SBS - XII Congresso Brasileiro de Sociologia GT03 - Educação e Sociedade O Geoprocessamento como ferramenta para estudos sociológicos: O caso dos vestibulandos da UNESP Carlos José de Almeida Pereira O Geoprocessamento como ferramenta para estudos sociológicos: O caso dos vestibulandos da UNESP Carlos José de Almeida Pereira1 [email protected] Resumo Este artigo é parte das reflexões que elaborei em minha dissertação de Mestrado, na qual a proposta era de contribuir para uma nova forma transdisciplinar de pensamento, através da construção de uma interface entre a computação, a sociologia e a geografia, procurando demonstrar como técnicas computacionais de análise de dados podem contribuir para auxiliar na inserção da dimensão espacial nos estudos sociológicos. Com esse objetivo, buscou-se estudar a relação de influência que o grau de urbanização das cidades e regiões exerce sobre o perfil de capital cultural dos candidatos ao vestibular VUNESP de diversos cursos de uma mesma carreira, localizados em diferentes campi da UNESP espalhados pelo interior do Estado de São Paulo. 1. Introdução A questão da interdisciplinaridade tem sido bastante discutida nos meios acadêmicos e se apresenta como necessidade para uma compreensão mais aprofundada tanto dos fenômenos físicos como também dos fenômenos humanos e sociais. Lentamente, a idéia de várias ciências especializadas, com seus objetos de estudo exclusivos, tentando explicar a realidade de uma forma completa (cada uma em sua área de especialização), vai cedendo lugar para uma nova forma transdisciplinar de pensamento que privilegia a interação e integração entre as várias áreas do conhecimento. É o surgimento de um novo paradigma, uma mudança fundamental de pensamentos, percepções e valores, no qual a concepção mecanicista cede espaço a uma concepção holística da realidade (Capra, 1999). Em especial, isso acontece com a Geografia, no sentido em que ela tem muito a contribuir com várias outras ciências (especialmente as dedicadas ao estudo da temática humana e social), através da inserção da dimensão espacial nos estudos dessas ciências, sejam elas a Sociologia, Economia, Epidemiologia, Ecologia, entre outras. A dimensão espacial/geográfica vem contribuindo com os estudos nas áreas de ciências humanas e sociais, pois não é mais possível comprender os fenômenos sociais, políticos, religiosos, econômicos, entre outros, sem levar em consideração as influências que a dimensão espaço físico/social provoca, bem como as influências que essa mesma dimensão sofre por causa de tais fenômenos. Por exemplo, aspectos da degradação do meio ambiente nos países industrializados, e a questão da água, que pode provocar uma reconfiguração geopolítica mundial. Nesse sentido, a motivação que guia a elaboração deste trabalho é o estabelecimento de um diálogo entre diversas áreas do conhecimento: a sociologia, a geografia e a computação (geoprocessamento). O objetivo deste trabalho é melhorar a qualidade dos resultados obtidos em procedimentos de análise dos fenômenos da realidade, especificamente as análises que utilizam dados que têm o espaço 1 Professor do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC e Doutorando em Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP/Rio Claro. como substrato (informações geográficas), utilizando para isso algumas ferramentas computacionais (geoprocessamento). Para isso, foi realizada uma análise dos dados do questionário sócio-econômico do vestibular VUNESP (Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista) utilizando ferramentas computacionais para “demonstrar” espacialmente o que estudos sociológicos anteriores já comprovaram: a relação de influência entre grau de urbanização e capital cultural. Busca-se, portanto, estudar a relação de influência que o grau de urbanização das cidades e regiões exerce sobre o perfil de capital cultural dos candidatos a diversos cursos da UNESP (Universidade Estadual Paulista), instituição de ensino superior que possui cursos em diversos campi espalhados pelo interior do Estado de São Paulo, como pode ser observado na Figura 1. Figura 1: Distribuição dos campi/cursos da UNESP, 2002. 2. Capital Cultural O conceito de capital cultural foi cunhado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, e denota um conjunto de capacidades intelectuais e conhecimentos, mas mais do que isso, um conjunto de potencialidades que formam a constituição intelectual de uma pessoa, obtidas a partir de diversas fontes, materiais ou não. É importante destacar o que se quer dizer com conhecimento e capacidade de compreensão. Por exemplo, não basta ser capaz de ler a língua na qual uma obra literária está escrita para, automaticamente, captar todas as idéias e emoções que o autor está transmitindo. Da mesma forma, o domínio da língua não é suficiente para, a partir da leitura de um jornal, compreender os desdobramentos e ligações decorrentes dos fatos que estão sendo noticiados. O nível sócio-econômico de uma pessoa também está representado no conceito, já que o mesmo também engloba elementos materiais, como livros, revistas, obras de arte, máquinas. Assim como dito anteriormente, não basta a existência, a posse de um livro, é preciso que sua leitura, além de possível (a partir da idéia de compreensão vista acima) seja capaz de transformar o intelecto de quem está lendo, gerando novas opiniões, críticas, visões futuras, etc. Não é possível a visualização direta do capital cultural de uma pessoa, mas sim, os fatores cuja presença podem gerar, em uma pessoa, o conjunto de potencialidades citado anteriormente (o aumento, a aquisição de capital cultural). Esses fatores tanto podem ser de natureza material (livros, jornais, obras de arte, equipamentos) quanto de natureza imaterial (conversas com os familiares, acesso a peças de teatro, viagens). A hipótese que guiou este trabalho é a de que quanto mais urbanizada (ou desenvolvida em termos urbanos) é uma cidade ou região, maior é o capital cultural disponível. Tal hipótese se inspira no trabalho de Fiamengue (Fiamengue, 2003) que, ao analisar o perfil socio-econômico dos vestibulandos da VUNESP, procurou um recorte que neutralizasse “as influências, tanto „elitizantes‟ quanto „democratizantes‟ que a proximidade/distância em relação à capital pudesse provocar. As pesquisas realizadas anteriormente mostram que a localização de um curso em determinado campus tem influência na composição de um perfil com maior ou menor grau de elitização/democratização (deselitização) da sua clientela. Também já está comprovada sociologicamente a influência que o grau de urbanização provoca em termos de capital cultural” (Fiamengue, 2003, p.26). 3. Grau de Urbanização Conforme atestam diversos trabalhos de pesquisa realizados no âmbito da Sociologia (Fiamengue, 2003; Whitaker e Fiamengue, 1999; Todorov, 1977; Oliveira, 1976; Whitaker, 1981) o fator urbanização é de utilização imprescindível na tarefa de caracterização do vestibulando bem sucedido. Mas qual indicador pode ser utilizado para representar esse fator urbanização? De que forma é possível caracterizar quantitativamente um determinado município a partir de suas características urbanas ? Segundo o sistema de divulgação de dados do Ministério da Saúde, DATASUS2, grau de urbanização é o “percentual da população residente em áreas urbanas, em determinado espaço geográfico, no ano considerado”, isto é, o número de pessoas que residem na área urbana dividido pelo número total de habitantes da localidade em questão. Neste ponto uma questão se apresenta: seria esse simples cálculo um indicador suficiente para realizar o estudo proposto? Se o objetivo é demonstrar uma relação de influência sobre um conceito tão complexo, como é o de Capital Cultural, não haveria um indicador mais abrangente, que leve em consideração outras características do município em questão? Com essas preocupações em mente, optou-se pela utilização do IDH-M (Índice Municipal de Desenvolvimento Humano), construído pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pela Fundação João Pinheiro a partir do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) desenvolvido para o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em 1990, com o objetivo de medir a qualidade de vida e o progresso humano em âmbito mundial. Também a criação do IDH original teve como motivação a mesma preocupação que este trabalho apresenta: o uso de um único tipo de dado como representação única de características mais complexas. Há muito tempo estabeleceu-se a prática de avaliar o bem estar de uma população, e consequentemente de classificar os países ou regiões, pelo tamanho de seu PIB per capita. Entretanto, o progresso humano e a evolução das condições de vida das pessoas não podem ser medidos apenas por sua dimensão econômica. Desta forma buscou-se, com a criação do IDH no início da década de 90, uma medida sócio-econômica mais abrangente, que incluísse também outras dimensões fundamentais da vida e da condição humana. 4. Metodologia Para a verificação da relação espacial de influência entre grau de urbanização e capital cultural, no caso específico dos vestibulandos da UNESP, foram utilizadas várias ferramentas computacionais em várias etapas, conforme descrito a seguir: 4.1. Construção de um indicador de perfil de Capital Cultural, utilizando Lógica Nebulosa. Um dos objetivos da Lógica Nebulosa é a modelagem do raciocínio humano, raciocínio este impreciso e difuso (isto é, sem as barreiras rígidas e artificiais impostas pela lógica tradicional) para processamento computacional. Com este objetivo em mente, a lógica nebulosa foi utilizada neste trabalho para registrar e reproduzir o conhecimento (subjetivo) de especialistas da área de Sociologia, buscando a geração de um sistema de inferência nebulosa que tenha a capacidade de, a partir de dados sócioeconômicos relativos dos vestibulandos de um determinado curso/campus, calcular um valor que indique a “quantidade” de capital cultural disponível àquele grupo de pessoas, isto é, um indicador do perfil de capital cultural dos candidatos daquele curso. 4.2. Definição dos critérios para seleção dos cursos/campi a serem abordados nas análises A verificação da relação de influência entre grau de urbanização e capital cultural foi realizada através da comparação dos diversos valores de perfil de capital cultural obtidos para vários cursos oferecidos em vários campi da UNESP. Para que estas comparações sejam significativas, utilizaremos os seguintes critérios: 1) Os valores a serem comparados devem ser de cursos de uma mesma carreira, pois não faz sentido comparar valores obtidos a partir de cursos de carreiras diferentes, já que diversos outros fatores tomam parte da construção do índice, como por exemplo, o prestígio da carreira; 2) Da mesma forma, os valores comparados devem ser de cursos com a mesma configuração de especialização/turno, pelo mesmo motivo exposto acima. Um curso de período integral tem clientela 2 Disponível em [http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2000/fqa04.htm]. diferente do mesmo curso em funcionamento no período noturno. O mesmo acontece para a clientela relativa as modalidades bacharelado e licenciatura; 3) O curso selecionado deve ser oferecido em pelo menos três campi espalhados pelo Estado de São Paulo, objetivando com isso apresentar uma caracterização espacial bem clara do perfil de capital cultural deste curso. Os critérios acima descritos conduzem a seguinte lista de cursos/campi: Agronomia (Botucatu, Ilha Solteira, Jaboticabal), Odontologia (Araçatuba, Araraquara, São José dos Campos), Ciências da Computação (Bauru, Rio Claro, São José do Rio Preto), Engenharia Elétrica (Bauru, Guaratinguetá, Ilha Solteira), Engenharia Mecânica (Bauru, Guaratinguetá, Ilha Solteira), Medicina Veterinária (Araçatuba, Botucatu, Jaboticabal), Educação Física (Bauru, Presidente Prudente, Rio Claro), Física (Bauru, Guaratinguetá, Ilha Solteira, Presidente Prudente), Matemática (Bauru, Guaratinguetá, Ilha Solteira, Presidente Prudente) e Ciências Biológicas (Assis, Botucatu, Rio Claro, São José do Rio Preto). Optouse neste artigo, por motivos de espaço e significância de resultados, pela apresentação das análises relativas aos cursos de Agronomia, Odontologia, Ciências da Computação, Engenharia Elétrica e Ciências Biológicas. Os resultados da aplicação do sistema de inferência nebulosa desenvolvido aos dados relativos ao vestibular VUNESP do ano de 2002, para os cursos/campi selecionados, são os apresentados na Tabela 1. TABELA 1 Valores do indicador de perfil de capital cultural CURSO Agronomia Odontologia Ciências da Computação Eng. Elétrica Ciências Biológicas CAMPUS Botucatu Ilha Solteira Jaboticabal Araçatuba Araraquara São José dos Campos Bauru Rio Claro São José do Rio Preto Bauru Guaratinguetá Ilha Solteira Assis Botucatu Rio Claro São José do Rio Preto PERFIL DE CAPITAL CULTURAL 2,01 1,64 3,85 4,92 5,11 5,16 2,96 4,21 2,96 4,84 4,61 4,37 1,69 2,93 4,19 4,54 4.3. Análise da configuração espacial do IDH-M no Estado de São Paulo Nesta etapa buscou-se explicitar, através do geoprocessamento e de técnicas de análise exploratória espacial, a configuração espacial do IDH-M (utilizou-se dados relativos ao ano 2000) no Estado de São Paulo, em especial, se existem “regiões” definidas de municípios onde este indicador possui valores “altos” (valores acima da média geral) ou valores “baixos” (valores abaixo da média geral). Utilizou-se as seguintes técnicas de análise exploratória espacial, através de ferramentas de Geoprocessamento: Média móvel espacial, Gráfico de espalhamento de Moran, mapeamento do gráfico de espalhamento de Moran, Mapa dos valores de significância do Índice Local de Moran e Mapa de Moran. O mapeamento do gráfico de espalhamento de Moran (Figura 2) representa 2 informações principais: representação de municípios que tem valor do parâmetro em questão (no nosso caso, o IDHM) acima da média geral E QUE a média do valor do parâmetro dos vizinhos também está acima da média geral (cor azul), e representação de municípios que tem valor do parâmetro abaixo da média geral com vizinhos cuja média do parâmetro também esteja abaixo dessa média (cor vermelha). Neste mapa podemos identificar, nos municípios do Estado de São Paulo, as seguintes regiões de IDH-M: Uma região “central”, a partir da capital, que concentra valores “altos” (acima da média) de IDH-M; Uma região ao sul do Estado, que concentra valores “baixos” (abaixo da média) de IDH-M; Uma pequena região na fronteira com o Estado do Rio de Janeiro, que concentra valores “baixos” de IDH-M; e Uma região na fronteira oeste do Estado, também concentrando valores “baixos” de IDH-M. Figura 2: Mapeamento do gráfico de espalhamento de Moran Para se verificar o nível de significância estatística das regiões encontradas, calcula-se um índice local de associação espacial (LISA), que tem por objetivo a identificação de agrupamentos de objetos com valores de atributos semelhantes. Porém mais importante que o valor calculado para o índice de uma determinada área, é o valor da sua significância estatística. O Mapa de Moran é o mesmo mapa do gráfico de espalhamento visto acima, porém só exibindo os municípios cujo índice local de associação espacial apresentou significância estatística (Figura 3). Figura 3: Mapa de Moran Podemos ver através deste mapa que as duas últimas regiões identificadas descritas acima não se apresentaram como tal no teste de significância estatística. 5. Análise da influência do grau de urbanização sobre o perfil de Capital Cultural Nesta seção são apresentadas algumas das análises realizadas na dissertação, de forma a responder ao seguinte questionamento: para cada carreira selecionada, a variação no valor do perfil de capital cultural encontrado para cada campus que oferece esse curso pode ser explicada pela configuração espacial do IDH-M dos municípios do Estado de São Paulo? 5.1. Agronomia (integral) Valores do perfil de capital cultural: Ilha Solteira: 1,64 Botucatu: 2,01 Jaboticabal: 3,85 Figura 4: Mapa de Moran com os campi relativos ao curso de Agronomia Deve-se lembrar que, para os efeitos desse estudo, esses valores devem ser analisados comparativamente, e não individualmente, atentando para a ordenação dos valores de perfil de capital cultural. Será que a localização espacial desses campi reflete essa ordenação, como atesta a hipótese inicial deste trabalho? O campus de Ilha Solteira apresenta o menor valor entre os três campi, e sua localização espacial sugere esse valor, já que este campus está inserido na região de baixos valores de IDH ligada a fronteira oeste do Estado. Seguindo a mesma linha de reflexão, o campus de Botucatu tem o seu valor intermediário devido ao fato de se localizar em uma faixa de transição entre as duas principais regiões caracterizadas, a de “baixos” valores do IDH e a de “altos” valores do IDH. Finalmente, a localização do campus de Jaboticabal, na “fronteira” da região de “altos” valores do IDH, e desta forma sofrendo os efeitos da influência desta região, reflete o maior valor de perfil de capital cultural dentre os três campi estudados. 5.2. Odontologia (integral) Valores do perfil de capital cultural: Araçatuba: 4,92 Araraquara: 5,11 S.J.Campos: 5,16 Figura 5: Mapa de Moran com os campi relativos ao curso de Odontologia São valores muito próximos, mas de qualquer forma podemos notar a localização de Araçatuba na região de “baixos” valores de IDH (oeste do Estado), o que sugere o seu menor valor de perfil de capital cultural. Os valores bem próximos de Araraquara e São José dos Campos sugerem que ambos sofrem influência da região de “altos” valores do IDH. 5.3. Ciências da Computação (integral/diurno) Valores do perfil de capital cultural: Bauru: 2,96 S.J.Rio Preto: 2,96 Rio Claro: 4,21 Figura 6: Mapa de Moran com os campi relativos ao curso de Ciências da Computação O valor do perfil de capital cultural para o campus de Rio Claro se destaca na comparação com os valores dos outros dois campi que possuem o mesmo curso. Pelo mapa apresentado, podemos ver que o município de Rio Claro se localiza totalmente dentro da região de “altos” valores do IDH, fato que sugere a ocorrência deste índice destacado, segundo a hipótese de influência com a qual estamos trabalhando. Além disso, a região de Bauru e a região de São José do Rio Preto, nas quais estão localizados os outros dois cursos são semelhantes, conforme pode-se observar nos mapas relativos à caracterização sócioeconômica do Estado de São Paulo elaborados anteriormente. 5.4. Engenharia Elétrica (integral) Valores do perfil de capital cultural: Ilha Solteira: 4,37 Guaratinguetá: 4,61 Bauru: 4,84 Figura 7: Mapa de Moran com os campi relativos ao curso de Engenharia Elétrica Novamente, como no curso de Agronomia, o campus de Ilha Solteira apresenta o menor valor dos três campi deste curso. Essa performance confirma a hipótese de influência da região de “baixos” valores de IDH localizada a oeste do Estado, “puxando” este valor para baixo. De acordo com essa mesma hipótese, o campus de Guaratinguetá apresenta valor mais elevado que o de Ilha Solteira, já que o mesmo se localiza próximo a capital do Estado e, desta forma, da região de “altos” valores do IDH. Porém, este campus também se localiza próximo a outra região de “baixos” valores do IDH (fronteira com o Estado do Rio de Janeiro), daí o seu valor intermediário de perfil de capital cultural. Finalmente, temos o campus de Bauru com seu maior valor, não sofrendo influência especial de nenhuma das regiões de “baixos” valores do IDH. 5.5. Ciências Biológicas (bach./lic. integral) Valores do perfil de capital cultural: Assis: 1,69 São José do Rio Preto: 2,93 Botucatu: 4,19 Rio Claro: 4,54 Figura 8: Mapa de Moran com os campi relativos ao curso de Ciências Biológicas Novamente o valor do perfil de capital cultural para o campus de Rio Claro se destaca como maior valor entre os campi analisados, sugerindo que sua localização dentro da região de “altos” valores do IDH puxa esse valor para cima. Logo em seguida podemos notar o valor ainda alto do campus de Botucatu, localizado na “fronteira” da mesma região de “altos” valores do IDH, mas também próximo da região de “baixos” valores do IDH. Vale lembrar aqui o trabalho de Fiamengue, que demonstra como a concorrência no campus de Botucatu é acirrada devido ao funcionamento do curso de Medicina (138 candidatos/vaga em 2000) nessa unidade da UNESP (Fiamengue, 2003). Tal processo também poderia estar influenciando a configuração do índice de capital cultural neste caso, já que o curso de Ciências Biológicas muitas vezes passa a ser opção daqueles que não conseguiram o ingresso no curso de Medicina nos anos anteriores. A ordenação dos valores para os campi de Assis e São José do Rio Preto também reflete sua localização, ambos próximos da região de “baixos” valores do IDH localizada a oeste do Estado. O campus de Assis sofreria ainda a influência da região de “baixos” valores do IDH localizada ao sul do Estado, justificando seu menor valor entre os campi estudados. 6. Considerações Finais As análises efetuadas confirmaram a hipótese da existência de uma relação de influência entre o grau de urbanização de uma cidade, ou grupo de cidades, e o perfil de capital cultural disponível para os vestibulandos dos cursos da UNESP localizados nesta cidade. Pode-se concluir também que a inserção da dimensão espacial no estudo desse tema trouxe um enriquecimento às análises, permitindo que se verificasse espacialmente no mapa dos municípios como essa relação de influência ocorre. Observa-se ainda que o diálogo entre as diversas áreas do conhecimento, neste caso específico a Sociologia e o Geoprocessamento, não só foi possível mas principalmente muito vantajoso, trazendo a luz daquela ciência um leque adicional de ferramentas cujo uso pode ampliar tanto as possibilidades de análise como a qualidade dos resultados obtidos. A execução deste trabalho se mostrou bastante enriquecedora, visto que permitiu a aplicação de conceitos e técnicas de várias áreas do conhecimento em busca de um objetivo único. Espera-se que essa prática possa se espalhar por outras áreas, aumentando de forma indiscutível a qualidade das análises efetuadas e dos resultados obtidos, resultados esses que não serão apenas “propriedade particular” de uma área do conhecimento específica, mas sim o resultado da integração de conceitos e técnicas das mais diferentes áreas. 7. Bibliografia Anselin, Luc. Spacestat tutorial. Urbana: University of Illinois, 1992. [disponível em http://www.terraseer.com/spacestat/docs/ spacestat_tutorial.pdf em 7/9/2003] Aronoff, S. Geographic information systems: a management perspective. Ottawa: WDL Publications, 1989. Bailey, Trevor e Gatrell, Anthony. Interactive spatial data analysis. Essex: Addison Wesley Longman Limited, 1995. Bezzon, Lara. Análise do perfil sócioeconômico cultural dos ingressantes na Unicamp (1987-1994): democratização ou elitização? Campinas, 1995. 124p. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. 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