Produção e qualidade de sementes de abobrinha em função da sele

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Produção e Qualidade de Sementes de Abobrinha em Função da
Quantidade de Pólen na Polinização Manual.
Antonio Ismael Inácio Cardoso 1
Prof. Adjunto, UNESP-FCA-DPV-Horticultura, C. Postal 237, 18603-970, Botucatu-SP. E-mail:
[email protected]
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RESUMO
O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da quantidade de pólen em polinizações
manuais por dois ciclos na produção e qualidade de sementes de abobrinha. Flores
femininas de plantas da cultivar Piramoita foram polinizadas manualmente com a metade
(0,5) ou com o dobro (2,0) do pólen de uma flor masculina, obtendo-se sementes que foram
denominadas de primeiro ciclo de seleção para quantidade de pólen. Flores femininas de
plantas destas duas novas “populações” foram novamente polinizadas com as mesmas
quantidades de pólen do primeiro ciclo (0,5 ou 2,0), obtendo-se sementes com dois ciclos de
polinização manual. Estas quatro "populações", além da população original, constituiram os
cinco tratamentos que foram avaliados em um delineamento em blocos ao acaso com seis
repetições de dez plantas. Foram avaliados o número de frutos maduros por planta, a
produção de sementes (número e massa) por fruto e por planta, a massa de 100 sementes,
germinação e vigor das sementes obtidas. Foram obtidos maior número de frutos e de
sementes por planta no tratamento com utilização de 2,0 flores masculinas (2o ciclo),
superior a utilização de 0,5 flor masculina no 1o ciclo. A qualidade fisiológica da semente
(germinação e vigor) não foi afetada pelos tratamentos.
Palavras-chave: Cucurbita moschata, flores, frutos
ABSTRACT
Summer squash seed production and quality in function of pollen quantity in manual
pollination.
The purpose of this trial was to evaluate the effect of pollen quantity for two cycles in
manual pollination in seed production and quality of ‘Piramoita’ summer squash. Female
flowers were manually polinated with a half (0.5) or twice (2.0) pollen quantity of a male
flower to get seeds from first selection cycle for pollen quantity, resulting two new
“populations”. Female flowers of plants from these new “populations” were pollinated again
with the same pollen quantity of the first cycle (0.5 or 2.0), getting seeds with two cycles of
manual pollination. These four “populations”, besides original one, were the five treatments
evaluated in a randomized block design, with six replications and ten plants/plot. Fruit
number per plant, fruit mean weight, seed yield per fruit and per plant, 100 seed weight, seed
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germination and vigor were evaluated. Greater fruit and seed number per plant were
obtained with 2.0 pollen quantity (2nd cycle) than 0.5 pollen quantity (1st cycle). Seed quality
(germination and vigor) was not affect by treatments.
Keywords: Cucurbita moschata, flowers, fruits
A utilização de sementes de cultivares adaptadas e de alta qualidade fisiológica,
sanitária e genética é um fator primordial na produção de hortaliças. A difusão do uso de
híbridos levaram os produtores a exigirem alta qualidade da semente, já que seu preço é
superior aos das cultivares de polinização aberta.
No caso de cucurbitáceas, é importante salientar que a polinização manual é uma
alternativa utilizada na produção de sementes de híbridos. Neste caso, tanto o parental
masculino quanto a quantidade de pólen podem ser controlados de acordo com a
necessidade.
Tem-se observado maior produção e/ou qualidade das sementes com polinização
manual quando se utiliza maior quantidade de pólen (Schlichiting et al., 1987; Lima et al.,
2003). Quesada et al. (1996) também relataram correlação positiva entre a quantidade de
pólen e o vigor da progênie resultante.
Normalmente frutos de abóbora com maior quantidade de sementes apresentam
menor possibilidade de serem abortados (Stephenson el al., 1988). Segundo Lee (1984),
esse processo de abortamento pode ser um mecanismo pelo qual as plantas podem
influenciar, de alguma maneira, a qualidade de suas sementes e progênie. Assim as
plantas, indiretamente, eliminam as progênies produzidas com pouca competição entre
grãos-de-pólen, aumentando o vigor e qualidade da descendência. Porém, na produção de
sementes com polinização manual esta competição é restringida, pois normalmente são
deixados um ou dois frutos por planta, e as flores não polinizadas manualmente são
eliminadas.
Mulcahy (1979), Davis et al. (1987) e Hormaza & Herrero (1996) consideram que o
melhorista pode atuar impondo uma seleção artificial, colocando uma grande quantidade de
pólen sobre o estigma para que estes compitam entre si, favorecendo os mais vigorosos. As
sementes originadas tendem a apresentar maior vigor e as plantas resultantes destas
sementes podem apresentar maior potencial produtivo.
Deste modo, há a possibilidade de se selecionar populações mais vigorosas apenas
expondo as flores femininas a uma grande quantidade de pólen, sem a necessidade de
grandes áreas, apenas aproveitando a intensa competição entre os grãos-de-pólen (Davis
et al., 1987; Hormaza & Herrero, 1996). Muitas vezes ocorre justamente o contrário, colocase pouco pólen, geralmente por falta de sincronização no florescimento entre os genitores.
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Deste modo, uma flor masculina pode ser utilizada para a polinização de duas ou mais
flores femininas.
Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da quantidade de pólen por dois
ciclos na produção e qualidade de sementes de abobrinha ‘Piramoita’.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Fazenda Experimental São Manuel, pertencente à
Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, localizada no município de São Manuel, SP.
Foram realizadas polinizações manuais utilizando-se diferentes quantidades de
pólen: a metade (0,5) e o dobro (2,0) da quantidade média de pólen de uma flor masculina
(24 mg/flor), colocados sobre a superfície do estigma de uma flor feminina da cultivar
Piramoita. Desta maneira foram obtidas sementes de duas “populações” após um ciclo de
polinização manual. Esta etapa foi realizada de agosto à dezembro de 2001.
Sementes destas duas “populações” foram semeadas para a realização do segundo
ciclo de polinização manual, seguindo os tratamentos originais (0,5 ou 2,0 flores
masculinas), utilizando-se apenas flores masculinas coletadas em plantas do próprio
tratamento (0,5 ou 2,0 flores masculinas). Esta operação foi realizada para completar o
segundo ciclo sucessivo com polinização manual com quantidades diferentes de pólen. Esta
etapa foi realizada de junho à outubro de 2002.
Deste modo, foram obtidas duas "populações" com polinização manual utilizando-se
meia flor masculina (com 1 e 2 ciclos de polinização manual), duas “populações” utilizandose duas flores (com 1 e 2 ciclos), além da população original. Estas cinco "populações"
constituíram os tratamentos avaliados no delineamento em blocos ao acaso, com seis
repetições de dez plantas. Neste experimento, a polinização foi realizada por abelhas
naturalmente encontradas no campo experimental.
A semeadura foi feita no dia 21 de janeiro e o transplante em 5 de fevereiro de 2003,
em um espaçamento de 2,0 x 1,5m. Os frutos foram colhidos quando apresentavam-se com
coloração creme, em duas datas: 7 e 14 de abril de 2003. Depois foram deixados em
repouso por mais três semanas antes da extração das sementes.
Após a extração e secagem das sementes, estas foram guardadas em câmara seca
(UR=40% e temperatura = 20oC), onde o teor de água se estabilizou por volta de 8,0 %.
Depois foram submetidas a uma limpeza para retirada das chochas e danificadas, obtendose as sementes classificadas, com as quais se realizaram as avaliações.
Foram avaliadas as seguintes características: número de frutos por planta; massa
média de fruto; produção (número e massa) de sementes por fruto e por planta; germinação
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(Brasil, 1992); vigor das sementes (primeira leitura no teste padrão de germinação e
emergência em substrato comercial).
Na avaliação de emergência, considerou-se a % de sementes emergidas 15 dias
após a semeadura como o potencial de emergência.
Os valores obtidos foram submetidos a análise de variância e as médias dos
tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As plantas do tratamento 0,5 flor (1o ciclo) produziram menor número de frutos
maduros que as plantas dos tratamentos onde foram utilizadas 2,0 flores masculinas (1o e 2o
ciclos) (Tabela1). Schlichting et al. (1990) e Quesada et al. (1996) observaram correlação
positiva entre a quantidade de pólen e o vigor da progênie resultante. Segundo Davis et al.
(1987) há a possibilidade de se aumentar o vigor das populações apenas expondo as flores
femininas a uma grande quantidade de pólen. Descreveram que plantas derivadas de
sementes produzidas sob condições de elevada quantidade de pólen, produziram mais
flores e frutos e maior quantidade (número e massa) de sementes por planta. Entretanto,
apenas o 1o ciclo do tratamento com menor quantidade de pólen (0,5 flor) foi
estatisticamente inferior. Considerando-se que as sementes do 1o ciclo (de ambas as
quantidades de pólen) ficaram armazenadas por um ano enquanto que as do 2o ciclo tinham
sido recém extraídas, talvez tenha havido também um pequeno efeito do menor vigor de
semente. Sementes obtidas com a utilização de 2,0 flores mantiveram seu vigor produtivo
aparentemente inalterado mesmo após um ano de armazenamento, o que já não ocorreu
com as sementes obtidas com menor quantidade de pólen (0,5 flor masculina) na
polinização manual.
Não se observou diferença significativa entre os tratamentos para a massa média de
fruto e para a produção de sementes por fruto, ou seja, a quantidade de pólen utilizada na
polinização manual por dois ciclos não afetou a produção (número e massa) de sementes
por fruto (Tabela 1).
As plantas do tratamento 0,5 flor (1o ciclo) produziram menor número de sementes
(Tabela 1) que as plantas dos tratamentos onde foram utilizadas 2,0 flores masculinas (2o
ciclo) e na população original. Este tratamento (0,5 flor, 1o ciclo) também resultou em menor
produção, em massa, em relação às plantas do 2o ciclo com 2,0 flores (Tabela 1). Esta
diferença deve-se, provavelmente, ao menor número de frutos no tratamento 0,5 flor (1o
ciclo). Se a quantidade de sementes por fruto não diferiu, a produção de sementes por
planta vai depender do número de frutos por planta. Quanto maior este número, maior a
produção de sementes por planta. Também Davis et al. (1987) relataram que plantas
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derivadas de sementes produzidas sob condições de elevada quantidade de pólen,
produziram maior quantidade (número e massa) de sementes por planta.
Com relação à qualidade das sementes, não se observaram diferenças significativas
entre os tratamentos para todos os índices. A germinação (8 dias) sempre esteve acima dos
88% e a emergência em substrato (15 dias após a semeadura) acima dos 96%,
caracterizando sementes de ótima qualidade fisiológica.
Apesar de não afetar a qualidade das sementes das progênies resultantes, concluiuse que sementes obtidas com polinização manual utilizando-se 2,0 flores masculinas para
uma feminina resultaram em plantas com maior número de frutos e de sementes em
comparação a utilização de 0,5 flor masculina.
Tabela 1. Número de frutos por planta (NrFrPl), massa média de fruto (MMF), número
(NS/F) e massa (MS/F) de sementes por fruto, número (NS/P) e massa (MS/P) de sementes
por planta de acordo com o tratamento. São Manuel, FCA/UNESP, 2003.
Tratamento
Piramoita
0,5 flor, 1o ciclo
0,5 flor, 2o ciclo
2,0 flores, 1o ciclo
2,0 flores, 2o ciclo
C.V.
NrFrPl
1,96 ab
1,76 b
2,11 ab
2,27 a
2,45 a
6,5 %
MMF (g)
1309 a
1222 a
1169 a
1101 a
1174 a
14,9 %
NS/F
218 a
163 a
184 a
183 a
179 a
9,8 %
MS/F (g)
16,53 a
15,25 a
15,83 a
14,90 a
15,85 a
12,6 %
NS/P
441 a
297 b
393 ab
418 ab
440 a
11,5 %
MS/P (g)
33,47 ab
27,58 b
33,74 ab
34,21 ab
39,70 a
18,0 %
Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
AGRADECIMENTOS
O autor agradece à FAPESP pela concessão de auxílio à pesquisa (Processo
01/04400-6).
LITERATURA CITADA
BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes.
Brasília: SNAD/CLAV, 1992. 365p.
DAVIS, L. E.; STEPHENSON, A. G.; WINSOR, J. A. Pollen competition improves
performance and reproductive output of the common zucchini squash under field
6
conditions. Journal of the American Society for Horticultural Science, v.112, n.4, p.712716, 1987.
HORMAZA, J.I.; HERRERO, M.
Male gametophytic selection as a plant breeding tool.
Scientia Horticulturae, v.65, n.4, p.321-333, 1996.
LEE, T.D. Patterns of fruit maturation: a gametophyte competition hypothesis. American
Nature, n.123, p.427-432, 1984.
LIMA, M.S.; CARDOSO, A.I.I.; VERDIAL, M.F. Plant spacing and pollen quantity on yield
and quality of squash seeds. Horticultura Brasileira, v.21, n.3, p.443-447, 2003.
MULCAHY, D.L. The rise of the angiosperms: a genecological factor. Science, v.206, p.2023, 1979.
QUESADA, M.; WINSOR, J.A.; STEPHENSON, A.G. Effects of pollen selection on progeny
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SCHLICHTING, C. D.; DAVIS, L. E.; STEPHENSON, A. G.; WINSOR, J. A. Pollen
competition and offspring variance. Evolutionary Trends in Plants, v.1, n.1, p.35-39,
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SCHLICHTING, C. D.; STEPHENSON, A. G.; SMALL, L.E. Pollen load and progeny vigor in
Cucurbita pepo: the next generation. Evolution, v.44, n.5, p.1358-1372, 1990.
STEPHENSON, A. G.; DEVLIN, B.; HORTON, J. B. The effects of seed number and prior
fruit dominance on the pattern of fruit production in Cucurbita pepo (zucchini squash).
Annals of Botany, v.62, n.6, p. 653-661, 1988.
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