CAUSA: do léxico à sintaxe - IEL

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‘Causa’: do léxico à sintaxe
Maria José FOLTRAN (UFPR-CNPq)
Teresa Cristina WACHOWICZ (UFPR)
0. Introdução
Este trabalho tem como objetivo analisar a informação lexical de causa e suas
implicações semânticas e sintáticas, o que significa investigar qual é a estrutura
semântico-lexical (em que ‘causa’ se inclui) que projeta estrutura sintática. Como
objetivo mais amplo, investigaremos desdobramentos da informação aspectual e
temática do verbo que provocam estruturas correspondentes.
Partiremos de um pressuposto básico de que a informação de causa é uma
categoria semântica que pode ser observada em fenômenos lingüísticos variados. Nos
termos de Song & Wolf (2003), a causa é “multiestrutural”: em (1), está no léxico
verbal; em (2), numa estrutura perifrástica com verbo leve; em (3), numa frase
complexa com articulador causal1:
(1) João matou Pedro.
(2) João fez Pedro morrer.
(3) Pedro morreu porque João o matou.
A tradição teórica com preocupação lexical, orientada à decomposição de
predicados, e em última instância herdeira da vertente da semântica gerativa das
décadas de 60 e 70 ((McCawley 1968, Lakoff 1970), apud Dowty 1979), defende
relação estrutural entre (1) e (2): ambas são diferentes estágios de derivação de uma
mesma estrutura semântica subjacente. No inglês, isso fica evidenciado por um verbo
‘to cause’ (5), cujo correlato no português brasileiro (PB) seleciona evento
nominalizado (6):
(4) John killed Bill.
(5) John caused Bill to die.
(6) João causou a morte de Pedro.
Neste trabalho, em função dos limites espaciais e temporais desta exposição,
concentraremos nossa atenção nas estruturas monosentenciais em que a informação de
‘causa’ está pressuposta no léxico. Defenderemos a hipótese de que essa informação é
de natureza aspectual e está em verbos com estrutura temporal complexa,
nomeadamente accomplishments e achievements de tipos específicos (Tenny 1994).
Como conseqüência imediata da análise, apontaremos para a informação de ‘mudança
de estado’, pressuposta igualmente em algumas dessas estruturas. Informação de ‘causa’
e ‘mudança de estado’, em detrimento de ‘telicidade’, estão dispostas em uma estrutura
semântica, que, por isso mesmo, projeta sintaxe.
Defenderemos igualmente que há uma hierarquia temática paralela presente no
léxico verbal (Grimshaw 1990, 2005), que também projeta sintaxe e pode justificar
alguns fenômenos relacionados sobretudo a verbos psicológicos e estativos (Cançado
1
A causa certamente ganha desdobramentos textuais e discursivos se forem tomados como objeto de
análise estruturas textuais do tipo argumentação (Adam 1992) que pressuponham raciocínios de prova por
eventos relacionados causalmente. Nosso objetivo aqui não chega a essas dimensões tão ousadas, por isso
mesmo improdutivas.
2
1995) – que de alguma forma não contêm a estrutura temporal complexa sinalizada
acima.
Na primeira seção deste trabalho, traçaremos um percurso histórico, na
modelação de duas tradições: uma temática (Fillmore 1968, Dowty 1991, Cançado
2003), que aponta a informação temática como pertinente à estrutura; e outra léxicoaspectual (Dowty 1979, Pustejovsky 1991), que traduz a grosso modo a decomposição
do predicado temporalmente complexo para os operadores CAUSE2 e BECOME, bem
como trabalhos que apontam o aspecto como a informação pertinente do léxico para a
projeção sintática (Tenny 1994, Grimshaw 2005). Há ainda trabalhos que conciliam
informação aspectual e temática (Van Valey 2003, Grimshaw 1990). Na segunda seção
do trabalho, faremos a análise de sentenças com verbos do PB, percorrendo verbos
causativos, accomplishments e achievements de naturezas variadas (Tenny 1994), até
verbos de experiência psicológica e estativos. A análise defenderá a necessidade de um
duplo tratamento hierárquico – aspectual e temático – para dar conta desse leque
amplificado de dados.
1. As teorias lexicais: papel temático e aspecto.
Uma incursão por teorias em semântica lexical com interesse em
desdobramentos sintáticos aponta para uma situação teórica pelo menos esquizofrênica.
Ora se assume que as informações subjacentes ao léxico são temáticas, ora que são
aspectuais. Wechsler 1995 traça um panorama dos modelos alternativos para o que ele
designa como tratamento da ‘estrutura temática’ relacionada à sintaxe. Há três modelos:
a) o de papéis temáticos, classificados como agente, instrumento, paciente, etc.; b) o da
decomposição de predicados, traduzidos para estruturas que contêm operadores básicos
do tipo CAUSE e BECOME; c) o que enxerga o significado lexical ainda como um
ambiente sintático. Esta última vertente abarcaria a tradição teórica de uma sintaxe
dentro da morfologia verbal (Hale & Keiser 2002). Para o que nos interessa neste
trabalho, exploraremos, seguindo orientação análoga à de Wechsler, as duas primeiras
vertentes, utilizando exemplos de evidente complexidade morfológica como dados de
suporte.
1.1. As teorias de papel temático.
A noção intuitiva de papéis temáticos é a de participação dos indivíduos em uma
dada situação. Essas informações não carregam nenhum pressuposto temporal, e dizem
respeito apenas aos papéis que os participantes exercem nos eventos do mundo.
A motivação inicial para o tratamento temático remonta a Panini, um gramático
indiano localizado entre os séculos 600 e 300 a.C. (Robins 1983, Wechsler 1995). Em
sua gramática do sânscrito, as representações semânticas de uma sentença convertem-se
em representações fonéticas através de dois níveis intermediários: o nível das relações
karaka, de papéis semânticos de participantes, e o nível morfossintático. As regras
gramaticais mapeiam, então, as relações semânticas nas relações morfossintáticas.
Em motivações teórico-históricas mais recentes, ((Gruber 1965, Fillmore 1968)
apud Wechsler 1995), entre outros revisitam a preocupação milenar de Panini no
argumento de que posições sintáticas não são suficientes para explicar as estruturas
sentenciais. Quer dizer, as noções de sujeito e objeto não dão conta, por exemplo, de
alternativas de análise de alternâncias como a causativa, em (7) (Cançado 2003):
2
No corpo deste trabalho, adotaremos a notação ‘causa’ para a noção semântica de causa, e a notação
CAUSE para o operador que traduz significado lexical. Paralelamente, a noção de ‘mudança de estado’
tem o correlato formal BECOME.
3
(7) a. João abriu a porta com a chave.
b. A porta abriu.
c. A chave abriu a porta.
Alguma informação semântica sobre o sujeito e sobre o objeto faz-se necessária
para explicar a diátese, nomeadamente as suas propriedades semânticas. Fillmore, em
1968, nomeava-os como ‘casos’, mas a literatura subseqüente desenvolve uma extensa
proliferação de termos associados à rotulação temática: agente, instrumento,
paciente/afetado, objetivo/estativo, experienciador, locativo, etc. Obviamente, a análise
de sentenças de orientações semânticas diferentes motivou o inchaço da nomenclatura3.
As sentenças em (7) precisam das noções de agente, paciente e instrumento, ao passo
que sentenças em (8) precisam das de experienciador e locativo, respectivamente:
(8) a. João tem uma namorada.
b. João mora em Brasília.
Foi Fillmore mesmo quem também propôs a idéia da hierarquia temática, que
associaria a ordem dos papéis à posição sintática do sujeito: Se houver um agente, ele
vai para a posição de sujeito; do contrário, se houver um instrumento, ele será o sujeito;
no caso de não haver nem agente ou instrumento, o caso ‘objetivo’ ocupará esta posição
(Wechsler : 8). É justamente essa formulação que fundamenta as estruturas relacionadas
em (7).
Mas como tratar estruturas em que uma posição sintática parece receber mais de
um papel temático (9)4, em que Beth pode ser o agente, o beneficiário (do carro) e a
fonte (do dinheiro)? Ou outras em que o mesmo papel temático pode recair sobre mais
de uma posição, como o caso dos predicados simétricos (10), em que João e Maria são
agentes no evento de casar5?
(9) Beth comprou o carro da Ana por $500,00.
(10) João e Maria se casaram.
Guiado pelas mesmas motivações, Dowty 1991 inaugura uma outra tradição nos
estudos sobre papéis temáticos. De um lado, o autor propõe um tratamento mais enxuto
para os papéis, redimensionando a proliferação de rótulos na tradição de Gruber e
Fillmore para apenas dois proto-papéis: o proto-papel de agente e o proto-papel de
paciente. De outro lado, o autor se utiliza da noção de categoria prototípica de Rosch
2004, e propõe propriedades semânticas subjacentes aos proto-papéis, que são checados
através de acarretamentos verbais e que sofreriam combinatórias para a posterior
atribuição temática na dependência composicional da sentença. Ou seja, se as
propriedades semânticas dos proto-papéis estão listadados em (11), a sentença (12) teria
3
Dowty 1991 refere um curioso trabalho, de Blake 1930, que propõe 87 papéis temporais e locativos e
mais 26 outros de outra natureza.
4
Exemplo traduzido para o português de Jackendoff 1990: “Beth bought the car from Ann for $500”.
Essa discussão se justifica a partir do diálogo com a gramática gerativa, nomeadamente Chomsky 1981,
que postula um Critério de Atribuição θ (ou de unicidade de papel temático), traduzido
aproximadamente para: Para cada posição argumental, há um e somente um papel-θ ; e um papel-θ
pode ser atribuído a uma só posição argumental.
5
A ambiguidade nas sentenças com verbos simétricos (Ilari et al 2002, Carlson 1998, Godoi 2008,
Gonzalez 2008) é a seguinte: ou João e Maria se casaram entre si, ou cada um casou com seu par. De uma
forma ou de outra, há dupla atribuição de agente, o que motivou Carlson 1998 a postular a hipótese de
que o papel temático é recurso semântico de individuação de eventos, no lema de que, se há dois agentes,
há dois eventos: TWO AGENTS, TWO EVENTS.
4
um sujeito prototipicamente agente, pois seleciona todas as suas propriedades previstas,
ao passo que em (13) o sujeito não seria prototipicamente agente, pois a propriedade (c)
não é selecionada. O mesmo raciocínio pode ser desenvolvido em relação aos objetos e
seu papel de paciente.
(11) a. Para o proto-agente:
a) tem envolvimento volicional no evento
b) tem ‘sentience’ (ou controle) (ou percepção)
c) causa um evento de mudança de estado de outro participante
d) tem movimento (relativamente à posição de outro participante)
(existe independentemente do evento nomeado pelo verbo)
b. Para o proto-paciente:
a) submete-se a mudança de estado
b) é tema incremental
c) é afetado causalmente por outro participante
d) está estacionário relativamente a outro participante
(não existe independentemente do evento)
(11)
a. João assassinou Pedro.
b. João casou com Maria.
Dowty também mantém a idéia de que as propriedades semânticas de natureza
temática têm implicações sintáticas. Seu Princípio de Seleção Argumental agora
considera também projeção para a posição de objeto direto: “Em predicados com sujeito
e objeto gramaticais, o argumento para o qual o predicado acarreta o maior número de
propriedades de proto-agente será lexicalizado como o sujeito do predicado; o
argumento que tem o maior número de propriedades de proto-paciente será lexicalizado
como como objeto direto” (p. 576). Outros dois corolários dão conta da dupla atribuição
temática (como os verbos simétricos) e de argumentos preposicionados: 1. Se dois
argumentos de uma relação têm um número igual de acarretamentos de proto-agente e
proto-paciente, então ambos podem ser lexicalizados como sujeito e objeto,
respectivamente. 2. Em um predicado de três lugares, o argumento são-sujeito contendo
o maior número de propriedades de proto-paciente será lexicalizado como objeto direto,
e o argumento não-sujeito contendo o menor número de propriedades de proto-paciente
será um objeto oblíquo ou preposicionado. Todo o jogo de atribuição, é importante
ressaltar, tem a natureza ‘fuzzy’, não-discreta, da atribuição temática motivada
composicionalmente.
A teoria de Dowty teve desdobramentos na análise de diversas línguas. Cançado
2002, 2003, em estudo versado para os verbos do português brasileiro, mantém a idéia
de atribuição temática composicional através de propriedades semânticas, porém
desqualificando a sua categoria ‘fuzzy’. Suas propriedades se resumem a quatro:
desencadeador (D), afetado (A), estativo (E) e controle (C) – este último podendo
combinar-se com qualquer uma das outras três. Logo, a hierarquia temática compõe-se
da seguinte seqüência: DC > C > AC > A > EC > E, guardadas as primeiras atribuições
à posição de sujeito e as seguintes à posição de objeto.
Das teorias de papéis temáticos esboçadas acima, ficam pressupostos importantes
no que se refere ao encaminhamento deste trabalho: há propriedades semânticas –
atômicas ou em combinatória fuzzy - que são projetadas na estrutura sintática. A
propriedade da ‘causa’, esboçada nas propriedades de proto-agente de Dowty e
5
subentendida na propriedade de ‘desencadeador’, de Cançado, sugere uma direta relação
com ‘mudança de estado’ ou ‘afetação’, respectivamente. E ambas, ‘causa’ e ‘mudança
de estado’, sugerem um pressuposto de complexidade temporal, obviamente não
considerada na tradição Panini-Dowty. Acreditamos que a associação entre as
propriedades temáticas e as temporais, na tradição aspectual de Vendler-Dowty, à la
Grimshaw 1990, dão pistas produtivas ao tratamento da interface léxico-sintaxe. A
próxima seção deste trabalho ficará com a história das teorias de aspecto lexical e o
operador CAUSE nele subentendido.
1.2. As teorias de aspecto lexical
As teorias de aspecto lexical herdam o raciocínio da estruturação do significado
lexical dos tratamentos decomposicionais, que defendem relações básicas de significado
pressupostas no léxico. Nessa tradição, podemos observar duas vertentes mais fortes: as
teorias de orientação localística e as teorias de decomposição aspectual.
O tratamento localístico trata dessas relações lexicais como extensões
metafóricas de relações locativas. Para Jackendoff 1992, por exemplo, há categorias
semânticas universais – ou conceitos - que representariam o significado das sentenças:
evento, estado, coisa material (ou objeto), trajetória, lugar e propriedade. Para o que nos
interessa mais diretamente aqui, a representação das sentenças em (13a), com estrutura
inacusativa, e (14a), com estrutura causativa, seria (13b) e (14b), em que a categoria
INCH (ou mudança de estado) é uma função que mapeia um estado em um evento, ao
passo que CAUSE mapeia um evento em outro evento maior:
(12)
a. A piscina esvaziou.
b. [evento INCH([estado BEident ([coisa PISCINA], [lugar AT ([propriedade EMPTY])])])]
(13)
a. João esvaziou a piscina.
b. [evento CAUSE ([coisa JOHN], [evento INCH([estado BEident ([coisa PISCINA], [lugar AT
([propriedade EMPTY])])])]
Uma sentença estativa (15a), em detrimento de uma eventiva como (14a), teria
tradução em (15b), emq eu o operador BE tem rotulação locativa:
(14)
a. O carro está na garagem.
b. [estado BEloc ([coisa CARRO], [lugar IN ([coisa GARAGEM])])])]
Em uma perspectiva localística, então, a diferença entre estado e evento é só
uma questão do tipo de categoria semântica que atua na representação. Não há
preocupação com estrutura temporal, muito menos com a interface com a sintaxe.
No entanto, na mesma linha de decomposição de significado, a tradição teórica
inaugurada por Dowty 1979, e baseada nas categorias de esquemas temporais de
Vendler 1967, redimensiona a decomposição para uma representação aspectual dos
verbos. A preocupação de Vendler é filosófica e de alguma forma intenciona representar
estados de coisas do mundo, sem refinamento lingüístico: o aspecto de um verbo seria
‘the particular way in which that verb pressuposes and involves the notion of time’
(Vendler 1967: 97). Assim, as categorias de verbos estados, atividade, accomplishment
e achievement representam num certo sentido uma ontologia de eventos do mundo, com
pressuposição temporal.
Foi Dowty 1979 (efetivamente motivado pela preocupação lexicalista da
semântica gerativa) quem introduziu na lingüística a conhecida análise das classes
6
vendlerianas. Se as classes pressupõem esquemas temporais denotados no léxico, esses
esquemas ganham tradução para operadores sobre seus argumentos. E essas categorias
internas ao léxico verbal estariam igualmente projetadas no significado das sentenças. O
autor defende uma opção reducionista, em que o estado seria uma classe primitiva e as
outras seriam estruturas lógicas que operariam sobre o estado: “The idea is that the
different aspectual properties of the various kinds of verbs can be explained by
postulating a single homogeneous class of predicates – stative predicates – plus three or
four sentential operators and connectives. (...) These aspectual operators and
connectives are treated as logical constants – a standard model-theoretic interpretation is
to be given for each – and the stative predicates are non-logical constants” (p. 71).
Assim, se α é uma variável de indivíduo (João) e π é uma variável de
sentença (ser alto, pintar algo, agredir alguém,...), os estados ficam traduzidos pela
fórmula π (α ) (16), as atividade ficam traduzidas para o operador DO, que pressupõe
um sujeito agente, na fórmula DO(α , π (α )) (17), os achievements ficam traduzidos
para o operador BECOME, que pressupõe mudança de estado, na fórmula
BECOME(π (α )) (18), e os accomplishments ficam traduzidos para o a combinação
desses operadores com o operador CAUSE, que toma duas proposições como
argumentos: o processo e a mudança de estado, na fórmula [[DO(α , π (α ))] CAUSE
[BECOME (π (α ))]] (19)6:
(16) João é alto : π (α )
(17) João corre : DO(α , π (α ))
(18) João morreu : BECOME(π (α ))
(19) João pintou o quadro: [[DO(α , π (α ))] CAUSE [BECOME(π (α ))]]
Logo, os verbos accomplishments seriam os que teriam a propriedades da
CAUSE em seu significado. Tomemos um predicado accomplishment do tipo pintar o
quadro. Um evento causativo como João pintou o quadro decomposto em dois
subeventos deve ser interpretado como o João fez algo (primeiro subevento, ou A) que,
por sua vez, fez com que o quadro ficasse pronto (segundo subevento ou B). Esse é o
tipo de análise bissentencial dos eventos causativos que também caracteriza os
accomplishments e que vai servir de base para a grande maioria dos trabalhos que
seguem essa tradição.
Dowty teve inúmeros e frutíferos desdobramentos na literatura lingüística. Para
ilustrar um conjunto mínimo de trabalhos – que não desmerecem os não-citados aqui –
podemos listar os seguintes: Krifka 1992, 1998, Zucchi 1999, Rappaport & Levin 1988,
Pustejovsky 1991, Zucchi & White 2001, Rothstein 2004, etc.
Pincelando um deles, em Pustejovsky 1991, é proposto um tratamento para as
classes aspectuais – redistribuídas a estados, atividade e transições (accomplishments e
achievements) – em paralelo ao que o autor nomeou como representação topológica das
classes aspectuais: “We are able to abandon the feature-based approach to aspect which
is generally assumed in favor of a highly restricted, topological theory of how events are
structured” (p. 52). Logo, sentenças como (20a) – (23a) teriam representação
‘topológica’, ou estrutura de evento, em seus correlatos (b) e tradução decomposicional,
ou estrutura conceitual lexical (LCS), em (c):
6
As fórmulas de Dowty sofrem aqui uma simplificação, aos olhos de formalistas, brutal, pois o objetivo
não é cair em detalhamento técnico, mas pegar a intuição das opções representacionais. Aos mais
interessados: Dowty 1979: 123-125.
7
(20) a. The door is closed
b.
ES:
(=estado)
S
|
e
c.
LCS:
[closed(the-door)]
(21) a. The door closed (=achievement)
b.
ES:
T
/
P
\
S
|
|
[closed(the-door)]
[¬closed(the-door)]
c.
LCS:
become[closed(the-door)]
(22) a. John closed the door (=accomplishment)
b.
ES:
T
/
P
|
[act(j, the-door) & [¬closed(the-door)]
c.
LCS:
(23) a. Mary ran
b.
c.
\
S
|
[closed(the-door)]
cause ([act(j, the-door)], become([closed(the-door)]))
ES:
LCS:
(=atividade)
P
/…….\
e1 e2 e3 e4
[run(m)]
Pustejovsky também propõe relação entre as estruturas de eventos e a projeção
sintática. Para isso, uma importante assunção é a de que há subeventos, inclusive
nucleares, para as estruturas de accomplishments e achievements, definidos pela relação
de oposição aristotélica (¬Q e Q) (Aristóteles, em ‘Metafísica’), que vão determinar
possibilidades estruturais. O accomplishment tem subevento nuclear o processo anterior
ao resultado (¬Q), já o achievement tem subevento nuclear o resultado (Q).
Logo, da mesma forma que as teorias de papéis temáticos propõem uma hierarquia
sensível às posições argumentais na estrutura (Dowty 1991), aqui a informação que
projeta posição é de natureza aspectual e tem a ver com o subevento nuclear: “The
semantic arguments within an event structure expression can be mapped onto argument
structure in systematic and predictable ways.” (p. 76). Assim, o autor postula princípios
de projeção sintática:
8
(A) O participante envolvido em uma predicação de oposição é mapeado na posição
de argumento interno da estrutura lexical (a posição de objeto na estrutura
profunda).
(B) O participante agentivo no subevento inicial da estrutura de evento é mapeado
na posição de argumento externo da estrutura lexical (a posição de sujeito na
estrutura profunda).
(C) Se a oposição de predicados envolve uma relação, então ambos os participantes
são mapeados nas posições de argumentos internos da estrutura argumental. Por
exemplo, ‘dar’ e ‘pôr’ são exemplos em que o estado culminante é uma relação,
e ambos os argumentos são realizados como argumentos internos.
(D) Qualquer argumento no evento inicial não contemplado pelos princípios (A) e
(B) é mapeado na posição de argumento externo.
(E) Cada subevento deve estar associado a pelo menos uma posição argumental na
estrutura lexical. (p. 76-77)
É importante também observar que, nas representações de Pustejovsky, o operador
‘cause’ co-atua com o operador ‘act’ para qualificar os verbos accomplishments. As
questões que derivam dessas representações seriam: São necessários todas essas
categorias para a representação decomposicional do significado lexical e posterior
representação do significado das sentenças? Seriam ‘causa’ e ‘agente’ categorias de
mesma natureza? Teriam alguma relação com papéis temáticos? Afinal, que tipo de
informação lexical é pertinente à projeção sintática, a temática ou a aspectual?
De fato, o que se observa nas teorias sobre decomposição lexical passa por uma
oscilação esquizofrência entre o tratamento aspectual e o temático. Há inclusive teorias
que vão mesclar as duas informações no formato de duas hierarquias – uma aspectual e
outra temática. Grimshaw 1990 é uma proposta nesse sentido. A seção seguinte deste
trabalho partirá para análises de sentenças do português brasileiro tomando como
alternativa de análise a dupla hierarquia de Grimshaw.
2.
A análise: CAUSE e outras projeções lexicais em sentenças do PB.
No quadro da interface entre léxico e sintaxe, a dupla conceitual ‘aspecto’ e ‘papel
temático’ parece determinar algumas estruturas, como sinaliza o parco esboço da
literatura da área exposto acima. No entanto, a questão subjacente aqui é: Em que
medida essa dupla conceitual não se sobrepõe? Ou, em uma tarefa mais direcionada ao
nosso trabalho: Há evidências lingüísticas a favor da necessidade dessas duas
informações para a projeção da estrutura argumental? Numa primeira análise,
responderemos que sim. O léxico verbal projeta a estrutura argumental,
hierarquicamente, nas dimensões aspectual e temática. Sentenças com estruturas
temporais complexas – com verbos accomplishments e achievements – operam mais
diretamente na primeira dimensão, enquanto verbos psicológicos, estativos e
experenciais na segunda.
Inicialmente, se formos assumir que CAUSE e BECOME são traços presentes na
estrutura aspectual pressuposta dos verbos, as sentenças (24)-(26), com verbos
accomplishments, contêm prototipicamente esses componentes de significado na
estrutura de evento:
(24) João riscou a parede.
(25) João rasgou a cortina.
(26) João limpou a mesa.
9
Empregando a hipótese de Song & Wolf (2003), de que causa é uma categoria
cognitiva e tem desdobramentos multiestruturais, a relação de causa pressuposta em
(24)-(26) pode passar pelo teste da paráfrase com estrutura de passiva adjetival em
(24’)-(26’):
(24’) A parede ficou riscada por causa do João.
(25’) A cortina ficou rasgada por causa do João.
(26’) A mesa ficou limpa por causa do João.
Verbos prototipicamente achievements também vão carregar essas
propriedades (27)-(29), passando pelo teste da paráfrase de causa (27’)-(29’):
(27) João assassinou Pedro.
(28) João machucou Suzana.
(29) João apertou o botão.
(27’) Pedro ficou morto por causa do João.
(28’) Suzana ficou machucada por causa do João.
(29’) O botão ficou acionado por causa do João.
No entanto, os verbos acima foram sinalizados como ‘prototípicos’. Isso quer
dizer que há outros verbos sob as mesmas categorias que vão apresentar
comportamentos diferentes. Por exemplo, nem todos os accomplishments e
achievements vão acarretar mudança de estado.
Na proposta de Tenny 1994, alguns verbos accomplishments e achievements são
os responsáveis por dar a ‘medida do evento’. Logo, essas projeções aspectuais são as
que figurarão como informações pertinentes na interface léxico e sintaxe. Isso ocorre no
seguinte sentido: São os objetos diretos quantificados especificamente (30) que dão a
medida do evento, numa formulação do que ela chama de princípio de mapeamento
aspectual: “O objeto direto - e só ele - pode dar a medida ou extensão do evento”. Já os
objetos diretos quantificados genericamente em (31) não dão a medida do evento, pois
não têm quantificação para isso. Quanto aos complementos preposicionados de (32), a
autora chama generalizadamente de objetos indiretos. Aí vem outro princípio: “O objeto
indireto - e só ele - pode marcar o término do evento”. Quanto ao argumento externo, ou
sujeito, este não tem nada a ver com a medida temporal do evento (33):
(30) João escreveu a carta.
(31) João escreveu cartas.
(32) João caminhou até a padaria.
(33) João recebeu o convite.
Especialmente quanto ao papel do objeto direto como responsável pela
mensuração do evento, Tenny propõe uma subclassificação de verbos, notadamente
accomplishments, que sejam sensíveis a esse papel: os verbos de mudança de estado
10
(34), os de tema incremental (35)7, e os de performance (36). Nos três tipos de verbos, a
extensão do objeto dá a medida do evento:
(34) João poliu o carro.
(35) João fez o bolo.
(36) João caminhou a marechal deodoro.
Se formos levar a sério a operação de CAUSE em accomplishments, as
sentenças em (35) e (36) não respondem satisfatoriamente ao teste da paráfrase:
(34’) O carro ficou todinho polido por causa do João.
(35’) ? O bolo ficou todo assado por causa do João.
(36’) ? A marechal ficou toda andada por causa do João.
Em igual perspectiva, estariam situados alguns achievements em que não está
necessariamente pressuposta uma mudança de estado, nem tampouco seus
complementos diretos estariam responsáveis pela medida do evento:
(37) João batizou o filho.
(38) João enviou o email para a professora.
(37’) ? O filho ficou todo batizado por causa do João.
(38’) ? O email ficou todo enviado por causa do João.
Logo, uma primeira (bateria de) pergunta(s) provocada(s) por esses dados é a
seguinte: Seriam todos os accomplishments verbos decomponíveis em operações de
CAUSE e BECOME, defendidas por Dowty 1979? De outra parte, seriam todos os
achievements verbos com BECOME pressupondo a oposição aristotélica defendida por
Pustejovsky 1991? A causa e mudança de estado pressupõem necessariamente uma
estrutura temporal, ou seja, elas são categorias que definem classes aspectuais?
A princípio: Sim, as relações de causa e mudança de estado são de natureza
aspectual, pois evidentemente indicam uma sucessão de subeventos que se justapõem
no tempo – incluindo a noção intuitiva de causa/processo e conseqüência/resultado. Mas
nem todos os accomplishments e achievements se comportam de forma
prototipicamente previsível. Há, por exemplo, verbos que só projetam mudança de
estado, como o fazem degree achievements (Dowty 1979) em estruturas inacusativas:
(39) Minha tia envelheceu.
(39’) ? Minha tia ficou todinha envelhecida por causa do...
Uma segunda questão estaria voltada à alternância causativa e restrições
relacionadas. Nem todo predicado traduzido por CAUSE permite a alternância
causativa:
(40) João pintou o quadro → *O quadro pintou.
7
A noção de tema incremental já foi exposta por Dowty 1991, na tentativa de ajustar as propriedades
temáticas de proto-paciente. Recentemente, a noção de incrementabilidade ganha corpo em estudos que
relacionam medida de eventos em isomorfismo à extensão do objeto (Krifka 1992, 1998), incluindo a
aplicação da noção de escala ao tratamento aspectual (Rappaport 2008).
11
Alguns outros aceitam apenas a forma intransitiva, sem admitir a reflexiva (41).
Outros admitem as duas (42):
(41) A batata cozinha → *A batata se cozinha.
(42) O vaso quebrou → O vaso se quebrou.
Uma terceira e última questão: Se CAUSE está associada a mudança de estado,
como explicar os causativos psicológicos, em que se infere uma causa, mas não
necessariamente uma mudança de estado física? Em (43), é mais plausível inferir
afetação do objeto do que propriamente mudança de estado:
(43) João assustou Maria.
(43’) ? Maria ficou todinha assustada por causa do João.
Em algumas sentenças com esses verbos, vislumbra-se de fato a possibilidade de
se ter CAUSA e AGENTE em posições separadas. Em (44), por exemplo, a causa
aparece em posição de adjunto, em sintagma preposicionado, enquanto que em (45),
como causativo agentivo, como contra-exemplo, o instrumento aparece preposicionado:
(44) O Cascão assustou a Mônica com o sapo.
(44’) A Mônica ficou assustada por causa ? do Cascão/ OK do sapo.
(45) João limpou a mesa com a esponja.
(45’) A mesa ficou limpa por causa ? da esponja / OK do João.
Com relação aos verbos psicológicos, dada a sua relação direta com os estativos
(Belletti & Rizzi 1988, Cançado 1995, 2003), não há estrutura temporal complexa, mas
pressupostos de participação dos envolvidos: agente – afetado – instrumento, etc.
Grimshaw 1990, no entanto, utiliza dados com causativos psicológicos ((43), (44)),
dentre outros, como os nomes compostos do inglês e os processos de nominalizações,
para argumentar a favor de uma dupla hierarquia de relações de proeminência sintática,
a aspectual e a temática: “The prominence relations are jointly determined by the
thematic properties (via the thematic hierarchy) and by the aspectual properties of the
predicate” (p. 4).
Assim, as posições sintáticas ganham relações hierarquizadas no seguinte
sentido, seguindo os moldes de rotulação temática de Fillmore 1968, Jackendoff 1992,
entre outros, bom como a estrutura causal defendida para o aspecto lexical em Dowty
1979:
(46) Hierarquia temática: (agent(experiencer(goal/source/location(theme))))
(47) Hierarquia aspectual: (cause(other(…)))
Assim, essa representação semântica lexical de um predicado projeta o conjunto
de seus argumentos gramaticais na especificação de seus rótulos temáticos e aspectuais.
Em (48), por exemplo, os rótulos dos argumentos the girl e the window já vêm
projetados do verbo break:
(48) a. The girl broke the window.
b. break ( x
(y))
agent theme
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cause ….
Para os causativos psicológicos, do grupo de assustar, preocupar, etc, a dupla
hierarquia sofre uma ‘inversão’ de rotulação. A primeira posição temática não
corresponde à primeira posição aspectual, assim como o segundo elemento da dimensão
temática é associado ao primeiro elemento da dimensão aspectual:
(49) a. The building frightened the tourists.
b. frighten (x
(y))
Exp
Theme
Cause
….
Cançado 1995 questiona a tese de Grimshaw de que a operação CAUSE é de
natureza aspectual. Segundo a autora, Grimshaw só apresenta os verbos psicológicos do
tipo frighten como exemplo de verbos em que se verifica a não correspondência entre a
dimensão temática e a aspectual. Por outro lado, na dimensão aspectual, ela só apresenta
o traço de CAUSA. A questão posta por Cançado é: Haveria outros? Nos verbos em que
se verifica a correspondência, que elementos estão associados ao argumento agente?
Cançado assume a posição de Franchi (c.p.), que divide a semântica das línguas
naturais em dois níveis de análise. Em um nível intensional, temos uma semântica do
sentido que concerne aos modos de representação do real. Esse componente da
semântica vai lidar com a s relações predicativas (os papéis temáticos). A representação
predicativa estende-se mediante mecanismos dêiticos e quantificacionais (incluindo aí o
aspecto) que associam essas representações a estados de fatos, ao que nomeamos de
semântica referencial. Assim, Cançado conclui que, se não é aspecto, só pode estar no
nível temático. (p. 295)
Mas, se formos considerar uma dupla hierarquia, à la Grimshaw, adotaremos uma
perspectiva mais seletiva. De fato, a autora, já em texto de 2005, confirma uma
distinção entre esses níveis semânticos: há uma informação de conteúdo semântico que
não tem nada a ver com questões estruturais. Em (50), por exemplo, a informação de
que o leite é líquido, ou de que ele serve para beber, não é pertinente à estrutura. Mas há
outra informação de estrutura semântica que terá implicações sintáticas. Em (50), a
informação de mudança de estado é crucial para se licenciar alternância causativa, em
(51):
(50) João ferveu o leite.
(51) O leite ferveu.
Logo, há uma semântica de conteúdo (gramaticalmente inerte) e uma semântica de
estrutura (a que a sintaxe é sensível). A mesma distinção já há décadas vem sendo
sinalizada pelos autores em semântica, sobretudo lexical: ‘grammatically relevant
subsystem’ versus ‘unrestricted conceptual representation’ (Pinker 1989), ‘semantic
form’ versus ‘semantic content’ (Wunderlich 1997), ‘semantic structure’ versus
‘conceptual structure’ (Mohanan & Mohanan 1999) (apud Saeed 2003). O que de fato
fica como proposta é que se enxuguem informações da decomposição semântica apenas
para as pertinentes à estrutura.
Voltando aos dados do PB, parece de fato pertinente assumir uma propriedade de
mudança de estado para degree achievements de natureza deadjetival (Foltran &
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Wachowicz 2008), pois nestes a forma inacusativa é justificada pela eliminação da
atribuição de causa ao sujeito:
(52) a. João esfriou a sopa.
b. A sopa esfriou.
Em causativos psicológicos, em que parece não haver mudança de estado, mas
sobretudo afetação, as duas hierarquias são acionadas:
(53) João assustou a irmã com o sapo.
(agent(experiencer(…))))
(cause(...))
O que parece ocorrer com os causativos psicológicos é o fenômeno do
comportamento não-prototípico, se forem consideradas, de um lado, a classe de
accomplishments causativos, e de outro a classe dos psicológicos estativos. De forma
semelhante a Smith 1997, que defende tratamento das classes aspectuais como
categorias prototípicas (Rosch 2004), os causativos psicológicos estariam na fronteira
entre accomplishments e estativos, pois importariam a noção de ‘causa’ para a
hierarquia temática; na sintaxe, em posição de adjunto.
Desta forma, ao mesmo tempo em que a proposta de Grimshaw 2005 reforça a
orientação da semântica lexical de que há necessidade de se selecionarem as
informações pertinentes à estrutura num formato de hierarquia de projeção sintática, a
dupla ‘aspecto’ e ‘papel temático’ podem oferecer subsídios para comportamentos
variados que vão desde a alternância causativa até os causativos psicológicos. CAUSE e
BECOME, como propriedades proeminentes de sujeito e objeto, respectivamente,
marcam, paralelamente ou não à propriedade temática de agente e afetado, hierarquia
aspectual. A combinatória das propriedades, como resultado da composicionalidade das
sentenças, sinalizam estruturas viáveis de uma língua como o PB.
3.
Considerações finais.
Este trabalho teve como tarefa apresentar uma revisão teórica da noção de ‘causa’,
bem como propor um tratamento para sua abordagem semântico-lexical. Obviamente, a
discussão não se ateve só à relação de causa, pois ela vem diretamente relacionada à
noção de mudança de estado, implicando considerações temáticas e aspectuais.
Igualmente, a discussão não poderia ater-se apenas a questões de representação e
análise lingüística. Com efeito, a própria noção de léxico está posta aqui em análise.
Defendemos um léxico que contenha os níveis da estrutura semântica e do conteúdo
semântico (Grimshaw 2005). Só o primeiro é pertinente a questões de representação
lingüística. Neste nível, não estaria inclusa a atribuição de telicidade, frequentemente
localizada no léxico (Smith 1997) ou no VP (Rothstein 2004). De fato, defendemos que
telicidade é uma propriedade da leitura temporal, visível apenas na sentença flexionada
– e não no léxico - e por isso mesmo condicionada à composicionalidade da sentença.
Logo, retomando a noção de léxico, há traços da hierarquia aspectual, que garantem
a interpretação e a sintaxe de estruturas temporais complexas, e há traços da hierarquia
temática que explicam estruturas simples, como sentenças atividade e estativas,
incluindo as com verbos psicológicos. De certa forma, o aspecto fundamenta sentenças
referenciais; e os papéis temáticos, estruturas abstratas, o que confirma a referência a
Franchi 1977, exposta acima. Esse é um ponto, dentre inúmeros neste trabalho, que
14
certamente necessitaria de maior discussão, especialmente no tratamento semânticofilosófico.
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