência de vida, profundamente influenciada pela
cultura. Como já dizia Beauvoir (1970, p. 70): “a velhice só pode ser compreendida
na sua totalidade. Não representa somente um fato biológico, é também um fato
cultural”.
2.3 Envelhecimento x HIV/AIDS
É difícil caracterizar a pessoa idosa, devido às diferenças individuais e o
modo de vida de cada um, o que faz com que o processo de envelhecimento
23
aconteça de forma diferente em cada pessoa. A forma como cada pessoa envelhece
está determinada por suas condições subjetivas, incluindo-se aí a forma como foi
vivida sua história pessoal em todos os períodos da existência.
Pode-se dizer que o processo de envelhecimento é influenciado não apenas
pela idade, mas, em grande medida, pelo modo como o indivíduo vive. Para alguns
teóricos, a velhice fisiológica começa com o nascimento e só termina com a morte. O
envelhecimento é gradual e decorre de acontecimentos imperceptíveis que
transcorrem de modo muito lento Aderaldo (2003). O envelhecimento é um processo
individual, e chega de forma diferente para cada pessoa. A Organização Mundial da
Saúde e o IBGE consideram velhos aqueles que alcançam 60 anos de idade.
Na literatura especializada, há uma certa confusão no que diz respeito aos
termos relacionados a esse momento da vida. O dicionário da língua portuguesa
(LARROUSSE, 1987) informa que velhice é a condição de velho; velho é o homem
idoso; idoso é avançado em anos. A terceira idade corresponde à velhice.
Para Messy (1999) se o envelhecimento é o tempo da idade que avança, a
velhice é o da idade avançada, entenda-se, em relação à morte. No discurso atual, a
palavra envelhecimento é quase sempre usada no sentido restritivo e em lugar da
velhice. Por se tratar de uma etapa da vida de qualquer ser humano, a velhice nem
sempre foi encarada de forma natural. O ser humano deseja viver muito, mas
esquece de preparar o físico e a mente para envelhecer com qualidade. O idoso
deve ser visto na sociedade em todos os seus aspectos.
Desta forma, considera-se idosa uma pessoa com uma vivência traduzida em
muitos anos. Em geral, a literatura classifica, didaticamente, as pessoas acima de 60
anos como idosos e participantes da Terceira Idade. O processo de envelhecimento
apresenta variações que são constituídas culturalmente nos diferentes grupos
sociais de acordo com a visão de mundo compartilhada em práticas, crenças e
valores. A visão clínico-biológica não contempla essa perspectiva, ao diferenciar as
fases da vida em infância, juventude, fase adulta e velhice, seguindo uma ordenação
linear cronológica de transformações do corpo. Nesta sequência, ocorre uma
progressiva deteriorização das funções vitais, em que o envelhecimento é
caracterizado por um período de falência gradativa dos órgãos, agregado a
características como tristeza, abandono, desrespeito, exclusão dos meios de
produção, carências afetivas e materiais. Dessa forma, o envelhecimento natural foi
24
erroneamente caracterizado como um estado patológico, o que estimulou muito mais
a tentativa de combatê-lo que de entendê-lo.
O crescimento da população idosa no Brasil e no mundo encontra-se
presente nas estatísticas demográficas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) apontam que até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo em
número de idosos, o que corresponderá a 15% da população brasileira
(aproximadamente 30 milhões de pessoas), um número significativo que representa
um crescimento três vezes maior que a adulta (BRASIL, 2006).
Percebe-se uma tendência em rotular a velhice e restringir seu significado, o
que reforça o caráter estereotipado e preconceituoso. Nessa perspectiva, em janeiro
de 1994, foi criada a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842), que assegura os
direitos sociais da pessoa idosa, criando possibilidades de promover e garantir sua
autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. E no que diz respeito à
saúde, uma readequação da rede de serviços, para garantir acesso em diversos
níveis do SUS, além de surgir o desenvolvimento do turismo e lazer, assistência
social integrada ao idoso e outras modalidades (BRASIL, 1996).
Fenômeno importante vem ocorrendo e que pode ser percebido através dos
dados epidemiológicos ( BRASIL, 2011) é que o HIV/AIDS vem atingindo todas as
camadas da população, inclusive as pessoas idosas. Costuma-se pensar que a
pessoa idosa perde suas habilidades ao longo do tempo, torna-se incapaz de
desempenhar determinadas funções sozinhas. Para muitas pessoas, é difícil pensar
que as pessoas na terceira idade possam se relacionar com outra pessoa quanto
mais ter relações sexuais após os 60 anos de idade. A idade não dessexualiza o
indivíduo, a sociedade sim. O idoso pode e tem vida sexual, diferente, menos ativa,
mas tem.
A população idosa não está consciente da necessidade do uso de
preservativo em suas relações sexuais. Falta de informação sobre como usar o
preservativo e também o mito de que o preservativo pode prejudicar a ereção são
motivos pelos quais as pessoas idosas não aderem ao seu uso. “Muitos homens
temem perder a ereção e/ou não possuem habilidades para colocar o preservativo, e
acreditam que o cuidado só e necessário nas relações extraconjugais ou com
profissionais do sexo” (SILVA, 2012, p. 3).
Outro desafio é identificar a doença rapidamente. Como se trata de um
cenário novo, os profissionais de saúde não estão habituados a pensar em AIDS
25
como uma possibilidade de diagnóstico. O resultado é que não são poucos os casos
de pneumonias e diarréias tratadas como sintomas de qualquer outro problema,
menos AIDS. A mesma coisa ocorre com a demência, sinal de males típicos do
envelhecimento, como o mal de Alzheimer, mas também com chance de acontecer
com soropositivos.
A infecção pelo HIV é frequentemente diagnosticada no idoso apenas depois
de uma investigação extensa e por exclusão de outras doenças, o que atrasa o
diagnóstico e o tratamento. Em estudo realizado com pacientes idosos portadores
de HIV no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, observou-se um fato
complicador para o tratamento da doença nesta faixa etária: a demora no
diagnóstico (PRILIP, 2004).
Essas e outras razões fazem com que os indivíduos idosos fiquem expostos a
situações de vulnerabilidade ao HIV/AIDS. Além disso, o diagnóstico é feito
tardiamente nessa faixa etária. “Isto porque nem sempre sua vida sexual é
questionada nas consultas, predominando o mito de que são monogâmicos(as), têm
um ritmo sexual diminuído ou já não fazem sexo” (SILVA, 2012). Devido a isso o
tempo de sobrevida diminui, pois a medicação começa a ser administrada
tardiamente.
Apesar de os meios de comunicação divulgarem, no dia-a-dia, como o vírus
da AIDS é transmitido, ainda há muito preconceito por parte da sociedade para com
as pessoas que têm a doença. Na maioria das vezes, os portadores do vírus HIV
são excluídos da sociedade até mesmo pelos próprios familiares, por medo da
transmissão, o que não é diferente quando se trata dos idosos, uma vez que a
própria idade já os coloca vulneráveis à marginalização da sociedade, por suas
condições de senilidade.
Tem-se percebido mudanças no curso da epidemia de AIDS, e uma delas é o
aumento do número de casos entre idosos. Apesar disso, as informações quanto à
doença mostram que esses cidadãos ainda estão invisíveis no que diz respeito às
políticas públicas de prevenção. Embora não seja a faixa etária mais acometida pela
AIDS (BRASIL, 2006).
O envelhecimento da população brasileira, o aumento da sobrevida das
pessoas vivendo com HIV/AIDS e o acesso a medicamentos para distúrbios ou
disfunções eréteis, que prolongam a atividade sexual de idosos, certamente
colaboram para a maior incidência de casos em indivíduos com mais de 50 anos. O
26
Ministério da Saúde indica que somente 37,5% dos indivíduos sexualmente ativos,
com mais de 50 anos, fazem uso regular do preservativo com eventuais parceiros
(KALACHE, 1998).
No Brasil, a AIDS emergiu como um problema muito grave de Saúde Pública,
devido ao aumento da circulação do vírus na população geral. Dos casos registrados
da doença, 9% são de idosos, um perfil de notificação que vem aumentando e tem
como forma predominante de infecção a relação sexual. Alguns aspectos são
apontados para o aumento dos casos encontrados nessa população: o incremento
da notificação de infecção pelo HIV após os 60 anos de idade e o envelhecimento de
pessoas que vivem com o vírus (BRASIL, 2006).
Como já mencionado, os casos de infecção por HIV em idosos estão
relacionados, em sua maioria, à contaminação sexual, sendo maior a frequência em
heterossexuais. Como a sexualidade é um tema nem sempre fácil de ser abordado
nesse grupo etário, muitos idosos acabam não recebendo orientação necessária
sobre a importância do uso do preservativo. Como já citado, um fator de extrema
relevância é a resistência ao uso do preservativo por parte dos idosos, o qual se
deve a vários motivos, como o constrangimento para adquiri-lo, o desconhecimento
de como usar, o medo de perder a ereção efetiva e o conceito equivocado de que
serviria apenas para evitar gravidez. A doença torna-se mais complexa quando
atinge um idoso, que geralmente já sofre de outras patologias. Além disso, o HIV se
desenvolve mais rapidamente em pessoas da terceira idade, por possuírem
imunidade reduzida (BRASIL, 2006)
Em relação à AIDS, devido à problemática do envelhecimento passar por uma
questão cultural e de exclusão, há um grande desafio no enfrentamento da doença
nesta faixa etária. O preconceito e a dificuldade para se estabelecerem medidas
preventivas, especialmente no que se refere ao uso de preservativos, ainda são
mais graves que nos outros segmentos populacionais. O problema principal está
focalizado no tabu social relacionado ao sexo nessa idade, a partir do qual se
imagina uma dessexualização. Provavelmente por esta razão são elaboradas
poucas campanhas para esse público. Estudos revelam que o desejo sexual
permanece mesmo em pessoas mais idosas, dessa forma, instituir ações de
prevenção a DST e AIDS nesse público torna-se indispensável (RIBEIRO, 1996).
Outro fator que pode ser colaborador para essa disseminação, é a
sexualidade estereotipada que é produzida culturalmente na sociedade. Os
27
preconceitos de que a pessoa idosa não tem sexualidade, ainda é muito difundido.
Sendo que essa prática de sexo sem proteção e a falta de campanhas voltadas para
esse público específico que contribui para que cada vez mais a população idosa seja
inserida neste contexto (PARKER, 2000).
Para Gross (2005), a piora do estado imunológico que acompanha o
envelhecimento natural deixa o indivíduo de 60 anos ou mais bastante suscetível a
apresentar os quadros clínicos mais variados relacionados à infecção pelo HIV.
Representa um desafio para o médico a distinção entre a demência relacionada à
AIDS, mal de Parkinson e doença de Alzheimer, bem como a distinção entre a perda
de peso relacionada à síndrome de emaciação da AIDS e à diminuição do apetite
em quadros depressivos próprios da idade, as alterações dermatológicas, como
herpes zoster e a dermatite seborréica, tão frequentes nos idosos, entre outros.
Na maioria dos idosos, o diagnóstico da infecção pelo HIV é feito quando
procuram o tratamento para uma doença relacionada ao vírus (CDC, 2007).
Frequentemente, a ideia de que um paciente idoso possa ter contraído HIV será a
última possibilidade investigada, quando todas as opções restantes forem esgotadas
(OLDER PEOPLE, HIV AND AIDS, 2002). Porém, o fator de risco dominante entre
idosos é o mesmo que para os outros grupos de idade: os comportamentos de risco,
como sexo desprotegido, múltiplos parceiros sexuais, infecções sexualmente
transmissíveis e o uso de drogas injetáveis (IMPACT OF AIDS ON OLDER
POPULATION, 2002).
Quando se tem idoso em seu núcleo familiar, o que possibilita uma prática
das relações intergeracionais, e quando esse idoso apresenta problemas de saúde,
a relação fica bem mais complicada, ocasionando, muitas vezes, o abandono do
senil. A família é fator fundamental para o acolhimento dos idosos, ainda mais
quando este é portador do vírus HIV/AIDS, mas o que se observa é justamente o
contrário, são situações de abandono, negligência e maus tratos.
No Ceará, na última década, segundo dados do Boletim Epidemiológico
divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), os casos e a incidência entre
pessoas com 50 anos ou mais aumentaram. Enquanto em 2001, no Estado, foram
registradas 44 ocorrências da doença, no ano de 2012, este número subiu para 127,
um crescimento de 188,6%.
Segundo o médico infectologista e ex-diretor do HSJ, Anastácio Queiroz, a
AIDS, caracterizada por ser uma doença grave e considerada um dos maiores
28
problemas de saúde pública no Brasil e no mundo, torna-se ainda mais complexa
quando vem a acometer um idoso, tendo em vista que este, naturalmente, já sofre
com alguma outra patologia, como diabetes ou problemas reumáticos. "A AIDS
tende a se desenvolver mais rápido nos idosos. A imunidade acompanha o
envelhecimento da pessoa e, consequentemente, esta condição facilita que a
doença, de certo modo, apareça com maior gravidade", explica o especialista. Para
o infectologista, a realização de campanhas informativas é um dos caminhos mais
eficazes para se combater a AIDS na terceira idade. "Elas devem ter consciência de
como se proteger e resguardar a sua saúde", afirma.
"A doença é acompanhada de muito preconceito, pois é vinculada à
sexualidade. O idoso sofre duplamente, já que a sociedade ainda reluta em aceitar
que ele tenha vida sexual”. A incidência da AIDS entre essas pessoas se torna ainda
mais grave porque elas não foram acostumadas a usar preservativos, pensam que o
método é apenas para evitar gravidez, assim, relaxam no cuidado.
O médico acrescenta que a falta de hábitos relacionados à prevenção na
terceira idade aumenta as chances de contaminação. Infectados, os idosos precisam
enfrentar
os
sintomas
complexos
da
doença
e
também
o
preconceito,
principalmente, de familiares e amigos, já que a AIDS continua a ser bastante
estigmatizada pela sociedade. “Acredito que as campanhas devem também ter este
foco", destaca3. O HIV tem uma tendência de espalhar-se nas lacunas que brotam
em nossa sociedade afetando as populações menos favorecidas. É o caso da AIDS
em idosos, devido ao histórico da AIDS na faixa etária entre 20 e 40 anos, as
campanhas de prevenção no Brasil eram voltadas para esses grupos específicos
que eram considerados mais vulneráveis à infecção (PARKER, 2000).
Há uma falta de identificação do idoso com as campanhas de orientação e
prevenção da AIDS, as quais têm sempre como foco o jovem. Então, o idoso não se
considera como um doente em potencial (RIBEIRO, 1996). O tema se faz relevante
ao passo que as campanhas de prevenção contra o vírus da AIDS não têm os
idosos como alvo, sendo crucial esclarecer a terceira idade, a sociedade e
profissionais de saúde sobre o aumento do número de casos, medidas de prevenção
3
Diário do Nordeste - Cidades, 25.11.2013.
29
e controle dessa DST. Tal tema também se justifica pela necessidade de
desconstrução do estigma da terceira idade “assexuada”.
Segundo a UNAIDS (2005), a ampliação da AIDS entre os idosos pode estar
associada a uma falha nos esforços de prevenção com este grupo de idade.
Campanhas para a população idosa são fundamentais, mas somente o
conhecimento não é suficiente para mudar o comportamento para que o indivíduo
seja capaz de adotar práticas seguras, a fim de evitar a infecção. É necessário,
sobretudo, enfocar aspectos socioculturais para reduzir riscos e vulnerabilidades
(SALDANHA, 2006).
As poucas pesquisas realizadas sobre AIDS na terceira idade no Brasil
revelam que a maioria das contaminações por HIV é atribuída à forma de
transmissão sexual, seguida pelo uso de drogas. A comunidade usuária está
envelhecendo. A utilização de drogas ilícitas deve ser abertamente examinada, mas
o alcance nessa área de investigação é geralmente bem menor do que nos jovens
(ADERALDO, 2003, apud REICHEL ET AL., 2000).
O Programa Nacional de DST e AIDS realizou uma campanha, lançada no dia
1º de dezembro de 2008, como resposta ao aumento da incidência de HIV em
idosos, cujo objetivo foi despertar nos adultos maduros e idosos a importância do
uso do preservativo nas relações sexuais (SCHMID, 2009). A OMS (Organização
Mundial de Saúde) reconhece que o Brasil é um dos primeiros países a iniciar tais
políticas, devido ao aumento da incidência de AIDS.
Outra campanha foi lançada no dia 13 de fevereiro de 2009, pelo Ministério da
Saúde, para alertar aos idosos sobre os riscos de AIDS e outras DSTs no Carnaval
2009, com o slogan "Sexo não tem idade para acabar. Proteção também não". O
Ministério da Saúde sustenta que é preciso conscientizar as mulheres sobre
comportamentos de risco para o vírus HIV/AIDS, devido ao aumento da incidência
de AIDS nesse segmento (MASGRAU, 2009).
Campanhas de prevenção contra a AIDS em idosos devem ser organizadas,
para cumprimento do Artigo 10 do capítulo IV da Política Nacional do Idoso instituída
através da Lei n.º 8.842, de 04/11/94, que tem como objetivo proteger esse
segmento da população, garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis
de atendimento do Sistema Único de Saúde, além de prevenir, promover, proteger e
recuperar a saúde do idoso, mediante programas e medidas profiláticas (BRASIL,
2003).
30
A Campanha Clube dos Enta, de 2008, foi voltada para a população idosa a
fim de despertar nestes a importância do uso de preservativo nas relações sexuais e
dar dicas para melhorar o sexo na terceira idade. O slogan trouxe a mensagem
“Sexo não tem idade. Proteção também não”. Apresentando o seguinte texto:
“Nós somos do Clube dos Enta
É assim que a gente se cumprimenta
Gostamos de polenta... pimenta.
Mascamos chiclete... de menta
No sexo a gente nunca se aposenta
E com camisinha, a segurança aumenta.
Se você é como a gente, tem cinquenta, sessenta, setenta...
Mas também não aparenta.
Experimenta.
Minha mulher, quer dizer, a presidenta.
Sexo não tem idade. Proteção também não.”
O jingle da campanha trouxe:
Enta, Enta, Enta
É com orgulho que a gente se apresenta
Enta, Enta, Enta
O nosso clube se chama Clube dos Enta
Enta, Enta, Enta
Na cama a gente nunca se aposenta
Enta, Enta, Enta
A camisinha é a nossa ferramenta
Enta, Enta, Enta
As mulheres nos apóiam e a coisa esquenta
Se você tem cinquenta, sessenta, setenta
Use camisinha. Experimenta.
31
Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Cecília Meireles, in 'Poemas (1957)
32
3 PERCURSO METODOLÓGICO
3.1 Tipo de Estudo
A abordagem do referido estudo é de natureza qualitativa. Nesse sentido,
busca-se dar visibilidade e conhecer os sentimentos, percepções, crenças, valores e
consequências vividas pelos idosos portadores do vírus HIV/AIDS, internados no
Hospital São José. Diante de uma nova realidade do diagnóstico de HIV/AIDS.
Segundo Richardson (2007, p. 79), a abordagem qualitativa de um problema
é a forma mais adequada para entender a natureza de um fenômeno social. É a
partir dela que podemos compreender detalhadamente os significados e as
características situacionais demonstradas pelos sujeitos do estudo.
Ainda sobre abordagem de natureza qualitativa afirma Minayo (2010) que se
aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das
percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a
respeito de como vivem, constroem seus artefatos e pensam.
A pesquisa tem caráter exploratório e descritivo, já que por meio dela se
propõe conhecer alguns aspectos da vida dos sujeitos pesquisados, realizando
também uma descrição objetiva de tais aspectos. É de natureza empírica. Os dados
foram coletados através de contatos com os próprios sujeitos. Dando suporte teórico
ao estudo, realizou-se pesquisa bibliográfica, a qual segundo Fogliatto (2007) reúne
ideias oriundas de diferentes fontes. Visando construir uma nova teoria ou uma nova
forma de apresentação para um assunto já conhecido e documental. Estas ajudaram
a consolidar todo o processo de conhecimento da realidade pesquisada.
A pesquisa semiestruturada possibilita ao entrevistado um espaço maior para
que possa discorrer sobre suas experiências, não o limitando em seus relatos,
apenas direcionando o assunto a partir do foco da pesquisa. Este é um tipo de
entrevista em que além de permitir à entrevista respostas livres, valoriza a atuação
do pesquisador. Segundo Triviños (1987, p. 146):
Entrevista semiestruturada é aquela que parte de certos questionamentos
básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa e que,
em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, junto de novas
hipóteses que vão surgindo à medida que recebem as respostas do
informante. Desta maneira o informante, seguindo espontaneamente linha
de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal
33
colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo
da pesquisa.
A entrevista semiestruturada constou de um roteiro de perguntas abertas e
fechadas. Para Minayo “Suas qualidades consistem em enumerar de forma mais
abrangente possível as questões que o pesquisador quer abordar no campo, a partir
de suas hipóteses ou pressupostos, advindos, obviamente, da definição do objeto de
investigação” (2000, p. 121).
A entrevista, de acordo com Haguette (1995), consiste em um processo de
interação social, pro meio do qual o entrevistador possui o objetivo de coletar
informações dos sujeitos da pesquisa, utilizando para tanto um roteiro com tópicos
que cercam os problemas levantados para a pesquisa, assim como os objetivos e
traçados.
O período para a coleta dos dados da pesquisa ocorreu entre os meses de
Outubro e Novembro de 2014. A aproximação com os sujeitos foi mediada pela
Assistente Social da unidade no intuito de convidá-los para participar da pesquisa.
Os participantes eram convidados a dirigir-se à sala de Serviço Social devidamente
autorizada e cedida pela chefe do setor através de assinatura do termo de fiel
depositário, (Apêndice A). Aqueles que não tiveram condições de se deslocar do
leito foram entrevistados na própria enfermaria resguardando a privacidade. Os
sujeitos foram esclarecidos sobre os objetivos do estudo em questão, assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (apêndice C) e concederam a
entrevista.
O diário de campo foi instrumento utilizado a todo momento do processo para
anotar observações de forma aprofundada, para registrar o máximo possível de
aspectos observados. No momento exato e foram transformados posteriormente em
relatos, englobando aspectos descritivos, reflexivos e comentários pessoais.
A pesquisa segue a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996), a qual trata e
regulamenta as diretrizes e normas que envolvem pesquisas com seres humanos. O
ingresso na instituição se deu mediante apresentação do projeto de pesquisa para
análise do Comitê de Ética, sendo submetida à avaliação e aprovação. O estudo
teve como objetivo produzir elementos para a monografia de conclusão do curso em
Serviço Social da Faculdade Cearense.
34
Obedecendo ao que preconiza a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde que aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo
seres humanos, foi assegurado o sigilo das informações dadas pelos sujeitos que
aceitaram participar da pesquisa, bem como a possibilidade de desistirem a
qualquer momento ou de se recusarem a responder a algum questionamento.
A elaboração da pesquisa teve como ferramenta embasadora, material já
publicado sobre o tema; livros, artigos científicos, publicações periódicas e materiais
na Internet disponíveis nos seguintes bancos de dados: DATASUS, SCIELO,
MINISTÉRIO DA SAÚDE, BIREME, dentre outros.
Algumas etapas e procedimentos do trabalho de conclusão de curso (TCC)
foram realizados na organização do material, na qual se busca a identificação
preliminar bibliográfica, fichamento de resumo, análise e interpretação dos dados,
bibliografia, revisão e relatório final. Dos resultados obtidos poderão ser construído
um conhecimento critico da realidade em questão.
3.2 Campo do Estudo
O Hospital escolhido para realização do estudo foi o Hospital São José de
Doenças Infecciosas que é uma Instituição com personalidade jurídica de Direito
Público, pertencente ao Estado, vinculado à Secretaria da Saúde do Estado do
Ceará, com sede no município de Fortaleza. Funciona como referência em doenças
infecciosas no Estado do Ceará e integra a rede SUS. Foi criado pela Lei n.º 9.387
de 31 de julho de 1970, tendo começado a funcionar já em 31 de março do mesmo
ano. Seu corpo funcional é composto de 700 servidores. A unidade tem área
construída de mais de 5mil m² e uma capacidade de internamento em 115 leitos e 8
leitos de UTI.
O Hospital presta atendimento ambulatorial e internação para doenças
infecciosas; atendimento ambulatorial multidisciplinar, Hospital Dia aos pacientes
portadores do HIV e atua como campo de treinamento e aperfeiçoamento em
doenças infecciosas para estudantes, profissionais e pesquisadores.
Com a denominação de Hospital São José de Doenças Transmissíveis
Agudas, o HSJ tinha, na época da inauguração, o Dr. Lúcio Gonçalo de Alcântara
como diretor. Desde sua criação, foi dirigido por oito diretores: Dr. Lúcio Gonçalo de
Alcântara (primeiro diretor dirigiu o HSJ de 5 de outubro de 1970 a 22 de março de
35
1971); Dr. Valdenor Benevides Magalhães; Dr. Antonio Maia Pinto; Dra. Evangelina
Maria Pompeu Roberto; Dra. Maria Airtes Vitorino e Dr. Anastácio de Queiroz Sousa
(três gestões) e agora está sob a direção do infectologista Dr. Roberto da Justa.
O HSJ nasceu da necessidade de construir uma unidade que agregasse as
doenças transmissíveis, daí hospital de isolamento. Assim se passaram os primeiros
10 anos de sua história, internando pacientes portadores de doenças muito comuns
na época (coqueluche, sarampo, difteria, tétano neonatal, hepatites), mas que
começaram a diminuir com o advento das vacinas.
No início dos anos 80, veio a AIDS e com ela o preconceito. O HSJ soube
bem acolher esse público e por muitos anos foi se consolidando como a única
unidade de saúde a atender pacientes soropositivos para o HIV no Ceará. A política
de humanização implantada, o desenvolvimento tecnológico e o preparo dos
profissionais tornaram o HSJ mais acolhedor e unidade de excelente padrão, de
reconhecimento nacional.
Com 43 anos de história, o Hospital São José funciona como referência em
doenças infecciosas no Estado do Ceará, integrante da rede SUS - Sistema Único
de Saúde. Tem como missão prestar assistência qualificada e humanizada em
doenças infecciosas, sendo instituição de ensino e pesquisa e como visão ser um
centro de excelência internacionalmente reconhecido em doenças infecciosas. Preza
ainda por valores organizacionais como a humanização; democracia e excelência na
gestão; ética e equidade no atendimento; responsabilidade socioambiental;
pontualidade; compromisso com o ensino; cooperação nas relações de trabalho;
aprendizado contínuo e credibilidade institucional.
O HSJ conta com uma equipe interdisciplinar composta por médicos,
enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, dentista, pediatra, serviço social que tem
como missão valorizar a vida do usuário, promovendo a dignidade humana e sua
cidadania. Sua visão é ser um serviço social hospitalar de excelência no
atendimento humanizado, ensino e pesquisa. Considerando o conceito de saúde
para além da cura da doença, enquanto bem-estar físico, mental e social, o Serviço
Social implementa a política de saúde baseada nos princípios do Sistema Único de
Saúde (SUS): universalidade, equidade, integralidade e participação popular.
36
3.3 Sujeitos do Estudo
Os sujeitos da pesquisa são pessoas com mais de 60 anos internados no
Hospital São José de Doenças Infecciosas, com diagnóstico recente de
soropositividade, que estão em condições cognitivas e emocionais para participar do
estudo.
Para este estudo, foi utilizada a definição de idoso citada na Lei n.º 8842/94,
Art. 2º, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso: “considera-se idoso, para os
efeitos desta lei, a pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos” (BRASIL,
1996, p. 12277).
A amostra do estudo não foi representada em termos numéricos; ela foi
composta à medida que os dados/informações se repetiam no discurso dos
participantes. Foram entrevistados cinco idosos com idade entre 60 e 80 anos, três
homens e duas mulheres, com diagnóstico de no máximo um mês. Todos eles
casados com filhos e compartilhando a mesma teoria de que não sabem como e
quando contraíram o vírus. Na pesquisa qualitativa, quando há saturação das
informações, ou seja, repetição de dados semelhantes, define-se o número de
sujeitos investigados.
Foram Sujeitos da Pesquisa:
Sr. Francisco (60 anos), casado, morador de Fortaleza, pai de uma filha,
cursou ensino médio completo, é músico, possui renda familiar de três salários
mínimos.
Sr. José (70 anos), casado, morador de Fortaleza, pai de cinco filhos, avô de
7 netos, aposentado com renda familiar de dois salários mínimos, ensino
fundamental incompleto.
Sr. Manoel (80 anos), casado, mora na zona rural de Horizonte, recebe um
salário mínimo de Benefício de Prestação Continuada (BPC) 4, não alfabetizado, pai
de dois filhos.
4
Benefício de Prestação Continuada. “É um benefício individual, não vitalício e intransferível, que
assegura a transferência mensal de um salário mínimo ao idoso, com 65 anos ou mais, que
comprove não possuir meios de garantir o próprio sustento, nem tê-lo provido por sua família e sendo
a
renda
familiar
per
capita
inferior
a
1⁄4
do
salário
mínimo”.
Disponível
em:<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc/>. Acesso em: 26 jul. 2014.
37
Sra. Maria Ivone (64 anos), casada, ensino fundamental incompleto, mãe de
cinco filhos, doméstica, renda familiar de dois salários mínimos, mora em Fortaleza.
Sra. Solange (68 anos), casada, dona de casa, dois filhos, um neto, não
alfabetizada, renda familiar de um salário mínimo, mora em Caucaia- CE.
Ao traçar o perfil dos pesquisados percebemos que a maioria deles está
inserida num contexto de vulnerabilidade social, com baixa ou nenhuma
escolaridade e rendimento familiar em torno de um salário mínimo, o que irá dificultar
a convivência com o HIV/AIDS, o autocuidado e alimentação.
3.4 Coleta de Dados e Análise das Informações
O estudo buscou embasamento em pesquisas que destacam os aspectos
biopsicossociais no processo de envelhecimento, a vulnerabilidade do adoecimento
e da doença. A pesquisa foi submetida ao CEP (Comitê de Ética e Pesquisa) do
Hospital São José de Doenças Infecciosas através da Plataforma Brasil como
requisito de exigência para análise e autorização para a realização da pesquisa, o
que dificultou bastante o andamento do processo de construção do trabalho devido a
demora em ser autorizado para que se iniciasse as entrevistas.
As entrevistas duraram em média 30 minutos com roteiro contendo perguntas
abertas, abordando primeiro os dados pessoais e, em seguida os questionamentos
sobre as percepções e os significados que atribuem as suas experiências.
Percebe-se, no momento das entrevistas, que o impacto do diagnóstico
positivo é carregado de sentimentos intensos e angustiantes em que o desejo de
morte se fez presente. A reação dos idosos despertou na pesquisadora desconforto
em alguns momentos, principalmente quando estes choravam desesperadamente e
apertavam sua mão como forma de que ela lhes desse uma palavra de conforto,
uma explicação para o ocorrido, uma situação de desconforto para ambas as parte.
A análise dos dados procurou explicar os dados estudados e a interpretação
procurou ampliar o significado do estudo. “A importância dos dados está não em si
mesmos, mas em proporcionarem respostas à investigação”. Marconi e Lakatos
(2007, p. 169). Para Gil (1999) a análise e a interpretação estão na pesquisa
estreitamente relacionadas, sendo que:
38
A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que
possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para
investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido
mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros
conhecimento anteriores obtidos.
3.5 Aspectos Éticos
Os aspectos éticos foram respeitados em todo o percurso desta pesquisa.
Primeiramente, foi encaminhado ofício para solicitação do campo de pesquisa ao
Diretor Geral do Hospital onde foi desenvolvido o estudo. Enviado termo de fiel
depositário para os setores do Serviço de Arquivo e Estatística (SAME) e do Serviço
Social (Apêndices A e B). Foi encaminhado o projeto ao Comitê de Ética e Pesquisa
(CEP) do referido Hospital. Após aprovação pelo Comitê de Ética, foi dado início às
entrevistas junto aos idosos.
Esse processo de avaliação do projeto pelo CEP dificultou bastante o
andamento das pesquisas, o atraso levou a pesquisadora em vários momentos a
pensar em desistir da temática e mudar o foco da pesquisa, a aprovação se deu
após a pesquisadora enviar email para a coordenadora do referido comitê,
indagando sobre a forma como estava sendo conduzido o processo, e, só após esse
contato, o projeto, então, foi aprovado. Esse atraso é um dos fatores que levam
muitos pesquisadores a não desenvolver pesquisas na área da saúde.
Inicialmente, foi explicado ao idoso os objetivos do estudo, convidando-o a
participar do mesmo. Após o idoso ter aceitado participar da pesquisa, foi pedido
consentimento para gravar as entrevistas. Aos que manifestaram desejo de
colaborar com a pesquisa, foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice C). O documento foi lido em conjunto com o idoso, sendo
que, durante a leitura, buscou-se esclarecer todas as dúvidas, bem como garantir o
direito ao mesmo, da desistência em qualquer etapa do estudo.
O sigilo e o anonimato foram assegurados aos participantes do estudo, sendo
respeitado o artigo 35, da Resolução n.º 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde. Após a assinatura do Termo de Consentimento deu-se início a
entrevista através do roteiro de entrevista (Apêndice D).
Daremos início às análises da pesquisa, discutindo sobre a temática do
envelhecimento e HIV/AIDS a partir das falas dos idosos abordados.
39
4 ACHADOS DA PESQUISA
No período em que ocorreram as entrevistas, a pesquisa foi tomando novo
foco, estávamos em duvida quanto ao tema da monografia, não sabíamos se seria
com idosos que envelheceram com o vírus da AIDS ou se com idosos recémdiagnosticados com a doença. E por coincidência ou não os que deram entrada no
hospital no período estipulado para a pesquisa foram justamente idosos com
diagnóstico recente do HIV.
Outro acontecimento mudou os rumos da pesquisa, desde o início já estava
determinado que iríamos dar nomes fictícios aos sujeitos entrevistados. Quando
realizamos a primeira entrevista, deparamo-nos com um senhor fragilizado,
relatando-nos sua história de vida de maneira tão confiante, mas, ao mesmo tempo,
tão perdido quanto ao seu futuro e de sua família, que a partir daquele instante
decidimos que ele merecia, sim, um lugar de destaque em nossa pesquisa, então
para que pudéssemos sempre nos recordar daquele sujeito. De maneira
inconsciente aquele senhor nos fez perceber que escolhemos a profissão certa, que
estamos fazendo exatamente o que gostamos. Vamos usar devidamente
autorizados por eles seus verdadeiros nomes, o que vem tornar mais real a
pesquisa. Foram eles os senhores Francisco, 60 anos; José, 70 anos; Manoel, 80
anos, D. Maria Ivone, 64 anos e D. Solange, 68 anos.
De acordo com Mesquita (2008), a AIDS é uma doença que envolve toda a
família, sendo necessário discutir acerca da sua propagação pelo mundo. Os
impactos decorrentes da descoberta do vírus são sentidos não apenas pela pessoa
infectada, mas por todos que estão à sua volta, afetando as atividades diárias do
individuo infectado, os relacionamentos familiares, afetivos e sociais.
A abordagem do tema não foi fácil, tratar com idosos sobre questões tão
pessoais causou desconforto tanto para eles como para a própria pesquisadora. Por
isso, eles foram estimulados a falar sobre o tema livremente, apenas cabendo à
pesquisadora direcionar a entrevista para o foco principal.
Foram levantados questionamentos sobre vínculos familiares, preconceito e
perspectivas futuras, ao qual cada um deles demonstraram percepções e
perspectivas distintas, principalmente em relação ao futuro, ficando evidente a
preocupação com a família e o medo do que está por vir.
40
4.1 Reações Diante do Diagnóstico
Nessa categoria, aparecem reações diversas por parte dos entrevistados,
reações negativas diante do diagnóstico; reações positivas e reação de neutralidade
ou indiferença ao diagnóstico. A maioria deles reagiram de forma negativa, com
revolta em suas falas, medo, muito sofrimento em falar sobre o assunto, já para D.
Maria Ivone o diagnóstico positivo para HIV/AIDS tornou os laços da família mais
unidos, os filhos estão mais presente e atentos a ela e a seu esposo que também é
um idoso, mas que fez os testes e o resultado foi negativo para HIV. Em destaque a
fala da idosa sobre o diagnóstico;
“Pra mim, saber que estou com essa doença não foi ruim não, agora minhas
filhas estão cuidando de mim e do meu velho (sic), coisa que antes ninguém
fazia, to aqui no hospital porque to com pneumonia, o doutor me disse que
daqui pra frente tenho que tomar os remédios direitinhos pra não adoecer e
que se fizer tudo direitinho vou viver muito ainda. Por isso não to
preocupada não viu” (D Maria Ivone, 64 anos)
Em seu relato, D. Maria Ivone deixa claro que o apoio da família foi
fundamental nesse momento difícil, pois seu maior medo era do abandono dos
filhos. Ficar sem ter os filhos por perto para ela seria pior do que o próprio
diagnóstico, inclusive, no momento da entrevista, ela quis que a filha que a
acompanhava participasse da entrevista. O esposo também chegou no momento da
visita, não mudou em nada o comportamento dela, uma situação de total apoio à
idosa mesmo.
Quanto à concepção do abandono, o dicionário Aurélio a define como sendo,
“Ação de deixar uma coisa, uma pessoa, uma função, um lugar: abandono da
família; abandono do posto; abandono do lar./ Esquecimento, renúncia: abandono
de si mesmo”.
“Estou com medo de dizer a elas que estou com essa doença infame, não
sei quando peguei isso, faz tanto tempo que não me relaciono fora de casa,
nunca pensei que um dia ia passar por isso. (choro e soluço). Acho que
quando eu sair daqui vou direto morar numa casinha que tenho no meio do
mato e esperar a morte, pois, sei que elas nunca vão me aceitar em casa
mesmo (choro e revolta)” (Sr. Francisco, 60 anos).
Fica bem claro o medo do abandono por parte dos familiares na fala do Sr.
Francisco quando relata que tem uma boa relação com a esposa e a filha, inclusive
41
esta é que esteve o tempo todo com ele durante o período de internação, pois sua
esposa também é uma pessoa idosa com mobilidade reduzida, não podendo
acompanhá-lo nesse momento. “O que vai ser de mim agora velho e doente, ainda
por cima sozinho, pois sei que elas vão me deixar, nem tanto pela minha mulher,
mas minha filha, eu tenho certeza que não vai aceitar isso não” (choro e agitação)
(Sr. Francisco, 60 anos).
O Sr. Francisco faleceu dez dias após essa entrevista, ficou muito deprimido e
revoltado com o diagnóstico não aceitando fazer o tratamento, dizia que preferia
morrer a viver com a doença e enfrentar os familiares. Sua esposa foi conduzida a
realizar o teste rápido e ficou chocada ao ter a confirmação de também ser
soropositiva.
O Sr. Manoel, de 80 anos, se mostrou indiferente ao diagnóstico, estava meio
confuso nas respostas, parecia não se tratar dele, falava como se estivesse falando
de outra pessoa. Algumas pessoas negam que possa estar acontecendo consigo.
“Essa doença dos infernos, a gente pega sentando no lugar dos outros, é
uma doença que mata a gente, não tem jeito não, minha filha. Agora tu
pensa bem, nem abri minha mercearia que é o sonho da minha vida e já
vou morrer desse troço, tu devia abrir uma mercearia pra tu também, ia ver
como ganha dinheiro.”
Enquanto que em outro relato as reações de resignação foram muito
marcantes nas falas de D. Solange, 68 anos.
“Fazer o quê mulher, não tem por que me descabelar mais, agora é só ter fé
em Deus, tomar os remédios direitinho, cuidar da vida, quem sabe o que tá
preparado pra nós né, só aquele lá de cima pra saber mesmo viu, o que tem
que ser será, não tem jeito. Se a gente tomar o remédio direitinho a gente
dura é muito viu”
As reações do diagnóstico são diversas. Descobrir que é portador do vírus
HIV muda a vida, o relacionamento consigo mesmo e com as outras pessoas. O
desafio é como continuar a viver.
4.2 O Significado do Envelhecimento para o Idoso
É evidente que com o passar da idade qualquer sujeito se defronta
radicalmente com a possibilidade da morte, com a diminuição real de suas
42
perspectivas e com os efeitos que isso produz na sua relação com o passado. Esta
condição se materializa de formas múltiplas, dentre as quais a sensação de perda
da força física para a realização de coisas que se fazia anteriormente de forma
automática, perda das insígnias de beleza e do poder de sedução (FREUD S.,
1968).
Para o Sr. Francisco, 60 anos, falar sobre a velhice foi muito difícil, ele não se
vê como idoso, por não ser aposentado ainda, para ele idoso é aquela pessoa que
não consegue mais trabalhar, ele é músico, uma pessoa que se diz ativo, por isso
mesmo a revolta em descobrir o diagnóstico, tem medo de não poder mais fazer
shows, pensa em como será a vida da esposa e da filha depois que souberem de
seu diagnóstico, pois elas dependem financeiramente dele.
Eu era muito danado quando era moço, saía pra fazer show e pegava geral,
acho que tenho essa doença desde esse tempo, será? Mas faz muito tempo
que não pego mais ninguém, não é por que sou velho não viu, é por que
deixei de gostar dessas coisas, minha filha cresceu e tenho medo das
pessoas falar pra ela. Ainda tinha muita lenha pra queimar, se não fosse
essa doença agora (choro) (Sr. Francisco, 60 anos).
O sentimento de perda é grande e torna-se devastador na medida em que a
pessoa toma cada vez mais consciência das implicações do fato de estar
contaminado pelo vírus da AIDS.
Segundo relata um das entrevistadas (Solange, 68 anos) a velhice é ótima
mas a saúde comprometida agora vai ser um empecilho para o desempenho das
atividades diárias. Vejamos no relato dela sobre esse problema.
Muita gente acha ruim estar velha, eu não, eu gosto, ando no ônibus e nem
pago passagem, fazia minhas coisas tudinho em casa, meu velho até me
ajuda como pode, mas agora sei não viu, como vai ser daqui pra frente.
(choro).
Por enquanto não me sinto velha, ainda sinto vontade de trabalhar, sei que
não vou poder por causa da minha saúde (D. Maria Ivone, 64 anos).
Ser velho é não ter mais força pra fazer nada do que fazia antes. Mas pra
não ficar velho tem de morrer moço e isso ninguém quer né? (Sr José, 70
anos).
Velho é o mundo, tô velho, mas não tô morto não viu, ainda quero abrir
minha mercearia antes de morrer, quem morre é besta e eu sou é muito do
sabido. Risos. (Sr Francisco, 80 anos).
É importante reconhecer que o envelhecimento não é uma fase na qual o
idoso se torna incapaz, restando-lhe apenas aguardar com passividade o fim de sua
43
vida, mas que esse é um processo natural a qual todos nós passaremos, sendo
assim, precisamos romper com essa visão passiva da velhice.
4.3 Ser Idoso e Estar com AIDS
Receber má notícia é difícil. Ser idoso e receber notícia de estar com AIDS é
mais difícil ainda. Cada pessoa é diferente e tem reações próprias. Alguns idosos
deste estudo, quando questionados sobre sua percepção sobre a AIDS, se referiram
a ela como de sentimentos de dor, sofrimento, medo, tristeza, rejeição, morte e
preconceito.
Se na juventude já deve ser difícil de lidar com isso, veja lá na minha idade,
depois de velho. tenho é vergonha dos outros saber que tenho essa
doença. Eu mesmo antes, se soubesse que alguém tinha, ficava era bem
longe viu (Sr. Francisco, 60 anos).
Na fala do Sr Francisco, percebemos o preconceito que ele próprio tem da
doença, por isso tanto medo da rejeição por parte da família. Afirma ainda que essa
doença na velhice é pior, devido o idoso já ser mais frágil: “Na minha idade, essa
doença é pior ainda, é a doença do diabo, vem pra acabar com a gente, o velho já é
maltratado, agora é que vai ser pior mesmo, pensa aí minha filha, eu passando na
rua e o povo falando assim: lá vai o aidético. Ô vergonha danada” (Sr. Manoel, 80
anos).
O medo do abandono pela família e por amigos é grande. Isso torna o
sofrimento mais intenso. As barreiras deste isolamento são resistentes e, as vezes,
reforçados pelo próprio doente, como atesta a fala reproduzida a seguir: “A AIDS
não pega com beijo não, nem com abraço, o médico me disse que agora toda vez
que eu for namorar (risos), tem que usar camisinha, gostar não gosto não, mas tem
que pensar em minha veia né?” (Sr. José, 70 anos).
Na fala do Sr. José, fica claro que ele tem conhecimento sobre a importância
do uso do preservativo, mas, que, por ser incômodo, prefere não usar. E é
justamente o que ocorre, os idosos preferem não usar o preservativo por não ter
facilidade em manusear ou por medo de perder a ereção e acabam não utilizando do
mesmo, se expondo a riscos de contrair doenças.
44
A AIDS independe da idade, mas, particularmente para os idosos, é algo que
causa dor, exclusão, morte, sofrimento, tristeza, rejeição e preconceito. Os sujeitos
afirmam que essa doença na velhice é pior, devido à condição em que a pessoa
idosa se encontra, muitas vezes fragilizada e mais vulnerável, sendo, portanto, uma
doença muito temida e que eles não desejam nem para si próprios nem para seus
familiares.
O Sr. Manoel, assim como o Sr. Francisco tiveram complicações vindo a
falecer dias após as entrevistas. Obrigada pela contribuição, por partilhar de suas
dores e de seus sentimentos, desejamos que descansem em paz.
45
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como cresce o número de anos da expectativa de vida da população
no Mundo e no Brasil, cresce também o número de infecções pelo HIV/AIDS em
idosos. Como modo de prestar maior atendimento a esses idosos e seus familiares
se faz necessário desenvolver estudos como este para que possa contribuir para a
melhoria da qualidade de vida desses indivíduos.
Por meio da análise dos dados e de materiais e estudos já publicados,
percebemos que as pessoas idosas e portadoras do vírus HIV/AIDS sofrem
duplamente, por medo da reação dos familiares e do abandono por parte destes e
dos amigos.
Percebemos também que entre os idosos entrevistados há em comum o fato
de desconhecerem quando e como contraíram o vírus e a falta de conhecimento de
campanhas voltadas a eles sobre a importância da prevenção. Todos eles dizem
não fazer uso de preservativo, por razões diversas, desde a falta de habilidade em
manusear até o medo da falta de ereção.
Quanto à questão do preconceito, este não pôde ser percebido nas
entrevistas ainda,
uma vez que os sujeitos foram diagnosticados muito
recentemente. A principal preocupação era, de fato, a reação dos familiares. Sabese que a AIDS é uma doença não só de aspecto fisiológico, mas que afeta
diretamente as relações familiares e sociais dos indivíduos infectados.
Apesar das implantações de Políticas Públicas de Saúde no Brasil para a
população idosa significarem um grande avanço, os direitos não são garantidos
como deveriam ser principalmente nas políticas públicas em HIV/AIDS.
A ausência de políticas públicas de prevenção ao vírus e de assistência ao
portador do HIV nessa faixa etária se configura como sendo uma realidade
preocupante. Assim como a falta de abordagem preventiva com esse público
favoreça que o diagnóstico não seja feito ou que seja tardio, favorecendo o
surgimento de novos casos.
É
de
fundamental
importância
que
estudos
sobre
a
temática
do
envelhecimento com HIV/AIDS sejam desenvolvidos e aprofundados afim de que
tomem visibilidade e que novas políticas possam ser desenvolvidas e as que já
existem sejam devidamente implementadas para dar respostas a essa que é uma
realidade presente em nossa sociedade.
46
É necessário que haja ampliação de campanhas de prevenção do HIV/AIDS
para que contemplem também os idosos e não somente os jovens, utilizando uma
linguagem adequada para que estes possam compreender e aderir aos meios de
prevenção de DSTs e AIDS.
O HIV/AIDS tem ampla repercussão que atinge não somente o paciente, mas
também todo o contexto sociofamiliar deixando de ser somente um problema
médico, mas também social, econômico, psicológico e político, o que requer todo um
aparato de uma equipe interdisciplinar, proporcionando aos sujeitos um atendimento
mais humanizado, principalmente em se tratando dos idosos que já sofrem o
preconceito da idade avançada.
Nesse contexto, a arma para enfrentarmos o avanço AIDS é através da
prevenção, esclarecendo a sociedade sobre os aspectos relacionados á doença e as
formas de transmissão. Esse tem sido um dos desafios enfrentados pelos
profissionais do Serviço Social, implementando ações que visam não somente o
controle da doença, mas também a garantia de uma assistência digna para os
portadores da síndrome.
47
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53
APÊNDICES
APÊNDICE A - Termo de Fiel Depositário
TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO
Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, passa a Sra.
Tatiana Pedrosa, Chefe do Serviço Social, a ser depositário dos documentos
consubstanciados nas FICHAS DOS PACIENTES da instituição HOSPITAL SÃO JOSÉ DE
DOENÇAS INFECCIOSAS, situado à RUA NESTOR BARBOSA 315, PARQUELÂNDIA,
FORTALEZA-CE.
Após
ter
tomado
conhecimento
do
protocolo
de
pesquisa
ENVELHECIMENTO E HIV/AIDS: Aspectos Psicossociais do Diagnóstico em pacientes
Idosos Internados no Hospital São José de Doenças Infecciosa, que tem como objetivo
Compreender a vivência dos idosos com síndrome da imunodeficiência humana adquirida
(AIDS) vem, na melhor forma de direito, AUTORIZAR PESQUISADOR RESPONSÁVEL:
CLAUDIA ANDRADE DE SOUZA, RG,2007730982-5, ESTUDANTE DE SERVIÇO SOCIAL,
ENDEREÇO: RUA WASHINGTON DE MORAIS, 404, LAGOA REDONDA, FORTALEZA-CE
a coletar dados para instrumentalização do protocolo de pesquisa no período de Outubro a
dezembro de 2014 e utilizar a sala do serviço social para aplicação da pesquisa aos idosos,
ficando este responsável, solidariamente, pela guarda e custódia dos dados e informações
que receberam do depositário, resguardando os direitos assegurados pela resolução nº 196
de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, em especial:
1) Garantia da privacidade, da confidencialidade, do anonimato e da não utilização das
informações em prejuízo dos envolvidos ou de terceiros;
2) Emprego dos dados somente para fins previstos nesta pesquisa.
Fica claro que o fiel depositário pode, a qualquer momento, retirar sua
AUTORIZAÇÃO e ciente de que todas as informações prestadas tornar-se-ão
confidenciais e guardadas por força de sigilo profissional do pesquisador
responsável.
Nome e CRESS.
Fortaleza, ____ de ______________ de _______
54
APÊNDICE B - Termo de Fiel Depositário
TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, a Sra. Francisca
Lisieth Fernandes Costa, RG. 10154011, gerente do SAME (Serviço de Arquivo
e Estatística), depositário dos documentos consubstanciados nos PRONTUÁRIOS
DOS
PACIENTES
da
instituição
HOSPITAL
SÃO
JOSÉ
DE
DOENÇAS
INFECCIOSAS, situado à RUA NESTOR BARBOSA 315, PARQUELÂNDIA,
FORTALEZA-CE. Após ter tomado conhecimento do protocolo de pesquisa
ENVELHECIMENTO E HIV/AIDS: Aspectos psicossociais do Diagnóstico em
pacientes idosos internados no Hospital São José de Doenças Infecciosas em
Fortaleza-CE, o qual tem como objetivo Compreender a vivência dos idosos com
síndrome da imunodeficiência humana adquirida (AIDS), na melhor forma de direito,
AUTORIZAR PESQUISADOR RESPONSÁVEL: CLAUDIA ANDRADE DE SOUZA,
RG,2007730982-5 ESTUDANTE DE SERVIÇO SOCIAL, RUA WASHINGTON DE
MORAIS, 404, LAGOA REDONDA, FORTALEZA-CE a coletar dados para
instrumentalização do protocolo de pesquisa no período de outubro à dezembro de
2014, ficando este responsável solidariamente, pela guarda e custódia dos dados e
informações que receberam do depositário, resguardando os direitos assegurados
pela resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde,
em especial:
1) Garantia da privacidade, da confidencialidade, do anonimato e da não
utilização das informações em prejuízo dos envolvidos ou de terceiros;
2) Emprego dos dados somente para fins previstos nesta pesquisa.
Fica claro que o fiel depositário pode, a qualquer momento, retirar sua
AUTORIZAÇÃO e ciente de que todas as informações prestadas tornar-se-ão
confidenciais e guardadas por força de sigilo profissional do pesquisador
responsável.
Assinatura
Fortaleza, ____ de ______________ de _______
55
APÊNDICE C – Termo de Consentimento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
Convidamos o Sr.(a) para participar da pesquisa “Envelhecimento e
HIV/AIDS: Aspectos Psicossociais do Diagnóstico em Idosos Internados no hospital
São José de Doenças Infecciosas”, sob execução das pesquisadoras Mariana
Aderaldo (responsável) e Claudia Andrade de Souza (participante), a qual pretende
investigar quais os sentimentos e consequências vividos por homens e mulheres
que se encontram na condição de idosos e são portadores do vírus HIV/AIDS
internados na Instituição
Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevistas, que consiste
em respostas a perguntas apresentadas ao Sr.(a) pelo pesquisador. A entrevista
será realizada na sala 2 do Serviço Social, com duração de aproximadamente 20 a
30 minutos, dependendo da sua disponibilidade. Os depoimentos serão gravados
com o seu consentimento.
Os riscos decorrentes da sua participação poderão ser de caráter emocional
podendo oferecer sofrimento ao relatar histórias de sua vida, o Sr.(a) possui a
liberdade de retirar a sua permissão a qualquer momento, seja antes, seja depois da
coleta dos dados, independente dos motivos e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e
nem ao seu atendimento na instituição.
Caso aceite participar estará contribuindo para com o presente projeto.
Ressaltamos que tem o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os
resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, será
comunicado dos resultados finais, caso tenha interesse.
Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo.
Não havendo também qualquer compensação financeira relacionada à sua
participação. Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados
somente para esta pesquisa. Os resultados serão analisados e caso venha ser
publicado sua identidade será preservada, sendo guardada em sigilo.
Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o
esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados
coletados com a entrevista: Mariana Aderaldo e Claudia Andrade pelo fone: (85)
8189-4085 ou através do e-mail: [email protected].
56
Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa
também pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
São José de Doenças Infecciosas, no endereço: Rua Nestor Barbosa, 315
Parquelândia, Fortaleza-CE. CEP 60455-60, pelo telefone (85) 3452-7880 ou
através do e-mail: [email protected].
Assinatura do participante
Polegar direito
Data _____/______/______.
Assinatura do pesquisador responsável.
______________________________________________________________
Assinatura do pesquisador principal
57
APÊNDICE D – Roteiro de Entrevista
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
I.
Dados de identificação e contextualização do Sujeito:
Entrevista nº --------Codinome:
Idade:
Sexo:
Estado Civil:
Naturalidade:
Escolaridade:
Profissão:
II.
Questões norteadoras para a realização da entrevista:
1- Quando se fala em HIV/AIDS o que vem a sua cabeça?
2- Fale sobre sua relação familiar, de como era antes do diagnóstico e se mudou
após o mesmo.
3- Como a AIDS entrou na sua vida?
4- Fale sobre sua perspectiva em relação ao futuro.
5- Você já sofreu discriminação pela sua condição de soropositivo? Caso
positivo, relate o ocorrido.
6- Você acha que existe campanhas de prevenção do HIV voltadas para o idoso
ou falta informações necessárias para esclarecer esse público especifico.
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