DESFLUORETAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS A PARTIR DO USO DA MORINGA OLEIFERA 1 2 3 Daniel Trentini Monteiro, Rosângela Bergamasco, Gisele Cristina dos Santos Bazanella 1 Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPQ/UEM, discente do curso de Engenharia Química Professora da Universidade Estadual de Maringá UEM/PR 3 Bolsista de mestrado CNPQ/UEM, discente do curso de pós-graduação em Engenharia Química 2 1,2,3 Universidade Estadual de Maringá Avenida Colombo, 5790. CEP: 87020-900. Maringá – PR e-mail: [email protected] RESUMO - O presente trabalho teve como objetivo verificar a eficiência de remoção do flúor em águas fluoradas, utilizando-se um tratamento com extrato de semente de Moringa oleifera, em diferentes concentrações. O extrato foi preparado misturando-se sementes de Moringa, sem casca, em água de osmose reversa, de acordo com as concentrações desejadas (5, 10, 25 e 50g/L). Agitação por 5min e filtração a vácuo. Os ensaios consistiram em misturar 50mL do extrato com 1000mL da solução de interesse, em diferentes concentrações, 3, 5, 7 e 10mg/L F-. Jar test por 5 min, seguido de análise de fluoreto em espectro. Os resultados obtidos mostraram uma remoção de até 90,9%. O procedimento é simples, de baixo custo e mostra-se uma alternativa de tratamento de águas, cuja concentração de flúor encontra-se acima do permitido pela legislação. Palavras-Chave: Flúor, Moringa oleifera, águas. INTRODUÇÃO É fato que das águas existentes em nosso planeta, 97,5% formam os oceanos e mares, sendo impróprias ao consumo direto (BAZANELLA, 2006). Pode-se, então, afirmar que apesar de existir água em abundância, nem toda ela é aproveitada pelo homem (BRAGA, et al., 2005). Os restantes 2,5% são águas doces. Todavia, 68,9% desse volume forma as calotas polares, geleiras e neves permanentes que revestem os cumes das mais altas montanhas do Planeta. Essa água é de difícil utilização, considerando os processos tecnológicos e os custos de logística que seriam necessários para que fosse apropriada para o consumo do ser humano. Os 29,9% restantes constituem as águas subterrâneas. A pequena parcela restante 1,2% se compõe das águas dos pântanos, umidade dos solos e das águas dos rios e lagos. (BAZANELLA, 2006). Vale ressaltar que falar sobre disponibilidade de água significa que ela está presente não somente em quantidade adequada em uma dada região, mas também que sua qualidade seja satisfatória para suprir as necessidades de um determinado conjunto de seres vivos. (BRAGA et al., 2005). Neste sentido, a Portaria nº 518 de 25 de março de 2004 do Ministério da Saúde estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade e dá outras providências. No Brasil as águas subterrâneas são consideradas a maior reserva de água doce do planeta, desta forma, sua utilização como alternativa para suprir as populações é cada ano considerada a saída, visto que, a qualidade dessas águas, levará na maioria dos casos, à sua utilização sem nenhum tratamento. (ABAS, 2000; GRECCO, 1998 apud MACÊDO, 2004). Há, entretanto um destaque a fazer: existem registros de um número significativo de municípios dos Estados do Paraná, São Paulo, e Rio Grande do Sul, cujas águas subterrâneas apresentam problemas de excesso de flúor, impedindo que as mesmas sejam utilizadas para consumo humano sem tratamento prévio. (AMANTHEA, 2004. Adaptado). O flúor é o halogênio mais abundante na crosta terrestre. Ele ocorre em muitos minerais, incluindo a fluorita (CaF2), a criolita (Na3AlF6), e a fluorapatita (Ca5F(PO4)3). No estado natural, é um gás quase incolor. (ATKINS, 2006). É importante ressaltar que quando presente em concentrações adequadas, o flúor produz efeitos benéficos, promovendo a redução da incidência de cáries dentais, porém pode originar a fluorose quando em concentrações acima das recomendadas. (BRASIL, 2005). Daí a necessidade de estudos relacionados a alternativas de tratamentos que visam retirar o excesso de flúor na água. A Moringa oleífera é uma árvore nativa do norte da Índia que agora é amplamente cultivada ao longo dos trópicos, e cresce rapidamente da VIII Congresso Brasileiro de Engenharia Química em Iniciação Científica 27 a 30 de julho de 2009 Uberlândia, Minas Gerais, Brasil semente ou enxertos, mesmo em solos pobres. Quase todas as partes da moringa são ditas como sendo de valor alimentar (folhas, frutos verdes, flores e sementes) e medicinal (todas as partes da planta). No Brasil, a Moringa oleífera é conhecida no Estado do Maranhão desde 1950. Atualmente, a cultura da moringa vem sendo difundida em todo o semi-árido nordestino, devido a sua utilização no tratamento de água para uso doméstico. (GALLÃO et al, 2006). As sementes possuem polissacarídeos com forte poder aglutinante, o que permite o uso das sementes pulverizadas no tratamento de água por floculação e sedimentação. (OKUDA, 2001). Neste sentido, a semente de Moringa foi o objetivo de estudo, no que diz respeito a sua capacidade de remover o flúor da água. Materiais e Métodos A parte experimental foi realizada no Laboratório de Gestão, Controle e Preservação Ambiental, do Departamento de Engenharia Química – DEQ, da Universidade Estadual de Maringá – UEM. Foram realizados ensaios, em “jar test”, a fim de avaliar a remoção do flúor em águas previamente fluoradas, em diferentes concentrações, utilizando extratos de semente de Moringa oleifera (figura 1) também em diferentes concentrações. 10, 25 e 50g/L), sem casca, em água de osmose reversa. Agitação por 5min e filtração a vácuo. Os ensaios foram realizados em jar test simples, Milan, Modelo JT 101/6 de seis provas, com regulador de rotação das hastes misturadoras (Figura 2), os quais consistiram em misturar 50mL do extrato com 1000mL de solução de interesse por um tempo de 5 min. Figura 2 – Aparelho “Jar test” utilizado nos ensaios em escala de bancada Resultados e Discussões A figura 3 apresenta os resultados de remoção do flúor em água fluorada nas concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10mg/L F , após tratamento com extrato de Moringa oleifera na concentração de 5g/L. Redução do Flúor 10 8 6 mg/L F4 2 0 1 2 Concentração Inicial Figura 1 – Sementes de Moringa oleifera com e sem Casca Inicialmente preparou-se uma solução estoque padrão de 1g/L F- e utilizou-se, da mesma, para buscar as concentrações desejadas, a partir da diluição apropriada. A solução estoque foi conservada em geladeira. O sal utilizado para fluoretar a água foi o fluossilicato de sódio (Na2SiF6). E a água utilizada foi de osmose reversa. Depois de preparada a solução de concentração de interesse, antes de iniciar os ensaios, era feito uma leitura de flúor, utilizando o método spadns, cor e turbidez em espectrofotômetro. As soluções utilizadas de Zircônio-Spadns e Arsenito de Sódio foram fornecidas pela Sanepar - Maringá. Todos os ensaios foram realizados em triplicata e as dosagens de acordo com o Standard Methods. (APHA, 1995). O extrato foi preparado misturando-se diferentes quantidades de semente de Moringa (de acordo com as concentrações desejadas - 5, 3 4 Concentração após Tratamento Figura 3 – Remoção de flúor, após tratamento com extrato de Moringa oleifera 5g/L Observa-se pelos resultados que houve remoção apenas para as concentrações iniciais de 3 e 5 mg/L F-, uma porcentagem de remoção de flúor de aproximadamente 42% e 48%, respectivamente. A figura 4 apresenta os resultados das porcentagens de remoção do flúor em água fluorada nas concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10mg/L F-, após tratamento com extrato de Moringa oleifera na concentração de 10g/L. Redução do Flúor 10 8 6 mg/L F4 2 0 1 Concentração Inicial 2 3 Concentração após Tratamento 4 Figura 4 – Redução de flúor, após tratamento com extrato de Moringa oleifera 10g/L Observa-se pelos resultados que houve remoção de flúor para todas as concentrações iniciais, porém maiores porcentagens para as concentrações iniciais de 3 e 5mg/L F-, aproximadamente 47,3% e 55,4%, respectivamente. A figura 5 apresenta os resultados das porcentagens de remoção do flúor em água fluorada nas concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10mg/L F-, após tratamento com extrato de Moringa oleifera na concentração de 25g/L. centrações de flúor abaixo da faixa permitida pela legislação. Em contrapartida, os resultados para as concentrações de 7 e 10mg/L F tiveram variação da porcentagem de remoção de flúor, bastante significativa, da não remoção do flúor, para a concentração de extrato de 5g/L, à remoção de 85,43% e 90,9%, respectivamente, para a concentração de extrato de 50g/L. A figura 7 apresenta os resultados de cor, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 5g/L, para as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F-, respectivamente. Redução do Flúor Cor 10 8 140 6 120 mg/L F- 100 4 2 units PtCO 0 1 2 Concentração Inicial 3 4 80 60 40 20 Concentração após Tratamento 0 Figura 5 – Redução de flúor, após tratamento com extrato de Moringa oleifera 25g/L 1 2 Cor Inicial 3 4 Cor após tratamento Figura 7 – Cor antes e após tratamento Observa-se pelos resultados que houve remoção de flúor para todas as concentrações iniciais, entretanto, novamente as maiores porcentagens de remoção foram para as concentrações iniciais de 3 e 5mg/L F , aproximadamente 46,33% e 69,10%, respectivamente. A figura 6 apresenta os resultados das porcentagens de remoção do flúor em água fluorada nas concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10mg/L F-, após tratamento com extrato de Moringa oleifera na concentração de 50g/L. A figura 8 apresenta os resultados de cor, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 10g/L, para as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F , respectivamente. Cor 200 150 units PtCO 100 Redução do Flúor 50 10 8 0 1 2 3 4 6 mg/L F- Cor Inicial 4 Cor após tratamento Figura 8 – Cor antes e após tratamento 2 0 1 Concentração Inicial 2 3 4 Concentração após Tratamento Figura 6 – Redução de flúor, após tratamento com extrato de Moringa oleifera 50g/L Observa-se pelos resultados que houve satisfatórias porcentagens de remoção de flúor para todas as concentrações inicias, 3, 5, 7 e 10mg/L F-, aproximadamente 65,67%, 79,6%, 85,43% e 90,9%, respectivamente. Portanto, observa-se que para as concentrações iniciais de 3 e 5 mg/L F- as porcentagens de remoção de flúor, independente das concentrações de extrato utilizadas, tiveram pouca variação, entretanto os melhores resultados encontrados foram para a concentração de extrato de 50g/L, visto que, apenas neste caso, houve uma redução suficiente para encontrar valores de con- A figura 9 apresenta os resultados de cor, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 25g/L, para as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F , respectivamente. Cor 300 250 200 units PtCO 150 100 50 0 1 2 Cor Inicial 3 Cor após tratamento Figura 9 – Cor antes e após tratamento 4 - A figura 10 apresenta os resultados de cor, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 50g/L, para as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F-, respectivamente. as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F , respectivamente. Turbidez 30 25 Cor 20 NTU 15 700 units PtCO 600 10 500 5 400 0 300 1 2 3 4 200 100 Turbidez Inicial Turbidez após tratamento 0 1 2 Cor Inicial 3 4 Figura 13 – Turbidez antes e após tratamento Cor após tratamento Figura 10 – Cor antes e após tratamento A figura 11 apresenta os resultados de turbidez, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 5g/L, para as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F-, respectivamente. A figura 14 apresenta os resultados de turbidez, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 50g/L, para as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F-, respectivamente. Turbidez 90 80 70 60 50 NTU 40 30 20 10 0 Turbidez 18 16 14 12 10 NTU 8 6 4 2 0 1 2 Turbidez inicial 3 4 Turbidez após tratamento Figura 14 – Turbidez antes e após tratamento 1 2 Turbidez Inicial 3 4 Turbidez após tratamento Figura 11 – Turbidez antes e após tratamento A figura 12 apresenta os resultados de turbidez, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 10g/L, para as concentrações iniciais de 3, 5, 7 e 10 mg/L F-, respectivamente. Turbidez 25 20 15 NTU 10 5 0 1 2 Turbidez Inicial 3 4 Turbidez após tratamento Figura 12 – Turbidez antes e após tratamento A figura 13 apresenta os resultados de turbidez, antes e após tratamento com extrato de Moringa oleifera, na concentração de 25g/L, para Observa-se pelos resultados apresentados nos gráficos de 5 à 12 que ambos aumentos, cor e turbidez, são proporcionais às concentrações do extrato utilizado, onde quanto mais concentrado o extrato, maior o aumento da cor e turbidez, o que já era esperado. Inclusive, tal aumento, levou tanto a cor como a turbidez, a faixas acima da permitida pela legislação (15 units PtCO e 5 NTU, respectivamente). Ainda, pode-se observar que os maiores aumentos de cor e turbidez foram detectados para os ensaios que obtiveram as melhores porcentagens de remoção do flúor. Neste sentido, deve-se considerar, um possível tratamento, posterior, ao processo de retirada de flúor, a fim de clarificar a água tratada. Conclusão O tratamento com extrato de sementes de Moringa oleifera produziu uma água fluorada dentro do padrão de potabilidade, em relação ao flúor, entretanto não em relação à cor e turbidez, o que permite considerar a necessidade de um tratamento posterior. Sabendo-se da constante necessidade do aprimoramento das técnicas existentes e desenvolvimento de novas tecnologias, decidiu-se estudar a remoção do flúor em águas fluoradas, a partir do tratamento com extrato de sementes de Moringa oleifera, já que tal tratamento mostrou-se simples e de baixo custo. De maneira geral, se pode concluir que o processo mostrou-se promissor para a desfluoretação de águas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAZANELLA, Alexandre A. A Tutela Jurídica das Áreas de Preservação Permanente Urbanas – Maringá: UEM, 2006. Dissertação (Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito). Universidade Estadual de Maringá, 2006, 140p. BRAGA, B. et al, Introdução à Engenharia Ambiental: O Desafio do Desenvolvimento Sustentável. 2. ed. SP: Pearson Prentice Hall, 2005. MACÊDO, Jorge Antônio Berros de. Águas e Águas. 2. ed. 2004. 997p. APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 1995, Standard Methods for the Examination for Water and Wastewater. 19th ed., Washington, D.C. GALLÃO, M. I. et al, Rev. Ciênc. Agron., v.37, n.1, p.106-109, 2006. OKUDA T, Baes AU, Nishijima W, Okada M. Isolation and characterization of coagulant extracted from Moringa oleifera seed by salt solution, Water Res. 35: 405-410, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Métodos Físicoquímicos para Análise de Alimentos - Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Brasília: Ministério da Saúde, 2005. ATKINS, Peter, JONES, Loreta; trad. Ricardo Bicca de Alencastro. Princípios da Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. AMANTHEA, Nelson R. De volta para o futuro: o Aqüífero Guarani como alternativa viável ao desenvolvimento da região de Londrina - Maringá: UEM e Londrina: UEL, 2004. Dissertação (Mestrado em Administração). Convênio Universidade Estadual de Maringá e Universidade Estadual de Londrina, 2004. AGRADECIMENTOS Ao CNPQ pelo financiamento do projeto.