SEXTA-FEIRA, 08.04.2016 RODOLPHO TELAROLLI JR.* H1N1: mitos e verdades D epois da dengue, zika e chikungunya, é o vírus da gripe H1N1 a assombrar a população brasileira. Todos os anos a gripe é esperada a partir de maio, quando o frio e a secura do ar próprios do outono se combinam, favorecendo a ocorrência de milhares de casos da doença no País. Sempre surgem novos vírus da gripe, resultado de mutações nos genes do microrganismo. Alguns deles são mais agressivos, como ocorreu com a gripe espanhola, que matou dezenas de milhões em todo o mundo em 1918/1919. O vírus da gripe H1N1 surgiu em 2009, ano em que provocou mais de 2 mil mortes apenas no Brasil em decorrência das complicações da doença. Em 2016, até o momento, foram mais de 70 mortes, das quais 80% ocorreram no Estado de São Paulo. Para prevenir epidemias da gripe, há duas décadas o governo brasileiro promove anualmente campanhas de vacinação, a partir do final de abril. A surpresa em 2016 fi- cou por conta da ocorrência, já no mês de março, de muitos casos de gripe H1N1, conhecida anos atrás como gripe suína ou gripe A. Ao contrário de outras doenças, contra as quais bastam umas poucas doses de vacina para imunizar por toda a vida, a vacina da gripe tem que ser renovada anualmente. Isso é necessário porque o vírus sofre muitas mutações. A vacina precisa sempre ser atualizada para manter a população protegida contra as variantes do vírus que surgiram no ano anterior. A vacina da gripe é muito segura e eficaz, mas para que o vírus não circule pela comunidade é necessário que pelo menos 80% da população alvo da vacinação receba o produto. Ela é oferecida aos chamados ‘grupos de risco’, que são as parcelas da população que têm maior risco de sofrer as complicações da doença, inclusive a morte: os maiores de 60 anos, crianças até 5 anos, gestantes, profissionais da área da saúde e adultos em geral portadores de doenças debilitantes, como o diabetes e a bronquite. A baixa adesão da população à vacina da gripe é um problema que ocorre desde as primeiras campanhas de vacinação, pois infelizmente ainda persistem vários mitos envolvendo o produto. Muitos temem os efeitos adversos da vacina, que são poucos e leves, no máximo uma certa indisposição que dura alguns dias. Outro mito comum diz respeito à crença de que a vacina não funciona bem e que em algumas pessoas o produto até poderia provocar a gripe. SEXTA-FEIRA, 08.04.2016 Essa crença é resultado da confusão existente no Brasil entre gripe e resfriado. Qualquer doença com sintomas respiratórios é nomeada pela população como ‘gripe’, quando, na verdade gripe e resfriado são eventos distintos, causados por famílias diferentes de vírus. Enquanto o resfriado tem sintomas mais leves, limitando-se a coriza, dor de cabeça e dores no corpo, que podem ser acompanhados ou não por febre baixa, a gripe tem sintomas mais severos, como dores intensas no corpo, dor de garganta, tosse intensa, cansaço e febre alta. O resfriado é autolimitado, enquanto a gripe pode se complicar em pneumonia e morte. Assim, quem recebe a vacina contra a gripe não será atacado pelos vírus da gripe, mas poderá sofrer vários resfriados ao longo do outono e inverno. Desfazer esses mitos e estimular a vacinação anual entre os grupos de risco, através de campanhas de educação em saúde de qualidade e permanentes, é a medida certa para combater a gripe H1N1 e outros vírus da gripe que certamente surgirão nos próximos anos. RODOLPHO TELAROLLI JR. É MÉDICO, DOUTOR EM SAÚDE COLETIVA E PROFESSOR DA FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DA UNESP EM ARARAQUARA