TRANSTORNO EXPLOSIVO DA PERSONALIDADE Na CID-10 - o Transtorno Explosivo da Personalidade aparece como Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável. Aqui, a característica mais marcante é uma tendência a agir impulsivamente, desprezando as eventuais conseqüências do ato impulsivo, juntamente com instabilidade afetiva. Os freqüentes acessos de raiva podem levar à violência ou à explosões comportamentais. Tais crises de agressividade e explosividade podem ser desencadeadas mais facilmente quando as atitudes impulsivas são criticadas ou impedidas pelos outros. Estes distúrbios são caracterizados pela instabilidade do estado de ânimo com possibilidades de explosões de raiva, ódio, violência ou afeição. A agressão pode ser expressada fisicamente ou verbalmente e as explosões fogem ao controle das pessoas afetadas. Entretanto, tais indivíduos não tem conduta antisocial e, pelo contrário, são simpáticas, bem falantes, sociáveis e educadas quando fora das crises.A extrema sensibilidade aos aborrecimentos causados pelos pequenos estímulos ambientais produz, nos explosivos, respostas de súbita violência e incontida agressividade. Normalmente chamamos estas pessoa de pavio-curto ou de cinco-minutos. No DSM-III-R a caracterização mais compatível com esta personalidade era o denominado de Distúrbio Explosivo Intermitente.De acordo com o DSM-III-R, estes indivíduos apresentam episódios de perda de controle sobre os impulsos agressivos resultando em agressões ou destruição de propriedade e, normalmente, a agressividade expressada é totalmente desproporcional aos estressores ambientais que possam tê-la desencadeado. Estes episódios geralmente são seguidos de arrependimentos ou auto-reprovação, os quais são capazes de produzir variados graus de depressão como uma espécie de ressaca moral pelos procedimentos cometidos. As instabilidade na escolha de objetivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança é responsável pela acentuada inconstância no rítmo e estilo e tipo de vida dessas pessoas. O indivíduo pode exibir súbitas mudanças de opiniões e planos acerca da carreira, dos valores e dos tipos de amigos desejáveis. O portador de Transtorno Explosivo Intermitente pode descrever os episódios agressivos como surtos ou ataques nos quais o comportamento explosivo é precedido por um sentimento de tensão ou excitação, sendo imediatamente seguido por uma sensação de alivio. Posteriormente, o paciente pode sentir remorso, arrependimento ou embaraço pelo comportamento agressivo. Os pacientes portadores de personalidade obsessivo-compulsiva, paranóides ou esquizóides podem estar especialmente propensos a manifestar surtos explosivos de raiva e agressividade quando sob tensão. Esse transtorno impulsivo pode ter como conseqüência prejuízos ocupacionais e escolares, separações conjugais, dificuldades no relacionamento interpessoal, acidentes ou envolvimentos policiais. Pode haver achado electrencefalográfico inespecífico ou evidência de anormalidade na testagem neuropsicológica em portadores desses transtornos impulsivos, como por exemplo, dificuldade com inversão de letras e lentificação no eletroencefalograma. Sinais de alterações do metabotismo da serotonina também têm sido encontrados no liquor de alguns indivíduos impulsivos e sujeitos a ataques coléricos. Alguns desses Impulsos Patológicos dirigidos contra pessoas são chamados de episódios de Furor. Eles têm sempre características de subitaneidade é irresistibilidade, independente da existência ou não de motivações externas. Os atentados contra a vida, quando praticados por portadores de Transtorno Explosivo Intermitente ou Impulsivos-Agressivos, notadamente aqueles que surgem durante episódios de Estado Crepuscular, revestem-se, em geral, de grande violência, consumando-se, de súbito, sem prévio aviso ou premeditação, de modo cego, automático, imprevisível, insopitável. Não raro, em meio de um Estado Crepuscular ou de uma crise de Furor ou ainda em plena lucidez e calma aparente, deflagra-se o impulso, durante o qual, todavia, apaga-se quase totalmente a claridade de consciência, donde a amnesia Iacunar consecutiva . Quer pagar quanto se ela não vai voltar aqui, mais furioso ainda. Se alguém o conhece ou a algum de seus familiares, por caridade, leve-o a um ambulatório. Se possível em uma camisa de força. Doença ou traço de personalidade? Psiquiatras discutem se há exagero na quantidade de diagnósticos de distúrbios mentais Na era do antidepressivo, as classificações de transtornos psiquiátricos são tantas que às vezes parece existir uma doença para cada pessoa - basta escolher em qual perfil ela se encaixa. O limite entre distúrbios mentais e estados de ânimo normais tornou-se alvo de um grande debate na psiquiatria. Para muitos especialistas há um exagero na quantidade de doenças mentais diagnosticadas. Outros acreditam que qualquer possível problema deve ser classificado e tratado. Nos Estados Unidos, a discussão sobre onde começam as doenças é acalorada devido à revisão do manual de diagnósticos do país, a mais importante publicação sobre o assunto. Referências teóricas, como a do manual, podem sofrer alterações devido a um amplo estudo que está sendo realizado pela Universidade Harvard junto com a Organização Mundial de Saúde e a World Mental Health Survey. A idéia é mapear o problema em 28 países, incluindo o Brasil. Serão cerca de 250 mil entrevistados. Uma parte da pesquisa já está pronta, e o resultado surpreende. O diagnóstico obtido das entrevistas feitas nos Estados Unidos aponta que quase metade dos americanos apresentará algum distúrbio mental durante a vida. É muita coisa. O debate acontece justamente porque nem todos concordam com o critério de ''doença mental''. A própria pesquisa mostra que apenas 22,3% dos casos são considerados graves; 37,3%, moderados; e 40,4%, baixos. ''É crítico saber que distúrbios mentais são tão comuns, mas não recebem atenção e dinheiro dos governos como outras doenças'', destaca o coordenador do trabalho e professor de Política da Saúde de Harvard, Ronald Kessler. O estudo que está sendo feito no Brasil só ficará pronto em dezembro. Em 2002, a psiquiatra Laura Helena Guerra, do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da USP, realizou uma pesquisa do gênero com 1.464 moradores de dois bairros paulistanos. Os resultados foram muito próximos aos dos dados americanos. ''Na ocasião, 45% dos entrevistados apresentaram indícios de que poderiam desenvolver distúrbios mentais.'' A psiquiatra é coordenadora da parte brasileira do levantamento mundial e está distribuindo 5 mil questionários no país. ''Vamos verificar até que ponto os sintomas prejudicam atividades cotidianas'', diz ela. O que já foi revelado pelas pesquisas é que mulheres têm mais depressão e ansiedade, enquanto os homens sofrem em maior número de déficit de atenção, hiperatividade, transtorno intermitente explosivo e dependência de álcool e drogas. A maior parte dos problemas começa na infância e na adolescência. A importância do estudo não é deixada de lado por especialistas, mas muitos estão preocupados com os exageros dos diagnósticos. ''Embora os transtornos mentais estejam em todo lugar, casos mais sérios se concentram em uma população pequena. Na pesquisa divulgada, a maioria apresenta incidência baixa'', ressalta o chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Hélio Elkis. ''As coisas devem ser colocadas em seu devido lugar. Não é nada diferente do que a medicina em geral mostra. O diabetes também tem casos graves, intermediários e leves.'' Cuidado é o termo que o psiquiatra José Alberto Del Porto, professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), usa para definir a conclusão americana. ''Quando prevalências altas são apresentadas, devemos encarar com espírito crítico. O limite para identificar doenças mentais não é tão evidente.'' Para a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora dos livros Mentes Inquietas e Mentes & Manias, o mais relevante é destacar que todos os seres humanos têm, em determinado grau, aspectos de distúrbios mentais. Eles só podem ser considerados doença, porém, quando limitam aspectos da vida profissional e pessoal do indivíduo. ''Antigamente, havia menos stress, e isso fazia com que fatores negativos de origem genética não aflorassem com tanta freqüência. Mas hoje estamos expostos a muitos 'gatilhos' que acionam esses fatores. Somos mais vulneráveis'', explica. ''Quem sofre um seqüestro relâmpago pode desenvolver, por exemplo, o transtorno do stress pós-traumático.'' O professor Del Porto concorda e lembra que nem toda característica de transtorno deve ser considerada doentia. Ele dá dois exemplos de um estudo publicado no Journal of Affective Disorders. ''A hipertimia (estado eufórico anormal) e a ciclotimia (estado de euforia com episódios de depressão) podem trazer vantagens devido à densa carga emocional. Muitos casos estão associados a criatividade, comunicação e liderança. Se discretos, não são doenças nem precisam de tratamento.''.