mais uma vez, sobre o ensino de gramática

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MAIS UMA VEZ, SOBRE O ENSINO DE GRAMÁTICA...
BRUTTI, Elizane Aparecida1; CONTRI, Mainardi Andreia¹; LINCK, M. D. Ieda2;
VIGORITO, Helena¹; VIONE, Pedro¹.
Palavras-chave:Língua materna. Gramática. Livro didático. Mudança.
Introdução
Gramática é uma palavra de origem grega formada a partir de “grámma” (letra). Era o
nome das técnicas de escrita e leitura. Posteriormente, passou a designar o conjunto das regras
que garantem o uso modelar da Língua (Gramática normativa). Atualmente, é a descrição
científica do funcionamento dessa língua (Gramática descritiva).
Esse conceito mostra a responsabilidade dos professores de língua portuguesa,
poiscomo futuro profissional da educação, precisa refletir sobre o ensino que se tem em
relação ao que se almeja, sendo isso primordial para alicerçar as bases de uma boa formação.
Por isso, pesquisar, investigar e refletirdeve ser uma prática constante durante o processo de
estudos acadêmicos. Considerando que Língua Portuguesa será futura área de atuação, este
trabalho vai proporcionar aos estudantes diferentes olhares para a aplicação da gramática em
sala de aula, quando o mesmo estiver atuando.Nesse sentido, é preciso conhecer as normas
gramaticais que norteiam o ensino de língua portuguesa.
Esta pesquisa tem por objetivo, então, investigar como está organizada a classe dos
pronomes pessoais, denominados, assim, pela Nomenclatura Gramatical Brasileira, e
apresentada nos livros didáticos distribuídos na rede escolar. Além disso, busca observar
como os gramáticos trazem as definições e como essa definição pode contribuir para a
melhora na compreensão da língua e se trazem (ou não) benefícios significativos para os
alunos. Para tanto, alguns autores foram fundamentais, dentre eles, destaca-se:Borgatto
(2006), Sarmento (2000), Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e Bechara (2009).
Metodologia
Este trabalho partiu de uma revisão bibliográfica, na busca de diferentes abordagens
sobre as classes de palavras. Nesse texto, apresentam-se mais especificamente a nomenclatura
encontrada nos gramáticos e nos livros didáticos sobre os pronomes pessoais para o ensino de
língua materna nas escolas.
1
Acadêmicos do quarto semestre do Curso de Letras. Bolsistas Parfor – Unicruz.
Orientadora. Docente Unicruz. Doutoranda em Linguística – UFSM. Mestre em Educação. Mestre em
Linguística- UPF. Coordenadora do Proies/Unicruz.
2
Após essa análise inicial, foi realizada uma reflexão com fundamentação teórica das
ideias apresentadas e as novas perspectivas sobre como e por que ensinar gramática na escola.
Essas perguntas são indispensáveis para que a instituição escolar cumpra com a sua função,
ou seja, aprimorar o conhecimento linguístico de seus alunos.
A seguir apresentam-se as nomenclaturas encontradas durante a pesquisa sobre a
classe dos pronomes. Iniciam-se as considerações trazidas pelos gramáticos e logo após as dos
livros didáticos.
Resultados e Discussões
O gramático Sarmento (2000, p. 164) dá uma definição brevíssima, ou seja,
“pronomes pessoais são pronomes que indicam às três pessoas do discurso”.
Para Bechara (2009) os pronomes pessoais designam as duas pessoas do discurso e a
não pessoa (não eu, não tu), considerada, pela tradição, a 3ª pessoa:1ª pessoa: eu (singular),
nós (plural); 2ª pessoa: tu (singular), vós (plural); 3ª pessoa: ele, ela (singular), eles, elas
(plural).
Borgato (2006) apresenta no seu livro didático a discussão dos pronomes pessoais a
partir de gêneros diferenciados, dentre eles, as tiras.Após alguns questionamentos sobre o
texto, a autora traz uma discussão sobre quando utilizar eu ou nós. Então, explica que esse
dois vocábulos são pronomes pessoais. De acordo com a autora: “os pronomes pessoais são
classificados de acordo com a pessoa do discurso a que se referem” (BORGATO, 2006,
p.165).
Observa-se que ao relacionar a tira com os pronomes sua explicação é confusa ao dizer
“nos quadrinhos, também são pronomes eu e nós: estão indicando a pessoa que fala”. Essa
explicação, além de incompleta é confusa, principalmente se considerarmos que o livro é para
a 5ª série, hoje 6º ano. A forma como é apresentada até pode ser coerente para acadêmicos de
um Curso de Letras, mas não para alunos tão jovens. Enfim, o que vai fazer a diferença é a
forma como o professor vai abordar essa explicação, mas caso fique com apenas aquela que
aparece no livro didático, o aluno não conseguirá assimilar o conceito com a função que o
pronome tem no texto.
Como se observa, tanto nas obras analisadas quanto os livros didáticos pesquisados, o
pensamento de que os pronomes pessoais são como a própria tradição gramatical os
convencionou, “são substituidores de pessoas” é unânime. Como se isso pudesse estar sempre
na ordem direta pessoa - pronome.
Ao falar em tradição gramatical, cabe aqui retomar que a organização da Língua
Portuguesa ocorreu através da Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) criada em 1959.
Dentre as justificativas dirigidas ao ministro da Educação estava em transformar o ensino da
língua portuguesa numa terminologia simples, adequada e uniforme, atendendo a um tríplice
como a exatidão científica do termo, a sua vulgarização internacional e a sua tradição na vida
escolar brasileira. A partir da aprovação dessa portaria, o ensino de língua portuguesa na
escola foi recortado em parte e cada parte deve ser vista com exatidão e simplicidade. A
principal justificativa para o que vem sendo trabalhado nas escolas estão relacionadas à NGB.
Mas, será que escrever, produzir um texto é tão simples assim? Será que apenas
nomear pronomes, saber se são do caso reto ou no oblíquo, facilita a leitura e escrita?Por que
dissemos isso? Porque nos materiais analisados, em nenhum momento os alunos tiveram de
produzir textos, diálogos, criar situações reais de uso dos pronomes no seu convívio diário,
simplesmente reduziu-se a localizar qual foi o tipo de pronome usado naquela situação
específica e simplória, reduzida a uma frase isolada. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) abordam sobre o ensino descontextualizado:
Não se justifica tratar o ensino gramatical desarticulado das práticas de linguagem. É
o caso, por exemplo, da gramática que, ensinada de forma descontextualizada,
tornou-se emblemática de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só serve
para ir bem na prova e passar de ano uma prática pedagógica que vai da metalíngua
para a língua por meio de exemplificação, exercícios de reconhecimento e
memorização de terminologia (1997, p.28 ).
Nessa perspectiva de responder a questionários, que chega até o aluno é incompleta,
poisalém de não esclarecer sobre a funcionalidade desses pronomes, não explora a
possibilidade de outras relações semânticas que podem, dependendo do contexto em que está
inserido, serem atribuídas a estes. Os PCNs explicam que:
O modo de ensinar, por sua vez, não reproduz a clássica metodologia de definição,
classificação e exercitação, mas corresponde a uma prática que parte da reflexão
produzida pelos alunos mediante a utilização de uma terminologia simples e se
aproxima progressivamente, pela mediação do professor, do conhecimento
gramatical produzido (1997, p.29).
Os exemplos trazidos pelos livros didáticos analisados não correspondem às
definições, não sustentam a relação semântica que devem constar nessas definições. Enfim,
não trabalham com as reais possibilidades de uso desses pronomes. Esses modelos não
concebem a língua como um processo de interação social e dificilmente teremos um contexto
de uso para essas orações descontextualizadas que foram apresentadas nos exemplos acima.
A aula deve ser o espaço privilegiado de desenvolvimento de capacidade intelectual
e lingüística dos alunos, oferecendo-lhes condições de desenvolvimento de sua
competência discursiva. Isso significa aprender a manipular textos escritos variados
e adequar o registro oral às situações interlocutivas, o que, em certas circunstâncias,
implica usar padrões mais próximos da escrita (PCNs, 1997, p.30).
Diante dessas colocações, fica perceptível que em nenhum momento os recursos
oferecidos aos professores nos livros didáticos, estão contribuindo para o avanço dos
conhecimentos linguísticos dos seus alunos. O professor precisa buscar em materiais diversos,
e principalmente nas gramáticas o conhecimento sobre a língua, não pode sequer imaginar
que aqueles conceitos apresentados nos livros didáticos sejam suficientes para que o ensino de
língua portuguesa seja eficaz. Considerar o sujeito aprendente como alguém que já se
comunica é básico, mas ampliar o conhecimento linguístico do mesmo é sua função como
educador.
Conclusão
A partir dessa pesquisa, percebe-se que os livros didáticos adotados pelos professores
e pelo Ministério da Educação de Língua Portuguesa têm um projeto de elaboração que não
satisfaz amplamente as necessidades sociais e interativas do estudante de língua materna. Os
exemplos mostrados não estão de acordo o que sugere os PCNs, pois além de não
considerarem as várias possibilidades semânticas que os pronomes assumem, traz os
exemplos desses elementos descontextualizados.
Os materiais didatizados não questionam, nem ampliam a própria definição dos
pronomes, parecem apenas reproduzir o que está estabelecido pela Nomenclatura Gramatical
Brasileira, como se a língua fosse um círculo fechado sem restrições e nem particularidades.
Não se atentam para a necessidade de se trabalharo valor semântico dos componentes da
língua.
Não se pode de forma alguma cair no discurso do sistema “de que não adianta e de que
não tem como mudar”. É preciso, de forma urgente, fazer um trabalho diferenciado e
produtivo,um trabalho que realmente venha contribuir para a ampliação do vocabulário
linguístico com significado na vida desses jovens estudantes.
Enfim,a pesquisa vem demonstrar o grande desafio que têm os futuros professores de
língua portuguesa. É preciso te claro que os objetivos da educação escolar devem ocupar-se
dos conhecimentos que os alunos já construíram na sua relação social e a partir deste ampliálo para que tenham a oportunidade de se tornarem melhores leitores e melhores escritores,
mas principalmente de ajudá-los a serem cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.
Referências
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 ª edição. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2009.
BORGATTO, Ana Maria Trinconi. Tudo é linguagem: manual do professor. São Paulo:
Ática, 2006.
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental - Parâmetros Curriculares Nacionais:
Língua Portuguesa. BRASILIA: MEC/SEF, 1998.
SARMENTO, Leila Lauar. Gramática em Textos. São Paulo: Moderna, 2000.
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