educação inclusiva: a dança como construção de novos saberes

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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: A DANÇA COMO CONSTRUÇÃO DE
NOVOS SABERES
SALMAZIO, Lúcia Guedes de Melo 1 - IFOMEP/GEPEMULT
CINTRA, Rosana Carla Gonçalves Gomes 2 - UFMS/GEPEMULT
LIMA, Yara Cardoso de Almeida 3 -IFOMEP/GEPEMULT
SOUSA, Sandra Mieko Makimoto de 4 - UFMS/GEPEMULT
OLIVEIRA, Allyne Nunes de 5 - UFMS/GEPEMULT
Grupo de Trabalho – Diversidade e inclusão
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente artigo tem por objetivo refletir sobre a educação especial no contexto da inclusão
do aluno com Síndrome de Down. Sabemos a importância da inclusão na atualidade e
buscamos observar como esses direitos vêm sendo conquistado e estabelecido nas escolas, por
meio de leis e de documentos que orientam o trabalho pedagógico, tendo por objetivo analisar
a influência da dança na construção de novos conhecimentos e sua contribuição para o
processo de inclusão. Para tanto adotamos a abordagem qualitativa, por meio de estudos
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica Dom Bosco (2002) e especialista em Educação Infantil:
Gestão e Prática Pedagógica pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS (2007) e em Gestão da
Sala de Aula nos Anos Iniciais do Ensino (2011). Instituto de Ensino Superior da FUNLEC. Atualmente é
Coordenadora Pedagógica no Instituto de Formação da OMEP – IFOMEP e membro do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens - GEPEMULT, cadastrado no CNPQ E-mail:
[email protected].
2
Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul, atua na unidade de educação-CCHS, Mestrado e Doutorado em Educação. Coordena a Pós-graduação em
docência na educação infantil e Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. Email: [email protected]
3
Graduada em Pedagogia, pelo Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande (2009). Especialista em
Educação Especial, pela plataforma Freire, do MEC (2009). Atualmente, atua como professora no Instituto de
Formação da IFOMEP. É membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. E-mail: [email protected].
4
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e é membro do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens - GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. E-mail:
[email protected].
5
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e é membro do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação e Múltiplas Linguagens - GEPEMULT, cadastrado no CNPQ. E-mail:
[email protected].
19375
bibliográficos da teoria da inclusão escolar. Nosso trabalho baseou-se teoricamente nos
autores: Vygotsky(2001), Cintra(2002), Dezotti (2011), Silva e Dessen(2002), e os
Parâmetros Curriculares Nacionais. Discorremos sobre a característica da Síndrome de Down,
a estimulação como estratégia para o desenvolvimento e as contribuições dos PCNs-Arte.
Acreditamos que a educação inclusiva é a junção dos recursos da educação regular e especial,
cuja finalidade é desenvolver os conteúdos curriculares em sala de aula oferecendo
adequações e atendimento especializado aos alunos com deficiência tendo por objetivo
beneficiar todas as pessoas. Sua função é proporcionar uma equidade, porque a verdadeira
inclusão é para todos. Portanto é muito importante que entendamos que a inclusão é algo
necessário. Diante da pesquisa realizada, as conclusões indicam que o trabalho desenvolvido
com artes pode contribuir intensamente para a construção de uma sociedade inclusiva, pois
ela proporciona vivências plásticas, estimula a capacidade crítica e interpretativa,
contribuindo para a aquisição da autonomia e da autoestima das crianças com Síndrome de
Down. A escola deve buscar formas de valorizar e estimular as competências e habilidades de
cada criança.
Palavras-chave: Educação inclusiva. Dança. Artes. Síndrome de Down. Processo Educativo.
Introdução
A inclusão escolar tem provocado uma série de debates, discussões, estudos, tanto a
nível nacional quanto, internacional. Essas abordagens vêm resultando em teses e artigos nas
mais diversas instâncias que possibilitam um olhar mais atento à diversidade. Tanto a inclusão
escolar como a inclusão social de uma forma geral, está sendo problematizada.
Os profissionais da educação enfrentam alguns desafios ao pensar e estruturar uma
escola que acolha e propicie um espaço de aprendizagem o processo de inclusão aconteça de
forma efetiva. O desenvolvimento do trabalho na instituição deve levar em consideração as
especificidades infantis e os diferentes contextos: social, curricular, o da sala de aula, o da
gestão escolar, bem como, a formação dos professores.
Para iniciar essa reflexão se faz necessário mencionar alguns documentos
importantes, do qual o Brasil é signatário e que estabeleceram como o caso da
Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU 1948) que os direitos humanos são
direitos fundamentais de todos os indivíduos. Na declaração fica evidenciado o respeito e
a garantia dos direitos humanos: à vida, à integridade física, à liberdade, à igualdade, à
dignidade e à educação.
Em 1990, a ONU, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em
Jomtien na Tailândia, contempla as necessidades básicas de aprendizagem e promoção a
universalização do acesso à educação. Já em 1994 a Declaração de Salamanca estabelece
os Princípios, a Política e a Prática em Educação Especial sobre as Necessidades
19376
Educacionais Especiais e reafirma o compromisso acerca da Educação para Todos,
reconhecendo que a educação para pessoas com necessidades educacionais especiais
dentro do sistema regular de ensino deve ser contemplado, com urgência.
A Constituição Federal de 1998 estabelece o direito das pessoas com necessidades
especiais6 receberem educação, preferencialmente, na rede regular de ensino (inciso III
do art. 208 da CF ), visando a plena integração dessas pessoas em todas as áreas da
sociedade e o direito à educação, comum a todas as pessoas, através da educação
inclusiva, em escola de ensino regular. como forma de assegurar o plenamente possível
o direito de integração na sociedade.
É fato que, a cada ano, a educação especial assume uma importância cada vez maior,
dentro da perspectiva de atender às exigências de uma sociedade em contínuo processo de
transformação e de busca à informação, ao conhecimento e aos meios necessários para a
formação de sua plena cidadania. Somos todos iguais no sentido de usufruir dos mesmos
direitos e deveres, nunca valorizou-se tanto o direito de cada ser humano viver e agir
conforme suas características individuais.
Logo, este artigo busca refletir sobre a importância de obter informações acerca da
Síndrome de Down e como o trabalho, a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais ArteDança subsidiando teoricamente as estratégias abordadas pelos professores, pode contribuir
para o desenvolvimento da criança com essa síndrome.
Segundo Sergio (2001, p. 135) “não há pessoas deficientes, há pessoas diferentes. De
educação especial e bem possível que todos precisemos”. A intencionalidade desse artigo é
evidenciar que é possível, através da dança, o desenvolvimento dos aspectos da
psicomotricidade, bem como uma conscientização corporal e espacial, criando uma
linguagem individual de movimentar-se e comunicar-se, ou seja, demonstrar o que sente.
O trabalho desenvolvido na disciplina de Arte-Dança é uma das tentativas em tornar as
crianças com Síndrome de Down o mais independentes possível estabelecendo uma relação
com a sociedade, a fim de transpor dificuldades e eliminar preconceitos, em busca de
igualdade de condições, e direito.
6
É importante sinalizar que a terminologia atual é pessoa com deficiência, porém como se trata de citação de
documento, é mantida a escrita original do documento em seus termos, assim como, a palavra integração, em vez
de inclusão entre outras que aparecem em documentos oficiais.
19377
Para tanto discutiremos sobre o PCN’s Arte e sua contribuição para o desenvolvimento
cultural e estímulos para as crianças com ou sem a Síndrome de Down. Buscamos também
compreender um pouco sobre as características da Síndrome de Down.
Para o desenvolvimento desta pesquisa adotamos a abordagem qualitativa, por meio de
estudos bibliográficos, sobre dança e Síndrome de Down, tendo por objetivo analisar
elementos relevantes para o desenvolvimento de habilidades e da aprendizagem bem como a
forma de integração da criança no espaço coletivo.
Baseamos teoricamente nossa pesquisa em Vygotsky (1991), Cintra (2002), Mesquita
e Zimmermann (2006), Dezotti (2011), Silva e Dessen(2002). Esses autores versam sobre a
importância da organização escolar para o desenvolvimento das crianças na perspectiva da
inclusão, sobre Síndrome de Down, e a possibilidade de convívio social, através da mediação
entre seus pares.
Como educadores é necessário um olhar atento e um estudo constante para que
possamos superar nossas próprias dificuldades, a fim de promover uma aprendizagem de uma
maneira equitativa que busque promover o desenvolvimento integral dessas crianças,
entendendo que as crianças não são iguais e não aprendem da mesma maneira, visto que cada
um tem seu modo de aprender.
A Síndrome de Down
Essa síndrome é a ocorrência genética mais comum que existe, acontecendo cerca de
um a cada setecentos nascimentos, podendo ocorrer com qualquer pessoa independente de
raça, cor ou condição econômica, se caracterizando por atraso intelectual e hipotonia
generalizada em diferentes graus.
Evidências arqueológicas, escrituras e pinturas datadas antes do século XIX nos
mostram que desde aquele tempo já havia registros de pessoas com características e traços da
Síndrome de Down.
Segundo Cintra (2002, p. 30), a história oficial da Síndrome de Down no mundo
começa no século XIX. Até então, as pessoas com deficiência mental eram vistas como um
grupo único homogêneo. Assim, eram tratados e medicados, identicamente, sem se levar em
consideração as causas da deficiência, que são inúmeras e podem ocorrer durante a gestação,
no momento do parto e após o nascimento.
19378
Mas foi somente em 1866, que o Dr. John Langdon Down fez o reconhecimento
clínico dessa alteração genética, diferenciando as pessoas com Síndrome de Down de outras
que possuíam outro tipo de incapacidade intelectual conforme destaca Cintra (2002):
Ele foi o primeiro a reconhecer e a registrar o fato de que estava diante de um grupo
distinto de pessoas. Além disso, fez uma descrição física e clínica tão completa que
é válida até hoje. (WERNECK, 1993 apud CINTRA, 2002, p.27).
Silva e Dessen (2002) apresentam algumas denominações destinadas as pessoas com a
Síndrome de Down.
A denominação de Síndrome de Down só foi proposta após várias outras
denominações terem sido usadas: imbecilidade mongolóide, idiotia mongoloide,
cretinismo furfuráceo, acromicria congênita, criança mal-acabada, criança
inacabada, dentre outras. (SILVA; DESSEN, 2002, p.167).
Muitos cientistas tentaram descobrir por várias décadas, as causas da Síndrome de
Down, mas foi somente em 1959, após vários estudos, que o cientista Jerome Lejeune
desvendou que há um cromossomo extra na composição celular desses indivíduos, sendo
diagnosticado mediante a análise do cariótipo do cromossomo 21.
A Síndrome de Down é a deficiência intelectual mais frequente causada pelo excesso
de material genético, tratando-se do primeiro distúrbio genético detectado na espécie humana,
é congênita, não progressiva, resultando em deficiência intelectual que causa alterações no
desenvolvimento físico e cognitivo. É importante lembrar que essa disfunção não é uma
doença e não há tratamento ou cura, portanto, pessoas com Síndrome de Down não devem ser
tratadas como doentes. É importante ressaltar que até os dias atuais, os cientistas não
descobriram qual a causa da Síndrome de Down, ou seja, o que causa a trissomia do par 21.
Não existem graus da Síndrome de Down, e ela é causada pela trissomia do par de
cromossomos 21, há três tipos de trissomia relacionadas à Síndrome de Down: trissomia
simples ou livre, ocorre a não disjunção durante a meiose e na constituição do indivíduo
encontra-se 47 cromossomos em todas as suas células, sendo que o par 21 contém três
cromossomos; outro tipo de trissomia é a translocação, onde o indivíduo apresenta em todas
as suas células 46 cromossomos, o que ocorre é que um dos três cromossomos 21 está unido a
outro cromossomo, geralmente o 14 e, por fim o mosaicismo onde são encontrados no
indivíduo células normais, com 46 cromossomos e células trissômicas, com 47 cromossomos.
É de grande relevância a atuação dessa carga genética a mais no cromossomo, pois ela
influenciará na formação do corpo, fazendo com que as pessoas nascidas com essa síndrome
19379
apresentem características em comum, sendo importante salientar que nem sempre todas essas
características específicas estão presentes em uma mesma criança, podendo ter apenas
algumas delas. Cintra (2002) apresenta algumas características:
Fisicamente, os indivíduos com Síndrome de Down costumam nascer menores e
mais leves, do que os outros bebês. Em geral são bochechudos, (devido à flacidez
muscular), apresentam hipotonia e têm olhos amendoados relativamente distantes
um do outro. Alguns têm prega epicântica, ou seja, um excesso de pele no canto
interno dos olhos. Os braços e as pernas são curtos. As orelhas implantadas um
pouco abaixo do normal e o nariz é pequeno. O dedo mínimo se mostra ligeiramente
curvo. As mãos são menores e gordas, com a palma atravessada por uma única prega
transversa. Nos pés, é comum encontrarmos uma distância anormalmente grande
entre o primeiro e o segundo dedo. (CINTRA, 2002, p. 32-33).
Bonfim (2001) apresenta outras especificidades:
Com deficiência mental geralmente moderada, hipotonia muscular generalizada,
pouca coordenação dos movimentos, língua protusa, respiração bucal, cardiopatias
(em 40% dos casos), fala tardia, sensibilidade a infecções, hiperextensibilidade
articular, frouxidão ligamentar da primeira e da segunda vértebra e outros.
(BONFIM apud ORNELAS; SOUSA, 2001, p. 79).
Através do pré-natal é possível, por meio de exames clínicos (amnioncentese, coleta
de vilocorial, exame de sangue, ultrassom) e análise citogenética, diagnosticar a Síndrome de
Down. Os indivíduos acometidos pela Síndrome de Down estão predispostos às doenças
respiratórias, cardiovasculares, gastrintestinal, obesidade, rara fertilidade (nos homens) e,
associados à leucemia, hipotireoidismo e doenças de Alzheimer.
O desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos com a Síndrome de Down
sofrem interferências devido ao comprometimento intelectual que os acometem, a idade
cronológica é diferente da idade funcional, o que faz com que eles sejam vistos sempre como
crianças, sendo também determinante a educação e o ambiente aos quais estão inseridos desde
o seu nascimento.
A Síndrome de Down possui especificidades biológicas, psicológicas e sociais que
refletem na qualidade de vida da pessoa e da família. O desenvolvimento dos indivíduos com
a trissomia do par 21 está intimamente relacionado à motivação e ao incentivo que recebem,
sobretudo nos primeiros anos de vida.
Segundo Cintra (2002, p. 34), cada pessoa com Síndrome de Down, necessita para seu
desenvolvimento a possibilidade de convívio social, pois é através da mediação entre seus
pares, que se promove a concepção de consciência corporal, desenvolvimento cognitivo,
19380
coordenação motora e consequentemente, melhor qualidade de vida e movimento, pois para
Vygotsky (1991) só nos tornamos humanos em convivência com outros humanos.
A forma como se desenvolvem e os apoios que recebem, ajudam as pessoas com
Síndrome de Down a se conhecerem e a conhecerem o mundo. Os efeitos das
instituições educacionais, a falta de estímulo, a baixa expectativa, relações
preconceituosas, agressividade e rejeição das pessoas com as quais convivem e a
dificuldade no tratamento das questões médicas podem afetar seu desenvolvimento.
Por outro lado, programas voltados ao conhecimento de suas habilidades,
autodeterminação e motivação, interações positivas e estímulos adequados podem
potencializar a aprendizagem destas, assim como a aprendizagem de qualquer
pessoa. (DEZOTTI, 2011, p.42).
Acreditou-se por muito tempo que o tratamento médico seria a melhor intervenção
para as crianças com Síndrome de Down, mas alguns estudos demonstraram que a
estimulação essencial e o trabalho conjunto com pais e professores resultaram em melhorias
no desenvolvimento físico e cognitivo. O programa de estimulação essencial funciona
adequadamente, quando dentro da família se oferece uma boa interação familiar, experiências
de apoio, disposição de brinquedos pedagógicos, contatos com outras crianças, segurança e
saúde, etc.
A estimulação: aspecto significativo para o desenvolvimento da criança com Síndrome
de Down
O trabalho de estimulação procura dar às crianças condições para desenvolver suas
capacidades desde o nascimento, fazendo com elas explorarem ao máximo suas capacidades,
e possibilitando que alcancem as fases seguintes do desenvolvimento. É importante ressaltar
que cada pessoa possui um ritmo diferenciado e que o estímulo deve ocorrer em diferentes
situações e espaços. “Ser estimulado é fundamental para o desempenho futuro. Para
compreendermos o porquê desta afirmação será preciso, antes, entender como se dá a
mielinização.” (CINTRA, 2002, p.41).
Segundo Cintra (2002), toda a sistematização do conhecimento humano ocorre, antes
de tudo através do fenômeno da mielinização, que consiste no aparecimento de uma
substância, a mielina ao redor de cada neurônio, que permite que essas células nervosas se
comuniquem entre si, ela funciona como um isolante elétrico, e se desenvolve dependendo da
ação conjugada de dois fatores: um interno e outro externo. O interno depende de uma
constituição orgânica saudável e eficiente. O externo de estímulos percebidos, através dos
19381
cincos sentidos e das experiências motoras, dentre os vários fatores podemos citar uma
alimentação correta, estímulos táteis, visuais e auditivos variados, afeto.
É na linguagem corporal, às vezes, mais adequada do que a linguagem verbal para
informar sobre as atitudes e emoções de uma pessoa. Por isso a dança como uma
arte conceitual, além de transmitir os valores estéticos inerentes ao trabalho
coreográfico é adequada para transmitir, emoções, ideias, sentimentos, princípios
filosóficos ou éticos – chaves da linguagem corporal. (CINTRA, 2002, p. 42).
Sendo assim, se a criança que nasce com a Síndrome de Down e tem uma estrutura
interna deficitária, a estimulação adquire importância ainda maior.
Ao nascer a criança possui reações reflexas e com o progresso e o aperfeiçoamento de
coordenação neuromuscular e maior eficácia motora, as reações se tornam funcionais, fazendo
um elo entre a criança e o meio, onde a dança é uma atividade valiosa no desenvolvimento
das crianças em geral e que em se tratando de crianças especiais, ela é ainda mais importante.
Afirma Cintra (2002).
No caso da criança com Síndrome de Down de acordo com Smith e Wilson (1980)
alguma característica especifica deveriam merecer maior atenção, tais como, os
aspectos da hipotonia, da pouca resistência cardiopulmonar, da postura corporal, das
condições de equilíbrio estático e dinâmico, além do desenvolvimento prejudicado
de algumas habilidades motoras envolvidas com a coordenação, noção de
lateralidade, espaço, tempo, esquema corporal e linguagem. (CINTRA, 2002, p. 45)
As crianças com Síndrome de Down podem alcançar estágios avançados do
desenvolvimento motor, psicomotor, de linguagem e cognitivo.
Podemos então abstrair que no processo de desenvolvimento, a dança pode muito
contribuir, uma vez que atua como facilitadora e estimuladora das reações corporais
e posturais. Os exercícios provenientes do ato de dançar facilitam a percepção do
espaço, da sensação do próprio corpo, além de conferir maior habilidade motora
ampla, facilitando o controle da cabeça, a postura correta do corpo, a lateralidade, o
aprender a apoiar-se com as mãos, o permanecer sentada, o arrastar-se, o engatinhar,
o levantar-se e o ficar de pé, dando a criança consciência de que todo seu peso esta
apoiado sobre os pés. As experiências adquiridas através da dança, o contato
corporal e as atividades motoras levam a criança a sentir-se e perceber o ambiente e
a explora-lo. (CINTRA, 2002, p. 50).
Se adequadamente estimulada a criança terá facilidade de adaptar-se ao seu meio,
relacionar-se com outras pessoas, execução da formação de critérios e de tomar decisões de
forma segura.
Na busca de compreender o conceito de inclusão escolar, utilizou-se o que preconiza a
Declaração de Salamanca (1994):
19382
Princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem
aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades
ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder
às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de
aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um
currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso
e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de
serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas
dentro da escola. (UNESCO, 1994, p.11).
Tanto na escola como na família, o papel da motivação, deve ser baseado na
necessidade da criança vivenciar experiências que com certeza contribuirão para o seu
desenvolvimento. E, é através da participação conjunta da família e da escola que a aquisição
do conhecimento e da aprendizagem poderá ser bem sucedida.
A aprendizagem de crianças com Síndrome de Down a partir das contribuições dos
PCNs-Artes
Desde o nascimento a criança vai se constituindo dentro de uma sociedade permeada
de cultura, de representações simbólicas, sentidos e significados. Essa construção é
estabelecida nas relações sociais, o que possibilita a aquisição contínua de novos
conhecimentos.
Pensar em uma escola inclusiva é planejar para que as ações desenvolvidas contribuam
para acessibilidade de todos e que, dessa forma, ocorra uma aprendizagem significativa e que
desperte nas crianças o interesse em aprender.
Os docentes tem o compromisso de promover sistemicamente a propagação de novos
saberes oportunizando aos educandos experiências desafiadoras para que superem suas
limitações e ampliem sua autoestima e autonomia.
Com esse pensamento e com a responsabilidade com o ato de educar a prática do
professor deve estar pautada na formação, que deverá ser contínua. O professor bem
fundamentado teoricamente contribuirá para que a criança que possui necessidades
educacionais especiais, independentemente de qual for, cresça em todos os aspectos:
cognitivo, social, físico, emocional, favorecendo a formação plena da criança.
Os profissionais da educação possuem muitos desafios, mas o principal deles é no que
diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia capaz de educar todas as crianças,
conhecendo as limitações das crianças e se comprometendo em adaptada situações de
aprendizagens que oportunizem a superação delas.
19383
Assim, segundo Arendt (2000, p. 247)
A educação é também onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para
não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos e
tampouco, arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova
e imprevista para nós, preparando-as, em vez disso e com antecedência, para a tarefa
de renovar um mundo comum.
Vygotsky (1991, p.91) reforça o papel do professor como mediador “é aquele que leva
em conta as potencialidades cognitivas dos educandos, fazendo desafios intelectuais
significativos, envolvendo-os em novas situações, provocando-os à superação cognitiva”.
Para subsidiar o trabalho pedagógico, a partir de1996, a disciplina de Artes passou a
ser obrigatória e a compor o currículo escolar do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. Esse
trabalho busca contemplar as dimensões expressivas, instrumentais e culturais.
O
favorecimento das vivências plásticas às crianças é uma forma de estimular a capacidade
crítica e interpretativa. Desta forma, Costa (2000) postula.
Ao adentrar-se na complexidade do universo da arte, e, sendo a arte um valioso
agente da inclusão social, as pessoas com deficiência podem trabalhar os seus
sentimentos em relação à sociedade, que, na maioria das vezes, o discrimina ou o
segrega, devido aos preconceitos e ao estigma. O trabalho com a arte é capaz de
transformá-lo em um ser humano socialmente ativo, com uma autoestima positiva e
uma função social determinada. (COSTA, 2000, p. 16).
Em 1996, o Ministério da Educação e Cultura elaborou uma série de documentos,
chamados de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em decorrência da reforma
educacional preconizada por meio da Lei n° 9.394/1996, na qual consta como objetivo:
assegurar a formação básica comum para todos os alunos do ensino fundamental, bem como
propõe orientações aos professores, tanto no que se refere ao ensino e à aprendizagem, como
também à compreensão da arte como manifestação humana (BRASIL, 1997, p. 15).
O Parâmetro Curricular Nacional é um dos documentos norteadores que contribui com
a prática docente no que se refere a escolha dos conteúdos a serem desenvolvidos pelos
professores do Ensino Fundamental e Médio, foi aprovado em 20 de dezembro de 1996.
Nosso objetivo é auxiliá-lo na execução de seu trabalho, compartilhando seu esforço
diário de fazer com que as crianças dominem os conhecimentos de que necessitam
para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel
em nossa sociedade. (BRASIL, 1997, p. 04).
Os diversos conteúdos contemplados em Artes amplia repertório cultural das crianças
colocando-as em contato com obras de arte, músicas e danças, oportunizando situações para
19384
um olhar diferenciado para tudo que está a nossa volta. “É desejável que o aluno, ao longo da
escolaridade, tenha oportunidade de vivenciar o maior número de formas de arte; entretanto,
isso precisa ocorrer de modo que cada modalidade artística possa ser desenvolvida e
aprofundada.” (BRASIL, 1997, p. 41).
As artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura,
arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras modalidades que resultam
dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade
(fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance).
(BRASIL, 1997, p. 45).
A arte da dança faz parte das culturas humanas e sempre integrou o trabalho, as
religiões e as atividades de lazer. Os povos sempre privilegiaram a dança, sendo esta
um bem cultural e uma atividade inerente à natureza do homem.(BRASIL, 1997, p.
49).
A música sempre esteve associada às tradições e às culturas de cada época.
Atualmente, o desenvolvimento tecnológico aplicado às comunicações vem
modificando consideravelmente as referências musicais das sociedades pela
possibilidade de uma escuta simultânea de toda produção mundial por meio de
discos, fitas, rádio, televisão, computador, jogos eletrônicos, cinema, publicidade,
etc.(BRASIL, 1997, p. 53).
O teatro, como arte, foi formalizado pelos gregos, passando dos rituais primitivos
das concepções religiosas que eram simbolizadas, para o espaço cênico organizado,
como demonstração de cultura e conhecimento. É, por excelência, a arte do homem
exigindo a sua presença de forma completa: seu corpo, sua fala, seu gesto,
manifestando a necessidade de expressão e comunicação.(BRASIL, 1997, p. 57).
O trabalho com a Artes poderá estimular no desenvolvimento global das pessoas com
Síndrome de Down, integrando corpo e mente e proporcionando “Novos instrumentos de
comunicação de ideias e relações entre os indivíduos” (MESQUITA; ZIMMERMANN, 2006,
p.21).
A deficiência muitas vezes isola a criança do mundo tanto no que diz respeito a sua
participação, quanto à compreensão dos fatos. A arte pode neste caso, assumir um
importante papel como facilitadora de comunicação. Ela oferece à criança, novas
formas de expressão de suas ideias e sentimentos e ainda possibilitar a aquisição de
novos conceitos (MESQUITA; ZIMMERMMANN, 2006, p. 21).
Dessa maneira as diferentes experienciações artísticas, como a dança, propiciam às
crianças criar, estimular novas situações de relacionamento de grupo, entretenimento,
relaxamento e excitação. “Favorece também o trabalho motor, ao realizar as coreografias e os
exercícios, e o trabalho mental ao memorizá-las”. (CINTRA, 2002, p.50).
19385
O professor tem que possibilidade de criar e recriar formas diferenciadas de apresentar
para as crianças os conteúdos de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança, incentivando-as nos
trabalhos em grupos e no desenvolvimento da criatividade. Dessa forma, o professor pode
oportunizar as crianças a participação efetiva nos projetos ao contribuir com ideias próprias.
A reflexão sobre a organização do ambiente, bem como, a acessibilidade no espaço em
que a criança está inserida é de suma importância, pois amplia a autonomia e possibilita a
interação, dentre outros aspectos, conforme afirma Hoffmann (2008, p. 143) que “o melhor
ambiente de aprendizagem é rico em oportunidades de convivência, de diálogo, de desafios,
de recursos de todas as ordens”.
Dessa forma, reforçamos que, na brincadeira, na dança, na musicalidade, na
dramatização, na contemplação das artes plásticas as crianças estarão exercitando as
habilidades que permearão todos os aspectos de sua existência, a começar pelo respeito às
diferenças culturais, sociais, físicas e intelectuais.
Cabe ao professor assegurar que os alunos adquiram todo o conhecimento necessário
de cada tema, sua história e principalmente a finalidade deste assunto para que seja uma
aprendizagem significativa e não apenas um conteúdo a ser decorado, que eles se interessem
verdadeiramente por cada assunto e fora da escola procure saber mais sobre a Arte e suas
diversas formas de expressão.
Considerações finais
Em um mundo em constante transformação pensar sobre a aprendizagem e suas
interfaces e, em como ela pode auxiliar a criança na construção da autonomia é de suma
importância. Desse modo, a pesquisa possibilitou o resgate de alguns documentos que
norteiam a educação especial, fazendo com que fossem estabelecidas ligações significativas
entre a formação do professor e a relevância da abordagem artística para o desenvolvimento
da criança com Síndrome de Down.
Ficou evidenciado que o trabalho com Artes é de suma importante na vida das
pessoas independentemente se possuem, ou não, algum tipo de deficiência. Sendo assim, é
necessário perceber e respeitar a realidade da criança estimulando-a a alcançar o seu
potencial, por meio da dança, da dramatização, das artes plásticas, dentre outras linguagens
artísticas, pois somente com diferentes experienciações a criança terá subsídio para
transformar o conhecimento assimilado, ressignificando-o conforme suas possibilidades.
19386
A Artes é um fator de grande influência física e intelectual para as crianças com a
Síndrome de Down, pois possibilita o desenvolvimento dos aspectos da psicomotricidade,
bem como uma conscientização corporal e espacial, criando uma linguagem individual de
movimentar-se e comunicar-se, ou seja, demonstrar o que sente. Dessa forma as crianças, por
meio dos sentidos e da sensibilidade adquirida, fazem uma leitura diferente do mundo, como
uma nova linguagem.
Acreditamos que, o professor é propositor de novos desafios, devendo ser o mediador
no processo ensino-aprendizagem conforme afirma
Vygotsky (1991) que o professor
mediador “é aquele que leva em conta as potencialidades cognitivas dos educandos, fazendo
desafios intelectuais significativos, envolvendo-os em novas situações, provocando-os à
superação cognitiva”. (VYGOTSKY, 1991, p.91).
Porém, para garantir o amplo desenvolvimento da criança, é necessário que todos os
profissionais da educação tenham uma boa qualidade nas formações, iniciais ou continuadas,
melhor ainda se forem licenciados em artes visuais, dança, teatro ou música.
A dança não é apenas uma expressão humana, mas também pode ser transformadora, e
não se limita apenas a uma área do saber. Portanto, o trabalho desenvolvido com a dança pode
contribuir intensamente para a construção de uma sociedade inclusiva, pois ela proporciona
vivências estéticas, criativas e estimula a capacidade crítica e interpretativa, aumento seu
repertório linguístico contribuindo para a aquisição de novos conhecimentos, da autonomia e
da autoestima das crianças com Síndrome de Down.
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