4 – Economia internacional

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Relatório de Inflação
Junho 2002
4 – Economia internacional
Introdução
A economia mundial registrou desempenho melhor do que o esperado
pelo mercado no último trimestre, combinando recuperação crescente
no nível de atividade e baixas taxas de inflação.
Assim como na recessão de 2001, a retomada do crescimento econômico
mundial neste ano segue de perto a evolução da economia dos Estados
Unidos. Aquele país, após registrar contração do PIB no terceiro
trimestre do ano passado, retomou sua trajetória ascendente, com taxas
de expansão de 1,7% e de 5,6%, respectivamente, no último trimestre
de 2001 e no primeiro de 2002, consideradas as variações em relação
ao período anterior, anualizadas e com ajuste sazonal. A previsão do
FMI para o desempenho da economia americana considera taxa de
crescimento de 2,3%, ante 1,2% registrada em 2001, ainda assim
significativamente inferior ao piso de 4% observado de 1997 a 2000.
O nível de atividade da economia dos Estados Unidos tem favorecido
a retomada do crescimento dos países da Área do Euro, bem como
a recuperação das economias emergentes do Sudeste Asiático. Na
Europa, a recuperação ainda é lenta e moderada. No Japão, a
evolução do PIB sinaliza o início da recuperação econômica do país,
depois de anos de recessão.
Na América Latina, os dados são contraditórios. Enquanto o Chile
vem conseguindo suplantar o declínio econômico que adveio com a
crise mundial, a economia mexicana continua em desaceleração.
Adicionalmente, o quadro de dificuldades que a Argentina vem
enfrentando desde meados de 1998 prosseguiu em 2002, com
repercussões negativas sobre o Uruguai.
75
Relatório de Inflação
Junho 2002
4.1 – Estados Unidos
Os sinais de recuperação da economia norte-americana indicam que
esta poderá liderar as demais economias no que se refere à superação
da recessão mundial. As perspectivas são de crescimento moderado.
O consumo e os gastos do governo cresceram 3,2% e 6,7%,
respectivamente, no primeiro trimestre de 2002, patamar inferior ao
registrado no trimestre anterior. Registre-se o crescimento de 22,8%
do investimento privado bruto, após declínio de 23,5% no último
trimestre de 2001, considerando-se a série dessazonalizada,
anualizada e deflacionada. Contribuiu para tal resultado o
investimento em estoques.
Demanda agregada - componentes1/
%
25
15
5
-5
-15
-25
III
1999
IV
I
2000
II
III
IV
I
2001
II
III
IV
I
2002
Consumo
Investimento doméstico privado
Governo
Fonte: Bureau of Economic Analysis
1/ Variação trimestral anualizada, dessazonalizada e deflacionada.
Comércio exterior
US$ bilhões
120
110
100
92
90
80
70
60
60
50
Mar
2000
Jun
Set
Dez
Exportações
Fonte: Bureau of Economic Analysis
76
Mar
2001
Jun
Set
Dez
Importações
Mar
2002
Outros indicadores de demanda confirmam a
retomada do crescimento da economia norteamericana. As encomendas às fábricas expandiram
1,2% em abril, após crescimento de 1% em
março, na série dessazonalizada. Excluindo o
segmento transportes, as encomendas
aumentaram 2%. Na variação acumulada em doze
meses até abril, as encomendas foram 4,5%
inferiores às de igual período do ano precedente.
As vendas do comércio varejista, exclusive
serviços alimentares, subiram 1,3% em abril,
considerada a série dessazonalizada. Em doze
meses, as vendas no varejo expandiram 4,3% em
abril, ante 2,4% em março e 2,3% em fevereiro.
Com a recuperação da economia, os déficits
comercial e em conta corrente tendem a crescer,
constituindo-se em restrição ao crescimento mais
vigoroso. Assinale-se que embora a depreciação
do dólar, como vem ocorrendo nos últimos meses,
contribua para o aumento do volume exportado,
o déficit comercial de bens tem-se mantido no
patamar de US$30 bilhões mensais no primeiro
trimestre de 2002, com tendência de alta. Face
no entanto aos menores ingressos de capitais
Relatório de Inflação
Junho 2002
externos nos EUA, destinados à aquisição de títulos, especialmente
ações, deve persistir a pressão para o enfraquecimento do dólar.
Produto Interno Bruto1/
O PIB expandiu 5,6% no primeiro trimestre do
ano, em relação ao período anterior, considerada
6
a série dessazonalizada. Esse resultado esteve
influenciado pelo aumento de 20% nos gastos de
3
defesa, enquanto a demanda final evoluiu 3,7%,
0
ritmo mais lento que o registrado no último
-3
I
II
III
IV
I
II
III
IV
I
II
III
IV
I
trimestre de 2001. Assim, gastos governamentais
1999
2000
2001
2002
e investimento em estoques responderam por
Fonte: Bureau of Economic Analysis
1/ Variação percentual sobre trimestre imediatamente anterior,
com ajuste sazonal, anualizado.
77% do crescimento do PIB no primeiro trimestre
do ano. A produção industrial aumentou pelo
quarto mês consecutivo em abril, porém o
resultado acumulado em doze meses ainda foi negativo, em 4,4%.
%
9
A recente recuperação da economia norte-americana vem ocorrendo em
contexto de expansão acentuada da produtividade, o que reduz o impacto
do crescimento da economia sobre o mercado de trabalho. Com efeito, a
demanda por trabalho tem aumentado menos do que o produto e parte
representativa desse aumento advém de jornadas semanais mais longas
em detrimento de novas contratações. Assim, paralelamente à recuperação
da economia a taxa de desemprego evoluiu de 5,7% em março, para 6%
em abril e 5,8% em maio. Associada à elevação da taxa de desemprego,
os pedidos de auxílio-desemprego aumentaram em abril, completando
dois meses acima da marca de 400 mil.
Preços
Variação anual
%
5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
Abr
2000
Jul
IPC
Out
Jan
2001
Abr
IPC Núcleo
Fonte: Bureau of Labour Statistics
A inflação ao consumidor, medida pelo Consumer
Price Index (IPC), que vinha desacelerando desde
maio de 2001, voltou a subir moderadamente nos
meses de março e abril deste ano, sobretudo em
função do item energia. Em doze meses, o IPC
registrou taxa de 1,6% em abril, enquanto o núcleo
Jul
Out
Jan
Abr
do índice, que exclui a evolução dos preços de
2002
IPP
IPP Núcleo
alimentos e de energia, manteve-se em relativa
estabilidade. O índice de preços ao produtor (IPP)
vem apresentando variações negativas desde outubro
do ano passado. A variação em doze meses do IPP atingiu -1,97% em
abril, enquanto o seu núcleo apresentou variação de 0,4% no período.
77
Relatório de Inflação
Junho 2002
Meta para a taxa dos federal funds
% a.a.
8
6
4
2
1,75
0
Mai
2000
Ago
Nov
Fev
2001
Mai
Ago
Nov
Fev
2002
Mai
Fonte: Federal Reserve System
Indicadores do ISM
Índice
70
60
O Federal Open Market Committee (FOMC)
decidiu, em reunião de 7 de maio, manter a meta
para a taxa dos federal funds inalterada, em
1,75% a.a., reforçando a expectativa de
crescimento moderado da economia norteamericana nos próximos meses. Nessas
circunstâncias, embora reconhecendo a postura
acomodatícia da política monetária em curso, o
FOMC acredita que a economia poderá crescer
de forma sustentada, sem riscos de pressões
inflacionárias.
60,1
55,7
50
40
30
Mai
2000
Ago
Nov
Fev
2001
Mai
Ago
PMI
Nov
Fev
2002
Mai
Fev
2002
Mai
BAI
Fonte: Institute for Supply Management
Indicadores da Universidade de Michigan
Índice
115
110
105
100
95
90
85
80
Mai
2000
Ago
Nov
Fev
2001
Mai
Ago
Nov
Quanto aos indicadores de expectativas, após
tendência de recuperação acentuada desde
outubro de 2001, os indicadores do Institute for
Supply Management (ISM) voltaram a declinar
em março e abril, porém permanecendo acima do
ponto de nivelamento de 50. Em maio, tanto o
Purchasing Managers Index (PMI), quanto o
Business Activity Index (BAI), voltaram a subir,
atingindo 55,7 e 60,1, respectivamente. Seguindo
a mesma tendência, o sentimento dos
consumidores norte-americanos, segundo
pesquisa da Universidade de Michigan, atingiu
96,9, ante 93 em abril. O indicador de maio é o
mais elevado desde dezembro de 2000.
Sentimento do consumidor
Fonte: Bloomberg
4.2 – Japão
A economia japonesa encerrou o ano fiscal de 2001, em 31 de março,
em ambiente deflacionário. O PIB registrou retração pelo terceiro
trimestre consecutivo, refletindo o fraco desempenho das demandas
interna e externa. O governo, embora não conseguisse implementar
as esperadas reformas estruturais, limitando-se a pequenos avanços
no que tange à baixa de créditos bancários duvidosos, evitou que se
efetivassem as previsões de colapso financeiro, decorrentes de
empréstimos ruins e da redução nas garantias do seguro depósito,
antes totalmente protegidos, para ¥10 milhões (US$75,7 mil), a partir
78
Relatório de Inflação
Junho 2002
de primeiro de abril. Por outro lado, o desempenho, nos últimos
meses, dos indicadores de exportação e de produção industrial,
melhoraram as expectativas de curto prazo, reforçando a tese de
que a recuperação sustentada pela demanda externa poderá ser mais
forte no segundo semestre do que o esperado.
Pelo lado da demanda, observa-se atitude conservadora em relação
ao consumo, pois embora venha ocorrendo ligeira elevação na renda
real disponível dos trabalhadores a partir de julho de 2001, tal
evolução ainda não impactou o dispêndio das famílias e dos
trabalhadores. As encomendas às fábricas têm refletido o fraco
desempenho das encomendas externa e interna, mantendo trajetória
acentuadamente declinante desde junho de 2000, e tendo registrado,
no primeiro trimestre deste ano, redução de 14,5% na comparação
com igual período do ano precedente.
Balança comercial
Variação acumulada em 12 meses
%
30
20
10
0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
Dez
1999
-12,5
-17,6
-39,0
Mar
2000
Jun
Set
Dez
Exportações
Fonte: Banco do Japão e Bloomberg
Mar
Jun
2001
Importações
Set
Dez
Saldo
Mar
2002
As exportações vêm se recuperando, sustentadas
pela retomada da economia americana. A vendas
externas atingiram US$95 bilhões no primeiro
trimestre, 0,7% superiores às consignadas no
trimestre anterior, porém 13,4% inferiores às
efetuadas no primeiro trimestre de 2001. As
importações totalizaram US$76,9 bilhões,
reduzindo-se 8,1% e 16,5%, respectivamente, nos
mesmos períodos. A partir de fevereiro de 2002,
a variação do saldo acumulado em doze meses
teve revertida a sua trajetória declinante.
Produção industrial
Variação percentual acumulada em 12 meses
6
4
2
0
-2
-4
-6
-8
-10
-12
Dez
1999
Mar
2000
Jun
Set
Dez
Mar
2001
Fonte: Ministry of Economy, Trade and Industry
Na série com ajuste sazonal, a variação da produção
industrial acumulada em doze meses, persiste em
trajetória decrescente, porém, em ritmo menos
acentuado. Registre-se que em fevereiro e em março
as variações mensais foram positivas e que as
expectativas para abril e maio são de expansões de
1,3% e 3,1%, respectivamente. A taxa de desemprego
Jun
Set
Dez
Mar permaneceu elevada durante todo o ano fiscal de
2002
2001, atingindo a taxa mais elevada, 5,4%, em março,
evidenciando os ajustes efetivados pelas empresas
em reestruturação ou em concordata, no encerramento do ano fiscal.
79
Relatório de Inflação
Junho 2002
Produto Interno Bruto1/
%
10
5
0,5
0
-2,1
-5
-4,8
-4,8
-10
II
III
IV
I
II
III
IV
I
1999
2000
2001
Fonte: Economic Planning Agency
1/ Variação sobre trimestre imediatamente anterior, com ajuste
sazonal, anualizada.
II
III
IV
Segundo o Banco do Japão, o PIB decresceu
1,2% no quarto trimestre de 2001, em relação ao
trimestre anterior, e 2,3% comparativamente ao
quarto trimestre de 2000, sendo esse o terceiro
período consecutivo em que ocorrem resultados
negativos. No ano calendário de 2001 a retração
alcançou 0,5%. A previsão de crescimento
econômico para o ano fiscal de 2002 foi revista,de
declínio de 0,5% para expansão de 0,1%.
A economia manteve-se em regime deflacionário durante todo o ano
fiscal de 2001, tendo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC)
registrado variação anual de -1,2%, e o IPA, de -1%, em março. A
taxa de juros básica da economia tem permanecido próxima a zero.
No ano fiscal de 2001, verificou-se baixa de ¥7,8 trilhões (US$60
bilhões) de empréstimos vencidos e não pagos, ¥1,4 trilhão acima
do que havia sido previamente estimado. Entretanto, os créditos
duvidosos, em setembro de 2001, ainda totalizavam ¥36,8 trilhões
(US$277 bilhões).
Índice de confiança industrial - Tankan
20
10
0
-10
-20
-30
-38
-38
-40
-50
-48
-45
-60
I
2000
II
III
IV
I
2001
Condições de oferta e demanda
Fonte: Banco do Japão
II
III
IV
I
2002
Indústria manufatureira
As expectativas têm registrado melhorias,
captadas no Índice Coincidente de Indicadores
Econômicos, que em março ultrapassou o nível
cinqüenta pela primeira vez em quinze meses,
registrando leitura preliminar de 56,3, ante
quarenta em fevereiro. Já o índice de expectativas
de curto prazo, Tankan, para grandes empresas
manufatureiras, registrou -38 pontos no terceiro
trimestre, permanecendo estável em relação ao
quarto trimestre de 2001.
4.3 – Área do Euro
O PIB da Área do Euro cresceu 0,2% no primeiro trimestre de 2002,
comparativamente ao trimestre anterior, após apresentar contração
de 0,3% no quarto trimestre de 2001. Esse resultado decorreu,
principalmente, do crescimento de 0,9% nas exportações, que
80
Relatório de Inflação
Junho 2002
PIB1/
%
4
3
2
1
0
I
II
III
IV
I
2000
2001
Fonte: Eurostat
1/ Variação sobre igual trimestre do ano anterior.
compensou o declínio de 0,5% registrado na
demanda doméstica. Os gastos de consumo
decresceram 0,2% e a formação bruta de capital
fixo, 0,7%. Por outro lado, a redução dos
estoques, que atingiu 0,8% do PIB, favorece a
expectativa da Comissão Européia quanto à
0,3
0,1
expansão do PIB no segundo trimestre, estimada
II
III
IV
I
em 0,6%. Entre os componentes do valor bruto
2002
adicionado, o setor de construção cresceu 0,8%,
os serviços financeiros, 0,7% e a indústria, 0,6%.
Com relação ao primeiro trimestre de 2001, o PIB elevou-se 0,1%,
ante expansão de 0,3% no trimestre anterior. Na mesma base de
comparação, as demandas externa e interna registraram declínios de
1,7% e 0,8%, respectivamente. A taxa de desemprego elevou-se para
8,3% em abril, após manter-se estável em 8,2% nos três primeiros
meses de 2002.
A produção industrial, em declínio desde setembro de 2001, registrou
variações anuais negativas ao longo do primeiro trimestre de 2002.
Em março, a taxa atingiu -2,9%, com a produção de bens
intermediários decrescendo 2,3%, a de bens de capital, 6,7%, e a de
bens de consumo duráveis, 8,1%. As variações mensais têm sido
positivas desde dezembro de 2001, alcançando 0,5% em março.
Vendas no varejo
As vendas no varejo apresentaram elevações
consecutivas no primeiro trimestre. Em março,
o aumento atingiu 0,3%, relativamente a
fevereiro, e 2% em relação a março de 2001. O
crescimento tem se concentrado em alimentos e
bebidas e em vestuário.
%
6,0
4,5
3,0
1,5
0,0
-1,5
Jan Mar
2000
Mai
Fonte: Eurostat
Jul
Set
Nov Jan Mar
2001
Var. mensal
Mai
Jul
Set
Nov Jan Mar
2002
A taxa de inflação, medida pelo Índice de Preços
ao Consumidor Harmonizado (IPCH), mostrou
tendência de elevação nos primeiros meses do
ano. Fatores temporários que pressionaram o índice em janeiro,
tais como o arredondamento de preços após a conversão para o
euro, o aumento de alíquotas de impostos indiretos e os efeitos
meteorológicos sobre os preços de alimentos, tiveram sua influência
estendida pelos meses seguintes. A taxa de variação anual recuou
Var. anual
81
Relatório de Inflação
Junho 2002
IPCH e IPP
Variações anuais %
7
6
5
4
2,4
3
2
1
-0,7
0
-1
-2
Fev Abr
2000
Jun
Ago
Out
Dez
Fev Abr
2001
Jun
Ago
IPCH
Out
Dez
Fev Abr
2002
de 2,7% em janeiro, para 2,4% em abril e 2%
em maio, de acordo com a primeira estimativa
da Eurostat. Vale observar que, em maio de
2001, foi registrada a maior elevação anual do
IPC naquele ano, 3,4%, o que explica, em parte,
a redução assinalada em maio de 2002. O IPP
revela variações anuais negativas desde outubro
de 2001, tendo alcançado -0,7% em abril.
IPP
Fonte: Eurostat
A taxa de crescimento anual do M3 permaneceu em patamar superior
a 4,5%, valor de referência definido pelo Banco Central Europeu
(BCE), alcançando 7,5% em abril. De acordo com o BCE, o
comportamento do agregado monetário segue refletindo o aumento
da preferência pela liquidez, decorrente do aumento da incerteza na
economia, verificado ao final de 2001. A taxa de crescimento anual
do crédito ao setor privado, que situava-se em 6,8% em dezembro
de 2001 reduziu-se para 5,1%, em abril de 2002.
A persistência da taxa de inflação anual em patamar superior a 2%
durante 2002, como apontam as expectativas, traz o receio de que
se desenvolva uma dinâmica de inércia inflacionária. Porém, a
recuperação econômica ainda insuficiente, o recuo do índice de
preços ao consumidor em maio e a apreciação do euro tendem a
assegurar a manutenção do nível de taxas de juros pelo BCE.
Saldo da balança comercial
acumulado em 12 meses
US$ bilhões
60
57,1
50
40
30
20
10
0
Jan Mar
2000
Fonte: BCE
82
Mai
Jul
Set
Nov
Jan Mar
2001
Mai
Jul
Set
Nov
Jan Mar
2002
O saldo da balança comercial totalizou US$8
bilhões em março, como resultado de exportações
de US$79,9 bilhões e importações de US$71,9
bilhões. O superávit comercial acumulado em 12
meses atingiu US$57,1 bilhões em março, ante
US$51,7 bilhões em fevereiro e US$7,4 bilhões
em março de 2001, assinalando-se que a mudança
de patamar esteve associada, fundamentalmente,
à contenção das importações. A expansão
acelerada dos saldos comerciais pode, porém, ser
contida pela apreciação do euro frente ao dólar,
que atingiu, aproximadamente, 10% entre os
finais de janeiro e maio.
Relatório de Inflação
Junho 2002
Indicadores de confiança
8
110
105
100
95
90
85
80
Jan
2001
Indicadores de confiança empresariais continuam
a evoluir positivamente desde outubro de 2001.
4
O índice de confiança industrial para a Área do
0
-4
Euro, aferido pela Comissão Européia, atingiu
-8
-9 em maio, após -11 em março e abril e -14 em
-12
-16 janeiro e fevereiro. Na Alemanha, o índice de
-20 expectativas de negócios voltou a alcançar 91,5,
Nov
Jan
Mar
Mai
2002
mesmo patamar registrado em março, após haver
França
Área do Euro
recuado para 90,5 em abril. Índices semelhantes
na França e na Itália acusaram, respectivamente,
elevações de 98 para 101 e de 96,8 para 97,8, de
abril a maio. A evolução dos indicadores de confiança do consumidor
mostrou-se menos favorável. Assim, o indicador da Comissão
Européia atingiu -11, após -10 em abril, e na Itália verificou-se recuo
de 122,2, em março, para 119,3, em maio. Na Alemanha o índice
permaneceu estável e na França evoluiu positivamente, de -18 em
abril para -12 em maio.
Área do Euro
115
Mar
Mai
Jul
Set
Alemanha
Itália
Fonte: IFO, Insee, Isae e Comissão Européia
4.4 – Economias emergentes
4.4.1 – China
A perspectiva de continuidade do crescimento rápido e consistente
da economia chinesa vem se confirmando em 2002, sustentado pela
evolução favorável da demanda interna, impulsionada pelos
investimentos. Nesse sentido, nos primeiros quatro meses do ano a
formação bruta de capital fixo (FBCF) expandiu-se 27%, em
comparação com o mesmo período de 2001. As razões para esse
desempenho decorreram da antecipação do investimento público,
que normalmente ocorre no segundo semestre, devido à reformulação
no sistema de liberação de recursos às entidades estatais; do rápido
crescimento do investimento privado no segmento da construção
civil; e do crescimento de 29% no investimento externo direto nos
quatro primeiros meses do ano, em relação ao de igual período
anterior. Assinale-se que o investimento externo já participa com
10% da formação bruta de capital (FBC) da China. Como resultado,
o PIB do primeiro trimestre do ano expandiu-se em 7,6%, comparado
83
Relatório de Inflação
Junho 2002
ao de igual trimestre de 2001, destacando-se o desempenho da
produção industrial, que aumentou em 10,9%.
O crescimento do investimento, aliado às medidas de liberalização
comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC),
transformaram a China em um mercado em expansão. Nesse
contexto, o comércio exterior chinês registrou exportações de
US$76,6 bilhões e importações de US$91,3 bilhões, no primeiro
quadrimestre do ano.
As vendas no varejo, em março, aumentaram 8% em relação às de
março de 2001, percentual menor que o verificado em fevereiro,
9,1%, pelo mesmo critério de comparação. Ainda em março, a taxa
de inflação anual, medida pelos preços ao consumidor, atingiu -0,8%,
ante variação nula no mês anterior.
4.4.2 – Rússia
A produção industrial apresentou expansão mensal de 0,6% em abril,
constituindo-se no segundo resultado favorável no ano. Considerada
a taxa acumulada em doze meses terminados em abril, apurou-se
redução de 5% na produção, mesmo patamar observado em março.
A instabilidade no desempenho da indústria não afetou a taxa de
desemprego que atingiu 8,2% no mês, ante 8,3% em março. Em
abril de 2001, a taxa de desemprego situou-se em 9,1%.
No que se refere ao comércio exterior, o país registrou, em março,
exportações de US$8,6 bilhões e importações de US$4,7 bilhões. A
permanência de saldos positivos ao longo do ano produziu superávit
de US$9,8 bilhões no primeiro trimestre, contribuindo para a
consecução do superávit acumulado em doze meses de US$44,9
bilhões em março, ante U$45,7 bilhões no mês anterior.
Em abril, a execução do orçamento federal mostrou que as receitas
fiscais continuaram a se expandir, situando-se em 22,2% do PIB,
ante 20,3% no mês anterior. As despesas do governo, incluídos os
juros, também cresceram, alcançando 20% do PIB, ante 18,6% em
março. Em conseqüência, o superávit nominal totalizou 2,2% do
84
Relatório de Inflação
Junho 2002
PIB, comparativamente a 1,7% do PIB no mês anterior. Deduzidas
as despesas com juros, que contraíram de 3,5% para 0,6% do PIB,
registra-se redução no superávit primário, de 5,2% para 2,8% do
PIB, em abril.
As reservas internacionais alcançaram US$39,1 bilhões ao final de
abril, ante US$37,3 bilhões no mês anterior, sustentando a trajetória
de crescimento pelo quarto mês consecutivo. No mesmo mês, a taxa
interbancária de juros situou-se em 9,7% a.a., ante 12,6% a.a. em
março e 13,3% a.a. em fevereiro.
4.4.3 – Turquia
A balança comercial apresentou déficit de US$691 milhões em março,
com as exportações totalizando US$2,8 bilhões e as importações,
US$3,5 bilhões. No primeiro trimestre, o déficit somou US$1,9 bilhão,
comparativamente a US$3,5 bilhões em igual período do ano anterior.
Na mesma base de comparação, a corrente de comércio aumentou 10%.
A produção industrial elevou-se 18,7% em março, relativamente a
março de 2001, após declínio de 4,5% em fevereiro. O crescimento
foi impulsionado, principalmente, pelo desempenho do setor
manufatureiro, que cresceu 20,5%. Na média, a produção do trimestre
superou em 3,5% a verificada no primeiro trimestre de 2001.
O IPC registrou variação mensal de 0,6% em maio, a menor elevação
desde 1994, contribuindo para a redução do índice em doze meses
de 52,7%, em abril, para 46,2%. A variação anual do IPA situou-se
em 49,3% em maio, ante 58% em abril. O recuo da inflação favorece
a possibilidade de redução da taxa de juros.
O FMI deverá aprovar, em junho, o desembolso de mais uma parcela
do acordo firmado com a Turquia em fevereiro, uma vez que foram
cumpridos os critérios de desempenho relativos às políticas fiscal e
monetária. A Instituição aguarda apenas que, como parte do
programa de reforma do setor público, o governo adote um plano
de privatização para a empresa de telecomunicações Turk Telecom;
a agência de regulação e supervisão bancária notifique os bancos
85
Relatório de Inflação
Junho 2002
quanto aos requisitos de adequação de capital; se efetive a
consolidação de tributos indiretos em um imposto especial sobre o
consumo; e, que sejam aprovadas emendas à lei de licitações públicas.
O FMI reiterou sua confiança no cumprimento da meta inflacionária
de 35% ao final do ano e na projeção de 3% para o crescimento do
PIB, em 2002.
4.4.4 – América Latina
Argentina
O cenário da economia argentina agravou-se nos primeiros meses
de 2002, com o quadro de estagnação da atividade contribuindo
para a maior deterioração das expectativas dos agentes.
A demanda mantém-se retraída, como resposta à contração da renda
real, decorrente da aceleração dos índices de inflação. Nesse sentido,
de acordo com o Instituto Nacional de Estadística y Censos (Indec),
as vendas em supermercados e em shopping centers registraram, no
primeiro quadrimestre de 2002, retrações de, respectivamente, 2,6%
e 27,3%, em relação ao mesmo período do ano precedente. Na mesma
base de comparação, o Índice Sintético de Atividade de Construção
(Isac), que reflete a demanda por insumos para o setor de construção
civil, registrou contração de 40,1%.
Arrecadação fiscal
$ bilhões de pesos
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
Jan
2001
Mar
Mai
Jul
Arrecadação total
Fonte: Secretaria de Hacienda
86
O setor fiscal permanece, face à queda nas receitas,
apresentando resultados desfavoráveis. No primeiro
trimestre, o resultado global do setor público nacional
registrou déficit de $2,5 bilhões, ante a meta, para o
ano, de $3 bilhões proposta no orçamento.
Comparativamente ao primeiro trimestre do ano
anterior, a arrecadação apresentou retração de 22%,
Set
Nov
Jan
Mar
2002
devida especialmente à redução de 30% na
Arrecadação IVA
arrecadação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
O governo vem buscando negociar com as províncias
a assinatura de um pacto fiscal que reduza em 60% os déficits provinciais,
o que atenderia a uma das exigências do FMI para a retomada das
negociações de assistência financeira.
Relatório de Inflação
Junho 2002
A balança comercial alcançou superávit de US$5,2 bilhões no primeiro
quadrimestre do ano, ante US$625 milhões no mesmo período do
ano anterior, resultado de contrações de 5% nas exportações e de
65% nas importações. Enquanto a redução nas exportações responde
a recuo nos preços de alguns produtos com expressiva participação
na pauta de exportações, como produtos primários, a contração nas
importações evidencia retração em todos os segmentos da pauta.
O cenário macroeconômico persiste repercutindo negativamente no
setor produtivo. Nesse sentido, de acordo com o Indec, o Estimador
Mensal Industrial (EMI) apresentou, no primeiro quadrimestre do
ano, redução de 15,8%, comparativamente ao mesmo período do
ano anterior, acumulando nos últimos doze meses contração de
10,6%. As indústrias têxtil, automotiva e metalmecânica têm sido
os setores mais atingidos pelo recuo da atividade produtiva.
Inflação
Variação percentual mensal
20
16
12
8
4
0
-4
Jan
2001
Mar
Mai
Jul
Set
IPC
Fonte: Ministério da Economia/Indec
A trajetória do nível de preços mantém-se
ascendente, embora a velocidade de aceleração da
inflação tenha declinado em maio. Neste período,
segundo o Indec, o Índice de Precios ao
Consumidor (IPC) alcançou 4%, acumulando
inflação de 23% em doze meses, pressionado pelo
crescimento dos preços nos itens alimentos e
Nov
Jan
Mar
Mai
2002
vestuário. Ainda em maio, o Índice de Precios
Ipim
Internos al por Mayor (Ipim), que mede a variação
dos preços no atacado, registrou elevação de
12,3% acumulando, em doze meses, variação de 72%, devido,
principalmente, ao crescimento dos preços dos produtos importados.
Taxa de câmbio
Pesos por dólar
4,0
3,6
3,2
2,8
2,4
2,0
1,6
22-jan
2002
Fonte: Reuters
25-fev
29-mar
2-mai
5-jun
A taxa de câmbio permaneceu registrando forte
volatilidade. A despeito das intervenções do Banco
Central e das restrições impostas pelo governo ao
mercado cambial, que incluíram limitação do
número de instituições financeiras autorizadas a
operar no mercado de moedas estrangeiras e
alteração nos procedimentos de liquidação das
operações de exportações, a moeda nacional
registrou depreciação superior a 70% de fevereiro
a junho, afetando o nível de preços internos.
87
Relatório de Inflação
Junho 2002
Em abril, a decisão de dois bancos estrangeiros de suspender as
operações no mercado bancário argentino intensificou a desconfiança
dos agentes econômicos quanto ao grau de solvência do sistema
financeiro. Adicionalmente, as restrições, adotadas desde o final de
2001, aos saques bancários, não têm sido suficientes para impedir a
contração dos depósitos privados que, em maio, alcançou 1,7 bilhão
de pesos, ou 3% do total.
Diante de pressões internas e externas, o governo apresentou, em
junho, novo programa destinado à liberação dos depósitos bancários,
que consiste em troca dos depósitos por bônus do governo
denominados em dólares ou pesos. A expectativa oficial é que 30%
dos depósitos sejam trocados, o que significaria a emissão de $18
bilhões em bônus federais, com vencimentos em prazos variados,
que poderão ser utilizados para aquisição de bens, expandindo a
liquidez da economia.
Uruguai
A economia uruguaia tem sido afetada por sucessivos choques
externos adversos, resultando em recessão e aumento do
desemprego. Esses choques tornaram-se mais severos após a
Argentina introduzir o congelamento de depósitos bancários, ao final
de 2001, contribuindo para o gradual declínio da renda nacional
uruguaia, para o significativo crescimento do déficit público em
percentagem do PIB e para o aumento de pressões no sistema
bancário do País.
O Índice de Volume Físico (IVF) da indústria manufatureira uruguaia
declinou 9,8% no quarto trimestre de 2001, comparativamente a
igual trimestre do ano anterior. Considerada a mesma base de
comparação, o Índice de Horas Trabalhadas por Operário (IHT) e o
Índice de Pessoal Ocupado (IPO) contraíram 13,3% e 12,6%,
respectivamente. No ano, o IVF da indústria manufatureira, excluído
o refino de petróleo, apresentou redução de 9,3%.
O IPC, calculado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), cresceu
1,2% em maio, acumulando, nos últimos doze meses, elevação de
88
Relatório de Inflação
Junho 2002
6,5%. Para os mesmos períodos de 2001, as variações atingiram
0,6% e 5,3%, respectivamente. Em maio deste ano, os itens que
apresentaram aumentos mais expressivos foram transportes e
comunicações, 2,6%, e vestuário e calçados, 1,5%.
A dívida externa líquida do setor público passou de US$2,6 bilhões,
em dezembro de 2001, para US$3,8 bilhões em fevereiro deste ano.
A balança comercial apresentou déficit de US$63,6 milhões no
primeiro trimestre, ante US$164,9 milhões em igual período do ano
anterior. As exportações totalizaram US$443,9 milhões e as
importações, US$507,5 milhões.
Ao final de maio deste ano, o FMI anunciou a disposição de promover
um aumento no montante de recursos financeiros para o Uruguai,
assinalando-se que em junho uma missão daquele Organismo deverá
chegar ao país para a realização de negociações com vistas ao
fortalecimento do atual acordo. Os objetivos do futuro programa
serão a melhoria da situação fiscal, a manutenção da solidez do
sistema bancário e a intensificação das reformas estruturais com vistas
a reforçar a confiança e possibilitar a recuperação da atividade
econômica e do emprego.
México
A economia mexicana acompanhou a desaceleração ocorrida na
economia norte-americana em 2001, mas sem evidenciar recuperação
quando esta economia passou a apresentar crescimento acima do
esperado. O PIB mexicano, a preços de mercado, contraiu 2% no
primeiro trimestre de 2002, ante igual trimestre do ano anterior,
período em que crescera 2%, considerada a mesma base de
comparação.
O Indicador Global da Atividade Econômica (Igae), divulgado pelo
Instituto Nacional de Estatística, Geografia e Informática (Inegi),
contraiu 3,5% em março deste ano, ante igual período do ano
anterior, corroborando o declínio da atividade econômica observado
desde maio de 2001. No mesmo sentido, o Indicador da Atividade
89
Relatório de Inflação
Junho 2002
Industrial vem registrando decréscimo desde fevereiro de 2001,
atingindo variação negativa de 7,6%. No mesmo período, a indústria
manufatureira mexicana registrou recuo de 9,1%, pressionada pela
retração de 21,4% observada na indústria maquiadora de exportação.
A inflação, aferida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
(INPC), apresentou elevação de 0,9% em janeiro, invertendo a
trajetória de queda registrada no último trimestre de 2001. Embora,
em fevereiro, o índice apresentasse variação negativa, voltou a
crescer em março, 0,5%, e em abril, 0,6%. A taxa acumulada no
primeiro quadrimestre deste ano totalizou 4,7%, representando
incremento de 0,3 p.p. em relação ao período anterior.
A conta de transações correntes acumulou déficit de US$3,9 bilhões
no primeiro trimestre de 2002, financiado, principalmente, com
recursos de longo prazo. A balança comercial registrou déficit de
US$1,8 bilhão no primeiro trimestre de 2002, ante US$4,2 bilhões
no período anterior, resultado de exportações de US$36,6 bilhões e
importações de US$38,4 bilhões. As exportações e as importações
declinaram 7,6% e 8,3%, respectivamente, no primeiro trimestre
deste ano, ante igual trimestre de 2001. No primeiro trimestre de
2002, o saldo das reservas internacionais líquidas do Banco do
México expandiu US$1,3 bilhão, totalizando US$42,2 bilhões.
Chile
O PIB cresceu 1,5%, em termos reais, no primeiro trimestre de 2002,
relativamente ao do mesmo trimestre do ano anterior, enquanto a FBCF
registrou elevação de 3,1%, considerada a mesma base de comparação.
O Indicador Mensal da Atividade Econômica (Imacec) registrou
elevação mensal de 0,4% em março, ante contração de 0,2% em
fevereiro, considerada a série dessazonalizada. O Índice de Produção
Industrial declinou 2,1% em março, comparativamente ao mesmo
período do ano anterior, enquanto na série dessazonalizada, apresentou
expansão mensal de 0,2%. Consideradas as mesmas bases de
comparação, o Índice de Vendas Industriais contraiu 2,7% e 1,5%,
respectivamente.
90
Relatório de Inflação
Junho 2002
Com relação à inflação, o IPC, divulgado pelo INE, registrou
variações positivas em março, 0,5%, e em abril, 0,4%, após
apresentar uma seqüência de variações negativas ou nulas, de
novembro de 2001 a janeiro deste ano.
O saldo da balança comercial chilena registrou superávit de
US$692,2 milhões no primeiro trimestre deste ano, com
exportações de US$4,3 bilhões e importações de US$3,6 bilhões.
A dívida externa total atingiu US$37,4 bilhões no final do primeiro
trimestre, sendo US$31,1 bilhões referentes à dívida de médio e
longo prazos. As reservas internacionais totalizaram US$15,4
bilhões, em abril deste ano.
4.5 – Mercado financeiro internacional
O comportamento do mercado financeiro internacional, desde a
análise constante do último Relatório de Inflação, evoluiu de maneira
mais favorável a suprir as necessidades de financiamento dos países
emergentes. Após o fraco desempenho registrado em 2001, já era
previsto aumento nos fluxos de capitais neste ano, estimulados
principalmente pela recuperação econômica nos países
industrializados. Não obstante, conforme estatísticas do Banco de
Compensações Internacionais (BIS) 1 e previsões do Institute of
International Finance (IIF)2, o mercado financeiro internacional tem
superado as expectativas iniciais, em cenário de retomada mais
acentuada da atividade e com a manutenção de taxas básicas de juros
expansionistas, dada a ausência de pressões inflacionárias
significativas nos países desenvolvidos.
O mercado acionário, medido pelos índices das principais bolsas de
valores do mundo: Dow Jones Industrial Average, Standard and
Poor's 500 e Nasdaq nos EUA, além dos de Londres e Tóquio,
recuperou-se em relação ao nível alcançado após os ataques
terroristas de 11 de setembro. Nos Estados Unidos, a partir de março,
os indicadores voltaram a acumular perdas e, em 7 de junho situavamse 4,8%, 11% e 22,4% abaixo da cotação do início do ano, na ordem.
1/ BIS. Quarterly Review. International Banking and Financial Market Developments. Junho de 2002.
2/ IIF. Capital Flows to Emerging Market Economies. 22 de abril de 2002.
91
Relatório de Inflação
Junho 2002
Na mesma base de comparação, a bolsa de Londres apresentava
declínio de 5,7% e apenas a de Tóquio, expansão de 4,6%.
Dessa maneira, o ambiente internacional de recuperação do
crescimento, baixas taxas de juros e fraco desempenho dos
mercados de renda fixa e variável, torna-se mais propício ao
aumento dos fluxos financeiros privados líquidos para os países
emergentes. Obviamente existem riscos em relação ao cenário mais
provável para o corrente ano. Entre os riscos podem ser
mencionados: a retomada, mais cedo que o previsto, do movimento
ascendente das taxas de juros nos países industrializados,
diminuindo o grau de expansionismo da política monetária ou
mesmo retornando ao nível neutro; o crescimento econômico
apenas modesto nesses países; a evolução da crise argentina e seu
possível contágio e, especificamente no caso do Brasil, o
comportamento volátil do mercado financeiro relativamente aos
indicadores econômicos e ao ambiente político-eleitoral.
Financiamento externo aos países emergentes
Projeções para 2002
US$ bilhões
Discriminação
Total
1/
(A)
Total
América Latina
2/
(B)
1/
(A)
(B-A)
2/
(B)
(B-A)
161,9 176,3
14,4
65,4
66,7
Capitais privados
144,2 159,0
14,8
51,1
52,4
1,3
1,3
Invest. diretos
117,1 117,0
-0,1
35,6
37,4
1,8
Portfólio
13,5
21,3
7,8
-0,4
-0,3
0,1
Empréstimos
13,6
20,8
7,2
16,0
15,4
-0,6
-3,8
Bancos comerciais
-3,9
-5,6
-1,7
2,9
-0,9
Não-bancos
17,5
26,4
8,9
13,0
16,3
3,3
Capitais oficiais
17,8
17,3
-0,5
14,3
14,3
0,0
As variações nos fluxos de capital privado devemse, basicamente, aos fluxos de portfólio e aos dos
credores, especificamente os não-bancários, visto
que os fluxos dos bancos comerciais permanecem
negativos. Os capitais de portfólio devem expandir-se de US$9,5
bilhões, em 2001, para US$21,3 bilhões neste ano.A previsão dos
ingressos para este ano foi elevada em US$7,8 bilhões, crescimento
de 57,8%. Os empréstimos líquidos do setor não-bancário – compra
de bônus, créditos de fornecedores e não-residentes realizando
depósitos no setor bancário doméstico e comprando títulos públicos
Fonte: Institute of International Finance . Capital Flows to Emerging Market
Economies, 30 de janeiro e 22 de abril de 2002.
1/ Previsão de 30 de janeiro de 2002.
2/ Previsão de 22 de abril de 2002.
92
De acordo com o panorama traçado para a
conjuntura econômica internacional, o IIF reviu
suas projeções para 2002. Nesse sentido, o total
do financiamento externo líquido para as
economias emergentes neste ano foi revisto para
US$176,3 bilhões, 8,9% acima da previsão
anterior. O aumento previsto é ainda mais
expressivo no que se refere ao total líquido dos
fluxos privados, acréscimo de 10,3%, alcançando
US$159 bilhões.
Relatório de Inflação
Junho 2002
domésticos – deverão ampliar-se de US$6,2 bilhões, em 2001, para
US$26,4 bilhões, neste ano. As estatísticas de 2001, no entanto,
foram negativamente influenciadas pelos saques líquidos de US$11
bilhões em função das crises financeiras na Argentina e na Turquia,
eventos que não deverão ocorrer novamente neste ano. A previsão
de abril do IIF para 2002 elevou-se em 50,9% em relação à de janeiro.
Os bancos comerciais deverão receber remessas líquidas de US$5,6
bilhões dos países emergentes em 2002, de acordo com a previsão
do IIF. Sua contribuição líquida ao financiamento desses países
permanece negativa desde 1998.
O principal componente dos fluxos líquidos de financiamento privado
para os países emergentes permanece sendo os investimentos
estrangeiros diretos (IED). Para este ano, estima-se ingressos de
US$117 bilhões de IED, mesmo patamar registrado na previsão
anterior, equivalentes a 66,4% do financiamento total e a 73,6% do
financiamento privado aos países emergentes.
Em relação à América Latina, as alterações decorrentes das revisões
foram menos acentuadas, com o fluxo total de financiamento em 2002
passando a US$66,7 bilhões, aumento de 2% na comparação com a
previsão anterior, e o financiamento privado a US$52,4 bilhões, variação
de 2,5%. Observe-se que enquanto os capitais privados para a América
Latina deverão representar 33% do fluxo total para países emergentes,
esse percentual deverá elevar-se para 82,7% no tocante aos capitais
oficiais, influenciados, em parte, pela situação da Argentina.
4.6 – Petróleo
Petróleo tipo Brent
Média no período
US$/barril
35
33
31
29
27
25
23
21
19
17
15
Jan Mar Mai
2000
Fonte: Bloomberg
Jul
Set Nov Jan Mar Mai
2001
Jul
Set Nov Jan Mar Mai
2002
A demanda de derivados de petróleo apresentou,
no primeiro trimestre de 2002, contração
generalizada, com exceção da relativa à gasolina,
frente ao trimestre anterior. Esse desempenho esteve
associado, em parte, à ocorrência de temperaturas
mais elevadas no inverno no hemisfério norte e às
encomendas elevadas, principalmente de óleo de
aquecimento, por parte dos Estados Unidos em
2001, devido à crise de gás natural.
93
Relatório de Inflação
Junho 2002
Petróleo à vista
A estimativa da Agência Internacional de Energia
(AIE) para a demanda global de petróleo
referente ao segundo trimestre de 2002 é de 75,3
milhões de barris por dia (mbd), sendo a
produção dos países não pertencentes à
Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep) estimada em 50,6 mbd.
Considerando-se que a Opep deverá produzir
24,6 mbd nesse período, a redução global de
estoque foi estimada em 0,1 mbd.
US$/barril
32
30
28
26
24
22
20
18
16
1/3
2001
6/4
17/5 25/6
31/7
6/9 11/10 16/11 24/12 1/2 12/3 19/4 28/5
2002
Fonte: Bloomberg
Para o terceiro trimestre, a AIE prevê demanda global de 76,6
mbd, implicando redução global de estoque de 0,6 mbd, na medida
que a produção da Opep, mesmo com o reinício da produção do
Iraque, deverá alcançar 25,2 mbd e a dos demais países, 50,8 mbd.
A demanda poderá ser mais acentuada, de acordo com a evolução
da recuperação da economia mundial.
Petróleo futuro (brent )
US$/barril
27
26
25
24
23
T+2
T+3
31.5.2002
T+4
T+5
30.4.2002
T+6
28.3.2002
O preço do petróleo tipo Brent no mercado à
vista, final de mês, aumentou de US$ 25,60 por
barril, em março, para US$ 26,34, em abril,
reduzindo-se para US$ 24,44, em maio. Esse
comportamento pode ser explicado, em parte,
pela suspensão da produção do Iraque, em 8
de abril, e sua retomada em 8 de maio, bem
como pela normalização da situação política na
Venezuela.
Fonte: Bloomberg
Assinale-se, ainda, que o patamar atual dos preços embute o risco
inerente ao conflito no Oriente Médio e a incerteza quanto aos
desdobramentos da resolução do Conselho de Segurança da ONU,
que estabeleceu restrições a produtos, inclusive civis, que o Iraque
pode comprar com o dinheiro que recebe da venda de petróleo
ao exterior.
No mercado futuro, as cotações do tipo Brent mostraram-se
decrescentes para prazos subseqüentes de entrega, negociados em
mesma data.
94
Relatório de Inflação
Junho 2002
4.7 – Conclusão
A evolução da economia norte-americana é a variável chave para
determinar a trajetória da economia mundial. Os sinais de retomada
do crescimento ao longo dos primeiros meses de 2002, confirmam o
fim de uma fase de recessão curta. Assim, o extraordinário
crescimento do PIB, de 5,6%, e da produtividade no primeiro
trimestre do ano corrente, são bons sinalizadores dessa nova fase da
economia americana, muito embora o crescimento do PIB no
primeiro trimestre tenha sido influenciado por fatores episódicos,
como o aumento de 20% nos gastos de defesa, enquanto a demanda
final evoluiu apenas 3,7%, ritmo mais lento que o do último trimestre
do ano anterior. Assim, gastos governamentais e investimento em
estoques responderam conjuntamente por 77% do crescimento do
primeiro trimestre do ano.
Mesmo que os dados não se repitam na mesma magnitude no segundo
trimestre, o que se espera é que o crescimento poderá se intensificar
ao final de 2002, quando se observaria o retorno a um ritmo de
crescimento mais expressivo.
Dado o elevado grau de interdependência econômica e financeira
existente hoje entre os países, o movimento de aceleração suave do
crescimento da economia dos Estados Unidos está levando as demais
economias mundiais a uma recuperação lenta, mas sustentada. O
que se observa é que o abalo da confiança e o aumento da incerteza
que caracterizaram o último trimestre de 2001 já se dissiparam.
O comportamento do mercado financeiro internacional evolui de
maneira mais favorável, principalmente para as economias
emergentes. As previsões são de aumentos dos fluxos financeiros
privados líquidos para esses países. Com a recuperação americana e
a normalização dos mercados internacionais, deve arrefecer o
movimento de flight to quality (fuga para a qualidade) predominante
em 2001, muito embora os mercados se mantenham cautelosos.
95
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