Posturograma 3.0 A realização do exame é bem simples, são utilizadas 6 fotos digitalizadas, face ventral, face posterior, perfil direito, perfil esquerdo, flexão anterior (vista face ventral) e flexão anterior (vista face perfil). Estas imagens são mensuradas na tela de edição utilizando pontos anatômicos e levadas à tela de avaliação onde os resultados são transferidos para um banco de dados onde é realizada uma avaliação gráfica. Após esta operação o resultado fica disponível para imprimir três folhas de relatório, (formato A4), com as imagens mensuradas e a avaliação gráfica, conforme imagem abaixo... SOFTWARE DEDICADO: NOVA FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO POSTURAL “Sentíamos em nossa atividade clínica, voltada para avaliação postural, que a obtenção de mensurações precisas necessitava de uma ferramenta que desse respaldo e que comprovasse de forma cabal a atuação fisioterapêutica resolutiva na área. Nas empresas, tínhamos que desenvolver um grande número de procedimentos para as doenças ocupacionais e o registro dos dados coletados era quase impossível, por não existir uma ferramenta adequada para essa finalidade”. Diante essas dificuldades sintetizadas pela dra. Francinett da Costa Dias, fisioterapeuta paraibana radicada no rio de Janeiro (RJ), ela resolveu iniciar, há pouco mais de cinco anos, o desenvolvimento de um software de avaliação funcional que atingisse as necessidades específicas dos fisioterapeutas, aliando a sua experiência profissional como fisioterapeuta voltada para essa área com a de programador de Hémerson Antonio Dias. “Daí surgiu a plataforma de avaliação, denominada Fisiometer, com o propósito de democratizar o uso da tecnologia, incorporando recursos que antes só estavam disponíveis nos laboratórios de biomecânica”, sintetiza a dra. Francinett. Para que este programa chegasse ao nível em que hoje se encontra, ela contou com a colaboração de inúmeros fisioterapeutas, (ela destaca em especial a dra. Lilia Marinho), que efetuaram inúmeros levantamentos bibliográficos e pesquisas de campo. Graduada pelo Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR), do Rio de Janeiro (RJ) e também bacharel em artes cênicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a dra. Francinett detém estudos teóricos e práticos em análise de movimento através do método Laban, em expressão corporal e em postura humana. O programa que desenvolveu, para todas as versões do ambiente operacional Windows em plataforma PC, substitui as adaptações que até então efetuadas em programas comerciais - como Windows Paint e Corel Draw e até mesmo AutoCAD - em que a manipulação dos dados era efetuada de forma manual. VALIDAÇÃO CIENTÍFICA O software foi pesquisado e avaliado cientificamente na tese de mestrado concluída este ano pela dra. Waleska da Silveira Venturelli, fisioterapeuta e professora de Cinesioterapia do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para esse estudo foram utilizadas análises estatísticas intergrupais em 30 pacientes, com três diferentes avaliadores. De acordo com as conclusões da tese de mestrado, a reprodutibilidade das análises foi extremamente satisfatória, com os valores do coeficiente de correlação próximo a um entre todas as variáveis analisadas. “A professora Sara Menezes, orientadora na pósgraduação, ao escolher essa ferramenta para validação através do meio acadêmico, permitiu que fosse dada credibilidade ao software”, relata a dra. Francinett. “Entendeu ela ser de extrema importância para o crescimento científico da Fisioterapia a apresentação dos resultados de forma também quantitativa e não apenas qualitativa”. Outras instituições de ensino superior, entre elas a Unifor (de Fortaleza - CE); a Universidade Veiga de Almeida (do Rio de Janeiro - RJ) e a Universidade Nove de Julho – Uninove, (de São Paulo - SP) também já utilizam esse software. Na avaliação da dra. Francinett da Costa Dias, sistemas de verificação como a goniometria, a medição manual de RX, a perimetria e a antropometria são de difícil reavaliação, gerando perdas significativas para o desenvolvimento da fisioterapia. “Estas possibilidades de avaliação com tecnologia atualizada eram encontradas apenas nos laboratórios de biomecânica, com utilização de equipamentos dispendiosos e geralmente inacessíveis à pratica do consultório fisioterapêutico”. “A falta de ferramentas ágeis para avaliação postural era uma barreira para os profissionais, que precisavam demonstrar eficácia e agilidade nos serviços sem comprometer a qualidade do atendimento”, lamentava a dra. Francinett. Em sua busca dessas ferramentas, a fisioterapeuta encontrou equipamentos como o escoliometro e o cifolordógrafo ocupando um espaço físico que a maioria dos fisioterapeutas não dispõe para realização de avaliações fisioterapêuticas, acarretando a não mensuração permanente do trabalho desenvolvido com o paciente. Ao iniciar suas pesquisas para o desenvolvimento de uma plataforma para avaliação funcional computadorizada, o primeiro obstáculo encontrado pela dra. Francinett foi a consciência da complexidade do sistema que rege a postura humana desde sua atividade tônica à sua interação sensorial entre os dendritos e suas sinapses. “Pensar na riqueza de variáveis, nas diferenças geográficas, nos estereoceptores e proprioceptores interagindo com o padrão pessoal/ emocional de cada ser humano se tornou tema exaustivo de discussões. Inicialmente resolvemos desenvolver um software para avaliação de posições estáticas e, em seguida, partimos para a busca de uma avaliação dinâmica”. VÁRIAS VERSÕES... “A partir de estudos realizados em clínicas e empresas através de avaliações visuais, com a utilização de fotos e marcações manuais para acompanhamento de pacientes em tratamento, resolvemos agilizar o processo criando a primeira versão do posturograma, escrito na linguagem Java”, relembra o programador Hémerson Antonio. “Para o registro das fotos foram utilizadas câmera e filmadora digitais e um fundo neutro, com distância entre o paciente e a câmera de três metros. Esta versão utilizava a escala métrica. A atual versão do programa (hoje é a 2.8) foi desenvolvida para o ambiente Windows já no conceito de avaliação angular, o que possibilitou a captura de imagens independentemente da distância entre a câmera e o paciente, tanto para a fotogoniometria como na avaliação postural angular para crianças em fase de crescimento”. A dra. Francinett ressalta que, “com o a adoção do conceito de avaliação angular, eliminou-se o problema encontrado nos pacientes infantis, onde a avaliação métrica era impraticável, pois o sistema ósteo-muscular se modifica continuamente”. O software desenvolvido para avaliação articular do complexo muscular e nervoso – o fotogoniometro - teve como objetivo dar suporte informatizado ao fisioterapeuta e profissionais de áreas afins. “Ele se direciona para o registro dos ângulos articulares, com a relação existente entre comprimento e tensões ideais dos músculos, sua execução funcional e mobilidade articular, seja para manter sua função,minimizar os efeitos de doenças sistêmicas, neurológicas, traumáticas, intervenções cirúrgicas, inatividade ou imobilidade”, resume a dra. Francinett. “A fotogoniometria favorece a demarcação precisa dos pontos fixos e amplitudes articulares, atuando nos fatores que influenciam as decisões clínicas, a identificação dos comprometimentos e das limitações funcionais e/ou incapacidades dos pacientes avaliados. A reavaliação com protocolos estabelecidos previamente permite ao fisioterapeuta a execução de um tratamento dirigido objetivando um diagnóstico com acompanhamento permanente da evolução do paciente”. QUATRO ÁREAS A plataforma Fisiometer foi desenvolvida para aplicação em quatro áreas distintas: clínica, empresarial, escolar e pesquisa cientifica. A plataforma conta com dois módulos de software, o Posturograma Clínico e o Fotogoniômetro Clínico, para uso clínico e exclusivo de profissionais da área de Fisioterapia. O Posturograma Clínico mensura e quantifica os desvios posturais por meio de imagens digitalizadas e emite relatório com fotos e avaliação gráfica do paciente. O exame é realizado através de seis imagens, das faces ventral, posterior, dos perfís esquerdo e direito, da flexão anterior (visão ventral) e flexão anterior (visão de perfil). Um banco de dados incorporado agiliza o processo de reavaliação comparativa. As medidas podem ser executadas em milímetros, centímetros ou metros. O Fotogoniômetro Clínico é um software de análise angular, que atua como ferramenta de avaliação articular e de seu complexo muscular e nervoso. O relatório por ele emitido contém a imagem do paciente e o laudo relaciona o ângulo encontrado na cadeia muscular e suprimento nervoso envolvido no movimento. Nesse mesmo campo de atuação de uso clínico, no segundo semestre deste ano a dra. Francinett acredita que deverá estar sendo disponibilizado um novo programa para uso dos fisioterapeutas, para avaliação específica da flexibilidade da coluna vertebral, transferindo as informações hoje obtidas com o inclinometro e outras ferramentas, para a fotogrametria computadorizada. “Estamos realizando estudos em um grande número de pacientes, verificando reprodutibilidade e associando a testes específicos ortopédicos e neurológicos já validados, para só então lançarmos os nossos protocolos de avaliação”. Um outro programa da plataforma de uso clínico, o RX-Analyzer, destinado a avaliação de raios-X digitalizados, está em desenvolvimento. “Quando concluído, teremos uma ferramenta inédita, em que poderemos, por exemplo, mensurar a distância do espaço intervertebral, rotação ou inclinação de vértebra”, entusiasma-se a fisioterapeuta. O segmento do software destinado ao uso empresarial não é comercializado, mas apenas disponibilizado sob a forma de serviço, com a cessão de direito de uso do software. “Isto não significa que não seja comercializado a médio prazo”, compromete-se a dra. Francinett. “Como não dispomos de financiamento do Estado ou de centros de pesquisa, são as empresas – em geral de grande porte - que utilizam nosso sistema de avaliação computadorizado para registro das patologias ocupacionais que nos subsidiam para continuar o desenvolvimento desses produtos”. A plataforma para uso empresarial conta hoje com seis programas: Posturograma Saúde Ocupacional (uma versão do posturograma clínico com registro de patologias relacionados à atividade laboral e geração de gráficos estatísticos e de risco ergonômico); Posturograma de Rastreamento (versão de avaliação rápida para detectar desvios posturais, com geração de relatórios por setor, atividade, idade, sexo ou qualquer outro indexador desejado); Body Card (software de mensuração corporal onde é possível determinar massa magra, massa gorda, percentual de gordura e peso ideal, o que permite determinar desvios posturais relacionados ao aumento de peso); Stress Meter (para mensuração do nível de stress, com geração de gráficos individuais e anamnese promovida pelo software que permite a investigação dos sintomas corporais como a atuação do stress no sistema simpático e parassimpático); Fotogoniômetro Saúde Ocupacional (versão empresarial em que, além dos protocolos goniométricos, aplica testes ortopédicos e neurológicos, indicado para processos admissionais, demissionais e periódicos para controle de patologias relacionadas ao trabalho); e Avaliação da Coluna Vertebral (suporte para acompanhar e diagnosticar comprometimentos da coluna cervical, dorsal e lombar com utilização de recursos de fotometria associados a testes ortopédicos e neurológicos). ‘Temos uma capacidade de registro de avaliação de 200 pessoas-dia”, relata a dra. Francinett. “Traçamos o perfil da empresa, por setor, função, faixa etária (há uma gama enorme de variáveis) e fazemos o diagnóstico funcional daquele grupo e em lugar de realizar uma cinesioterapia laboral aleatória, fazemos um trabalho direcionado para as patologias estabelecidas ou em via de se estabelecer, considerando-se o risco da atividade laboral desenvolvida”. “Nosso objetivo é, através da construção do banco de dados, dispôr de uma estatística nacional das lesões ocupacionais, entendendo que a presença do fisioterapeuta nessas instituições deve ser essencial do ponto de vista governamental, porque o fisioterapeuta vai cuidar do sistema ósteo-muscular, que gera um déficit desnecessário na economia do país”. NA IDADE ESCOLAR... “A avaliação postural de crianças e adolescentes em idade escolar com a utilização da técnica de medida de segmento vinha demonstrando ser ineficiente para uma reavaliação comparativa, pois o crescimento da criança e do adolescente dificultava a padronização de medidas. Por essa razão passamos a fazer a avaliação postural através da mensuração angular, onde é possível esse controle”. Para esse fim, a dra. Francinett, com sua equipe, teve a oportunidade, ao visitar várias escolas do estado do Rio de Janeiro e detectar inúmeros problemas, como a falta de ajuste dos equipamentos, utilizados por todas as crianças, quando não por adolescentes. “Verificamos pés sem apoio como uma constante, trazendo até lesões vasculares; professores sem orientação sobre um bom posicionamento postural, falta de informação dentro do corpo educacional... Até pouco tempo, a maioria das empresas acreditava que o funcionário ficava lesado apenas dentro de sua atividade laboral. Com o estudo estatístico que estamos realizando, a empresa passou a perceber que o candidato, ao ingressar na empresa, já vem com uma tendência de desenvolver a patologia ou com ela incubada, muitas vezes proveniente dos bancos escolares”. A plataforma desenvolvida pela fisioterapeuta para uso escolar é composta por três softwares dedicados a avaliação de crianças e adolescentes em idade escolar O Posturograma Escolar utiliza um protocolo angular que permite quantificar os desvios posturais sem comprometer a reavaliação. A plataforma é complementada pelo Body Card e em menor grau pelo fotogoniômetro. A dra. Francinett ainda encontra dificuldades de demonstrar esse serviço para as escolas, particularmente as da rede pública. “Na empresa há uma pressão financeira favorável. Já para fazer a avaliação escolar, tivemos que obter autorização de todos os pais. Gostaríamos de implantar na escola uma sistematização que o fisioterapeuta pudesse cuidar, não só das crianças mas também dos professores. Acreditamos que a escola moderna tem que ter a preocupação não apenas da formação intelectual mas também ergonômica e postural, para evitarmos os adultos precocemente lesados”. MAIS RECURSOS... Na primeira versão do posturograma, ainda em linguagem Java, alguns problemas foram enfrentados para formalizar a cientificidade. Uma delas era a forma de avaliação. “Embora trabalhássemos com pontos de avaliação já comprovados cientificamente, tínhamos que transformá-los em pixels (pontos de tela)”, relata o programador Hemerson Antonio. “A versão atual foi escrita em uma linguagem mais estável (C++ e Delphi), mantendo Java apenas para a manipulação de imagens”. Entre as características incorporadas a esta nova versão está um editor de imagem incorporado, com controle de luminosidade, contraste, cor e tonalidade e a manipulação de diversos formatos de imagem. As fases de edição e avaliação estão separadas, permitindo que as avaliações já realizadas possam ser revistas e reajustadas sem a necessidade de execução de todo processo de avaliação. O laudo, impresso em três páginas, apresenta a descrição dos desvios posturais encontrados. O software executa todas as operações necessárias para a realização do exame. “Apenas exige um hardware externo (um câmera ou filmadora digital com uma placa de captura ou ainda uma scanner para digitalização de imagem analógica)”, relata o programador “Na versão atual eliminamos a necessidade de se manter uma distância fixa entre o paciente e a câmera, graças a utilização da escala métrica (através de uma régua padrão afixada ao corpo do paciente). O computador, informado da dimensão dessa régua, colocará o corpo em escala. O programa a seguir efetua a mensuração dos acidentes ósseos e padroniza os valores. O posicionamento correto da câmera (em relação a altura e lateralidade) continua sendo essencial. No posturograma, a posição do paciente é outro aspecto importante: utilizamos como parâmetro permanente uma angulação de 30 graus para os pés no chão. Na fotogoniometria, outros protocolos devem ser observados”. A dra. Francinett acredita que o desenvolvimento de ferra-mentas de avaliação corporal não comprometidas com nenhuma técnica específica permite ao profissional uma análise precisa, com parâmetros fixos, sem que este venha abdicar de sua visão pessoal da técnica mais adequada ao tratamento, ao mesmo tempo em que poderá acompanhar o desenvolvimento de seu paciente com maior segurança e documentação.