análise fotogeográfica da globalização - Unifal-MG

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ANÁLISE FOTOGEOGRÁFICA DA GLOBALIZAÇÃO: REVELANDO AS
FACES DA GLOBALIZAÇÃO
Felipe Rocha Lima
[email protected]; Geografia; Unifal- MG
Flamarion Dutra Alves
[email protected]; Geografia; Unifal-MG
RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo sobre os processos de Globalização e as
marcas expressas na sociedade. Para melhor compreender tais transformações,
buscamos analisar o fenômeno através de fotografias contemporâneas desse início de
século XXI. Procuramos demonstrar a existência das reais complexidades e disparidades
inerentes ao processo em questão. Fica evidente que nos últimos a sociedade torna-se
cada vez mais complexa e integrada, dinamizando e modificando a maneira como são
desenvolvidas as relações espaciais. Assim, procuramos apresentar uma relação entre a
geografia das relações espaciais e a visão fotográfica dessas transformações sociais
inerentes ao processo da Globalização.
Palavras-chaves: Globalização – Complexidade contemporânea
Transformações espaciais
- Fotografia –
ABSTRACT
This paper presents a study of the processes of globalization and brands expressed in
society. In order to understand such transformations we analyze the phenomenon via
contemporary photographs in the beginning of XXI century. We demonstrate the
existence of the real complexities and disparities inherent in those proceedings. It is
evident that in recent society becomes increasingly more complex and integrated,
streamlining and modifying the way spatial relations are developed. So we try to provide a
link between the geography of spatial relations and photographic vision of these social
transformations resulting from the process of globalization.
Keywords: Globalization
Transformations
- Contemporary Complexity
- Photography
- Spatial
INTRODUÇÃO
A Globalização se faz um tema recorrente nos estudos de Geografia e em
diversas discussões
quando se trata de caracterizar as transformações
no mundo
moderno, especialmente nesse início de século XXI. Diversas são as opiniões sobre as
causas e efeitos na sociedade moderna que o processo em questão tem imprimido. Há
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quem observe na Uma das razões para que o processo aqui estudado tenha nas últimas
décadas ganhado destaque, deve-se a uma de suas características fundamentais, a
informação. Temos
A escolha do tema aqui tratado decorre da tentativa de mostrar um caminho
alternativo para a compreensão do processo de Globalização. A temática da
Globalização é recorrente nos estudos de Geografia e das Ciências Sociais, porém, na
maioria das vezes aborda apenas aspectos econômicos. Nessa pesquisa foi feita uma
interpretação da Globalização por meio de fotografias. É de extrema importância que o
geógrafo visualize seu objeto de estudo e visualize a real existência do processo
estudado. É do dever geográfico estudar as transformações na paisagem e por assim,
apontar a geografia existente nessa evolução de transformações materiais e imateriais.
Assim se faz necessário um olhar direto do Geógrafo para o mundo, para a paisagem
que vem sendo desenvolvida, paisagem que vem sendo construída e desconstruída.
A intenção é atrair o leitor para um processo de reflexão, onde a fotografia sirva
como elo ligação entre o observador e o fenômeno, entre o geógrafo e a paisagem.
Muitos estudos na geografia propõem-se a descrever o fenômeno da Globalização, e o
fazem com êxito. Há, no entanto, um problema, pois na literatura recorrente essa maneira
crítica, ou não, de discorrer sobre fenômeno social da Globalização, provoca um
afastamento entre o Geógrafo e fenômeno, e a sua real transformação na paisagem e na
sociedade.
A Globalização não se trata de um fenômeno antigo ou recente, suas
transformações são presentes, são reais, materiais e imateriais.
Apoiado na Filosofia moderna de Hegel (1807) onde ele observa que a missão do
filósofo é compreender o presente, ou seja, não se trata de compreender o que foi ou o
que será, mas sim o que é. O Geógrafo deve buscar sua aproximação do objeto de
estudo, e no
movimentos
caso da Globalização, deve-se olhar para o mundo, compreender os
provocados
pelas
transformações
ocorridas
na
paisagem
e
consequentemente de suas contradições, para assim perceber a existência do real.
O nosso tempo, pleno de contradições, obriga a um contínuo esforço de
reinterpretação da realidade. A necessidade de periodização, as novas
possibilidades de cognoscibilidade do Planeta, a atual constituição do
espaço geográfico, a noção de região e as novas compartimentações do
espaço são questões que a Geografia, procurando contribuir ao
entendimento do mundo, é obrigada a abordar. (SANTOS e SILVEIRA,
1996 p.06)
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A escolha do período analisado tem como base o início do Meio Técnico
CientíficoInformacional proposto por Santos (1996) ao considerar a década de 1970 um marco na
integração entre Ciência e Tecnologia, aumento dos fluxos de pessoas e mercadorias, a
financeirização da economia, a internacionalização da produção e o aprimoramento dos
meios de telecomunicações.
Entretanto, a escolha dos eventos retratados pelas
fotografias aqui inseridas decorre das transformações e eventos da Globalização no
início do século XXI. Foi realizado, primeiramente, um levantamento das posições e
pensamentos dos autores que discorrem sobre o tema da Globalização para melhor
caracterizarmos o processo em questão.
Aqui nos favorecemos de uma das características fundamentais do processo de
Globalização, a velocidade e o acesso à informação. Nas últimas décadas cada vez mais
nos vemos bombardeados por acontecimentos e eventos ao redor do mundo, muitas
vezes instantaneamente. A fotografia, então, funciona como técnica para retratar um
acontecimento e disseminá-lo, através da internet e outros meios de telecomunicações,
para o mundo. Buscamos, assim, o material que é vinculado nos meios de comunicação
considerados mais populares, como periódicos na internet e agências internacionais de
informação. Entendemos que tais meios de comunicação, por sua maior visibilidade e
consumo de informação, constroem de maneira mais generalizada um senso comum a
respeito do processo de Globalização. Porém, não pretendemos assimilar tal construção
como única e verdadeira, ao contrário, propomos uma reflexão acerca dos impactos
negativos causados pelo monopólio da construção e disseminação da informação.
As fotografias foram selecionadas a partir de seis pontos chaves que caracterizam
o processo de Globalização: A ideologia da e Cultura Globalização; Internacionalização
da Produção; Dinâmica da Circulação; A era da Informação; Natureza; e Capital
Financeiro. Em cada um desses pontos foram selecionadas até duas fotografias para
representar as marcas impressas por tais processos no espaço.
RELEVANDO AS FACES DA GLOBALIZAÇÃO:
A IDEOLOGIA E CULTURA DA GLOBALIZAÇÃO
Integração
e
homogeneização
caracterizam
o
discurso
ideológico
Globalização,
que propaga o desenvolvimento a nível global, fazendo de si mesmo uma ferramenta
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necessária para alcançar tal finalidade. Desse modo, o processo utilizara-se de sua
principal arma, a informação, propagando-se pelos quatro continentes a ideia de um
mundo único. Há quem prefira ainda, a chamada “Aldeia Global ou Planetária” proposta
por McLuhan (1962). Com isso a uniformização do pensamento e do desejo social global
é marca registrada do processo de Globalização, ações claramente expressas através do
consumo, material e cultural.
É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da
mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de
homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são
aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores
hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais
distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto
isso, o culto ao consumo é estimulado. (SANTOS, 2001, 6. Ed p. 19)
A Imagem da (Foto 1) nos mostra a terra vista do espaço, podemos ver as luzes
das
grandes concentrações urbanas, nesse caso a imagem foi tirada na região do
hemisfério norte, onde podemos ver a Inglaterra e mais ao norte a Irlanda. A ideia da
homogeneização do espaço fica evidente quando ampliamos nossa escala de análise e
de visão. Vista de longe os lugares nos parecem semelhantes, como na fotografia, meros
pontos de luzes brilhantes, onde talvez a única diferença seja que, em alguns pontos, as
luzes se tornam mais brilhantes e intensas do que em outras. Contrariamente inverso,
ao nos aproximarmos desses pontos brilhantes, percebemos que a diferença entre os
lugares se ampliam para além da mera intensidade da luz, percebemos a existência de
lugares escuros e ocultos, lugares que de
quanto mais longe olhamos mais eles
“desaparecem”.
Foto 1: As fotografias feitas pelos astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS) revelam como é
possível ver as luzes dos países direto do espaço. Fonte: Revista Info Ano: 2012. Divulgação: NASA
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Assim, a realidade nos mostra um mundo diferente, segregado em todas as
escalas de análise possíveis, dos bairros periféricos, países, regiões, e continentes em
mesma situação. Até quanto sua mais valiosa e poderosa arma, a informação, a ideia de
homogeneização se mostra como falácia no seu discurso ideológico. Segundo dados da
Organização das Nações Unidas (2013) cerca de 4,4 bilhões de pessoas ainda
permanecem sem acesso a internet. Com isso, fica evidente o caráter excludente da
Globalização, se comparar a outros dados, relacionados ao acesso a saúde e educação,
por exemplo, as condições são ainda piores.
E é justamente ai que a Globalização se mostra pluralista, ou se preferir, Híbrida.
Os movimentos de contra cultura da década de 1960 e 1970, como por exemplo, os
hippies, nos mostram claramente que o sistema capitalista e a as desigualdades
inerentes encontram opositores, que ao longo de toda história buscaram maneiras
alternativas ao processo político vivenciado. Com a Globalização, especialmente a partir
de década de 1970, proliferam ao redor do mundo movimentos culturais locais, que
passam com o advento tecnológico, especialmente a internet, a se disseminar pelo
mundo validando-se do progresso tecnológico para poder também exportar e inserir-se
dentro da “Cultura Global”.
Podemos assim, compreender que o processo de Globalização e cultura mostrase complexo, e que, ao simplificarmos a discussão quanto sua perversidade econômica,
fechamos os olhos para a transformação política, que se forma através da diversidade de
conflitos e interesses, e por consequência, diversidade cultural. É necessário buscarmos
alternativas, pois, “Globalizações alternativas levam à possibilidade de modernidades
alternativas” (BERGUER e HUNTINGTON 2004, p. 23)
A DINÂMICA DA CIRCULAÇÃO – SOCIEDADE EM REDE
Uma das marcas mais perceptíveis do processo de Globalização é o
encurtamento das relações espaciais. Fica evidente que os adventos tecnológicos
contribuíram em muito para se alcançar o atual nível de interação e circulação vivenciado
pelo planeta nas últimas décadas. A redução nos custos dos transportes, a informação,
que percorre milhares de quilômetros de Pequim a São Paulo em segundos, ampliaram
os horizontes entre as relações humanas.
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O resultado dessa evolução histórica do capitalismo e, claro, da sociedade
capitalista nos coloca frente à novas perspectivas espaciais, novas complexidades, uma
geografia de redes. Essas redes podem ser materiais, relacionados à infraestrutura,
como as redes de transportes ou podem ser imateriais, como as redes de informação, de
cultura, ou as redes de migração.
No entanto e existência dessas redes não nos coloca em uma organização a
nível mundial de relações homogêneas.
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E onde as redes existem, elas não são uniformes. Num mesmo
subespaço, há uma superposição de redes, que inclui redes principais e
redes afluentes ou tributárias, constelações de pontos e traçados de
linhas. Levando em conta seu aproveitamento social, registram-se
desigualdades no uso e é diverso o papel dos agentes no processo de
controle e de regulação do seu funcionamento. (SANTOS, 1996, p. 181)
É
através
das
complexidades
existentes
que
surge
o
conceito
da
multiterritorilidade, ou seja, de justaposição ou convivência lado a lado, de tipos
territoriais distintos. Partindo do que Haesbaert (2006) chama de territorializações mais
fechadas, como no caso de algumas sociedades indígenas, à territorializações
efetivamente múltiplas, como no caso de alguns indivíduos ou grupos mais globalizados
que podem ou se permitem usufruir do cosmopolitismo multiterritorial das grandes
metrópoles.
Os núcleos urbanos podem ser considerados hoje o foco das relações capitalistas
e
da sociedade em rede. A maior concentração de pessoas, a maior troca de informação,
as maiores transações econômicas são feitas nos núcleos urbanos. Identificamos, assim,
dentro do sistema de redes e relações urbanas, a complexidade agindo de maneira
existencial. O movimento da cidade pode ser considerado a mais ativa e presente
expressão do processo da Globalização. As multifaces da cidade representam as
diferentes realidades existentes, convivendo e conflitando-se a todo instante.
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Foto 2: Vendors, cars, and pedestrians jam the Muslim quarter of the city center near Mohammed Ali Road.
Fonte: National Geographic. Foto: Martin Roemers/Panos
A Foto 2 nos mostra a cidade de Mumbai, na Índia, uma das cidades mais
populosas
do mundo, mais de 13 milhões de pessoas, capital financeira e considerada a cidade
mais “Globalizada” do país . Mumbai, compreendida por nós,
se caracteriza com
excelência quanto às complexidades das relações das redes urbanas. Considerada a
cidade mais rica da Índia, capital do cinema indiano (Bollywood), além da imensa rede de
serviços, responsável por gerar mais de 80% dos empregos, principalmente na área de
telecomunicações como as redes de telemarketing.
A megalópole indiana sofre com os contrastes da Globalização, as multifaces da
cidade cosmopolita, aberta a investimentos, se vê de frente com a pobreza extrema,
onde, segundo dados da Mumbai Metropolitan Region Development Authority (2008)
56% da população vivem sem saneamento básico, e a rede de transportes é caótica,
como nos mostra a foto 3. Pessoas, carros e comerciantes dividem o mesmo espaço, o
mesmo território. O número de pessoas obrigadas a viver em assentamentos urbanos
informais (bairros de lata/slums) é metade da população de Bombaim: 6.4 milhões de
habitantes, quase o mesmo valor da população da grande Londres. (GRANCHO, 2008).
Outro fator marcante de pluralidade é a questão cultural e religiosa do país, mantendo
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fortes laços com as raízes religiosas e culturais locais, a grande maioria hinduísta, sem
desprezar a nova dinâmica das relações capitalistas, e suas fortes raízes ocidentais.
A ERA DA INFORMAÇÃO
E revolução tecnológica experimentada pela sociedade a partir de 1970, a
tecnologia da informação, tem como ponto principal sua capacidade de disseminação
pelo globo em velocidade nunca antes experimentada pelo mundo. As tecnologias
desenvolvidas anteriormente,
com a revolução industrial,
obteve pouco êxito nessa
questão. A escala de abrangência se limitava a áreas geográficas pequenas, a utilização
e a troca das tecnologias desenvolvidas por diferentes países ocorriam apenas no campo
da indústria bélica. Tais condições perduraram até o final do século XIX.
Casttels (2006) define como característica principal da revolução tecnológica da
informação a partir do final do século XX, a aplicação imediata no próprio
desenvolvimento da tecnologia gerada, sendo capaz de conectar o mundo. Sobre esse
assunto Porto-Gonçalves (2012, p.36) “Na sociedade capitalista a técnica visa o aumento
da produtividade. […] Dessa forma, ganha um sentido mais claro ainda a ideia de que a
técnica deve ser um objeto per-feito, isto é, um objeto feito previamente para atender um
fim determinado”. Compreendemos assim, o avanço tecnológico e científico um
paradoxo. Na chamada sociedade capitalista a ciência e tecnologia tem se desenvolvido
em favor da última.
Como dissemos anteriormente não é verdade que o acesso e a circulação da
informação se faz presente de maneira homogênea ao redor do globo. Mas o fato é que
nas grandes concentrações urbanas, principalmente nos países ocidentais, tais índices
atingem valores expressivos, como é o caso da telefonia móvel com acesso as redes
sociais e a internet. Na Europa, o índice de pessoas conectadas chega a 75% (União
Internacional de Telecomunicações - UIT, 2012). A mobilidade pode ser considerada um
novo marco nas relações de acesso a informação. Estima-se, segundo dados do Banco
Mundial (2012), que ao redor do mundo haja seis bilhões de assinaturas de telefonias
móveis, superando os números de acesso a água e ao saneamento básico ao redor do
globo.
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A circulação e a comunicação são duas faces da mobilidade. Por serem
complementares, estão presentes em todas as estratégias que os atores
desencadeiam para dominar as superfícies e os pontos por meio da
gestão e do controle das distâncias. [...] em todo “transporte” há
circulação e comunicação simultaneamente. Os homens ou os bens que
circulam são portadores de uma informação e, assim, “comunicam”
alguma coisa. Da mesma forma, a informação comunicada é, ao mesmo
tempo, um “bem” que “circula” (RAFFESTIN, 1993. p 179)
Dessa forma, temos observados nos últimos anos, o crescente domínio e controle da
circulação da informação ao redor do globo. Grandes corporações, como o Google, estão sendo
acusadas de fornecer os dados depositados por usuários para empresas de espionagem dos
EUA. Recentemente Edward Snowden (Foto 3) tornou-se o maior inimigo do governo americano,
após divulgar documentos confidenciais dos programas de espionagem e vigilância eletrônica dos
EUA e do Reino Unido. As denúncias ganharam as capas dos principais jornais do mundo, como o
The Guardian. As informações continham detalhes das vantagens adquiridas pelos países nos
processo de espionagem, causando grande desconforto na comunidade internacional. No Brasil,
a denúncia de espionagem contra sua
principal indústria, a Petrobrás, afetou as relações
diplomáticas, fazendo com que a presidente Dilma Rousseff cancelasse a visita de Estado
programada para o dia 23 de outubro de 2013.
Anteriormente,
Julian Assange, um dos
fundadores do WikiLeaks, já tinha causado grande alvoroço ao divulgar documentos confidenciais
do governo americano, principalmente quanto as atividades militares na Guerra do Iraque.
Foto3: Edward Snowden, the NSA whistleblower.
Divulgação: The Guardian. Ano. 2013
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NATUREZA
É evidente nesse início de século que a questão ambiental se torna uma discussão
importante e central nos debates geopolíticos, e mais, se apresenta em caráter de urgência nas
tomadas de decisões presentes e futuras. Podemos, então, nos questionar qual seria o papel da
natureza dentro das perspectivas atuais. Como as Políticas Internacionais, como a sociedade,
dentro dos modos de vida e produção capitalistas se relacionariam com o meio ambiente? Essa é
apenas uma questão, dentre tantas, que nos ocorre mais claramente dentro do sistema-mundomoderno.
No final do século XX a temática ambiental volta ao centro do debate político,
agora não mais discutido apenas por um pequeno conglomerado de países, empresas e
instituições internacionais. Como vimos o debate ganha novos atores, com o intuito de
democratizar o debate e principalmente descentralizar a discussão do tema. É no final da
década de 1980 com o Relatório Brundtland, e no início da década de 1990 com a RIO
92, parte do programa da ONU - Conferência das Nações Unidas paras o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (CNUMAD), que podemos perceber a maior participação da
sociedade civil no processo de discussão, e ainda, propondo alternativas aos planos de
desenvolvimento disseminados ao redor do mundo. Podemos caracterizar então a
conferência internacional ECO 92 (Rio 92) um marco na discussão do debate ambiental,
pois,
é a partir dela que o tema enraíza-se não apenas dentro da política e
da
economia, mas também permeia pela cultura da sociedade aprofundando-se cada vez
mais entre as relações sociais e o meio ambiente em escala planetária.
Vale destacar a eficácia das grandes corporações transnacionais aliadas às
instituições internacionais na tentativa de mascarar e transformar os discursos desses
agentes emergentes, pra isso, ele se vale de uma poderosa força de influência que são
os meios de comunicação e a mídia, transformando e gerando novos conceitos e
paradigmas como o desenvolvimento sustentável, que surge como uma marca que
agrega valor ao produto final. Desta forma, o que se modifica não são as reais relações
homem-natureza, mas sim a forma com que o discurso da problemática ambiental é
elaborado, o chamado “Ecologismo Ingênuo”.
Afinal, estamos diante, nesses últimos 30-40 anos de globalização
neoliberal, de uma devastação do planeta sem precedentes em toda a
história da humanidade, período em que, paradoxalmente, mais se falou
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de natureza e em que o próprio desafio ambiental se colocou como tal
(PORTO- GONÇALVES, 2006 pág. 20).
A escolha da Foto 4 é uma tentativa de caracterizar o desafio ambiental
enfrentado pela humanidade e as consequências futuras na nossa sociedade. Na foto,
uma criança indiana brinca naquilo que seria um rio “seco” na cidade de Allahabad, Índia.
A reflexão proposta aqui é a existência do homem em mundo “branco”, como na
fotografia, sem a riqueza natural, sem a água. Os efeitos da questão climática e a
escassez
de
recursos
naturais
afetam
principalmente
países
pobres
e
em
desenvolvimento, devido ao crescimento urbano descontrolado, a falta de infraestrutura
em saneamento básico, acarretando em grandes problemas de saúde nesses países.
Foto 4: An Indian street child plays in a dry river bed after floodwaters receded in the city
Fonte: The Guardian Ano: 2013. Foto: Sanjay Kanojia/AP
A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
Aqui buscamos abordagens mais geoeconômicas e geopolíticas, destacando a
nova espacialidade gerada pelo processo da Internacionalização da produção, com o
surgimento de
novos centros polarizadores, a disseminação de filiais de empresas
multinacionais e transnacionais ao redor do globo. Como bem salienta Benko (2002).
Verifica-se um crescimento fenomenal dos investimentos internacionais, paralelamente à
presença cada vez mais notória das firmas transnacionais nas trocas internacionais e na
atividade econômica dos países. Destaca-se ainda o surgimento de dos oligopólios de
grande poder sobre regiões e países, principalmente, os chamados de “Terceiro Mundo”,
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América Latina, Ásia e África, que através da guerra fiscal disputam tais investimentos
em busca do “progresso” e desenvolvimento econômico.
Estas empresas são alertadas ao investimento no exterior para adquirir
recursos particulares e específicos em um custo real mais baixo do que
poderia ser obtido em seu país de origem (se, certamente, são
obteníveis em tudo). A motivação para o FDI (Foreign Direct Investiment
– Investimento Estrangeiro Direto) deve fazer a empresa investidora
mais rentável (ROSSI e PELLEGRINO 2006 p.52 apud Dunning 1993)
Nota-se que a preocupação nesse caso dá se de maior interesse na configuração
espacial dos chamados Fixos, pontos geoestratégicos da produção internacional. É,
portanto
necessário
chamarmos
a
atenção
para
o
caráter
exploratório
da
internacionalização da produção, sob o discurso do progresso econômico abrem caminho
pra a exploração da mão de obra, barateando drasticamente os custos da produção. Tais
lugares tornam-se estratégicos dentro de nova economia mundial.
Em 2002 a empresa de artigos esportivos Nike foi acusada de exploração do
trabalho na Indonésia. Segundo relatório da OXFAM (Comitê de Oxford de Combate à
Fome), cada trabalhador receberia cerca de dois dólares por dia, além das péssimas
condições de trabalho e relatos de humilhação.
A foto 5 nos mostra o relato do desmoronamento do Rana Plaza, em Bangladesh
no
ano 2013, onde mais de mil pessoas morreram e cerca de duas mil pessoas se feriram.
No
país o setor têxtil é responsável por movimentar US$ 20 bilhões por ano e empregar 3,2
milhões de pessoas. A foto nos mostra o resgate de umas das vítimas. Fica evidente em
mais um desastre industrial que, as políticas trabalhistas e sindicais desses países se
tornaram
perigosamente enfraquecidas.
Os poderes das grandes corporações transnacionais superam o poder do estado.
Segundo dados da PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) o
volume total de negócios de grandes corporações internacionais, como o Wal Mart e
General Motors superam os PIB de países como Bangladesh e Indonésia.
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Foto 2: Mais de 1,1 mil pessoas morreram quando uma fábrica de roupas de oito andares desmoronou nos
subúrbios da capital de Bangladesh, Dhaka. Muitos dos sobreviventes se feriram gravemente e não puderam
voltar ao trabalho. Fonte: BBC Ano: 2013. Foto: Kevin Frayer/ A
CAPITAL FINANCEIRO
Os capitais financeiros assim com a internacionalização da produção se favorecem
do livre mercado para se instalarem em cada parte do mundo, aproveitando a guerra por
captação de investimentos em nome do progresso econômico. Com isso ao contrário do
discurso ideológico da Globalização financeira neoliberal a homogeneização torna-se um
paradoxo necessário para seu desenvolvimento.
A tendência de investimentos em ativos se tornou generalizada. Desde
1980 em diante vieram à tona periodicamente relatórios sugerindo que
muitas das grandes corporações não financeiras geravam mais dinheiro
de suas operações financeiras do que fazendo coisas. Isso foi
particularmente verdadeira na indústria automobilística. Essas
corporações agora eram administradas por contadores e não por
engenheiros, e suas divisões financeiras que tratavam de empréstimos
aos consumidores foram altamente rentáveis. (HARVEY, 2011, p. 28)
Como explicar então o desenvolvimento do capital financeiro e de um mercado
baseado na especulação do capital?
Em um mundo dominado pelas finanças, a vida social em quase todas
as suas determinações tende a sofrer as influências daquilo que Marx
designacomo a forma mais impetuosa de fetichismo. Com as finanças,
tem-se dinheiro produzindo dinheiro, um valor valorizando-se por si
mesmo, sem que nenhum processo (de produção) sirva de mediação
aos dois extremos (CHESNAIS, 2000.p.09).
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O que se viu na crise financeira de 2008 foi à crise da desregulamentação, a ausência do
papel regulador do Estado entra novamente em questão, quando a ideia do “livre mercado” se
desmancha. E sem surpresas o papel do estado, quando necessário se faz presente,
demonstrando claramente que o que de investimentos. No outro lado da moeda sem encontram a
redução dos gastos públicos com a aposentadoria, investimentos em saúde, queda na geração de
emprego, ou seja, fica evidente o fluxo do capital quando se trata de crise econômica, novamente,
socializar os prejuízos. O que importa é assegurar a instabilidade do mercado a qualquer custo.
O resultado disso é a socialização dos prejuízos, os investimentos do fundo público servem como
injeção de resgate para impedir a quebradeira dos bancos e dos fundos.
O reflexo das ações do Estado para salvar os bancos, somado a instabilidade social
vivenciada pelo país, devido o aumento das taxas de desempregos e uma economia em resseção
como foi o caso dos EUA levam ao surgimento de movimentos sociais contra o domínio financeiro
da economia e a influência do mercado sobre o estado. Dessa forma o surgimento do movimento
Occupy Wall Street é a evidência do descontentamento da população em detrimento das políticas
públicas. O movimento surgiu em 2011 e tem como slogan a frase “We are 99%” (Foto 6), a ideia
faz alusão a desigualdade social e da acumulação do capital nas mãos de apenas 1% da
população americana.
As crises sociais foram ainda maiores na Europa, em países como a
Espanha, o desempregou chegou a 17%. Além da Espanha os países mais afetados foram à
Grécia, Irlanda, Itália e Portugal. Nesses países também proliferam as crises e manifestações de
descontentamento popular com medidas de redução de gastos adotadas pelos países como forma
de conter a crise.
Foto 6: Protestors march during "Occupy Wall Street" demonstrations on Sept. 26, 2011. Divulgação: Flickr
Ano: 2011. Foto: Paul Stein
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