ANÁLISE FOTOGEOGRÁFICA DA GLOBALIZAÇÃO: REVELANDO AS FACES DA GLOBALIZAÇÃO Felipe Rocha Lima [email protected]; Geografia; Unifal- MG Flamarion Dutra Alves [email protected]; Geografia; Unifal-MG RESUMO O presente trabalho apresenta um estudo sobre os processos de Globalização e as marcas expressas na sociedade. Para melhor compreender tais transformações, buscamos analisar o fenômeno através de fotografias contemporâneas desse início de século XXI. Procuramos demonstrar a existência das reais complexidades e disparidades inerentes ao processo em questão. Fica evidente que nos últimos a sociedade torna-se cada vez mais complexa e integrada, dinamizando e modificando a maneira como são desenvolvidas as relações espaciais. Assim, procuramos apresentar uma relação entre a geografia das relações espaciais e a visão fotográfica dessas transformações sociais inerentes ao processo da Globalização. Palavras-chaves: Globalização – Complexidade contemporânea Transformações espaciais - Fotografia – ABSTRACT This paper presents a study of the processes of globalization and brands expressed in society. In order to understand such transformations we analyze the phenomenon via contemporary photographs in the beginning of XXI century. We demonstrate the existence of the real complexities and disparities inherent in those proceedings. It is evident that in recent society becomes increasingly more complex and integrated, streamlining and modifying the way spatial relations are developed. So we try to provide a link between the geography of spatial relations and photographic vision of these social transformations resulting from the process of globalization. Keywords: Globalization Transformations - Contemporary Complexity - Photography - Spatial INTRODUÇÃO A Globalização se faz um tema recorrente nos estudos de Geografia e em diversas discussões quando se trata de caracterizar as transformações no mundo moderno, especialmente nesse início de século XXI. Diversas são as opiniões sobre as causas e efeitos na sociedade moderna que o processo em questão tem imprimido. Há ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1469 quem observe na Uma das razões para que o processo aqui estudado tenha nas últimas décadas ganhado destaque, deve-se a uma de suas características fundamentais, a informação. Temos A escolha do tema aqui tratado decorre da tentativa de mostrar um caminho alternativo para a compreensão do processo de Globalização. A temática da Globalização é recorrente nos estudos de Geografia e das Ciências Sociais, porém, na maioria das vezes aborda apenas aspectos econômicos. Nessa pesquisa foi feita uma interpretação da Globalização por meio de fotografias. É de extrema importância que o geógrafo visualize seu objeto de estudo e visualize a real existência do processo estudado. É do dever geográfico estudar as transformações na paisagem e por assim, apontar a geografia existente nessa evolução de transformações materiais e imateriais. Assim se faz necessário um olhar direto do Geógrafo para o mundo, para a paisagem que vem sendo desenvolvida, paisagem que vem sendo construída e desconstruída. A intenção é atrair o leitor para um processo de reflexão, onde a fotografia sirva como elo ligação entre o observador e o fenômeno, entre o geógrafo e a paisagem. Muitos estudos na geografia propõem-se a descrever o fenômeno da Globalização, e o fazem com êxito. Há, no entanto, um problema, pois na literatura recorrente essa maneira crítica, ou não, de discorrer sobre fenômeno social da Globalização, provoca um afastamento entre o Geógrafo e fenômeno, e a sua real transformação na paisagem e na sociedade. A Globalização não se trata de um fenômeno antigo ou recente, suas transformações são presentes, são reais, materiais e imateriais. Apoiado na Filosofia moderna de Hegel (1807) onde ele observa que a missão do filósofo é compreender o presente, ou seja, não se trata de compreender o que foi ou o que será, mas sim o que é. O Geógrafo deve buscar sua aproximação do objeto de estudo, e no movimentos caso da Globalização, deve-se olhar para o mundo, compreender os provocados pelas transformações ocorridas na paisagem e consequentemente de suas contradições, para assim perceber a existência do real. O nosso tempo, pleno de contradições, obriga a um contínuo esforço de reinterpretação da realidade. A necessidade de periodização, as novas possibilidades de cognoscibilidade do Planeta, a atual constituição do espaço geográfico, a noção de região e as novas compartimentações do espaço são questões que a Geografia, procurando contribuir ao entendimento do mundo, é obrigada a abordar. (SANTOS e SILVEIRA, 1996 p.06) METODOLOGIA ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1470 A escolha do período analisado tem como base o início do Meio Técnico CientíficoInformacional proposto por Santos (1996) ao considerar a década de 1970 um marco na integração entre Ciência e Tecnologia, aumento dos fluxos de pessoas e mercadorias, a financeirização da economia, a internacionalização da produção e o aprimoramento dos meios de telecomunicações. Entretanto, a escolha dos eventos retratados pelas fotografias aqui inseridas decorre das transformações e eventos da Globalização no início do século XXI. Foi realizado, primeiramente, um levantamento das posições e pensamentos dos autores que discorrem sobre o tema da Globalização para melhor caracterizarmos o processo em questão. Aqui nos favorecemos de uma das características fundamentais do processo de Globalização, a velocidade e o acesso à informação. Nas últimas décadas cada vez mais nos vemos bombardeados por acontecimentos e eventos ao redor do mundo, muitas vezes instantaneamente. A fotografia, então, funciona como técnica para retratar um acontecimento e disseminá-lo, através da internet e outros meios de telecomunicações, para o mundo. Buscamos, assim, o material que é vinculado nos meios de comunicação considerados mais populares, como periódicos na internet e agências internacionais de informação. Entendemos que tais meios de comunicação, por sua maior visibilidade e consumo de informação, constroem de maneira mais generalizada um senso comum a respeito do processo de Globalização. Porém, não pretendemos assimilar tal construção como única e verdadeira, ao contrário, propomos uma reflexão acerca dos impactos negativos causados pelo monopólio da construção e disseminação da informação. As fotografias foram selecionadas a partir de seis pontos chaves que caracterizam o processo de Globalização: A ideologia da e Cultura Globalização; Internacionalização da Produção; Dinâmica da Circulação; A era da Informação; Natureza; e Capital Financeiro. Em cada um desses pontos foram selecionadas até duas fotografias para representar as marcas impressas por tais processos no espaço. RELEVANDO AS FACES DA GLOBALIZAÇÃO: A IDEOLOGIA E CULTURA DA GLOBALIZAÇÃO Integração e homogeneização caracterizam o discurso ideológico Globalização, que propaga o desenvolvimento a nível global, fazendo de si mesmo uma ferramenta ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 da 1471 necessária para alcançar tal finalidade. Desse modo, o processo utilizara-se de sua principal arma, a informação, propagando-se pelos quatro continentes a ideia de um mundo único. Há quem prefira ainda, a chamada “Aldeia Global ou Planetária” proposta por McLuhan (1962). Com isso a uniformização do pensamento e do desejo social global é marca registrada do processo de Globalização, ações claramente expressas através do consumo, material e cultural. É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado. (SANTOS, 2001, 6. Ed p. 19) A Imagem da (Foto 1) nos mostra a terra vista do espaço, podemos ver as luzes das grandes concentrações urbanas, nesse caso a imagem foi tirada na região do hemisfério norte, onde podemos ver a Inglaterra e mais ao norte a Irlanda. A ideia da homogeneização do espaço fica evidente quando ampliamos nossa escala de análise e de visão. Vista de longe os lugares nos parecem semelhantes, como na fotografia, meros pontos de luzes brilhantes, onde talvez a única diferença seja que, em alguns pontos, as luzes se tornam mais brilhantes e intensas do que em outras. Contrariamente inverso, ao nos aproximarmos desses pontos brilhantes, percebemos que a diferença entre os lugares se ampliam para além da mera intensidade da luz, percebemos a existência de lugares escuros e ocultos, lugares que de quanto mais longe olhamos mais eles “desaparecem”. Foto 1: As fotografias feitas pelos astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS) revelam como é possível ver as luzes dos países direto do espaço. Fonte: Revista Info Ano: 2012. Divulgação: NASA ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1472 Assim, a realidade nos mostra um mundo diferente, segregado em todas as escalas de análise possíveis, dos bairros periféricos, países, regiões, e continentes em mesma situação. Até quanto sua mais valiosa e poderosa arma, a informação, a ideia de homogeneização se mostra como falácia no seu discurso ideológico. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (2013) cerca de 4,4 bilhões de pessoas ainda permanecem sem acesso a internet. Com isso, fica evidente o caráter excludente da Globalização, se comparar a outros dados, relacionados ao acesso a saúde e educação, por exemplo, as condições são ainda piores. E é justamente ai que a Globalização se mostra pluralista, ou se preferir, Híbrida. Os movimentos de contra cultura da década de 1960 e 1970, como por exemplo, os hippies, nos mostram claramente que o sistema capitalista e a as desigualdades inerentes encontram opositores, que ao longo de toda história buscaram maneiras alternativas ao processo político vivenciado. Com a Globalização, especialmente a partir de década de 1970, proliferam ao redor do mundo movimentos culturais locais, que passam com o advento tecnológico, especialmente a internet, a se disseminar pelo mundo validando-se do progresso tecnológico para poder também exportar e inserir-se dentro da “Cultura Global”. Podemos assim, compreender que o processo de Globalização e cultura mostrase complexo, e que, ao simplificarmos a discussão quanto sua perversidade econômica, fechamos os olhos para a transformação política, que se forma através da diversidade de conflitos e interesses, e por consequência, diversidade cultural. É necessário buscarmos alternativas, pois, “Globalizações alternativas levam à possibilidade de modernidades alternativas” (BERGUER e HUNTINGTON 2004, p. 23) A DINÂMICA DA CIRCULAÇÃO – SOCIEDADE EM REDE Uma das marcas mais perceptíveis do processo de Globalização é o encurtamento das relações espaciais. Fica evidente que os adventos tecnológicos contribuíram em muito para se alcançar o atual nível de interação e circulação vivenciado pelo planeta nas últimas décadas. A redução nos custos dos transportes, a informação, que percorre milhares de quilômetros de Pequim a São Paulo em segundos, ampliaram os horizontes entre as relações humanas. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1473 O resultado dessa evolução histórica do capitalismo e, claro, da sociedade capitalista nos coloca frente à novas perspectivas espaciais, novas complexidades, uma geografia de redes. Essas redes podem ser materiais, relacionados à infraestrutura, como as redes de transportes ou podem ser imateriais, como as redes de informação, de cultura, ou as redes de migração. No entanto e existência dessas redes não nos coloca em uma organização a nível mundial de relações homogêneas. 1474 E onde as redes existem, elas não são uniformes. Num mesmo subespaço, há uma superposição de redes, que inclui redes principais e redes afluentes ou tributárias, constelações de pontos e traçados de linhas. Levando em conta seu aproveitamento social, registram-se desigualdades no uso e é diverso o papel dos agentes no processo de controle e de regulação do seu funcionamento. (SANTOS, 1996, p. 181) É através das complexidades existentes que surge o conceito da multiterritorilidade, ou seja, de justaposição ou convivência lado a lado, de tipos territoriais distintos. Partindo do que Haesbaert (2006) chama de territorializações mais fechadas, como no caso de algumas sociedades indígenas, à territorializações efetivamente múltiplas, como no caso de alguns indivíduos ou grupos mais globalizados que podem ou se permitem usufruir do cosmopolitismo multiterritorial das grandes metrópoles. Os núcleos urbanos podem ser considerados hoje o foco das relações capitalistas e da sociedade em rede. A maior concentração de pessoas, a maior troca de informação, as maiores transações econômicas são feitas nos núcleos urbanos. Identificamos, assim, dentro do sistema de redes e relações urbanas, a complexidade agindo de maneira existencial. O movimento da cidade pode ser considerado a mais ativa e presente expressão do processo da Globalização. As multifaces da cidade representam as diferentes realidades existentes, convivendo e conflitando-se a todo instante. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1475 Foto 2: Vendors, cars, and pedestrians jam the Muslim quarter of the city center near Mohammed Ali Road. Fonte: National Geographic. Foto: Martin Roemers/Panos A Foto 2 nos mostra a cidade de Mumbai, na Índia, uma das cidades mais populosas do mundo, mais de 13 milhões de pessoas, capital financeira e considerada a cidade mais “Globalizada” do país . Mumbai, compreendida por nós, se caracteriza com excelência quanto às complexidades das relações das redes urbanas. Considerada a cidade mais rica da Índia, capital do cinema indiano (Bollywood), além da imensa rede de serviços, responsável por gerar mais de 80% dos empregos, principalmente na área de telecomunicações como as redes de telemarketing. A megalópole indiana sofre com os contrastes da Globalização, as multifaces da cidade cosmopolita, aberta a investimentos, se vê de frente com a pobreza extrema, onde, segundo dados da Mumbai Metropolitan Region Development Authority (2008) 56% da população vivem sem saneamento básico, e a rede de transportes é caótica, como nos mostra a foto 3. Pessoas, carros e comerciantes dividem o mesmo espaço, o mesmo território. O número de pessoas obrigadas a viver em assentamentos urbanos informais (bairros de lata/slums) é metade da população de Bombaim: 6.4 milhões de habitantes, quase o mesmo valor da população da grande Londres. (GRANCHO, 2008). Outro fator marcante de pluralidade é a questão cultural e religiosa do país, mantendo ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 fortes laços com as raízes religiosas e culturais locais, a grande maioria hinduísta, sem desprezar a nova dinâmica das relações capitalistas, e suas fortes raízes ocidentais. A ERA DA INFORMAÇÃO E revolução tecnológica experimentada pela sociedade a partir de 1970, a tecnologia da informação, tem como ponto principal sua capacidade de disseminação pelo globo em velocidade nunca antes experimentada pelo mundo. As tecnologias desenvolvidas anteriormente, com a revolução industrial, obteve pouco êxito nessa questão. A escala de abrangência se limitava a áreas geográficas pequenas, a utilização e a troca das tecnologias desenvolvidas por diferentes países ocorriam apenas no campo da indústria bélica. Tais condições perduraram até o final do século XIX. Casttels (2006) define como característica principal da revolução tecnológica da informação a partir do final do século XX, a aplicação imediata no próprio desenvolvimento da tecnologia gerada, sendo capaz de conectar o mundo. Sobre esse assunto Porto-Gonçalves (2012, p.36) “Na sociedade capitalista a técnica visa o aumento da produtividade. […] Dessa forma, ganha um sentido mais claro ainda a ideia de que a técnica deve ser um objeto per-feito, isto é, um objeto feito previamente para atender um fim determinado”. Compreendemos assim, o avanço tecnológico e científico um paradoxo. Na chamada sociedade capitalista a ciência e tecnologia tem se desenvolvido em favor da última. Como dissemos anteriormente não é verdade que o acesso e a circulação da informação se faz presente de maneira homogênea ao redor do globo. Mas o fato é que nas grandes concentrações urbanas, principalmente nos países ocidentais, tais índices atingem valores expressivos, como é o caso da telefonia móvel com acesso as redes sociais e a internet. Na Europa, o índice de pessoas conectadas chega a 75% (União Internacional de Telecomunicações - UIT, 2012). A mobilidade pode ser considerada um novo marco nas relações de acesso a informação. Estima-se, segundo dados do Banco Mundial (2012), que ao redor do mundo haja seis bilhões de assinaturas de telefonias móveis, superando os números de acesso a água e ao saneamento básico ao redor do globo. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1476 A circulação e a comunicação são duas faces da mobilidade. Por serem complementares, estão presentes em todas as estratégias que os atores desencadeiam para dominar as superfícies e os pontos por meio da gestão e do controle das distâncias. [...] em todo “transporte” há circulação e comunicação simultaneamente. Os homens ou os bens que circulam são portadores de uma informação e, assim, “comunicam” alguma coisa. Da mesma forma, a informação comunicada é, ao mesmo tempo, um “bem” que “circula” (RAFFESTIN, 1993. p 179) Dessa forma, temos observados nos últimos anos, o crescente domínio e controle da circulação da informação ao redor do globo. Grandes corporações, como o Google, estão sendo acusadas de fornecer os dados depositados por usuários para empresas de espionagem dos EUA. Recentemente Edward Snowden (Foto 3) tornou-se o maior inimigo do governo americano, após divulgar documentos confidenciais dos programas de espionagem e vigilância eletrônica dos EUA e do Reino Unido. As denúncias ganharam as capas dos principais jornais do mundo, como o The Guardian. As informações continham detalhes das vantagens adquiridas pelos países nos processo de espionagem, causando grande desconforto na comunidade internacional. No Brasil, a denúncia de espionagem contra sua principal indústria, a Petrobrás, afetou as relações diplomáticas, fazendo com que a presidente Dilma Rousseff cancelasse a visita de Estado programada para o dia 23 de outubro de 2013. Anteriormente, Julian Assange, um dos fundadores do WikiLeaks, já tinha causado grande alvoroço ao divulgar documentos confidenciais do governo americano, principalmente quanto as atividades militares na Guerra do Iraque. Foto3: Edward Snowden, the NSA whistleblower. Divulgação: The Guardian. Ano. 2013 ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1477 NATUREZA É evidente nesse início de século que a questão ambiental se torna uma discussão importante e central nos debates geopolíticos, e mais, se apresenta em caráter de urgência nas tomadas de decisões presentes e futuras. Podemos, então, nos questionar qual seria o papel da natureza dentro das perspectivas atuais. Como as Políticas Internacionais, como a sociedade, dentro dos modos de vida e produção capitalistas se relacionariam com o meio ambiente? Essa é apenas uma questão, dentre tantas, que nos ocorre mais claramente dentro do sistema-mundomoderno. No final do século XX a temática ambiental volta ao centro do debate político, agora não mais discutido apenas por um pequeno conglomerado de países, empresas e instituições internacionais. Como vimos o debate ganha novos atores, com o intuito de democratizar o debate e principalmente descentralizar a discussão do tema. É no final da década de 1980 com o Relatório Brundtland, e no início da década de 1990 com a RIO 92, parte do programa da ONU - Conferência das Nações Unidas paras o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), que podemos perceber a maior participação da sociedade civil no processo de discussão, e ainda, propondo alternativas aos planos de desenvolvimento disseminados ao redor do mundo. Podemos caracterizar então a conferência internacional ECO 92 (Rio 92) um marco na discussão do debate ambiental, pois, é a partir dela que o tema enraíza-se não apenas dentro da política e da economia, mas também permeia pela cultura da sociedade aprofundando-se cada vez mais entre as relações sociais e o meio ambiente em escala planetária. Vale destacar a eficácia das grandes corporações transnacionais aliadas às instituições internacionais na tentativa de mascarar e transformar os discursos desses agentes emergentes, pra isso, ele se vale de uma poderosa força de influência que são os meios de comunicação e a mídia, transformando e gerando novos conceitos e paradigmas como o desenvolvimento sustentável, que surge como uma marca que agrega valor ao produto final. Desta forma, o que se modifica não são as reais relações homem-natureza, mas sim a forma com que o discurso da problemática ambiental é elaborado, o chamado “Ecologismo Ingênuo”. Afinal, estamos diante, nesses últimos 30-40 anos de globalização neoliberal, de uma devastação do planeta sem precedentes em toda a história da humanidade, período em que, paradoxalmente, mais se falou ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1478 de natureza e em que o próprio desafio ambiental se colocou como tal (PORTO- GONÇALVES, 2006 pág. 20). A escolha da Foto 4 é uma tentativa de caracterizar o desafio ambiental enfrentado pela humanidade e as consequências futuras na nossa sociedade. Na foto, uma criança indiana brinca naquilo que seria um rio “seco” na cidade de Allahabad, Índia. A reflexão proposta aqui é a existência do homem em mundo “branco”, como na fotografia, sem a riqueza natural, sem a água. Os efeitos da questão climática e a escassez de recursos naturais afetam principalmente países pobres e em desenvolvimento, devido ao crescimento urbano descontrolado, a falta de infraestrutura em saneamento básico, acarretando em grandes problemas de saúde nesses países. Foto 4: An Indian street child plays in a dry river bed after floodwaters receded in the city Fonte: The Guardian Ano: 2013. Foto: Sanjay Kanojia/AP A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO Aqui buscamos abordagens mais geoeconômicas e geopolíticas, destacando a nova espacialidade gerada pelo processo da Internacionalização da produção, com o surgimento de novos centros polarizadores, a disseminação de filiais de empresas multinacionais e transnacionais ao redor do globo. Como bem salienta Benko (2002). Verifica-se um crescimento fenomenal dos investimentos internacionais, paralelamente à presença cada vez mais notória das firmas transnacionais nas trocas internacionais e na atividade econômica dos países. Destaca-se ainda o surgimento de dos oligopólios de grande poder sobre regiões e países, principalmente, os chamados de “Terceiro Mundo”, ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1479 América Latina, Ásia e África, que através da guerra fiscal disputam tais investimentos em busca do “progresso” e desenvolvimento econômico. Estas empresas são alertadas ao investimento no exterior para adquirir recursos particulares e específicos em um custo real mais baixo do que poderia ser obtido em seu país de origem (se, certamente, são obteníveis em tudo). A motivação para o FDI (Foreign Direct Investiment – Investimento Estrangeiro Direto) deve fazer a empresa investidora mais rentável (ROSSI e PELLEGRINO 2006 p.52 apud Dunning 1993) Nota-se que a preocupação nesse caso dá se de maior interesse na configuração espacial dos chamados Fixos, pontos geoestratégicos da produção internacional. É, portanto necessário chamarmos a atenção para o caráter exploratório da internacionalização da produção, sob o discurso do progresso econômico abrem caminho pra a exploração da mão de obra, barateando drasticamente os custos da produção. Tais lugares tornam-se estratégicos dentro de nova economia mundial. Em 2002 a empresa de artigos esportivos Nike foi acusada de exploração do trabalho na Indonésia. Segundo relatório da OXFAM (Comitê de Oxford de Combate à Fome), cada trabalhador receberia cerca de dois dólares por dia, além das péssimas condições de trabalho e relatos de humilhação. A foto 5 nos mostra o relato do desmoronamento do Rana Plaza, em Bangladesh no ano 2013, onde mais de mil pessoas morreram e cerca de duas mil pessoas se feriram. No país o setor têxtil é responsável por movimentar US$ 20 bilhões por ano e empregar 3,2 milhões de pessoas. A foto nos mostra o resgate de umas das vítimas. Fica evidente em mais um desastre industrial que, as políticas trabalhistas e sindicais desses países se tornaram perigosamente enfraquecidas. Os poderes das grandes corporações transnacionais superam o poder do estado. Segundo dados da PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) o volume total de negócios de grandes corporações internacionais, como o Wal Mart e General Motors superam os PIB de países como Bangladesh e Indonésia. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1480 1481 Foto 2: Mais de 1,1 mil pessoas morreram quando uma fábrica de roupas de oito andares desmoronou nos subúrbios da capital de Bangladesh, Dhaka. Muitos dos sobreviventes se feriram gravemente e não puderam voltar ao trabalho. Fonte: BBC Ano: 2013. Foto: Kevin Frayer/ A CAPITAL FINANCEIRO Os capitais financeiros assim com a internacionalização da produção se favorecem do livre mercado para se instalarem em cada parte do mundo, aproveitando a guerra por captação de investimentos em nome do progresso econômico. Com isso ao contrário do discurso ideológico da Globalização financeira neoliberal a homogeneização torna-se um paradoxo necessário para seu desenvolvimento. A tendência de investimentos em ativos se tornou generalizada. Desde 1980 em diante vieram à tona periodicamente relatórios sugerindo que muitas das grandes corporações não financeiras geravam mais dinheiro de suas operações financeiras do que fazendo coisas. Isso foi particularmente verdadeira na indústria automobilística. Essas corporações agora eram administradas por contadores e não por engenheiros, e suas divisões financeiras que tratavam de empréstimos aos consumidores foram altamente rentáveis. (HARVEY, 2011, p. 28) Como explicar então o desenvolvimento do capital financeiro e de um mercado baseado na especulação do capital? Em um mundo dominado pelas finanças, a vida social em quase todas as suas determinações tende a sofrer as influências daquilo que Marx designacomo a forma mais impetuosa de fetichismo. Com as finanças, tem-se dinheiro produzindo dinheiro, um valor valorizando-se por si mesmo, sem que nenhum processo (de produção) sirva de mediação aos dois extremos (CHESNAIS, 2000.p.09). ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 O que se viu na crise financeira de 2008 foi à crise da desregulamentação, a ausência do papel regulador do Estado entra novamente em questão, quando a ideia do “livre mercado” se desmancha. E sem surpresas o papel do estado, quando necessário se faz presente, demonstrando claramente que o que de investimentos. No outro lado da moeda sem encontram a redução dos gastos públicos com a aposentadoria, investimentos em saúde, queda na geração de emprego, ou seja, fica evidente o fluxo do capital quando se trata de crise econômica, novamente, socializar os prejuízos. O que importa é assegurar a instabilidade do mercado a qualquer custo. O resultado disso é a socialização dos prejuízos, os investimentos do fundo público servem como injeção de resgate para impedir a quebradeira dos bancos e dos fundos. O reflexo das ações do Estado para salvar os bancos, somado a instabilidade social vivenciada pelo país, devido o aumento das taxas de desempregos e uma economia em resseção como foi o caso dos EUA levam ao surgimento de movimentos sociais contra o domínio financeiro da economia e a influência do mercado sobre o estado. Dessa forma o surgimento do movimento Occupy Wall Street é a evidência do descontentamento da população em detrimento das políticas públicas. O movimento surgiu em 2011 e tem como slogan a frase “We are 99%” (Foto 6), a ideia faz alusão a desigualdade social e da acumulação do capital nas mãos de apenas 1% da população americana. As crises sociais foram ainda maiores na Europa, em países como a Espanha, o desempregou chegou a 17%. Além da Espanha os países mais afetados foram à Grécia, Irlanda, Itália e Portugal. Nesses países também proliferam as crises e manifestações de descontentamento popular com medidas de redução de gastos adotadas pelos países como forma de conter a crise. Foto 6: Protestors march during "Occupy Wall Street" demonstrations on Sept. 26, 2011. Divulgação: Flickr Ano: 2011. Foto: Paul Stein ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1482 REFERENCIA BIBLIOGRAFICA BERGER.P.L; HUNTINGTON.S.P. Many Globalizations: Cultural Diversity in the Contemporary World, Oxford University Press, 2002. 374p. CASTELLS. M. Sociedade em Rede. 9ªed. Vol. I. 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