OFICINA SOBRE AS NOÇÕES DE CARTOGRAFIA DESENVOLVIDA COM OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL JOSÉ NATALINO BOAVENTURA LEITE, PIRAPORA - MG Fernanda Cristina Rodrigues de Souza Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES [email protected] RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar os resultados obtidos a partir da oficina sobre cartografia desenvolvida com os alunos do Ensino Médio da Escola Estadual José Natalino Boaventura Leite, Pirapora (MG). A metodologia utilizada pautou-se em planejamento da oficina, revisão bibliográfica, elaboração da atividade prática, convite e mobilização dos alunos, aula expositiva dialogada acerca dos princípios básicos da cartográfica, sua importância e os elementos cartográficos e, por fim, execução da atividade prática sobre os elementos básicos da cartografia, especialmente a escala. O desenvolvimento da oficina esteve intimamente relacionado ao município de Pirapora (MG), valorizando o conhecimento dos alunos e o seu local de vivência. Destaca-se que os resultados obtidos a partir do desenvolvimento da oficina foram significativos, uma vez que, proporcionou aos alunos a revisão e aprofundamento dos conteúdos, sanando as dúvidas existentes, possibilitou a associação do assunto teórico com a realidade local e a ampliação do conhecimento sobre a cartografia. Palavras-chave: Oficina didática; Cartografia; Escala; Pirapora – MG INTRODUÇÃO A oficina constitui-se num instrumento didático que possibilita o desenvolvimento efetivo do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que corresponde a uma forma criativa de proporcionar a aprendizagem. Além disso, o desenvolvimento da oficina possibilita a articulação entre a teoria e a prática e, consequentemente, a consolidação da aprendizagem pautada em bases sólidas, complexas e na criticidade. Com base nesses pressupostos, o presente trabalho tem como objetivo analisar os resultados obtidos a partir da oficina sobre cartografia desenvolvida com os alunos do Ensino Médio da Escola Estadual José Natalino Boaventura Leite, Pirapora (MG). A metodologia utilizada pautou-se em pesquisa de campo com o professor supervisor do estágio, a fim de identificar o conteúdo de Geografia que os alunos possuíam maior dificuldade de aprendizagem. _____________________________________________________________________________________ O ANAIS DO 1 CONGRESSO REGIONAL DE EDUCAÇÃO – IX SEMANA DA EDUCAÇÃO Inclusão como Projeto Cultural e Educativo – Campus de Pirapora – Pirapora/MG - novembro/2010 2 Em seguida, desenvolveu-se revisão bibliográfica sobre a cartografia, os métodos e recursos didáticos para o ensino desse conteúdo, o processo de ensinoaprendizagem da cartografia e sua importância. Posteriormente, houve a planejamento da atividade a ser desenvolvida, aquisição dos recursos didáticos necessários e elaboração da aula expositiva dialogada. A oficina teve duração de 20 horas/aula de execução e foi constituída pelas etapas apresentadas na Tabela 1. Como mostra a Tabela 1 a oficina foi constituída de várias etapas inter-relacionadas que associam teoria e prática, assim como o global ao local, valoriza o conhecimento prévio dos alunos e estimula a participação dos mesmos. OFICINA DIDÁTICA COMO INSTRUMENTO EFICAZ NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA A Oficina Didática constitui-se num instrumento de ensino que proporciona a construção significativa do conhecimento. Allessandrini (2002, p.171) define a oficina como “uma diretriz segundo a qual o educador convida seu aluno a trabalhar e a elaborar temas e questões. Cada etapa é permeada por competências e habilidades que se articulam na construção de um espaço que propicia a aprendizagem”. A oficina caracteriza-se por focalizar o conteúdo e pela constituição de várias etapas de proporcionam a construção gradual do conhecimento. Como salienta Allessandrini (2002, p.171): Na Oficina Criativa, observamos uma graduação do processo gerado nos alunos, uma vez que, a partir da idéia inicial, possibilitamos que se expressem livremente, elaborem essa expressão, desenvolvam um trabalho de transposição de linguagem e avaliem-no. Devido a essas características, a oficina é desenvolvida, majoritariamente, para trabalhar conteúdos que os alunos possuem maior dificuldade de aprendizagem. Além disso, as oficinas são caracterizadas por serem espaços de construção da visão crítica, criativa, participativa, reflexiva, de socialização e por procurar despertar nos alunos o interesse pelo conteúdo. Rossi (2000, p.85) é conivente com essa afirmativa e assegura: Acreditamos que as aulas oficina proporcionam um espaço para a vivência, a reflexão e a construção do conhecimento, pois baseiam-se em princípios pedagógicos tais como a interdisciplinaridade e a socialização do conhecimento, permitindo assim a integração da docência, da investigação e 3 da prática em um só processo. Essa modalidade de ação supõe que cada participante assuma um papel de quem aprende para ajudar. Percebe-se, portanto, que a oficina deve ser utilizada não apenas para a construção de conhecimento teórico, mas principalmente, para a formação da cidadania e da criticidade. Além disso, a oficina permite que o aluno desenvolva diversas habilidades psicomotoras, relacionadas à arte, coordenação motora, musicalidade, interrelação pessoal, postura física, uso de diferentes linguagens, entre outras. Isso dependerá do objetivo que pretende ser almejado e do foco que o professor deseja dar ao trabalho. Allessandrini (2002, p.171) afirma que “(...) A Oficina Criativa permite ao aluno expressar-se, elaborar formas, utilizar diferentes elementos e trabalhar com linguagens e recursos novos”. A oficina desenvolvida com os alunos do Ensino Médio da Escola Estadual José Natalino Boaventura Leite teve como objetivo principal analisar a importância da cartografia para a representação do espaço geográfico e suas transformações, principalmente, no município de Pirapora (MG); assim como frisar os elementos essenciais da cartografia, especialmente da escala. Por isso, torna-se imprescindível destacar a importância da aprendizagem da cartografia na vida dos alunos. A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM DA CARTOGRAFIA A cartografia está sempre presente no dia-a-dia das pessoas e através dela muitas medidas de planejamento, tomada de decisões, entre outras, são realizadas constantemente. Afinal, utilizamos diariamente a cartografia em diversas situações como: ao consultar guias de localização de ruas, no aparelho GPS dos automóveis e em localização de endereços. Salichtchev (1978 apud MONTAVANI, 2004, p.2) define a Cartografia como a “ciência da representação e estudo da distribuição espacial dos fenômenos naturais e sociais; suas relações e transformações”, ao longo da escala temporal e reproduzem os aspectos da realidade de forma gráfica e generalizada. Nessa perspectiva, a deficiência na interpretação cartográfica impede que os cidadãos desenvolvam a capacidade de interpretar as transformações do espaço geográfico e inibe a possibilidade de propor alternativas de mudanças que possam 4 contribuir para a melhoria na qualidade de vida da sociedade. Ou seja, a capacidade de ler e interpretar os mapas estão intimamente relacionados ao exercício da cidadania. A interpretação dos mapas e cartas temáticas deve compreender as transformações temporais ocorridas no espaço geográfico, assim como ter cunho funcional e sistemático, ou seja, ser constituído pela relação entre os fenômenos geográficos. Essa assertiva está em consonância com a função que Cavalcanti (1993, p.66) atribui ao ensino: (...) o papel do ensino (...), que se ocupa da formação escolar básica do cidadão, é o de propiciar condições para que os alunos adquiram conhecimentos significativos que dizem respeito à realidade natural e social, reelaborem esses conhecimentos e formem convicções necessárias a sua atuação em sociedade. (...). O ensino deve contribuir para a formação de cidadãos críticos e para a construção do conhecimento consolidado e significativo. Ressalta-se a importância da abordagem das noções de cartografia em todos os conteúdos geográficos da educação básica. Com base nesses pressupostos, torna-se importante destacar os resultados obtidos a partir da oficina desenvolvida. A OFICINA DESENVOLVIDA COM OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL JOSÉ NATALINO BOAVENTUR A LEITE, PIRAPORA – MG A oficina iniciou-se com a uma aula expositiva dialogada sobre a cartografia, sua origem e importância, os elementos básicos dessa ciência e como ela está presente no nosso dia-a-dia. Em seguida desenvolveu-se a análise crítica das transformações espaço temporais ocorridas no município de Pirapora (MG), tendo como base os recursos da cartografia. Nessa etapa, percebeu-se que os alunos ficaram impressionados com as fotos antigas e novas de Pirapora, o que possibilitou fazer uma análise das transformações ocorridas nessa cidade. Eles participaram e comentaram sobre as fotos observadas. Articulou-se as fotografias desse município ao conteúdo da cartografia, mostrando como essa disciplina é importante para a localização, planejamento, análise espacial e que ela é utilizada diariamente pelos Correios, por exemplo, e pela população civil para ir ao banco, à escola, ao supermercado e assim sucessivamente. 5 Procurou-se aproximar ao máximo o conteúdo ao cotidiano do aluno, uma vez que, a valorização do conhecimento prévio dos mesmos e do seu local de vivência possibilita que o processo de ensino-aprendizagem ocorra com maior facilidade e para que o educando passe a ter maior interesse pelo conteúdo. Subsequentemente, realizou-se a revisão do assunto discutido e focalizou os elementos básicos da cartografia e as noções de lateralidade. Os quais foram trabalhados com maiores detalhes na parte prática. O desenvolvimento da parte prática contou como a utilização dos seguintes recursos didáticos: papel A4 (21,59 x 27,94cm), régua, caneta, cola, lápis, borracha, foto de Pirapora (11 x 14cm) e geoatlas. A atividade foi desenvolvida em dupla a fim de proporcionar a ajuda mútua entre os colegas. Solicitou que os alunos colassem a foto da ponte Marechal Hermes no papel A4 e foram introduzidos, passo a passo os elementos básicos da cartografia: o título (devia ser colocado segundo a criatividade de cada dupla), paralelos e meridianos, a legenda, a ampliação da escala e a fonte. Os principais títulos utilizados para representar a figura foram: Ponte Marechal Hermes; A passagem de Pirapora para Buritizeiro; Monumento Histórico; Ponte Marechal Hermes-Pirapora/MG. Observa-se que esses títulos demonstram o nível de conhecimento dos alunos não apenas da questão local, mas também a preocupação da apresentação prévia do que a figura representa a partir do título, uma vez que, os leitores daquela figura podem desconhecer a realidade local. Mas, a partir desse elemento cartográfico, o sujeito será capaz de ler e interpretar o que a figura ou mapa representa. Solicitou-se que os alunos quadriculasse a figura de 3 em 3cm no sentido vertical e horizontal. Em seguida fez-se a observação do mapa político do Brasil no Geoatlas e explicou-se que a grade que eles haviam desenhado, representava os paralelos e os meridianos. Por isso, enfatizou-se a importância desses elementos cartográficos e qual a sua finalidade. Posteriormente, trabalhou-se a questão da lateralidade e solicitou que eles colocassem na figura os elementos de localização (N, S, E e W), o qual esteve sempre voltado para a questão local. Ao trabalhar a questão da escala, os alunos foram solicitados a quadricular o papel A4 (21,59 x 27,94cm) em branco com grades de 6 em 6cm, observando que deveria deixar espaço nas margens direita, esquerda, superior e inferior para introduzir o título, a legenda e a fonte posteriormente. 6 Em seguida, solicitou que eles enumerassem a parte superior horizontal da figura, colocando números arábicos subseqüentes em cada coluna vertical. E inserissem letras do alfabeto nas colunas horizontais. Explicou-se que nos mapas os elementos colocados nos paralelos e meridianos são as coordenadas geográficas. Os alunos foram estimulados a reproduzir a figura da ponte Marechal Hermes no papel A4 quadriculado. Nesse caso, eles estariam ampliando a escala de uma figura, ou seja, seria representado a mesma figura com dimensões do dobro da fotografada e, portanto, com mais detalhes. Subsequentemente, solicitou-se que os alunos fizessem a legenda com a simbolização do que eles haviam representado (a ponte, a vegetação, o rio, o ciclista, as nuvens, entre outros). E, por fim, destacou-se a importância da legenda e da fonte, enquanto elementos básicos da cartografia. A Figura 1 mostra o trabalho desenvolvido por alguns alunos da Escola Estadual José Natalino, como a imagem da ponte Marechal Hermes. A Figura 2 mostra o resultado da ampliação da escala da referida ponte realizada por alguns alunos envolvidos com a atividade. Destaca-se que a oficina desenvolvida atingiu os objetivos almejados, uma vez que, os alunos conseguiram construir seus próprios conhecimentos acerca da importância da cartografia para o seu dia-a-dia, dos elementos básicos dessa ciência, noções de lateralidade e a importância da ampliação e redução da escala. Ademais, a realização dessa oficina possibilitou o desenvolvimento de algumas habilidades propostas no Currículo Básico Comum (CBC), como: • Capacidade de ler, interpretar mapas temáticos e extrair deles os elementos necessários para a atuação política; • Identificar os elementos que representam a espacialidade e temporalidade; • Domínio de diferentes linguagens, especialmente a cartográfica; • Compreensão das transformações espaço temporais por meio da utilização das noções cartográficas; • Desenvolvimento da postura crítica e percepção da importância da cartografia como instrumento do exercício da cidadania; • Inter-relação social e criatividade. 7 Diante esses pressupostos percebe-se que a atividade proposta contribuiu significativamente para a aprendizagem dos alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constata-se que a oficina desenvolvida com os alunos do Ensino Médio da Escola Estadual José Natalino Boaventura Leite atingiu o objetivo almejado, pois possibilitou a compreensão da importância da cartografia para o seu dia-a-dia, a identificação dos elementos básicos dessa ciência, as noções de lateralidade e a importância da ampliação e redução da escala. A atividade esteve em consonância com o CBC, o que proporcionou o desenvolvimento de algumas habilidades, como: capacidade de ler, interpretar mapas temáticos e extrair deles os elementos necessários para a atuação política; identificar os elementos que representam a espacialidade e temporalidade; domínio de diferentes linguagens, especialmente a cartográfica; compreensão das transformações espaço temporais por meio da utilização das noções cartográficas; desenvolvimento da postura crítica e percepção da importância da cartografia como instrumento do exercício da cidadania. REFERÊNCIAS ALLESSANDRINI, C. D. O desenvolvimento de competências e a participação pessoal na construção de um novo modelo educacional. In: MACEDO, L; MACHADO, N. J; ALESSANDRINI, C. D. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed. 2002, p.157-175. CAVALCANTI, L. S. Elementos de uma proposta de ensino de Geografia no contexto da sociedade atual. Boletim Goiano de Geografia, v.13, n.1. p.65-82, 1993. MONTAVANI, A. C. M. Reflexão sobre o ensino da Cartografia Temática na Geografia. Retorna. São José dos Campos – SP: UNIVAP. 2004, P.1-7. http://www.cartografia.ime.ed.br/artigos/epg2.pdf. Acesso em 03/01/2010 ROSSI, D. R. CACHAFEIRO, M. S. Aula-oficina: um recurso para o trabalho de Geografia em sala de aula. In: ROSSI, D. R. CACHAFEIRO, M. S. Ensinar e Aprender Geografia. 2000, p. 85-88. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Currículo Básico Comum. Geografia. Ensino Fundamental e Médio. Belo Horizonte. 2002. 8 Anexos Tabela 1 Atividade Desenvolvida Atividade de interação professor-aluno Aula expositiva dialogada sobre Cartografia Aula expositiva dialogada sobre a cartografia no cotidiano da aula e sua relação com Pirapora (MG) Revisão do conteúdo Desenvolvimento da parte prática: reconhecimento dos principais elementos da cartografia, noções de lateralidade e ampliação de escala Apresentação dos trabalhos Preenchimento da Ficha de Avaliação da Disciplina Carga Horária Total Fonte: SOUZA, F. C. R. Carga Horária 1 h/a 4 h/a 4 h/a 1 h/a 6 h/a 2 h/a 2 h/a 20 h/a Figura 1: Imagem da Ponte Marechal Hermes trabalhada pelos alunos da Escola Estadual José Natalino Boaventura Leite, Pirapora (MG), durante a Oficina sobre Cartografia Fonte: Pesquisa empírica (jun/2010) 9 Figura 2: Resultado final da atividade prática desenvolvida com os alunos da Escola Estadual José Natalino Boaventura Leite, Pirapora (MG) Fonte: Pesquisa empírica (jun/2010)