REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE POLUIÇÃO: UM ESTUDO NA

Propaganda
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE POLUIÇÃO: UM ESTUDO NA
CIDADE DE BELÉM - PARÁ
CASTRO, Sinaida Maria Vasconcelos de1 - UEPA
FILHO, Manoel Reinaldo Elias2 - UEPA
SILVA, Kharem Cristine dos Santos3 - UEPA
Grupo de Trabalho – Educação e Meio Ambiente
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa quanti-qualitativa realizada entre
visitantes da Praça da República, logradouro localizado na região central da cidade de Belém,
no estado do Pará, onde aos finais de semana são desenvolvidas atividades de natureza
diversa: comercial, esportiva, política, artística, etc. Em função dessa diversidade, a
concentração de pessoas que circulam naquele ambiente é muito grande, ocasionando efeitos
característicos da ação e da presença humana, dentre eles a poluição, nas suas mais diversas
formas. Com base nessa realidade realizou-se uma pesquisa em que se buscou identificar a
Representação Social de poluição entre os visitantes daquele espaço. Na realização do
referido estudo foram adotados como método de coleta de dados: entrevistas, registros
fotográficos e observação sistematizada. Participou do estudo um grupo composto por 15
sujeitos, selecionados aleatoriamente, adotando-se como único critério a idade superior a 18
anos. Entre os participantes, 08 eram do sexo masculino e 07 do sexo feminino, distribuídos
na faixa etária dos 18 aos 57 anos. A análise dos dados aponta para uma representação social
de poluição centrada na imagem de lixo e sujeira, e consequente associação com atitudes
desfavoráveis, vinculando o objeto social às ideias de doença e morte. A identificação desses
elementos da representação apontam para a possibilidade de, a partir do estudo realizado, se
contribuir através de ações educativas, para reposicionar os sujeitos nesse cenário, fazendo
com que se percebam como elementos ativos no processo de degradação ambiental,
mobilizando-se no sentido de ativamente colaborarem para minimizar ou eliminar a poluição
do espaço por eles compartilhado.
1
Doutora em Educação: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Professora Assistente I
da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Coordenadora do Grupo de Pesquisa Ciência, Tecnologia, Meio
Ambiente e Educação não-formal do Centro de Ciências e Planetário do Pará - UEPA. E-mail: [email protected].
2
Mestre em Física: Universidade de São Paulo (USP). Professor Assistente I da Universidade do Estado do Pará
(UEPA). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Grupo de Pesquisa Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Educação
não-formal do Centro de Ciências e Planetário do Pará - UEPA. E-mail: [email protected]
3
Graduanda em Licenciatura em Ciências Naturais da Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail:
[email protected]
30278
Palavras-chave: Representação Social. Educação Ambiental. Poluição.
Introdução
A problemática que os grandes centros urbanos vivenciam relacionada ao processo de
degradação dos ambientes naturais e das diversas formas de poluição advindas do mau uso
dos espaços naturais e/ou modificados, põe em risco a qualidade de vida da população
humana e o equilíbrio ambiental como um todo. Essa problemática tem sido frequentemente
objeto de estudo de estudos científicos que buscam analisar e buscar alternativas para sua
superação.
A transposição do conhecimento científico produzido em torno das questões
ecológicas e ambientais para o senso comum associada às outras formas de conhecimento,
como religiosos e saberes específicos populares, conferem conformação às representações
sociais sobre esta temática no meio urbano.
Neste sentido, a teoria das Representações Sociais, desenvolvida na psicologia social
por Serge Moscovici, apresenta-se como ferramenta importante para aqueles, que como nós,
pretendem pesquisar as motivações de comportamento e atitudes ambientais, por tratar-se de
uma teoria que pesquisa os indivíduos e suas formas de pensamento a partir do senso comum,
envolvidos em processos de comunicação no cotidiano.
Portanto, lançaremos mão desta teoria para buscar identificar a representação social de
poluição entre moradores da cidade de Belém, no estado do Pará, estabelecendo relação entre
a forma de interpretar esse conceito da área ambiental/ecológica, com suas diversas
modalidades e consequências. Entendemos que tal estudo pode contribuir para compreender
como essas representações são capazes de gerar condutas sociais, tanto na preservação como
na agressão ao meio ambiente. Portanto, acreditamos que o presente trabalho seja capaz de
subsidiar ações de educação ambiental naquela comunidade de maneira a contribuir para uma
melhor qualidade de vida daquela população.
Representação Social e Poluição
Nessa seção apresentaremos os fundamentos da Teoria da Representação Social que
constituirá o suporte teórico-metodológico do presente estudo, bem como definição e
categorização de poluição, objeto de estudo da pesquisa realizada.
30279
Bases da Teoria da Representação Social
O termo “representação” está presente em diferentes contextos. Na filosofia medieval,
por exemplo, indicava uma noção de conhecimento como reprodução mental semelhante ao
objeto conhecido. A expressão “representação social”, no entanto, tem uma historia bem mais
recente. Na sociologia, surgiu com Durkheim por volta de 1897. Na psicologia social, o
interesse pelo fenômeno descrito por Durkheim como representação coletiva surgiu com a
investigação de Serge Moscovici (1961), intitulada a Representação Social da Psicanálise.
Sob a denominação de representações sociais, Moscovici apresenta a idéia de que
estas criam realidades e senso comum e não apenas designam uma classe geral de
conhecimentos e crenças como indicava Dürkheim para as representações coletivas. E ainda
mais, o psicólogo viu como essencial que se retirasse delas o caráter de categoria geral, onde
encontrar-se-iam tanto produções intelectuais quanto sociais. Portanto, se Durkheim elevou
seu conceito a uma categoria que engloba todas as formas de pensamento, Moscovici a tornou
específica e equivalente a outras noções psicossociológicas como, por exemplo, a opinião ou
a imaginação, guardando, entretanto as devidas características que as diferenciam.
O conceito de representação social segundo o próprio Moscovici não é fácil de ser
compreendido. Uma das razões dessa dificuldade é sem dúvida o fato de ser a representação
um conceito híbrido de onde confluem noções de origem sociológica, como a cultura e a
ideologia e noções de procedência psicológica, tais como a imagem e pensamento. O conceito
de representação social é peculiar e pode ser chamado de um conceito eminentemente
psicossociológico.
Assim, para Denise Jodelet, a principal colaboradora de Moscovici, representação
social seria “uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão
prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”
(JODELET, 1989, p. 36).
Então, se entendermos as representações sociais como algo construído socialmente,
deveremos interpretá-las como fenômeno dinâmico, que se (re)constrói no cotidiano. Ou seja,
as representações sociais podem transformar-se. E, esse processo de (re)construção é
importante questão de investigação para os estudiosos da área, pois possibilita explicar o
comportamento das pessoas e sua forma de se relacionar com o mundo.
Jodelet (1986) atribui cinco características às representações sociais:
30280
a) é sempre a representação de um objeto;
b) tem um caráter de imagem e a propriedade de poder intercambiar o sensível e a
idéia, a percepção e o conceito;
c) tem um caráter simbólico e significante;
d) tem um caráter de construção e reconstrução;
e) tem um caráter autônomo e criativo.
Já Moscovici (1978, p. 46) enfatiza o caráter específico, a dimensão irredutível das
representações sociais. Para ele, as representações sociais constituem uma organização
psicológica, uma forma de conhecimento específico de nossa sociedade e que não se reduz a
nenhuma outra forma de conhecimento. Com isto, ele pretende marcar a diferença entre as
representações sociais e outras formas de pensamento social como os mitos, a ideologia, a
ciência ou simplesmente as visões de mundo. No entanto, as representações sociais
compartilham aspectos comuns com cada uma delas. Por exemplo, as representações sociais
atuam na realidade social, da mesma forma que atuam as teorias científicas com respeito aos
objetos que se aplicam. Porém, é lógico que as teorias do senso comum que são as
representações sociais não tenham o mesmo modo de produção, a mesma lógica interna, nem
a forma discursiva das teorias do pensamento científico.
O caráter psicossociológico amplo da noção de representações sociais obriga à
consideração das várias dimensões em que pode ser empreendido o estudo do fenômeno (SÁ,
1998, p. 31). Partindo do princípio de que uma representação social é uma forma de saber
prático que liga um sujeito a um objeto Denise Jodelet (1989, p.45) considera como sendo três
os campos de estudo das representações sociais: produção e circulação, processo e estado e
estatuto epistemológico.
As pesquisas de condições de produção e circulação das representações sociais tratam
da investigação das relações existentes entra a emergência e difusão das representações
sociais com o contexto sócio-cultural. Estão relacionadas a três conjuntos: cultura; linguagem
e comunicação; sociedade. Com relação aos processos e estados das representações sociais,
temos pesquisas que tratam dos suportes da representação (discursos, comportamentos,
práticas, etc) como base para dedução de seu conteúdo e de sua estrutura, bem como para a
análise dos processos construtores, da sua lógica própria e sua possível transformação (SÁ,
1998, p. 32). O estatuto epistemológico, por sua vez, se ocupa das relações que as
representações sociais estabelecem com a ciência e com o real, ou seja, entre o conhecimento
científico e o senso comum, às trocas sociais do cotidiano.
30281
Sá (1998, p. 33) apesar de reconhecer que entre as pesquisas realizadas no campo das
representações sociais há um predomínio daquelas centradas em apenas uma das três
dimensões, considera que as pesquisas nessa área deveriam ser conduzidas de maneira a
promover a articulação entre elas.
As representações sociais são compostas de inúmeros elementos de natureza e
procedência diversas. No entanto, segundo Moscovici existem três eixos em torno dos quais
se estruturam os componentes de uma representação social: a atitude, a informação e a
imagem ou campo de representação.
A Atitude é a tendência favorável ou não que determinada pessoa tem sobre um objeto
da representação e é expressa, portanto, em forma de avaliação. Os diversos componentes
afetivos que fazem parte de qualquer representação se articulam sobre essa dimensão
avaliativa, imprimindo às representações um caráter dinâmico. E, assim, como componente
atitudinal das representações sociais, dinamiza e orienta decisivamente as condutas acerca do
objeto representado, suscitando um conjunto de reações emocionais, influenciando as pessoas
com maior ou menor intensidade.
A Informação é o "ato ou efeito de informar(se). Informe. Dados sobre alguém ou
algo. Instrução, direção." (FERREIRA, 1975, p. 267). Esta definição de informação mais
ligada à comunicação, no sentido de que informar é dar conhecimento sobre algo ou tornar
comum esse algo, é importante para a psicologia social, pois a noção de comunicação
direciona o comportamento lingüistico e a situação psicossocial referente aos estudos de
comportamento.
A comunicação é, portanto, vital no sistema de troca de informações, embora seja
evidente que os níveis de informação a respeito de determinado objeto ou saber mais
elaborado nem sempre são coerentes e variam conforme o grupo ou universo de opinião.
A Imagem ou Campo de Representação se organiza em torno do esquema figurativo,
ou núcleo figurativo. Este esquema ou núcleo não só constitui a parte mais sólida e mais
estável da representação, mas exerce uma função organizadora para o conjunto da
representação. É quem confere o peso e o significado dos demais elementos que estão
presentes no campo da representação.
O núcleo figurativo se constrói através do processo de objetivação e provém da
transformação dos diversos conteúdos conceituais relacionados com o objeto, em imagens.
Estas imagens contribuem para que as pessoas formem uma visão menos abstrata do objeto
30282
representado, substituindo suas dimensões mais complexas por elementos figurativos que são
mais acessíveis ao pensamento concreto.
As imagens são espécies de sensações mentais, de impressões que os objetos e as
pessoas deixam em nosso cérebro. Ao mesmo tempo, elas mantêm vivos os traços do passado,
ocupam os espaços de nossa memória para protegê-los contra a confusão provocada pela
mudança e reforçam o sentimento de continuidade do meio ambiente e das experiências
individuais e coletivas. (MOSCOVICI, l978, p. 47).
Como conclusão sobre as dimensões da representação, Moscovici (1978, p. 74)
observou que a psicanálise suscita atitudes em todos os grupos, mas nem todos apresentam,
sobre ela, representações sociais coerentes. Afirma que uma dimensão pode ser mais
estruturada e a outra mais difusa. A atitude é a mais freqüente das três dimensões. Segundo
ele, uma pessoa se informa e representa um objeto, depois de ter uma posição (atitude) em
relação a ele.
Cada realidade social é, pois, dotada de uma inteligibilidade própria, permeando
normas, interesses coletivos, valores, princípios morais à vida coletiva dos indivíduos.
Investigar uma realidade social pressupõe contar com um conjunto coordenado de
representações, uma estrutura de sentidos, de significados que circulam entre os seus
membros, mediante diferentes formas de linguagem.
Poluição e Representação
Em um mundo globalizado, marcado pela tecnologia e valorização do capital, torna-se
evidente o desrespeito que o homem tem tido ao longo do tempo pela natureza, como
resultado disso observamos o aumento das diversas formas de poluição: poluição visual,
sonora, atmosférica, dentre outras.
De acordo com a legislação brasileira, a poluição é a degradação da qualidade
ambiental resultante de atividade que direta ou indiretamente:
a)
b)
c)
d)
Prejudiquem a saúde, a segurança ou o bem-estar da população;
Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
Afetem as condições estéticas ou sanitárias do ambiente;
Lancem no ambiente matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos. (SCHIVARTCHE, 2005, p. 15)
30283
Conceituando as variadas formas de poluição verificamos que a poluição visual se
caracteriza por ser o acumulo visual de informações disponibilizadas para os indivíduos
(outdoors, luminosos, empenas, placas, cartazes etc.).
No caso específico da cidade de Belém do Pará, Leão, Alencar e Veríssimo (2008,
p.107) consideram que:
Na Grande Belém, a poluição visual causa incômodo e transtornos. Por exemplo,
nas principais avenidas há excesso de peças publicitárias na forma de outdoors,
placas, faixas, cartazes, cavaletes, entre outros. Além disso, a presença excessiva de
lixo, a grande quantidade de pichações nos imóveis e as ocupações irregulares de
praças e calçadas agravam ainda mais a poluição visual.
Podemos citar também a poluição atmosférica que tem sido um tema amplamente
discutido, já que há uma grande preocupação com a liberação de gases tóxicos em nossa
atmosfera, como exemplo podemos citar a emissão de CO₂, que teve um significativo
aumento proporcional ao de veículos automotores nos grandes centros urbanos. Baseados em
dados e estudos anteriores percebemos que esse aumento contribui significativamente para a
poluição de nossa atmosfera e para malefícios a saúde humana como coloca Calacioppo
(1974) “o efeito do monóxido de carbono sobre o homem também assume lugar de destaque,
pois cerca de 50% das intoxicações fatais são devidas a esse agente”.
Outra categoria a se destacar seria a poluição sonora igualmente objeto de nossas
pesquisas, poluição essa que se caracteriza pela alta emissão de ondas sonoras, ou pela
variedade de sons emitidos em um determinado local.
Por fim destacamos o tipo de poluição ocasionado pelo acúmulo de lixo. Lixo que de
acordo com o dicionário da língua portuguesa Bueno (1996) seria tudo aquilo que “se varre da
casa e em geral tudo o que não presta e se joga fora; cisco; sujeira; imundice lançados nas
ruas pelas pessoas, ou produto das atividades econômicas do dia-a-dia.”
A poluição que a ação humana provoca no ambiente, seja ela de quaisquer natureza,
gera consequências negativas, algumas delas irreversíveis para a sociedade. Dentre tais
consequências podemos destacar as diversas doenças que tem sua propagação facilitada por
agentes poluidores do ambiente, como ocorre no caso das enchentes provocadas pela
obstrução de bueiros, em função do acumulo de lixo deixado nas ruas, que em última análise
está intimamente associado a doenças como a leptospirose, cólera, doenças de pele, etc.
Desta forma torna-se cada vez mais importante estudarmos a representação social de
poluição e de suas diversas formas, pois se compreende que a partir de estudos dessa natureza
30284
será possível promover reflexões e até provocar mudanças que se iniciam na conscientização
do individuo e cheguem a suas ações. Ações essas direcionadas para o bem estar da natureza e
do homem, e também para uma vivência voltada para a sustentabilidade.
O estudo da representação se apresenta como uma possível ferramenta de ação, que
pode gerar as mudanças que no futuro beneficiarão a todos, já que se observam com
frequência as consequências negativas que o descuido e destruição do meio ambiente têm
causado.
Assim procuramos desenvolver uma pesquisa com o intuito de identificar a
representação social que os indivíduos do município de Belém possuem sobre as variadas
formas de poluição.
Metodologia
Esta pesquisa se consistiu em um estudo quali-quantitativo, tendo em vista a
necessidade de se conhecer a comunidade, seus traços característicos quanto à poluição, seus
problemas e o cotidiano dos visitantes da Praça da República, adotando-se como referencial
teórico-metodológico a teoria da representação social.
A área de estudo foi a Praça da República localizada na Avenida Presidente Vargas,
município de Belém. Atualmente a Praça da República é uma localidade de destaque em
Belém por sua beleza e valor histórico, tendo sido escolhida como lócus da pesquisa por
diversos motivos, dentre eles: a localização, pois estando em uma área bastante movimentada
apresentando cruzamento de avenidas importantes da capital paraense; a extensão, que
associada a localização contribui para ocorrência de um grande fluxo de pessoas àquele
logradouro. A diversidade atividades e de publico frequentador também contribuiu para
eleição da praça como área de estudo.
Os sujeitos da pesquisa foram transeuntes da Praça, compondo uma amostra aleatória,
em que se adotou como único critério - a faixa etária, participando do estudo pessoas com
idade superior a 18 anos, por se considerar que com a adoção desse critério se facilitaria a
participação dos sujeitos, uma vez que independeria da autorização de responsáveis.
A coleta de dados se deu a partir de entrevistas realizadas entre visitantes da praça,
empregando-se um roteiro de entrevista semi-estruturada, além da observação direta,
sistematizada a partir de registros fotográficos e anotações em um caderno de campo contendo
elementos básicos da coleta como dia, local, hora e tempo de observação.
30285
A análise dos dados se processou com o emprego do método de analise de conteúdo,
que de acordo com Appolinário (2009, p.161) tem por finalidade básica a busca do
significado de materiais textuais, sejam eles artigos de revistas, prontuários de pacientes de
um hospital seja a transcrição de entrevistas realizadas com sujeitos, individual ou
coletivamente.
Resultados e Discussão
A coleta de dados foi realizada em domingos consecutivos, na Praça da República
utilizando-se de observações, gravações, registros fotográficos e entrevistas com 15 pessoas,
sendo 08 do sexo masculino e 07 do sexo feminino, com faixa etária compreendida entre 19 a
57 anos. A escolha do domingo se deu em função ser esse o dia da semana em que se
concentra a maior quantidade e diversidade de atividades e de público naquele espaço urbano
da região metropolitana de Belém.
De acordo com o que havia sido definido entre nossos objetivos de pesquisa os
questionamentos feitos aos sujeitos buscaram identificar a representação social de poluição, a
partir de questionamentos que conduzissem à evocação de um conceito, dos tipos e das
consequências da poluição.
A partir da análise do discurso dos sujeitos frente aos questionamentos anteriormente
mencionados, tomando-se por base os três elementos considerados por Moscovici como sendo
os eixos estruturantes em torno do qual se organizam as representações sociais – imagem,
informação e atitude, nos conduziu as seguintes considerações:
Informação sobre Poluição
A informação está relacionada com a “organização dos conhecimentos que um grupo
possui a respeito de um objeto social” (MOSCOVICI, 1978, p. 67). Nessa informação estão
incluídas a quantidade e a qualidade dos conhecimentos, formais ou informais, que o sujeito,
ou o grupo, detêm sobre o objeto.
Diversos entrevistados manifestaram-se como o Entrevistado 2 ao afirmar: “conheço a
poluição sonora, poluição atmosférica, poluição ambiental, despejo de esgoto nas praias”,
revelando o razoável nível de informação sobre a poluição, ao se mostrar capaz de elencar
suas diversificadas formas.
30286
Em relação a esse aspecto, portanto, as representações apresentadas parecem
demonstrar estreita relação com as informações contidas nos meios de comunicação
educacional e cultural da sociedade, uma vez que tal temática vem sendo ampla e
frequentemente discutida nos últimos tempos pelos veículos de comunicação de massa, assim
como no âmbito escolar, ou mesmo por meio de livros, filmes, etc.
Imagem de Poluição
Nas palavras de Moscovici (1978, p. 27) a imagem ou campo de representação se
constituiria em “uma estrutura de imagem que reproduz uma estrutura conceitual de uma
maneira visível”, dessa forma as ideias assumiriam forma concreta, objetiva ou evidente.
Nessa perspectiva, o que se pode perceber em relação às imagens evocadas pelos
sujeitos diante do questionamento do que seria poluição remetem a ideia de lixo e sujeira,
materializada através das imagens de poluição descritas como:
“A gente vê as lagoas ali extremamente imundas, com lixo. O gramado também com
bastante lixo” (Entrevistado 4)
“ [...] hoje é um dia que no final tu vai observar bastante isso ai, essa poluição aqui
dos lixos em gerais”. (Entrevistado 9)
“A gente vê as lagoas ali extremamente imundas, com lixo. O gramado também com
bastante lixo” (Entrevistado 6)
A análise referente à informação e a imagem de um objeto nos conduz a identificalçao
e interpretação das atitude dos sujeitos frente a esse mesmo objeto, considerando-se que a
atitude é a mais freqüente das três dimensões, sendo por consequência “razoável concluir que
uma pessoa se informa e se representa alguma coisa unicamente depois de ter adotado uma
posição, e em função da posição tomada” (MOSCOVICI, 1978, p. 74).
Atitude diante da poluição
De acordo com Moscovici (1978) a atitude determina a orientação do sujeito, do
grupo, em relação ao objeto, podendo lhe ser positiva ou negativa, favorável ou desfavorável.
Baseado nesse pressuposto podemos afirmar que ao associar a poluição com imagens de
sujeira, lixo e doenças os sujeitos revelam uma atitude desfavorável diante do objeto.
Essa atitude desfavorável pode ser percebida em manifestações como:
30287
“Olha, poluição pra mim é eu ir num local e ver que naquele local tem muita sujeira,
muito lixo, assim pelo chão e a gente observa nas praças e isso incomoda muito a
gente” (Entrevistado 1)
A manifestação de incomodo e desconforto revelada na fala do sujeito são indicativos
da orientação negativa que as imagens associadas à poluição desencadeiam no mesmo. Essa
associação negativa pode ser evidenciada na fala de outros sujeitos como o Entrevistado 5, ao
afirmar que “[...] por que a água parada transmite o mosquito da dengue e esse mosquito pode
nos matar”, expressando direta relação entre a poluição a fenômenos carregados de
representação negativa como as doenças, e até mesmo a morte.
Considerações Finais
A realização do presente estudo tornou possível inferir acerca da representação que os
individuo tem de poluição está centrada na imagem de lixo e sujeira, e consequente
associação com atitudes desfavoráveis, vinculando o objeto social às ideias de doença e
morte.
Também observamos que os entrevistados citaram as diferentes formas de poluição,
inclusive relacionando-as ao espaço da Praça, reconhecendo-a como um ambiente poluído.
Além disso, as respostas dadas pelos participantes do estudo evidencia o fato de que os
visitantes identificam com mais facilidade a poluição ambiental naquele local, pois dentre eles
poucos citaram outras formas de poluição.
A partir das observações realizadas foi possível constatar que a poluição se torna um
problema em diversos setores, inclusive o turístico. Os entrevistados corroboram essa
constatação além mencionarem outros setores como: saúde, educação e problemas sociais
devido ao despejo inadequado de lixo. Os sujeitos também se mostraram capazes de
relacionar a poluição aos danos à saúde, associando-a a diversos tipos de doenças.
Os resultados da pesquisa ora relatada permitem afirmar que os entrevistados
conseguem estabelecer uma relação entre a contaminação e degradação do meio natural no
referido ambiente; e que os mesmos possuem discernimento quanto aos problemas
ocasionados devido à poluição e que este os afeta de forma direta.
Compreendendo-se que a forma como o problema é entendido influência diretamente
nas ações dos visitantes e para que a conduta dos transeuntes possa ser modificada é
necessário termos o conhecimento adquirido com a referente pesquisa que consiste em saber
como os sujeitos percebem a poluição e assim buscar soluções para o problema mencionado.
30288
Salientamos a necessidade que esse local possui de implementação de projetos e ações de
educação ambiental. Por fim, entendemos que esse estudo fornece subsídios para pesquisas e
projetos futuros de conscientização, reciclagem, coletas seletivas, educação ambiental dentre
outros.
REFERÊNCIAS
APPOLINÁRIO, F. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. 1 ed. Cengage
Learning: São Paulo, 2009.
BUENO, F. S. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD: LISA, 1996.
CALACIOPPO, S. Efeitos sobre o homem das emanações dos veículos automotores. Revista
de Saúde Pública, São Paulo, vol.8, no. 2, 1974. Disponível em:
< http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89101974000200009&script=sci_arttext >.
Acesso em: 05 maio 2013.
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira.1975
JODELET, D. La representacion social: fenomenos, concepto y teoria. In: MOSCOVICI, S.
(Org.) Psicología social II. Barcelona: Ediciones Paidós,1986.
JODELET, D. Représentations sociales: um domaine em expansion. In: _________. Les
Représentations Sociales. Paris: Presses Universitaires de France, 1989.
LEÃO, N; ALENCAR, A; VERISSÍMO, A. Belém Sustentável 2007, vol. 2, Belém: Imazon
Belém, 2008.
MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1978.
SÁ, C. P. de. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 1998.
SCHIVARTCHE, F. Poluição urbana: as grandes cidades morrem, você pode salvá-las. São
Paulo: Editora Terceiro Nome, 2005.
Download