Relatório de Inflação Junho 2002 4 – Economia internacional Introdução A economia mundial registrou desempenho melhor do que o esperado pelo mercado no último trimestre, combinando recuperação crescente no nível de atividade e baixas taxas de inflação. Assim como na recessão de 2001, a retomada do crescimento econômico mundial neste ano segue de perto a evolução da economia dos Estados Unidos. Aquele país, após registrar contração do PIB no terceiro trimestre do ano passado, retomou sua trajetória ascendente, com taxas de expansão de 1,7% e de 5,6%, respectivamente, no último trimestre de 2001 e no primeiro de 2002, consideradas as variações em relação ao período anterior, anualizadas e com ajuste sazonal. A previsão do FMI para o desempenho da economia americana considera taxa de crescimento de 2,3%, ante 1,2% registrada em 2001, ainda assim significativamente inferior ao piso de 4% observado de 1997 a 2000. O nível de atividade da economia dos Estados Unidos tem favorecido a retomada do crescimento dos países da Área do Euro, bem como a recuperação das economias emergentes do Sudeste Asiático. Na Europa, a recuperação ainda é lenta e moderada. No Japão, a evolução do PIB sinaliza o início da recuperação econômica do país, depois de anos de recessão. Na América Latina, os dados são contraditórios. Enquanto o Chile vem conseguindo suplantar o declínio econômico que adveio com a crise mundial, a economia mexicana continua em desaceleração. Adicionalmente, o quadro de dificuldades que a Argentina vem enfrentando desde meados de 1998 prosseguiu em 2002, com repercussões negativas sobre o Uruguai. 75 Relatório de Inflação Junho 2002 4.1 – Estados Unidos Os sinais de recuperação da economia norte-americana indicam que esta poderá liderar as demais economias no que se refere à superação da recessão mundial. As perspectivas são de crescimento moderado. O consumo e os gastos do governo cresceram 3,2% e 6,7%, respectivamente, no primeiro trimestre de 2002, patamar inferior ao registrado no trimestre anterior. Registre-se o crescimento de 22,8% do investimento privado bruto, após declínio de 23,5% no último trimestre de 2001, considerando-se a série dessazonalizada, anualizada e deflacionada. Contribuiu para tal resultado o investimento em estoques. Demanda agregada - componentes1/ % 25 15 5 -5 -15 -25 III 1999 IV I 2000 II III IV I 2001 II III IV I 2002 Consumo Investimento doméstico privado Governo Fonte: Bureau of Economic Analysis 1/ Variação trimestral anualizada, dessazonalizada e deflacionada. Comércio exterior US$ bilhões 120 110 100 92 90 80 70 60 60 50 Mar 2000 Jun Set Dez Exportações Fonte: Bureau of Economic Analysis 76 Mar 2001 Jun Set Dez Importações Mar 2002 Outros indicadores de demanda confirmam a retomada do crescimento da economia norteamericana. As encomendas às fábricas expandiram 1,2% em abril, após crescimento de 1% em março, na série dessazonalizada. Excluindo o segmento transportes, as encomendas aumentaram 2%. Na variação acumulada em doze meses até abril, as encomendas foram 4,5% inferiores às de igual período do ano precedente. As vendas do comércio varejista, exclusive serviços alimentares, subiram 1,3% em abril, considerada a série dessazonalizada. Em doze meses, as vendas no varejo expandiram 4,3% em abril, ante 2,4% em março e 2,3% em fevereiro. Com a recuperação da economia, os déficits comercial e em conta corrente tendem a crescer, constituindo-se em restrição ao crescimento mais vigoroso. Assinale-se que embora a depreciação do dólar, como vem ocorrendo nos últimos meses, contribua para o aumento do volume exportado, o déficit comercial de bens tem-se mantido no patamar de US$30 bilhões mensais no primeiro trimestre de 2002, com tendência de alta. Face no entanto aos menores ingressos de capitais Relatório de Inflação Junho 2002 externos nos EUA, destinados à aquisição de títulos, especialmente ações, deve persistir a pressão para o enfraquecimento do dólar. Produto Interno Bruto1/ O PIB expandiu 5,6% no primeiro trimestre do ano, em relação ao período anterior, considerada 6 a série dessazonalizada. Esse resultado esteve influenciado pelo aumento de 20% nos gastos de 3 defesa, enquanto a demanda final evoluiu 3,7%, 0 ritmo mais lento que o registrado no último -3 I II III IV I II III IV I II III IV I trimestre de 2001. Assim, gastos governamentais 1999 2000 2001 2002 e investimento em estoques responderam por Fonte: Bureau of Economic Analysis 1/ Variação percentual sobre trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal, anualizado. 77% do crescimento do PIB no primeiro trimestre do ano. A produção industrial aumentou pelo quarto mês consecutivo em abril, porém o resultado acumulado em doze meses ainda foi negativo, em 4,4%. % 9 A recente recuperação da economia norte-americana vem ocorrendo em contexto de expansão acentuada da produtividade, o que reduz o impacto do crescimento da economia sobre o mercado de trabalho. Com efeito, a demanda por trabalho tem aumentado menos do que o produto e parte representativa desse aumento advém de jornadas semanais mais longas em detrimento de novas contratações. Assim, paralelamente à recuperação da economia a taxa de desemprego evoluiu de 5,7% em março, para 6% em abril e 5,8% em maio. Associada à elevação da taxa de desemprego, os pedidos de auxílio-desemprego aumentaram em abril, completando dois meses acima da marca de 400 mil. Preços Variação anual % 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 Abr 2000 Jul IPC Out Jan 2001 Abr IPC Núcleo Fonte: Bureau of Labour Statistics A inflação ao consumidor, medida pelo Consumer Price Index (IPC), que vinha desacelerando desde maio de 2001, voltou a subir moderadamente nos meses de março e abril deste ano, sobretudo em função do item energia. Em doze meses, o IPC registrou taxa de 1,6% em abril, enquanto o núcleo Jul Out Jan Abr do índice, que exclui a evolução dos preços de 2002 IPP IPP Núcleo alimentos e de energia, manteve-se em relativa estabilidade. O índice de preços ao produtor (IPP) vem apresentando variações negativas desde outubro do ano passado. A variação em doze meses do IPP atingiu -1,97% em abril, enquanto o seu núcleo apresentou variação de 0,4% no período. 77 Relatório de Inflação Junho 2002 Meta para a taxa dos federal funds % a.a. 8 6 4 2 1,75 0 Mai 2000 Ago Nov Fev 2001 Mai Ago Nov Fev 2002 Mai Fonte: Federal Reserve System Indicadores do ISM Índice 70 60 O Federal Open Market Committee (FOMC) decidiu, em reunião de 7 de maio, manter a meta para a taxa dos federal funds inalterada, em 1,75% a.a., reforçando a expectativa de crescimento moderado da economia norteamericana nos próximos meses. Nessas circunstâncias, embora reconhecendo a postura acomodatícia da política monetária em curso, o FOMC acredita que a economia poderá crescer de forma sustentada, sem riscos de pressões inflacionárias. 60,1 55,7 50 40 30 Mai 2000 Ago Nov Fev 2001 Mai Ago PMI Nov Fev 2002 Mai Fev 2002 Mai BAI Fonte: Institute for Supply Management Indicadores da Universidade de Michigan Índice 115 110 105 100 95 90 85 80 Mai 2000 Ago Nov Fev 2001 Mai Ago Nov Quanto aos indicadores de expectativas, após tendência de recuperação acentuada desde outubro de 2001, os indicadores do Institute for Supply Management (ISM) voltaram a declinar em março e abril, porém permanecendo acima do ponto de nivelamento de 50. Em maio, tanto o Purchasing Managers Index (PMI), quanto o Business Activity Index (BAI), voltaram a subir, atingindo 55,7 e 60,1, respectivamente. Seguindo a mesma tendência, o sentimento dos consumidores norte-americanos, segundo pesquisa da Universidade de Michigan, atingiu 96,9, ante 93 em abril. O indicador de maio é o mais elevado desde dezembro de 2000. Sentimento do consumidor Fonte: Bloomberg 4.2 – Japão A economia japonesa encerrou o ano fiscal de 2001, em 31 de março, em ambiente deflacionário. O PIB registrou retração pelo terceiro trimestre consecutivo, refletindo o fraco desempenho das demandas interna e externa. O governo, embora não conseguisse implementar as esperadas reformas estruturais, limitando-se a pequenos avanços no que tange à baixa de créditos bancários duvidosos, evitou que se efetivassem as previsões de colapso financeiro, decorrentes de empréstimos ruins e da redução nas garantias do seguro depósito, antes totalmente protegidos, para ¥10 milhões (US$75,7 mil), a partir 78 Relatório de Inflação Junho 2002 de primeiro de abril. Por outro lado, o desempenho, nos últimos meses, dos indicadores de exportação e de produção industrial, melhoraram as expectativas de curto prazo, reforçando a tese de que a recuperação sustentada pela demanda externa poderá ser mais forte no segundo semestre do que o esperado. Pelo lado da demanda, observa-se atitude conservadora em relação ao consumo, pois embora venha ocorrendo ligeira elevação na renda real disponível dos trabalhadores a partir de julho de 2001, tal evolução ainda não impactou o dispêndio das famílias e dos trabalhadores. As encomendas às fábricas têm refletido o fraco desempenho das encomendas externa e interna, mantendo trajetória acentuadamente declinante desde junho de 2000, e tendo registrado, no primeiro trimestre deste ano, redução de 14,5% na comparação com igual período do ano precedente. Balança comercial Variação acumulada em 12 meses % 30 20 10 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 Dez 1999 -12,5 -17,6 -39,0 Mar 2000 Jun Set Dez Exportações Fonte: Banco do Japão e Bloomberg Mar Jun 2001 Importações Set Dez Saldo Mar 2002 As exportações vêm se recuperando, sustentadas pela retomada da economia americana. A vendas externas atingiram US$95 bilhões no primeiro trimestre, 0,7% superiores às consignadas no trimestre anterior, porém 13,4% inferiores às efetuadas no primeiro trimestre de 2001. As importações totalizaram US$76,9 bilhões, reduzindo-se 8,1% e 16,5%, respectivamente, nos mesmos períodos. A partir de fevereiro de 2002, a variação do saldo acumulado em doze meses teve revertida a sua trajetória declinante. Produção industrial Variação percentual acumulada em 12 meses 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 -10 -12 Dez 1999 Mar 2000 Jun Set Dez Mar 2001 Fonte: Ministry of Economy, Trade and Industry Na série com ajuste sazonal, a variação da produção industrial acumulada em doze meses, persiste em trajetória decrescente, porém, em ritmo menos acentuado. Registre-se que em fevereiro e em março as variações mensais foram positivas e que as expectativas para abril e maio são de expansões de 1,3% e 3,1%, respectivamente. A taxa de desemprego Jun Set Dez Mar permaneceu elevada durante todo o ano fiscal de 2002 2001, atingindo a taxa mais elevada, 5,4%, em março, evidenciando os ajustes efetivados pelas empresas em reestruturação ou em concordata, no encerramento do ano fiscal. 79 Relatório de Inflação Junho 2002 Produto Interno Bruto1/ % 10 5 0,5 0 -2,1 -5 -4,8 -4,8 -10 II III IV I II III IV I 1999 2000 2001 Fonte: Economic Planning Agency 1/ Variação sobre trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal, anualizada. II III IV Segundo o Banco do Japão, o PIB decresceu 1,2% no quarto trimestre de 2001, em relação ao trimestre anterior, e 2,3% comparativamente ao quarto trimestre de 2000, sendo esse o terceiro período consecutivo em que ocorrem resultados negativos. No ano calendário de 2001 a retração alcançou 0,5%. A previsão de crescimento econômico para o ano fiscal de 2002 foi revista,de declínio de 0,5% para expansão de 0,1%. A economia manteve-se em regime deflacionário durante todo o ano fiscal de 2001, tendo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrado variação anual de -1,2%, e o IPA, de -1%, em março. A taxa de juros básica da economia tem permanecido próxima a zero. No ano fiscal de 2001, verificou-se baixa de ¥7,8 trilhões (US$60 bilhões) de empréstimos vencidos e não pagos, ¥1,4 trilhão acima do que havia sido previamente estimado. Entretanto, os créditos duvidosos, em setembro de 2001, ainda totalizavam ¥36,8 trilhões (US$277 bilhões). Índice de confiança industrial - Tankan 20 10 0 -10 -20 -30 -38 -38 -40 -50 -48 -45 -60 I 2000 II III IV I 2001 Condições de oferta e demanda Fonte: Banco do Japão II III IV I 2002 Indústria manufatureira As expectativas têm registrado melhorias, captadas no Índice Coincidente de Indicadores Econômicos, que em março ultrapassou o nível cinqüenta pela primeira vez em quinze meses, registrando leitura preliminar de 56,3, ante quarenta em fevereiro. Já o índice de expectativas de curto prazo, Tankan, para grandes empresas manufatureiras, registrou -38 pontos no terceiro trimestre, permanecendo estável em relação ao quarto trimestre de 2001. 4.3 – Área do Euro O PIB da Área do Euro cresceu 0,2% no primeiro trimestre de 2002, comparativamente ao trimestre anterior, após apresentar contração de 0,3% no quarto trimestre de 2001. Esse resultado decorreu, principalmente, do crescimento de 0,9% nas exportações, que 80 Relatório de Inflação Junho 2002 PIB1/ % 4 3 2 1 0 I II III IV I 2000 2001 Fonte: Eurostat 1/ Variação sobre igual trimestre do ano anterior. compensou o declínio de 0,5% registrado na demanda doméstica. Os gastos de consumo decresceram 0,2% e a formação bruta de capital fixo, 0,7%. Por outro lado, a redução dos estoques, que atingiu 0,8% do PIB, favorece a expectativa da Comissão Européia quanto à 0,3 0,1 expansão do PIB no segundo trimestre, estimada II III IV I em 0,6%. Entre os componentes do valor bruto 2002 adicionado, o setor de construção cresceu 0,8%, os serviços financeiros, 0,7% e a indústria, 0,6%. Com relação ao primeiro trimestre de 2001, o PIB elevou-se 0,1%, ante expansão de 0,3% no trimestre anterior. Na mesma base de comparação, as demandas externa e interna registraram declínios de 1,7% e 0,8%, respectivamente. A taxa de desemprego elevou-se para 8,3% em abril, após manter-se estável em 8,2% nos três primeiros meses de 2002. A produção industrial, em declínio desde setembro de 2001, registrou variações anuais negativas ao longo do primeiro trimestre de 2002. Em março, a taxa atingiu -2,9%, com a produção de bens intermediários decrescendo 2,3%, a de bens de capital, 6,7%, e a de bens de consumo duráveis, 8,1%. As variações mensais têm sido positivas desde dezembro de 2001, alcançando 0,5% em março. Vendas no varejo As vendas no varejo apresentaram elevações consecutivas no primeiro trimestre. Em março, o aumento atingiu 0,3%, relativamente a fevereiro, e 2% em relação a março de 2001. O crescimento tem se concentrado em alimentos e bebidas e em vestuário. % 6,0 4,5 3,0 1,5 0,0 -1,5 Jan Mar 2000 Mai Fonte: Eurostat Jul Set Nov Jan Mar 2001 Var. mensal Mai Jul Set Nov Jan Mar 2002 A taxa de inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Harmonizado (IPCH), mostrou tendência de elevação nos primeiros meses do ano. Fatores temporários que pressionaram o índice em janeiro, tais como o arredondamento de preços após a conversão para o euro, o aumento de alíquotas de impostos indiretos e os efeitos meteorológicos sobre os preços de alimentos, tiveram sua influência estendida pelos meses seguintes. A taxa de variação anual recuou Var. anual 81 Relatório de Inflação Junho 2002 IPCH e IPP Variações anuais % 7 6 5 4 2,4 3 2 1 -0,7 0 -1 -2 Fev Abr 2000 Jun Ago Out Dez Fev Abr 2001 Jun Ago IPCH Out Dez Fev Abr 2002 de 2,7% em janeiro, para 2,4% em abril e 2% em maio, de acordo com a primeira estimativa da Eurostat. Vale observar que, em maio de 2001, foi registrada a maior elevação anual do IPC naquele ano, 3,4%, o que explica, em parte, a redução assinalada em maio de 2002. O IPP revela variações anuais negativas desde outubro de 2001, tendo alcançado -0,7% em abril. IPP Fonte: Eurostat A taxa de crescimento anual do M3 permaneceu em patamar superior a 4,5%, valor de referência definido pelo Banco Central Europeu (BCE), alcançando 7,5% em abril. De acordo com o BCE, o comportamento do agregado monetário segue refletindo o aumento da preferência pela liquidez, decorrente do aumento da incerteza na economia, verificado ao final de 2001. A taxa de crescimento anual do crédito ao setor privado, que situava-se em 6,8% em dezembro de 2001 reduziu-se para 5,1%, em abril de 2002. A persistência da taxa de inflação anual em patamar superior a 2% durante 2002, como apontam as expectativas, traz o receio de que se desenvolva uma dinâmica de inércia inflacionária. Porém, a recuperação econômica ainda insuficiente, o recuo do índice de preços ao consumidor em maio e a apreciação do euro tendem a assegurar a manutenção do nível de taxas de juros pelo BCE. Saldo da balança comercial acumulado em 12 meses US$ bilhões 60 57,1 50 40 30 20 10 0 Jan Mar 2000 Fonte: BCE 82 Mai Jul Set Nov Jan Mar 2001 Mai Jul Set Nov Jan Mar 2002 O saldo da balança comercial totalizou US$8 bilhões em março, como resultado de exportações de US$79,9 bilhões e importações de US$71,9 bilhões. O superávit comercial acumulado em 12 meses atingiu US$57,1 bilhões em março, ante US$51,7 bilhões em fevereiro e US$7,4 bilhões em março de 2001, assinalando-se que a mudança de patamar esteve associada, fundamentalmente, à contenção das importações. A expansão acelerada dos saldos comerciais pode, porém, ser contida pela apreciação do euro frente ao dólar, que atingiu, aproximadamente, 10% entre os finais de janeiro e maio. Relatório de Inflação Junho 2002 Indicadores de confiança 8 110 105 100 95 90 85 80 Jan 2001 Indicadores de confiança empresariais continuam a evoluir positivamente desde outubro de 2001. 4 O índice de confiança industrial para a Área do 0 -4 Euro, aferido pela Comissão Européia, atingiu -8 -9 em maio, após -11 em março e abril e -14 em -12 -16 janeiro e fevereiro. Na Alemanha, o índice de -20 expectativas de negócios voltou a alcançar 91,5, Nov Jan Mar Mai 2002 mesmo patamar registrado em março, após haver França Área do Euro recuado para 90,5 em abril. Índices semelhantes na França e na Itália acusaram, respectivamente, elevações de 98 para 101 e de 96,8 para 97,8, de abril a maio. A evolução dos indicadores de confiança do consumidor mostrou-se menos favorável. Assim, o indicador da Comissão Européia atingiu -11, após -10 em abril, e na Itália verificou-se recuo de 122,2, em março, para 119,3, em maio. Na Alemanha o índice permaneceu estável e na França evoluiu positivamente, de -18 em abril para -12 em maio. Área do Euro 115 Mar Mai Jul Set Alemanha Itália Fonte: IFO, Insee, Isae e Comissão Européia 4.4 – Economias emergentes 4.4.1 – China A perspectiva de continuidade do crescimento rápido e consistente da economia chinesa vem se confirmando em 2002, sustentado pela evolução favorável da demanda interna, impulsionada pelos investimentos. Nesse sentido, nos primeiros quatro meses do ano a formação bruta de capital fixo (FBCF) expandiu-se 27%, em comparação com o mesmo período de 2001. As razões para esse desempenho decorreram da antecipação do investimento público, que normalmente ocorre no segundo semestre, devido à reformulação no sistema de liberação de recursos às entidades estatais; do rápido crescimento do investimento privado no segmento da construção civil; e do crescimento de 29% no investimento externo direto nos quatro primeiros meses do ano, em relação ao de igual período anterior. Assinale-se que o investimento externo já participa com 10% da formação bruta de capital (FBC) da China. Como resultado, o PIB do primeiro trimestre do ano expandiu-se em 7,6%, comparado 83 Relatório de Inflação Junho 2002 ao de igual trimestre de 2001, destacando-se o desempenho da produção industrial, que aumentou em 10,9%. O crescimento do investimento, aliado às medidas de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC), transformaram a China em um mercado em expansão. Nesse contexto, o comércio exterior chinês registrou exportações de US$76,6 bilhões e importações de US$91,3 bilhões, no primeiro quadrimestre do ano. As vendas no varejo, em março, aumentaram 8% em relação às de março de 2001, percentual menor que o verificado em fevereiro, 9,1%, pelo mesmo critério de comparação. Ainda em março, a taxa de inflação anual, medida pelos preços ao consumidor, atingiu -0,8%, ante variação nula no mês anterior. 4.4.2 – Rússia A produção industrial apresentou expansão mensal de 0,6% em abril, constituindo-se no segundo resultado favorável no ano. Considerada a taxa acumulada em doze meses terminados em abril, apurou-se redução de 5% na produção, mesmo patamar observado em março. A instabilidade no desempenho da indústria não afetou a taxa de desemprego que atingiu 8,2% no mês, ante 8,3% em março. Em abril de 2001, a taxa de desemprego situou-se em 9,1%. No que se refere ao comércio exterior, o país registrou, em março, exportações de US$8,6 bilhões e importações de US$4,7 bilhões. A permanência de saldos positivos ao longo do ano produziu superávit de US$9,8 bilhões no primeiro trimestre, contribuindo para a consecução do superávit acumulado em doze meses de US$44,9 bilhões em março, ante U$45,7 bilhões no mês anterior. Em abril, a execução do orçamento federal mostrou que as receitas fiscais continuaram a se expandir, situando-se em 22,2% do PIB, ante 20,3% no mês anterior. As despesas do governo, incluídos os juros, também cresceram, alcançando 20% do PIB, ante 18,6% em março. Em conseqüência, o superávit nominal totalizou 2,2% do 84 Relatório de Inflação Junho 2002 PIB, comparativamente a 1,7% do PIB no mês anterior. Deduzidas as despesas com juros, que contraíram de 3,5% para 0,6% do PIB, registra-se redução no superávit primário, de 5,2% para 2,8% do PIB, em abril. As reservas internacionais alcançaram US$39,1 bilhões ao final de abril, ante US$37,3 bilhões no mês anterior, sustentando a trajetória de crescimento pelo quarto mês consecutivo. No mesmo mês, a taxa interbancária de juros situou-se em 9,7% a.a., ante 12,6% a.a. em março e 13,3% a.a. em fevereiro. 4.4.3 – Turquia A balança comercial apresentou déficit de US$691 milhões em março, com as exportações totalizando US$2,8 bilhões e as importações, US$3,5 bilhões. No primeiro trimestre, o déficit somou US$1,9 bilhão, comparativamente a US$3,5 bilhões em igual período do ano anterior. Na mesma base de comparação, a corrente de comércio aumentou 10%. A produção industrial elevou-se 18,7% em março, relativamente a março de 2001, após declínio de 4,5% em fevereiro. O crescimento foi impulsionado, principalmente, pelo desempenho do setor manufatureiro, que cresceu 20,5%. Na média, a produção do trimestre superou em 3,5% a verificada no primeiro trimestre de 2001. O IPC registrou variação mensal de 0,6% em maio, a menor elevação desde 1994, contribuindo para a redução do índice em doze meses de 52,7%, em abril, para 46,2%. A variação anual do IPA situou-se em 49,3% em maio, ante 58% em abril. O recuo da inflação favorece a possibilidade de redução da taxa de juros. O FMI deverá aprovar, em junho, o desembolso de mais uma parcela do acordo firmado com a Turquia em fevereiro, uma vez que foram cumpridos os critérios de desempenho relativos às políticas fiscal e monetária. A Instituição aguarda apenas que, como parte do programa de reforma do setor público, o governo adote um plano de privatização para a empresa de telecomunicações Turk Telecom; a agência de regulação e supervisão bancária notifique os bancos 85 Relatório de Inflação Junho 2002 quanto aos requisitos de adequação de capital; se efetive a consolidação de tributos indiretos em um imposto especial sobre o consumo; e, que sejam aprovadas emendas à lei de licitações públicas. O FMI reiterou sua confiança no cumprimento da meta inflacionária de 35% ao final do ano e na projeção de 3% para o crescimento do PIB, em 2002. 4.4.4 – América Latina Argentina O cenário da economia argentina agravou-se nos primeiros meses de 2002, com o quadro de estagnação da atividade contribuindo para a maior deterioração das expectativas dos agentes. A demanda mantém-se retraída, como resposta à contração da renda real, decorrente da aceleração dos índices de inflação. Nesse sentido, de acordo com o Instituto Nacional de Estadística y Censos (Indec), as vendas em supermercados e em shopping centers registraram, no primeiro quadrimestre de 2002, retrações de, respectivamente, 2,6% e 27,3%, em relação ao mesmo período do ano precedente. Na mesma base de comparação, o Índice Sintético de Atividade de Construção (Isac), que reflete a demanda por insumos para o setor de construção civil, registrou contração de 40,1%. Arrecadação fiscal $ bilhões de pesos 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 Jan 2001 Mar Mai Jul Arrecadação total Fonte: Secretaria de Hacienda 86 O setor fiscal permanece, face à queda nas receitas, apresentando resultados desfavoráveis. No primeiro trimestre, o resultado global do setor público nacional registrou déficit de $2,5 bilhões, ante a meta, para o ano, de $3 bilhões proposta no orçamento. Comparativamente ao primeiro trimestre do ano anterior, a arrecadação apresentou retração de 22%, Set Nov Jan Mar 2002 devida especialmente à redução de 30% na Arrecadação IVA arrecadação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). O governo vem buscando negociar com as províncias a assinatura de um pacto fiscal que reduza em 60% os déficits provinciais, o que atenderia a uma das exigências do FMI para a retomada das negociações de assistência financeira. Relatório de Inflação Junho 2002 A balança comercial alcançou superávit de US$5,2 bilhões no primeiro quadrimestre do ano, ante US$625 milhões no mesmo período do ano anterior, resultado de contrações de 5% nas exportações e de 65% nas importações. Enquanto a redução nas exportações responde a recuo nos preços de alguns produtos com expressiva participação na pauta de exportações, como produtos primários, a contração nas importações evidencia retração em todos os segmentos da pauta. O cenário macroeconômico persiste repercutindo negativamente no setor produtivo. Nesse sentido, de acordo com o Indec, o Estimador Mensal Industrial (EMI) apresentou, no primeiro quadrimestre do ano, redução de 15,8%, comparativamente ao mesmo período do ano anterior, acumulando nos últimos doze meses contração de 10,6%. As indústrias têxtil, automotiva e metalmecânica têm sido os setores mais atingidos pelo recuo da atividade produtiva. Inflação Variação percentual mensal 20 16 12 8 4 0 -4 Jan 2001 Mar Mai Jul Set IPC Fonte: Ministério da Economia/Indec A trajetória do nível de preços mantém-se ascendente, embora a velocidade de aceleração da inflação tenha declinado em maio. Neste período, segundo o Indec, o Índice de Precios ao Consumidor (IPC) alcançou 4%, acumulando inflação de 23% em doze meses, pressionado pelo crescimento dos preços nos itens alimentos e Nov Jan Mar Mai 2002 vestuário. Ainda em maio, o Índice de Precios Ipim Internos al por Mayor (Ipim), que mede a variação dos preços no atacado, registrou elevação de 12,3% acumulando, em doze meses, variação de 72%, devido, principalmente, ao crescimento dos preços dos produtos importados. Taxa de câmbio Pesos por dólar 4,0 3,6 3,2 2,8 2,4 2,0 1,6 22-jan 2002 Fonte: Reuters 25-fev 29-mar 2-mai 5-jun A taxa de câmbio permaneceu registrando forte volatilidade. A despeito das intervenções do Banco Central e das restrições impostas pelo governo ao mercado cambial, que incluíram limitação do número de instituições financeiras autorizadas a operar no mercado de moedas estrangeiras e alteração nos procedimentos de liquidação das operações de exportações, a moeda nacional registrou depreciação superior a 70% de fevereiro a junho, afetando o nível de preços internos. 87 Relatório de Inflação Junho 2002 Em abril, a decisão de dois bancos estrangeiros de suspender as operações no mercado bancário argentino intensificou a desconfiança dos agentes econômicos quanto ao grau de solvência do sistema financeiro. Adicionalmente, as restrições, adotadas desde o final de 2001, aos saques bancários, não têm sido suficientes para impedir a contração dos depósitos privados que, em maio, alcançou 1,7 bilhão de pesos, ou 3% do total. Diante de pressões internas e externas, o governo apresentou, em junho, novo programa destinado à liberação dos depósitos bancários, que consiste em troca dos depósitos por bônus do governo denominados em dólares ou pesos. A expectativa oficial é que 30% dos depósitos sejam trocados, o que significaria a emissão de $18 bilhões em bônus federais, com vencimentos em prazos variados, que poderão ser utilizados para aquisição de bens, expandindo a liquidez da economia. Uruguai A economia uruguaia tem sido afetada por sucessivos choques externos adversos, resultando em recessão e aumento do desemprego. Esses choques tornaram-se mais severos após a Argentina introduzir o congelamento de depósitos bancários, ao final de 2001, contribuindo para o gradual declínio da renda nacional uruguaia, para o significativo crescimento do déficit público em percentagem do PIB e para o aumento de pressões no sistema bancário do País. O Índice de Volume Físico (IVF) da indústria manufatureira uruguaia declinou 9,8% no quarto trimestre de 2001, comparativamente a igual trimestre do ano anterior. Considerada a mesma base de comparação, o Índice de Horas Trabalhadas por Operário (IHT) e o Índice de Pessoal Ocupado (IPO) contraíram 13,3% e 12,6%, respectivamente. No ano, o IVF da indústria manufatureira, excluído o refino de petróleo, apresentou redução de 9,3%. O IPC, calculado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), cresceu 1,2% em maio, acumulando, nos últimos doze meses, elevação de 88 Relatório de Inflação Junho 2002 6,5%. Para os mesmos períodos de 2001, as variações atingiram 0,6% e 5,3%, respectivamente. Em maio deste ano, os itens que apresentaram aumentos mais expressivos foram transportes e comunicações, 2,6%, e vestuário e calçados, 1,5%. A dívida externa líquida do setor público passou de US$2,6 bilhões, em dezembro de 2001, para US$3,8 bilhões em fevereiro deste ano. A balança comercial apresentou déficit de US$63,6 milhões no primeiro trimestre, ante US$164,9 milhões em igual período do ano anterior. As exportações totalizaram US$443,9 milhões e as importações, US$507,5 milhões. Ao final de maio deste ano, o FMI anunciou a disposição de promover um aumento no montante de recursos financeiros para o Uruguai, assinalando-se que em junho uma missão daquele Organismo deverá chegar ao país para a realização de negociações com vistas ao fortalecimento do atual acordo. Os objetivos do futuro programa serão a melhoria da situação fiscal, a manutenção da solidez do sistema bancário e a intensificação das reformas estruturais com vistas a reforçar a confiança e possibilitar a recuperação da atividade econômica e do emprego. México A economia mexicana acompanhou a desaceleração ocorrida na economia norte-americana em 2001, mas sem evidenciar recuperação quando esta economia passou a apresentar crescimento acima do esperado. O PIB mexicano, a preços de mercado, contraiu 2% no primeiro trimestre de 2002, ante igual trimestre do ano anterior, período em que crescera 2%, considerada a mesma base de comparação. O Indicador Global da Atividade Econômica (Igae), divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística, Geografia e Informática (Inegi), contraiu 3,5% em março deste ano, ante igual período do ano anterior, corroborando o declínio da atividade econômica observado desde maio de 2001. No mesmo sentido, o Indicador da Atividade 89 Relatório de Inflação Junho 2002 Industrial vem registrando decréscimo desde fevereiro de 2001, atingindo variação negativa de 7,6%. No mesmo período, a indústria manufatureira mexicana registrou recuo de 9,1%, pressionada pela retração de 21,4% observada na indústria maquiadora de exportação. A inflação, aferida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), apresentou elevação de 0,9% em janeiro, invertendo a trajetória de queda registrada no último trimestre de 2001. Embora, em fevereiro, o índice apresentasse variação negativa, voltou a crescer em março, 0,5%, e em abril, 0,6%. A taxa acumulada no primeiro quadrimestre deste ano totalizou 4,7%, representando incremento de 0,3 p.p. em relação ao período anterior. A conta de transações correntes acumulou déficit de US$3,9 bilhões no primeiro trimestre de 2002, financiado, principalmente, com recursos de longo prazo. A balança comercial registrou déficit de US$1,8 bilhão no primeiro trimestre de 2002, ante US$4,2 bilhões no período anterior, resultado de exportações de US$36,6 bilhões e importações de US$38,4 bilhões. As exportações e as importações declinaram 7,6% e 8,3%, respectivamente, no primeiro trimestre deste ano, ante igual trimestre de 2001. No primeiro trimestre de 2002, o saldo das reservas internacionais líquidas do Banco do México expandiu US$1,3 bilhão, totalizando US$42,2 bilhões. Chile O PIB cresceu 1,5%, em termos reais, no primeiro trimestre de 2002, relativamente ao do mesmo trimestre do ano anterior, enquanto a FBCF registrou elevação de 3,1%, considerada a mesma base de comparação. O Indicador Mensal da Atividade Econômica (Imacec) registrou elevação mensal de 0,4% em março, ante contração de 0,2% em fevereiro, considerada a série dessazonalizada. O Índice de Produção Industrial declinou 2,1% em março, comparativamente ao mesmo período do ano anterior, enquanto na série dessazonalizada, apresentou expansão mensal de 0,2%. Consideradas as mesmas bases de comparação, o Índice de Vendas Industriais contraiu 2,7% e 1,5%, respectivamente. 90 Relatório de Inflação Junho 2002 Com relação à inflação, o IPC, divulgado pelo INE, registrou variações positivas em março, 0,5%, e em abril, 0,4%, após apresentar uma seqüência de variações negativas ou nulas, de novembro de 2001 a janeiro deste ano. O saldo da balança comercial chilena registrou superávit de US$692,2 milhões no primeiro trimestre deste ano, com exportações de US$4,3 bilhões e importações de US$3,6 bilhões. A dívida externa total atingiu US$37,4 bilhões no final do primeiro trimestre, sendo US$31,1 bilhões referentes à dívida de médio e longo prazos. As reservas internacionais totalizaram US$15,4 bilhões, em abril deste ano. 4.5 – Mercado financeiro internacional O comportamento do mercado financeiro internacional, desde a análise constante do último Relatório de Inflação, evoluiu de maneira mais favorável a suprir as necessidades de financiamento dos países emergentes. Após o fraco desempenho registrado em 2001, já era previsto aumento nos fluxos de capitais neste ano, estimulados principalmente pela recuperação econômica nos países industrializados. Não obstante, conforme estatísticas do Banco de Compensações Internacionais (BIS) 1 e previsões do Institute of International Finance (IIF)2, o mercado financeiro internacional tem superado as expectativas iniciais, em cenário de retomada mais acentuada da atividade e com a manutenção de taxas básicas de juros expansionistas, dada a ausência de pressões inflacionárias significativas nos países desenvolvidos. O mercado acionário, medido pelos índices das principais bolsas de valores do mundo: Dow Jones Industrial Average, Standard and Poor's 500 e Nasdaq nos EUA, além dos de Londres e Tóquio, recuperou-se em relação ao nível alcançado após os ataques terroristas de 11 de setembro. Nos Estados Unidos, a partir de março, os indicadores voltaram a acumular perdas e, em 7 de junho situavamse 4,8%, 11% e 22,4% abaixo da cotação do início do ano, na ordem. 1/ BIS. Quarterly Review. International Banking and Financial Market Developments. Junho de 2002. 2/ IIF. Capital Flows to Emerging Market Economies. 22 de abril de 2002. 91 Relatório de Inflação Junho 2002 Na mesma base de comparação, a bolsa de Londres apresentava declínio de 5,7% e apenas a de Tóquio, expansão de 4,6%. Dessa maneira, o ambiente internacional de recuperação do crescimento, baixas taxas de juros e fraco desempenho dos mercados de renda fixa e variável, torna-se mais propício ao aumento dos fluxos financeiros privados líquidos para os países emergentes. Obviamente existem riscos em relação ao cenário mais provável para o corrente ano. Entre os riscos podem ser mencionados: a retomada, mais cedo que o previsto, do movimento ascendente das taxas de juros nos países industrializados, diminuindo o grau de expansionismo da política monetária ou mesmo retornando ao nível neutro; o crescimento econômico apenas modesto nesses países; a evolução da crise argentina e seu possível contágio e, especificamente no caso do Brasil, o comportamento volátil do mercado financeiro relativamente aos indicadores econômicos e ao ambiente político-eleitoral. Financiamento externo aos países emergentes Projeções para 2002 US$ bilhões Discriminação Total 1/ (A) Total América Latina 2/ (B) 1/ (A) (B-A) 2/ (B) (B-A) 161,9 176,3 14,4 65,4 66,7 Capitais privados 144,2 159,0 14,8 51,1 52,4 1,3 1,3 Invest. diretos 117,1 117,0 -0,1 35,6 37,4 1,8 Portfólio 13,5 21,3 7,8 -0,4 -0,3 0,1 Empréstimos 13,6 20,8 7,2 16,0 15,4 -0,6 -3,8 Bancos comerciais -3,9 -5,6 -1,7 2,9 -0,9 Não-bancos 17,5 26,4 8,9 13,0 16,3 3,3 Capitais oficiais 17,8 17,3 -0,5 14,3 14,3 0,0 As variações nos fluxos de capital privado devemse, basicamente, aos fluxos de portfólio e aos dos credores, especificamente os não-bancários, visto que os fluxos dos bancos comerciais permanecem negativos. Os capitais de portfólio devem expandir-se de US$9,5 bilhões, em 2001, para US$21,3 bilhões neste ano.A previsão dos ingressos para este ano foi elevada em US$7,8 bilhões, crescimento de 57,8%. Os empréstimos líquidos do setor não-bancário – compra de bônus, créditos de fornecedores e não-residentes realizando depósitos no setor bancário doméstico e comprando títulos públicos Fonte: Institute of International Finance . Capital Flows to Emerging Market Economies, 30 de janeiro e 22 de abril de 2002. 1/ Previsão de 30 de janeiro de 2002. 2/ Previsão de 22 de abril de 2002. 92 De acordo com o panorama traçado para a conjuntura econômica internacional, o IIF reviu suas projeções para 2002. Nesse sentido, o total do financiamento externo líquido para as economias emergentes neste ano foi revisto para US$176,3 bilhões, 8,9% acima da previsão anterior. O aumento previsto é ainda mais expressivo no que se refere ao total líquido dos fluxos privados, acréscimo de 10,3%, alcançando US$159 bilhões. Relatório de Inflação Junho 2002 domésticos – deverão ampliar-se de US$6,2 bilhões, em 2001, para US$26,4 bilhões, neste ano. As estatísticas de 2001, no entanto, foram negativamente influenciadas pelos saques líquidos de US$11 bilhões em função das crises financeiras na Argentina e na Turquia, eventos que não deverão ocorrer novamente neste ano. A previsão de abril do IIF para 2002 elevou-se em 50,9% em relação à de janeiro. Os bancos comerciais deverão receber remessas líquidas de US$5,6 bilhões dos países emergentes em 2002, de acordo com a previsão do IIF. Sua contribuição líquida ao financiamento desses países permanece negativa desde 1998. O principal componente dos fluxos líquidos de financiamento privado para os países emergentes permanece sendo os investimentos estrangeiros diretos (IED). Para este ano, estima-se ingressos de US$117 bilhões de IED, mesmo patamar registrado na previsão anterior, equivalentes a 66,4% do financiamento total e a 73,6% do financiamento privado aos países emergentes. Em relação à América Latina, as alterações decorrentes das revisões foram menos acentuadas, com o fluxo total de financiamento em 2002 passando a US$66,7 bilhões, aumento de 2% na comparação com a previsão anterior, e o financiamento privado a US$52,4 bilhões, variação de 2,5%. Observe-se que enquanto os capitais privados para a América Latina deverão representar 33% do fluxo total para países emergentes, esse percentual deverá elevar-se para 82,7% no tocante aos capitais oficiais, influenciados, em parte, pela situação da Argentina. 4.6 – Petróleo Petróleo tipo Brent Média no período US$/barril 35 33 31 29 27 25 23 21 19 17 15 Jan Mar Mai 2000 Fonte: Bloomberg Jul Set Nov Jan Mar Mai 2001 Jul Set Nov Jan Mar Mai 2002 A demanda de derivados de petróleo apresentou, no primeiro trimestre de 2002, contração generalizada, com exceção da relativa à gasolina, frente ao trimestre anterior. Esse desempenho esteve associado, em parte, à ocorrência de temperaturas mais elevadas no inverno no hemisfério norte e às encomendas elevadas, principalmente de óleo de aquecimento, por parte dos Estados Unidos em 2001, devido à crise de gás natural. 93 Relatório de Inflação Junho 2002 Petróleo à vista A estimativa da Agência Internacional de Energia (AIE) para a demanda global de petróleo referente ao segundo trimestre de 2002 é de 75,3 milhões de barris por dia (mbd), sendo a produção dos países não pertencentes à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estimada em 50,6 mbd. Considerando-se que a Opep deverá produzir 24,6 mbd nesse período, a redução global de estoque foi estimada em 0,1 mbd. US$/barril 32 30 28 26 24 22 20 18 16 1/3 2001 6/4 17/5 25/6 31/7 6/9 11/10 16/11 24/12 1/2 12/3 19/4 28/5 2002 Fonte: Bloomberg Para o terceiro trimestre, a AIE prevê demanda global de 76,6 mbd, implicando redução global de estoque de 0,6 mbd, na medida que a produção da Opep, mesmo com o reinício da produção do Iraque, deverá alcançar 25,2 mbd e a dos demais países, 50,8 mbd. A demanda poderá ser mais acentuada, de acordo com a evolução da recuperação da economia mundial. Petróleo futuro (brent ) US$/barril 27 26 25 24 23 T+2 T+3 31.5.2002 T+4 T+5 30.4.2002 T+6 28.3.2002 O preço do petróleo tipo Brent no mercado à vista, final de mês, aumentou de US$ 25,60 por barril, em março, para US$ 26,34, em abril, reduzindo-se para US$ 24,44, em maio. Esse comportamento pode ser explicado, em parte, pela suspensão da produção do Iraque, em 8 de abril, e sua retomada em 8 de maio, bem como pela normalização da situação política na Venezuela. Fonte: Bloomberg Assinale-se, ainda, que o patamar atual dos preços embute o risco inerente ao conflito no Oriente Médio e a incerteza quanto aos desdobramentos da resolução do Conselho de Segurança da ONU, que estabeleceu restrições a produtos, inclusive civis, que o Iraque pode comprar com o dinheiro que recebe da venda de petróleo ao exterior. No mercado futuro, as cotações do tipo Brent mostraram-se decrescentes para prazos subseqüentes de entrega, negociados em mesma data. 94 Relatório de Inflação Junho 2002 4.7 – Conclusão A evolução da economia norte-americana é a variável chave para determinar a trajetória da economia mundial. Os sinais de retomada do crescimento ao longo dos primeiros meses de 2002, confirmam o fim de uma fase de recessão curta. Assim, o extraordinário crescimento do PIB, de 5,6%, e da produtividade no primeiro trimestre do ano corrente, são bons sinalizadores dessa nova fase da economia americana, muito embora o crescimento do PIB no primeiro trimestre tenha sido influenciado por fatores episódicos, como o aumento de 20% nos gastos de defesa, enquanto a demanda final evoluiu apenas 3,7%, ritmo mais lento que o do último trimestre do ano anterior. Assim, gastos governamentais e investimento em estoques responderam conjuntamente por 77% do crescimento do primeiro trimestre do ano. Mesmo que os dados não se repitam na mesma magnitude no segundo trimestre, o que se espera é que o crescimento poderá se intensificar ao final de 2002, quando se observaria o retorno a um ritmo de crescimento mais expressivo. Dado o elevado grau de interdependência econômica e financeira existente hoje entre os países, o movimento de aceleração suave do crescimento da economia dos Estados Unidos está levando as demais economias mundiais a uma recuperação lenta, mas sustentada. O que se observa é que o abalo da confiança e o aumento da incerteza que caracterizaram o último trimestre de 2001 já se dissiparam. O comportamento do mercado financeiro internacional evolui de maneira mais favorável, principalmente para as economias emergentes. As previsões são de aumentos dos fluxos financeiros privados líquidos para esses países. Com a recuperação americana e a normalização dos mercados internacionais, deve arrefecer o movimento de flight to quality (fuga para a qualidade) predominante em 2001, muito embora os mercados se mantenham cautelosos. 95