As campanhas publicitárias de SIDA (spots) destinadas ao público feminino INTRODUÇÃO Quando surgiram os primeiros casos de SIDA, os meios de comunicação de massas tiveram um papel fundamental na influência da percepção e na informação da doença; primeiro por se tratar de uma doença nova e desconhecida para a ciência e para a sociedade em geral; segundo, por não haver uma vacina que impedisse a propagação da mesma. Nestas circunstâncias, a melhor maneira de impedir a propagação consistia em informar o público sobre as formas de transmissão do vírus e persuadindo -os para que evitassem certos comportamentos de risco. Daí que os meios de comunicação tenham sido os protagonistas, pela sua capacidade de alcançar amplos sectores da população. Se bem que, no processo de comunicação não se possa deduzir uma relação causa - efeito, tal não se aplicará no caso da SIDA. Por um lado, devido a uma erupção rápida da doença e ao desconhecimento da mesma; por outro, os mass media foram os que mais prontamente responderam ao fenómeno, constituindo para muitas pessoas as principais fontes de informação. Há investigadores que se questionam: não será a televisão um medio complexo para divulgar informação sobre temas sensíveis para a população em geral como: SIDA, aborto, homossexualidade, bissexualidade, droga ? Será que as mensagens dos spots (PSAs) devem dirigir-se a estes grupos concretamente? Os directores de programação, aceitarão pôr no ar temas tão controversos? Qual o impacto que teriam na audiência em geral? Qual a reacção de sectores sociais como: a igreja, os moralistas, os políticos? Qual a reacção dos grupos a quem se destinariam as mensagens? E o que decidiriam os investidores publicitários, que financiam as programações televisivas? Como ensinar e modelar um comportamento sem ferir socialmente, como por exemplo colocar um preservativo num pénis, ou falar de cuniculus, ou relações sexuais anais? Mas há outros factores tais como: problemas relacionados com o contexto e a estrutura da comunicação - será que o conteúdo das mensagens é apelativo e persuasivo por forma a envolver as pessoas? É emitida num horário e num espaço televisivo (prime time) adequado? A linguagem é compreensível? O tema é apresentado de forma a despertar interesse para os sujeitos? Possui elementos persuasivos para chamar a atenção? São as mensagens repetidas sem que se produza uma saturação? Os grupos sociais mais carecidos de informação e a quem se destinam as campanhas estão expostos a elas? Será que os grupos que possuem uma cultura "fechada" aceitam a informação que vem de "fora"? As pessoas de classes sociais baixas que têm uma visão fatalista da vida, prestarão atenção às campanhas? As campanhas surtirão o efeito desejado em adolescentes que se sentem protegidos da doença? Com este trabalho procurou-se recolher e analisar o conteúdo de campanhas publicitárias de SIDA (Spots) que foram difundidos nas cadeias de televisão Portuguesas, tendo por base os modelos sócio cognitivos e persuasivos. De um total de 44 spots, procurou-se categorizá-los em: a)informativos; b) de prevenção e c) promovem a solidariedade para com os infectados. O objectivo foi analisar aspectos relacionados com o conteúdo das mensagens; estratégias de realização (imagem, género; personagens; testemunho) e estratégias de realização. 2. AVALIAÇÃO QUALITATIVA DOS SPOTS DE SIDA Para ajuizar da informação veiculada pela Televisão, relativamente às campanhas publicitárias de SIDA, procedeu-se a uma análise de conteúdo qualitativa, tendo por base as metodologias de Bardin (1986) e Krippendorf (1980). Contactaram - se organizações governamentais e não governamentais com o objectivo de recolher os spots publicitários de prevenção de SIDA difundidos nas televisões portuguesas. Os spots foram recolhidos de Janeiro de 2000 a Março de 2001. Os juízes (que procederem à análise quantitativa dos spots) identificaram e agruparam as campanhas que se destinam a três objectivos: solidariedade, informação e prevenção. Elaborou-se uma ficha de análise de conteúdo e de acordo com todos os juízes. Em seguida, analisaram - se as mensagens, as estratégias persuasivas e de realização (adjectivos, verbos e significado contextual das palavras), com o objectivo de saber qual a associação que se estabelece com a doença e os doentes aos três níveis (solidariedade, informação e prevenção). Os júris que procederam à análise de conteúdo quantitativo definiram os parâmetros que levaram a distinguir os três níveis de objectivos dos spots. Seleccionaram - se as campanhas em que as mensagens indicavam claramente a palavra solidariedade. As campanhas informativas foram identificadas tendo em conta o conteúdo das mensagens (Ex: A Sida é uma doença mundial; evolução da doença). As campanhas de prevenção indicam claramente: o uso do preservativo como forma preventiva; procurar estar informado ou consultar o médico antes de engravidar. Tendo por base os 44 spots procedeu - se a uma análise qualitativa das mensagens procurando - se respostas para o seguinte: qual a informação que veiculam; qual o retrato da SIDA relacionado com a prevenção ? Serão as mensagens objectivas e claras não permitindo diferentes leituras? Há campanhas apenas destinadas ao sexo feminino? RESULTADOS As primeiras campanhas datadas de 1991 a 1993 são demasiado generalistas e ambíguas; apelam à solidariedade; são informativas; apresentam a SIDA como um problema. As soluções passam pela solidariedade; consultar o médico antes de engravidar; estar informado do número de infectados em Portugal. Em finais de 1993, é difundida uma primeira campanha destinada ao grupo de heterossexuais adultos que apresenta a SIDA como um problema relacionado com as relações sexuais (um alerta para ambos os sexos), cuja solução é o uso do preservativo para ambos. A ABRAÇO - organismo não governamental em 1995 apresenta uma campanha em que se fala declaradamente do uso do preservativo como uma medida preventiva. Em 1995 a CNLCS (OG) promove campanhas para homo, hetero e bissexuais (usando linguagem mitológica algo confusa; um personagem masculino com brincos na orelha, lábios pintados, roupa provocante) apelando - protege-te! Em 1999 a ABRAÇO dirige uma campanha só para as mulheres, aconselhando-as a exigirem ao parceiro o uso do preservativo como um direito seu. E em 1997 surge com uma campanha algo atrevida para a época. Um padre pergunta a uns jovens que se beijam e acariciam: ao menos têm preservativo? À resposta negativa dos jovens este cede - lhes um que trazia na sotaina. E olhando o céu diz: perdoai -LHES Senhor que eles não sabem o que fazem. O género publicitário utilizado é um excerto da vida e a imagem de um pároco origina suspense. Esta campanha gerou forte contestação principalmente por parte da Igreja (que recusa o preservativo) e foi negada a continuidade da sua divulgação. Apesar do pouco tempo de emissão (talvez por tudo o que se falou e escreveu), é ainda hoje uma das mais recordadas pelos jovens ( Lopes, 2003). Este tipo de campanha (similar ás campanhas Benetton), deu origem a diversas opiniões e criticas sobre a SIDA e o uso do preservativo. A estrutura desta campanha serviu de mote a uma outra em que a personagem que cria suspense e chama a atenção é um polícia. De 1997 a 2001 para o problema - evite comportamentos de risco – 13 dos 15 spots analisados apresentam como solução o uso do preservativo. As campanhas dos organismos não governamentais (ABRAÇO e A Comunidade Contra A SIDA) e num total de 12, elegem como destinatários: o público em geral com mensagens que apelam à solidariedade para com os infectados (2); ao público adolescente/ heterossexual (4); só para o sexo feminino (2); só para o sexo masculino (2); e para os adolescentes (2) informando que os preservativo são românticos e divertidos. . 2.1 CAMPANHAS DE SOLIDARIEDADE Há oito campanhas (num total de 44) que se destinam à solidariedade para com os doentes de VIH/SIDA. Apenas se destacarão as mensagens de três destas na medida em que as restantes são similares apenas variando as personagens. O objectivo é questionar algumas mensagens, relativamente ao seu conteúdo, estratégias persuasivas e de realização. SOLIDARIEDADE Responda em silêncio Gestos de solidariedade 1 Gestos 2 Gestos 3 Gestos 4 Amizade sem limites Corrente humana A Sida não se transmite pela amizade Legenda: spots classificados como apelando à solidariedade Campanha 1 Responda em silêncio! Se um seropositivo o convidasse para jantar. O que faria? Se um seropositivo lhe quisesse dar a mão. O que faria? Se um seropositivo o convidasse para ir ao cinema. O que Faria (..) SE LHE QUISESSE DAR UM BEIJO. O QUE FARIA? AGORA HÁ UMA NOVA DOENÇA, VEM DA IGNORÂNCIA, DO MEDO. SIDA SINDROMA DA IGNORÂNCIA DA DISCRIMINAÇÃO ADQUIRIDA. MUITO CONTAGIOSA, PODE SER FATAL PARA SI E PARA OS SEROPOSITIVOS. SE NÃO OS APOIAR VOCÊ PERDE HUMANIDADE. PARA ESTA SIDA SEMPRE HOUVE VACINA. APOIE OS SEROPOSITIVOS. SEJA POSITIVO! 1ª Campanha. É uma campanha que visa chamar a atenção para a solidariedade e ao mesmo tempo informar que a SIDA não se transmite pelo contacto físico e apela para a importância de estar informado. A estratégia persuasiva usada é factos da vida real (e o medo de forma moderada); procura provocar a reflexão (usando a forma interrogativa). A linguagem é apelativa e de certa forma ambígua. Os seropositivos estão associados a silêncio, incompreensão, esquecimento social. Se a SIDA é uma doença nova, contagiosa, fatal, o que responderia em silêncio uma pessoa pouco motivada e com carências de informação às questões anteriores? Não daria a mão, não aceitaria ir jantar, não daria um beijo, nem iria ao cinema; teria medo. Os conceitos associados aos seropositivos têm uma carga emotiva muito "forte" - fatal; discriminação; silêncio; há uma nova doença. Confundem seropositivo e SIDA; é uma campanha para pessoas já informadas e as questões servem apenas para recordar e despertar esse saber. Para quem não possui a informação à questão: Responda em silêncio; se uma criança com SIDA frequentasse a mesma escola que o seu filho, o que faria? Na mesma mensagem que se fala em doença fatal, contagiosa é natural que não permitissem que o filho frequentasse a mesma escola. Se um seropositivo lhe desse a mão. O que faria? Se um seropositivo quisesse um beijo. O que faria?). Para as pessoas comuns (pouco ou nada motivadas e informadas) o contágio está associado a proximidade a contacto físico, mesmo sem haver troca de fluidos. Este tipo de informação deveria ser modelada pergunta - resposta; pergunta solução para evitar equívocos. Esta campanha usa como estratégias de realização elementos periféricos muito apelativos: mudança rápida de planos; letras garrafais e em movimento (ausência de personagens); música com elevados décibeis; muito ritmada, divertida e acompanhada com a mudança de planos. É apelativa; usa cores fortes (azulão, vermelho, branco num fundo negro). É natural que fique retida na memória, que gere pensamentos. É uma campanha cuja estrutura persuasiva e de realização está bem concebida para envolver os não motivados e implicados com o tema. Porém, apresenta mensagens pouco claras. Em suma é uma campanha bem desenhada para as pessoas motivadas e informadas, servindo para recordar conhecimentos; para os não motivados e mal informados é uma campanha mal concebida em termos de conteúdos, embora bem concebida em termos de estratégias (persuasiva e de realização). O que faz com que as pessoas ainda hoje temam um contacto casual - dar as mãos, beijar, abraçar, partilhar o mesmo copo, ou outros com uma pessoa infectada? Sempre que a Televisão emite imagens de infectados pelo vírus , ou surgem locais degradados e cheios de seringas misturadas com lixo, ou então imagens de hospitais, onde os infectadas com o vírus têm quartos especiais, o pessoal médico e de enfermagem com demasiados cuidados usam máscaras, luvas e material descartável para evitar o contacto, etc. Para quem está informado compreenderá estes cuidados, ou seja, o doente não tem defesas e qualquer vírus ou bactéria pode infectá-lo. Mas, na percepção das pessoas, todos os cuidados são poucos. Recordam informação de que a SIDA é uma ameaça, uma doença que causa a morte e o sofrimento, para a qual ainda os cientistas não encontraram vacina.; que o vírus é imprevisível e mutável e que a vacina é algo improvável nos próximos anos; é compreensível que receiem ser infectados. Depois, há a informação que a SIDA começa com sintomas parecidos a uma gripe, ou uma tuberculose (que se apanham por via aérea). A ignorância e o desconhecimento são algumas das causas da resistência das famílias em aceitar que os seus filhos frequentem as mesmas escolas e partilhem lugares públicos com crianças infectadas. Campanha 2 GESTOS DE SOLIDARIEDADE. Gesto de solidariedade para com os seropositivos (uma mão pedindo ajuda) mudou no dia em que se sabe que são seropositivos (O dedo indicando - rua!). SIDA. A solidariedade está na sua cabeça. ( .. ) TER MEDO DA SIDA É HUMANO. DESCRIMINAR PESSOAS NÃO. 2ª Campanha - Esta campanha destina -se a chamar a atenção do público em geral para o problema da falta de solidariedade para com os seropositivos. Pretende destacar a atitude das pessoas quando sabem que o seu amigo, familiar ou outro tem a doença. Modela o comportamento que as pessoas têm para com os seropositivos, ou seja a rejeição, incompreensão, intolerância. A estratégia persuasiva. É usado o medo como estratégia e procura provocar a emoção. A linguagem é subjectiva (ambígua) e inovadora. Usa qualificativos (icónicos) que associa a falta de solidariedade para com os infectados com uma dimensão negativa. Dá a imagem de discriminação social dos infectados, da segregação a que são sujeitos; Estratégia de realização. Na imagem destacam - se em grande plano as mãos) e a ocultação do rosto do personagem leva a inferir que é uma doença que se oculta. Esta mensagem é repetida três vezes, havendo uma paragem da imagem e o écran a negro pode constituir um elemento persuasivo e de chamada de atenção) sempre acompanhada de gestos culturalmente ofensivos e provocantes (ex: usa uma linguagem não verbal - a mão em grande plano com as seguintes mensagens - RUA; VAI -TE LIXAR). A câmara é fixa com uma voz em off do género masculino e uma banda sonora discreta. A personagem é do género masculino, com idade e género do comunicador indefinidos Em nosso entender parece acentuar a ideia de revolta pela rejeição social dos doentes seropositivos. Procura chamar a atenção pela linguagem não verbal, mas com uma estratégia emotiva/negativa. Será uma campanha mal desenhada, na medida em que se o objectivo é promover a tolerância e a compreensão para com os seropositivos poderá dar o efeito contrário para os que pensam que - se fazem esta campanha é porque há pessoas que recusam aceitá-los e eu não sou diferente. O conteúdo da mensagem e a estratégia agressiva das imagens contribui para reforçar a rejeição. É errado que ser seropositivo seja o mesmo que ter SIDA. O conteúdo da mensagem é ambíguo e errado em termos de temporalização da doença. Ter medo da SIDA é humano. Se ter medo da SIDA é humano, então também é compreensível a rejeição, principalmente por quem não está informado. E se a solidariedade está na cabeça de cada um, basta a intenção de ter pena dos infectados? Campanha 3 O CONVÍVIO NÃO MATA. O CARINHO NÃO MATA. O BEIJO NÃO MATA. A INDIFERENÇA MATA. FAÇA UM PRIMEIRO GESTO. A SIDA NÃO SE TRANSMITE PELA AMIZADE 3ª Campanha - Esta campanha tem por objectivo promover a solidariedade para com os doentes de SIDA. Aspectos relacionados com a mensagem. A mensagem visa informar sobre vias de transmissão incorrectas da SIDA (o contacto físico) e modela o comportamento duas personagens abraçam-se. A estratégia persuasiva. O medo (moderado) é a estratégia usada com um estilo que procura provocar a emoção. A linguagem é clara, apelativa. Associa a SIDA a conceitos negativos O verbo matar é o elemento chave para apelar a atenção do público. A SIDA mata (problema) e transmite-se de muitos modos, mas não através do carinho, do convívio, do beijo (na face ou na boca?) e da amizade (solução). Ao promover a solidariedade para com os doentes de SIDA, modela o comportamento que se deve ter - abraçar, beijar, acarinhar para evitar que a solidão e a indiferença mate. As diversas investigações referem que as mensagens que contêm ameaças de medo explícitas não são persuasivas (a audiência recusa - as), a não ser que indiquem concretamente como evitá-la. Ora, não é abraçando ou acarinhando alguém doente de SIDA que se evita a ameaça, embora aqui seja usada a metáfora: SIDA e solidão com o simbolismo de morte social. 2.2 CAMPANHAS DE PREVENÇÃO Apenas três campanhas referem a palavra prevenção, embora 63.4% refiram o uso do preservativo como medida preventiva para evitar a infecção. Questionam - se aspectos relacionados com a mensagem preventiva e relacionadas com o uso do preservativo. PREVENÇÃO Campanha de prevenção 1 Campanha de prevenção 2 Campanha de prevenção 3 Mundus Expo sidadania Dominó Sida estou fora Infectado Campanha 1 Três milhões de centros anti SIDA a abrir em todo o país (..) estes centros são fundamentais na prevenção e tratamento da doença. Faça da sua família o próximo centro anti SIDA. Família o princípio do fim da SIDA. Campanha 1 - Esta campanha destina -se a informar o público em geral sobre centros de prevenção e tratamento da doença a abrir em todo o país. a) Aspectos relacionados com a mensagem preventiva. Há mesmo três milhões de centros anti - SIDA ou há 3 milhões de famílias que têm no seu seio pessoas infectadas? A família protege? Se sim, como? b) Estratégia persuasiva. São utilizados factos da vida real; procura sensibilizar (emocionar) com uma linguagem clara. c) Estratégia de realização. A imagem em grande plano (meio corpo/rosto) da comunicadora do género feminino, perante uma câmara fixa com uma música de fundo discreta foi a estratégia usada. Campanha 2 Campanha 2 A maioria das campanhas pretendem que se memorize a mensagem - só o preservativo protege do VIH/SIDA. " (..) ele ama - a . Ela está só. Ela pensava que o amava. Ela estava confusa. Ele teve medo. Ela precisou. Ele desejava-a. Eles correm riscos e morrem de amores. Preservativo. Pode não morrer de amores por ele, mas use - o. Porque os amores são para ser vividos. CNLCS. Contra a SIDA pela prevenção. O preservativo é no conjunto dos spots (63.6%) a medida preventiva mais indicada. Sabemos que é a mais eficaz, mas o modo de o promover (conteúdo das mensagens) deixam algumas interrogações. Destacamos algumas frases que surgem associadas ás vantagens da utilização do preservativo e aos perigos que correm as pessoas que assim não procederem. Preservam a vida e evitam a morte; (..) é uma moda; (..) quem o usa é porque tem bom senso; (..) está em segurança; (..) é um objecto obrigatório para onde quer que vá; (..) são românticos; (..) são divertidos. (..) permitem ter comportamentos de risco; (..) protegem mesmo tendo relações de penetração com diversas pessoas. Usar preservativo é ainda uma forma de fazer sexo seguro; ser permitido perder a cabeça, mas não perder a vida; (..) pode não morrer de amores por ele, mas use-o, porque os amores são para ser vividos; (..) divirta-se, desde que use sempre a camisinha. Se usar o preservativo e evitar as drogas está protegido; Quem o não usa é (..) um burro, um otário, um idiota. O que entenderão os jovens por sexo seguro? E por comportamentos de risco? O que significará para aquelas pessoas que nunca tiveram "um comportamento de risco", mas que foram infectadas pelos seu parceiro(a)? E as crianças infectadas por via materna? e os hemofílicos que não tiveram esses referidos comportamentos? Quem tem SIDA é porque foi irresponsável e não seguiu o conselho: faça sexo seguro. Use preservativo. Não é uma decisão de duas pessoas? E como deve usar-se? Segundo um estudo realizado por Orquídea Lopes (2003) a 1000 jovens dos 14 aos 16 anos de idade de 15 distritos de Portugal e num total de 180.000 respostas, concluiu (entre outros) que há correlações significativas entre atitudes e crenças sobre o uso do preservativo. Que os preservativos têm mais custos do que benefícios. “ Rompem o romantismo e provocam custos afectivos”; “geram custos afectivos e preocupação pelo que dirão”; Não os consideram acessíveis e baratos” e “são de difícil acesso”. Ora, se há uma opinião negativa para com o uso de preservativo a intenção de conduta é correspondente - têm precauções incorrectas (valores significativos). 2.3 CAMPANHAS INFORMATIVAS Deu -se relevo apenas a cinco campanhas que visam dar concretamente uma informação sobre a doença e os números dos infectados. As campanhas 1,2,3 são um bloco separado de spots que foram divulgados na mesma altura mas diversificando o conteúdo das mensagens, embora mantendo a estrutura persuasiva e de realização, daí que se tenha procedido a uma avaliação em conjunto. Informativas Grávidas A família Bem me quer Não vale a pena morrer de amor Férias Está atento Protege - te 1 Protege - te 2 Festa Verão 97 Bom senso Aeroporto Circo Estrangeiros Emigração O peixe O campismo O amor Sim não Carocha A cama Gestos I Gestos II O padre Abutres A Sida cinco razões Levis divertido Levis romântico LEGENDA: CAMPANHAS INFORMATIVAS Campanha 1: Em Portugal já existem 30000 portadores do vírus da SIDA (aparece a imagem de um morto numa câmara frigorífica). Mas ainda há pessoas que continuam a meter estes números na gaveta. SIDA FAÇA CONTAS À VIDA. Campanha 2 Num ano o número de casos de SIDA em Portugal aumentou 20% Mas ainda há pessoas que continuam a meter estes números na gaveta; SIDA FAÇA CONTAS À VIDA. Campanha 3 Amanhã haverá mais 17 portadores do vírus da SIDA em Portugal, mas ainda há pessoas que continuam a meter estes números na gaveta. SIDA FAÇA CONTAS À VIDA. a) Aspectos relacionados com a mensagem. Destinam - se ao público em geral e as (três) mensagens apelam para a importância de estar informado; promovem a saúde como um valor social e referem consequências da doença para o futuro. Qual a informação subjacente? Que em Portugal há inúmeros portadores do vírus da SIDA e que as pessoas e instituições continuam a meter esses números na gaveta. Quem deveria informar? E porque é que as pessoas continuam a estar desatentas? Há 30.000 portadores do vírus da SIDA e ninguém reage? Estas mensagens podem gerar dúvidas e ambiguidade. Quem deve estar atento, nas são as organizações governamentais, que representam as políticas de saúde? A imagem do morto associado aos portadores do VIH e SIDA não produzirá pensamentos errados? A estratégia de antecipação das consequências (a morte) poderá confundir que um portador é já um morto? O que é ser portador? como se identifica? Como se distingue dos não portadores? Um seronegativo é também um portador? Como se distinguem os seropositivos dos seronegativos? b) Estratégias persuasivas. Usam como estratégia o medo (a morte, a morgue); procuram provocar a emoção com uma linguagem clara (30.000; 17%) e apelativa; usa qualificativos indefinidos. c) Estratégia de realização. A imagem em grande plano de um corpo do sexo masculino (morto) e de números estatísticos a vermelho (num fundo preto) com um comunicador do mesmo género (masculino); câmara fixa; a música é tétrica e triste; a idade da personagem do sexo masculino identifica -se com um adulto. Campanha 5 Este spot é destinado ao público em geral, informando sobre a dimensão da SIDA. Imagem - peças de dominó dispostas em cadeia. Uma peça faz cair todas as outras e escrevem a palavra SIDA. Todos os dias há mais alguém que é atacado por um vírus assassino. Há mais alguém que morre. Há mais alguém que pode matar. Está nas suas mãos parar esse vírus. SIDA não há solução sem prevenção. a) Aspectos relacionados com a mensagem. A estratégia centra-se na mensagem. Os portadores do vírus são assassinos que podem matar? O vírus pode atacar, pode matar. A culpa é do vírus ou das pessoas que mediante certos comportamentos, talvez por falta de informação e de sensibilização se infectaram? Perante tais informações não será compreensível que as pessoas estigmatizem os infectados pelo vírus? a mensagem tem uma linguagem icónica errada. O vírus passa pelo contacto (uma peça de dominó faz cair todas as outras)? b) A estratégia persuasiva - a estratégia é o medo (moderado) com um estilo que procura provocar a reflexão com uma linguagem ambígua. Usa qualificativos negativos. c) Estratégia de realização. Câmara fixa; voz de fundo masculina; banda sonora triste; ausência de personagens. Campanha 6 Imagem - uma mesa de cabeceira, um telemóvel desperta, uma mão procura preservativos Fui infectado pelo vírus HIV há 16 anos. Permitam-me pois que vos dê um conselho: usem o preservativo. Esta campanha procura envolver a audiência com o testemunho vivido de um doente com SIDA. Não afirma ter SIDA, mas estar infectado com o vírus HIV. Estar infectado há 16 anos significa já ter a doença e não ser seropositivo. O conselho (use o preservativo) é o apelo e a estrutura seguida por mais 7 campanhas sendo testemunhadas por médicos e outros técnicos de saúde. Em suma: A SIDA no conjunto das mensagens está associada: a morte; discriminação; veneno; pecado; doença fatal; silêncio, vingança, ódio; traição; gestos ofensivos; intolerância; ignorância, medo; solidão; infidelidade; revolta; homossexualidade; doença mundial; comportamentos de risco; irresponsabilidade; infidelidade; excesso de sexualidade. Será que esta negatividade conceptual poderá gerar solidariedade e compreensão para com os infectados quando as campanhas procuram dar um retrato tão negativo e errado da doença? A prevenção é sinónimo de usar preservativo; protecção, prazer, aventura; Há uma diversidade de combinações do conceito de amor: amor - solidariedade; amor - sexo; amor - programado; amor - desconfiança; amor - infidelidade; amar sem amor. A informação é confusa/ambígua, incorrecta e insuficiente. O preservativo é apresentado como um produto e publicitado como tal. Um dos graves problemas da SIDA é o facto de nada ter a ver com racionalidade, mas com emoções. CONCLUSÃO De um conjunto de 44 spots 18.1% destinam - se a promover a solidariedade para com os doentes de SIDA; 18.1% a informar sobre a doença e 63.6% aconselham a prevenção. Ao nível da solidariedade a imagem da SIDA está perspectivada: na óptica do sujeito (esquecimento, rejeição, solidão, revolta e intolerância) e na óptica da audiência (integração, compreensão e aceitação). Modelam comportamentos negativos (ao nível do sujeito) e positivos (ao nível da audiência). Os negativos acentuam a recusa e incompreensão para com os infectados, com uma linguagem icónica agressiva e culturalmente ofensiva (ex: gestos de solidariedade 1; gestos 2; gestos 3 e gestos 4). Como estratégia persuasiva recorrem ao medo e aos factos da vida real e procuram estimular a emoção. A linguagem é ambígua, recorrem a conceitos negativos (morte, indiferença; medo, discriminação, contagio), que poderão contribuir, não para promover a mudança de atitudes e crenças para com os doentes de SIDA ou infectados, mas para acentuar a rejeição social. Todavia, este tipo de campanhas usa elementos persuasivos (emoção, linguagem inovadora e discrepante, verbos na forma interrogativa, música apelativa) que têm a vantagem de estimular mais a atenção do público, sendo as mais indicadas para envolver pessoas não motivadas (ex: responda em silêncio) e implicadas para o tema. Curiosa é também a estratégia de realização. Há uma ausência de rostos humanos identificativos. Porém, as mensagens que veiculam são ambíguas e podem contribuir para reforçar estigmas. Quando modelam comportamentos positivos - abraçar um doente; convidá - lo a integrar - se num grupo - são mais objectivas, com uma linguagem de compreensão, tolerância e aceitação (ex: amizade sem limites; a SIDA não se transmite pela amizade etc.). Usam como estratégias: a) persuasiva - factos da vida real com o objectivo de provocar a reflexão; b) de realização - qualificativos positivos ou indefinidos; personagens adultas ou jovens de ambos os sexos. Todas as campanhas se destinam ao público em geral, excepto amizade sem limites, que visa o público adolescente. As campanhas informativas visam o público em geral. As mensagens informam: sobre o número de infectados em Portugal (dia/ano e total de infectados); vias de transmissão de SIDA; que é um doença a nível mundial; formas positivas e alternativas para evitar a infecção. As campanhas de prevenção 1; prevenção 2; prevenção 3 e dominó usam o medo como estratégia persuasiva que se destina a despoletar a emoção e a reflexão. As mensagens são confusas, ambíguas; uso de linguagem negativa que produzem inferências incorrectas (ex: confusão SIDA e seropositivo; vias de transmissão do vírus). Apenas a campanha Sida estou fora se destina aos adolescentes. A mensagem que emite é a de que façam sexo seguro, evitem drogas - Sida estou fora e façam desportos radicais, mas com segurança. Esta campanha tem diversos elementos persuasivos tais como: as personagens jovens, música alegre, ritmada e divertida, estilo emotivo, muito colorida e com vivacidade; mudança rápida de planos; câmara em movimento. As campanhas de prevenção alertam para a importância de fazer testes de SIDA antes de engravidar e para o uso do preservativo. O preservativo é o produto central a promover na maioria das campanhas: é uma moda; são divertidos; românticos; protegem a vida; um objecto obrigatório de usar. Está ainda associado a vantagens tais como; faça sexo seguro; os amores são para ser vividos; perca a cabeça, mas não a vida; permitem ter comportamentos de risco; protegem mesmo tendo relações sexuais com diversos pessoas. A Imagem da mulher – No conjunto das campanhas (spots) a mulher surge como a mãe, a amiga (solidariedade), a médica e a companheira sexual. Há apenas duas campanhas que promovem a auto eficácia (aprender a dizer não a sexo sem protecção) e visam directamente alertar para o público feminino, embora sem rosto identificado: a Sida: cinco razões – Abraço, 1999); (Sim.. Não .. A Comunidade Contra a SIDA, 1999). Na opinião de alguns homens, as mulheres tinham a responsabilidade da contracepção, principalmente para proteger-se de uma gravidez não desejada. Os homens nunca imaginaram ter também esse papel. Nos dias de hoje, ser portador ou não de um preservativo, pode ser mal interpretado pelo parceiro(a). Se um rapaz vai à discoteca, bebe uns copos, se envolve com uma rapariga e termina no seu quarto, duas coisas podem acontecer: ela (ele) só faz sexo com preservativo (e ele não o possui) e a noite romântica termina ali. Ou então, ele afirma trazer preservativos sempre consigo. Para a rapariga, o facto de ele trazer já o preservativo pode ser sinal de que é um don Juan e que se deita com várias, que tinha preparado tudo para aquele encontro. Se não o possui e se a rapariga confessa que, apesar de estar a tomar a pílula, não aceita uma relação desprotegida com o medo do VIH/SIDA, há discussão - Desconfias de mim, mas quem pensas tu que eu sou? Se as raparigas decidem proteger-se, a história é mais complicada. Porque trazes tu preservativos? Os preservativos são para os homens. Mesmo que a rapariga diga que tem direito a proteger-se, o rapaz não aceitará muito bem essa justificação e lá no fundo pensará: deve andar com vários, ou é uma doidivanas. Para uma rapariga, andar com preservativo pode ser motivo de estigma. Ora, sexo seguro não é simplesmente imagem ou discursos que nada têm a ver com a realidade. 3. ESTRATÉGIAS PARA UMA CAMPANHA As campanhas não ensinam a dialogar sobre o uso do preservativo. A recusa de uma relação sem preservativo não é bem aceite pelos rapazes, que vêem no preservativo um inimigo do prazer, da espontaneidade, do romantismo, do sexo ao natural, da perda de sensibilidade. Por isso, muitas vezes não os compram para não criar a situação de terem que os usar obrigatoriamente. E as mulheres acabam por ceder, com o medo de perderem o amante, o marido ou o namorado. As campanhas devem diversificar os públicos alvo com mensagens distintas e de acordo com os seus padrões culturais (homem, mulher, camionistas de longo curso, estrangeiros, heterossexuais etc.); Os desenhadores de mensagens devem antecipadamente conhecer bem o problema que vão tratar, o público alvo a quem se destinam e o contexto social e cultural; devem ainda conhecer a importância do tema para a audiência alvo e os padrões cognitivos, afectivos e comportamentais ; As mensagens devem informar correctamente sobre formas de transmissão e de prevenção (que o uso do preservativo seja considerado um jogo romântico de aceitação de ambos e como forma de prevenir Sida, DST e uma gravidez não desejada); devem ainda: modelar comportamentos de assertividade e de auto controlo; incentivar para relações afectivo sexuais; reforçar a auto estima daqueles que decidiram não iniciar uma relação sexual; Usar estratégias persuasivas como: cor, luminosidade, ritmo, mudança de planos, câmara em movimento; personagens com as quais se identifiquem. E ser inseridas num horário e num tipo de programação que seja visto pelo público a quem se destinam.. Mas, para além destas recomendações é preciso ainda estar atento a cinco mediadores da mensagem: ao interesse político e social; aos directores de programação; ao suporte financeiro; às características do público alvo e às características da mensagem. Segundo Freimuth (1999) os spots publicitários de SIDA apenas surtem 10% do efeito pretendido. Estes devem ser complementadas com outras estratégias e recorrendo aos diversos canais de comunicação BIBLIOGRAFIA BARDIN, L. (1986). Análisis de contenido. Madrid: Akal. FREIMUTH, V. S., HAMMOND, S. L., EDGAR, T. & MONAHAN, J. L. (1990). Reaching those at risk: A content - analytic study of AIDS PSAs. Communication Research, 17, 775 - 791. IGARTUA, J. J., LOPES, O. (2001). Relevância pessoal e tipo de formato como determinantes do impacto persuasivo em curtas metragens de ficção desenhadas para prevenir a SIDA. Braga, Universidade do Minho: Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, 2. IGARTUA, J. J., LOPES, O. (2002). La prevención del SIDA mediante cortos de ficción. Una investigación experimental. Revista estudios de comunicación, ZER, 12. KRIPPENDORF, K. (1980). Content analysis: an introduction to its methodology. Beverly Hills, CA: Sage Publications. LOPES, O . (2003). Contenidos y estructuras básicas para la elaboración de spots publicitarios para la prevención del SIDA heterosexual en campañas y programas informativos para menores. Tesis Doctoral. Universidad de Salamanca.