EDUCAÇÃO INCLUSIVA: A DANÇA COMO CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES SALMAZIO, Lúcia Guedes de Melo 1 - IFOMEP/GEPEMULT CINTRA, Rosana Carla Gonçalves Gomes 2 - UFMS/GEPEMULT LIMA, Yara Cardoso de Almeida 3 -IFOMEP/GEPEMULT SOUSA, Sandra Mieko Makimoto de 4 - UFMS/GEPEMULT OLIVEIRA, Allyne Nunes de 5 - UFMS/GEPEMULT Grupo de Trabalho – Diversidade e inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo tem por objetivo refletir sobre a educação especial no contexto da inclusão do aluno com Síndrome de Down. Sabemos a importância da inclusão na atualidade e buscamos observar como esses direitos vêm sendo conquistado e estabelecido nas escolas, por meio de leis e de documentos que orientam o trabalho pedagógico, tendo por objetivo analisar a influência da dança na construção de novos conhecimentos e sua contribuição para o processo de inclusão. Para tanto adotamos a abordagem qualitativa, por meio de estudos 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica Dom Bosco (2002) e especialista em Educação Infantil: Gestão e Prática Pedagógica pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS (2007) e em Gestão da Sala de Aula nos Anos Iniciais do Ensino (2011). Instituto de Ensino Superior da FUNLEC. Atualmente é Coordenadora Pedagógica no Instituto de Formação da OMEP – IFOMEP e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens - GEPEMULT, cadastrado no CNPQ E-mail: [email protected]. 2 Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atua na unidade de educação-CCHS, Mestrado e Doutorado em Educação. Coordena a Pós-graduação em docência na educação infantil e Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. Email: [email protected] 3 Graduada em Pedagogia, pelo Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande (2009). Especialista em Educação Especial, pela plataforma Freire, do MEC (2009). Atualmente, atua como professora no Instituto de Formação da IFOMEP. É membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. E-mail: [email protected]. 4 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e é membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens - GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. E-mail: [email protected]. 5 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e é membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens - GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. E-mail: [email protected]. 19375 bibliográficos da teoria da inclusão escolar. Nosso trabalho baseou-se teoricamente nos autores: Vygotsky(2001), Cintra(2002), Dezotti (2011), Silva e Dessen(2002), e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Discorremos sobre a característica da Síndrome de Down, a estimulação como estratégia para o desenvolvimento e as contribuições dos PCNs-Arte. Acreditamos que a educação inclusiva é a junção dos recursos da educação regular e especial, cuja finalidade é desenvolver os conteúdos curriculares em sala de aula oferecendo adequações e atendimento especializado aos alunos com deficiência tendo por objetivo beneficiar todas as pessoas. Sua função é proporcionar uma equidade, porque a verdadeira inclusão é para todos. Portanto é muito importante que entendamos que a inclusão é algo necessário. Diante da pesquisa realizada, as conclusões indicam que o trabalho desenvolvido com artes pode contribuir intensamente para a construção de uma sociedade inclusiva, pois ela proporciona vivências plásticas, estimula a capacidade crítica e interpretativa, contribuindo para a aquisição da autonomia e da autoestima das crianças com Síndrome de Down. A escola deve buscar formas de valorizar e estimular as competências e habilidades de cada criança. Palavras-chave: Educação inclusiva. Dança. Artes. Síndrome de Down. Processo Educativo. Introdução A inclusão escolar tem provocado uma série de debates, discussões, estudos, tanto a nível nacional quanto, internacional. Essas abordagens vêm resultando em teses e artigos nas mais diversas instâncias que possibilitam um olhar mais atento à diversidade. Tanto a inclusão escolar como a inclusão social de uma forma geral, está sendo problematizada. Os profissionais da educação enfrentam alguns desafios ao pensar e estruturar uma escola que acolha e propicie um espaço de aprendizagem o processo de inclusão aconteça de forma efetiva. O desenvolvimento do trabalho na instituição deve levar em consideração as especificidades infantis e os diferentes contextos: social, curricular, o da sala de aula, o da gestão escolar, bem como, a formação dos professores. Para iniciar essa reflexão se faz necessário mencionar alguns documentos importantes, do qual o Brasil é signatário e que estabeleceram como o caso da Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU 1948) que os direitos humanos são direitos fundamentais de todos os indivíduos. Na declaração fica evidenciado o respeito e a garantia dos direitos humanos: à vida, à integridade física, à liberdade, à igualdade, à dignidade e à educação. Em 1990, a ONU, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien na Tailândia, contempla as necessidades básicas de aprendizagem e promoção a universalização do acesso à educação. Já em 1994 a Declaração de Salamanca estabelece os Princípios, a Política e a Prática em Educação Especial sobre as Necessidades 19376 Educacionais Especiais e reafirma o compromisso acerca da Educação para Todos, reconhecendo que a educação para pessoas com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino deve ser contemplado, com urgência. A Constituição Federal de 1998 estabelece o direito das pessoas com necessidades especiais6 receberem educação, preferencialmente, na rede regular de ensino (inciso III do art. 208 da CF ), visando a plena integração dessas pessoas em todas as áreas da sociedade e o direito à educação, comum a todas as pessoas, através da educação inclusiva, em escola de ensino regular. como forma de assegurar o plenamente possível o direito de integração na sociedade. É fato que, a cada ano, a educação especial assume uma importância cada vez maior, dentro da perspectiva de atender às exigências de uma sociedade em contínuo processo de transformação e de busca à informação, ao conhecimento e aos meios necessários para a formação de sua plena cidadania. Somos todos iguais no sentido de usufruir dos mesmos direitos e deveres, nunca valorizou-se tanto o direito de cada ser humano viver e agir conforme suas características individuais. Logo, este artigo busca refletir sobre a importância de obter informações acerca da Síndrome de Down e como o trabalho, a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais ArteDança subsidiando teoricamente as estratégias abordadas pelos professores, pode contribuir para o desenvolvimento da criança com essa síndrome. Segundo Sergio (2001, p. 135) “não há pessoas deficientes, há pessoas diferentes. De educação especial e bem possível que todos precisemos”. A intencionalidade desse artigo é evidenciar que é possível, através da dança, o desenvolvimento dos aspectos da psicomotricidade, bem como uma conscientização corporal e espacial, criando uma linguagem individual de movimentar-se e comunicar-se, ou seja, demonstrar o que sente. O trabalho desenvolvido na disciplina de Arte-Dança é uma das tentativas em tornar as crianças com Síndrome de Down o mais independentes possível estabelecendo uma relação com a sociedade, a fim de transpor dificuldades e eliminar preconceitos, em busca de igualdade de condições, e direito. 6 É importante sinalizar que a terminologia atual é pessoa com deficiência, porém como se trata de citação de documento, é mantida a escrita original do documento em seus termos, assim como, a palavra integração, em vez de inclusão entre outras que aparecem em documentos oficiais. 19377 Para tanto discutiremos sobre o PCN’s Arte e sua contribuição para o desenvolvimento cultural e estímulos para as crianças com ou sem a Síndrome de Down. Buscamos também compreender um pouco sobre as características da Síndrome de Down. Para o desenvolvimento desta pesquisa adotamos a abordagem qualitativa, por meio de estudos bibliográficos, sobre dança e Síndrome de Down, tendo por objetivo analisar elementos relevantes para o desenvolvimento de habilidades e da aprendizagem bem como a forma de integração da criança no espaço coletivo. Baseamos teoricamente nossa pesquisa em Vygotsky (1991), Cintra (2002), Mesquita e Zimmermann (2006), Dezotti (2011), Silva e Dessen(2002). Esses autores versam sobre a importância da organização escolar para o desenvolvimento das crianças na perspectiva da inclusão, sobre Síndrome de Down, e a possibilidade de convívio social, através da mediação entre seus pares. Como educadores é necessário um olhar atento e um estudo constante para que possamos superar nossas próprias dificuldades, a fim de promover uma aprendizagem de uma maneira equitativa que busque promover o desenvolvimento integral dessas crianças, entendendo que as crianças não são iguais e não aprendem da mesma maneira, visto que cada um tem seu modo de aprender. A Síndrome de Down Essa síndrome é a ocorrência genética mais comum que existe, acontecendo cerca de um a cada setecentos nascimentos, podendo ocorrer com qualquer pessoa independente de raça, cor ou condição econômica, se caracterizando por atraso intelectual e hipotonia generalizada em diferentes graus. Evidências arqueológicas, escrituras e pinturas datadas antes do século XIX nos mostram que desde aquele tempo já havia registros de pessoas com características e traços da Síndrome de Down. Segundo Cintra (2002, p. 30), a história oficial da Síndrome de Down no mundo começa no século XIX. Até então, as pessoas com deficiência mental eram vistas como um grupo único homogêneo. Assim, eram tratados e medicados, identicamente, sem se levar em consideração as causas da deficiência, que são inúmeras e podem ocorrer durante a gestação, no momento do parto e após o nascimento. 19378 Mas foi somente em 1866, que o Dr. John Langdon Down fez o reconhecimento clínico dessa alteração genética, diferenciando as pessoas com Síndrome de Down de outras que possuíam outro tipo de incapacidade intelectual conforme destaca Cintra (2002): Ele foi o primeiro a reconhecer e a registrar o fato de que estava diante de um grupo distinto de pessoas. Além disso, fez uma descrição física e clínica tão completa que é válida até hoje. (WERNECK, 1993 apud CINTRA, 2002, p.27). Silva e Dessen (2002) apresentam algumas denominações destinadas as pessoas com a Síndrome de Down. A denominação de Síndrome de Down só foi proposta após várias outras denominações terem sido usadas: imbecilidade mongolóide, idiotia mongoloide, cretinismo furfuráceo, acromicria congênita, criança mal-acabada, criança inacabada, dentre outras. (SILVA; DESSEN, 2002, p.167). Muitos cientistas tentaram descobrir por várias décadas, as causas da Síndrome de Down, mas foi somente em 1959, após vários estudos, que o cientista Jerome Lejeune desvendou que há um cromossomo extra na composição celular desses indivíduos, sendo diagnosticado mediante a análise do cariótipo do cromossomo 21. A Síndrome de Down é a deficiência intelectual mais frequente causada pelo excesso de material genético, tratando-se do primeiro distúrbio genético detectado na espécie humana, é congênita, não progressiva, resultando em deficiência intelectual que causa alterações no desenvolvimento físico e cognitivo. É importante lembrar que essa disfunção não é uma doença e não há tratamento ou cura, portanto, pessoas com Síndrome de Down não devem ser tratadas como doentes. É importante ressaltar que até os dias atuais, os cientistas não descobriram qual a causa da Síndrome de Down, ou seja, o que causa a trissomia do par 21. Não existem graus da Síndrome de Down, e ela é causada pela trissomia do par de cromossomos 21, há três tipos de trissomia relacionadas à Síndrome de Down: trissomia simples ou livre, ocorre a não disjunção durante a meiose e na constituição do indivíduo encontra-se 47 cromossomos em todas as suas células, sendo que o par 21 contém três cromossomos; outro tipo de trissomia é a translocação, onde o indivíduo apresenta em todas as suas células 46 cromossomos, o que ocorre é que um dos três cromossomos 21 está unido a outro cromossomo, geralmente o 14 e, por fim o mosaicismo onde são encontrados no indivíduo células normais, com 46 cromossomos e células trissômicas, com 47 cromossomos. É de grande relevância a atuação dessa carga genética a mais no cromossomo, pois ela influenciará na formação do corpo, fazendo com que as pessoas nascidas com essa síndrome 19379 apresentem características em comum, sendo importante salientar que nem sempre todas essas características específicas estão presentes em uma mesma criança, podendo ter apenas algumas delas. Cintra (2002) apresenta algumas características: Fisicamente, os indivíduos com Síndrome de Down costumam nascer menores e mais leves, do que os outros bebês. Em geral são bochechudos, (devido à flacidez muscular), apresentam hipotonia e têm olhos amendoados relativamente distantes um do outro. Alguns têm prega epicântica, ou seja, um excesso de pele no canto interno dos olhos. Os braços e as pernas são curtos. As orelhas implantadas um pouco abaixo do normal e o nariz é pequeno. O dedo mínimo se mostra ligeiramente curvo. As mãos são menores e gordas, com a palma atravessada por uma única prega transversa. Nos pés, é comum encontrarmos uma distância anormalmente grande entre o primeiro e o segundo dedo. (CINTRA, 2002, p. 32-33). Bonfim (2001) apresenta outras especificidades: Com deficiência mental geralmente moderada, hipotonia muscular generalizada, pouca coordenação dos movimentos, língua protusa, respiração bucal, cardiopatias (em 40% dos casos), fala tardia, sensibilidade a infecções, hiperextensibilidade articular, frouxidão ligamentar da primeira e da segunda vértebra e outros. (BONFIM apud ORNELAS; SOUSA, 2001, p. 79). Através do pré-natal é possível, por meio de exames clínicos (amnioncentese, coleta de vilocorial, exame de sangue, ultrassom) e análise citogenética, diagnosticar a Síndrome de Down. Os indivíduos acometidos pela Síndrome de Down estão predispostos às doenças respiratórias, cardiovasculares, gastrintestinal, obesidade, rara fertilidade (nos homens) e, associados à leucemia, hipotireoidismo e doenças de Alzheimer. O desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos com a Síndrome de Down sofrem interferências devido ao comprometimento intelectual que os acometem, a idade cronológica é diferente da idade funcional, o que faz com que eles sejam vistos sempre como crianças, sendo também determinante a educação e o ambiente aos quais estão inseridos desde o seu nascimento. A Síndrome de Down possui especificidades biológicas, psicológicas e sociais que refletem na qualidade de vida da pessoa e da família. O desenvolvimento dos indivíduos com a trissomia do par 21 está intimamente relacionado à motivação e ao incentivo que recebem, sobretudo nos primeiros anos de vida. Segundo Cintra (2002, p. 34), cada pessoa com Síndrome de Down, necessita para seu desenvolvimento a possibilidade de convívio social, pois é através da mediação entre seus pares, que se promove a concepção de consciência corporal, desenvolvimento cognitivo, 19380 coordenação motora e consequentemente, melhor qualidade de vida e movimento, pois para Vygotsky (1991) só nos tornamos humanos em convivência com outros humanos. A forma como se desenvolvem e os apoios que recebem, ajudam as pessoas com Síndrome de Down a se conhecerem e a conhecerem o mundo. Os efeitos das instituições educacionais, a falta de estímulo, a baixa expectativa, relações preconceituosas, agressividade e rejeição das pessoas com as quais convivem e a dificuldade no tratamento das questões médicas podem afetar seu desenvolvimento. Por outro lado, programas voltados ao conhecimento de suas habilidades, autodeterminação e motivação, interações positivas e estímulos adequados podem potencializar a aprendizagem destas, assim como a aprendizagem de qualquer pessoa. (DEZOTTI, 2011, p.42). Acreditou-se por muito tempo que o tratamento médico seria a melhor intervenção para as crianças com Síndrome de Down, mas alguns estudos demonstraram que a estimulação essencial e o trabalho conjunto com pais e professores resultaram em melhorias no desenvolvimento físico e cognitivo. O programa de estimulação essencial funciona adequadamente, quando dentro da família se oferece uma boa interação familiar, experiências de apoio, disposição de brinquedos pedagógicos, contatos com outras crianças, segurança e saúde, etc. A estimulação: aspecto significativo para o desenvolvimento da criança com Síndrome de Down O trabalho de estimulação procura dar às crianças condições para desenvolver suas capacidades desde o nascimento, fazendo com elas explorarem ao máximo suas capacidades, e possibilitando que alcancem as fases seguintes do desenvolvimento. É importante ressaltar que cada pessoa possui um ritmo diferenciado e que o estímulo deve ocorrer em diferentes situações e espaços. “Ser estimulado é fundamental para o desempenho futuro. Para compreendermos o porquê desta afirmação será preciso, antes, entender como se dá a mielinização.” (CINTRA, 2002, p.41). Segundo Cintra (2002), toda a sistematização do conhecimento humano ocorre, antes de tudo através do fenômeno da mielinização, que consiste no aparecimento de uma substância, a mielina ao redor de cada neurônio, que permite que essas células nervosas se comuniquem entre si, ela funciona como um isolante elétrico, e se desenvolve dependendo da ação conjugada de dois fatores: um interno e outro externo. O interno depende de uma constituição orgânica saudável e eficiente. O externo de estímulos percebidos, através dos 19381 cincos sentidos e das experiências motoras, dentre os vários fatores podemos citar uma alimentação correta, estímulos táteis, visuais e auditivos variados, afeto. É na linguagem corporal, às vezes, mais adequada do que a linguagem verbal para informar sobre as atitudes e emoções de uma pessoa. Por isso a dança como uma arte conceitual, além de transmitir os valores estéticos inerentes ao trabalho coreográfico é adequada para transmitir, emoções, ideias, sentimentos, princípios filosóficos ou éticos – chaves da linguagem corporal. (CINTRA, 2002, p. 42). Sendo assim, se a criança que nasce com a Síndrome de Down e tem uma estrutura interna deficitária, a estimulação adquire importância ainda maior. Ao nascer a criança possui reações reflexas e com o progresso e o aperfeiçoamento de coordenação neuromuscular e maior eficácia motora, as reações se tornam funcionais, fazendo um elo entre a criança e o meio, onde a dança é uma atividade valiosa no desenvolvimento das crianças em geral e que em se tratando de crianças especiais, ela é ainda mais importante. Afirma Cintra (2002). No caso da criança com Síndrome de Down de acordo com Smith e Wilson (1980) alguma característica especifica deveriam merecer maior atenção, tais como, os aspectos da hipotonia, da pouca resistência cardiopulmonar, da postura corporal, das condições de equilíbrio estático e dinâmico, além do desenvolvimento prejudicado de algumas habilidades motoras envolvidas com a coordenação, noção de lateralidade, espaço, tempo, esquema corporal e linguagem. (CINTRA, 2002, p. 45) As crianças com Síndrome de Down podem alcançar estágios avançados do desenvolvimento motor, psicomotor, de linguagem e cognitivo. Podemos então abstrair que no processo de desenvolvimento, a dança pode muito contribuir, uma vez que atua como facilitadora e estimuladora das reações corporais e posturais. Os exercícios provenientes do ato de dançar facilitam a percepção do espaço, da sensação do próprio corpo, além de conferir maior habilidade motora ampla, facilitando o controle da cabeça, a postura correta do corpo, a lateralidade, o aprender a apoiar-se com as mãos, o permanecer sentada, o arrastar-se, o engatinhar, o levantar-se e o ficar de pé, dando a criança consciência de que todo seu peso esta apoiado sobre os pés. As experiências adquiridas através da dança, o contato corporal e as atividades motoras levam a criança a sentir-se e perceber o ambiente e a explora-lo. (CINTRA, 2002, p. 50). Se adequadamente estimulada a criança terá facilidade de adaptar-se ao seu meio, relacionar-se com outras pessoas, execução da formação de critérios e de tomar decisões de forma segura. Na busca de compreender o conceito de inclusão escolar, utilizou-se o que preconiza a Declaração de Salamanca (1994): 19382 Princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola. (UNESCO, 1994, p.11). Tanto na escola como na família, o papel da motivação, deve ser baseado na necessidade da criança vivenciar experiências que com certeza contribuirão para o seu desenvolvimento. E, é através da participação conjunta da família e da escola que a aquisição do conhecimento e da aprendizagem poderá ser bem sucedida. A aprendizagem de crianças com Síndrome de Down a partir das contribuições dos PCNs-Artes Desde o nascimento a criança vai se constituindo dentro de uma sociedade permeada de cultura, de representações simbólicas, sentidos e significados. Essa construção é estabelecida nas relações sociais, o que possibilita a aquisição contínua de novos conhecimentos. Pensar em uma escola inclusiva é planejar para que as ações desenvolvidas contribuam para acessibilidade de todos e que, dessa forma, ocorra uma aprendizagem significativa e que desperte nas crianças o interesse em aprender. Os docentes tem o compromisso de promover sistemicamente a propagação de novos saberes oportunizando aos educandos experiências desafiadoras para que superem suas limitações e ampliem sua autoestima e autonomia. Com esse pensamento e com a responsabilidade com o ato de educar a prática do professor deve estar pautada na formação, que deverá ser contínua. O professor bem fundamentado teoricamente contribuirá para que a criança que possui necessidades educacionais especiais, independentemente de qual for, cresça em todos os aspectos: cognitivo, social, físico, emocional, favorecendo a formação plena da criança. Os profissionais da educação possuem muitos desafios, mas o principal deles é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia capaz de educar todas as crianças, conhecendo as limitações das crianças e se comprometendo em adaptada situações de aprendizagens que oportunizem a superação delas. 19383 Assim, segundo Arendt (2000, p. 247) A educação é também onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos e tampouco, arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as, em vez disso e com antecedência, para a tarefa de renovar um mundo comum. Vygotsky (1991, p.91) reforça o papel do professor como mediador “é aquele que leva em conta as potencialidades cognitivas dos educandos, fazendo desafios intelectuais significativos, envolvendo-os em novas situações, provocando-os à superação cognitiva”. Para subsidiar o trabalho pedagógico, a partir de1996, a disciplina de Artes passou a ser obrigatória e a compor o currículo escolar do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. Esse trabalho busca contemplar as dimensões expressivas, instrumentais e culturais. O favorecimento das vivências plásticas às crianças é uma forma de estimular a capacidade crítica e interpretativa. Desta forma, Costa (2000) postula. Ao adentrar-se na complexidade do universo da arte, e, sendo a arte um valioso agente da inclusão social, as pessoas com deficiência podem trabalhar os seus sentimentos em relação à sociedade, que, na maioria das vezes, o discrimina ou o segrega, devido aos preconceitos e ao estigma. O trabalho com a arte é capaz de transformá-lo em um ser humano socialmente ativo, com uma autoestima positiva e uma função social determinada. (COSTA, 2000, p. 16). Em 1996, o Ministério da Educação e Cultura elaborou uma série de documentos, chamados de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em decorrência da reforma educacional preconizada por meio da Lei n° 9.394/1996, na qual consta como objetivo: assegurar a formação básica comum para todos os alunos do ensino fundamental, bem como propõe orientações aos professores, tanto no que se refere ao ensino e à aprendizagem, como também à compreensão da arte como manifestação humana (BRASIL, 1997, p. 15). O Parâmetro Curricular Nacional é um dos documentos norteadores que contribui com a prática docente no que se refere a escolha dos conteúdos a serem desenvolvidos pelos professores do Ensino Fundamental e Médio, foi aprovado em 20 de dezembro de 1996. Nosso objetivo é auxiliá-lo na execução de seu trabalho, compartilhando seu esforço diário de fazer com que as crianças dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade. (BRASIL, 1997, p. 04). Os diversos conteúdos contemplados em Artes amplia repertório cultural das crianças colocando-as em contato com obras de arte, músicas e danças, oportunizando situações para 19384 um olhar diferenciado para tudo que está a nossa volta. “É desejável que o aluno, ao longo da escolaridade, tenha oportunidade de vivenciar o maior número de formas de arte; entretanto, isso precisa ocorrer de modo que cada modalidade artística possa ser desenvolvida e aprofundada.” (BRASIL, 1997, p. 41). As artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance). (BRASIL, 1997, p. 45). A arte da dança faz parte das culturas humanas e sempre integrou o trabalho, as religiões e as atividades de lazer. Os povos sempre privilegiaram a dança, sendo esta um bem cultural e uma atividade inerente à natureza do homem.(BRASIL, 1997, p. 49). A música sempre esteve associada às tradições e às culturas de cada época. Atualmente, o desenvolvimento tecnológico aplicado às comunicações vem modificando consideravelmente as referências musicais das sociedades pela possibilidade de uma escuta simultânea de toda produção mundial por meio de discos, fitas, rádio, televisão, computador, jogos eletrônicos, cinema, publicidade, etc.(BRASIL, 1997, p. 53). O teatro, como arte, foi formalizado pelos gregos, passando dos rituais primitivos das concepções religiosas que eram simbolizadas, para o espaço cênico organizado, como demonstração de cultura e conhecimento. É, por excelência, a arte do homem exigindo a sua presença de forma completa: seu corpo, sua fala, seu gesto, manifestando a necessidade de expressão e comunicação.(BRASIL, 1997, p. 57). O trabalho com a Artes poderá estimular no desenvolvimento global das pessoas com Síndrome de Down, integrando corpo e mente e proporcionando “Novos instrumentos de comunicação de ideias e relações entre os indivíduos” (MESQUITA; ZIMMERMANN, 2006, p.21). A deficiência muitas vezes isola a criança do mundo tanto no que diz respeito a sua participação, quanto à compreensão dos fatos. A arte pode neste caso, assumir um importante papel como facilitadora de comunicação. Ela oferece à criança, novas formas de expressão de suas ideias e sentimentos e ainda possibilitar a aquisição de novos conceitos (MESQUITA; ZIMMERMMANN, 2006, p. 21). Dessa maneira as diferentes experienciações artísticas, como a dança, propiciam às crianças criar, estimular novas situações de relacionamento de grupo, entretenimento, relaxamento e excitação. “Favorece também o trabalho motor, ao realizar as coreografias e os exercícios, e o trabalho mental ao memorizá-las”. (CINTRA, 2002, p.50). 19385 O professor tem que possibilidade de criar e recriar formas diferenciadas de apresentar para as crianças os conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança, incentivando-as nos trabalhos em grupos e no desenvolvimento da criatividade. Dessa forma, o professor pode oportunizar as crianças a participação efetiva nos projetos ao contribuir com ideias próprias. A reflexão sobre a organização do ambiente, bem como, a acessibilidade no espaço em que a criança está inserida é de suma importância, pois amplia a autonomia e possibilita a interação, dentre outros aspectos, conforme afirma Hoffmann (2008, p. 143) que “o melhor ambiente de aprendizagem é rico em oportunidades de convivência, de diálogo, de desafios, de recursos de todas as ordens”. Dessa forma, reforçamos que, na brincadeira, na dança, na musicalidade, na dramatização, na contemplação das artes plásticas as crianças estarão exercitando as habilidades que permearão todos os aspectos de sua existência, a começar pelo respeito às diferenças culturais, sociais, físicas e intelectuais. Cabe ao professor assegurar que os alunos adquiram todo o conhecimento necessário de cada tema, sua história e principalmente a finalidade deste assunto para que seja uma aprendizagem significativa e não apenas um conteúdo a ser decorado, que eles se interessem verdadeiramente por cada assunto e fora da escola procure saber mais sobre a Arte e suas diversas formas de expressão. Considerações finais Em um mundo em constante transformação pensar sobre a aprendizagem e suas interfaces e, em como ela pode auxiliar a criança na construção da autonomia é de suma importância. Desse modo, a pesquisa possibilitou o resgate de alguns documentos que norteiam a educação especial, fazendo com que fossem estabelecidas ligações significativas entre a formação do professor e a relevância da abordagem artística para o desenvolvimento da criança com Síndrome de Down. Ficou evidenciado que o trabalho com Artes é de suma importante na vida das pessoas independentemente se possuem, ou não, algum tipo de deficiência. Sendo assim, é necessário perceber e respeitar a realidade da criança estimulando-a a alcançar o seu potencial, por meio da dança, da dramatização, das artes plásticas, dentre outras linguagens artísticas, pois somente com diferentes experienciações a criança terá subsídio para transformar o conhecimento assimilado, ressignificando-o conforme suas possibilidades. 19386 A Artes é um fator de grande influência física e intelectual para as crianças com a Síndrome de Down, pois possibilita o desenvolvimento dos aspectos da psicomotricidade, bem como uma conscientização corporal e espacial, criando uma linguagem individual de movimentar-se e comunicar-se, ou seja, demonstrar o que sente. Dessa forma as crianças, por meio dos sentidos e da sensibilidade adquirida, fazem uma leitura diferente do mundo, como uma nova linguagem. Acreditamos que, o professor é propositor de novos desafios, devendo ser o mediador no processo ensino-aprendizagem conforme afirma Vygotsky (1991) que o professor mediador “é aquele que leva em conta as potencialidades cognitivas dos educandos, fazendo desafios intelectuais significativos, envolvendo-os em novas situações, provocando-os à superação cognitiva”. (VYGOTSKY, 1991, p.91). Porém, para garantir o amplo desenvolvimento da criança, é necessário que todos os profissionais da educação tenham uma boa qualidade nas formações, iniciais ou continuadas, melhor ainda se forem licenciados em artes visuais, dança, teatro ou música. A dança não é apenas uma expressão humana, mas também pode ser transformadora, e não se limita apenas a uma área do saber. Portanto, o trabalho desenvolvido com a dança pode contribuir intensamente para a construção de uma sociedade inclusiva, pois ela proporciona vivências estéticas, criativas e estimula a capacidade crítica e interpretativa, aumento seu repertório linguístico contribuindo para a aquisição de novos conhecimentos, da autonomia e da autoestima das crianças com Síndrome de Down. REFERÊNCIAS ARENDT, Hannah. A crise na educação. In: Entre o passado e o futuro. Tradução Mauro W. Barbosa de Almeida. 3ª reimpressão da 5ª ed. de 2000. São Paulo: Perspectiva, 2005. BONFIM, Romildo V. do. in ORNELAS, Márcia Abrantes; SOUSA, Celso. A contribuição do profissional de educação física na estimulação essencial em crianças com Síndrome de Down. Revista da Educação Física. Maringá, v. 12, n. 1, 2001. Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/3779-10611-1.pdf Acesso em: 25 mar 2013. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. 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