guia de estudos conselho de segurança histórico (1948)

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[GUIA DE ESTUDOS
VII MODEP]
Conselho de Segurança Histórico (1948)
A Crise do Bloqueio de Berlim
Elaborado por:
Clara Faria
Daniel Schulman
Felipe Granato
Maria Eduarda Senior
1
Sumário
Sumário................................................................................................................................... 2
1.
Carta de Apresentação.................................................................................................. 4
2.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas ............................................................ 5
2.1.
Histórico................................................................................................................... 5
2.2.
Estrutura e questões substanciais ............................................................................. 5
2.3.
Funções .................................................................................................................... 6
3.
A Segunda Guerra Mundial ......................................................................................... 7
3.1.
Antecedentes ............................................................................................................ 7
3.2.
O avanço Alemão ..................................................................................................... 9
3.3.
A Reação Aliada .................................................................................................... 11
4.
O mundo Pós Segunda Guerra .................................................................................. 12
5.
Conferências do Pós-Guerra ...................................................................................... 14
5.1.
Conferência de Teerã ............................................................................................. 14
5.2.
Conferência de Yalta ............................................................................................. 15
5.3.
Conferência de Potsdam ........................................................................................ 16
6.
O Avanço Comunista .................................................................................................. 17
7.
O Plano Marshall ........................................................................................................ 19
8.
Conferências de Londres ............................................................................................ 21
8.1.
O Programa de Londres ......................................................................................... 21
8.2.
Reforma Monetária ................................................................................................ 23
9.
O Bloqueio de Abril .................................................................................................... 24
10.
O bloqueio de Berlim............................................................................................... 26
11.
Posicionamento dos países ...................................................................................... 30
11.1.
República Argentina ........................................................................................... 30
11.2.
Reino da Bélgica ................................................................................................ 30
11.3.
Canadá ................................................................................................................ 30
11.4.
República da Colômbia ...................................................................................... 30
11.5.
Estados Unidos da América ............................................................................... 30
11.6.
República Francesa ............................................................................................ 31
11.7.
Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte .............................................. 31
2
11.8.
República da Tchecoslováquia ........................................................................... 31
11.9.
República da China ............................................................................................ 31
11.10.
República Popular da Polônia ............................................................................ 32
11.11.
República Socialista Soviética da Ucrânia ......................................................... 32
11.12.
República Árabe Síria ........................................................................................ 32
11.13.
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ..................................................... 32
12.
Bibliografia ............................................................................................................... 33
3
1. Carta de Apresentação
Caros Senhores Delegados,
É com imensurável prazer que os saudamos no Conselho de Segurança das Nações
Unidas. Neste órgão da ONU, os senhores debaterão sobre os ocorridos que assolam,
nesse momento, a cidade de Berlim e suas fronteiras.
É imprescindível relatar que estamos diante de um impasse, onde posicionamentos
opostos tomam conta da Alemanha. Trata-se do Bloqueio de Berlim, onde soviéticos
fecharam as vias de acesso à cidade.
Há três anos, a Segunda Guerra Mundial teve fim, encerrando o conflito mais intenso da
humanidade, que deixou mais de 60 milhões de mortos no mundo todo, incluindo
militares, civis e judeus. Os números registrados surpreendem. Afirmar que o continente
europeu se encontra em ruínas é incontestável. Nesse cenário, cabe às Nações Unidas a
árdua missão de garantir a paz mundial. Mas o que fazer se a Segunda Guerra foi sucedida
por um embate sem confrontos armados diretos, a Guerra Fria?
Qual será a reação das principais potências, como a Inglaterra, a França e os EUA? Como
os soviéticos liderados por Stalin irão proceder? A atuação de países auxiliares será
fundamental para a resolução do conflito? Serão vocês, delegados, que responderão essas
e outras perguntas durante as sessões do CSH do VII MODEP.
Nós, diretores, contamos com a dedicação de todos os delegados presentes. Trata-se de
um tema de incrível complexidade, centrado na fronteira não só entre duas Alemanhas,
mas entre dois sistemas político-econômicos, duas ideologias e duas superpotências
globais. Não será fácil encontrar uma conciliação, mas com um estudo amplo ela pode ser
alcançada. É essencial mencionar que nos colocamos à disposição dos senhores para
qualquer tipo de esclarecimento. A decisão cabe aos senhores, diplomatas. Desejamos a
todos uma excelente simulação e boas discussões.
Atenciosamente,
Os diretores
Clara Faria, Daniel Schulman, Felipe Granato e Maria Eduarda Senior
4
2. O Conselho de Segurança das Nações Unidas
2.1. Histórico
O Conselho de Segurança foi criado na conferência de São Francisco, sendo o principal
órgão das Nações Unidas, com sua primeira reunião em 1946. O Conselho surge com o
papel de garantir o principal objetivo explicitado na Carta da ONU: a manutenção da paz
e da segurança internacionais, sendo o único órgão com caráter mandatório da
organização.
De acordo com a Carta das Nações Unidas (1945), todos os seus constituintes assentam
em concordar e cumprir com as decisões do Conselho. Caso algum membro não respeite
essas decisões, pode ser punido e, em última instância, retirado da ONU pelo Conselho de
Segurança. O Conselho funciona permanentemente, e qualquer Estado-membro da ONU,
ainda que não pertença ao Conselho de Segurança como membro, pode tomar parte dos
debates, sem direito a voto, se o primeiro considerar que os interesses do Estado em
questão estejam sendo especialmente afetados (UNSC, s.d.). Vale ressaltar que, como
está se tratando da Crise de Berlim de 1948, o que será considerado é a estrutura do
Conselho nessa exata data.
2.2. Estrutura e questões substanciais
Em 1948, o Conselho de Segurança era formado por cinco membros permanentes e seis
membros rotatórios eleitos a cada dois anos. A divisão das cadeiras se dava da seguinte
forma:

Membros permanentes: União Soviética, República da China, Estados Unidos,
França, Reino Unido.

Membros Rotatórios: dois membros Latino-Americanos, um membro da
Commonwealth, um membro da Europa Oriental ou da Ásia, um membro do
Oriente Médio, um membro da Europa Ocidental.
Como já ressaltado anteriormente, o Conselho de Segurança tem a capacidade de
convidar outros Estados membros da ONU a tomarem parte nas discussões caso julgue
5
necessário, porém sem direito a voto para a Resolução. (Art. 31, Carta das Nações
Unidas, 1945).
Países que são membros permanentes terão direito a voto especial, o que significa que,
para uma resolução ser aprovada, é necessário que não haja nenhum voto contrário ao
desses. São requeridos nove votos a favor para a aprovação, contando os membros
permanentes e rotatórios, o que significa que em caso de haver, por exemplo, três
abstenções e oito votos favoráveis, o projeto não passa. (Art. 27, Carta das Nações
Unidas, 1945).
2.3. Funções
O Conselho de Segurança da ONU visa:

Manter a paz e a segurança internacionais, de acordo com os princípios e
propósitos das Nações Unidas;

Investigar sobre qualquer controvérsia ou situação susceptível de provocar atritos
entre as Nações;

Recomendar métodos de ajuste de tais disputas ou dos termos do acordo;

Formular planos para o estabelecimento de um sistema regular de armamentos;

Determinar a existência de uma ameaça à paz ou ato de agressão e recomendar
que medidas devam ser tomadas;

Convocar membros para aplicar sanções econômicas e outras medidas que não
impliquem no uso da força para impedir ou deter a agressão;

Tomar uma ação militar contra um agressor;

Recomendar a admissão de novos membros;

Exercer as funções de tutela das Nações Unidas em "áreas estratégicas";
6

Recomendar à Assembleia Geral a nomeação do Secretário-Geral e, em conjunto
com a Assembleia, eleger os juízes do Corte Internacional de Justiça. (UNSC,
s.d.)
3. A Segunda Guerra Mundial
3.1. Antecedentes
Após vivenciar o horror da Primeira Grande Guerra, os povos do mundo pensaram que
um conflito de proporções tamanhas jamais se repetiria. Contudo, após pouco mais de 20
anos, estouraria a Segunda Guerra Mundial. O que aconteceu nesse intervalo
relativamente curto, que deflagrou um novo conflito – dessa vez de proporções ainda
maiores?
Após a Primeira Guerra Mundial, o mundo nunca mais foi o mesmo. As nações europeias
– vencidos e vencedores – cujos territórios foram palco para as batalhas da guerra,
encontravam-se devastadas; com fábricas e campos destruídos, sua capacidade de
recuperação estava seriamente debilitada. Por outro lado, outras nações, sobretudo os
Estados Unidos, tiveram suas economias impulsionadas pelo declínio europeu. A Europa
precisava importar grandes quantidades de insumos e alimentos para sustentar suas
populações e essas commodities vinham, principalmente, dos EUA. Por isso, entre 1914 e
1920, os Estados Unidos tornaram-se os maiores exportadores de armas, alimentos e
equipamentos do mundo.
Tal demanda aqueceu sua economia; com a indústria e a agricultura em ebulição e o
subsequente fluxo de capital, investir em ações da Bolsa era tido como um negócio de
retorno certo. Criava-se assim um ciclo: o capital era injetado nas empresas através dos
investimentos no mercado de ações, a expectativa de retorno era alta, pois a indústria e a
agricultura norte americanas ferviam, impulsionadas pela demanda europeia, e os
dividendos eram investidos novamente em ações e assim sucessivamente.
No entanto, o crash da bolsa colocou um fim ao “sonho americano”. O que ocorreu foi
uma crise de superprodução. O crescimento econômico causado pelo aumento inicial da
demanda criou a falsa expectativa de que tal demanda cresceria acompanhando o ritmo de
produção, porém a sociedade de consumo americana vivenciava uma realidade muito
distinta. O capital gerado pelo boom econômico do pós-guerra se concentrava nas mãos
7
da classe media e dos grandes industriais. A grande massa operária não dispunha de
recursos para consumir o produto de seu trabalho, fator que limitou o mercado
consumidor. Além disso, os mercados europeus, à medida que se recuperavam
lentamente, sofreram retração. Assim, gerou-se um excedente enorme de produção.
Conforme a lei da oferta e da procura, quando a oferta de produtos supera muito a
demanda, os preços tendem a cair. E foi exatamente isso o que ocorreu. A súbita queda de
preços gerou um pânico na bolsa. De repente o cenário havia se invertido: os investidores
estavam ansiosos para se livrar o mais rápido possível de suas ações, o que inundou o
mercado. Entretanto, devido a queda de preços, havia muito poucos interessados em
adquiri-las. Assim, no dia 24 de outubro de 1929, também conhecido como Quinta Feira
Negra, a Bolsa de Valores de Nova York, o coração financeiro do mundo, quebrou.
A quebra da bolsa afetou todo o mundo, com exceção da União Soviética; a reação foi em
cadeia. A retração do comércio internacional teve como consequência falências, milhares
de desempregados e graves problemas sociais. O crash de 1929 é um divisor de águas
tanto do ponto de vista econômico quanto ideológico. Economicamente, ele marca o
declínio do liberalismo econômico; ideologicamente, ele deu espaço para a ascensão de
grupos totalitários que usavam a recessão como justificativa para o superacúmulo de
poderes do Estado, grupos que posteriormente estariam no centro da Segunda Guerra
Mundial.
A crise gerou respostas variadas; os Estados Unidos mudaram sua política econômica,
promovendo o New Deal, conjunto de reformas no sistema financeiro inspirado nas ideias
do economista britânico John Maynard Keynes. Essas mudanças, no geral, levaram ao
aumento da regulação do Estado sobre a economia. Em outros países, a crise abriu espaço
para a ascensão de grupos totalitários, como analisaremos a seguir.
Na Itália, a situação vinha se agravando desde o fim da Primeira Guerra; mesmo estando
do lado vencedor, o país não foi beneficiado do mesmo modo que as outras potências.
Além disso, antes mesmo do crash de 29 o país já passava por uma crise econômica
generalizada: aumento da inflação, desemprego e fome. Tal cenário gerava grande revolta
e insatisfação, sobretudo entre a classe média. Era comum que jovens de extrema direita
se organizassem em grupos que promoviam ações violentas para protestar contra a
situação vigente do país. Mussolini fundou um destes grupos, o fasci di combatimiento
que reunia ex-soldados, desempregados e parte da classe média. Tal grupo cresceu e
8
transformou-se no Partido Nacional Fascista. Em 22, Mussolini foi convidado a formar
um governo. O parlamento lhe deu plenos poderes para tal. Enquanto governante,
Mussolini dissolveu partidos da oposição e formou um novo gabinete. Sob o lema “Tudo
para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado” se iniciou o fascismo na Itália.
Na Alemanha, diversos fatores deram espaço para o totalitarismo. Após a derrota na
primeira grande guerra, o país assinou o tratado de Versalhes que não só responsabilizava
a Alemanha pela guerra bem como proibia a produção de quaisquer armamentos. A
humilhação e a destruição que assolavam o país fomentaram o revanchismo e o
nacionalismo pregados pelos regimes totalitários. Além disso, a economia do país vinha
sendo seriamente afetada pela superinflação, pelo desemprego e pelo demais caos
econômico do pós-guerra. O Partido Nacional Socialista ou Partido Nazista fora fundado
por Hitler em 1919, porém somente em 1932 que, em parte pelos efeitos desastrosos na
economia alemã do crash de 29, ganhou apoio popular suficiente para eleger 230
deputados. Em 1933, Hitler assumiu como Primeiro Ministro. Era o início do nazismo na
Alemanha, regime responsável pela morte de milhões de judeus, eslavos e homossexuais.
Conclui-se que a ascensão de tais regimes totalitários ao poder se deu através da
manipulação do medo das massas. Através de um suposto alinhamento com as classes
trabalhadoras, que vinham sofrendo com a fome, o desemprego e a indiferença dos
governos que falhavam em promover políticas de recuperação econômica, os partidos
totalitários vieram com um discurso pronto que prometia suprir as necessidades de
populações desesperadas que, assim, habilmente manipuladas, fingiram não enxergar as
atrocidades cometidas por tais governos no decorrer dos anos.
3.2. O avanço Alemão
Apoiado em sua ideologia totalitária, Hitler, que em 1934 passou a ocupar o posto de
chanceler e se autointitulou o Fuhrer alemão, deu inicio a sua política expansionista.
Repudiando o Tratado de Versalhes, promoveu investimentos maciços na indústria bélica
alemã. O primeiro teste do novo poderio militar alemão ocorreu em 1936 com a Guerra
Civil Espanhola; Hitler enviou tropas em apoio ao regime totalitarista do general Franco
e, em 1937, promoveu o bombardeio à cidade de Guernica. O horror do bombardeio foi
eternizado pela pintura Guernica de Pablo Picasso; a cidade foi completamente destruída
e centenas de pessoas morreram. Em outubro do mesmo ano, foi firmado um pacto entre
9
Alemanha e Itália que mais tarde envolveria Japão, Romênia, Hungria e Bulgária; aliança
conhecida como o Eixo. Em 1938, Hitler deu um passo decisivo na conquista do suposto
“espaço vital alemão”: a anexação da Áustria, marco conhecido como Anchluss. O
próximo passo no plano de Hitler era a anexação dos Sudetos, região da Checoslováquia
onde vivia uma população de origem alemã de aproximadamente três milhões.
Convocou, então, a Conferência de Munique, em que comunicava às demais potências
europeias a sua iniciativa. Na tentativa de promover uma política de apaziguamento 1,
Reino Unido, França e Itália assinaram os acordos de Munique, que davam a Hitler o
direito de anexar os Sudetos com a condição de que aquela seria a última reivindicação
territorial da Alemanha. Na época, o acordo foi visto como uma conquista diplomática
brilhante. O primeiro ministro britânico proferiu o famoso discurso “Peace in our time”
diante de uma multidão que o ovacionava. Contudo, Reino Unido e França estavam
terrivelmente enganados. As tropas alemãs anexaram não somente os Sudetos, bem como
invadiram o restante da Checoslováquia e pouco tempo depois haviam tomado a capital,
Praga.
O próximo passo era a conquista da Polônia. Nesse ponto, Reino Unido e França
reagiram, não cedendo às exigências alemãs e advertindo Hitler. No entanto, elas
falharam em formar uma aliança com a União Soviética, que ao contrário firmava um
pacto de não agressão com Hitler: o pacto Molotov-Ribbentrop, que também acordava a
invasão da Polônia e a repartição do território entre as duas nações. Então no dia 1 de
setembro, a Alemanha invadiu a Polônia, seguida pela União Soviética. Sem escolha,
Reino Unido e França declararam guerra à Alemanha dois dias depois. É o inicio da
Segunda Guerra Mundial.
Empregando a Blitzkrieg2, em poucas semanas as tropas alemãs haviam acabado com a
resistência polonesa e ocupado todo o país. Após a invasão da Polônia, a perseguição aos
judeus se intensificou, iniciando-se as deportações aos campos de concentração e a
intensificação dos fluxos migratórios. Alguns grupos perseguidos buscavam refugio em
nações ainda não tomadas ou até mesmo em outros continentes.
1
No contexto da 2ª Guerra Mundial, a política de apaziguamento foi uma doutrina adotada pelos Países
Aliados que perdoou, no começo da guerra, diversas ofensivas e outros tipos de contravenções feitas pelos
países do Eixo. Desse modo, fazendo diversas concessões e não movimentando tropas.
2
Blitzkrieg é um termo em alemão para “ataque relâmpago”. Foi a principal estratégia de guerra usada por
Berlim, apontada como grande fator de sucesso de Hitler nas primeiras batalhas. Ela foi uma doutrina
militar muito bem sucedida, pois não dava tempo do inimigo responder ao ataque, utilizando forças moveis
de rapidez – como aviões – em ofensivas brutais.
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Os primeiros anos de guerra foram marcados por vitórias ininterruptas dos países do Eixo
(Alemanha, Japão e Itália). As tropas alemãs conquistaram a Noruega e a Dinamarca e,
posteriormente, a Bélgica e a Holanda, facilitando a ofensiva alemã à França através da
Bélgica.
Assim, Hitler tomou parte da França em 1940. No restante do território que não havia
sido ocupado, foi estabelecida a República de Vichy, um governo de orientação alemã.
Bulgária, Iugoslávia, Albânia, Grécia, Romênia e Hungria também foram ocupadas.
Buscando manter boas relações com a Alemanha, Stalin apresentou a Hitler uma proposta
de dividir o mundo em zonas de influência Alemãs e Soviéticas. Contudo, seguro de mais
uma vitória, Hitler deu inicio no dia 22 de junho de 1941 à Operação Barbarossa, cujo
objetivo era a invasão da URSS. Antigos aliados agora lutavam em frentes opostas. A
operação foi considerada a maior mobilização militar da história: mais de quatro milhões
de soldados alemães avançavam em uma frente de quase 3000 quilômetros. Apesar do
plano inicial – através do Blitzkrieg, ocupar rapidamente a URSS – ter falhado, em
novembro de 1941 os alemães haviam ocupado territórios soviéticos de grande
importância econômica. Contudo, o avanço alemão foi barrado devido ao despreparo dos
soldados para enfrentar o rigoroso inverno russo. Armamentos e tanques pararam de
funcionar a temperaturas baixíssimas, dificultando ainda mais a operação alemã.
Um mês depois, o Japão lançou um ataque aéreo à base norte americana de Pearl Harbor,
no Havaí, destruindo grande parte da frota dos Estados Unidos. Com isso, os Estados
Unidos, no final de 1941, declararam guerra ao Japão.
3.3. A Reação Aliada
Com a entrada dos Estados Unidos e da União Soviética na guerra em 1942, a situação
começava a se reverter. Os americanos, em resposta ao atentado de Pearl Harbor,
derrotaram os japoneses no Pacífico, e a União Soviética dificultava o avanço das tropas
alemãs em seu território. A Alemanha sofreu sua primeira derrota na Batalha de
Stalingrado que deixou um saldo de cerca de dois milhões de mortes. Os alemães foram
novamente derrotados pelo Exército Vermelho na Batalha de Kursk em 1943, afastando
definitivamente qualquer possibilidade de retomada da ofensiva nazista contra a URSS.
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Na Conferência de Teerã em 1943, Stalin, Churchill e Roosevelt discutiram estratégias
para derrotar a Alemanha. Nesta, foi confirmada a ofensiva final dos aliados contra o eixo
na Europa. Dia 6 de julho de 1944, desembarcaram na Normandia cerca de 3,5 milhões de
soldados, milhares de aviões e aproximadamente 6300 navios de guerra. Tal data ficou
conhecida como o Dia D, marcando a vitória dos aliados sobre as tropas alemãs.
Avançando lentamente, libertaram Paris e o norte da França, enquanto o exército de
Stalin combatia na frente oriental, libertando Bulgária, Iugoslávia e Romênia. Era o
começo do fim da guerra na Europa. Em maio de 1945, a Alemanha se rendeu.
No Oriente, o conflito se arrastou por mais alguns meses. Apesar das conquistas
territoriais norte americanas, os japoneses resistiam bravamente e utilizavam táticas
como os kamikazes – pilotos mergulhadores que levavam seus aviões cheios de bombas
contra os navios aliados, sacrificando a própria vida – atrasando, pois, a vitória definitiva
dos norte americanos. Tal situação levaram os Estados Unidos a adotarem uma nova
arma: a bomba atômica. Experimentos com bombas atômicas haviam sido conduzidos em
segredo, porém nunca antes na história da humanidade tal arma havia sido empregada em
um conflito armado. Os Estados Unidos, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, foram o
primeiro e único país na história a fazê-lo. As bombas jogadas nas cidades de Hiroshima e
Nagasaki deixaram cerca de 210 mil mortos além de milhões de feridos afetados pelos
efeitos permanentes da exposição e da radiação. Menos de um mês depois, o Japão
assinava sua rendição, pondo um fim dramático à a segunda guerra mundial.
4. O mundo Pós Segunda Guerra
O ano de 1945 pode ser chamado de Ano Zero, devido ao início da reconstrução de
cidades da Europa e do mundo todo. A Segunda Guerra Mundial trouxe numerosas
consequências, tanto para a Europa, quanto para o mundo. Em primeiro plano, é
imprescindível relatar a destruição em massa da vida humana. Somente na URSS, 21
milhões de mortes foram estimadas. Campos de concentração tiraram a vida de cerca de
66% da população judaica da Europa. Centros industriais, comerciais e cidades em todo o
território europeu estavam sob ruínas. O conflito inaugurou a palavra “genocídio”, que
passou a ser usada para se referir ao extermínio de um grupo étnico.
Em 1945, duas superpotências começaram a se formar. Trata-se da competição de dois
grandes blocos militares, políticos e econômicos: EUA e URSS, ambos capazes de
destruir o adversário. Enquanto os Estados Unidos criaram uma aliança militar para se
12
defender do bloco comunista, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o
bloco socialista, liderado pela URSS, formou a COMECON (Conselho para Assistência
Econômica Mútua), para que houvesse cooperação econômica entre os países membros.
É necessário mencionar a vantagem financeira dos EUA, que durante a guerra fez
empréstimos a países europeus.
Nos EUA, empregos no tempo dos confrontos armados foram gerados e a produção em
fábricas disparou. No final da Segunda Guerra, o número de desempregados caiu de nove
para um milhão (GAYLE, G). Além disso, o lucro das empresas americanas somavam
US$10,8 bilhões. (GAYLE, G.) Com a prosperidade da economia, o governo passou a
utilizar parte do arrecadado como forma de prevenção para próximas crises. Alguns
governos europeus possuíam dívidas com os norte-americanos. Estas tinham um valor
total de US$ 10 bi (GAYLE, G.). Pode-se afirmar também que houve uma mudança
demográfica, onde uma parcela da população deixou as áreas rurais em direção às
urbanas.
Ao contrário dos EUA, A situação na Alemanha era considerada a pior. Dizia-se que
Berlim era uma capital sem um país. É estimado que 70% (GAYLE, G.) das habitações
residenciais estavam destruídas por causa da guerra. O centro comercial de Frankfurt
estava parado enquanto pessoas famintas dormiam nas ruas. Pontes, ferrovias e rodovias
estavam arruinadas e indicavam que o processo de reconstrução seria longo.
O regime nazista teve um fim com o processo de “desnazificação” que tomou conta da
Alemanha. Os líderes do Nazismo foram julgados em Nuremberg, sendo acusados de
crimes contra a humanidade. Foi nesse contexto que Adolf Hitler cometeu suicídio em
seus aposentos com uma pistola Walther PPK.
O processo de “desnazificação alemã” foi dividido em duas linhas de atuação na
Alemanha Ocidental. Primeiramente, foram retiradas todas as propagandas que se
referiam ao Nazismo. Em segundo lugar, uma substituição na frente jurídica do país criou
545 tribunais civis alemães a partir de 1945. Enquanto isso, na Alemanha Oriental,
predominou a desatenção ao passado nazista.
Além disso, a nação foi dividida em quatro zonas de ocupação pelos aliados. A cidade de
Berlim pertencia à ocupação soviética, mas, apesar disso, também foi dividida, entre
França, EUA, URSS e Inglaterra. Essa partilha foi mantida enquanto se aguardava um
13
novo acordo político.
A Segunda Guerra não só estabeleceu vencedores e perdedores. Toda a geografia política
das relações entre estados foi alterada, pondo fim à era de supremacia europeia. Com o
declínio da Europa, o século XX foi então chamado de “século americano”, devido à
ascensão econômica dos EUA. Por outro lado, a União Soviética, apesar de ter sido
atingida pela guerra em seu território, manteve um enorme prestígio militar e também
obteve sucesso na vitória sobre a Alemanha nazista.
Ainda no mundo pós-guerra, houve estímulos internacionais para a formação de uma
instituição que garantisse a paz mundial. Esforços não foram poupados para a criação da
Organização das Nações Unidas. Assim, entre 25 de abril e 26 de junho de 1945, a Carta
das Nações Unidas foi assinada por 50 países integrantes.
5. Conferências do Pós-Guerra
5.1. Conferência de Teerã
A Conferência de Teerã reuniu pela primeira vez as grandes potências aliadas (Estados
Unidos, URSS e Reino Unido) durante a guerra, entre 28 de novembro e 1 de Dezembro
de 1943. O principal objetivo era discutir estratégias para conter o avanço alemão. Os
líderes reunidos, Stalin, Roosevelt e Churchill, não poderiam apresentar ideologias mais
distintas: Churchill prezava pela manutenção dos interesses do antigo Império Britânico,
Stalin e Roosevelt, ainda que sob bandeiras ideológicas completamente opostas,
buscavam expandir suas zonas de influência consolidando novos impérios nos sentidos
econômico e político. A união, contudo, era necessária naquele momento para combater
os adversários do Eixo.
A conferência definiu os rumos que os aliados tomariam de 1943 em diante – decisivos
para a sua vitória no conflito. Ficou acordada a rendição total da Alemanha nazista, o
compromisso de Stalin em auxiliar a guerra norte americana contra o Japão e, o mais
importante, foi confirmado o desembarque de milhões de soldados na Normandia em
ofensiva contra os nazistas, data que viria a ser conhecida como o dia D, marcando o
início das vitorias aliadas na Europa ocidental.
14
5.2. Conferência de Yalta
Realizada em fevereiro de 1945, a Conferência de Yalta tinha como objetivo definir os
rumos do mundo na iminência do fim da guerra. A Alemanha não havia assinado a
rendição, porém era de conhecimento geral que tal rendição seria somente uma questão
de tempo. Assim, do dia 4 a 11 do mês de fevereiro, “os três grandes” (Stalin, Roosevelt e
Churchill) reúnem-se novamente. Com territórios abrigando cerca de um terço da
população mundial, suas decisões influenciaram decisivamente o destino de milhões de
pessoas.
Em Yalta, foram acordadas as zonas de influência sob a hegemonia norte americana e
soviética. Foi reconhecido o predomínio soviético pela Europa Oriental; pouco a pouco a
divisão do mundo em blocos era consolidada. Além disso, foram discutidas questões
como a situação da Polônia e a criação de um órgão cooperativo entre todas as nações do
mundo, dando continuidade à ideia de Woodrow Wilson acerca da Liga das Nações.
Esses tópicos começaram a gerar discordância e animosidade entre os três grandes
lideres, anunciando o presságio de um racha na aliança do eixo.
Com a decisão de criar a Organização das Nações Unidas, surgiu o problema da
representação soviética. Stalin queria que todas as 16 Repúblicas Soviéticas contassem
com representação na ONU como Estados distintos assim como ocorria com os Estados
independentes parte do Império Britânico, porém contentou-se com três representações; a
da própria União Soviética, a da Bielorrússia e a da Ucrânia.
Outra polêmica foi a situação da Polônia no pós-guerra. O exército soviético já tinha a
Polônia sob controle e havia sido instaurado um governo provisório de orientação
comunista. Contudo, Estados Unidos e Reino Unido acreditavam que um governo de
orientação capitalista fosse mais representativo do povo polonês.
A situação polonesa permaneceu indefinida após Yalta, o acordo citava apenas “um
governo de bases mais amplas” e afirmava a necessidade de eleições em algum momento
futuro, porém sem determinar uma data precisa. Alguns críticos do governo Roosevelt
enxergaram a situação como cessão da Polônia ao governo soviético, porém uma vez que
o exército vermelho ocupava a Polônia, não havia muito que o presidente pudesse fazer.
Uma vez que a guerra ainda não havia acabado, o vital era manter, ainda que
temporariamente, a união dos aliados. Nesse ponto, a conferência foi bem sucedida e
15
questões mais espinhosas como a situação da Alemanha foram adiadas para conferências
futuras.
5.3. Conferência de Potsdam
Questões como o futuro da Alemanha, que haviam sido postergadas em Yalta,
precisavam, com o fim da guerra, de solução urgente. Foi convocada então, em julho de
1945 a Conferência de Potsdam. Nela, reuniram-se o novo primeiro ministro britânico
Clement Attlee, o presidente americano Harry Truman e Stalin. As principais decisões
resultantes da conferência foram a desanexação de todos os territórios ocupados pela
Alemanha durante a guerra, a separação da Alemanha e da Áustria e o pagamento de uma
indenização de 20 bilhões de dólares da Alemanha aos aliados. Outro resultado
importante foi a criação do tribunal de Nuremberg para julgar todos os criminosos de
guerra e agentes responsáveis por financiar o nazismo.
Contudo, do ponto de vista político, o resultado mais importante da conferência foi o
acordo de Potsdam, que determinava a divisão da Alemanha e de Berlim em quatro zonas:
uma sob administração francesa, uma soviética, uma britânica e uma norte americana. É
importante ressaltar que mesmo a capital, Berlim, estando dentro da Zona de ocupação
soviética, tinha uma divisão própria, também entre quatro zonas de ocupação. O acordo
teve como consequência a fragmentação completa da economia alemã, além da
determinação de que cada potência seria livre para atuar da forma que bem entendesse em
sua zona de ocupação. Conforme constatado pelo ministro de relações exteriores
soviético, Viatcheslav Molotov, “Isso não significa que cada país terá livre domínio em
suas próprias zonas e atuará independentemente dos demais?”
Portanto, as decisões tomadas na Conferência evidenciavam um espírito muito diferente
daquele demonstrado em encontros anteriores. Sem o perigo da guerra que os unia, os
antigos aliados queriam acima de tudo garantir sua hegemonia sob os demais no novo
mapa do mundo que era traçado em Potsdam.
16
6. O Avanço Comunista
Muitas pessoas têm a falsa impressão de que os Estados Unidos e a União Soviética
foram sempre inimigos, porém a aliança dos países na Segunda Guerra Mundial foi
determinante para as políticas globais posteriores. A cooperação para o combate ao Eixo
permitiu que as nações desenvolvessem seus interesses sem entrar em conflito. A vitória
dos aliados na guerra parecia encerrar as grandes divergências internacionais e
estabelecer um período de conciliação. Tal proximidade permitiu também que os
soviéticos saíssem das mesas de negociação das conferencias pós-guerra com grandes
conquistas. Um discurso do presidente Franklin Roosevelt em 1944 traduz essa relação:
“... perfeitamente amigáveis. Eles não estão tentando devorar o
resto da Europa. Esses temores que foram expressos por um
monte de gente que os russos vão tentar dominar a Europa; eu
pessoalmente acho que não haja... Eu tenho apenas um palpite de
que Stalin ... não quer nada, mas a segurança para o seu país, e eu
acho que se eu dar-lhe tudo o que eu puder, e pedir nada em troca,
ele não vai tentar anexar nada e vai trabalhar para um mundo de
democracia e paz”. (Tradução livre) (Franklin D.
Roosevelt: "Remarks to the Advertising War Council
Conference.,". ( PETERS, G. WOLLEY, T.J., The American
Presidency Project., 1944, disponível em:
<http://www.presidency.ucsb.edu/ws/?pid=16498.>)
Diferentemente das crenças de Roosevelt, as políticas de cooperação durante e após a
Segunda Guerra Mundial permitiram um avanço do comunismo pelo mundo,
principalmente no Leste Europeu. A reação aliada junto à cooperação permitiu que a
URSS
avançasse
e
ocupasse
territórios
através
de
estratégias
geográficas.
Posteriormente, as conferências para divisão das áreas de influência permitiram que os
soviéticos saíssem com uma grande parcela dos territórios globais devido à política
norte-americana acima apresentada.
Em 1948, os Estados da Albânia, Bulgária, República Checa, Coréia do Norte, Polônia,
Romênia, Vietnã do Norte e Iugoslávia estavam sob a esfera de influencia da URSS,
tornando-se comunistas, porém independentes. Já os Estados da Estônia, Latvia e
17
Lituânia foram anexados à URSS. Além disso, o comunismo passou a exercer influência
nos governos da Itália, França, Grécia e Turquia e a Hungria, que estava sob fase de
transição. Destaca-se também que a parte oriental da Alemanha, apesar de estar sem
governo instaurado, também se encontrava sob a influência da União Soviética.
A União Soviética tinha construído o que Winston Churchill chamaria, em 1946, de
Cortina de Ferro:
“... uma cortina de ferro desceu em todo o Continente. Atrás dessa
linha estão todas as capitais dos Estados antigos da Europa
Central e Oriental. Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste,
Belgrado, Bucareste e Sófia, todas essas cidades famosas e as
populações em torno delas se encontram no que devo chamar a
esfera soviética, e todas estão sujeitas, de uma forma ou de outra,
não só à influência soviética, mas a um controle de Moscou muito
alto e em alguns casos crescente...” (Tradução livre)
(CHURCHILL, W. Iron Curtain Speech, 1946, disponível em:
<http://www.fordham.edu/halsall/mod/churchill-iron.asp>)
Figura 1 - Mapa da influência soviética no pós-segunda guerra3
3
Fonte: http://www.pbs.org/behindcloseddoors/episode-3/ep3_cold_war.html
18
Os Estados Unidos, sob o novo governo de Harry Truman, mudaram sua postura perante
a comunidade internacional e alegou sentir-se ameaçado pelos interesses soviéticos
considerados expansionistas, propondo uma divisão geográfica, política e ideológica da
Europa. Surge então a Doutrina Truman, estabelecendo uma nova política americana de
combate à influência comunista.
Foi instaurado, nesse momento também, o Plano Marshall para a reconstrução da Europa
a partir de maciços investimentos norte-americanos. Como resposta, foi formado o
Cominform pela União Soviética junto com outros partidos comunistas europeus. O
órgão tinha como objetivo aproximar os Estados da Europa Central e Oriental, evitando a
aproximação daqueles ao plano norte-americano e servindo como ferramenta para
manutenção da influência política soviética sobre eles. A partir de então, uma rivalidade
entre os dois blocos, comunista e capitalista, acentuou-se, iniciando uma nova era na
política internacional.
Tais mudanças vão ter consequências também no então dividido território alemão. Uma
área onde as influências das grandes nações encontram-se tão próximas e em situação tão
instável fica na iminência de um conflito ideológico.
7. O Plano Marshall
As consequências da segunda guerra compreendem não só, como já visto, o campo
político, mas também interferem seriamente na economia. Durante e após a guerra,
apenas os Estados Unidos manteve sua capacidade econômica intacta. Todas as demais
nações enfrentavam tremendas dificuldades. Elas precisavam tanto assegurar a
sobrevivência de suas populações, importando grandes quantidades de alimentos ou
insumos para impulsionar a indústria agrícola, quanto revitalizar suas indústrias com a
importação de máquinas.
Os EUA restam como a única nação da qual eles podem obter tudo isso, necessitando, no
entanto, de um enorme volume de dólares que os estados falidos europeus não
dispunham. Tal situação ficou conhecida como o dollar gap. Felizmente, o governo norte
americano, visando até mesmo assegurar o emprego em seu próprio país, entendia que era
sua responsabilidade providenciar assistência a tais economias. Durante a guerra, a
solução fora o empréstimo de arrendamento (que deve ser reembolsado ou restituído ao
final da guerra), porém o mesmo foi suspenso em Agosto de 1945, uma vez que os países
19
não tinham condições de repor tais valores.
O Sistema Monetário Internacional, instituído no fim da guerra, também foi insuficiente.
Os acordos de Bretton Woods promoveram o retorno ao Gold Exchange Standard, que
basicamente consistia na obrigação de todos os países converterem suas reservas
monetárias em certa quantidade de ouro. Na prática, tal política impulsionou o dólar ao
centro da economia mundial, pois os Estados Unidos, enquanto detentores de 80% do
ouro do mundo, eram os únicos capazes de assegurar a conversibilidade da sua moeda em
metal.
O objetivo de tal política era instituir taxas de câmbio fixas, ajudando a
estabilizar moedas de países que vinham sofrendo muito com a inflação em tempos de
guerra.
Foi criado em Bretton Woods, o FMI (Fundo Monetário Internacional), que atuaria como
um caixa de assistência mútua, concedendo créditos sob a forma de direito de saque para
países com déficit temporário em suas balanças nacionais. Foi também criado o Bird
(Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), cuja função seria financiar
os investimentos de médio e longo prazo.
Em suma, os acordos de Bretton Woods fundam uma nova ordem monetária,
consagrando o dólar, mas falhando em assegurar o recebimento, por parte dos países
europeus, do volume de capital necessário para se reestabelecerem. O problema do dollar
gap persistia e a Europa sofria com o frio e a fome.
No dia 5 de julho de 1947 o general Marshall, secretário de Estado, em um discurso em
Harvard propõe aos países europeus uma ajuda coletiva por quatro anos. Caberia aos
países assistidos repartirem como desejarem a assistência recebida. Os objetivos do Plano
eram assegurar o reestabelecimento econômico da Europa, promover a unificação dos
esforços no continente e aumentar a sua resistência ao comunismo, que se disseminava
velozmente. Por outro lado, o Plano buscava garantir a prosperidade e um ritmo de
crescimento constante da própria economia americana, cuja indústria dependia
fortemente do comércio exterior para evitar a superprodução.
A princípio, o plano envolvia a Europa Oriental também, mas diante da recusa da União
Soviética, que enxergava o plano como uma manifestação do imperialismo americano, as
democracias populares também recusaram a oferta. Foi assim que, em Julho de 1947, em
Paris, apenas 16 economias europeias aceitaram a proposta do General Marshall.
20
Inicialmente, os créditos demoram a chegar e a situação de penúria se alastrou ainda mais
por toda a Europa. A presença comunista estava se fortalecendo nos governos da França e
da Itália, e por todo o continente os comunistas protestavam contra o Plano Marshall. Para
suprir os problemas de abastecimento imediatamente, sobretudo o de carvão, visto que o
inverno se aproximava, o Congresso Norte Americano votou, em Abril de 1948, o
European Recovery Program (Programa de Recuperação Europeia). Essa lei permitia que
que a assistência chegasse a 10% sob a forma de empréstimos e a 90% sob a forma de
donativos em mercadoria, ou seja, produtos americanos seriam entregues diretamente aos
governos que os vendem às indústrias nacionais. Graças a esse mecanismo, foi possível
que governos europeus realizassem empréstimos públicos à indústria e à agricultura. O
sistema funcionou perfeitamente, permitindo o reestabelecimento econômico de muitos
países europeus.
Um efeito crucial do Plano Marshall foi o aumento da cooperação entre as nações
europeias. No dia 16 de abril de 1948, foi criada a Organização Europeia de Cooperação
Econômica (Oece), cuja função era repartir a ajuda americana. A Oece possibilitou a
liberação das trocas intraeuropeias, comércio que antes se caracterizava por uma série de
restrições e organização arcaica. A partilha da ajuda financeira concedida pelo Plano
Marshall, além daquelas concedidas pelas diferentes instituições criadas no pós-guerra
(Bird e FMI), marcam o inicio de uma solidariedade econômica entre países ocidentais,
decisiva no contexto de uma Guerra Fria que ameaçava dividir o continente europeu em
dois blocos antagônicos.
8. Conferências de Londres
8.1. O Programa de Londres
Ocorridas de fevereiro a junho deste ano, 1948, as Conferências de Londres, também
conhecidas como Conferência das Seis Potências, levaram diretamente aos bloqueios de
Berlim.
Berlim, juntamente com toda a Alemanha, vivia situações calamitosas. A falta de
infraestrutura, a escassez de suprimentos e a destruição dos centros urbanos contribuíram
para a decisão ocidental de fornecer auxílio para a reconstrução da região. As melhoras
21
incipientes geradas pelo Plano Marshall, recentemente posto em prática, e pela Bizone4,
entre a Alemanha americana e a britânica, não eram suficientes para cessar o medo das
potências ocidentais de que o nazismo pudesse voltar a ganhar força ou de que essa
região, conquistada no pós-guerra, pudesse ser perdida.
Além disso, a disparidade entre ocidente e oriente começava a ganhar forma, construindo
uma imagem de que o capitalismo trazia prosperidade, enquanto o socialismo trazia
pobreza, repressão e atraso aos alemães e aos berlinenses. Stalin, no entanto, estava
decido a não permitir que seu país perdesse prestígio na região germânica. Ele não
demonstrava interesse em cooperar com as políticas econômicas de reestruturação
capitalistas, uma vez que a URSS julgava que a Alemanha estava sofrendo, devidamente,
o ônus da guerra e que isso devia continuar. Ademais, era de interesse soviético afastar as
potências ocidentais da Alemanha, da fronteira com seus domínios e, principalmente, de
Berlim. A rivalidade entre os dois blocos começara a se delinear (BARROS, 1986).
Ainda que os soviéticos não desejassem perder influência ou gerar uma separação da
Alemanha entre ocidente e oriente, os pedidos ocidentais de que políticas de ajuda
econômica e reconstrução fossem implantadas na região, vindos principalmente dos EUA
e da Inglaterra, não foram atendidos (BARROS, 1986). Durante as reuniões do Conselho
de Ministros estrangeiros, em 1947, não foram obtidas resoluções a respeito das políticas
que deveriam ser adotas em relação à Alemanha, o que comprovava a diferença de
opiniões a esse respeito entre ocidente e oriente (WILLIANSON, 2003).
Concomitantemente, a crise econômica alemã se agravava. A moeda usada na região
estava sendo produzida em excesso pelos russos, e sua disponibilidade se tornou muito
superior à oferta de produtos no local, gerando uma inflação ascendente. Como resultado,
o mercado negro começou a ganhar forma e crescer, principalmente em Berlim (MAN,
1973).
A incapacidade das quatro potências de resolverem juntas a situação e a crescente crise
econômica na Alemanha levou as três potências ocidentais, EUA, Inglaterra e França, a
se reunirem com países membros da BENELUX (Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo)
4
Bizone: nome dado à região de controle britânico e americano na Alemanha, originada da união das
duas partes sob influência desses países no território germânico. O estabelecimento da Bizone na
Alemanha Ocidental promoveu maior desenvolvimento e recuperação da área.
22
Figura 3 - Representantes das nações ocidentais reunidos
em Londres em Março de 1948
em Londres para o que seriam as primeiras reuniões onde se discutiria o futuro político da
Alemanha Ocidental (MAREK, 2003).
O resultado das Conferências de Londres foi a elaboração do Programa de Londres e dos
Documentos de Frankfurt, que continham recomendações aos governadores alemães para
a reorganização da Alemanha Ocidental e a regulamentação de suas relações com as
potências ocidentais. A principal recomendação era que fosse criada uma constituição
para a região, indicando as intenções ocidentais de criar, futuramente, um governo
democrático federativo separado da parte oriental, o que era contra os planos de Stalin.
A ideia da separação alemã foi, portanto, concebida frente ao temor das nações
capitalistas, explícito na Doutrina Truman, de que o socialismo dominasse toda a Europa,
tendo em vista as ainda recentes conquistas soviéticas da Turquia e da Tchecoslováquia.
A proposta ocidental constituía-se, assim, numa forma de reafirmar a política
antissocialista norte americana e de fortalecer a presença capitalista na frágil região
alemã, conquistando o povo por meio de melhoras e benefícios políticos e econômicos
(MAN, 1973).
8.2. Reforma Monetária
O principal fator causador crise de Berlim foi decisão da conferência em realizar a
Reforma Monetária. Visando aumentar a eficácia do Plano Marshall e alcançar a
reestruturação econômica da Alemanha Ocidental, os representes dos países ocidentais
23
optaram, nas Conferências de Londres, pela criação de uma nova moeda, o Marco
Ocidental, para substituir a depreciada moeda usada até então e revigorar a economia,
tirando-a da crise (MAN, 1973). Essa nova moeda passaria a circular por toda parte
germânica ocidental, incluindo as zonas capitalistas de Berlim, capital que se encontrava
no meio da Alemanha Oriental. Os preços seriam controlados pelas autoridades e o
mercado negro seria, então, desestabilizado. A economia alemã se estabilizaria e
integrar-se-ia mais ao ocidente, dando maior controle àquela.
A pretensão ocidental de implantar uma reforma monetária se constituiria no principal
argumento soviético para instaurar o bloqueio a Berlim.
9. O Bloqueio de Abril
A até então pacífica relação entre URSS e as potências ocidentais tencionou-se
seriamente após as decisões das Conferências de Londres. Não se negava mais a
possibilidade de guerra entre os dois blocos, como afirmado em fevereiro desse ano pelo
general Lucius D. Clay, governador militar americano na Alemanha:
“Durante muitos meses... afirmei que a guerra era improvável
durante pelo menos dois anos. Nas últimas semanas, entretanto,
senti uma mudança na atitude soviética, mudança que não posso
definir... senão como a sensação de que nova tensão se apossou
dos russos. Constatei isso em todos os soviéticos com quem
temos relações oficiais.” (MAN, 1973).
Apesar dos relatórios da Agência de Inteligência America não apresentarem suspeitas em
relação aos russos, a declaração de Clay causou preocupação, e a tensão entre os blocos
aumentou.
A situação intensificou-se quando, após divulgadas as decisões tomadas em Londres, o
representante soviético, marechal Vasily Sokolovsky, exigiu um relatório completo e
detalhado da conferência, durante a reunião do Conselho de Controle Aliado (CCA), em
março desse ano. Seria inaceitável para os soviéticos que uma nova moeda fosse posta em
circulação em Berlim, pois os aliados passariam a controlar a economia em área soviética
e os russos perderiam poder.
24
Ao ter seu pedido recusado por meio de respostas evasivas dos representantes ocidentais,
Sokolovsky se retirou da reunião junto aos demais soviéticos, declarando que o CCA
deixava de existir, e pondo fim na administração conjunta da Alemanha e de Berlim pelas
quatro potências vencedoras (BARROS, 1986).
Diante disso, um temor passou a ocupar os capitalistas: poderiam perder Berlim, talvez
não conseguissem a unificação alemã que ainda desejavam e a fronteira soviética poderia
ultrapassar o rio Reno, ameaçando gravemente a Europa ocidental. Fazia-se necessário se
preparar para a resposta soviética.
Para Stalin, bloquear o fornecimento de suprimentos à Berlim seria uma forma de forçar
as potências ocidentais a recuarem e de impedi-las de diminuir a influência soviética na
região, já que Berlim era o símbolo do poder na Alemanha, agora repartida. Desse modo,
iniciou-se um episódio conhecido como mini-bloqueio de Berlim (BARROS, 1986).
No dia primeiro de abril, os russos anunciaram que revistariam todo o transporte de carga
e de passageiros da Alemanha Ocidental para Berlim ocidental, cujos suprimentos eram
fornecidos pelas potencias capitalistas. Novas burocracias passaram a dificultar o
transporte de material para Berlim. Foi determinado que se americanos se opusessem a
revista soviética, os trens seriam detidos na fronteira da Alemanha Oriental e teriam que
voltar. Logo no primeiro dia, dois trens americanos e dois trens britânicos foram parados
(MAN, 1973). Além disso, os russos passaram a fechar estradas sob a alegação de que
precisavam de reparos, negando auxílio dos países capitalistas para consertar as vias.
A apreensão preocupou os diplomatas e políticos ocidentais. Diante da pressão soviética,
os capitalistas passaram a questionar se deviam continuar em Berlim, ou se deviam tirar
seus militares de lá. A decisão tomada definiria o rumo da política internacional. Todavia,
o general Clay e o Secretário de Política Externa inglês, Ernest Bevin, estavam decididos
a se manter em Berlim e continuar o fornecimento de suprimentos à capital
(WILLIANSON, 2033). Segundo Clay:
“Quando Berlim cair, a Alemanha Ocidental será a próxima
vítima. Se pretendemos defender a Europa contra o comunismo,
não devemos sair de onde estamos” (MAN, 1973).
25
Uma pequena ponte aérea foi a solução encontrada para continuar o fornecimento sem
atender às ordens soviéticas. Com duração de dez dias, o abastecimento de Berlim não
cessou e a relação entre russos e ocidentais tornou-se ainda mais tensa.
Somando-se a isso, no dia 5 de abril, um voo de caça soviético colidiu com um avião
britânico em umas das rotas autorizadas para envio de suprimentos para Berlim ocidental,
caso que aumentou as discussões entre os blocos. No dia 10 do mesmo mês, o controle
russo diminuiu, mas a pressão soviética continuou. A força policial de Berlim Oriental foi
incorporada à da Alemanha Soviética, o acesso de barca até Berlim Ocidental foi
temporariamente proibido e novas documentações para transporte de carga passaram a
ser exigidas (MAN, 1973).
A situação se manteve desse modo até este mês de junho, quando, após o fim das
Conferências de Londres, a notícia de suas novas decisões e as crescentes tensões entre os
dois blocos levaram ao anúncio do Bloqueio de Berlim, hoje, 24, pela manhã.
10.O bloqueio de Berlim
No início desse mês, após o anúncio das decisões londrinas, no dia 7, a situação
agravou-se. Foi anunciado que os países ocidentais recomendavam a formação imediata
da Assembléia Constituinte, visando criar A República Federal Alemã a oeste. Os países
ocidentais passariam a ter maior controle sobre a região e se manteriam lá para garantir a
desmobilização e o desarmamento germânico, evitando que o país se revoltasse
novamente no futuro, ameaçando a paz mundial (WILLIANSON, 2003).
Após uma tentativa russa frustrada de tirar trens e materiais do setor americano, o tráfego
ferroviário entre o ocidente e Berlim foi interrompido temporariamente no dia 10 deste
mês de junho. No dia 11, o acesso a Berlim por rodovias foi bloqueado por dois dias
(MAN, 1973). No dia 15 só se podia chegar a Berlim por ferrovias ou barcas. O ponto
mais crítico da crise foi atingido quando, no último dia 16, os soviéticos abandonaram a
Kommandatura, o governo conjunto das quatro potências em Berlim, explicitando o fim
da unidade entre os vencedores da grande guerra. Esse governo municipal já deixara de
ser respeitado pelos russos há meses, desde que subiu ao poder Ernst Reuter, a quem os
soviéticos não reconheceram como prefeito (MAN, 1973).
26
A partir desses acontecimentos, no dia 18 desse mês as potências ocidentais anunciaram a
implantação da nova moeda, o Marco Ocidental, em suas áreas de influência,
integrando-as. A reforma monetária também seria implantada em Berlim, dividindo a
Alemanha capitalista da socialista (MAN, 1973).
A atitude ocidental foi recebida com repúdio pelos soviéticos, que a consideraram
unilateral e ilegal. Stalin alegou que a nova moeda seria o fim da Alemanha e seu
ministro, Sokolovsky, denunciou a ação:
"contra a vontade e os interesses do povo alemão, e de interesse
dos monopolistas americanos, britânicos e franceses... A reforma
monetária completa a divisão da Alemanha. É uma violação das
decisões de Potsdam." (Tradução livre)
Sokolovsky proibiu a implantação da moeda na zona soviética alemã, e isso incluía toda
Berlim (MAN, 1973). No mesmo dia, novos bloqueios no transporte de suprimentos pra
Berlim Ocidental foram feitos. No último dia 21, um trem de suprimentos militares
americanos foi parado e sua passagem para Berlim negada. O trem foi obrigado a voltar
dia 22.
Figura 2 - Transportes ocidentais impedidos de passar pela área da Alemanha soviética para chegar a
Berlim.5
5
Fonte:
<http://historyimages.blogspot.com.br/2010/01/berlin-blockade-cold-war-starts-june.html>
Acesso em 01 / 02 /2014 às 14h15min
27
Em resposta à medida ocidental, os socialistas anunciaram, ontem, dia 23, a criação de
sua própria moeda, visando pressionar o ocidente e impedir seus planos. O novo Marco
Oriental passaria a ser a única moeda aceita em Berlim (MAN, 1973).
Todavia, os soviéticos não tinham como saber o plano secreto posto em prática pelos
aliados ocidentais. As autoridades ocidentais haviam agido rapidamente para incorporar
sua nova moeda em suas zonas de influência, por meio de uma ação sigilosa em que
produziram grande quantidade do novo marco, enviando-a clandestinamente a toda sua
zona de influência e a Berlim. Em torno de 250 milhões de novos marcos ocidentais
foram enviados a Berlim em caixas nas quais se alegava existir bebidas alcoólicas (MAN,
1973).
No mesmo dia em que os socialistas anunciaram sua nova moeda, os marcos ocidentais
chegaram a Berlim e foram instalados. Essa foi a origem da grande crise política que
estamos vivenciando (MAN, 1973).
Ontem, durante a votação da implantação do marco do marechal Sokolovsky na Câmara,
em Berlim, houve protestos de comunistas nas portas e nos acessos à cede de governo.
Contrariando os soviéticos, os políticos democratas, majoritários na Câmara, decidiram
pela implantação do Marco Oriental somente na zona soviética e pela permanência do
Marco Ocidental a oeste. A decisão foi seguida pela agressão a democratas por
comunistas, sem que a polícia oriental impedisse o conflito (MAN, 1973).
Stalin e Sokolovsky não puderam aceitar as decisões e ações ocidentais e os soviéticos
anunciaram hoje, pela manhã, o início do Bloqueio a Berlim. Como não há documentos
escritos que garantam vias de acesso a Berlim para o ocidente, Stalin não está violando
qualquer lei ou tratado e alega defender a Alemanha. O único acordo assinado existente
garante apenas três vias aéreas estreitas de acesso à Berlim, mas os soviéticos detêm
controle de toda a área ao redor da capital (BARROS, 1986).
Ontem, pela noite, foi anunciado por rádios e jornais aos berlinenses que:
“A divisão de transportes da administração militar soviética vê-se
obrigada a parar todo o tráfego de passageiros e de carga de
Berlim amanhã às 06h, devido a dificuldades técnicas. O
28
abastecimento de água será suspenso; os embarques de carvão da
Zona Soviética estão cancelados.” (MAN, 1973)
Foi noticiado também que Berlim Ocidental só receberia energia elétrica entre 23h e 01h.
O caos na cidade foi anunciado, e todos os habitantes da parte ocidental passaram a correr
pela sobrevivência reservando água (MAN, 1973).
Às 06h de hoje, todo o acesso terrestre a Berlim foi bloqueado pelos soviéticos. As
últimas informações que tivemos de resposta ocidental foi o anúncio feito por uma rádio
americana para tranquilizar os berlinenses: “Dê um banho em seu bebê; tem água à
vontade.” (MAN, 1973).
O Conselho de Segurança está sendo imediatamente convocado para uma reunião em
caráter de urgência, amanhã, em sua cede em Nova York. Berlinenses correm risco de
vida e a estabilidade na região está em perigo. O futuro da diplomacia global está
ameaçado, e cabe aos senhores a resolução imediata desta crise.
29
11.Posicionamento dos países
11.1. República Argentina
Como Estado neutro no conflito, a Argentina busca conciliar diálogos entre os países para
evitar tensões armadas e diminuir a crise em Berlim. O presidente Juan Perón se preocupa
em manter a estabilidade de seu país e evitar envolvimento em hostilidades internacionais,
apoiando resoluções pacíficas e imediatas.
11.2. Reino da Bélgica
A Bélgica fez parte das Conferências de Londres e apoiou as decisões. O país possui
tratados de apoio militar em caso de ataque com o Reino Unido e com a França (março de
1948). Contudo, a Bélgica apoia o fim diplomático do Bloqueio e diálogos pacíficos entre
os envolvidos.
11.3. Canadá
Ainda que apoie o ocidente, o Canadá se apresenta como um país neutro que busca
resolver a situação por meio de diálogos. O governo interno é estável e o país busca
resoluções pacíficas para a problemática.
11.4. República da Colômbia
A Colômbia é neutra e se preocupa em promover diálogos, visando alcançar uma solução
rápida e pacífica para a questão. O Estado colombiano defende o cumprimento da Carta
das Nações Unidas e crê que o Conselho de Segurança está apto a resolver o caso. O país
sofre com uma incipiente Guerra Civil.
11.5. Estados Unidos da América
A potência líder do bloco capitalista mostra um claro interesse na reconstrução do
continente europeu e nas suas políticas internacionais. Um novo conflito ideológico surge
e uma nova posição do país é evidente a partir da Doutrina Truman de combate ao
comunismo. A reforma monetária impulsionada por este país junto a outros capitalistas
foi o centro da questão de Berlim, modificando o panorama das relações dentro da
Alemanha então dividida. O país deseja manter seus interesses na região e garantir os
ideais capitalistas, promovendo o desenvolvimento da Alemanha sob seu domínio. Os
30
EUA acreditam que o bloqueio é ilegal, desejam seu fim imediato e buscam modos de
garantir seu controle em Berlim, não estando disposto a recuar diante da ameaça
stalinista.
11.6. República Francesa
Como governante de uma parte de Alemanha Ocidental e aliada das potências do ocidente,
a França colaborou com o plano de unificação da parte capitalista alemã e com a
implantação da nova moeda. Ainda que sua parte no território germânico seja menor, o
Estado não quer perder influência sobre a porção a que tem direito tanto em Berlim
quanto no lado ocidental. O país é defensor do fim imediato do bloqueio e apoia os
discursos britânico e americano em prol do desenvolvimento e segurança da destruída
Alemanha.
11.7. Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte
O Reino Unido, como potência capitalista e membro permanente do Conselho de
Segurança, tem interesse em manter sua área de domínio na Alemanha e em combater o
avanço comunista. Possuindo influência sob a maior parte da Alemanha Ocidental, por
meio da Bizone, o RU foi, junto com os EUA, o grande idealizador dos projetos de
unificação e reforma monetária a oeste. Sendo assim, essa nação deseja o fim imediato do
bloqueio e busca meio de garantir a sobrevivência da população de Berlim.
11.8. República da Tchecoslováquia
A Checoslováquia faz fronteira com a Alemanha Oriental e Ocidental, tendo uma elevada
importância geográfica no conflito. O país sofre influencia socialista soviética,
defendendo assim os interesses da URSS. Participa como convidado para reunião do
Conselho de Segurança, não possuindo voto em questões substanciais.
11.9. República da China
A República da China, como membro permanente do Conselho de Segurança, busca
resoluções pacíficas para o conflito, de modo a evitar a escalada de novas tensões. O país
afirma ser neutro no conflito, mas é a favor do fim do bloqueio e da melhora rápida da
situação em Berlim. O Estado sofre com uma guerra civil contra o Partido Comunista que
se prolonga há mais de dez anos.
31
11.10. República Popular da Polônia
A Polônia encontra-se na área de influência soviética e desempenha um importante papel
geográfico devido à fronteira do país com a Alemanha Oriental. O território polonês é
estratégico para auxiliar Stalin na manutenção da ordem socialista na região. Vale
ressaltar que o país participa da reunião como convidado e não possui direito a voto em
questões substanciais.
11.11. República Socialista Soviética da Ucrânia
A RSS da Ucrânia está sob a influência soviética no Leste Europeu e, assim, busca
defender os interesses da União Soviética, tomando parte nas discussões do Conselho de
Segurança. Vale ressaltar que o país, apesar de ter laços estreitíssimos com a URSS,
possui governo independente e ocupa uma cadeira estratégica no Conselho de
Segurança.
11.12. República Árabe Síria
A Síria é neutra no conflito e apoia soluções diplomáticas. O país está envolvido em uma
guerra nas regiões de Palestina e Israel.
11.13. União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
A União Soviética encontra-se sob governo socialista de Joseph Stalin. O país detém toda
a área alemã do entorno de Berlim, o que possibilitou o bloqueio. O conflito ideológico
que surge no período pós-segunda guerra rege as atitudes das grandes potências na crise.
Assim, a URSS busca manter sua esfera de influência, repudiando reformas monetárias
na Alemanha Ocidental e outras medidas que ameacem suas políticas socialistas e
tomando-as como uma afronta ao Kremlin.
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12.Bibliografia
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