_ESPAÇO GOURMET: chef Lauro ensina a fazer uma deliciosa salada de arroz e apresenta a sua interpretação de cozinha saudável _CIDADÃOS: pessoas comuns que circulam pelo Centro viram tema de mostra itinerante de artista plástico campineiro CAMPINAS 27 DE NOVEMBRO DE 2011 CORREIO POPULAR METRÓPOLE Maiôs, biquínis, saídas e acessórios vão tornar o verão mais sofisticado, seja com o pé na areia, num cruzeiro em alto-mar ou num passeio de iate A elegância chegou à praia Página dupla Motivo extra para largar velhos vícios Grupo de risco: fumantes e pessoas que bebem com frequência são mais suscetíveis ao câncer de laringe, doença contra a qual Lula está lutando e que pode levar à perda total da voz Eduardo Gregori [email protected] O diagnóstico do expresidente Lula, a divulgação de fotos em que ele aparece sem cabelos e barba e o retorno dele, na última segundafeira, às sessões de quimioterapia colocaram a discussão sobre o câncer de laringe em destaque entre profissionais da saúde, imprensa e população. Metrópole conversou com Alfio José Tincani, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Centro Médico de Campinas e professor associado da disciplina de cirurgia de cabeça e pescoço da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre o tumor, intimamente relacionado ao tabagismo e à ingestão de álcool. “Casos de câncer de laringe em nãofumantes são incomuns, porque esta é uma doença muito ligada ao hábito de fumar e beber”, informa. 6 metrópole campinas 27/11/11 Metrópole – Que parcela da população é mais acometida pelo câncer de laringe? Alfio José Tincani – O câncer de laringe é um tumor maligno mais frequente em homens acima dos 50 anos e pessoas que fumam e bebem bastante, principalmente destilados, como cachaça, uísque e conhaque. Em indivíduos com esse perfil, o risco é elevadíssimo, e não apenas para câncer de laringe. Quem fuma e bebe pode desenvolver câncer em toda a mucosa do trato aerodigestório, formado por boca, faringe, esôfago, pulmões e laringe. Quem não fuma nem bebe pode desenvolver esse tipo de tumor? Casos de câncer de laringe em não-fumantes são incomuns, porque esta é uma doença muito ligada ao hábito de fumar e beber. O percentual de desenvolvimento desse tumor em quem não bebe ou fuma é de apenas 5% e está relacionado a fatores genéticos, refluxo ou vírus HPV. A pessoa que utiliza muito a fala corre risco de desenvolver esse câncer? Não. Ela pode ter doenças benignas, como nódulos na corda vocal, com sintomas similares, entre eles, a rouquidão. E que outros sintomas apresenta esse tumor? Inicialmente, a rouquidão. Mas os pacientes também se queixam de incômodo na garganta, como se tivesse um corpo estranho, como um comprimido, um pedaço de carne ou de pão, parado. No estágio avançado, pode haver falta de ar e sangue na saliva. Qual a possibilidade de metástase em diagnósticos tardios? Em estágios avançados, a chance é de mais de 50%. Como se dá o tratamento? Em casos em que a doença está no início, o tratamento pode ser feito com cirurgia ou radioterapia. A cirurgia, na maioria das vezes, é via endoscópica, sem cortes externos, e os raios lasers também podem ser utilizados. A taxa de cura chega a 90%. Nos estágios intermediários, são usadas quimio e radioterapias. No avançado, a cirurgia é a opção mais indicada. A laringe é retirada e o paciente perde completamente a voz. Quais as sequelas da retirada da laringe, além da perda da voz? Um paciente submetido a laringectomia total (retirada de toda a laringe) passa a respirar por um orifício no pescoço. Ele perde o olfato, não sente mais cheiros. Também precisa ter cuidados com o orifício contra poeira, resíduos e água, e existem limitações para ir à piscina ou entrar no mar. Há filtros que podem ser colocados para protegê-lo, mas são incômodos. Existe algum dispositivo que ajude o paciente sem laringe a falar? Sim, existem próteses. Quando quer falar, a pessoa encosta a laringe eletrônica no pescoço e consegue se expressar. É possível falar também com a voz esofágica, que consiste em engolir o ar e arrotar. Como fica a qualidade de vida de um paciente laringectomizado? Depois que ele se adequa às mudanças que a cirurgia traz, a qualidade de vida é bastan- rias cidades europeias aparecem entre as de maior número de casos de câncer de laringe. No Brasil, a lei já mostra resultados, com diminuição da incidência do fumo. Qual sua opinião sobre a legislação que restringe o fumo ao ar livre, como ocorre em Nova York, e que chegou a ser estudada em Campinas? Como médico e cidadão não-fumante, acho excelente. Porém, aí entram os direitos das pessoas que se sentem privadas de fazer algo ao ar livre, que para elas é importante. Na minha opinião, deveria ser como a nova lei que proíbe qualquer quantidade de álcool para quem dirige. ÉRICA DEZONNE/AAN E o álcool? O risco de câncer de laringe entre pessoas que bebem é menor. Porém, é raro um indivíduo que bebe e não fuma. O álcool potencializa o fumo e ambos funcionam como uma bomba para mucosa do trato aerodigestório. “ O câncer de Lula está em estágio intermediário para avançado. Normalmente, as sequelas nessa fase vão da perda da força da voz até a perda total dela. Não posso dizer com detalhes, mas existe a possibilidade de que o expresidente perca a voz totalmente” te boa. Só que é preciso ter certos cuidados. Ao tomar banho, por exemplo, é necessário proteger o orifício. A pessoa laringectomizada não poderá mais tomar banho olhando para cima, para o chuveiro, porque a água escorrerá para dentro. O câncer de laringe é preocupante no Brasil? Sim. O Brasil ocupa a sexta posição entre os países com maior incidência da doença no mundo. São Paulo está entre as cidades onde há maior ocorrência desse tumor no planeta. Isso chama a atenção para a ques- tão da poluição. Além do cigarro, existe outro vilão? O álcool também. Porém, o cigarro não causa apenas câncer de laringe, mas, principalmente, doenças vasculares, como enfarte e derrame, e respiratórias. Ele traz também problemas de saúde ao fumante passivo. A aplicação da Lei Antifumo não melhorou essa questão? Sim. Os Estados Unidos têm leis muito rigorosas e eficientes, mas, na Europa, só agora começam a implantá-las. Por isso, vá- Como o senhor avalia o diagnóstico do ex-presidente Lula? Ele é um indivíduo típico para ter câncer de laringe. Sexo, idade, hábitos e o comportamento verificado na maioria dos doentes de demorar para procurar ajuda médica e obter o diagnóstico no início. O tumor se desenvolveu acima da corda vocal e, quando isso ocorre, na maioria das vezes, fica silencioso. Normalmente, em cerca de 70% dos casos, o tumor se desenvolve na corda vocal, o que provoca rouquidão, e aí é possível fazer um diagnóstico precoce, desde que um especialista seja consultado.Tumores como o do ex-presidente são mais agressivos porque foram descobertos tardiamente. Eles também têm maior chance de resultar em metástase, em que ele sai do local original e vai para as ínguas. Muitas vezes, o paciente nos procura com nódulo no pescoço. Quando investigamos, encontramos o tumor em metástase. Lula pode ficar com sequelas depois do tratamento? O câncer de Lula está em estágio intermediário para avançado. O tratamento, nessa fase, é de quimio e radioterapias. Caso elas falhem, existe a possibilidade de uma intervenção cirúrgica. Normalmente, as sequelas nessa fase vão da perda da força da voz até a perda total dela. Não posso dizer com detalhes, mas existe a possibilidade de que o expresidente perca a voz totalmente.. campinas 27/11/11 metrópole 7