Área: CV ( X ) CHSA ( ) ECET ( ) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA Coordenadoria de Pesquisa – CPES Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 E-mail: [email protected] CONSUMO ALIMENTAR DE ENERGIA, MACRONUTRIENTES E VITAMINAS ANTIOXIDANTES POR PACIENTES EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO. Lívia Christine Santana e Silva (bolsista do ICV/CNPq), Gilmara Péres Rodrigues (Orientadora, Depto de Nutrição – UFPI) Introdução O câncer é definido como enfermidade multicausal crônica, caracterizado pelo crescimento descontrolado das células. A controvérsia envolve resultados de estudos que apontam o consumo de suplementos vitamínicos antioxidantes como estratégia para auxiliar na prevenção ou cura de doenças crônicas, bem como resultados de pesquisas recentes que têm mostrado a ingestão excessiva de vitaminas como fator de mudança em seu mecanismo de ação, passando a assumir efeito pró-oxidante, com promoção de alterações no DNA. Além disso, algumas análises sugerem que o consumo excessivo de β-carotenos, vitamina A e vitamina E pode aumentar o risco de morte em pacientes com câncer. Portanto, não há suficiente evidência científica para promover ou desencorajar o uso de suplementos multivitaminas para a prevenção de doenças crônicas, entre as quais o câncer ((ROHENKOHL; CARNIEL; COLPO, 2011; PALOMO; MOORE-CARRASCO; CARRASCO; et al., 2010; DÜSMAN; FERREIRA; BERTI, 2012). Tomando-se como referencial os aspectos apresentados, julga-se importante a realização deste estudo, na perspectiva de contribuir para a identificação do consumo alimentar de energia, macronutrientes e vitaminas antioxidantes por pacientes com câncer durante o tratamento quimio e radioterápico. Metodologia O presente estudo é de natureza transversal, realizado com 100 pacientes portadores de câncer, de ambos os sexos, faixa etária entre 20 e 59 anos, assistidos em um hospital especializado em tratamento oncológico na cidade de Teresina-PI. Realizou-se a aplicação de questionário sobre características clínicas dos pacientes e três recordatórios alimentares de 24 horas, em dias diferentes, sendo dois dias da semana e um dia no final de semana, para avaliação do consumo alimentar de energia, macronutrientes e vitaminas antioxidantes. Calculou-se ainda o percentual de adequação das vitaminas C e E de acordo com a Estimated Average Requirement (EAR), por meio da verificação do perceptual que os valores obtidos representavam em relação ao valor médio recomendado. Para análise do valor energético total utilizou-se como referência a “Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008-2009: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2011. Quanto às recomendações de macronutientes, utilizou-se as recomendações da Acceptable Macronutrient Distribution Range - AMDR, por ser uma faixa de ingestão que está associada ao risco reduzido de doença crônica (PADOVANI; AMAYA-FARFÁN; COLUGNATI, 2006; BRASIL, 2011). Os dados foram organizados no programa Microsoft Excel 2010 para análise descritiva, com determinação de frequências, valores médios e desvios padrão, utilizados na elaboração de tabelas. Resultado e Discussão A amostra foi composta por 100 pacientes, sendo 82% do sexo feminino (n=82) e 18% do sexo masculino (n=18), cujo tempo médio de diagnóstico do câncer foi de 11,4 ± 10,2 meses.Os valores médios e desvio padrão para idade foram de 43,4 ± 8,6. Todos os pacientes do estudo encontravam-se em tratamento quimioterápico, porém 8% (n=8) já haviam realizado radioterapia. É importante mencionar que 43% (n=43) possuía história familiar positiva para a doença. Entre os participantes do estudo foram identificados 10 diferentes tipos de neoplasias malignas, mostrando uma maior prevalência de câncer de mama entre as mulheres 67,1% (n=55) e de próstata e pulmão entre os homens 27,8% (n=5). Os resultados confirmam dados epidemiológicos que apontam a elevada frequência de câncer de mama entre as mulheres e de próstata entre os homens. Entre as mulheres, o câncer de mama é o de maior prevalência e incidência em todo o mundo. Representando cerca de 25% de todos os tipos de câncer diagnosticados na população feminina. Nesse sentido, a idade é apontada como um dos mais importantes fatores de risco, uma vez que as taxas de incidência aumentam rapidamente após os 50 anos. Na população masculina, a última estimativa mundial apontou o câncer de próstata como sendo o segundo tipo mais frequente, estando atrás do câncer de pele. Da mesma forma que para o câncer de mama entre as mulheres, a idade figura como importante fator de risco. Aproximadamente 62% dos casos diagnosticados no mundo ocorrem em homens com 65 anos ou mais (INCA, 2014). Os resultados demonstram que o valor médio de consumo energético encontra-se abaixo do recomendado, enquanto que a distribuição de macronutrientes encontra-se dentro do recomendado. Achados semelhantes foram encontrados por Tartari; Busnello e Nunes (2010), em que se investigou o perfil nutricional de pacientes em tratamento quimioterápico, encontrou-se média de consumo energético equivalente a 1.875 ± 200,2 kcal/dia, também inferior às necessidades energéticas daquela população. Nesse sentido, é oportuno destacar que a doença neoplásica maligna pode ter componentes de hipo e hipermetabolismo, na dependência do tipo de tumor, do estágio do câncer e das formas de tratamento, resultando em diminuição ou aumento do gasto energético. Mostrando que comparar os dados sobre o consumo energético é uma difícil tarefa, considerando a escassez de estudos que utilizam esse instrumento para avaliar consumo alimentar de pacientes oncológicos (FIRME e GALLON, 2010; TARTARI; BUSNELLO e NUNES 2010). Os resultados demonstraram consumo médio das vitaminas C e E superior ao recomendado pela EAR, porém abaixo do estabelecido pelo UL. Usam-se estes parâmetros, por serem considerados os mais adequados para a avaliação de dietas de indivíduos. Valores habituais de consumo abaixo da EAR denotam grande probabilidade de inadequação, e acima da UL indicam risco de desenvolvimento de efeitos adversos por toxicidade (PADOVANI; AMAYA-FARFÁN; COLUGNATI, 2006). É importante destacar que as vitaminas C e E garantem um efeito protetor em relação ao câncer, devido ao fato de serem antioxidantes e de evitarem a formação de carcinógenos a partir de compostos precursores, mantendo a integridade e a regeneração dos tecidos, além de aumentar a imunidade. Além disso, as concentrações séricas maiores de vitamina C e tocoferóis, bem como o consumo de alimentos ricos nesses nutrientes, são capazes de reduzir pela metade o risco de lesões pré-neoplásicas evoluírem para o câncer (SAMPAIO e ALMEIDA, 2009). Conclusão Conclui-se que o consumo alimentar dos pacientes em tratamento oncológico está adequado quanto à contribuição dos macronutrientes para o valor energético total, embora não seja suficiente para atender as necessidades energéticas desta população. Em acréscimo, o consumo alimentar das vitaminas antioxidantes C e E, a partir de alimentos fontes, apresenta baixo percentual de inadequação, com consumo superior às recomendações para a maior parte da população estudada. Palavras-Chave: Câncer. Consumo Alimentar. Vitaminas Antioxidantes. Referências BRASIL. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. - Rio de Janeiro: IBGE, 2011. 150 p. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Estimativa, 2014. Incidência de câncer no Brasil. 2014. Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa-24042014.pdf. Acesso em 04.03.2015. BRITO, L. F.; SILVA, L. 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