22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil CALOR TOTAL EXTRAÍDO DE LIGAS Al-Sn APÓS PROCESSO EXPERIMENTAL DE SOLIDIFICAÇÃO R. L. SANTOS1 ; S. A. A. IGREJA2; A. G. P. FERREIRA3; M. R. M. PALHETA4; M. B. CARLOS5; F. A. GONCALVES6; L. G. GOMES7 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA, Av. Almirante Barroso 1155, CEP: 66093-020, Belém, Pará, Brasil Tv. Vileta, n°537- Bairro : Pedreira – Pará - Brasil – CEP: 66087421, email: [email protected] RESUMO Este trabalho tem como objetivo mostrar, experimentalmente, a relação entre física (termodinâmica), matemática (modelos científicos) e solidificação de metais, através da determinação do calor total extraído da liga Al-Sn, estabelecer relação teórica-experimental e contribuir para o ensinoaprendizado dos alunos de engenharia. Os valores reais obtidos no laboratório de solidificação do Curso de Engenharia de Materiais do IFPA/Campus Belém durante as experimentações de solidificação foram propostos, elaborados, desenvolvidos e aplicados na disciplina solidificação de metais com o objetivo de obter 1,2 Kg da liga Al-10%Sn e calcular o calor total extraído do sistema metal molde. A liga foi estequiometricamente elaborada, na proporção exata de solvente (Al) e do soluto (Sn). Curva de resfriamento [T = f(t)] da respectiva liga foi obtida para identificar as temperaturas necessárias para o cálculo. O resultado encontrado é comparado com os valores teóricos e o calor total analisado concomitante com as propriedades termofísicas da respectiva liga. Palavras Chaves: Calor propriedades termofísicas total; sistema de solidificação; liga Al-Sn; 1. INTRODUÇÃO Em aplicações tribológicas, ligas dos sistemas Al-Sn têm uma participação marcante. As ligas Al-Sn são conhecidas por terem boas propriedades tribológicas e mecânicas e têm participação marcante nas aplicações industriais, fazendo com que este sistema de ligas seja adequado para aplicações que exigem uma satisfatória resistência ao desgaste, por exemplo, em mancais de deslizamento [Yuan, 2000; Neale, 1995]. Devido à limitada 7738 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil solubilidade sólida do Sn no Al, espera-se que as condições de solidificação rápida afetem significativamente as propriedades tribológicas através de uma modificação na microestrutura. Apesar do grande uso de ligas Al-Sn em aplicações tribológicas, estudos correlacionando resistência ao desgaste e microestrutura ainda são muito insuficientes. Também inexistem estudos na literatura visando caracterizar a evolução microestrutural de ligas Al-Sn em uma ampla faixa de condições de solidificação, típicas de processos industriais. Por outro lado, a solidificação de materiais pode ser considerada fundamentalmente como um processo de transferência de calor e massa, que gera a estrutura final, da qual depende o comportamento mecânico do material. Com o mesmo objetivo, estuda-se neste trabalho, as práticas de fundição da liga Al-10%Sn para que o líquido possa escoar e preencher completamente os contornos geométricos do molde é necessário que o vazamento desse líquido ocorra a uma temperatura superior àquela que dá início à transformação líquido/sólido. A diferença entre essa temperatura de vazamento e a temperatura de transformação denomina-se superaquecimento, ou seja: ΔTV = TV – TF (A) onde: ΔTV – superaquecimento; TV – temperatura de vazamento; TF – temperatura de fusão. Segundo Garcia (2007), na ausência de superaquecimento, o calor a ser removido para que ocorra a solidificação, é: Q = m L (B) onde: Q – calor a ser removido; 7739 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil m – massa do material; L – calor latente de fusão. Entretanto, na presença de superaquecimento, a quantidade de calor a ser removida é determinada através de equação que envolve os calores sensível e latente, isto é; Q = m CL (TV – TF) + m L (C) onde, CL é o calor específico do material na fase liquida. Para os dois casos acima analisados, a Figura 1 representa esquematicamente as curvas de resfriamento de um material puro, com e sem superaquecimento, nota-se somente um patamar temperatura de transformação de fase de sólido para liquido, representada pela temperatura de fusão (T F): (b) (a) Figura 1. Representação esquemática do processo de solidificação em condições de: (a) sem superaquecimento e (b) com superaquecimento. (Garcia 2007). De maneira geral, o calor total a ser extraído nas condições representadas na Figura 1(b) é calculado pela soma das parcelas parciais de calores sensível e latente durante o processo de solidificação, ou seja: 7740 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil Q = mcL (TV − TF ) + mL + mcS (TF − T0 ) (D) Onde, cS é o calor específico do material solidificado, e T0 é a temperatura ambiente, ou qualquer temperatura abaixo da temperatura de solidificação do material. Para o presente trabalho esta temperatura é considerada a final do processo, isto é, quando o registrador de temperaturas é desligado. No caso de uma liga metálica, com dois componentes (sistema binário), solvente e soluto, o de maior e menor quantidade, respectivamente na formação da liga, a curva de resfriamento, ao contrário do metal puro, apresenta-se com duas temperaturas de transformação de fases: TL, conhecida como temperaturas liquidus, definida como a temperatura de início da solidificação e TS, conhecida como temperatura solidus, definida como a temperatura de final do processo de solidificação, abaixo da qual a liga se encontra totalmente no estado sólido, conforme representado pelos gráficos mostrados na Figura 2. (b) (a) Na condição mostrada na Figura 2 (b) o calor total extraído é calculado da seguinte forma: Q = mcL (TV − TF ) + mL (1) + mcSL (TL − TS ) + mL(2) + mcS (TS − T0 ) (E) 7741 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil Onde, CSL é o calor específico do material em condições de fases sólido/liquido, no qual o mesmo se encontra em equilíbrio entre as temperaturas liquidus (TL) e solidus (TS). O valor de CSL pode ser calculado da seguinte forma: cSL = cL+L/(TL-TS) (F) Os valores dos calores referentes às parcelas ml (1) e (2), inseridos na Eq. (E), são devidos às liberações dos calores latentes durante as mudanças de fases de líquido para líquido/sólido e líquido/sólido para sólido, respectivamente, conforme esquematizados na Figura 3. Assim sendo, este trabalho tem como objetivo calcular experimentalmente o calor total extraído de um sistema metal molde para 3 ligas metálicas pertencentes ao sistema binário Al-Sn. Figura 3. Representação esquemática de mudança de fases nas temperaturas TL e TS 7742 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil 2. MATERIAIS E MÉTODOS Foi utilizada a liga do sistema, Al-Sn, com teor de soluto de 10%. A Tabela 1 apresenta a composição química dos elementos puros utilizados para preparar a liga binária. Tabela 1. Composição química dos metais usados para preparação das ligas Al-Sn estudada.( Cruz, 2008) 1,2 kg da liga foi preparada no laboratório de solidificação do curso de Engenharia de Materiais do IFPA-Campus Belém, nas proporções exatas de todos os componentes (solvente e soluto) e os equipamentos mostrados na Figura 4 foram utilizados na elaboração da mesma. A Figura 5, mostra de forma esquemática o planejamento experimental das atividades desenvolvidas pelos alunos de Iniciação Científica no laboratório do IFPA. 7743 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil Figura 4. (a) Balança eletrônica (b) Cadinho de Carbeto de Silício e (c) Forno elétrico de fusão Tipo Mufla Figura 5.Fluxograma representativo das atividades executadas durante o procedimento experimental deste trabalho Para execução do planejamento experimental, descrito na Figura 5, foi pensado, projetado e montado um dispositivo de solidificação, conforme a Figura 6. 7744 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil (1) Termopares, (2) Field Logger, (3) software do computador e aquisição de dados, (4) alimentação de água, (5) do recipiente de água, (6) da bomba de água, (7) rotâmetro, (8) de entrada da água, (9) de saída da água, (10) e dispositivo de solidificação direcional, (11) controlador de temperatura e (12) cadinho. Figura 6. Representação esquemática do sistema experimental de obtenção das curvas de resfriamento das ligas Al-Sn estudadas. (Adaptado de ARAÚJO, 2015) 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A Figura 7 representa um esquema físico do processo de solidificação simulado neste trabalho. Em suma, a liga Al- 10%Sn será vazada no interior do recipiente (molde), representado pelo cadinho da Figura 7. O calor total é extraído pelas paredes laterais e parte superior do molde. 7745 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil Figura 7.Elemento de referência representativo do sistema metal/molde (Rocha, 2003; Garcia, 2007) A Figura 8 apresenta as curvas de resfriamento (CR) experimentais obtidas para as ligas estudadas após o processo de solidificação. Observa-se que as CR de cada liga informam os valores de TV, TL e TS. Os valores obtidos das temperaturas TL e TS são comparados com as informadas pelo diagrama de equilíbrio de fases do sistema binário Al-Sn mostrado pela Figura 8. Figura 8. Diagrama de fase construído no software Termo – Calc (Cruz 2008) 7746 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil Figura 9. Curva de Resfriamento da liga Al-10% Sn obtida experimentalmente Observa-se pela Figura 9 que as temperaturas experimentais obtidas para T L e TS correspondem muito bem àquelas informadas pelo diagrama de equilíbrio de fases do sistema binário Al-Sn (Fig. 8). A temperatura de vazamento da liga no cadinho, indicada pela Figura 2, é de aproximadamente 7500C. 4 . CONCLUSÕES Considerando o objetivo proposto para o presente trabalho, as seguintes conclusões podem ser extraídas: a) Os valores experimentais encontrados para as temperaturas T L e TS estão muito bem representadas pelos valores nominais indicados no diagrama de equilíbrio de fases da respectiva liga o que nos permite concluir que os percentuais em peso dos elementos de liga (solvente e soluto) foram estequiometricamente pesados nas proporções exatas; b) As temperaturas TV, TL, e TS determinadas experimentalmente poderão ser utilizadas para o cálculo dos parâmetros operacionais (T), que controlam o processo de solidificação na indústria de fundição, permitindo, através dos mesmos, calcular os calores totais extraídos do sistema metal/molde, através da determinação experimental das parcelas de calores sensíveis e latentes. 5 . AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o CNPq pela concessão das bolsas de iniciação cientifica, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação do IFPA e o IFPACampus Belém, pelo apoio financeiro e infra-estrutura. 7747 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil 6 . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GARCIA, A. Solidificação: fundamentos e aplicações. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007. GOMES, L.G. Microestrutura Dendritica, Macrossegregação e Microporossidade na Solidificação de Ligas Ternarias Al-Si-Cu. Tese (Doutorado) – Universidade de Campinas, 2012. PERES, M. D. Desenvolvimento da Macroestrutura e Microestrutura na Solidificação Unidirecional Transitória de Ligas Al-Si. 2005. Tese (Doutorado) - Universidade de Campinas, Campinas, 2005. ROCHA, O. F. L. Análise Teórico-Experimental da Transição Celular/Dendritica e da Evolução da Morfologia Dendrítica na Solidificação Unidirecional em Condições de Fluxo de Calor Transitório. Tese de Doutorado, Unicamp, Campinas – são Paulo, 2003. SIQUEIRA, C. A. F. Influência de parâmetros térmicos de solidificação na transição colunar/equiaxial, Tese de Doutorado, UNICAMP-FEM-DEMA, Campinas – São Paulo. 2002. HEAT TOTAL EXTRACTED ALLOYS Al – Sn AFTER EXPERIMENTAL PROCEDURE SOLIDIFICATION ABSTRACT This work aims to show experimentally the connections between physics (thermodynamics), mathematics (scientific models) and solidification of metals, by determining the total heat extracted from the Al – Sn alloy, establish theoretical – experimental connections and contribute to the teaching and learning of engineering students. The actual values obtained in the laboratory solidification of Materials Engineering course IEPA /Belém Campus during Solidification experiments have been proposed, designed, developed and 7748 22º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 06 a 10 de Novembro de 2016, Natal, RN, Brasil applied in the course of solidifyng metal in order to obtain 1.2 kg of alloy Al – 10% Sn and calculate the total heat extracted from the metal mold system. The alloy was estoichiometrically produced in the exact proportion of solvent ( Al) and solute (Sn) . Coaling curve [T=f (t) ] of the respective alloy was obtained to identify the temperatures needed for the calculation. The results found are compared with theoretical values and the total heat analyzed concomitantly with the thermophysical properties of the respective alloy. KEY-WORD: Total Heat; solidification systen; Al – Sn alloy; thermophysical properties. 7749